A CONCEPÇÃO DE MOVIMENTO PRESENTE NO REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL E NA REORIENTAÇÃO CURRICULAR DA EDUCAÇÃO INFANTIL DA CIDADE DE OSASCO. Eliete dos Santos Fonseca Aluna do curso de Pedagogia do Instituto Superior de Educação Vera Cruz Lúcia Vinci de Moraes Orientadora RESUMO O estudo proposto refere-se à análise dos Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Infantil (RCNEI) e da Reorientação Curricular da Educação Infantil e Ensino Fundamental da cidade de Osasco com o objetivo de conhecer como área do Movimento é apresentada nesses documentos no sentido de apoiar a prática educativa dos professores da educação infantil. Palavras-chave: Movimento. Educação Infantil. Referenciais Curriculares 1. INTRODUÇÃO Em visita a uma creche da rede Municipal de Osasco para a realização de uma prática curricular durante a graduação em Pedagogia, constatou-se a presença marcante da contenção de movimentos impostos às crianças pela professora. Essas eram mantidas sentadas, próximas à parede, não podiam se mexer sem a autorização, e caso alguma criança não cumprisse a ordem, era repreendida com severidade. Visando garantir a ordem e a harmonia, algumas práticas pedagógicas procuram limitar o movimento, impondo rígidas restrições corporais às crianças. Pode-se observar isso nos longos períodos de espera em que as crianças são submetidas, tanto para irem brincar na sala, como na 1 saída para o pátio, e na chegada dos pais. Durante esses momentos, observa-se o quanto é frequente a imposição de restrição do movimento vindo por parte dos professores. Na primeira infância, o corpo em movimento constitui a matriz básica da aprendizagem pelo fato de gestar as significações do aprender, ou seja, a criança transforma em símbolo aquilo que pode experimentar corporalmente, e seu pensamento se constrói, primeiramente, sob a forma de ação. A criança pensa na ação e isso faz com que o movimento do corpo ganhe um papel de destaque nas fases iniciais do desenvolvimento infantil. Wallon (1942) nos diz que o homem é um ser biologicamente social e que é na complexa dinâmica de cada cultura que ocorre o seu desenvolvimento. Nesse processo, o movimento do corpo se apresenta como um dos campos funcionais, e integrado com a afetividade e a inteligência, constitui a pessoa como um todo. Considerando essa importância, os professores devem realizar as mediações de forma a intervir nas atividades de movimento levando em conta, segundo Wallon que o corpo fala, cria e aprende. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil descreve o movimento sendo uma importante dimensão do desenvolvimento do sujeito. O movimento da criança acontece desde seu nascimento, e com o tempo ela vai adquirindo cada vez mais controle de seu corpo e vai interagindo de forma mais ampla e complexa com o mundo. A criança quando é incentivada a explorar seu corpo de forma significativa, começa a compreender o mundo que a cerca. O movimento é uma importante dimensão do desenvolvimento e da cultura humana. As crianças se movimentam desde que nascem adquirindo cada vez maior controle sobre seu próprio corpo e se apropriando cada vez mais das possibilidades de interação com o mundo. Engatinham, caminham, manuseiam objetos, correm, saltam, brincam sozinhas ou em grupo, com objetos ou brinquedos, experimentando sempre novas maneiras de utilizar seu corpo e seu movimento. (BRASIL, 1998, p.15) Desse modo, movimento passa a ser considerado como fonte de aprendizagem integrante de cada ser. O movimento humano não um simples deslocamento do corpo no espaço, é uma linguagem que, em seu âmbito expressivo e instrumental, nos possibilita agir sobre o meio físico e atuar sobre o ambiente humano, mobilizando-o e comunicando estados, sentimentos e emoções (BRASIL, 1998, p.15). O movimento da criança precisa ser reconhecido, não somente como uma necessidade físico-motora, mas também como uma capacidade expressiva do sujeito, ele é importante para a 2 criança relacionar-se com o outro, comunicar-se e também e explorar o espaço manifestando assim os sentimentos que são cabíveis neste momento. Diante da importância do movimento, encontramos uma concepção que entende que o movimento traz desordem e suas ações procuram conter essa manifestação. Diante dessa contradição, pretende-se investigar no RCNEI e no documento curricular de Osasco, ambos elaborados para orientar a prática educativa, como é tratado o Movimento e se são documentos que podem ajudar o professor a rever suas concepções, bem como instrumentalizar sua prática. O documento da cidade de Osasco faz parte da investigação, por ser o município onde a autora do artigo atua justamente no âmbito da formação de professores, no exercício do papel da coordenadora pedagógica. O município tem um documento de orientação aos professores, construído em parceria com a equipe docente e com apoio Instituto Paulo Freire. 