A Negação da Falta
Cinco seminários para analistas kleinianos
A Negação da Falta
Cinco seminários para
analistas kleinianos
SUMÁRIO
• APRESENTAÇÃO
• CAPÍTULO I: O PERCURSO DE
LACAN
· Da biografia à teoria
· Da psiquiatria à psicanálise
• CAPÍTULO II: O INCONSCIENTE
ESTRUTURADO
COMO LINGUAGEM
· As formações do inconsciente
· O retorno a Freud
• CAPÍTULO III: O INCONSCIENTE
COMO LEI
· Édipo estrutural
· A função paterna
• CAPÍTULO IV: A CLÍNICA
PSICANALÍTICA
· As estruturas clínicas
· A posição do analista
• CAPÍTULO V: A DIREÇÃO DA CURA
· A situação analítica
· O fim da análise
• NOTA BIBLIOGRÁFICA
Resumo
Transmitir um ensino como o de Jacques Lacan, denso em suas articulações
teóricas e complexo em sua novidade radical, não é tarefa fácil. Muitos,
nessa tentativa, sucumbem à facilitação banalizante, diluindo a teia
intrincada dos conceitos lacanianos em um desses manuais “adaptados
para a juventude”. Outros resistem a isso, mas sua exposição consiste em
geral na mera citação textual de Lacan, o que torna preferível a leitura do
original.
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Cinco seminários para analistas kleinianos
Não é o caso de Márcio Peter de S. Leite. Convidado a apresentar uma série
de cinco seminários sobre o ensino de Lacan para um grupo de
psicanalistas influenciados basicamente pela escola inglesa, kleinianos
portanto, ele não hesita em produzir um discurso de clareza peculiar, fluido
em sua articulação, cheio de exemplos e referências que prendem a atenção
do ouvinte/leitor. Tal discurso, contudo, não prescinde do rigor e da precisão
exigidos pelo tema. Aqui, a complexidade dos conceitos não é evitada, mas,
ao contrário, exposta e comentada com nitidez.
Esta é a marca distintiva desta obra, de interesse não só para os
psicanalistas mas para todos os que tenham na psicanálise uma referência
e/ou uma causa (de desejo).
Apresentação
Inicialmente intitulado “Introdução ao ensino de Lacan”, os cinco seminários
que agora são publicados fazem parte de uma experiência do autor junto a
analistas de orientação kleiniana. Não se trata portanto de aqui fazer uma
introdução, posto que introductione – admissão em um lugar – foi realizada
pelos referidos colegas. Tampouco um prefácio se revelaria adequado ao
que lhe foi atribuído – de praefatio, o que diz no princípio –, já que aí ele
habitou.
Apresentar os seminários de Márcio Peter corresponde a reconhecer que
sua produção inscreve-se no campo onde nos autorizamos a freqüentar
como psicanalistas. Quanto mais sua palavra avança, ressignifica-se, em
retorno, a obra de Freud e a marca de Lacan. É apenas no sentido desse
reencontro faltoso que algumas palavras podem obter espaço.
Encontramos no texto uma passagem que em geral nos é apresentada
como um problema de tradução. O autor nos lembra que mais do que
admitir Id, Ego e Superego como latinizações impróprias ao original
alemão das Es, das Ich e Uberich, a questão deve ser deslocada para
Outro lugar. Pelo rigor da leitura de Lacan, Isso, Eu e Supereu adquirem
características que ultrapassam as discussões de fidelidade a termos. Tratase de admitir que, como conceitos, revelam muito mais um impasse do que
uma solução, e dessa forma somos convocados a manejar seus efeitos, e
não apenas limitar seu campo a uma adequação terminológica.
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Sabe-se que Freud utilizou das Es – o Isso – na reformulação que deu
origem à segunda tópica. A partir daí o recalque deixa de ter o lugar que
possuía na primeira tópica, já que inconsciente e recalcado não mais
coincidem. Faz operar dessa maneira uma mudança na própria técnica
analítica, uma vez que “o grande reservatório da energia pulsional”, Eros e
Tanatos, não permite mais a transformação do inconsciente em consciente.
Uma vez que o Isso, para Freud, não abrange a totalidade do psiquismo
inconsciente, ainda assim o Eu dele retira sua energia. Sendo o Eu essa
“parte do Isso que foi modificada sob a influência direta do mundo exterior",
Freud vê nele operar, particularmente através do fetichismo, duas atitudes
psíquicas distintas baseadas na Spaltung do Eu, uma divisão na vida
psíquica. Trata-se da entrada em cena da Verleugnung – recusa – que
procura apagar a presença da castração. Mesmo assim, diria Mannoni, a
diferença não deixa de se marcar pela própria exigência do fetiche.
