143 A RESILIÊNCIA COMO CARTOGRAFIA DOS SABERES ESCOLARES Maria Elisa Pacheco de Oliveira Medeiros* RESUMO — Evolução, superação, eficácia, ação educativa, capacidade e resiliência são temáticas presentes no campo da Psicologia da Educação quando as discussões envolvem avaliar as implicações dos processos pedagógicos, saberes e práticas no desenvolvimento do estudante. Focalizada numa perspectiva psicoeducativa, a resiliência pode ser entendida como um processo dinâmico que recorre aos mecanismos adaptativos frente às situações de adversidade, e nesse sentido a soma de fatores e elementos que constituem recursos promotores da adaptação pode ser apreendida nas propostas curriculares, mais especificamente no conjunto de saberes dispostos ou impostos pela escola aos estudantes. Discuti-los, profanálos, subvertê-los são escolhas que ora favorecem a resiliência, ora impedem sua expressão, assim compreendemos. PALAVRAS-CHAVE: Resiliência. Currículo. Desenvolvimento. INTRODUÇÃO O estudo do desenvolvimento humano amalgama-se em campos do conhecimento bio-psico-social, envolvendo macro e micro saberes relativos aos aspectos constitutivos e estruturais do sujeito. Tratando-se do campo da Psicologia da Educação, além da utilização de conclusões obtidas por meio dos estudos das áreas da ciência psicológica, interessa todo um universo de saberes tangenciais que estão relacionados aos sujeitos em situação pedagógica (GOULART, 2002). ** Prof. Auxiliar (DEDU/UEFS). Mestre em Educação (UFBA). E-mail: [email protected]. Universidade Estadual de Feira de Santana – Dep. de Educação. Tel./Fax (75) 3224-8084 - BR 116 – KM 03, Campus Feira de Santana/BA – CEP 44031-460. E-mail: [email protected] Sitientibus, Feira de Santana, n.36, p.143-154, jan./jun. 2007 144 Não obstante, o estudo cartográfico dos saberes escolares permite focar e tangenciar, ao mesmo tempo, aspectos e elementos próprios das relações pedagógicas, aqui entendidas como propostas e propósitos que definem e configuram a práxis propriamente dita, mas também as estratégias e tópicos que essencializam e dão corpo às ações educativas. É, pois, com o espírito de quem acredita que o desenvolvimento do ser humano, tal como as mudanças pedagógicas, são resultantes de demandas concretas, tanto oriundas do próprio sujeito, tanto das adequações socioculturais, que este escrito lançase na aventura de cartografar uma das possíveis relações entre a resiliência, fatores que se combinam no sujeito para que supere as adversidades, e os saberes escolares, considerandoos como uma das fontes de provável adaptação do sujeito às condições que a vida lhe impõe. Com esse fito, o convite à reflexão inicia-se por rever conceitos, por saber sobre a história do construto de resiliência, como via para a compreensão da relação entre desenvolver e adaptar-se. Em decorrência do entendimento sobre o processo de adaptação, nos sentidos biológico e social, além do próprio entendimento psicológico que o conceito carrega, conversamos com as idéias concebidas por Larrosa (2004), quando ironiza o espaço escolar, alinhado de tal maneira que não parece possibilitar a ação adaptativa que o ato de estudar certamente promoveria, não fosse por conta das “grades curriculares”, inventariadas e rigidamente ordenadas, segundo os saberes valorados por uma determinada cultura, o que aliena, amedronta, ameaça, conforme se apreende na exposição que ele promove: Somente o estudo ameaça o estudante. Porque no estudo, no seu abandonar-se ao estudo, o estudante renunciou também a tudo que poderia tranqüilizálo. Não apenas às pequenas seguranças da vida prática, desse mundo diurno da ação e do trabalho, desse mundo seguro em que cada um é o que é, e sabe o que fez ontem e o que fará amanhã, mas também a outras seguranças da verdade, da cultura, e da significação. O estudante renunciou àquilo que o próprio estudo poderia tornar seguro. O estu- Sitientibus, Feira de Santana, n.36, p.143-154, jan./jun. 2007 145 dante, no estudo, perde o pé, perde-se. Por isso o estudo é aquilo que o coloca em perigo, no máximo perigo. (LARROSA, 2004, p. 200). A escola, então, o espaço propício à sabedoria, à sapiência, ao estudo como fonte de adaptação social, pode e deve ser repensado, agora como um eixo articulador do indivíduo-comunidade, como parte que a integra e a transforma. Aqui se alude que os saberes, enquanto componentes curriculares, são produções interdependentes e promotoras do