2. METODOLOGIA Ambos os documentos escolhidos, tanto o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil como a Reorientação Curricular para a Educação Infantil e Ensino Fundamental da cidade de Osasco apresentam no seu texto inicial seu principal objetivo: dar subsídios para que a escola e o professor, na sua prática cotidiana, construam uma educação de qualidade. No primeiro documento encontramos “o Referencial pretende apontar metas de qualidade que contribuam para que as crianças tenham um desenvolvimento integral de suas identidades, capazes de crescerem como cidadãos cujos direitos à infância são reconhecidos.” (RCNEI, 1998, p.5) No documento de Osasco, encontramos explicitado no texto de apresentação, “... a gestão do município de Osasco vem propondo, desde 2005, um processo de reflexão sobre o fazer pedagógico, a escola que temos; a que queremos e a que precisamos construir.” (REORIENTAÇÃO, 2011,p. 9) Diante das intenções apresentadas acima, o presente trabalho pretende, por meio de análise documental, analisar como é tratada área do Movimento, no sentido de verificar se no texto são encontrados subsídios para a prática do professor. Para a análise, foram estabelecidas as seguintes orientações: presença da concepção da área; contextualização histórica da área; explicitação dos objetivos, conteúdos e avaliação da área; presença de orientações didáticas e sugestões de atividades. 3 3. CONCEPÇAÕ TEÓRICA: A concepção de Movimento adotada neste artigo tem como suporte teórico o pensamento investigativo de Henri Wallon. Formado em medicina, se dedicou ao estudo do psiquismo humano. Para ele, o desenvolvimento da criança ocorre em diferentes e complementares domínios: afetivo, cognitivo e motor. Considerando a interdependência de cada um deles, Wallon elabora a Teoria da Pessoa Completa. Para Wallon, o movimento é uma linguagem, que comunica estados, sensações, ideias: o corpo fala. Wallon foi o primeiro a levar não só o corpo da criança, mas também suas emoções para dentro da sala de aula. Fundamentou suas ideias em quatro elementos básicos que se comunicam o tempo todo: afetividade, movimento, inteligência e formação do eu como pessoa. As emoções, para Wallon, têm papel preponderante no desenvolvimento da pessoa. É por meio delas que a criança exterioriza seus desejos e suas vontades. Em geral são manifestações que expressam um universo importante e perceptível, mas pouco estimulado pelos modelos tradicionais de ensino. Wallon tem na motricidade um eixo fundamental de compreensão do desenvolvimento humano. Para o autor, “motor” é sinônimo de “psicomotor” e há um significado psicológico do movimento humano. A motricidade humana se inicia junto ao meio social, antes de se dirigir ao meio físico, o contato com o meio físico nunca é direto, é sempre intermediado pelo social, tanto em sua dimensão interpessoal quanto cultural (DANTAS, 1992, p. 38). Segundo a teoria de Wallon, as emoções dependem fundamentalmente da organização dos espaços para se manifestarem. A motricidade, portanto, tem caráter pedagógico tanto pela qualidade do gesto e do movimento quanto por sua representação. Por que, então, a disposição do espaço não pode ser diferente? Não é o caso de quebrar a rigidez e a imobilidade adaptando a sala de aula para que as crianças possam se movimentar mais? Mais que isso, que tipo de material é disponibilizado para os alunos numa atividade lúdica ou pedagógica? Conforme as ideias de Wallon, a escola infelizmente insiste em imobilizar a criança numa carteira, limitando justamente a fluidez das emoções e do pensamento, tão necessária para o desenvolvimento completo da pessoa. O movimento é muito importante na vida da criança. Ela constrói sua independência na interação com o meio e