GESTÃO DO CONHECIMENTO: QUAL SUA IMPORTÂNCIA E
COMO PRESERVÁ-LO NAS ORGANIZAÇÕES?
SÁ, Fabiano Bento
COSTA, Pedro Cláudio
RESUMO
Com a globalização e abertura dos mercados, a competitividade organizacional torna-se cada
dia mais crescente, pois as empresas passaram a ter concorrentes globais e não apenas locais.
Neste contexto o ciclo de vida dos produtos é reduzido, o que hoje é considerado novo,
amanhã poderá ser descartado ou até mesmo tornar-se sem importância. As mudanças são
constantes e as empresas precisam se reinventar constantemente para se manterem atuantes no
mercado e se diferenciar dos seus concorrentes. São grandes as transformações e inovações
tecnológicas, e também as mudanças na forma e perfil dos profissionais. Nesse cenário de
constantes mudanças e turbulências, as empresas passam a valorizar o “conhecimento”, que se
torna fundamental para as empresas que querem se destacar no mercado. Conforme apregoado
por Davenport e Prusak (2003, p.6) conhecimento é “uma mistura fluída de experiência
condensada, valores, informação contextual e insight experimentado, a qual proporciona uma
estrutura para a avaliação e incorporação de novas experiências e informações.” Ainda de
acordo com os autores, o conhecimento está na mente das pessoas. Nas empresas ele
geralmente está presente em documentos e repositórios assim como em rotinas, processos,
práticas e normas organizacionais. Diante da importância do conhecimento para as
organizações que querem se diferenciar e inovar torna-se fundamental a gestão desse
conhecimento. Para Nonaka e Takeuchi (1997) a gestão do conhecimento está pautada na
capacidade da organização desenvolver competências e capacidade inovadora que resulte
constantemente em novos produtos, processos, tecnologias, mercados e práticas
organizacionais com o propósito de gerar diferenciais competitivos. Diante da importância
deste tema para as organizações, este trabalho tem como objetivo tornar explícito os
principais conceitos sobre a gestão do conhecimento, assim como, evidenciar como mantê-lo
dentro das empresas em meio às grandes mudanças globais, para que elas permaneçam
competitivas e atuantes nesse mercado tão inconstante. Para apresentar estes conceitos foi
realizada uma pesquisa qualitativa de caráter exploratório, o procedimento utilizado foi uma
pesquisa bibliográfica, elaborada a partir de materiais já publicados, constituídos
principalmente de livros e artigos científicos. Com este estudo foi possível evidenciar a
importância da gestão do conhecimento para as organizações, e identificar as formas de
manter o conhecimento dentro das empresas. Como o assunto é relativamente novo, seria
interessante realizar outras pesquisas, de caráter qualitativo e quantitativo, para avaliar como
as organizações e os colaboradores veem a gestão do conhecimento e sua importância para
competitividade empresarial.
Palavras-chave: Gestão do conhecimento, informação, organizações
1 INTRODUÇÃO
O avanço científico e tecnológico tem atribuído novos padrões de desenvolvimento
econômico. A automação e flexibilidade dos processos de produção provocaram fortes
alterações na dinâmica econômica. Observa-se uma concorrência acirrada, exigindo
constantes mudanças e adaptação das organizações aos novos padrões.
Nesse contexto, as capacitações das empresas, em termos de produção e uso do
conhecimento, têm cada vez mais um papel central, na sua competitividade (CASSIOLATO e
LASTRES, 2001, p. 237). Isso ocorre devido ao ritmo acelerado das mudanças que forçam as
organizações a desenvolverem uma capacidade continua de adaptação, que se dará somente
com um enfoque no conhecimento. Conforme Orsi (2003) a relação entre a competitividade e
conhecimento tem sido tema de crescente atenção e discussão no meio empresarial e
acadêmico.
As estruturas tradicionais não mais respondem adequadamente aos desafios
enfrentados pelas organizações modernas, pois não são compatíveis com a necessidade de
descentralização que permite a maior participação e, consequentemente, o aumento da
geração de ideias e criação de conhecimento (MÜLBERT, MUSSI e ANGELONI, 2005, p.
62).
