FILOSOFIA E LITERATURA- CASA DO SINO - HANDOUT 6
I. DO MITO À FILOSOFIA (HANDOUT 2)
II. OS PRÉ-SOCRÁTICOS
III. PARA LER OS FRAGMENTOS DOS PRÉ-SOCRÁTICOS (AULA 6)
IV. TALES DE MILETO
V. ANAXIMANDRO DE MILETO
VI. ANAXÍMENES DE MILETO
VII. PITÁGORAS DE SAMOS
VIII. XENÓFANES DE COLOFÃO
IX. HERÁCLITO DE ÉFESO (AULA PRÓXIMA)
X. PARMÊNIDES DE ELÉIA
XI. ZENÃO DE ELÉIA (CERCA DE 504/1-? A.C.)
1. DOXOGRAFIA
2. FRAGMENTOS
3. CRÍTICA MODERNA: GEORG W. F. HEGEL
3.1. A CARACTERÍSTICA DE ZENÃO É A DIALÉTICA.
a. Ele é o mestre da Escola Eleática;
b. nela seu puro pensamento torna-se o movimento do conceito em si mesmo, a pura
alma da ciência
c. [Zenão se volta contra o movimento determinado]
3.2. [ASPECTOS BIOGRÁFICOS]
a. Zenão era um eleata; é o mais jovem e viveu particularmente em convívio com
Parmênides.
b. era célebre e muito respeitado como professor.
c. [teve morte heróica]
3.3. [SUA FILOSOFIA APRESENTA ELEMENTOS FORMAIS MAIS REFINADOS QUE
OS DE XENÓFANES E PARMÊNIDES]
a. 1) Segundo seu elemento tético, a filosofia de Zenão é, em seu conteúdo,
inteiramente igual à que vimos em Xenófanes e Parmênides, apenas com esta
diferença fundamental, que os momentos e as oposições são expressos mais como
conceitos e pensamentos.
b. Já em seu elemento tético vemos progresso; ele já está mais avançado no
sobressumir das oposições e determinações.
3.4. [ZENÃO INTRODUZ, JUNTO AOS CONCEITOS PARMENÍDICOS DE “SER” E
“NADA”, OS CONCEITOS DE “IGUALDADE” E “DESIGUALDADE”]
3.5. [ZENÃO DEMONSTRA A UNIDADE DE DEUS]
a. "Se Deus é o mais poderoso de tudo, então lhe é próprio que seja um; ...
b. "Sendo um, é em toda parte igual, ouve, vê e possui também, em toda parte, os
outros sentimentos; pois, não fosse assim, as partes de Deus dominariam uma
sobre a outra" (uma estaria onde a outra não está, reprimi-la-ia; uma parte teria
determinações que faltariam às outras), "o que é impossível.
c. Como Deus é em toda parte igual, possui ele a forma esférica; pois não é aqui
assim, em outra parte de outro modo, mas em toda parte igual."
d. Diz ainda: "Já que é eterno, um e esférico, ele não é nem infinito (ilimitado) nem
limitado.
e. Assim Zenão também mostra: "O um não se move, nem é imóvel. [O um, portanto,
não está nem em repouso nem se movimenta; pois não se parece nem com o nãoente nem com o múltiplo]
f. Em tudo isto, Deus se comporta assim; pois ele é eterno e um, idêntico a si mesmo
e esférico, nem ilimitado nem limitado, nem em repouso nem em movimento." Do
fato de nada poder provir, quer do igual quer do desigual, Aristóteles conclui que,
ou nada existe fora de Deus, ou tudo é eterno.
3.6. [ZENÃO E A DIALÉTICA METAFÍSICA]
a. Vemos, em tal tipo de raciocínio, uma dialética que se pode denominar de
raciocínio metafísico.
b. O princípio da identidade lhe serve de fundamento: "O nada é igual ao nada, não
passa para o ser, nem vice-versa; do igual, portanto, nada pode provir".
c. O ser, o um da Escola Eleática é apenas esta abstração, este afundar-se no
abismo da identidade do entendimento.
d. Este modo, o mais antigo, de argumentar é ainda, até o dia de hoje, válido, por
exemplo, nas assim chamadas demonstrações da unidade de Deus.
e. No que se refere às determinações, deve-se observar que elas, enquanto algo
negativo, devem ser mantidas afastadas do ser positivo e apenas real.