o movimento é uma das formas que temos para interagir com este meio. Pela exploração, a criança vai construindo conhecimentos sobre as propriedades físicas dos objetos 4 e inicia a compreensão de quais relações pode estabelecer com eles. Sendo assim, o movimento é parte integrante da construção da autonomia e da identidade, uma vez que vai contribuindo para a criança dominar as habilidades motoras que vão se desenvolvendo ao longo de sua primeira infância. Wallon fala da afetividade e socialização da criança. Para ele, o movimento tem primeiro uma função expressiva, que se dá por uma imensa troca de afetividade comunicada geralmente por gestos e expressões faciais, isso quando ainda é um bebê, são os primeiros sinais de movimentos traduzidos em expressividade. O movimento para a criança é a sua realidade imediata e espontânea pela forma como experimenta as coisas e lhes dá vida própria. O domínio do corpo e a conquista sensorial e intelectual do espaço estabelecem-se a partir do momento em que são facilitadas as oportunidades de iniciativa através de múltiplas experiências de movimento nos diversos locais em que se encontra. Esta possibilidade da criança poder perceber, programar e realizar ações favorece a aquisição de aprendizagens básicas, importantes para o seu desenvolvimento corporal e para a sua adaptabilidade social. 4. ANÁLISE DOS DOCUMENTOS. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) foi publicado em 1998 e visou favorecer a compreensão dos professores e demais profissionais que atuam nesta modalidade de ensino em relação aos princípios que sustentam a Educação Infantil, bem como subsidiar a prática educativa. O documento Reorientação Curricular da Educação Infantil e Ensino Fundamental da cidade de Osasco, foi elaborado em 2005 pela Secretaria Municipal de Educação, com objetivo de oferecer uma educação consubstanciada nos pressupostos da educação integral. Segundo o documento, “a educação integral não se traduz pelo tempo que a criança passa na escola, ou seja, difere da educação em tempo integral. A educação integral se realiza pelos processos que permitem a formação do ser: cognitiva, afetiva, emocional, lúdica, ética.” (REORIENTAÇÃO, 2011, p.10). 5 Para a análise de ambos os documentos, foram estabelecidos os seguintes critérios: presença da concepção da área; contextualização histórica da área; explicitação dos objetivos, conteúdos e avaliação da área; presença de orientações didáticas e sugestões de atividades. A área Movimento recebe no Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil, a denominação de eixo de trabalho, que por sua vez está contido no volume 3 - Conhecimento de Mundo. Mais uma vez, o texto explicita seu objetivo “... contribuir para o planejamento, desenvolvimento e avaliação de práticas educativas.”. Considerando o primeiro critério de análise, a presença da concepção de área, encontramos no RCNEI clareza em relação à idéia de Movimento que está sendo adotada. O movimento para a criança pequena significa muito mais que mexer partes do corpo ou deslocar-se no espaço. A criança se expressa e se comunica por meio dos gestos e das mímicas faciais e interage utilizando fortemente o apoio do corpo. A dimensão corporal integra-se ao movimento da atividade da criança. O ato motor faz-se presente em suas funções expressiva, instrumental ou de sustentação ás posturas e aos gestos. (RCNEI, 1998, p.18) Nesse sentido, o RCNEI pode colaborar para que o professor reveja a sua concepção de Movimento quando defende que as crianças expressam sentimentos, emoções e pensamentos, ampliando as possibilidades do uso significativo de gestos e posturas corporais. Para o professor, o documento deixa claro que o movimento humano é mais do que simples deslocamento do corpo no espaço: constitui-se em uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico e atuarem sobre o ambiente humano, mobilizando as pessoas por meio de seu teor expressivo. O RCNEI procura contextualizar historicamente o eixo, segundo o documento, antigamente quando a criança se movimentava em sala de aula tinha uma repercussão de indisciplina, e as professoras na tentativa de manterem a ordem e o silêncio mantinham as crianças sentadas em filas. Os professores acreditavam que mantendo as crianças em fila, elas mantinham tudo em ordem, mas esse tipo de