As pessoas passam a exercer um papel crucial nas organizações, observa-se que o
profissional de hoje tem que ser diferente, devem ter como qualidades o conhecimento teórico
ou acadêmico que tantas pessoas desprezavam em um passado não tão distante. Tudo isso
reflete o fato de que as organizações mudaram e conseqüentemente as pessoas também
mudaram.
No final do século XX e início do século XXI, as organizações brasileiras, tanto
privadas como públicas, de forma crescente passaram a se conscientizar da importância da
revisão dos seus modelos de gestão, no caso das empresas privadas, a motivação era a sua
sobrevivência e competitividade no mercado, no caso das empresas públicas, tal motivação
era a sua capacidade de cumprir sua missão, ou seja, atender com qualidade a prestação de
serviços de interesse da sociedade.
A história é marcada por novas práticas de gestão empresarial, surgidas
principalmente a partir dos anos 70, são decorrentes ou provocadas por mudanças macroambientais que tornaram obsoletas as práticas até anteriormente utilizadas.
Ocorre, assim, uma quebra de paradigma que precisa ser avaliada do ponto de vista da
evolução dos novos modos de se administrar uma organização. Pereira (1995) desenvolveu
um modelo de análise da evolução dos modelos de gestão que contempla três níveis
conceituais que são o conceito de ondas de transformação, eras empresariais e o modelo de
gestão.
O conceito de "ondas de transformação" (TOFFLER, 2001, p. 24) trata dos grandes
momentos históricos de evolução da sociedade humana, cada qual com seus paradigmas
próprios relacionados aos aspectos político, econômico, social, tecnológico e organizacional.
No conceito de "eras empresariais" (MARANALDO, 1989, p. 60) são abordados os estágios
de evolução empresarial, a partir da revolução industrial (segunda onda de transformação),
cada um com seus paradigmas gerenciais próprios. Já o conceito de "modelos de gestão"
contempla o conjunto próprio de concepções filosóficas e idéias administrativas que
operacionalizam as práticas gerenciais nas organizações.
Com os acalorados debates sobre o conhecimento nas organizações e sua gestão,
diversos modelos e conceitos são abordados nas literaturas disponíveis. Em função da
importância desse tema no atual contexto empresarial e acadêmico o objetivo deste trabalho é
tornar explícitos os principais conceitos sobre a gestão do conhecimento, assim como,
evidenciar como mantê-lo dentro das empresas em meio às grandes mudanças globais, para
que elas permaneçam competitivas e atuantes.
2 REFERENCIAL TEORICO
2.1 O que é conhecimento?
Para que se possa entender o conceito de conhecimento a ser abordado nesse trabalho,
faz-se necessária a distinção dos termos dado e informação. Esta não é tarefa fácil, mas é um
ponto de partida benéfico (DAVENPORT, 2001, p. 19). De acordo com Davenport e Prusak
(2003, p. 2) outros autores costumam utilizar outros termos, por exemplo, sabedoria, ação e
insigth, contudo é mais comum a abordagem de dado, informação e conhecimento.
Com o intuito de se entender o que é conhecimento faz necessária a distinção de que
conhecimento não é dado, pois dado é um agrupamento de observações brutas, geralmente
fáceis de estruturar, gravar, armazenar e manipular eletronicamente (BESSANT e TIDD,
2009, p. 216). Os dados não são dotados de significado e não fornecem julgamento nem
interpretação que conduzam a tomada de decisão, entretanto são importantes no ambiente
organizacional por serem insumo indispensável à informação (DAVENPORT e PRUSAK,
2003, p.3).
A informação por sua vez, segundo Davenport e Prusak (2003, p.4), tem como fim
exercer significado para quem a recebe. Bessant e Tidd (2009, p. 216) argumentam que os
dados ao serem organizados, agrupados ou categorizados dentro de um modelo passam a
contemplar relevância e propósito, constituindo assim a informação (BESSANT e TIDD,
2009, p. 216). Davenport e Prusak (2003, p. 5) corroboram que a informação é constituída ao
se contextualizar, categorizar, calcular, corrigir e condensar os dados.
