Resumos do 56º Congresso Nacional de Botânica. Caracteres anatômicos de órgãos reprodutivos e sua aplicação taxonômica em espécies do gênero Schinus L. (Anacardiaceae). JOÃO MARCELO SANTOS DE OLIVEIRA - INSTITUTO PORTO ALEGRE DA IGREJA METODISTA [email protected] Introdução A contribuição da embriologia para a taxonomia e sistemática é notória, além de ser uma disciplina fundamental para se compreender os diferentes mecanismos de perpetuação de espécies vegetais. Contudo, para o gênero Schinus, a semelhança do que ocorre na família Anacardiaceae, não existem informações embriológicas, incluindo-se as estruturais, suficientes que contribuam efetivamente para trazer uma melhor compreensão taxonômica e sistemática para a família Anacardiaceae. Trabalhos significativos para a família Anacardiaceae foram realizados, baseados, principalmente, na anatomia de sementes e frutos e morfologia das flores. Contudo, pode-se observar que, embora sejam estabelecidos estudos e conhecimentos comparativos amplos, as generalizações decorrentes carecem de profundidade. É comum que gêneros com muitas espécies as quais, também são agrupadas em subgêneros ou seções, acabam sendo descritas, em sua embriologia, a partir de uma espécie apenas. Em relação ao gênero Schinus o contexto acima citado é presente; além disso, ocorrem confusões na delimitação de suas espécies devido a, basicamente, sobreposição dos caracteres morfológicos utilizados relativos às folhas, às inflorescências e aos frutos. De acordo com as descrições para o Estado do Rio Grande do Sul, podem ser reconhecidas sete, seis ou cinco espécies do gênero Schinus, dependendo do pesquisador. Tais confusões são observadas entre espécies de S. terebinthifolius, S. lentiscifolius e S. weinmannifolius. Em relação ao gênero Schinus na América Latina são discutidos problemas de circunscrição de espécies devido, também, a ampla sobreposição dos caracteres morfológicos tradicionalmente utilizados. O presente trabalho se propõe a apresentar resultados sobre a estrutura anatômica dos rudimentos seminais e frutos maduros, bem como seus respectivos processos ontogenéticos, nas espécies do gênero Schinus, que ocorrem no Estado do Rio Grande do Sul, com objetivos diversos como: a) ampliar o conhecimento embriológico na família Anacardiaceae e no gênero Schinus, b) fornecer novos caracteres para estudos taxonômicos no referido gênero, tanto para o Brasil quanto para a América Latina e c) avaliar algumas das propostas taxonômicas para as espécies que ocorrem no Rio Grande do Sul. Resultados Ontogênese do rudimento seminal: Para o estudo do desenvolvimento inicial dos rudimentos no gênero Schinus, foram utilizados S. terebinthifolius, Resumos do 56º Congresso Nacional de Botânica. como modelo para espécies do subgênero Euschinus e S. polygamus, como modelo para espécies do subgênero Duvaua. O primórdio do rudimento seminal, S. terebinthifolius e S. polygamus, surge pela atividade mitótica das camadas dois e três do tecido placentário. A formação inicial do primórdio em ambas as espécies possui diferenças; em S. terebinthifolius o primórdio em formação se curva e preenche a base da cavidade locular, enquanto em S. polygamus o primórdio cresce, inicialmente, em direção à parede locular oposta. Posteriormente, em ambas as espécies estudadas, ocorre a formação das células arquesporial e parietal, seguido do tegumento interno, obturador funicular e tegumento externo, nesta ordem. A célula parietal e outras adjacentes produzem um nucelo crassinucelar. Os tegumentos têm origem na camada protodérmica no rudimento seminal jovem. O obturador funicular surge pela proliferação de células protodérmicas e duas a três camadas celulares mais internas, na região adaxial funicular junto a região placentária. O processo de formação das estruturas listadas acima é idêntico em ambas as espécies estudadas. O tegumento interno é anular enquanto o tegumento externo é semi-anular. Estrutura do rudimento seminal maduro: S. terebinthifolius, S. molle, S. lentiscifolius, S. polygamus e S. weinmannifolius apresentam um ovário unilocular que abriga apenas um rudimento seminal. Os rudimentos seminais são anátropos e crassinucelados. Os rudimentos seminais são bitegumentados, com o tegumento interno anular e o tegumento externo semi-anular. Todas as espécies que foram estudas possuem uma tétrade linear de ginósporos e um saco embrionário tipo Polygonum e um aparelho fibrilar evidente. Para a reprodução sexual foi observada calazogamia e dupla fecundação em todas as espécies. Foram observadas diferenças qualitativas nas seguintes estruturas que compõem os rudimentos seminais: a) estrutura dos tegumentos, b) estrutura do obturador funicular e c) tipo de placentação. Em S. terebinthifolius se observa que os tegumentos diferem em tamanho, sendo o interno menor e de com ápice relativamente agudo, ao contrário do que se observa em S. weinmannifolius. A relação dos tegumentos com o obturador, incluindo a estrutura do mesmo, portanto, também difere. Nas demais espécies também são observados estados de caráter particulares e diagnósticos, como estrutura da cavidade micropilar ou grau de curvatura do rudimento seminal e seu local de placentação. Ontogenia do endocarpo em Schinus: No gênero Schinus, os frutos são do tipo drupa. Nas espécies estudadas o endocarpo se origina exclusivamente da epiderme da cavidade locular. As divisões periclinais responsáveis pela formação do endocarpo iniciam durante a antese, terminando em até 72 horas após a antese. Durante esta fase as camadas celulares mais internas, incluindo células do mesocarpo jovem, possuem estrutura