TEORIA DA RELATIVIDADE PARA PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO¹ Curso de Extensão – Março 2006 Helio V. Fagundes Instituto de Física Teórica Universidade Estadual Paulista São Paulo – SP 01405-900 E-mail: [email protected] TEMAS DAS AULAS Aula 1. Preliminares. Bases da Teoria de Einstein Aula 2. O tempo e o espaço relativistas Aula 3. Dinâmica relativista Aula 4. Noções de Relatividade Geral SLIDES 3-13 14-26 27-41 42-55 ¹Disponível no site www.ift.unesp.br/users/helio Observações: 1) Os slides são esquemáticos. Detalhes serão discutidos em aula. 2) Temas marcados com asterisco (*) podem ser omitidos em uma primeira apresentação. Corrigido em 25/07/2008. FONTES UTILIZADAS Max Born, Einstein’s Theory of Relativity, Dover, New York, 1965. Texto no nível dos cursos de Física no ensino médio. Ramayana Gazzinelli, Teoria da Relatividade Especial, Editora Edgard Blücher, São Paulo, 2005. Nível de curso de graduação. R. B. Leighton, Principles of Modern Physics, McGraw-Hill, New York, 1959. Nível de curso de graduação. L. Landau e E. Lifshitz, Teoria do Campo, Editora Mir, Moscou, 1980. J. D. Jackson, Classical Electrodynamics, John Wiley, New York, 1963. A. Einstein, H. A. Lorentz, H. Weyl e H. Minkowski, The Principle of Relativity, Dover, New York, 1952. 2 1. Preliminares. Bases da Teoria de Einstein 1.1 A luz como fenômeno ondulatório eletromagnético. 1.2 A experiência de Michelson-Morley e seu resultado negativo. 1.3 Tentativas de explicação desse resultado. 1.4 Os postulados de Einstein e a transformação de Lorentz 1.C *Complemento matemático 1.1 A luz como fenômeno ondulatório eletromagnético No final do século XIX as leis fundamentais da Física eram, em resumo: a) as leis do movimento de Newton, b) a lei de gravitação de Newton, c) as leis do eletromagnetismo de Maxwell. As equações de Maxwell levaram à predição e descoberta das ondas eletromagnéticas, com velocidade de propagação no vácuo (isto é, na ausência de matéria) c 3,0 108 m/s. Esse valor é o mesmo da velocidade da luz¹, medida em 1856 por Weber e Kohlrausch. A inferência óbvia foi que a radiação luminosa é uma onda eletromagnética! Idéia de onda era associada a um meio de propagação: como no caso as ondas sonoras. Daí o postulado do éter, que estaria em repouso no espaço absoluto de Newton, e seria o meio de propagação das ondas de Maxwell-Hertz. 1 Atualmentedefine-se: c 299792453 m/s. 4 Na Física pré-relativista: Se a luz tem velocidade c no sistema inercial do éter, S, ela terá velocidade c’ = c – v no sistema S’ que se move com velocidade v com relação a S. Na figura abaixo, vale x x vt, y y, c c v. Se temos em S a onda E( x, t ) j E0 sin 2 x ct , (1.1.1) 2 E( x, t ) jE0 sin x vt ct 2 jE0 sin x ct . (1.1.2) y’ S’ em S’ ela será y S vt o O’ x’ x A onda será recebida em S’ com a freqüência f’ = c’/λ = = (c – v)/λ = (c/λ)(1 – v/c) = f (1 – v/c), que é o efeito Doppler – aqui citado para comparação futura com o caso relativista. 5 1.2 A experiência de Michelson-Morley e seu resultado negativo A = fonte luminosa B = espelho semitransparente D, V = espelhos F = tela fotossensível V L L = |BV| = |BD| A * B L D F Se o laboratório está em repouso no éter, as franjas de interferência são as esperadas. 6 Se lab tem velocidade absoluta v, na direção A B, os tempos de percurso diferentes são, t ( B D) L , cv t ( D B) t ( B V ) t (V B) L c v 2 2 L , cv . Diferença de tempo dos percursos ABDBF e ABVBF, com β = v/c: T t ( B D) t ( D B) t ( B V ) t (V B) L 1 1 2L 2 L 1 1 c 1 1 c 1 2 c 1 2 1 2 2 2L L 2 2 1 1 1 2 . c c Para luz de frequência f = c/λ, temos uma diferença de fase 2fT 2L 2 , que produziria uma mudança no padrão de interferência. Mas nenhuma mudança nesse padrão foi observada! 