XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 AS INTERFERÊNCIAS DA QUALIFICAÇÃO DOS DOCENTES NOS CURSOS NOTURNOS: O CASO DA LICENCIATURA EM FÍSICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ. Hilda Mara Lopes Araujo Neide Cavalcante Guedes Universidade Federal do Piauí O presente estudo é parte de uma pesquisa mais ampla que se encontra em fase de execução no Centro de Ciências da Natureza da Universidade Federal do Piauí no período noturno do curso de licenciatura em Física. Tem como objetivo elaborar um quadro comparativo entre a qualificação e a atuação profissional dos docentes no referido curso e a interferência dessa qualificação na formação inicial do futuro professor da Educação Básica. Como suporte teórico, fizemos uso de estudos realizados por Carvalho (1984), Caporaline (1991), Laterza (1995), Furlani (1998) e Salomé (2000), dentre outros. Os dados até aqui recolhidos através de questionário no qual foram contemplados aspectos pessoais e profissionais dos professores, demonstram uma aproximação entre a prática dos docentes e o nível de formação dos mesmos. Esta constatação vem reafirmar a concepção de educação tradicional evidenciada por esses docentes, quando a função social da educação se traduz basicamente na transmissão de conteúdos, exigindo a construção de mecanismos no sentido de abrir espaços de discussão junto ao corpo docente não só do Curso de Física, mas também da instituição como um todo, para que os professores possam refletir de maneira crítica o seu fazer pedagógico; e, com base nessa reflexão, que sejam capazes de redimensionar sua atividade na busca da melhoria na qualidade de formação dos licenciandos. Na continuidade do estudo estamos investigando as interferências da prática desse profissional docente na formação do aluno, futuro professor, esperando que os achados possam abrir espaços de discussão e perspectivas que se convertam em inovação e formação com qualidade desse futuro profissional. Palavras-Chaves: Qualificação Docente. Licenciatura em Física. Curso Noturno. Sabe-se que a realidade dos cursos noturnos tem sido historicamente problemática. Se fizermos uma recorrência histórica, desde a implantação desses cursos no Brasil, que data do período imperial, será possível constatar uma demonstração cabal dessa problemática. Já àquela época, o ensino noturno era ministrado nas dependências das escolas primárias que não funcionassem à noite, e era destinado àqueles impossibilitados de freqüentar os cursos diurnos, seja devido à idade, seja pela necessidade de trabalhar. Tratava-se de cursos, que, na reflexão de Carvalho (1984), “servem ao homem do povo que vive do trabalho”. Os professores que ministravam aulas nesses cursos viviam as agruras de uma docência que pouco valorizava sua atuação, tendo em vista que ministravam as aulas recebendo uma pequena gratificação pela tarefa realizada. Atualmente, os referenciais já construídos acerca dos cursos noturnos não somente estão consolidados, como também ao lado desses problemas outros têm Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002457 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 2 surgido. Fatores endógenos relacionados à evasão, repetência, dificuldade de integralização no tempo padrão, dentre outros, constituem parte do cenário no qual estão inseridos esses cursos. Do ponto de vista exógeno, questões relacionadas à segurança, transporte, às condições socioeconômicas dos estudantes vêm juntar-se aos fatores endógenos compondo, desta forma, o quadro por meio do qual podemos analisar e refletir sobre a situação que caracteriza os referidos cursos. Nesta perspectiva de realizar estudos acerca dos cursos noturnos, já se dispõe de uma literatura conveniente e comprometida em retratar essa problemática, conforme atestam os estudos realizados por Carvalho (1984), Caporaline (1991), Laterza (1995), Furlani (1998) e Salomé (2000). A leitura destas obras e o contexto dos cursos noturnos do Centro de Ciências da Natureza – CCN, da Universidade Federal do Piauí-UFPI, posto que o CCN se constitui dos seguintes cursos de Graduação no período noturno: Licenciatura Plena em Biologia, Matemática, Química e Física instigou-nos a transmutar nosso olhar para a realidade desses cursos, dos quais tomamos a Física como piloto para a intervenção. Este estudo é parte do Programa de Consolidação das LicenciaturasPRODOCÊNCIA, cujo projeto intitula-se: “Intervenção nas condições de funcionamento do Curso de Licenciatura Plena em Física, do CCN/UFPI”, com vistas à melhoria da prática docente na formação do professor para a educação básica e tem