processo de resistir, crescer, superar, vencer, tudo enfim que pressupõe relações diretas e indiretas com a capacidade de produzir resiliência. O QUE É RESILIÊNCIA? O termo resiliência, cuja origem remete-se à Física e à Engenharia, pode ser traduzido nesses campos como a condição máxima que um material suporta e armazena de energia de deformação, sem que se deforme permanentemente (YUNES, 2003). Isso significa pensar em termos das variadas relações de tensão e deformação que comporta cada tipo de material, logo, na necessidade de se conhecerem as possibilidades de reações que guarda cada qual particularmente. A importação do conceito de resiliência para os campos da Psicologia e da Educação não pode ocorrer tão linearmente, isso porque implicaria atribuir ao sujeito uma responsabilidade inerente a sua própria natureza e singularidade biológica, de tal maneira que incorreríamos no equívoco científico do prédeterminismo genético, posição já superada quando se trata de compreender o processo de desenvolvimento humano nos planos físico e intelectual. Assim, portanto, nas visões da Psicologia e da Educação, como não cabe mais tomar o sujeito unidimensionalmente, o conceito de resiliência convoca-nos a pensar em flexibilidade e adaptabilidade como condições necessárias à vida humana. Vasto é o número que exemplifica a flexibilidade e a adaptação como expressões nos estudos sobre a resiliência. A título de comprovação, Zigler e Trickett, 1978; Tyler, 1984; Kliewer, Sitientibus, Feira de Santana, n.36, p.143-154, jan./jun. 2007 146 1991; Luthar, 1991; Bronfenbrenner, 1979-1996; Rutter, 1996; Del Prete e Del Prete 1999; Bronfenbrenner e Morris, 1998 (apud CECCONELLO; KOLLER, 2000) discorrem sobre os pontos que os pesquisadores se ativeram para compreender o fenômeno. De modo geral, os estudos apontam para as dinâmicas interativas entre o homem e o ambiente, para as competências sociais produzidas por predisposições que se potencializam em função dos efeitos de um estressor. Um estudo mais específico dessa dinâmica apresenta três fatores de proteção, que em situações de stress permitem que o sujeito alcance bons resultados, mediante condições adversas. São, pois: Características individuais, como auto-estima, inteligência, capacidade para resolver problemas e competência social; apoio afetivo transmitido pelas pessoas da família, através de um vínculo positivo com os cuidadores; apoio social externo, provido por pessoas significativas, como a escola, igreja e grupos de ajuda. (GARMEZY; MASTEN, 1994 apud CECCONELLO; KOLLER, 2000, p. 3). Um grifo na escola nos permite abstrair da sua própria função social e das propostas educativas que se faz representante, a possibilidade de lhe atribuir parte da responsabilidade na produção da resiliência. Isso porque o espaço escolar, no sentido lato, e ou pelos menos em tese, se encarrega de capacitar indivíduos originários e pertencentes a qualquer ambiente sociocultural, para integrá-los à sociedade, o que requer saberes e habilidades tanto gerais como específicos. Daí emerge, sem tanta precisão, um foro de debates sobre estudos da resiliência, recente por contar apenas 30 anos de interesse presente nas pesquisas, e cujos precursores são os termos invencibilidade ou invulnerabilidade. Yunes (2003) agrega algumas ponderações sobre o percurso do construto resiliência a partir dos termos que lhe pré-sucederam. Assim, lembra que ser invulnerável pode sugerir imutabilidade, resistência absoluta, ilimitada, e ainda sugerir a idéia de ser uma característica intrínseca a um sujeito, ao passo que as pesquisas mais recentes comprovam o oposto: a resiliência tem Sitientibus, Feira de Santana, n.36, p.143-154, jan./jun. 2007 147 suas bases constitucionais no indivíduo e nas condições ambientais. Além disso, o grau de resiliência também se modifica em função das circunstâncias, das contingências. Uma compilação profícua sobre a construção desse construto é amparada por Martineau (1999 apud YUNES 2003, p. 4), quando apresenta características consideradas como próprias do sujeito resiliente, a saber: [...] “sociabilidade, criatividade na resolução de problemas e um senso de autonomia e de proposta”. [...] “as idiossincrasias de memória, narrativa, identidade, interpretação e subjetividade”. Para a compiladora do estudo, no primeiro caso, as características são obtidas por meio de testes e estudos psicométricos, enquanto que no segundo caso, “são