A CONCEPÇÃO DE MOVIMENTO PRESENTE NO REFERENCIAL CURRICULAR
NACIONAL E NA REORIENTAÇÃO CURRICULAR DA EDUCAÇÃO INFANTIL DA
CIDADE DE OSASCO.
Eliete dos Santos Fonseca
Aluna do curso de Pedagogia do Instituto Superior de Educação Vera Cruz
Lúcia Vinci de Moraes
Orientadora
RESUMO
O estudo proposto refere-se à análise dos Referenciais Curriculares Nacionais da Educação
Infantil (RCNEI) e da Reorientação Curricular da Educação Infantil e Ensino Fundamental da
cidade de Osasco com o objetivo de conhecer como área do Movimento é apresentada nesses
documentos no sentido de apoiar a prática educativa dos professores da educação infantil.
Palavras-chave: Movimento. Educação Infantil. Referenciais Curriculares
1. INTRODUÇÃO
Em visita a uma creche da rede Municipal de Osasco para a realização de uma prática
curricular durante a graduação em Pedagogia, constatou-se a presença marcante da contenção de
movimentos impostos às crianças pela professora. Essas eram mantidas sentadas, próximas à
parede, não podiam se mexer sem a autorização, e caso alguma criança não cumprisse a ordem, era
repreendida com severidade.
Visando garantir a ordem e a harmonia, algumas práticas pedagógicas procuram limitar o
movimento, impondo rígidas restrições corporais às crianças. Pode-se observar isso nos longos
períodos de espera em que as crianças são submetidas, tanto para irem brincar na sala, como na
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saída para o pátio, e na chegada dos pais. Durante esses momentos, observa-se o quanto é frequente
a imposição de restrição do movimento vindo por parte dos professores.
Na primeira infância, o corpo em movimento constitui a matriz básica da aprendizagem pelo
fato de gestar as significações do aprender, ou seja, a criança transforma em símbolo aquilo que
pode experimentar corporalmente, e seu pensamento se constrói, primeiramente, sob a forma de
ação. A criança pensa na ação e isso faz com que o movimento do corpo ganhe um papel de
destaque nas fases iniciais do desenvolvimento infantil.
Wallon (1942) nos diz que o homem é um ser biologicamente social e que é na complexa
dinâmica de cada cultura que ocorre o seu desenvolvimento. Nesse processo, o movimento do corpo
se apresenta como um dos campos funcionais, e integrado com a afetividade e a inteligência,
constitui a pessoa como um todo.
Considerando essa importância, os professores devem realizar as mediações de forma a
intervir nas atividades de movimento levando em conta, segundo Wallon que o corpo fala, cria e
aprende.
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil descreve o movimento sendo
uma importante dimensão do desenvolvimento do sujeito. O movimento da criança acontece desde
seu nascimento, e com o tempo ela vai adquirindo cada vez mais controle de seu corpo e vai
interagindo de forma mais ampla e complexa com o mundo.
A criança quando é incentivada a explorar seu corpo de forma significativa, começa a
compreender o mundo que a cerca.
O movimento é uma importante dimensão do desenvolvimento e da cultura humana. As
crianças se movimentam desde que nascem adquirindo cada vez maior controle sobre seu
próprio corpo e se apropriando cada vez mais das possibilidades de interação com o mundo.
Engatinham, caminham, manuseiam objetos, correm, saltam, brincam sozinhas ou em
grupo, com objetos ou brinquedos, experimentando sempre novas maneiras de utilizar seu
corpo e seu movimento. (BRASIL, 1998, p.15)
Desse modo, movimento passa a ser considerado como fonte de aprendizagem integrante de
cada ser.
O movimento humano não um simples deslocamento do corpo no espaço, é uma linguagem
que, em seu âmbito expressivo e instrumental, nos possibilita agir sobre o meio físico e
atuar sobre o ambiente humano, mobilizando-o e comunicando estados, sentimentos e
emoções (BRASIL, 1998, p.15).
O movimento da criança precisa ser reconhecido, não somente como uma necessidade
físico-motora, mas também como uma capacidade expressiva do sujeito, ele é importante para a
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criança relacionar-se com o outro, comunicar-se e também e explorar o espaço manifestando assim
os sentimentos que são cabíveis neste momento.