7 1.3 Algumas tentativas de explicação do resultado negativo de Michelson &Morley 1) A explicação mais simples é que (descartando a rotação diária) a Terra estaria em repouso absoluto na ocasião da experiência. Mas isso implica que o sistema solar tinha velocidade absoluta igual e oposta à velocidade orbital da Terra naquele momento. Então foi repetida a experiência seis meses depois, quando nossa velocidade com relação ao éter seria de 60 km/s – com o mesmo resultado negativo. 2) O éter seria arrastado junto com o movimento da Terra – assim como o ar dentro de um avião – e portanto a velocidade da luz seria sempre c. Isso é inconsistente com a chamada aberração anual das posições de estrelas no céu, que não aconteceria nesse caso. 8 3) FitzGerald e Lorentz postularam que todo corpo movendo-se com velocidade v em relação ao éter sofreria uma contração na proporção 1 2 na direção do movimento. Assim, no cálculo da seção 1.2, teríamos | BD | L 1 2 2 2 L 1 L T c 1 2 1 2 0, e o resultado negativo de M&M seria o esperado. Mas essa hipótese, além de ad hoc, levava a outras dificuldades para a consistência geral da Física. Vejam, por exemplo, M. Born, Einstein’s Theory of Relativity. Enquanto essa possibilidade era ainda objeto de estudos, surgiu em 1905 a teoria de A. Einstein, que modificou radicalmente os conceitos de espaço e tempo. 9 1.4 Os postulados de Einstein e a transformação de Lorentz A teoria da Relatividade Restrita, ou Especial, baseia-se nos dois postulados seguintes: P1. As leis da Física são as mesmas em dois sistemas de referência com velocidade relativa constante. P2. A velocidade da luz no vácuo não depende do movimento de sua fonte. Com a transformação x’ = x – vt, P1 é satisfeita pelas leis de Newton, mas não pelas leis de Maxwell: se a velocidade da luz é c em S, ela será c - u em S’. Portanto essa transformação de coordenadas precisa ser substituída. P2 implica que uma onda esférica de luz, emitida no tempo t = t’ = 0, no ponto O = O’ (vide figura na seção 1.1), no intervalo Δt atingirá a esfera em S 2 2 2 2 x y z ct ; e no intervalo Δt’ atingirá a esfera em S’ x2 (y) 2 (z) 2 ct 2 . 10 Esse resultado implica – mas a prova não é simples – a identidade ct 2 x 2 y 2 z 2 2 2 ct x (y ) 2 (z ) 2 (1.4.1) não apenas para a emissão e recepção da luz, mas para os incrementos entre dois eventos quaisquer (t t 2 t1, etc.) Para satisfazer (1.4.1), e também algumas outras condições físicas, (t, x, y, z) e (t’, x’, y’, z’) devem obedecer à chamada transformação de Lorentz entre os sistemas S e S’ (abreviadamente TLx), cuja velocidade relativa |v| deve ser menor que c: t vx / c 2 t 1 (v / c ) 2 x vt x 1 (v / c ) 2 y y z z. (1.4.2) 11 A transformação inversa de (1.4.2) é t vx / c 2 t 1 (v / c ) 2 x vt x 1 (v / c ) 2 y y z z . (1.4.3) Na aula 2 começaremos a ver as mudanças qualitativas no espaço e no tempo, decorrentes desta transformação. Exercício: Usando (TLx), verificar a identidade (1.4.1). 12 1.C *Complemento matemático. Binômio de Newton generalizado. Vamos com frequência usar aproximações que são casos particulares da fórmula do binômio de Newton generalizado: 1 1 (1 x) n 1 nx n(n 1) x 2 n(n 1)(n 2) x 3 ... 2 6 para| x | 1, e para qualquer númeroreal n. (1.C.1) O binômio de Newton estudado no ensino médio vale para n = inteiro positivo, e pode ser demonstrado pela análise combinatória. Neste caso o lado direito de (1.C.1) se reduz a um polinômio de grau n, como sabemos. A fórmula geral, para qualquer n, segue da chamada série de TaylorMacLaurin, estudada em cálculo diferencial: uma função f(x), bem comportada para x = 0, pode ser expressa pela série 1 1 f (0) x 2 f (0) x 3 ... (1.C.2) 2! 