histórias de vida construídas e reconstruídas através das múltiplas interpretações do indivíduo”. Ela critica a primeira posição porque, ao mensurar a resiliência a partir de traços presentes nas condutas do sujeito, tende-se a negá-la como potencialidade “contingente, provisória, imprevisível e dinâmica”. Os estudos temáticos nesse campo têm eleito dois focos principais. O primeiro e mais numeroso, o foco individual, ou seja, os estudos que buscam no indivíduo a caracterização ou o potencial resiliente. E o foco familiar, em menor número, porém mais abragente por favorecer o entrelaçamento com estudos de gênero, crenças, religião, economia, sociologia, educação, saúde, entre outros. (POLETTO, WAGNER; KOLLER, 2004). HÁ RECIPROCIDADE ENTRE RESILIÊNCIA E EDUCAÇÃO? A ressonância dos estudos sobre resiliência na educação afeta os significados atribuídos à construção do conhecimento escolar e, por conseguinte, nos desperta para a primitiva relação do conhecimento com a existência humana, como passagem obrigatória na construção da temporalidade histórica, como ferramenta na produção dos bens, na organização social, e como estratégias de superação das limitações biológicas, psicológicas e existenciais, logo, sobre a produção de resiliência. Tão largo é o alcance do conhecimento na existência concreta do ser humano, que o poder se institui por via dos saberes, que assim Sitientibus, Feira de Santana, n.36, p.143-154, jan./jun. 2007 148 se configuram em peças-chave de seleção social e de superação das limitações individuais. A escola é uma peça dessa engrenagem social para a produção dos saberes, que pressupõem carrear o processo histórico evolutivo do homem, e donde se espera também emanar articulações entre as dimensões do pensar, sentir e agir como trajetória de realizações, senão indagamos, assim como Charlot (2000): que significado tem a escola para aqueles que a constituem? O reforço desses pressupostos encontra-se nas preocupações explicitadas por estudiosos da educação, predispostos a contribuir com reflexões instigadoras, pontuais e críticas, ao que nos apoiamos e socializamos modesta e sinteticamente a seguir: [...] o conhecimento relaciona-se inelutavelmente com as práticas do fazer e do poder, assumindo um papel fundamental no manejo do mundo natural, do mundo social e do mundo mental, atuando na dominação ou na emancipação das pessoas no seio da sociedade (SEVERINO, 2004, p.37). O processo emancipatório, portanto, impõe, conforme declara o próprio autor, que o currículo escolar seja um instrumento ensejador para a produção de conhecimentos preparatórios, capacitadores, e que efetivamente se justifiquem como inserçores dos sujeitos no campo social. Na mesma direção, e de maneira eloqüente, o discurso de Silva (2005) denuncia a omissão e o silêncio contido nos currículos contra segmentos sociais, o que, portanto, alija do processo de desenvolvimento, de inserção, como se faz pressupor em seus princípios acadêmicos. Além disso, aponta quem se encontra excluso das propostas curriculares, sobremodo naquilo que lhe parece básico cumprir: a construção de conceitosinstrumentos para agir no campo social de maneira transformadora. O silêncio mortificante das possíveis transformações que se dariam, via currículo escolar, e que extinguiria a hegemonia dos discursos e práticas de dominação, precisaria ser indagado, conforme dispõe a seguir: Sitientibus, Feira de Santana, n.36, p.143-154, jan./jun. 2007 149 Onde estão as línguas e as vozes dos silenciados, exilados do currículo? Onde estão as vozes dos índios, dos negros, das mulheres, dos gays, dos sem-terras, dos sem-tetos? Pois, como assinala Corazza (et al. 2004), assim como o pintor não pinta nunca sobre uma tela virgem, nem o escritor escreve sobre uma página em branco, porque tanto a tela como a página estão cobertas de clichês preestabelecidos, também o currículo não se constrói sobre um zero, um nada, mas sobre a realidade do pensamento curricular repleta de clichês, que devem ser eliminados (SILVA, 2005, p. 31). E é assim que a autora concebe o distanciamento entre um processo indiciado pelo currículo escolar que aliena, e a discrepância com um projeto curricular que emanciparia. Sobre isso, acrescenta que a formação docente é extremamente importante, que somente se produzirão efeitos significativos nos processos e produtos escolares quando o currículo de fato pensar, elaborar e realizar ações pedagógicas