Diante da importância do movimento, encontramos uma concepção que entende que o
movimento traz desordem e suas ações procuram conter essa manifestação. Diante dessa
contradição, pretende-se investigar no RCNEI e no documento curricular de Osasco, ambos
elaborados para orientar a prática educativa, como é tratado o Movimento e se são documentos que
podem ajudar o professor a rever suas concepções, bem como instrumentalizar sua prática.
O documento da cidade de Osasco faz parte da investigação, por ser o município onde a
autora do artigo atua justamente no âmbito da formação de professores, no exercício do papel da
coordenadora pedagógica. O município tem um documento de orientação aos professores,
construído em parceria com a equipe docente e com apoio Instituto Paulo Freire.
2. METODOLOGIA
Ambos os documentos escolhidos, tanto o Referencial Curricular Nacional para Educação
Infantil como a Reorientação Curricular para a Educação Infantil e Ensino Fundamental da cidade
de Osasco apresentam no seu texto inicial seu principal objetivo: dar subsídios para que a escola e o
professor, na sua prática cotidiana, construam uma educação de qualidade. No primeiro documento
encontramos “o Referencial pretende apontar metas de qualidade que contribuam para que as
crianças tenham um desenvolvimento integral de suas identidades, capazes de crescerem como
cidadãos cujos direitos à infância são reconhecidos.” (RCNEI, 1998, p.5)
No documento de Osasco, encontramos explicitado no texto de apresentação, “... a gestão
do município de Osasco vem propondo, desde 2005, um processo de reflexão sobre o fazer
pedagógico, a escola que temos; a que queremos e a que precisamos construir.”
(REORIENTAÇÃO, 2011,p. 9)
Diante das intenções apresentadas acima, o presente trabalho pretende, por meio de análise
documental, analisar como é tratada área do Movimento, no sentido de verificar se no texto são
encontrados subsídios para a prática do professor.
Para a análise, foram estabelecidas as seguintes orientações: presença da concepção da área;
contextualização histórica da área; explicitação dos objetivos, conteúdos e avaliação da área;
presença de orientações didáticas e sugestões de atividades.
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3. CONCEPÇAÕ TEÓRICA:
A concepção de Movimento adotada neste artigo tem como suporte teórico o pensamento
investigativo de Henri Wallon. Formado em medicina, se dedicou ao estudo do psiquismo humano.
Para ele, o desenvolvimento da criança ocorre em diferentes e complementares domínios: afetivo,
cognitivo e motor. Considerando a interdependência de cada um deles, Wallon elabora a Teoria da
Pessoa Completa.
Para Wallon, o movimento é uma linguagem, que comunica estados, sensações, ideias: o
corpo fala. Wallon foi o primeiro a levar não só o corpo da criança, mas também suas emoções para
dentro da sala de aula. Fundamentou suas ideias em quatro elementos básicos que se comunicam o
tempo todo: afetividade, movimento, inteligência e formação do eu como pessoa.
As emoções, para Wallon, têm papel preponderante no desenvolvimento da pessoa. É por
meio delas que a criança exterioriza seus desejos e suas vontades. Em geral são manifestações que
expressam um universo importante e perceptível, mas pouco estimulado pelos modelos tradicionais
de ensino.
Wallon tem na motricidade um eixo fundamental de compreensão do desenvolvimento
humano. Para o autor, “motor” é sinônimo de “psicomotor” e há um significado psicológico do
movimento humano. A motricidade humana se inicia junto ao meio social, antes de se dirigir ao
meio físico, o contato com o meio físico nunca é direto, é sempre intermediado pelo social, tanto em
sua dimensão interpessoal quanto cultural (DANTAS, 1992, p. 38).
Segundo a teoria de Wallon, as emoções dependem fundamentalmente da organização dos
espaços para se manifestarem. A motricidade, portanto, tem caráter pedagógico tanto pela qualidade
do gesto e do movimento quanto por sua representação. Por que, então, a disposição do espaço não
pode ser diferente? Não é o caso de quebrar a rigidez e a imobilidade adaptando a sala de aula para
que as crianças possam se movimentar mais? Mais que isso, que tipo de material é disponibilizado
para os alunos numa atividade lúdica ou pedagógica? Conforme as ideias de Wallon, a escola
infelizmente insiste em imobilizar a criança numa carteira, limitando justamente a fluidez das
emoções e do pensamento, tão necessária para o desenvolvimento completo da pessoa.