3! T omando f ( x) (1 x) n , obtemos f ( x) n(1 x) n1 , f ( x) n(n 1)(1 x) n2 , etc., donde f (0) 1, f (0) n, f (0) n(n 1), f (0) n(n 1)(n 2), etc., f ( x) f (0) f (0) x que substituí dos em (1.C.2) dão (1.C.1). 13 2. O tempo e o espaço relativistas 2.1 Relatividade da simultaneidade e da temporal dos eventos ordem 2.2 Dilatação do tempo 2.3 Tempo próprio e o decaimento do múon na atmosfera 2.4 A contração de Lorentz no contexto einsteiniano 2.5 Adição de velocidades e efeito Doppler 2.1 Relatividade da simultaneidade e da ordem temporal dos eventos A transformação de Lorentz para o tempo é t (t vx / c 2 ),onde e para intervalos Δt, Δx, 1/ 1 v 2 / c 2 , t t vx / c 2 . Para eventos simultâneos em S, com x 0 , t1 t 2 , t 0 , obtemos t ' 0 , t1 t 2 , portanto esses eventos não são simultâneos em S’. Suponhamos agora t t , ou seja, Δt > 0. 1 2 Então, dependendo do valor de vΔx, podemos ter Δt’ positivo ou negativo: 15 Caso (a). Se t vx / c 2 , então Δt’ > 0, ou seja, t1 t 2 , e a ordem dos eventos é mantida, primeiro evento 1, depois evento 2. Caso (b). Se t vx / c 2 , então Δt’ < 0, ou seja, t1 e a ordem dos eventos é trocada, primeiro evento 2, depois evento 1. t 2 , Em nossa experiência comum, esse efeito da relatividade da simultaneidade é imperceptível. Por exemplo, evento 1 poderia ser alguém começar a digitar um telefonema de São Paulo para Boa Vista (RR), a uma distância de aproximadamente 3000 km, e evento 2 seria alguém atender à chamada, digamos após Δt = 10 s. Então t t x / c 3 103 km 2 10 s 10 10 s. 5 3 10 km/s 16 Do último resultado (chamada para Roraima), tiramos duas conclusões: (i) como β << 1 na experiência comum, Δt – Δt’ é imperceptível – aqui (β/100) s. (ii) para termos Δt’ < 0, ou seja um sistema para o qual o telefone fosse atendido antes da chamada, seria necessário termos 10 < β/100, ou β > 1 000, o que é impossível segundo a teoria: nenhum sistema de referência pode ter velocidade |v| > c em relação a outro! Isto significa que a TR respeita a ordem natural das causas e efeitos¹. ¹Em geral, seja x1 x 2 e t1 t 2 . Se o evento ( x1 ,t1 ) é causa do evento( x 2 ,t2 ), então x ct , porque nenhumainformaçãose propagacom velocidade x v x vx , ou t 2 , que é o caso (a) c c c c do slide anterior.Portanto, em qualquer sistema inercial, t1 t 2 . maior que c. Então t 17 2.2 Dilatação do tempo Seja Δt’ = um pequeno intervalo de tempo medido em um relógio fixo em S’, e Δt e Δx as diferenças de tempo e posição desse relógio, medidas em S. Como Δx’ = 0, vale (cf. seção 1.4) ct 2 x 2 ct 2 (2.2.1) x 2 v2 2 ct ct 1 ct 1 2 , 2 c ct 2 2 e portanto t t 1 v / c . 2 (2.2.2) 18 De (2.2.2) segue que (com Δx 0) t t t 1 v / c 2 (2.2.3) portanto um intervalo de tempo em um ponto fixo x’ em S’ é medido como um intervalo maior em S. O relógio de S’ atrasa quando observado de S. Este efeito é chamado dilatação do tempo. Vale também: um intervalo de tempo em um ponto fixo x em S é medido como um intervalo maior em S’. Pois, em vez de (2.2.1), agora com o relógio fixo em S temos Δx = 0, temos ct 2 ct 2 x2 , que leva a t t 1 v / c (com Δx 0) 2 t t 1 v / c 2 t (2.2.4) Essa reciprocidade está de acordo com o Postulado 1 de Einstein. 