comportamento, em mantê-los quietos e calados não garantia um aprendizado a essas crianças. As crianças necessitam movimentar-se e esses movimentos precisam ser significativos para eles, para que possam imprimir superação e ampliação de suas capacidades motoras. Em relação aos objetivos estabelecidos para o eixo Movimento, o RCNEI apresenta esses objetivos por faixa etária, de zero a três anos e para as crianças de quatro a seis anos. Para as crianças de zero a três anos, os objetivos são familiarizar-se com o próprio corpo, explorando as possibilidades de gestos e ritmos corporais para expressar-se nas brincadeiras e em 6 outros momentos de interação. Também apresentam com objetivo o deslocar-se com progressão no espaço quando andam, correm, pulam, ampliando assim a atitude de confiança. Com as crianças de quatro anos, são apresentadas as possibilidades expressivas do próprio movimento, utilizando gestos diversos e o ritmo corporal em suas brincadeiras, danças, jogos e demais situações de socialização. Além disso, apresenta a exploração do movimento como força, velocidade, resistência e flexibilidade, para que as crianças possam conhecer assim seus limites e as potencialidades de seu corpo. Com esses objetivos explicitados no RCNEI, o professor pode criar situações em que a criança possa colocar em prática esses novos desafios que foram propostos pelo documento citado. Ao organizar e explicitar com clareza os objetivos pela faixa etária, o documento orienta o professor quanto a sua possibilidade de escolha em relação ao enfoque que dará sobre o conteúdo que será trabalhado pela área. Seguindo a mesma estrutura, o RCNEI apresenta os conteúdos que também estão organizados por faixa etária. Para a turma de zero a três, o RCNEI apresenta como conteúdo a expressividade, o reconhecimento de segmentos e elementos do próprio corpo, a expressão de sensações e ritmos corporais por meio de gestos, o equilíbrio e coordenação. Com o grupo de quatro a seis, os conteúdos residem nas brincadeiras e jogos que envolvem correr, subir, descer. Com essas experiências, as crianças vão adquirindo destreza e aperfeiçoamento de seus movimentos. Os conteúdos são apresentados de forma clara. Desse modo, podem ajudar o professor em seu planejamento de aula diário, principalmente porque esse tópico está classificado por faixas etárias com seu conteúdo especifico, facilitando a prática do professor. Em relação à avaliação do eixo Movimento, o documento valoriza a observação e o acompanhamento diário dos avanços e necessidades das crianças. As propostas também precisam ser avaliadas de forma que elas possam contribuir na ampliação de movimentos dos pequenos. Por isso essa avaliação deve ser continua, sendo muito importante informar e valorizar a criança nas suas conquistas. As orientações didáticas dão suporte aos professores para poderem atuar de forma significativa nas conquistas das crianças em seus movimentos. O RCNEI orienta o professor sobre a importância da organização do tempo, deixa claro que se deve incluir o movimento na rotina da turma, ter planejamento diário, saber se o ambiente é desafiador e se as atividades contribuem para a interação da turma. 7 O RCNEI não aborda um tópico que sugere atividades, mas no decorrer das orientações didáticas apresenta algumas possibilidades. As atividades sugeridas pelo documento para crianças de zero a três anos são as brincadeiras que envolvem canto e movimento, jogos e brincadeiras, banho e massagem para exploração do próprio corpo. Para as crianças de quatro e seis anos, o espelho continua sendo usado nessa fase também para a construção e afirmação da imagem corporal nas brincadeiras de fantasiar, tanto os meninos quanto as meninas, assumindo assim o papel de se olharem. Junto ao espelho, podem-se acrescentar maquiagens, fantasias diversas, roupas de adultos, sapatos velhos de adultos, bijuterias entre outros materiais que sirvam para esse momento lúdico. Os jogos e brincadeiras também fazem parte desse repertório de movimento, pois eles envolvem interação, imitação e reconhecimento do próprio corpo. O Referencial ainda alerta para que o uso dessas brincadeiras não se torne um modelo estereotipado de movimento, ou seja, meninas não devem brincar só com coisas de meninas e meninos não devem brincar só com coisas de meninos. Sendo assim, o