DIALÉTICA NEGATIVA
Theodor W. Adorno
DIALÉTICA NEGATIVA
Tradução
MARCO ANTONIO CASANOVA
Professor do Depto. de Filosofia, Uerj
Revisão técnica
EDUARDO SOARES NEVES SILVA
Professor adjunto do Depto. de Filosofia, UFMG
Rio de Janeiro
Título original:
Negative Dialektik
(Da série Gesammelte Schriften, organizada por Rolf Tiedemann em
colaboração com Gretel Adorno, Susan Buck-Morss e Klaus Schultz)
Tradução autorizada da segunda edição alemã,
publicada em  por Suhrkamp Verlag,
de Frankfurt am Main, Alemanha
Copyright © , Suhrkamp Verlag, Frankfurt am Main
Copyright da edição brasileira © :
Jorge Zahar Editor Ltda.
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A tradução desta obra contou com subsídio do Goethe-Institut,
apoiado pelo Ministério das Relações Exteriores.
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Capa: Dupla Design
Ilustração da capa: © Tetra Imagens/Corbis/LatinStock
CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
Ad
Adorno, Theodor W., -
Dialética negativa / Theodor W. Adorno; tradução Marco Antonio Casanova;
revisão técnica Eduardo Soares Neves Silva. — Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,
.
Tradução de: Negative dialektik
Inclui índice
ISBN ----
. Filosofia alemã. I. Título.
-
CDD: 
CDU: ()
SUMÁRIO
Prefácio
7
Introdução
PARTE I
11
RELAÇÃO COM A ONTOLOGIA
A necessidade ontológica
2. Ser e existência 90
1.
PARTE II
PARTE III
57
59
DIALÉTICA NEGATIVA: CONCEITO E CATEGORIAS
MODELOS
177
Liberdade 179
Espírito do mundo e história natural
3. Meditações sobre a metafísica 299
1.
2.
Nota da edição alemã
Notas
339
341
Índice de assuntos
347
Sobre o tradutor e o revisor técnico
351
250
117
Prefácio
A expressão “dialética negativa” subverte a tradição. Já em Platão, “dialética” procura fazer com que algo positivo se estabeleça por meio do pensamento da negação; mais tarde, a figura de uma negação da negação denominou exatamente
isso. O presente livro gostaria de libertar a dialética de tal natureza afirmativa,
sem perder nada em determinação. Uma de suas intenções é o desdobramento
de seu título paradoxal.
O autor só desenvolve aquilo que, de acordo com a concepção dominante de
filosofia, seria o fundamento depois de ter exposto longa e minuciosamente muito
do que é assumido por essa concepção como erigido sobre um fundamento. Isso
implica uma crítica tanto ao conceito de fundamento quanto ao primado do pensamento do conteúdo. Seu movimento só alcança autoconsciência em sua execução. Ele necessita daquele elemento que seria secundário, segundo as sempre
vigentes regras de jogo do espírito.
Mas o que se oferece aqui não é apenas uma metodologia dos trabalhos
materiais do autor; de acordo com a teoria da dialética negativa, não existe
nenhuma continuidade entre aqueles trabalhos e este. Não obstante, trataremos dessa descontinuidade e das indicações para o pensamento que podem
ser deduzidas dela. O procedimento não é fundamentado, mas justificado. Até
onde consegue, o autor coloca as cartas na mesa. O jogo, porém, é certamente
outra coisa.
Ao ler, em , a parte da Metacrítica da teoria do conhecimento que o autor
tinha então concluído — o último capítulo naquela publicação* —, Benjamin
comentou: é preciso atravessar o deserto de gelo da abstração para alcançar
* Adorno se refere nesse caso à obra Zur Metakritik der Erkenntnistheorie. Studien uber Husserl
und die phänomenologischen Antinomien (Sobre a metacrítica da teoria do conhecimento. Estudos
sobre Husserl e as antinomias fenomenológicas), que foi publicada pela primeira vez em  pela
editora Suhrkamp. (N.T.)
7
8
DIALÉTICA NEGATIVA
definitivamente o filosofar concreto. A dialética negativa traça agora um tal
caminho retrospectivamente. Na filosofia contemporânea, a concretude foi,
em geral, apenas insinuada. Em contrapartida, o texto amplamente abstrato
pretende servir à sua autenticidade não menos que ao esclarecimento do
modo concreto de procedimento do autor. Nos debates estéticos mais recentes, as pessoas falam de antidrama e de anti-herói; analogamente, a dialética
negativa, que se mantém distante de todos os temas estéticos, poderia ser chamada de antissistema. Com meios logicamente consistentes, ela se esforça por
colocar no lugar do princípio de unidade e do domínio totalitário do conceito
supraordenado a ideia daquilo que estaria fora do encanto de tal unidade. A
partir do momento em que passou a confiar em seus próprios impulsos intelectuais, o autor aceitou como sua tarefa romper, com a força do sujeito, o
engodo de uma subjetividade constitutiva; e não quis mais postergar essa tarefa. Nesse caso, um dos motivos determinantes foi a tentativa de superar de
maneira acurada a distinção oficial entre filosofia pura e o elemento coisal ou
científico-formal.
A Introdução expõe o conceito de experiência filosófica. A Primeira
Parte se move a partir da situação da ontologia dominante na Alemanha. Essa
ontologia não é julgada de uma posição mais elevada, mas compreendida a
partir de sua necessidade — uma necessidade, por sua vez, problemática — e
criticada de maneira imanente. De posse desses resultados, a Segunda Parte
prossegue em direção à ideia de uma dialética negativa e de sua posição em
relação a algumas categorias que ela conserva ao mesmo tempo em que as
altera qualitativamente. A Terceira Parte realiza então modelos de dialética
negativa. Esses modelos não são exemplos; eles não se limitam simplesmente
a ilustrar considerações gerais. Na medida em que conduzem para aquilo que
é realmente relevante para o tema, eles gostariam de fazer justiça ao mesmo
tempo à intenção material daquilo que, por necessidade, é inicialmente tratado em termos gerais; e isso em contraposição ao uso de exemplos como algo
em si indiferente, um procedimento introduzido por Platão que a filosofia
vem repetindo desde então. Apesar de os modelos deverem elucidar o que é a
dialética negativa, impelindo-a, de acordo com o seu próprio conceito, para o
interior do domínio real, eles determinam, de um modo não muito diverso do
assim chamado método exemplar, conceitos-chave de disciplinas filosóficas a
fim de intervir nesses conceitos de maneira central. Uma dialética da liberdade fará isso para a filosofia moral; o “espírito do mundo e a história natural”,
para a filosofia da história; o último capítulo gira, buscando seu caminho, em
torno de questões metafísicas, no sentido de uma revolução axial da virada
copernicana por meio de uma autorreflexão crítica.
PREFÁCIO
9
Ulrich Sonnemann está trabalhando em um livro que deve ter o título Antropologia negativa.* Nem ele nem o autor sabiam anteriormente dessa coincidência. Ela é sintoma de uma necessidade objetiva.
O autor está preparado para a resistência que a dialética negativa provocará.
Sem rancor, ele abre as portas a todos aqueles que, de um lado e do outro, venham
a proclamar: nós sempre o dissemos, e, vejam, agora o autor é réu confesso.
Frankfurt, verão de 
* O livro de Sonnemann foi publicado pela primeira vez em  pela editora Rowohlt. (N.T.)
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Trecho - Dialética negativa