19 2.3 Tempo próprio e o decaimento do múon na atmosfefa Se um corpo C tem velocidade u em relação ao laboratório, o tempo registrado por um relógio fixo em C é o chamado tempo próprio de C. Um intervalo de tempo próprio Δτ corresponde a um intervalo Δt no laboratório, dado por (2.2.3) com Δt’ = Δτ: t 1 u / c 2 2 . (2.3.1) Um exemplo importante desse efeito é o decaimento da partícula μ, produzida por raios cósmicos a uma altitude de 10 a 20 km. A vida média do μ em repouso é de apenas Δτ = 2,2 microssegundos, de modo que ele viajaria em média cerca de 600 metros antes decair pela reação e e (onde os símbolos à direita representam o elétron, o antineutrino do elétron, e o neutrino do múon, respectivamente). 20 No entanto uma quantidade desproporcional de neutrinos chegam ao solo, atravessando cerca de 15 km sem decair. Com velocidade próxima a c, isso exige um tempo t 15 km 50 106 s , 5 3,0 10 km/s ou seja, a vida média do múon precisa de um fator Δt/ Δτ = 50/2,2 = 23. Exercício. Usando (2.3.1), verificar que este fator de dilatação corresponde à velocidade v = 0,99903 c. 21 2.4 A contração de Lorentz no contexto einsteiniano O comprimento de uma barra movendo-se (ou em particular fixa) ao longo do eixo Ox de um sistema S é definido por L x1 x0 , onde x0 e x1 são as coordenadas dos extremos da barra num mesmo instante t 0 t1 . A figura abaixo representa as coordenadas x0 e x1 dos extremos da barra em S’, no momento t 0 t1. Da definição acima, e da TLx, S’ S Configuração no momentot 0 em S vt 0 x0 0 x1 L x1 L(S ) x1 x0 ( x1 vt 0 ) ( x0 vt 0 ) ( x1 x0 ) L(S ' ). x0 22 Portanto L(S’) = L(S)/γ , ou seja, (com t 0) L L L 1 2 (2.4.1) Vale a recíproca de (2.4.1): se a mesma barra está fixa em S’ seu comprimento em S é (com t 0) L L L 1 2 (2.4.2) Esta é a contração de Lorentz, que formalmente é a contração da seção 1.3, mas agora com outro significado: Lá era uma contração elástica, produzida pela velocidade v com relação ao éter, sem recíproca. Aqui a contração é uma propriedade do espaçotempo relativista, para dois sistemas inerciais quaisquer com velocidade relativa v. Exemplo. Voltando ao decaimento do múon da seção 2.3 podemos fazer o cálculo no sistema próprio da partícula. Ela espera (em média) 2,2 μs até decair, e nesse tempo a atmosfera, com espessura 15 km/23 = 650 m passa em alta velocidade, até que o μ colide com o solo, onde decai. Exercício. Que acontece com a dilatação do tempo e a contração de Lorentz se supomos c =∞? 23 2.5 Adição de velocidades e efeito Doppler Com referência à figura da seção 1.1, se um objeto tem velocidade u = Δx/Δt em S, vamos calcular sua velocidade u’ = Δx’/Δt’ em S’. Da TLx (seção 1.5), x x vt , t t vx / c 2 x v x x vt t , ou seja, 2 x v t t vx / c 1 t c 2 u uv . 2 1 uv / c (2.5.1) Sabemos que |v| < c. Pode-se mostrar em geral que, se |u| ≤ c, também |u’| ≤ c. Exercício. Usando (2.5.1), mostrar que, se u = c, também u’ = c, como esperado do segundo postulado. 24 *Efeito Doppler relativista: Como na seção 1.1, seja o campo elétrico de uma onda de luz 2 x ct . E ( x, t ) j E0 sin (2.5.2) No caso relativista usamos a inversa da TLx da seção 1.4, de modo que x ct x vt c (t vx / c 2 ) v x vt ct x c v v 1 x 1 ct c c (1 - ) x ct 1- x ct . 1 25 Portanto a fase em (2.5.2) se torna 2 1 2 ( x ct ) ( x ct ) , 1 onde 1 . 1 A nova freqüência será f c c 1 f , (1 ) /(1 ) 1 que é o efeito Doppler relativístico. *Exercício. Mostrar que, para |β| << 1, a freqüência f ’ acima é aproximadamente igual à freqüência f ’ do caso não-relativista (seção 1.1). 26 3. Dinâmica relativista 3.1 Energia e quantidade de movimento. 