como objetivo elaborar um quadro comparativo entre a qualificação e a atuação profissional dos docentes atuantes no referido curso e a interferência dessa qualificação na formação inicial desse futuro professor. Por que o curso de Licenciatura em Física? Não obstante supor-se que a realidade dos demais cursos do CCN/UFPI não apresente um cenário diferenciado, dados fornecidos pela Divisão de Assuntos Acadêmicos-DAA revelam um quadro preocupante sob diversos aspectos relacionados ao curso em estudo, como por exemplo, índice de evasão da ordem de 32% no segundo semestre de 2009. Essa constatação evidencia um percentual significativo de vagas ociosas, confirmando, portanto, uma relação candidato-vaga inferior a oferta o que torna problemática a criação de novas vagas na própria instituição, assim como a possível abertura do curso em outras IES. No caso específico do curso de Licenciatura em Física, Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002458 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 3 essa situação revela-se preocupante, uma vez que são os egressos desse curso que irão atuar na Educação Básica. Os cenários referidos acima compõem, de certa forma, a realidade do Curso de Licenciatura em Física da UFPI, como mencionamos nesta pesquisa. Os altos índices de evasão, aliados a um considerável número de estudantes reprovados, além da grande quantidade de vagas ociosas no curso, trazem como consequência uma baixa taxa de sucesso, que se materializa na redução de profissionais aptos a ingressar no mercado de trabalho, como professores de Física. Nesse sentido, Araújo e Miranda (2008, p.04) assinalam: […] durante a década de 90 foram formados apenas 13% do necessário para atender à demanda de 2002. Mesmo contabilizando-se os alunos da primeira década do século XXI, o País não terá licenciados em Física suficientes. E a situação tende a piorar, pois, com o desenvolvimento do País, a inclusão social e o crescimento demográfico, a tendência é haver um aumento da demanda pela educação básica e, consequentemente, por professores para este nível. Para o presente estudo, nos deteremos em apresentar um panorama a partir da análise e interpretação dos dados relacionados ao corpo docente do Curso de Licenciatura em Física, buscando, dessa forma, atender parte dos objetivos presentes no projeto. Percursos metodológicos A necessidade de uma aproximação à realidade que pretendemos estudar – o Curso noturno de Licenciatura em Física – nos impeliu a refletir e a buscar respostas às indagações efetuadas face ao quadro de dificuldades apresentadas pelo curso. Nesse sentido, realizamos reuniões com os gestores do CCN (Direção) e do curso (chefe de Departamento e coordenador) conjuntamente com os membros que compõem o PRODOCÊNCIA, formado por quatro professores com formação em Pedagogia e um professor do próprio Centro com formação em Ciência da Computação. Na primeira reunião, discutiu-se o Plano de Trabalho, apresentando suas intenções ao tempo em que ouvíamos a fala dos sujeitos diretamente envolvidos no diaa-dia do Curso de Física. Essa experiência teve seu lado enriquecedor, por trazer à tona uma série de situações pertinentes ao referido curso, enfatizando dificuldades relacionadas à necessidade de ampliação do quadro docente. Esse item gerou ampla Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002459 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 4 discussão, pois, segundo os representantes do curso, o quadro de professores é insuficiente para atender às demandas nos turnos diurno e noturno. Assinale-se que, para compor o quadro docente, o Departamento, sob a autorização da Administração Superior, contrata professores substitutos os quais desenvolvem seu trabalho notadamente no período noturno. Algumas sugestões começam a ser delineadas pelos gestores merecendo destaque o sistema de rodízios intercalando a participação dos docentes pelos três turnos. De acordo com os gestores, a carga-horária dos professores efetivos já se completa com sua atuação pela manhã e à tarde. O sistema de rodízio seria uma proposta democrática, ao evitar a concentração de alguns professores no turno da noite. Outro aspecto destacado diz respeito à necessidade de aparelhamento e atualização dos equipamentos dos laboratórios, bem como uma melhor assistência aos cursos noturnos. Na segunda reunião, realizada com a presença dos professores e, também, do chefe de Departamento e coordenador do Curso de Física, tivemos a oportunidade de, mais uma vez, apresentar a proposta de Intervenção ao tempo em que os membros do PRODOCÊNCIA colocaram-se abertos