O movimento é muito importante na vida da criança. Ela constrói sua independência na
interação com o meio e o movimento é uma das formas que temos para interagir com este meio.
Pela exploração, a criança vai construindo conhecimentos sobre as propriedades físicas dos objetos
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e inicia a compreensão de quais relações pode estabelecer com eles. Sendo assim, o movimento é
parte integrante da construção da autonomia e da identidade, uma vez que vai contribuindo para a
criança dominar as habilidades motoras que vão se desenvolvendo ao longo de sua primeira
infância.
Wallon fala da afetividade e socialização da criança. Para ele, o movimento tem primeiro
uma função expressiva, que se dá por uma imensa troca de afetividade comunicada geralmente por
gestos e expressões faciais, isso quando ainda é um bebê, são os primeiros sinais de movimentos
traduzidos em expressividade.
O movimento para a criança é a sua realidade imediata e espontânea pela forma como
experimenta as coisas e lhes dá vida própria. O domínio do corpo e a conquista sensorial e
intelectual do espaço estabelecem-se a partir do momento em que são facilitadas as oportunidades
de iniciativa através de múltiplas experiências de movimento nos diversos locais em que se
encontra. Esta possibilidade da criança poder perceber, programar e realizar ações favorece a
aquisição de aprendizagens básicas, importantes para o seu desenvolvimento corporal e para a sua
adaptabilidade social.
4. ANÁLISE DOS DOCUMENTOS.
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) foi publicado em 1998
e visou favorecer a compreensão dos professores e demais profissionais que atuam nesta
modalidade de ensino em relação aos princípios que sustentam a Educação Infantil, bem como
subsidiar a prática educativa. O documento Reorientação Curricular da Educação Infantil e Ensino
Fundamental da cidade de Osasco, foi elaborado em 2005 pela Secretaria Municipal de Educação,
com objetivo de oferecer uma educação consubstanciada nos pressupostos da educação integral.
Segundo o documento, “a educação integral não se traduz pelo tempo que a criança passa na
escola, ou seja, difere da educação em tempo integral. A educação integral se realiza pelos
processos que permitem a formação do ser: cognitiva, afetiva, emocional, lúdica, ética.”
(REORIENTAÇÃO, 2011, p.10).
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Para a análise de ambos os documentos, foram estabelecidos os seguintes critérios: presença
da concepção da área; contextualização histórica da área; explicitação dos objetivos, conteúdos e
avaliação da área; presença de orientações didáticas e sugestões de atividades.
A área Movimento recebe no Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil, a
denominação de eixo de trabalho, que por sua vez está contido no volume 3 - Conhecimento de
Mundo. Mais uma vez, o texto explicita seu objetivo “... contribuir para o planejamento,
desenvolvimento e avaliação de práticas educativas.”.
Considerando o primeiro critério de análise, a presença da concepção de área, encontramos
no RCNEI clareza em relação à idéia de Movimento que está sendo adotada.
O movimento para a criança pequena significa muito mais que mexer partes do corpo ou
deslocar-se no espaço. A criança se expressa e se comunica por meio dos gestos e das
mímicas faciais e interage utilizando fortemente o apoio do corpo. A dimensão corporal
integra-se ao movimento da atividade da criança. O ato motor faz-se presente em suas
funções expressiva, instrumental ou de sustentação ás posturas e aos gestos. (RCNEI, 1998,
p.18)
Nesse sentido, o RCNEI pode colaborar para que o professor reveja a sua concepção de
Movimento quando defende que as crianças expressam sentimentos, emoções e pensamentos,
ampliando as possibilidades do uso significativo de gestos e posturas corporais. Para o professor, o
documento deixa claro que o movimento humano é mais do que simples deslocamento do corpo no
espaço: constitui-se em uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico e
atuarem sobre o ambiente humano, mobilizando as pessoas por meio de seu teor expressivo.
O RCNEI procura contextualizar historicamente o eixo, segundo o documento, antigamente
quando a criança se movimentava em sala de aula tinha uma repercussão de indisciplina, e as
professoras na tentativa de manterem a ordem e o silêncio mantinham as crianças sentadas em filas.