3.2 A equação relativista do movimento 3.3 Energia de massa e energia nuclear 3.4 Exemplo de colisão de partículas 3.5 3.C A eletrodinâmica no contexto relativista *A energia e momento como quadrivetor do espaçotempo 3.1 Energia e quantidade de movimento Usarei aqui a palavra momento como sinônimo de quantidade de movimento. Na mecânica newtoniana, o momento de uma partícula de massa m e velocidade u (estou reservando a letra v para a velocidade relativa de S e S’) é p = mu (3.1.1) Numa colisão elástica de duas partículas, o momento total se conserva: Pi p1i p 2 i p1 f p 2 f P f . (3.1.2) Esta expressão vale em qualquer sistema inercial newtoninano, isto é, se r r vt, então Pi Pf ; mas não sob uma TL (cf. Gazzinelli, cap. 4). Para que (3.1.2) continue valendo na teoria einsteiniana, temos que mudar a definição (3.1.1). 28 Há vários modos de deduzir (ou inferir) uma nova definição, mas nenhuma delas é bastante simples. No complemento 3.C é dada uma motivação para as novas definições. Aqui vou apenas mencionar o Princípio de Correspondência (PC): Uma nova teoria deve corresponder à teoria substituída no limite de validade desta – em nosso caso para |u/c| << 1. A nova definição de momento – que satisfaz o PC - é p mu 1 u / c 2 2 . (3.1.3) Analogamente, a energia da partícula é definida por E mc 2 1 u / c 2 2 . (3.1.4) De (3.1.4) e (3.1.3),obtemos uma importanterelação: m 2 c 4 m 2u 2 c 2 m 2 c 4 1 u 2 / c 2 E p c , 2 2 2 2 1 u / c 1 u / c ou seja, 2 2 2 E 2 p 2c 2 m2c 4 . (3.1.5) 29 Parau 0 , segue de (3.1.4)a ( popularíssim a!) expressão E0 m c2 , que chamamose ne rgiade massae que será estudada na seção 3.3. A diferença T E m c2 (3.1.6) é a e n e rgiacin é ticada partícu la, pois, para (u / c) 2 1, u 2 1 / 2 u2 2 2 T m c 1- 2 1 m c 1 2 c 2c de acordo com o P C. m u2 1 TNR , 2 30 A TLx para E e p é semelhante à TLx para (t, x, y, z) – cf. seção 3.C: E ( E vp x ) 2 p x p x vE / c p y p y p p z z (3.1.7) Com a definição (3.1.3) e esta transformação, a lei de conservação (3.1.2) vale em qualquer sistema inercial. Exercício. Escrever a inversa da transformação (3.1.7). 31 3.2 A equação relativista do movimento A lei de força de Einstein tem a mesma forma da segunda lei de Newton, p F , t (3.2.1) mas onde o momento tem a nova expressão p mu 1 u / c 2 2 . (3.1.3) *Exemplo. Trabalhando em uma dimensão espacial, seja F uma força constante, e Δ = d (diferencial). dp F p Ft , com p(0) 0 ; se F / m, vem dt u2 2 2 u 2 t u 1 2 t , 2 2 1 (u / c ) c 2t 2 u 1 2 c 2 t dx 2 t 2 u ; 2 2 2 dt 1 t / c 32 com x(0) 0, vem(mudando a variável t para s t / c na segunda integral), x(t ) t t 0 1 t / c 2 2 2 dt s cs 0 1 s 2 c ds c 2 2t 2 1 s 1 1 2 1 , c que é a equação horáriapara a coordenadax. Expandindo agora a raiz quadrada, obt emos c2 2 c 2 2t 2 4t 4 t 2 2 t 2 1 2 x(t ) 1 2 4 1 2c 8c 2 4c t2 para | u | |αt| c, de acordo com o P C. 2 33 3.3 Energia de massa e energia nuclear Se fazemos u = 0 na eq. (3.1.4), obtemos E E0 mc2 , (3.3.1) que é o conteúdo de energia de uma partícula livre de massa m em repouso, ou seja, é a energia de massa ou energia própria da partícula. A energia de massa é a fonte de luz e força gerada nas usinas nucleares, pelo processo de fissão: um núcleo pesado se divide em dois núcleos mais leves, cujas massas somam menos que a do núcleo mãe: N 0 N1 N 2 . Com N 0 em repouso,o balanço de energia é m0 c 2 (m1c 2 T1 ) (m2 c 2 T2 ) , (m c2 ) (m0 m1 m2 )c 2 T1 T2 , (3.3.2) e essa energia cinética é convertida em calor. 34 Como exemplo, temos a fissão (etapa de um processo maior) 236 92 U141 55 Cs 95 37 Rb , com massas m0 3,91961025 kg, m1 2,340010 25 kg e m2 1,576310 25 kg. (Est as são m assas atôm icas, mas em (3.2.3)as massas eletrônicas se compensam, e a energia de ligação dos elétrons é muito pequena.) 