a propostas que favorecessem a qualidade do curso. Os docentes relataram que os alunos enfrentam ao chegar à Universidade, dificuldades acadêmicas que já se evidenciam nas disciplinas básicas do curso, sobretudo, aquelas que lidam com cálculos matemáticos. Em uma tentativa de superar essa situação, foi inserida na matriz curricular do curso a disciplina Pré-Cálculo, com o objetivo de trabalhar as lacunas de conhecimento que os alunos trazem do Ensino Médio, predispondo-os a dar continuidade ao curso. Um aspecto interessante mencionado, na reunião pelos professores, foi a necessidade, segundo eles, de instalação de um Fórum para discussão das questões inerentes ao Curso. Por ocasião dessa reunião, aplicamos um questionário junto aos professores, com a finalidade de ampliar os dados e informações sobre as expectativas e percepções dos docentes relacionadas ao Curso. Como suporte na construção dos dados, fizemos uso de um questionário composto por duas partes contemplando questões abertas e fechadas, a saber: na primeira parte consta os dados relativos à identificação pessoal e profissional e na segunda parte os dados mais específicos relacionados a atividade docente. Dos 26 (vinte e seis professores) que atuam na Licenciatura em Física (noturno), 23 (vinte e três) responderam ao questionário. Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002460 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 5 Os dados obtidos na primeira parte permitiram a identificação do docente referente ao sexo, nível funcional e tempo de serviço. Na segunda parte buscou informações relativas a atividade docente, tais como: planos de curso, procedimentos metodológicos utilizados nas aulas teóricas e práticas, material didático mais utilizado em sala de aula, instrumentos de avaliação, disponibilidade para atendimento ao aluno extraclasse, considerações sobre o nível de exigência do curso, o turno de trabalho, percepções sobre o nível de conhecimento do aluno, pontualidade/falta de pontualidade do aluno, procedimentos quanto a dificuldades de aprendizagem observadas pelo professor. A finalidade da pesquisa de campo foi fazer um estudo exploratório da realidade pertinente ao Curso de Física, incluindo questões abertas que possibilitassem oportunidade aos professores de manifestarem livremente seu pensamento, juntando-se aos dados quantitativos, informações qualitativas. Análise e discussão dos resultados A partir dos dados coletados, pudemos verificar que, dos 23 (vinte e três) professores que responderam ao questionário, 21 (vinte e um) são do sexo masculino e 02 (dois) do sexo feminino. Destaque-se que esses dados apenas confirmam a realidade histórica dos cursos de Ciências da Natureza e, em particular, o de Física, por ser objeto desse estudo, com presença marcadamente masculina. Embora não se trate aqui de fazer qualquer abordagem relacionada às relações de gênero, mas, unicamente, retratar a realidade objetiva concernente a esses cursos. Quanto ao nível funcional, 05 (cinco) professores fazem parte da categoria de associado; 12 (doze) são adjuntos; 01 (um) docente é assistente, 05 (cinco) professores são substitutos. A categoria de professor associado foi recentemente criada pelo Ministério da Educação dentro do Plano de Carreira do Magistério Superior, através da Medida Provisória n. 295, de 29 de maio de 2006, publicada no DOU de 30 de maio de 2006. No conjunto das indagações efetuadas aos professores do curso enfatizamos àquelas relacionadas aos saberes oriundos da formação desses professores na área específica e como esses se completam com saberes didático-pedagógicos fundamentais à prática docente. Em outras palavras, queremos saber se os professores dominam as Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002461 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 6 variáveis pertinentes ao exercício da docência, e também se participaram de cursos voltados à formação pedagógica. Quanto à presença de professores substitutos no curso, a despeito de sua necessidade, seria importante saber qual o grau de compromisso desses professores com o curso; como se relacionam com os alunos; quais as dificuldades que enfrentam, tendo em vista a sua condição de substituto. Com relação ao tempo de serviço na atividade docente, 07 (sete) professores já têm até dez anos de serviço; 02 (dois) docentes até quinze anos; e, acima de quinze anos de serviço, há 14 (catorze) professores. Esses resultados expressam a larga experiência que os docentes possuem em sua atuação frente ao curso. A hipótese que defendemos é que essa longa experiência deve permitir aos