Os professores acreditavam que mantendo as crianças em fila, elas mantinham tudo em ordem, mas
esse tipo de comportamento, em mantê-los quietos e calados não garantia um aprendizado a essas
crianças. As crianças necessitam movimentar-se e esses movimentos precisam ser significativos
para eles, para que possam imprimir superação e ampliação de suas capacidades motoras.
Em relação aos objetivos estabelecidos para o eixo Movimento, o RCNEI apresenta esses
objetivos por faixa etária, de zero a três anos e para as crianças de quatro a seis anos.
Para as crianças de zero a três anos, os objetivos são familiarizar-se com o próprio corpo,
explorando as possibilidades de gestos e ritmos corporais para expressar-se nas brincadeiras e em
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outros momentos de interação. Também apresentam com objetivo o deslocar-se com progressão no
espaço quando andam, correm, pulam, ampliando assim a atitude de confiança. Com as crianças de
quatro anos, são apresentadas as possibilidades expressivas do próprio movimento, utilizando
gestos diversos e o ritmo corporal em suas brincadeiras, danças, jogos e demais situações de
socialização. Além disso, apresenta a exploração do movimento como força, velocidade, resistência
e flexibilidade, para que as crianças possam conhecer assim seus limites e as potencialidades de seu
corpo.
Com esses objetivos explicitados no RCNEI, o professor pode criar situações em que a
criança possa colocar em prática esses novos desafios que foram propostos pelo documento citado.
Ao organizar e explicitar com clareza os objetivos pela faixa etária, o documento orienta o professor
quanto a sua possibilidade de escolha em relação ao enfoque que dará sobre o conteúdo que será
trabalhado pela área.
Seguindo a mesma estrutura, o RCNEI apresenta os conteúdos que também estão
organizados por faixa etária. Para a turma de zero a três, o RCNEI apresenta como conteúdo a
expressividade, o reconhecimento de segmentos e elementos do próprio corpo, a expressão de
sensações e ritmos corporais por meio de gestos, o equilíbrio e coordenação. Com o grupo de quatro
a seis, os conteúdos residem nas brincadeiras e jogos que envolvem correr, subir, descer. Com essas
experiências, as crianças vão adquirindo destreza e aperfeiçoamento de seus movimentos.
Os conteúdos são apresentados de forma clara. Desse modo, podem ajudar o professor em
seu planejamento de aula diário, principalmente porque esse tópico está classificado por faixas
etárias com seu conteúdo especifico, facilitando a prática do professor.
Em relação à avaliação do eixo Movimento, o documento valoriza a observação e o
acompanhamento diário dos avanços e necessidades das crianças. As propostas também precisam
ser avaliadas de forma que elas possam contribuir na ampliação de movimentos dos pequenos. Por
isso essa avaliação deve ser continua, sendo muito importante informar e valorizar a criança nas
suas conquistas.
As orientações didáticas dão suporte aos professores para poderem atuar de forma
significativa nas conquistas das crianças em seus movimentos. O RCNEI orienta o professor sobre a
importância da organização do tempo, deixa claro que se deve incluir o movimento na rotina da
turma, ter planejamento diário, saber se o ambiente é desafiador e se as atividades contribuem para
a interação da turma.
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O RCNEI não aborda um tópico que sugere atividades, mas no decorrer das orientações
didáticas apresenta algumas possibilidades. As atividades sugeridas pelo documento para crianças
de zero a três anos são as brincadeiras que envolvem canto e movimento, jogos e brincadeiras,
banho e massagem para exploração do próprio corpo. Para as crianças de quatro e seis anos, o
espelho continua sendo usado nessa fase também para a construção e afirmação da imagem corporal
nas brincadeiras de fantasiar, tanto os meninos quanto as meninas, assumindo assim o papel de se
olharem. Junto ao espelho, podem-se acrescentar maquiagens, fantasias diversas, roupas de adultos,
sapatos velhos de adultos, bijuterias entre outros materiais que sirvam para esse momento lúdico.
Os jogos e brincadeiras também fazem parte desse repertório de movimento, pois eles envolvem
interação, imitação e reconhecimento do próprio corpo.
O Referencial ainda alerta para que o uso dessas brincadeiras não se torne um modelo
estereotipado de movimento, ou seja, meninas não devem brincar só com coisas de meninas e
meninos não devem brincar só com coisas de meninos.