A não-coincidência da vida psíquica, o fato de o Eu não ser senhor na
própria casa, é uma das heranças que Freud nos lega, como acabamos de
constatar. Quando Lacan insiste na diferenciação entre o Je e o Moi,
respectivamente o sujeito da subjetividade desejante e o Eu como função
imaginária, recoloca magistralmente essa questão. O Eu que deve advir na
consagrada fórmula freudiana wo Es war soll Ich werden é o je na
condição de sujeito inconsistente, representante da divisão psíquica. Lacan
requalifica esse isso que fala em mim mesmo (moi même) como corte,
fissura, cisão. Sua contribuição do Estádio do Espelho permite apresentar o
Eu como sendo desde sempre remetido a um Outro. A alienação do Eu ao
Outro é mantida no nível da imagem e do desconhecimento, o que fará com
que os primeiros objetos de desejo impliquem a rivalidade, laço essencial de
tensionamento que aglutina a função imaginária na vertente da
agressividade. O avanço dessa elaboração irá conduzir Lacan a atribuir ao
Eu o estatuto de objeto. No que para além dessa autoconsciência que a
identificação à imagem do Outro promove, trata-se de considerar a
fascinação que no olhar se inclui para além da captura narcisista da imagem,
em direção ao objeto real, não especularizável, causa de desejo. Da mesma
forma, a alienação assumirá o lugar que lhe é próprio na cadeia significante,
fazendo com que a divisão apareça na separação, para logo depois
desaparecer.
A contribuição de Lacan quanto ao Eu e ao Sujeito é fundamental, tanto no
que restitui o sentido da obra de Freud quanto no que coloca em questão o
narcisismo e a análise do Eu como guias da prática analítica. Isto porque se
a reparação do Eu não é possível de ser operada, a noção de objeto adquire
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um valor totalmente distinto ao que comumente se admite. Vale dizer que é a
ética da psicanálise que entra em cena, de maneira a interrogar se o limite
da prática analítica não excede aos ideais e ao narcisismo. E se a função do
analista na cura não implicaria tanto um questionamento do ideal histérico
da reparação quanto um lugar de dessubjetivação onde o sujeito pudesse
ser remetido a um Outro, mais do que tu.
No que se refere ao Unbewusste de Freud, o inconsciente, Lacan o
recuperou segundo uma estruturação por elementos formais, pelas duas leis
constitutivas da metáfora e metonímia. Permitiu-se assim, como nos mostra
o autor do seminário, a vigência de uma determinação simbólica frente à
tradição pós-freudiana de substancialização imagética. A tópica do
inconsciente se define pelo algoritmo S/s, onde o significante assume lugar
de destaque, e a barra, barrando a significação pelo recalque das
representações, o qualifica eticamente como faltoso, real, sempre à deriva
de simbolização e, portanto, de desejo e sentido.
Além desses comentários que o seminário promoveu, gostaria ainda de
ressaltar dois aspectos. O primeiro refere-se ao estilo do autor. Ele se inclui
numa direção que poderíamos denominar, rigorosamente, envolvida com
Lacan. E aqui não se trata de relevar o conjunto dos enunciados. Mais do
que isso, pauta-se pela orientação desses elementos mínimos de escrita
denominados matemas. Permite rigorizar de forma reduzida ao que irá ser
transmitido. Exclui assim todo um pseudo-estilo lacaniano, comum em
nosso meio, onde se qualifica o máximo de confusão e hermetismo.
Afastado desse modismo nefasto, Márcio Peter nos permite entrar em
contato com um discurso que pauta suas referências na experiência da
prática clínica. Ponto de confluência daqueles que se intitulam psicanalistas,
a prática clínica empresta seu vigor até mesmo para questionar algumas
afirmações teóricas. É evidente que sem elas nada disso seria possível, mas
o autor nos demonstra que a fala de um analista numa situação de
seminário, em que sua enunciação é convocada, não pode se confundir com
os regulamentos do discurso universitário, em que o Saber, ocupando o
lugar de agente, anula os efeitos do sujeito que aí subsiste.