professores deterem um saber pormenorizado a respeito do curso, onde se localizam os problemas, e quais as eventuais soluções para os mesmos. No que se refere aos dados relacionados à atividade docente que procuram inquirir sobre o efetivo exercício da docência, 21 (vinte e um) professores responderam que disponibilizam o plano de curso da sua disciplina aos estudantes. Somente 02 (dois) não o fazem. Durantes as aulas, os professores diversificam os procedimentos didáticos. Segundo as informações obtidas, os procedimentos mais utilizados são: aula expositiva 14 (quatorze) ; aula expositiva com colaboração 14 (quatorze); aulas práticas 07 (sete); trabalho individual 07 (sete); trabalho em grupo 05 (cinco); e outras formas de condução da prática docente 06 (seis). A expressiva tendência às aulas expositivas revela a adoção de um modelo tradicional de condução da prática pedagógica muito centrada na figura do professor, ficando o aluno na posição de espectador do processo. Diante dessa postura, urge indagar: – Quais seriam, então, as intenções educacionais de um professor que assim age? A partir desse modelo, como o aluno constrói e internaliza o conhecimento? Inquietações dessa natureza são pertinentes, uma vez que a aula expositiva lida, basicamente, com conteúdos conceituais nos quais o objetivo fundamental do professor consiste em que seus alunos “saibam” determinados conhecimentos. Em outras situações, pode haver a combinação de exposição com colaboração, conforme apontado por 14 (quatorze) professores do curso, oportunidade em que os alunos desenvolvem algumas habilidades, mas a ênfase recai, basicamente, nos conceitos. Essas formas de ensinar estão claramente vinculadas a um modelo de formação centrado nos conteúdos convencionais ligados ao “saber” e ao “saber fazer” mais ou menos acadêmicos, com uma função basicamente propedêutica. Se os conteúdos são Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002462 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 7 prioritariamente conceituais e o modelo de ensino é transmissivo então o material didático mais utilizado em sala de aula são os livros-textos, conforme evidenciado por meio dos dados. Essa constatação é inclusive revelada na questão que procurou investigar que material é mais utilizado em sala de aula. Neste contexto, 20 (vinte) professores disseram utilizar livros-textos; 03 (três) utilizam apostilas; 06 (seis) fazem uso de trechos de livros; 07 (sete) utilizam artigos de periódicos específicos; e 07 (sete) trabalham com anotações pessoais. O livro didático é, assim, o meio mais adequado para resumir os conhecimentos. Nessa perspectiva, qual seria o papel da avaliação? Possivelmente uma avaliação centrada nos resultados em que os alunos mais preparados ascendem para o período seguinte. Para essa finalidade, a prova escrita parece ser o instrumento de avaliação mais adequado, ainda que limitador. Sob este aspecto, Zabala (1998, p. 209) destaca: As provas escritas, como instrumento de conhecimento, são extremamente limitadas, embora sejam adequadas quando o que se quer conhecer tem um caráter basicamente cognitivo e se tem suficientes habilidades para sabê-lo expressar por escrito: conteúdos factuais, conceituais, conteúdos procedimentais de papel e lápis, algumas estratégias cognitivas, argumentações de valores e opiniões sobre normas de comportamento. Conforme pudemos constatar, todos os professores (23 docentes) fazem uso da prova escrita discursiva; 02 (dois) aplicam provas objetivas de múltipla escolha; 05 (cinco) fazem trabalhos em grupo e 10 (dez) aplicam trabalhos individuais. Em oposição à prática avaliativa desenvolvida por esses professores, Zabala (1998) destaca que a forma ideal para conhecer o processo de aprendizagem e o nível de desenvolvimento alcançado pelos alunos manifesta-se em decorrência da observação sistemática de cada um na execução das diferentes atividades. Essa perspectiva defendida pelo autor aproxima-se da concepção da avaliação formativa cuja finalidade, dentre outras, é conhecer para ajudar. As conseqüências do modelo tradicional de ensino evidenciado no curso podem ser visualizadas pelas respostas dos próprios professores, que, ao serem questionados sobre o nível de conhecimento dos alunos do curso no período noturno, assim se manifestam: 05 (cinco) professores consideram o nível de conhecimento dos alunos baixo; 11(onze) atribuem aos alunos um nível razoável; 04 (quatro) consideram o nível bom; 03 (três) não responderam a questão. Nenhum professor considerou muito bom o nível de conhecimento dos alunos. A postura assumida nessa questão