Sendo assim, o Movimento para o RCNEI é uma das principais formas de comunicação da
criança pequena e que a estimulação não pode ser mecânica. Ela deve abrir espaço para que haja
troca afetiva entre o educador e a criança. A afetividade possibilita que a criança vivencie e aprenda
a se expressar pelo movimento.
Na Reorientação Curricular da Educação Infantil e Ensino Fundamental da cidade de
Osasco, o Movimento não aparece de forma clara e objetiva, mas surge atrelado às situações em que
acontece o brincar. Para o documento, “... Brincar é fundamental a toda criança e está assegurado
como um direito no art. 7º da Declaração dos Direitos da Criança (1959). Respeitar os direitos das
crianças inclui garantir o direito à brincadeira.” (REORIENTAÇÃO, 2011, p. 121).
Segundo o documento, o brincar é entendido como a atividade mais importante na vida da
criança, pois através da brincadeira ela vai adquirindo conhecimento da cultura e nisso ela vai
organizando e reorganizando a percepção dos papeis sociais. O foco principal desse documento
considera o brincar como sua forma primeira da criança conhecer o mundo, englobando o
movimento no brincar.
Assim, brincando, a criança desenvolverá os aspectos físico-motores e, ao mesmo tempo,
poderá ser levada a entender que esses movimentos têm significado, pois se manifestam com o
objetivo de expressão e comunicação.
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A Reorientação Curricular, mesmo que não explicite a área Movimento faz referência a ela,
de modo a considerar a sua importância no desenvolvimento da criança:
De maneira geral, as crianças atendidas (de zero a dez anos)
estão numa faixa etária em que as possibilidades de aprendizagens e
de desenvolvimento indicam curiosidade, vivacidade e vontade de
aprender. A necessidade de movimento e de expressão através de
diversas formas de linguagem e do próprio corpo, da manipulação e
exploração de objetos e espaço, do desejo de participar e ser aceito
cria uma movimentação e uma dinâmica que, por vezes, são
compreendidas como barulhentas ruidosas e desordenadas.
(REORIENTAÇÃO, 2011 p. 27)
Ou seja, as crianças, para aprender, precisam movimentar-se, conversar, interagir com os
objetos e as pessoas. Elas têm necessidade de expressar-se por diferentes linguagens e o espaço da
escola precisa garantir essas vivências que gradativamente vão se diferenciando e oferecendo outros
patamares de desafios cognitivos que correspondam ao processo de desenvolvimento da criança.
Podemos afirmar que a não explicitação do Movimento como uma área do desenvolvimento
da criança, como apresentado no Referencial, pode dificultar o entendimento do professor em
relação a sua importância. Entretanto, o documento ao organizar os indicadores de qualidade da
educação infantil dá balizas para que o professor repense e modifique sua prática.
O documento apresenta vivências que podem ser oferecidas às crianças nas diferentes
atividades presentes na rotina. Os quadros apresentados na Reorientação Curricular,
especificamente no eixo Espaço, apontam caminhos para o professor em relação ao como trabalhar
a área Movimento:
· Diversificar espaços, não deixando a criança muito tempo parada no berço;
· Garantir espaços para as crianças se movimentarem livremente (engatinhar, rolar,
arrastar, alcançar objetos,...);
· Assegurar que os bebês que engatinham possam deixar o local de dormir por sua
própria iniciativa, testando seus deslocamentos fora dele (manter berços apenas para
o sono dos bebês que ainda não engatinham);
· Assegurar que, mesmo os bebês que ainda não engatinham, convivam em espaços
livres com objetos ao alcance de suas mãos e olhos;
· Oportunizar as crianças espaços amplos, na instituição, e nas suas proximidades, o
direito de correr, pular, saltar e se movimentar livremente;
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·
Utilizar os movimentos básicos, combinando-os entre si (andar e puxar, lançar e
pegar, correr e chutar, andar e carregar, etc.)
De modo geral, o RCNEI traz a área Movimento totalmente configurada e o documento de
Osasco não apresenta a mesma organização, mas aponta numa direção em que o Movimento pode
ser resignificado pelo professor.