2 11 Exercício. Verificar que neste caso (mc ) 3,0 10 J. O result ado dest e exercício parece pequeno, mas 1 k g de urânio 236 contém2,6 1024 núcleos, que no processo acima gerariam 21 106 kW h 105 210 kW h - ou seja, aproximadament eo consumomensalde 100 000 re si dê n cisa! 35 3.4 Exemplo de colisão de partículas Seja a colisão inelástica de dois prótons, com produção de um par próton-antipróton: p p p p p p. Supondo que os prótons iniciais têm velocidades u e –u, calcular o mínimo valor de u = |u| para que o processo acima aconteça. Solução. A energia final mínimacorresponde a termosos produtos com energia cinéticanula, portantoE f 4m p c 2 , já que o antipróton tem a mesma massa do próton. A energia inicial é, segundo (3.1.4), Ei 2 mpc2 1 u / c 2 2 . Como E f Ei , obtemos 2 1 1 u2 / c2 u2 4 1 2 c 4u 2 u 3 1 3 2 , c 2 c 36 a velocidade mínimanecessáriaé um i n 0 ,8 6 6c . Observações : 1) Este exemplotambémilustra a transformação de energia cinéticaem matéria: inicialment e temosdois prótons com energia cinética T m p c 2 cada um, e finalmentetemos o par de partículascriadas, com massa m p cada uma. 2) Como comparação, notamosque, num cálculo newtoniano, cada partículainicial,com a mesma velocidade acima, teria a energia cinética TNR (1 / 2)m p (c 3 / 2) 2 (3 / 8)m p c 2 , menosda metadedo valorrelativístico. 37 3.5 A Eletrodinâmica no contexto relativista As leis básicas da Eletrodinâmica permanecem inalteradas: Leis de Gauss D d Q , n S B d 0 . n S Lei de Faraday E t dl C Lei de Ampère d B . dt H tdl I C d D . dt Força de Lorentz F qE u B . A transformação dos campos sob uma TL certamente não é adequada para o ensino médio. Os interessados podem consultar Gazzinelli, seção 6.7. 38 3.C *A energia e momento como quadrivetor do espaçotempo Na seção 1.C vimos uma noção do espaçotempo, com as coordenadas w (= ct), x, y, z, com a TLx: w ( w x) x ( x w) y y z z (3.C.1) DefinimosQ ( w, x, y, z ) como quadrivetor de posição do espaçotempo. Um quadrivetor do ET é definido como um conjunto de quatro grandezas V (V0 ,V x , V y ,V z ) que, numa T L, se transforma como Q . Isto é, um 4 - vetor qualquer é modelado no 4 - vetor de posição (compararcom vetores do espaço comum). 39 Vamos mostrar que P ( E / c, p x , p y , p z ) é um 4-vetor. Primeiro, usando τ t 1 - u 2 / c 2 t 1 - u 2 / c 2 , notamos que E/c mc mc t w m , τ τ 1- u 2 / c2 mu x x t x px m m , 2 2 t τ τ 1- u / c y z py m , pz m , τ τ e, analogamente, E / c m w , etc. τ 40 Então, w x w m ( E / c px ) , τ x w x m m ( px E / c) , τ y y m m py , τ τ z z m m pz . τ τ E / c m px py pz Assim provamos (3.1.7), e concluímos que P é um 4-vetor. Este fato é uma motivação para as definições (3.1.3) e (3.1.4), pois a TR procura substituir, nas equações da Física, os 3-vetores do espaço euclidiano comum por 4-vetores do espaçotempo. 41 4. Noções de Relatividade Geral 4.1 Espaçotempo de Minkowski e sua generalização 4.2 A Relatividade Geral como teoria da gravitação 4.3 Deflexão da luz de uma estrela pelo Sol 4.4 Redshift gravitacional 4.5 Aplicações à Astrofísica e Cosmologia 42 4.1 Espaçotempo de Minkowski e sua generalização Na seção 1.4 falamos de uma quantidade invariante sob TL: definindo (s) 2 ct x y z 2 2 2 2 (4.1.1) e 2 2 (s ) 2 ct x (y ) 2 (z ) 2 , a equação (1.4.1) expressa a invariância (s) 2 (s ) 2 para sistemas inerciaisquaisquer. Aqui continuaremos a trabalhar em uma direção, Ox, portanto nos limitamos à expressão (s) 2 (ct ) 2 (x) 2 . (4.1.2) 43 Agora uma comparação com um plano comum, com geometria euclidiana. Se temos um sistema de coordenadas ortogonais (x, y), e fazemos uma rotação para um novo