demonstra que Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002463 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 8 boa parte desses professores reconhece o baixo desempenho do aluno, todavia não há consciência da necessidade de ressignificação de sua prática com vistas a proporcionar uma melhor aprendizagem. Por sua vez, esse resultado força um retorno à questão anteriormente formulada: – O que os professores pretendem que seus alunos aprendam? Quais as capacidades discentes desenvolvidas por meio do modelo de educação que se vem expondo até aqui? Decerto, prioritariamente, as capacidades cognitivas entendidas nessa acepção como valorização da memorização decorrente de um ensino cujo modelo é transmissivo. Por outro lado, quando todas as capacidades do aluno são consideradas, além do aspecto cognitivo, consideram-se, também, as capacidades afetivas e psicomotoras. Neste caso, a função do ensino expande-se, adquirindo um caráter mais global, uma vez que se volta para a formação integral do aluno. Afinal a concepção de aprendizagem que fundamenta esse modelo é a construtivista, pois torna possível que todas as capacidades sejam observadas e que os diferentes tipos de conteúdos sejam trabalhados. Considerações parciais Um olhar retrospectivo e a um só tempo projetivo da situação relacionada ao curso de Licenciatura em Física nos permite proceder à seguinte indagação: – Qual seria, para esses professores, a função social do ensino? Tendo em vista os resultados obtidos a partir das análises e interpretação das questões, a possível resposta a essa indagação seria no sentido de que, para esses professores, sua visão de ensino se pauta na perspectiva propedêutica e seletiva; ou seja, voltada para a ascensão daqueles alunos que conseguiram, ao longo da formação acadêmica, cumprir os critérios necessários a esse fim. Nessa visão, as fontes epistemológicas que amparam essa formação acham-se dicotomizadas, ficando, de um lado, a ciência; e, do outro, a experiência o que evidencia as interferências provocadas na formação inicial dos futuros professores da Educação Básica Dessa forma, os conteúdos aparecem distanciados da realidade, descontextualizados, e o aluno é, nessa perspectiva, visto como uma entidade. Por conseguinte, pode-se constatar que as capacidades desenvolvidas reduzem-se, em sua maioria, as de ordem cognitiva com ênfase na memorização de conteúdos; e sua internalização pelos alunos passa a acontecer, muitas vezes e, principalmente, desprovida de criticidade no que diz respeito à relação desses com o meio social. Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002464 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 9 O conjunto das reflexões aferidas justifica a necessidade urgente de construir mecanismos no sentido de abrir espaços de discussão junto ao corpo docente não só do Curso de Física, mas, também, da Instituição como um todo, para que os professores possam refletir de maneira crítica o seu fazer pedagógico; e, com base nessa reflexão, que sejam capazes de redimensionar sua atividade na busca da melhoria na qualidade de formação de seus alunos. Por fim, as reflexões dimensionadas refletem a necessidade de dar continuidade a essa investigação analisando o outro lado do processo – o aluno, sujeito que aprende e pode demonstrar com autenticidade, sua condição de estar em formação (MACEDO, 2010) Referências ARAÚJO, Renato Santos; MIRANDA, Deise. Baixos salários e a carência de professores de física no Brasil. In: ENCONTRO DE PESQUISA EM ENSINO DE FÍSICA, 11., 2008, Curitiba. A pesquisa em ensino de Física e a sala de aula: articulações necessárias. Curitiba: Sociedade Brasileira de Física, 2008. p. 1-12. Disponível em: <http://www.sbf1.sbfisica.org.br/eventos/epef/xi/sys/resumos/T02191.pdf>. Acesso em: 1 jun. 2011. CAPORALINE, Maria Bernadete. A transmissão do conhecimento e o ensino noturno. Campinas: Papirus, 1991. CARVALHO, Célia Pelozzo de. Ensino noturno: realidade e ilusão. São Paulo: Cortez, 1984. (Coleção polêmicas do nosso tempo V. 12). FURLANI, Lúcia M. Teixeira. A claridade da noite: os alunos do ensino superior noturno. São Paulo: Cortez, 1998. LATERZA, Betânia. Ensino noturno: a travessia para a esperança. São Paulo: Global, 1995. MACEDO, Roberto Sidnei. Compreender/Mediar a formação: o fundante da educação. Brasília: Líber Livro, 2010. SALOMÉ, Josélia S. O ensino superior noturno frente a era do conhecimento. 2000. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis-SC. ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998. Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002465