3.7. [HEGEL EXPLICA O USO DA DIALÉTICA MODERNA NO SENSO COMUM ]
a. Para ir a esta abstração fazemos um outro caminho, não utilizamos a dialética que
usa a Escola Eleática; nosso caminho é trivial e mais óbvio.
b. Nós dizemos que Deus é imutável, a mudança apenas se atribui às coisas finitas
(isto como que sendo uma proporção empírica);
c. [em nosso senso comum moderno, também nos deparamos com a mesma questão
dos eleatas, isto é, ]De onde vem a determinação, como deve ela ser concebida,
tanto no um mesmo, que deixa o finito de lado, como no modo como o infinito se
manifesta no finito?
d. Enquanto nós deixamos valer, em nossa representação, a realidade do mundo
finito, os eleatas foram mais conseqüentes [!], avançando até a afirmação de que
só o um é e de que o negativo não é — conseqüência que, ainda que deva ser por
nós admirada, é, contudo, não menos, uma grande abstração.
a. Em Xenófanes e Parmênides tínhamos ser e nada.
b. Ser é a igualdade expressa como imediata; pelo contrário, igualdade como
igualdade pressupõe o movimento do pensamento e a mediação, a reflexão em si.
c. Em Zenão a desigualdade é o outro membro em oposição a igualdade.
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3.8. [ZENÃO DÁ MAIS RIGOR AO PROCESSO DE NEGAÇÃO DAS
DETERMINAÇÕES; A NEGAÇÃO ABSOLUTA]
a. em Zenão, já há a consciência mais alta de que uma determinação é negada, de
que esta negação mesma é novamente uma determinação, devendo então, na
negação absoluta, não ser negada apenas uma determinação, mas ambas as
negações que se opõem.
b. Sendo a essência absoluta posta como o um ou o ser, ela é posta através da
negação; é determinada como o negativo e, assim, como o nada, e ao nada se
atribuem os mesmos predicados que ao ser: o puro ser não é movimento, é o nada
do movimento. Isto pressentiu Zenão;
c. [já vemos em Zenão a formalização da negação do outro, que impregnará toda a
metafísica ocidental e que só começará a ser desconstruída na modernidade
recente]
d. Esta dialética mais alta encontramo-la em Platão, em seu Parmênides. [☺]
e. A consciência mais alta é a consciência sobre a nulidade do ser enquanto algo
determinado em face do nada; isto se dá, parte em Heráclito e, então, nos sofistas;
com isto não permanece verdade alguma, ser-em-si, mas apenas o ser para o
outro é, ou seja, a certeza da consciência individual e a certeza como refutação —
o lado negativo da dialética.
3.9. ENCONTRAMOS A VERDADEIRA DIALÉTICA OBJETIVA IGUALMENTE EM
ZENÃO.
a. [Z não é o descobridor da dialética em sua plenitude, mas um importante pioneiro]
pois ele nega predicados que se opõem
b. Xenófanes, Parmênides, Zenão põem como fundamento a proposição: Nada é
nada, o nada não é, ou o igual (como diz Melisso) é a essência;
c. isto é, eles afirmam um dos predicados que se opõem, como a essência.
d. onde encontram, numa determinação, o oposto, suprimem com isto essa
determinação.
e. Mas, assim, esta somente se suprime através de um outro, através de minha
afirmação, através da distinção que faço de que um lado é verdadeiro, o outro sem
importância (nulo) (parte-se de uma determinada proposição);
f. sua nulidade não aparece nela mesma, não de maneira que se suprima a si
mesma, isto é, que contenha em si uma contradição.
g. [o exemplo do movimento]
h. Como sempre é o caso quando um sistema filosófico refuta o outro, o primeiro
sistema é posto como fundamento e a partir dele se entra em debate contra o
outro.
i. "O outro sistema não possui verdade, porque não concorda com o meu"; mas o
outro sistema tem o mesmo direito de dizer assim.
j. Eu não devo demonstrar sua não-verdade através de um outro, mas em si mesmo.
k. O falso não deve ser apresentado como falso porque o oposto é verdadeiro, mas
em si mesmo.
l. Esta convicção racional vemos despertar em Zenão. No Parmênides de Platão
(127-128), esta dialética é muito bem descrita.
m. [Zenão] Diz que combateu aqueles que afirmam o ser do múltiplo, para
demonstrar que disto resultariam muito mais coisas discordantes que da
proposição de Parmênides.
n. Isto é a determinação mais exata da dialética objetiva. Nesta dialética não vemos
afirmar-se o pensamento simples para si mesmo, mas, fortalecido, levar a guerra
para território inimigo.
3.10. [HEGEL USA A SUPOSTA OBJETIVIDADE CIENTÍFICA DE SUA ÉPOCA PARA
LEGITIMAR, RETROSPECTIVAMENTE, A DIALÉTICA OBJETIVA DE ZENÃO;
PARECE TAMBÉM FAZER UMA OPOSIÇÃO ENTRE DIALÉTICA OBJETIVA E
DIALÉTICA “SUBJETIVA”; [LEMBRAR QUE HEGEL É UM IDEALISTA ALEMÃO!!]]
a. Conforme a representação corrente da ciência, em que proposições são resultado
da demonstração, é a demonstração o movimento da convicção, ligação através da
mediação.
b. A dialética como tal é a) dialética exterior, este movimento distinto do compreender deste movimento; b) não é um movimento apenas de nossa intuição, mas
a partir da coisa mesma, isto é, demonstrada para o puro conceito do conteúdo.
