UROCULTURAS PEDIÁTRICAS E COMUNITÁRIAS: PRINCIPAIS MICRORGANISMOS E PERFIS MULTIRRESISTENTES Ana Paula Leão Jabur¹, Alessandra Marques Cardoso² Infecção do trato urinário (ITU) é um problema comum em idade pediátrica. Cerca de 5,0% dos lactentes com febre têm infecção urinária (1). Laboratorialmente a ITU é definida pela presença de um número igual ou superior a cem mil unidades formadoras de colônia por mililitro de urina – UFC/mL (2). O aumento da resistência bacteriana a vários agentes antimicrobianos acarreta dificuldades no controle de infecções, inclusive de ITU, e contribui para a elevação dos custos do sistema de saúde público e privado (3). Um importante mecanismo de resistência bacteriana é a produção de beta-lactamases de espectro ampliado (ESBL), potentes enzimas capazes de inativar, por hidrólise, os antimicrobianos beta-lactâmicos de amplo espectro, levando à ineficácia desses fármacos (4). É sabido que utilizar métodos inadequados para coleta de urina pode levar a diagnósticos errôneos e, consequentemente, à administração desnecessária de antimicrobianos e à realização de exames de imagem dispensáveis (5). Foi realizado um estudo retrospectivo em um laboratório de análises clínicas de Goiânia-GO, verificando os resultados de 432 uroculturas de crianças de cinco semanas a 11 anos de idade. Aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, conforme Protocolo Nº 82.542. Foram analisadas 432 uroculturas pediátricas no período compreendido entre julho/2012 e julho/2013. 1. Biomédica, Pontifícia Universidade Católica de Goiás, [email protected] 2. Orientadora, Doutora e Mestre em Medicina Tropical e Saúde Pública – Microbiologia (UFG), Professora Adjunta do Departamento de Biomedicina e Farmácia da PUC-GO, Biomédica da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás. Evidenciou-se que a E. coli foi o uropatógeno mais prevalente, sendo 28 (36,0%) isolados, dos quais 24 (85,7%) apresentaram-se MDR e três (4,0%) produtores de ESBL. O segundo mais prevalente foi Proteus spp., com 10 (13,0%) isolados, 100% MDR e não produtores de ESBL. Microrganismos isolados Número Absoluto MDR ESBL Relativo (%) Sim Não Sim Não Escherichia coli 28 36 24 4 3 25 Proteus mirabilis 8 11 8 0 0 8 Proteus penneri 1 1 1 0 0 1 Proteus vulgaris 1 1 1 0 0 1 Outros 41 79 51 100 40 74 1 5 0 3 41 76 Total Legenda: MDR= multirresistentes/resistentes a múltiplos antimicrobianos ESBL= mecanismo enzimático de resistência aos beta-lactâmicos Nosso estudo revelou 74 (93,7%) microrganismos MDR, denotando grande preocupação por tratar-se de amostras pediátricas e comunitárias. A resistência maior que 50% a uma classe de antimicrobiano apresentada pelos uropatógenos prevalentes (E. coli e/ou Proteus spp.) foi o critério utilizado para classificá-los como microrganismos resistentes ou sensíveis. Considerando essas duas enterobactérias mais prevalentes, as classes de antimicrobianos que apresentaram maior nível de resistência bacteriana foram as tetraciclinas, as penicilinas, as cefalosporinas (1ª, 2ª, 3ª e 4ª gerações) e as colistinas, de acordo com a tabela abaixo: Classe de antimicrobiano Aminoglicosídeos Cefalosporinas (1ª, 2ª, 3ª e 4ª gerações) Quinolonas Penicilinas simples Penicilinas conjugadas Nitrofurantoína Sulfas Tetraciclinas Carbapenens Monobactam Colistinas Glicilglicina Escherichia coli S R S R S S S R S S S Proteus spp. S S/IB S R R R S R S S/IB R S Legenda: (R) Resistência in vitro; (S) Sensibilidade in vitro; (S/IB) Indutor de beta-lactamases; (-) Não avaliado/não se aplica. Em relação à faixa etária, a prevalência para ambos os sexos foi de 2 a 6 anos de idade, sendo o sexo feminino 45 (57,0%) predominante em relação ao masculino 34 (43,0%). É evidente a importância da urocultura no auxílio diagnóstico de ITU em crianças, possibilitando tratamento adequado e eficaz. Faz-se um alerta quanto ao impacto negativo da emergência de microrganismos multirresistentes em população comunitária, uma preocupação mundial para a saúde humana. REFERÊNCIAS: 1. Raszka WV, Khan O. Pyelonephritis. Pediatr in Rev. 2005; 20:364-9. 2. Larcombe J. Urinary tract infection in children. BMJ. 1999; 319:1173-5. 3. Poletto KQ, Reis C. Suscetibilidade antimicrobiana de uropatógenos em pacientes ambulatoriais na Cidade de Goiânia, GO. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. 2005; 38(5):416-420. 4. Pitout JDD, Laupland KB. Extended-spectrum β lactamase producing Enterobacteriaceae: an emerging public health concern. Lancet Infect Dis. 2008; 8:159-166. 5. Pêgo CMS. Infecção urinária na criança: proposta de protocolo de abordagem diagnóstica e terapêutica [dissertação de mestrado]. Universidade da Beira Interior, ago-2008. Disponível em: http://www.fcsaude.ubi.pt/thesis/upload/118/834/catiapego_mestradopd.pdf.