Por último, vale lembrar a própria situação em que o seminário se
desenrolou. Um momento de encontro, troca, e, por que não, de
transmissão com colegas kleinianos. Se por um lado é possível afirmar que a
transmissão da psicanálise é impossível, uma vez que ela só se concebe
como “ruptura na cura”, por outro lado o sintoma de que se sofre ensina
“porque ele é posto na obra que se quer ler e a desordena”. Se a psicanálise
pode se tornar o sintoma do psicanalista – na qualidade de pedaço de real
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que se tenta dizer –, espera-se que a verdade parcial desse desejo possa ter
remetido cada um dos ouvintes ao desejo presente em sua questão. Dessa
forma, o que era antes um curso de introdução ganha novo valor pelo
sentido que esse desejo terá despertado, e que agora nos convoca pela
escrita.(Mauro Mendes Dias)
SUMÁRIO - A NEGAÇÃO DA FALTA
Cinco seminários sobre Lacan para analistas kleinianos
(Márcio Peter de Souza Leite)
INTRODUÇÃO – O inconsciente avança?
•
•
•
•
O chiste e o inconsciente que muda
A angústia e a modernidade
Declínio da psicanálise
Saber e pós-modernidade
CAPÍTULO I – O percurso de Lacan
• Da biografia à teoria
· Apresentação
· Biografia versus teoria
· A transmissão da psicanálise
· A comunicação oral
· O método
· Da Lingüística à Matemática
· A cadeia de significantes
· Didática do Real, do Simbólico e do Imaginário
• Da psiquiatria à psicanálise
· Psicanálise lacaniana versus psicanálise kleiniana
· Lacan psiquiatra
· O crime paranóico
· O Estádio do Espelho
· a estruturação do ego
· O corpo despedaçado
· Antecipação do psicológico sobre o biológico
· A estrutura do ser
· Narcisismo
· Identificação
· Ciúmes primordiais
• Conclusões
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A Negação da Falta
Cinco seminários para analistas kleinianos
CAPÍTULO II – O inconsciente estruturado
como linguagem
• As formações do inconsciente
· Registro do Simbólico
· Um enigma, um jogo
• O retorno a Freud
· O Sujeito e o Ego
· O sentido de Freud
· Diga com suas palavras
· Significante/Significado
· O chiste, o cômico e o humor
• Conclusões
CAPÍTULO III – O inconsciente como Lei
• Édipo estrutural
· A ética e a Psicanálise
· Outro Lacan
· O outro sentido
· O discurso
· Édipo estrutural
· Mito, um sonho
• A função paterna
· Primeiro tempo do édipo
· O Pai
· O Pai Simbólico
· O Pai Imaginário
· Estrutura de parentesco
· O Nome-do-Pai
· Segundo tempo do édipo
· Metáfora paterna
• Conclusões
· Superego
· Gozo
CAPÍTULO IV – A clínica psicanalítica
• As estruturas clínicas
· A verdade e o tempo
· Títulos
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A Negação da Falta
Cinco seminários para analistas kleinianos
· Père-version
· Saber e verdade
· Haveria por dizer
· “No princípio era verbo”
· Sinais, sintomas e síndromes
· Neurose
· Perversão
· Psicopatia
· Rupturas radicais
· Técnica e teoria
· Angústia de castração
· Clínica freudiana
• A posição do analista
· A falta no Outro
· O estilo histérico e o estilo obsessivo
· Fobia
· Diagnóstico
· A estrutura psicótica
· $—A
· “Não é louco quem quer”
· Transferência
· Feitichismo
• Conclusões
CAPÍTULO V – A direção da cura
• A situação analítica
· Estilo de transmissão
· Os Quatro Discursos
· A cadeia significante
· Verdade e castração
· Clínica da transferência
· Jogo de xadrez
· A direção da cura
· A estrutura dos discursos
· Condições de cura
· O ato analítico
· O preço
· A tática e estratégia
· A liberdade do analista
• O fim da análise
· O tempo de tratamento
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Cinco seminários para analistas kleinianos
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Duração da sessão
Freqüência
Tempo de sessão
Tempo metonímico
Pressa
Pulsão temporal
Entrada em análise
Entrevistas preliminares e psicose
Transferência e início de análise
Diagnóstico
Fim de análise
As vias
• Nota bibliográfica
O autor
Márcio Peter de Souza Leite é médico, psiquiatra e psicanalista, membro da
da Sociedade Psicanalítica de São Paulo. É autor de O Deus odioso, o
diabo amoroso - Psicanálise e a representação do mal (Escuta, 1991).
Também é co-autor dos livros Lacan através dos espelhos e O que é
Psicanálise, segunda visão, ambos da editora Brasiliense
Editora Relume-Dumará • RJ • 1992
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