abertas às situações reais, aos estudantes reais. Nosso entendimento sobre a resiliência e os saberes escolares encontra fertilidade e comunhão nos argumentos apresentados e em estudos publicados, senão vejamos: Trombeta e Guzzo (2002) realizaram uma pesquisa em uma escola de adolescentes de baixa renda, e entre as apreensões intentadas pelo estudo estava a de conhecer a avaliação dos educadores sobre os ajustamentos e desajustamentos emocionais e sociais dos estudantes. Além dos fatores de risco identificados como propulsores e presentes naquela população, como desemprego, baixa renda familiar, falta de infra-estrutura básica para a moradia, entre outros, marcou-se o baixo nível de escolaridade dos pais, condição que naturalmente se reflete como fator de proteção e redução nos impactos negativos às adversidades. Todavia, a resiliência é um processo psicológico dinâmico, que se desenvolve ao longo da vida, a partir da contraposição dos fatores de risco com os fatores de proteção. Assim, por um lado vêem-se as forças ameaçadoras, persecutoras, os perigos, Sitientibus, Feira de Santana, n.36, p.143-154, jan./jun. 2007 150 as dores, os sofrimentos, as carências, enfim as condições adversas, e por outro as competências, o sucesso, a capacidade de enfrentamento, as condições adequadas para agir e reagir, lançando-se à superação (PINHEIRO, 2004). Conta-se, portanto, que os saberes escolares possam fornecer, subsidiar, amparar, construir as forças protetoras, sobretudo para os estudantes das classes populares que se encontram imersos e ou expostos a condições mais adversas. Na cotidianidade, assistimos, ainda que não perceptivelmente conscientes, os sujeitos e suas amostras resilientes sob múltiplas facetas, isso é fato. Nos centros urbanos, na zona rural, no seio familiar, são fartos os exemplos de como se lança mão dos saberes disponíveis para angariar sucesso, realizar obras, atingir metas, mas também resistir ao fracasso, à derrota, à discriminação, resistir à finitude física, à morte simbólica... Indaga-se então: as prescritividades do currículo e todos os saberes que daí se arrolam, inclusive sua pluralidade, será uma construção “dada” pelas realidades sociais e culturais? Berticelli (1998) nos responde que não se assevera mais na idéia de currículo único, até porque há rejeição à concepção de um currículo como um rol de informações que devam ser transmitidas e assimiladas passivamente, e que possa lhe ser atribuído um poder preparatório para a vida. Ao contrário, num campo em que a cultura modela pensamentos, sentimentos e atitudes, a diversidade cultural, as expressões humanas das diversas realidades sociais são as matérias-primas da criação e recriação, e aqui se acrescenta que são também os aspectos propulsores à contestação, à criticidade, à transgressão, como forma de dinamizar o currículo escolar. Tudo isso nos parece pertinente para considerar que os saberes escolares, enquanto componentes de um currículo cultural plural, possam ser promotores da reciprocidade entre resiliência e educação. Não sem propósito, portanto, nessa direção muitos autores indicam a necessidade de se trabalhar com currículos que contemplem a diversidade cultural. Observemos o que nos esclarece Sacristán (1995) sobre a possibilidade da escola, a partir das propostas curriculares, se tornar um ambiente acolhedor às diferenças sociais e culturais e tolerante às idiossincrasias, conforme o exposto: Sitientibus, Feira de Santana, n.36, p.143-154, jan./jun. 2007 151 [...] a busca de um currículo multicultural é outra manifestação particular de um problema mais amplo: a capacidade da educação para acolher a diversidade. Partiremos da observação de que a cultura escolar não poderá, em seus conteúdos e práticas, levar em consideração e fazer com que os membros de uma minoria cultural se sintam acolhidos, se toda a cultura escolar não trata adequadamente o problema mais geral do currículo multicultural; e não se poderá chegar a esse se não se discute a questão da diversidade em geral (SACRISTÁN, 1995, p. 82-83). De forma preocupante, o problema do currículo multicultural tem sido colocado pelo autor. Isso porque não diz respeito [...] “apenas às minorias culturais, às raciais ou religiosas, com vistas a que tenham oportunidade de se verem refletidas na escolarização como objetos de referência e de estudo”. Ele chama atenção para um ponto que afeta a “representatividade” cultural do currículo