Movimento para o RCNEI é uma das principais formas de comunicação da criança pequena e que a estimulação não pode ser mecânica. Ela deve abrir espaço para que haja troca afetiva entre o educador e a criança. A afetividade possibilita que a criança vivencie e aprenda a se expressar pelo movimento. Na Reorientação Curricular da Educação Infantil e Ensino Fundamental da cidade de Osasco, o Movimento não aparece de forma clara e objetiva, mas surge atrelado às situações em que acontece o brincar. Para o documento, “... Brincar é fundamental a toda criança e está assegurado como um direito no art. 7º da Declaração dos Direitos da Criança (1959). Respeitar os direitos das crianças inclui garantir o direito à brincadeira.” (REORIENTAÇÃO, 2011, p. 121). Segundo o documento, o brincar é entendido como a atividade mais importante na vida da criança, pois através da brincadeira ela vai adquirindo conhecimento da cultura e nisso ela vai organizando e reorganizando a percepção dos papeis sociais. O foco principal desse documento considera o brincar como sua forma primeira da criança conhecer o mundo, englobando o movimento no brincar. Assim, brincando, a criança desenvolverá os aspectos físico-motores e, ao mesmo tempo, poderá ser levada a entender que esses movimentos têm significado, pois se manifestam com o objetivo de expressão e comunicação. 8 A Reorientação Curricular, mesmo que não explicite a área Movimento faz referência a ela, de modo a considerar a sua importância no desenvolvimento da criança: De maneira geral, as crianças atendidas (de zero a dez anos) estão numa faixa etária em que as possibilidades de aprendizagens e de desenvolvimento indicam curiosidade, vivacidade e vontade de aprender. A necessidade de movimento e de expressão através de diversas formas de linguagem e do próprio corpo, da manipulação e exploração de objetos e espaço, do desejo de participar e ser aceito cria uma movimentação e uma dinâmica que, por vezes, são compreendidas como barulhentas ruidosas e desordenadas. (REORIENTAÇÃO, 2011 p. 27) Ou seja, as crianças, para aprender, precisam movimentar-se, conversar, interagir com os objetos e as pessoas. Elas têm necessidade de expressar-se por diferentes linguagens e o espaço da escola precisa garantir essas vivências que gradativamente vão se diferenciando e oferecendo outros patamares de desafios cognitivos que correspondam ao processo de desenvolvimento da criança. Podemos afirmar que a não explicitação do Movimento como uma área do desenvolvimento da criança, como apresentado no Referencial, pode dificultar o entendimento do professor em relação a sua importância. Entretanto, o documento ao organizar os indicadores de qualidade da educação infantil dá balizas para que o professor repense e modifique sua prática. O documento apresenta vivências que podem ser oferecidas às crianças nas diferentes atividades presentes na rotina. Os quadros apresentados na Reorientação Curricular, especificamente no eixo Espaço, apontam caminhos para o professor em relação ao como trabalhar a área Movimento: · Diversificar espaços, não deixando a criança muito tempo parada no berço; · Garantir espaços para as crianças se movimentarem livremente (engatinhar, rolar, arrastar, alcançar objetos,...); · Assegurar que os bebês que engatinham possam deixar o local de dormir por sua própria iniciativa, testando seus deslocamentos fora dele (manter berços apenas para o sono dos bebês que ainda não engatinham); · Assegurar que, mesmo os bebês que ainda não engatinham, convivam em espaços livres com objetos ao alcance de suas mãos e olhos; · Oportunizar as crianças espaços amplos, na instituição, e nas suas proximidades, o direito de correr, pular, saltar e se movimentar livremente; 9 · Utilizar os movimentos básicos, combinando-os entre si (andar e puxar, lançar e pegar, correr e chutar, andar e carregar, etc.) De modo geral, o RCNEI traz a área Movimento totalmente configurada e o documento de Osasco não apresenta a mesma organização, mas aponta numa direção em que o Movimento pode ser resignificado pelo professor. Pode-se entender, pela análise de ambos os documentos, que a criança, na primeira infância, estrutura seu conhecimento de mundo e de si mesma principalmente pela sua experiência corporal, a qual vai adquirindo com as atividades que são desenvolvidas