sistema (x’, y’), a quantidade (s) 2 (x) 2 (y) 2 , chamada a métrica do plano, é invariante, isto é, (s) 2 (s ) 2 (x) 2 (y ) 2 . Analogamente, H. Minkowski descobriu em 1908 que ct e x podem ser consideradas coordenadas de um novo tipo de espaço, o espaçotempo (ET). A métrica do ET é dada pela equação (4.1.1), ou (4.1.2) em nosso estudo limitado a duas dimensões. A importância disso é que a TR pode ser vista como uma teoria geométrica, e tratada pelos métodos geométricos modernos. Na TRG a métrica toma formas muito mais gerais - por exemplo, em duas dimensões, (s) 2 E (ct) 2 G(x) 2 , (4.1.3) onde E e G são funções das coordenadas, sendo E (ct, x) 0 e G(ct, x) 0. 44 4.2 *A Relatividade Geral como teoria da gravitação A teoria da RG foi concebida como uma teoria da gravitação, por conta do princípio de equivalência: PE. O movimento de um corpo de massa m, acelerado pela força gravitacional F = mg em um sistema inercial Σ, é equivalente a seu movimento livre em um sistema Σ’ que tem aceleração -g com relação a Σ. Y Y’ Σ Σ’ y—----• y’—----• força -mg aceleração g O X O’ X’ Movimento vertical, com g g j; em : y y 0 v y 0 t gt 2 / 2, em : y y 0 v y 0 t gt 2 / 2 45 Esse resultado não depende da massa m, pois a segunda lei de Newton dá ma = -mg, logo a = -g, que é a velha lei descoberta por Galilei, sobre a queda livre de corpos diferentes. Segue que a gravitação pode ser compreendida como propriedade do espaçotempo, se o princípio de relatividade (P1 na seção 1.4) for estendido a sistemas arbitrários, não-inerciais. Daí o nome RG. Por exemplo, no problema do slide anterior, com força da gravidade constante teríamos em três dimensões 2 gy (s) 2 1 2 (ct) 2 (x) 2 (y ) 2 , c (4.2.1) ou, mais geralment e, para pot enciaisfracos ( E p m) c 2 , 2 (s ) 2 1 2 (ct ) 2 (x) 2 (y ) 2 . c (4.2.2) 46 4.3 Deflexão da luz de uma estrela pelo Sol Esta foi uma das primeiras predições da RG. Aqui apenas uma idéia qualitativa, baseada em uma analogia. Estrela Posição real y posição aparente Com relação à figura ao lado, onde um raio de luz procede de uma estrela, e é desviado de sua direção pela atração do Sol, temos δ x 2GM (s) 1 rc 2 2 Sol Terra (x)2 (y ) 2 2 2 , c (t ) 2GM 1 rc 2 (4.3.1) onde r x 2 y 2 , G é a constante de Newton e M é a massa do Sol. 47 Vimos na seção 1.4 que, para a luz, Δs = 0. Em nosso exemplo aqui, |Δx| é muito menor que |Δy|, e pode ser Desprezado. Portanto, 2GM y 2GM 2 y 1 2 ct v 1 2 c rc t rc onde vemos que, na vizinhança do Sol , a velocidade da luz é menor que c 2 2 1 c 2GM 2GM n 1 1 2 v rc rc 2 1, (4.3.2) Portanto o campo gravitacional se comporta como um meio com índice de refração n variável. Então temos nossa analogia: ao nascer do Sol, seus raios fazem uma curva produzida pela refração variável na atmosfera, provocando um desvio de cerca de 30 minutos de arco. Do mesmo modo a eq. (4.3.2) leva a um desvio do raio estelar, com o valor δ = 1,75 segundos de arco. 48 Uma estrela com posição celeste próxima da do Sol só pode ser vista durante um eclipse total deste. Aí o Brasil entra na história da RG. Em 29/maio/1919 aconteceu um eclipse total, com boa visibilidade no Ceará e na ilha de Príncipe, na África. O astrônomo Arthur Eddington, da Universidade de Cambridge, organizou duas expedições, uma para Sobral (CE), a outra para Príncipe, para medir δ. Os resultados confirmaram a predição da teoria: em Sobral: δ = 1”,98 ± 0”,16 , em Príncipe: δ = 1”,61 ± 0”,40 , e causaram uma sensação, que um biógrafo chamou ‘a canonização de Albert Einstein’. Essa medição foi muito repetida, com resultados melhores. Por exemplo, em 1975, usando ondas de rádio do quasar 3C279, obteve-se δ = 1”,76 ± 0”,02. 