comum, aquele que se adota e aplica-se ao sujeito no processo de escolarização. Seu parecer sobre os avanços e possibilidades do currículo como meio e instrumento e viabilizador de transformações, mas também de respeito e contemplação das diferenças culturais e sociais se apreende na declaração seguinte: Nossa conclusão final será que o currículo multicultural exige um contexto democrático de decisões sobre os conteúdos do ensino, no qual os interesses de todos sejam representados. Mas para torná-lo possível é necessária uma estrutura curricular diferente da dominante e uma mentalidade diferente por parte de professores, pais, alunos, administradores e agentes que confeccionam os materiais escolares. Essa mentalidade, essa estrutura e esse currículo têm que ser elaborados e desenvolvidos não apenas para ciganos, mas para fazer da escola um projeto aberto, no qual caiba uma cultura que seja um espaço de diálogo e de comunicação entre grupos sociais diversos (SACRISTÁN, 1995, p. 83). Sitientibus, Feira de Santana, n.36, p.143-154, jan./jun. 2007 152 Configurar-se, pois, em um espaço aberto é também permitir se tornar instância interlocutora entre o singular e o plural, entre os saberes comuns a todos e as particularidades criativas do ser, o que, sem dúvida, o currículo poderá promover, à medida que viabilize um processo educativo, onde a flexibilidade e a adaptabilidade estejam ancoradas na consistência de saberes e competências necessárias à superação dos limites, lugares, estados, cuja insuficiência de conhecimentos produz e cristaliza. BREVES CONSIDERAÇÕES À guisa de conclusão, o currículo é meio, é condição, é instrumento teórico-metodológico que participa ativamente da complexa tarefa da vida: desenvolver-se. Nesse ponto, há toda uma composição que se faz realçar do desenvolvimento humano ressignificado. É preciso mesmo acrescentar que o desenvolvimento do sujeito não o torna mais suscetível às mudanças, mas o próprio processo de desenvolver pode conter a transformação como parte constitutiva de um novo modo de funcionamento. Isso difere substancialmente de pensar que à medida que o sujeito se desenvolve, no sentido mais estrito de crescimento etário, agrega condições necessárias e suficientes para enfrentar e superar as adversidades sociais. Registrar algumas idéias sobre resiliência e saberes escolares, cartografando como esses conceitos podem margear e se imbricar numa trama curricular, foi um exercício qualitativo na forma de pensar os aspectos e os elementos intercessores do processo de crescer, evoluir, desenvolver. Foi uma experiência preparatória para posições teóricas que, certamente, se farão necessárias na trajetória de uma prática docente, a partir da qual nos propomos observar e intervir no sentido de contribuir para que a resiliência seja o resultado da produção de significados do sujeito, dirigindo nosso olhar e esforços para a capacidade de superação das limitações intelectuais de estudantes. Sitientibus, Feira de Santana, n.36, p.143-154, jan./jun. 2007 153 RESILIENCE AS A CARTOGRAPHY TOWARD THE SCHOOL LEARNING ABSTRACT — The implications of the didactic methodology, knowledge and practice of resilience in the development of the students are present themes in the field of Psychology of Education. Focused on a psychoeducational perspective, the resilience may be understood as dynamic process that searches for adaptable mechanisms to face adversity situation. And in this case, the sum of factors and elements that establish resources for the adaptation can be apprehended from syllabus proposals, more specifically concerning the knowledge imposed by school. We understand that the choice of arguing, profaning or subverting the concept of resilience may favor or impede its expression. KEY WORDS: Resilience. Curricula. Development REFERÊNCIAS BERTICELLI, I.A. Currículo: tendências e filosofia. In: COSTA, M. V. (Org.). O currículo nos limiares do contemporâneo. Rio de Janeiro: DP&A, 1998. CECCONELLO, A. M.; KOLLER, S.H. Competência social e empatia: um estudo sobre resiliência em situação de pobreza. Psicologia em Estudo, Natal, v.5 n.1 jan./jun. 2000. Scielo Brasil. Disponível em<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext &pid=S1413294X 2000 00010 00 05 >. Acesso em: 06 abr. 2006. CHARLOT, B. A produção e o acesso ao conhecimento: abordagem antropológica, social e histórica. 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