O objetivo desse estudo não é resgatar os debates filosóficos sobre o que é
conhecimento, pois a história da filosofia já está relacionada a esta infindável investigação,
desde Platão a Popper (OLIVEIRA JR, 2001, p. 132). A intenção é apresentar as definições
básicas do que pode ser considerado conhecimento organizacional. Autores como Davenport
e Prusak (2003, p.6) entendem que:
Conhecimento é uma mistura fluida de experiência condensada, valores, informação
contextual e insight experimentado, a qual proporciona uma estrutura para a avaliação e
incorporação de novas experiências e informações. Ele tem origem e é aplicado na mente
dos conhecedores. Nas organizações, ele costuma estar embutido não só em documentos ou
repositórios, mas também em rotinas, processos, práticas e normas organizacionais.
Nonaka e Takeuchi (1997, p. 63) veem o conhecimento como uma crença verdadeira e
justificada, em um processo dinâmico de justificar a crença pessoal em relação à verdade. A
Tabela 1 apresenta uma comparação sintética acerca dos termos dado, informação e
conhecimento.
Tabela 1
Dado, informação e conhecimento
Dado
Simples observações sobre o
estado do mundo
Facilmente estruturado
Facilmente obtido por máquinas
Frequentemente quantificado
Facilmente transferível
Informação
Dados dotados de relevância e
propósito
Requer unidade de análise
Exige consenso em relação ao
significado
Exige necessariamente a mediação
humana
Conhecimento
Informação valiosa da mente
humana
Inclui reflexão, síntese, contexto
De difícil estruturação
De difícil captura em máquinas
Frequentemente tácito
De difícil transferência
Fonte: DAVENPORT, 2001, p.18.
Autores como Nonaka e Takeuchi (1997) apresentam ainda uma distinção do
conhecimento em dois tipos, tácito e explícito.
O conhecimento tácito é aquele privado, difícil de ser formalizado e compartilhado, é
composto por meio do know-how subjetivo, emoções, insight, valores e ideias dos indivíduos
(BESSANT e TIDD, 2009, p.216; CHOO, 2006, p. 37; NONAKA e TAKEUCHI, 1997, p.7).
O conhecimento explícito pode ser entendido como aquele mais simples de ser
comunicado, em função da sua facilidade de expressão através de números, textos, gráficos,
dados brutos, fórmulas científicas, procedimentos codificados ou princípios universais
(BESSANT e TIDD, 2009, p.216; CHOO, 2006, p. 37; NONAKA e TAKEUCHI, 1997, p.7).
2.2 Gestão do conhecimento: principais conceitos
Não só no Brasil, mas em vários países em desenvolvimento o recurso conhecimento
está gradativamente tendo uma importante missão para o crescimento das organizações, e os
desafios impostos pela relativa e recente abertura econômica tornam do conhecimento e sua
gestão ainda mais fundamental para as empresas. O desafio das organizações é criar estruturas
que permitam realizar o trabalho de forma diferente, sendo capaz tratar o trabalho criativo e
gerador de inovações, paralelo ao operacional e cotidiano, para atender as necessidades de
uma economia de alta competitividade (MÜLBERT, MUSSI e ANGELONI, 2005, p. 76).
Na literatura disponível sobre gestão do conhecimento não é possível encontrar uma
receita ou fórmula ideal, o que pode ser encontrado são modelos e práticas mais indicadas,
pois cada organização tem sua cultura e o seu modo de agir e trabalhar com o conhecimento.
Quando se fala da indústria percebe-se que essa riqueza de conhecimento é bem mais
relevante, existe um contexto bem mais amplo de inovação, ou seja, a emergência dos
instrumentos de gestão do conhecimento se dá a partir do deslocamento do eixo de produção
de setores industriais tradicionais (intensivos em mão-de-obra, matéria prima e maquinaria)
para setores cujos produtos e/ou processos são cada vez mais intensivos em tecnologias de
informação e conhecimento, nos quais os fluxos de informação, tecnológica e gerencial são
exemplos críticos de sucesso (SALIM, 2001).
A Gestão do Conhecimento pode ser entendida como um processo, articulado e
intencional, destinado a sustentar ou a promover o desempenho global de uma organização,
tendo como base a criação e a circulação de conhecimento (SALIM, 2001). De acordo com
Terra (2005 p. 33) gestão do conhecimento significa organizar as principais políticas,
processos e ferramentas gerenciais e tecnológicas à luz de uma melhor compreensão dos
processos de geração, identificação, validação, disseminação, compartilhamento, proteção e
uso dos conhecimentos estratégicos para gerar resultados (econômicos) para a empresa e
benefícios para os stakeholders.