dentro e fora da sala de aula. As percepções do corpo proporcionam às crianças além de um conhecimento de si mesmo, o conhecimento do mundo que a rodeia e com o qual deverá se comunicar. Daí a necessidade de desenvolver a linguagem corporal, baseada no conhecimento do corpo e exploração do movimento para que as crianças descubram novos caminhos de expressão, de criação e de convivência, ampliando sua relação com o mundo e consigo mesmas. Por todas essas razões, o movimento deve ser trabalhado não só em seu aspecto funcional, mas também criativo. Para isso, é preciso que o professor planeje propostas, tendo os documentos pesquisados como suporte para seus planejamentos. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise dos documentos que orientam a prática pedagógica dos educadores aponta para a direção de termos, em textos oficiais, subsídios que devem apoiar a prática educativa dos professores. Isso significa que por meio de tais documentos, professores e gestores possam ter primeiramente suporte para a reflexão de modo a indicar caminhos para se rever concepções, como em relação ao Movimento. Outro objetivo que deve ser contemplado pelos documentos é a presença de orientações para a prática educativa. Para atender tais metas, os documentos precisam ter clareza de seus objetivos e estar redigido de forma que o educador possa colocar em prática os conhecimentos adquiridos através do seu estudo. Documentos como o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil e as Reorientações Curriculares do município de Osasco podem ser definidos como norteadores da prática educativa na educação infantil, mas ainda assim não são garantia para a solução dos problemas e desafios que tal segmento apresenta, mas de alguma forma os documentos poderão dar 10 subsídio e orientações aos professores, por isso a necessidade de se desenvolver a reflexão do professor. Essa é uma competência que precisa ser exercitada no dia a dia do professor e da escola; quando sustentados por uma prática reflexiva, tais documentos podem promover avanços e conquistas. O RCNEI traz em seu contexto mais objetividade e clareza sobre o Movimento, dando aos professores apoio necessário, tanto no que se refere à concepção da área, como em relação às sugestões de atividades. Já no documento do município de Osasco, não há a presença do Movimento enquanto uma das áreas do desenvolvimento infantil. O Movimento aparece interligado a outras áreas como, por exemplo, educação física, ou que o Movimento aconteça somente no brincar. O segundo documento não aborda o Movimento com destaque e o vincula às situações do brincar o que pode dificultar a compreensão do educador quanto à importância de tal área. Diante do exposto, consideramos que este não é um momento de finalizar, mas sim de iniciar um aprofundamento de estudos investigativos e discussões teóricas sobre o Movimento nas atuais orientações e propostas curriculares para a educação infantil e avaliar o quanto o texto e sua organização colaboram para a construção de uma nova concepção da área, bem como gerem reflexão sobre a prática educativa. 11 REFERÊNCIAS BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998, v3. DANTAS, H. do ato motor ao ato mental: a gênese da inteligência segundo Wallon, .In: TAILLE, Y; OLIVEIRA, MK.DE E DANTAS, H. Piaget, Vigotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992. FARIAS, Fidelis Simone, O Movimento Corporal no Contexto da Educação Infantil, Universidade Do Estado Da Bahia – Uneb Departamento De Educação – Campus I Curso De Pedagogia, Salvador 2009. GARANHANI, Marynelma Camargo. O Movimento da criança no contexto da educação Infantil, reflexões com base nos estudos de Wallon. IZA, Dijnane Fernanda Vedovatto, MELLO, Maria Aparecida, Quietas e Caladas , as atividades de movimento com crianças na Educação Infantil, Educação em Revista | Belo Horizonte | v.25 | n.02 | p.283-302 |ago. 2009 OLIVEIRA, Marinalva de, NEGRELLI, Ana Lúcia Rocha, LIMA, Deucelia Nunes de, BORGES, Isabel Cristina Nache.(ORG.) Reorientação Curricular da Educação Infantil e Ensino Fundamental, São Paulo 2011. Editora e Livraria Instituto Paulo Freire. Disponível em: http://www.paulofreire.org/wpcontent/uploads/2012/EdL_Reorientacao_Curricular_da_Educacao_I nfantil_e_Ensino_Fundamental.pdf.Acesso em 13 de novembro 2012 12