meristemática e grande atividade mitótica. A camada cristalífera, típica nos frutos da família Anacardiaceae, possui origem no mesofilo carpelar e ocorre adjacente a camada mais externa do endocarpo formada por braquisclereídes. A região Resumos do 56º Congresso Nacional de Botânica. propícia para a análise da ontogenia do endocarpo, em Schinus, corresponde ao ponto de inserção do rudimento seminal no carpelo, onde a epiderme do rudimento seminal e da cavidade locular são tecidos contínuos e de mesma origem no meristema floral, ou seja, as células da túnica do meristema floral que dá origem a protoderme adaxial da folha carpelar primordial. Embora tenham a mesma origem os tecidos apresentam destinos morfogenéticos distintos. A análise do desenvolvimento da epiderme que irá compor o funículo, no rudimento seminal, serve como marcador morfológico para o desenvolvimento do endocarpo, ou seja, seu tecido contíguo e de mesma origem floral. Assim, o que é necessário para o estabelecimento de homologia é respeitado em sua essência. Anatomia dos frutos maduros: Características anatômicas como número de camadas do exocarpo, arranjo das cavidades secretoras no mesocarpo, presença de esclerênquima no mesocarpo interno, estrutura do endocarpo e contorno da cavidade locular são úteis para circunscrever Schinus terebinthifolius, S. lentiscifolius S. molle e S. polygamus e S. weinmannifolius. Dentre os estados de caráter, o número de camadas de exocarpo ocorre em número de três apenas em S. weinmannifolius. As cavidades secretoras e o contorno da cavidade locular são irregulares em S. terebinthifolius. Em S. molle o mesocarpo adjacente o endocarpo também se esclerifica. Entre S. lentiscifolius e S. polygamus os caracteres se sobrepõem amplamente, porém a última espécie possui folhas simples. Conclusões Os resultados no presente trabalho, embora diversos, podem ser agrupados em duas categorias, sendo estas: a) desenvolvimento inicial e b) estrutura madura. No contexto da estrutura madura dos esporângios também foram observados caracteres do saco embrionário e aspectos da fecundação, os quais não se mostraram taxonomicamente diagnósticos. A análise da ontogenia dos rudimentos seminais e do pericarpo, principalmente do endocarpo, foram exploradas devido à importância do estabelecimento de homologias para comparação entre estruturas nos diferentes táxons em estudo. Somado a isso, salienta-se que na família, a maioria dos estudos com ênfase no estabelecimento de homologias falha nas demonstrações dos processos ontogenéticos dos órgãos e/ou tecidos analisados, o que gera falhas, também, nos objetivos dos estudos. Esse contexto é devido basicamente, a duas situações: a) conclusões prévias de que táxons considerados próximos possuem estruturas homólogas e b) tentativas falhas de demonstrações de processos ontogenéticos. No presente estudo, porém, foi demonstrada a existência de diferenças ontogenéticas entre táxons próximos, ou seja, espécies do mesmo gênero. As diferenças ontogenéticas observadas, exclusivamente para os rudimentos seminais, podem estar evidenciando, pelo menos, a manutenção dos subgêneros Euschinus e Duvaua, considerados Resumos do 56º Congresso Nacional de Botânica. supérfluos por alguns autores. Acredita-se que, caso venham a ser descritos processos ontogenéticos exclusivos para os referidos subgêneros, se inicia um processo de discussão para alterações futuras no gênero Schinus. Ao estudo do desenvolvimento inicial do endocarpo, salienta-se a importância do estabelecimento de metodologia para a análise anatômica, ou seja, foi demonstrado que a orientação do material botânico a ser seccionado deve ser considerada para se reduzir, ou até mesmo se evitar, falhas nas interpretações estruturais. No contexto da estrutura madura a estrutura dos rudimentos seminais e pericarpo mostraram grande valor taxonômico, incluindo-se nesse contexto, estados de caráter facilmente observáveis a campo, como o contorno da cavidade locular de frutos secionados transversalmente. Essa informação é fundamental devido as dificuldades de identificação entre S. terebinthifolius, S. lentiscifolius e S. weinmannifolius. Salienta-se, nesse contexto, discussão ampla no gênero sobre a delimitação precisa entre S. terebinthifolius e S. weinmannifolius, sendo que a última é considerada por alguns autores como forma ecológica da primeira. Cabe salientar que o conjunto de caracteres embriológicos descritos para cada espécie não apresentou variações e/ou sobreposições. No contexto dos objetivos propostos salienta-se a ampliação de caracteres embriológicos considerados úteis para a taxonomia da família Anacardiaceae através da estrutura dos rudimentos seminais e sua ontogenia, estrutura do pericarpo, bem como aspectos macroscópicos do contorno das cavidades loculares nos frutos. Além disso, se salienta a confirmação da utilidade de caracteres embriológicos para a taxonomia do gênero Schinus. Assim, o presente trabalho também aponta perspectivas de estudos para as demais espécies do gênero que ocorrem nos demais países da América Latina, principalmente Argentina, Paraguai e Uruguai. Nos países citados, são encontradas várias espécies do subgênero Duvaua, ou seja, espécies de folhas simples, onde diferentes autores apontaram dificuldades muito grandes na delimitação dos táxons; tais autores utilizaram apenas a morfologia externa para se estabelecer a delimitação das espécies estudadas. A aplicação de estudos anatômicos, principalmente, embriológicos tem se mostrado promissores na taxonomia da família Anacardiaceae que, embora pequena, carece de estudos com essa abordagem.