Sveiby (1998) apresenta a seguinte classificação para abordar o campo da Gestão do
Conhecimento, quanto ao conhecimento, e os níveis de percepção, que caracterizam este
processo:
Áreas do conhecimento
o Gestão da informação: envolve as áreas de tecnologia e ciência da informação, para a
construção da base de conhecimento codificado.
o Gestão de pessoas: envolve as áreas de filosofia, psicologia, sociologia e
administração, para o entendimento da dinâmica dos processos de criação e difusão de
conhecimento tácito.
Níveis de percepção
o Perspectiva individual: inclui as motivações e as capacidades dos indivíduos.
o Perspectiva organizacional: inclui os recursos e as competências essenciais das
organizações.
A gestão do conhecimento é descrita por Sveiby (1998), Stewart (1998) e Edvinsson e
Malone (1998), através de diferentes formas, pelas quais o conhecimento se manifesta e
circula. Como é relado por estes autores o valor das empresas se desloca através dos ativos
tangíveis para os intangíveis. Davenport e Prusak (2003) ressaltam que ao contrário dos ativos
materiais, os ativos do conhecimento aumentam com o uso.
Os ativos intangíveis são determinantes da capacidade de inovação das empresas e da
sua capacidade de aprendizagem organizacional, como escreve Teece (1986).
Todas essas informações tiveram seu ponto de início na década de 60, economistas
como Schultz (1973) propôs a figura do capital humano para destacar esse aspecto e,
especialmente, procurar mensurá-lo monetariamente.
Embora até hoje não se tenha atingido uma fórmula satisfatória, para mensurar a
contribuição dos ativos intangíveis na composição do capital total das empresas, sua
importância é reconhecida e sua contribuição pode ser indiretamente inferida, sempre que
ocorrem saltos de competitividade em decorrência das inovações tecnológicas e
organizacionais.
Na visão de Tapscott (2000, como citado em SANTOS, PACHECO, PEREIRA e
BASTOS JR, 2001) o conhecimento é um ativo na forma de capital intelectual que, por sua
vez, existiria sob três formas. A primeira forma de conhecimento seria o tácito, localizado no
indivíduo, a segunda forma seria o conhecimento adicional, localizado nas redes, e a terceira
forma o conhecimento codificado, localizado em livros, revistas, jornais, fotografias, bases de
dados, internet, etc.
Cavalcanti e Gomes (2000) propõem um modelo para a Gestão do Conhecimento que
considera quatro capitais de conhecimento, três ligados à gestão interna (capital estrutural,
capital de relacionamento e capital intelectual) e outro à gestão externa (capital ambiental),
desta forma cria-se um modelo de negócio para a sociedade do conhecimento, denominado de
Inteligência Empresarial.
Esses ativos altamente específicos das empresas, identificados como capitais de
conhecimento ou capitais intelectuais são a base para a capacidade de inovação. Para agregar
forças e gestão da inovação, os meios usados para a gestão do conhecimento são chamados de
elementos tácitos do conhecimento, que estão ligados ou submetidos nas organizações, e os
coloca a serviço dos diversos níveis de tomada de decisão, desde as decisões pulverizadas do
cotidiano até as grandes diretrizes corporativas, valorizando-os como mais um ativo do
conjunto de capitais da empresa.
Nonaka e Takeuchi (1997) e Davenport e Prusak (1998) desenvolveram modelos para
explicar, respectivamente, como o conhecimento é criado e apropriado pelas empresas. Para
Nonaka e Takeuchi (1997) o importante são os mecanismos de compartilhamento e
transferência de conhecimento tácito presente nos indivíduos para o conjunto da organização,
na forma de conhecimentos explícitos. Este, por sua vez, se desenvolveria numa perspectiva
evolutiva, a partir do aporte continuado de conhecimentos vindos dos mais diversos pontos da
empresa.
Davenport e Prusak (1998) escrevem que a circulação de conhecimentos não é um
processo natural, sua dinâmica guarda similaridade com os padrões de circulação de outros
ativos.