49 4.4 Redshift gravitacional A métrica produzida por uma estrela de massa M e raio R é, em duas dimensões, 1 2GM 2 2GM 2 (s) 2 1 c ( t ) (r ) 2 , 1 2 2 rc rc (4.4.1) onde r é a distância a seu centro. Se r é muito grande, (4.4.1) se reduz a uma métrica de Minkowski. Se uma onda de luz propaga-se nessa região com período “natural” (pela falta da gravidade) Δt = T, a uma distância r mais próxima, o período da onda é dado pelo tempo próprio de um relógio fixo em r, correspondente a Δt = T e Δr = 0. Então a onda emitida na superfície de estrela, com r = R, tem período s 2GM GM T 1 1 T, (4.4.2) 2 2 c Rc Rc e essa radiação é recebida na T erra, à distância r , com em período rec s 2GM GM T 1 1 2 T . 2 c rc rc (4.4.3) 50 Assim temos alargamento do comprimento de onda, GM GM 1 2 T 1 2 T rec em rec em rc Rc em em GM 1 2 T Rc GM GM GM 1 1 GM 2 2 , pois r R . 2 2 rc Rc c R r Rc Este efeito é chamado redshift gravitacional, porque desvia a luz para o lado do vermelho no espectro luminoso. Na superfície do Sol, esse desvio é 6,67 1011 m 3 kg-1s -2 1,99 1030 kg 6,96 108 m 3,00 108 m s -1 2 2,12 106 . A observação desse fenômeno não é simples, por causa da turbulência na atmosfera solar. O redshift gravitacional solar da linha D1 do sódio, com λ = 5895,924 Å no ar em repouso (CRC Hb. Ch. Ph. 1995), é apenas Δλ = 0,013 Å. Apesar das dificuldades, este resultado foi confirmado por J. W. Brault, em sua tese de doutoramento (1962). Existem muitos outros experimentos verificando esse efeito. 51 4.5 Aplicações à Astrofísica e Cosmologia Nossos exemplos de aplicação da RG até agora foram de efeitos gravitacionais fracos. Para terminar, vou mencionar dois efeitos fortes: 1) Horizonte de um buraco negro (BN). Na seção 4.3 foi mencionada a métrica gerada pelo Sol: 2GM 2 2 2 (s) 2 1 c ( t ) ( l ) , 2 rc (4.5.1) que também vale para estrelas sem rotação em torno de seu próprio eixo, com r ≥ (raio da estrela). Na superfície do Sol o desvio da métrica de Minkowski é 2GM 4 10 6 1. 2 rc 52 Chamando horizonte a esfera r rh 2GM c 2 , que acontecese r rh ? O intervalo de tempopróprio é dado por 1 2GM rc 2 t 1 rh r t , 2 2 logo, para r rh , t 1 rh r 2 . Isto significa que, se um objeto aproxima-se do BN, o intervalo de tempo Δt observado na Terra, correspondente a Δτ, tende ao infinito: para nós o objeto nunca cruza o horizonte. Por outro lado, um astronauta (suicida) montado no objeto mede o tempo próprio normalmente, e após cruzar o horizonte atinge a destruição total em r = 0 em uma fração de segundo. . Outra propriedade, mais conhecida, é que nenhum objeto (clássico) pode escapar do BN – daí o seu nome, pois a luz de astros atrás do BN não pode atravessá-lo para chegar a nós. 53 2) Redshift cosmológico. O modelo do Universo mais acreditado atualmente tem a métrica (s ) 2 c 2 (t ) 2 a 2 (t )( ) 2 , (4.5.2) onde a (t ) é uma função transcendente que, para o presente (t t 0 14 109 anos) e para épocas remotas tem os valores para t t 0 1 a (t ) 2/3 para t t 0 . 0,856(t t 0 ) A função a(t) mede a expansão do Universo, e vale para comprimentos de onda. Assim, uma onda emitida na época te com comprimento λe é recebida por nós com comprimento dado por λ λr a(t 0 ) λr e . λe a(t e ) a(t e ) 54 P or exemplo, se na época t 0,2t 0 uma galáxia emitiu a radiação amarela do sódio, com e 5890Å, essa onda seria detectada atualmentecom r 5890Å 20100Å 2,01μm , 2/3 0,856 0,2 portantocomo radiação infravermelha. A Astrofísica e a Cosmologia modernas lidam com muitos efeitos fortes da gravitação einsteiniana. 55