c. Aquela dialética [a “subjetiva”?] é uma mania de contemplar objetos, de neles
apontar razões e aspectos, através dos quais se torna vacilante o que em geral
vale como firme.
d. A outra dialética, [a objetiva] porém, é a consideração imanente do objeto: ele é
tomado para si, sem pressuposições, idéia, dever-ser, não segundo circunstâncias
exteriores, leis, razões. A gente se põe inteiramente dentro da coisa, considera o
objeto em si mesmo e o toma segundo as determinações que possui.
e. Nesta consideração, ele se demonstra a si mesmo, mostra que possui
determinações opostas, que se suprime (sobressume): esta dialética encontramos
precipuamente [principalmente] junto aos antigos.
f. A dialética da matéria de Zenão não foi até hoje ainda refutada;
3.11. [ZENÃO E A QUESTÃO DO MOVIMENTO; A PRÓPRIA DIALÉTICA]
a. Os aspectos mais exatos desta dialética nos conservou Aristóteles; o movimento
foi tratado particularmente por Zenão, de maneira objetiva e dialética.
b. Vemos desaparecer para a consciência de Zenão o simples pensamento imóvel
para tornar-se ele mesmo movimento pensante; na medida em que combate o
movimento sensível, ele o dá a si. [a dialética como movimento do pensamento]
c. O fato de a dialética ter tido atraída sua atenção primeiro para o movimento é a
razão de a dialética mesma ser este movimento ou o movimento mesmo ser a
dialética de todo ente.
d. A coisa tem, enquanto se move, sua dialética mesma em si, e o movimento é:
tornar-se outro, sobressumir-se.
e. Aristóteles afirma que Zenão teria negado o movimento pelo fato de possuir
contradição interna. Mas não se deve entender isto assim como se o movimento
não fosse
f. Que o movimento existe, que ele é fenômeno, isto nem está em questão; o
movimento possui certeza sensível, como existem elefantes. Neste sentido, Zenão
nem teve a idéia de negar o movimento.
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g. Pelo contrário, seu questionar vai em busca de sua verdade; mas o movimento é
não-verdadeiro, pois ele é contradição. Com isto quer ele dizer que não se lhe
deveria atribuir verdadeiro ser.
h. Zenão mostra então que a representação do movimento contém uma contradição e
apresenta quatro modos de refutação do movimento. Os argumentos repousam
sobre a infinita divisão do espaço e do tempo.
3.12. [OS QUATRO MODOS DE REFUTAÇÃO DO MOVIMENTO]
3.13. 1) PRIMEIRA FORMA: ZENÃO DIZ QUE O MOVIMENTO NÃO TEM VERDADE
ALGUMA, PORQUE O MOVIDO DEVERIA ATINGIR PRIMEIRO METADE DO
ESPAÇO COMO SUA META.
a. [para esta demonstração, é pressuposta a continuidade do espaço]
b. Zenão toca aqui na divisibilidade infinita do espaço. Pelo fato de espaço e tempo
serem absolutamente contínuos, nunca se pode parar com a divisão.
c. [a refutação de Diógenes de Sínope, o Cínico]
d. Vemos aqui desenvolvido o infinito aparecer, primeiro em sua contradição — uma
consciência dele. O movimento, o puro aparecer em si mesmo é o objeto e surge
como um pensado, um posto segundo sua essência, a saber, (consideramos a
forma dos momentos) em suas diferenças da pura igualdade consigo mesmo e da
pura negatividade — do ponto contra a continuidade.
e. A igualdade consigo mesmo, a continuidade é absoluta homogeneidade, é
eliminação de toda diferença, de todo negativo, de todo ser para si; o ponto é, pelo
contrário, o puro ser para si, o absoluto distinguir-se e a supressão de toda
igualdade e homogeneidade com outro.
f. É a continuidade de um espaço, é o positivo que é posto; e nele o limite que o
divide ao meio.
g. Mas o limite que divide ao meio não é limite absoluto em si e para si, mas é algo
limitado, é novamente continuidade.
h. Mas esta continuidade também novamente nada é de absoluto, mas põe o oposto
nela — limite que divide ao meio; mas com isto novamente não é posto o limite da
continuidade, metade ainda é continuidade e assim até o infinito.
i. Até o infinito — com isto nos representamos um além, que não pode ser atingido,
fora da representação que não pode atingi-lo.
j. Primeiro, Zenão põe o progresso contínuo de maneira tal que não se atinge nada
igual a si, um determinado — nenhum espaço limitado, portanto, continuidade; ou
Zenão afirma o avanço neste limitar.
k. A resposta geral e a solução de Aristóteles é que espaço e tempo não são
divididos infinitamente, mas apenas divisíveis.
l. Bayle diz por isso da resposta de Aristóteles que ela é pitoyable.
3.14. A SEGUNDA FORMA
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