No mercado do conhecimento, elementos como capacidade de codificação, relações
contratuais e direitos de propriedade intelectual precisam ser cuidadosamente administrado,
para que ocorra o equilíbrio entre as forças da produção e os da apropriação de conhecimento
pela empresa. O que se vê atualmente nas empresas, ao se falar de conhecimento tácito, é a
criação de comunidades (através de canais de comunicação interno), promovendo a troca de
experiências e idéias sobre questões de interesse das empresas, seja no âmbito técnico, de
mercado ou estratégico.
Os métodos e técnicas, utilizados na gestão do conhecimento, estimulam e justificam a
cooperação entre as pessoas, e pressupõem que as estruturas organizacionais devam evoluir
em consonância com as características e necessidades do capital intelectual. A identidade das
competências essenciais de uma organização passa pelo reconhecimento da pertinência e
importância de cada indivíduo que a compõe, e a gestão de conhecimento pode cumprir um
importante papel nesse sentido. Por outro lado, as dificuldades apontadas por Davenport e
Prusak (1998) reforçam a importância da existência de mecanismos de coordenação entre
diferentes competências e instâncias, no sentido de efetivar a apropriação dos conhecimentos
pela empresa, condição necessária para justificar seus investimentos em inovação.
Percebe-se na literatura diferentes perspectivas teóricas e bem estruturadas para a
gestão do conhecimento, todas com repercussão a partir da abertura do mercado e
conseqüente aumento da concorrência de cada setor empresarial. Um importante
entendimento é que o foco do conhecimento não é a estrutura organizacional física, mas a
estrutura intelectual que representa o capital humano que precisa ser lapidado conforme a
estratégia organizacional de cada empresa que busca em meio ao seu nicho de mercado ser
competitiva, gerando lucro.
2.3 A manutenção, preservação e utilização do conhecimento organizacional
É pouco benéfico às organizações o conhecimento que não pode ser absorvido e
incorporado, não proporcionado retornos significativos para os investimentos realizados. As
organizações necessitam criar formas específicas e seguras para que o conhecimento não se
perda. Esse processo pode ser chamado de memória organizacional, que é descrita, segundo
Probst, Raub e Romhardt (2002), como um sistema de conhecimentos habilidades que
preserva e armazena percepções e experiências além do momento em que ocorrem, para que
possam ser recuperadas posteriormente na geração de novos conhecimentos.
A escolha e a forma com que se preservará o conhecimento devem estar de acordo
com o tipo de conhecimento considerado importante para cada empresa.
2.3.1 Preservar o conhecimento tácito
Qualquer que seja a forma de preservar o conhecimento, não existe aquela que seja
ideal ou a correta, cada organização pode e deve ter a sua estratégia própria. Nonaka e
Takeuchi (1997) descrevem que o conhecimento tácito é na maioria das vezes difícil de ser
codificado, portanto mais difícil de ser armazenado do que o conhecimento explícito. Sendo
assim existem algumas ferramentas que podem ser utilizadas para preservar o conhecimento
que está nas pessoas, não permitindo que o mesmo deixe a organização junto com elas.
Segundo Davenport e Prusak (1998), uma prática bastante utilizada pelas organizações
para extrair o conhecimento tácito de seus colaboradores é através de narrativas. Um tipo
bastante comum de narrativa é o relato de casos e histórias de sucesso. Essas histórias,
segundo Nonaka e Takeuchi (1997) passam a fazer parte da cultura organizacional à medida
que são compartilhadas pelos indivíduos e estimulando novas ações na mesma direção.
Muitas vezes a melhor maneira de preservar o conhecimento tácito não é tentando
proteger o mesmo com técnicas avançadas de segurança, e sim o deixando acessível às
pessoas, diretamente de sua fonte, quando isso é possível.
Uma das práticas mais utilizadas com essa finalidade, principalmente quando existe
uma situação de ingresso ou saída de um colaborador, consiste no treinamento on the job (no
local de trabalho). Este tipo de treinamento reproduz a relação de mestre e aprendiz, utilizada
no passado, onde o sucessor observa detalhadamente as atividades, tentando absorver o
máximo de conhecimento daquele colaborador (TERRA, 2000).
Outro grande auxílio à preservação do conhecimento pode ser oferecido pelos mapas
do conhecimento, chamados também de expertise maps ou ainda de páginas amarelas
(BUKOWITZ e WILLIAMS, 2002; DAVENPORT e PRUSAK, 1998; RUGGLES, 1998;
TERRA, 2000).