Pode-se entender, pela análise de ambos os documentos, que a criança, na primeira infância,
estrutura seu conhecimento de mundo e de si mesma principalmente pela sua experiência corporal,
a qual vai adquirindo com as atividades que são desenvolvidas dentro e fora da sala de aula.
As percepções do corpo proporcionam às crianças além de um conhecimento de si mesmo, o
conhecimento do mundo que a rodeia e com o qual deverá se comunicar. Daí a necessidade de
desenvolver a linguagem corporal, baseada no conhecimento do corpo e exploração do movimento
para que as crianças descubram novos caminhos de expressão, de criação e de convivência,
ampliando sua relação com o mundo e consigo mesmas.
Por todas essas razões, o movimento deve ser trabalhado não só em seu aspecto funcional,
mas também criativo. Para isso, é preciso que o professor planeje propostas, tendo os documentos
pesquisados como suporte para seus planejamentos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise dos documentos que orientam a prática pedagógica dos educadores aponta para a
direção de termos, em textos oficiais, subsídios que devem apoiar a prática educativa dos
professores. Isso significa que por meio de tais documentos, professores e gestores possam ter
primeiramente suporte para a reflexão de modo a indicar caminhos para se rever concepções, como
em relação ao Movimento. Outro objetivo que deve ser contemplado pelos documentos é a presença
de orientações para a prática educativa. Para atender tais metas, os documentos precisam ter clareza
de seus objetivos e estar redigido de forma que o educador possa colocar em prática os
conhecimentos adquiridos através do seu estudo.
Documentos como o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil e as
Reorientações Curriculares do município de Osasco podem ser definidos como norteadores da
prática educativa na educação infantil, mas ainda assim não são garantia para a solução dos
problemas e desafios que tal segmento apresenta, mas de alguma forma os documentos poderão dar
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subsídio e orientações aos professores, por isso a necessidade de se desenvolver a reflexão do
professor. Essa é uma competência que precisa ser exercitada no dia a dia do professor e da escola;
quando sustentados por uma prática reflexiva, tais documentos podem promover avanços e
conquistas.
O RCNEI traz em seu contexto mais objetividade e clareza sobre o Movimento, dando aos
professores apoio necessário, tanto no que se refere à concepção da área, como em relação às
sugestões de atividades. Já no documento do município de Osasco, não há a presença do
Movimento enquanto uma das áreas do desenvolvimento infantil.
O Movimento aparece
interligado a outras áreas como, por exemplo, educação física, ou que o Movimento aconteça
somente no brincar.
O segundo documento não aborda o Movimento com destaque e o vincula às situações do
brincar o que pode dificultar a compreensão do educador quanto à importância de tal área.
Diante do exposto, consideramos que este não é um momento de finalizar, mas sim de
iniciar um aprofundamento de estudos investigativos e discussões teóricas sobre o Movimento nas
atuais orientações e propostas curriculares para a educação infantil e avaliar o quanto o texto e sua
organização colaboram para a construção de uma nova concepção da área, bem como gerem
reflexão sobre a prática educativa.
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REFERÊNCIAS
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Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998, v3.
DANTAS, H. do ato motor ao ato mental: a gênese da inteligência segundo Wallon, .In: TAILLE,
Y; OLIVEIRA, MK.DE E DANTAS, H. Piaget, Vigotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em
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FARIAS, Fidelis Simone, O Movimento Corporal no Contexto da Educação Infantil,
Universidade Do Estado Da Bahia – Uneb Departamento De Educação – Campus I
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GARANHANI, Marynelma Camargo. O Movimento da criança no contexto da educação
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IZA, Dijnane Fernanda Vedovatto, MELLO, Maria Aparecida, Quietas e Caladas , as atividades
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n.02 | p.283-302 |ago. 2009
OLIVEIRA, Marinalva de, NEGRELLI, Ana Lúcia Rocha, LIMA, Deucelia Nunes de, BORGES,
Isabel Cristina Nache.(ORG.) Reorientação Curricular da Educação Infantil e Ensino
Fundamental, São Paulo 2011. Editora e Livraria Instituto Paulo Freire. Disponível em:
http://www.paulofreire.org/wpcontent/uploads/2012/EdL_Reorientacao_Curricular_da_Educacao_I
nfantil_e_Ensino_Fundamental.pdf.Acesso em 13 de novembro 2012
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