De acordo com Terra (2000, p. 150), os mapas de conhecimento são "bancos de dados
com listas e descrições das competências de indivíduos de dentro e de fora da organização".
Eles não apenas permitem que as pessoas saibam quais conhecimentos e recursos estão
disponíveis para elas, mas também apontam onde podem encontrá-los (RUGGLES, 1998).
2.3.2 Preservar o conhecimento explícito
O conhecimento explícito é representado principalmente através de documentos,
banco de dados, patentes, rotinas, processos, melhores práticas e normas organizacionais
(GROTTO, 2002).
Para Davenport e Prusak (1998) o conhecimento explícito pelo simples fato de
encontrar-se sistematizado não se torna útil para a organização. Nesse sentido, a tecnologia
representa um papel nesse processo, fazendo com que o armazenamento e a disseminação
sistemática de conhecimentos se torne uma proposta viável e eficaz (WAH, 2000).
Contudo, a tecnologia deve ser tratada de maneira integrada, orientada para o ser
humano e suas necessidades, com o objetivo de criar um ambiente do conhecimento dinâmico
(DAVENPORT e PRUSAK, 1998).
Uma das tecnologias utilizada para o armazenamento e organização do conhecimento
explícito é o sistema de gerenciamento eletrônico de documentos (GED). Davenport e Prusak
(1998) caracterizam os sistemas de GED como repositórios de importantes documentos
corporativos, que atuam como armazéns do conhecimento explícito estruturado.
O GED surgiu devido à necessidade de gerenciar adequadamente uma grande
quantidade de arquivos, documentos e informações geradas de forma isolada, em
microcomputadores, na maioria das vezes, utilizados somente por uma pessoa e de difícil
acesso. (MACHADO, 2002).
Conforme Fantini (2001) torna-se indispensável a integração do GED a outras
ferramentas de tecnologia, como as redes de computadores, workflow e data warehouse.
Segundo Oliveira (1998, p.3) o data warehouse (que pode ser traduzido como
armazém de dados) é “um sistema que armazena os dados sobre as operações da empresa,
extraídos de uma fonte única ou múltipla, oferecendo um enfoque histórico, para permitir um
suporte efetivo à decisão”. De acordo com Ruggles (1998), repositórios como o data
warehouse são extremamente úteis para guardar e tornar acessíveis dados e informações
estruturados, que através de sua interpretação pode deixar as pessoas mais informadas,
oferecendo uma decisão de maior qualidade.
2.3.3 Como utilizar o conhecimento
Hoje muito tem se falado de como utilizar o conhecimento, cada organização usa de
práticas e meios diferentes de colocar o conhecimento no foco estratégico de desenvolvimento
da empresa. De acordo com Probst, Raub e Romhardt (2002), se o conhecimento identificado,
gerado, compartilhado e armazenado não for utilizado na organização, todos os esforços terão
sido em vão. Da mesma forma, Davenport e Prusak (1998, p. 123) afirmam que outros
elementos "não têm valor útil se o novo conhecimento não levar a alguma mudança de
comportamento ou ao desenvolvimento de alguma idéia nova que leve a um novo
comportamento."
Desta forma o usuário do conhecimento só vai praticá-lo se ver uma vantagem
interessante e viável de recompensa. Isso quer dizer que todos os outros processos de geração,
compartilhamento e preservação devem estar orientados para as necessidades dos usuários do
conhecimento.
Segundo Probst, Raub e Romhardt (2002) uma das principais características na
utilização do conhecimento é sua simplicidade ou até mesmo o momento ideal de colocá-lo
em prol de si próprio e das pessoas que estão ao seu lado. A simplicidade significa que o
conhecimento deve ser de fácil utilização, através de uma linguagem e características
compatíveis com a realidade do usuário. Muitas vezes, além de uma linguagem compatível o
conhecimento pode se tornar atraente para que seja mais utilizado.
Segundo Probst, Raub e Romhardt (2002), certos elementos e métodos como gráficos
e sumários curtos possuem uma influência intuitiva sobre a utilização de determinado
conhecimento.
Nesse sentido, o momento adequado significa que o conhecimento deve ter a
possibilidade de ser acessado just in time, isto é, na hora exata em que o usuário necessita
dele. Segundo Bukowitz e Williams (2002), a empresa deve observar as necessidades do
usuário para que os conhecimentos que ele mais utiliza estejam sempre à disposição.
Finalmente, a compatibilidade exige que o conhecimento esteja disponível em um
formato que possibilite sua imediata utilização, sem procedimentos ou rotinas rigorosas.
Segundo Bukowitz e Williams (2002) para que o conhecimento flua para todos os
cantos da organização, pouco dele deve ser protegido. Ainda de acordo com Bukowitz e
Williams (2002, p. 117) “a maior parte tem que ser tratada como um recurso aberto, que só
tem valor se as pessoas que dele necessitam têm acesso".
De acordo com Probst, Raub e Romhardt (2002), se todos os processos da gestão do
conhecimento forem planejados em conjunto, existe uma grande chance de se montar uma
infra-estrutura consistentemente orientada para os usuários.
3 METODOLOGIA
Foi realizada uma pesquisa bibliográfica com o intuito de conceituar gestão do
conhecimento, assunto de extrema importância para as organizações. Os dados foram
pesquisados por meio secundários, como livros e artigos científicos. Este artigo tem uma
abordagem qualitativa, pois não requer uso de métodos estatísticos. De acordo com Soares
(2003, p. 19), esta abordagem, qualitativa, permite “um maior grau de profundamento, a
interpretação das particularidades dos comportamentos ou atitudes dos indivíduos”
Quanto ao seu caráter é exploratório visando proporcionar maior familiaridade com o
problema. É apropriada para os primeiros estágios da investigação quando a familiaridade, o
conhecimento e a compreensão do fenômeno por parte do pesquisador são geralmente
insuficientes ou inexistentes (MATTAR 1999, p. 80).
4 CONCLUSÕES
Diante da exposição conceitual sobre o conhecimento e sua gestão nas organizações,
algumas interpretações são possíveis para as organizações e até aos indivíduos que participam
desse contexto.
Os autores citados neste trabalho foram didaticamente sábios em relatar as
adversidades que pode se encontrar para administrar o conhecimento e não deixá-lo sair da
organização, as experiências e visão de cada um são de grande importância para conhecer
melhor este paradigma que tem revolucionado as organizações. Contudo, essa gama de
informação, artigos, e documentários sobre o conhecimento ainda está aquém da atual
conjuntura organizacional. Sobreviver em um mercado cada vez mais competitivo não
somente interno como também externos está se tornando mais difícil, desleal e irresponsável,
ou seja, a luta para se manter, está bem mais acirrada, percebe-se que a diferença está
exatamente no conhecimento de cada indivíduo.
Sendo assim, o conhecimento, seja ele tácito ou explícito, está levando as empresas a
revolucionar as suas áreas de Recursos Humanos em busca de soluções e métodos para
diagnosticar o conhecimento intelectual. Percebe-se então meios como o sistema GED citado
por Davenport e Prusak (1998), que é usado para armazenar o conhecimento explícito, que o
conhecimento por em si só, não tem valor nenhum, mas quando o mesmo se torna público a
todos da organização há grande possibilidade que ele se multiplique e seja de fato um norte de
crescimento para a organização.
Um fato importante é que o conhecimento de maneira alguma pode ficar paralisado
em meios eletrônicos, ou até mesmo armazenado em meios físicos, pois quanto mais o usa,
mais ele aumenta e conseqüentemente traz retorno para a empresa.
Desta forma o ideal seria parcerias entre empresas e instituições educacionais, para
trabalhar a forma e os meios de investir naquilo que seria de fato o norte para cada
organização, pois cada empresa tem sua cultura e suas adversidades diferentes uma da outra.
Outra fator observado é que ainda está faltando maior valorização das pessoas que são
detentoras do conhecimento intelectual, falta ainda maior parceria entre empregado e
empresa.
O mais importante é que o conhecimento nunca acaba, melhor mesmo é saber usá-lo
como um porto seguro de mudanças. Independente das circunstâncias encontradas, deve-se
olhar para o infinito mundo de possibilidades, onde o vencedor é aquele que dá chance a ele
mesmo de mostrar a diferença em situações de risco.
As sobrevivências das organizações estão inerentemente nas pessoas, e não em
equipamentos de ultima geração. A empresa que investe no conhecimento está mais propicia
há fazer a diferença no mercado globalizado.
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