XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
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AÇÃO COLETIVA CONTINUADA COM PROFESSORES NA ESCOLA
PÚBLICA: CAMINHOS EM DIREÇÃO DE UMA PRÁXIS EDUCATIVA
Profª. Dra. Rosiane de Fatima Ponce
Departamento de Educação da FCT/UNESP – Presidente Prudente
Profº Dr. Irineu A. Tuim Viotto Filho
Programa de Pós-Graduação em Educação e Departamento de Educação Física –
Faculdade de Ciências e Tecnologia / UNESP – Presidente Prudente.
RESUMO
O trabalho enfatiza a importância da ação coletiva continuada com professores no
interior da escola pública, objetivando construir caminhos educativos em direção a uma
práxis educativa transformadora. O trabalho apresenta dados de um Projeto de Extensão
Universitária, em andamento faz três anos, numa escola pública de Ensino Fundamental
de Presidente Prudente/SP. As intervenções são realizadas nos HTPCs (Horário de
Trabalho Pedagógico Coletivo) objetivando discutir a realidade escolar e pensarmos em
possibilidades de implementar ações cuja finalidade seja a transformação qualitativa das
relações na escola via transformação do trabalho educativo, preocupando-nos com os
sujeitos escolares numa direção humano-genérica. Os encontros com os professores são
quinzenais e buscamos oportunizar condições diferenciadas de reflexão sobre as práticas
pedagógicas, na busca da superação de visões de senso comum presentes em suas ações
e falas. Temos como referencial teórico-metodológico a Pedagogia Histórico-crítica e a
Teoria Histórico-Cultural de desenvolvimento humano como suporte para nossas ações
de intervenção e material de leitura / apropriações por parte dos professores envolvidos.
Na execução do Projeto, temos a ação semanal de licenciandos na realização de aulas
juntos a alunos das quatro séries (1ª a 4º série) com a aplicação de atividades de jogos e
brincadeiras de caráter ludo-educativo. Ao longo do Projeto, verificamos a necessidade
de uma formação continuada para se atingir a transformação das relações educativas nos
espaços escolares. A direção e coordenação escolar estão participando de forma ativa e
colaborativa, no sentido de possibilitar condições à formação continuada de professores.
As demandas da escola estão aumentando e os profissionais estão se aproximando de
nosso grupo de intervenção e estão abertos ao diálogo, que em nosso entender é
fundamental para uma formação em processo coletivo – que envolve alunos de
licenciaturas, professores de sala de aula, gestores educacionais e professores da
universidade pública.
Palavras-chave: Formação continuada; Trabalho Educativo Coletivo; Emancipação.
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INTRODUÇÃO
Este texto visa apresentar parte do processo de intervenção e pesquisa realizado
em uma escola pública municipal de Presidente Prudente/SP. O projeto está em
desenvolvimento desde 2010, sendo que seu objetivo principal está em proporcionar
condições educativas diferenciadas para os estudantes, tomando as atividades ludopedagógica como principal instrumento de educação. Na mesma direção, o professor da
escola faz parte como sujeito de processo de intervenção, durante seus horários de
trabalho pedagógico, cuja finalidade e proporcionar reflexões e ações voltadas a
transformação da prática pedagógica no interior da escola.
Pretendemos enfatizar o trabalho de intervenção realizado junto aos professores
da escola, o qual, ao longo do tempo, tem mostrado o quanto se faz necessário o
trabalho continuado com os professores, tendo em vista possibilitar-lhes condições de
reflexão-ação-reflexão, na transformação qualitativa da prática pedagógica escolar.
Os encontros com os professores e gestores da escola acontecem quinzenalmente
nos momentos de HTPC (Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo), com o intuito de
propor reflexões sobre a prática pedagógica e identificar as dificuldades dos professores,
assim como pensar possibilidades de sua superação dessas pela via do trabalho coletivo
critico e transformador, para se atingir a construção de uma práxis educativa na escola.
Sabemos que um Projeto de intervenção e pesquisa apresenta-se como uma
possibilidade e não tem a pretensão de realizar, por si só, a necessária transformação
qualitativa na escola. No entanto, a experiência acumulada na formação continuada de
professores, tem mostrado que essa possibilidade se torna concreta a medida que forem
criadas as condições objetivas para a sua efetivação no interior da escola e, sem dúvidas,
os professores e gestores têm papel crucial na construção desse processo.
Nessa direção, Oliveira (1996) nos enfatiza que o professor e os gestores
educacionais precisam assumir o compromisso para com as transformações dentro dos
espaços da escola. Essas transformações precisam ser construídas pelo grupo, pois não
acontecem espontaneamente, devendo pensar no dever-ser dos seres humanos, da escola
e da sociedade. Assim, é preciso fazer escolhas valorativas essenciais cuja finalidade
esteja direcionada ao processo de construção da emancipação humana e social, ou seja,
escolhas voltadas à superação da sociedade alienada.
O trabalho junto aos professores tem ocorrido ao longo dos últimos dois anos em
uma escola pública municipal e conta com encontros quinzenais, nos quais discutimos
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temas pertinentes às necessidades e expectativas dos professores, como por exemplo,
processos de aprendizagens de crianças com deficiência e/ou transtornos de atenção.
Assim, realizamos a continua avaliação da realidade escolar, tendo em vista a melhoria
da qualidade de ensino, pela via da construção de um trabalho educativo critico e
transformador, reconhecido como práxis no interior da escola.
Nesses encontros com os professores e gestores da escola, procuramos garantir,
nas ações práticas e teóricas, condições objetivas de construção de relações sociais
democráticas, solidárias e comprometidas com a escola e com a construção de uma
educação emancipadora. Nesse processo, enfatizamos o trabalho educativo do professor
como primordial, sendo que sua formação continuada deve ser garantida no interior da
própria escola.
Como dissemos, vários temas são abordados nas reuniões com os professores,
sobretudo a importância de construção do processo grupal na escola, considerando que,
da mesma forma que os estudantes, os professores também estão fragmentados. Ou seja,
não se reconhecem como um grupo coeso no interior da escola e, nesse sentido, há que
se organizar o processo grupal junto a esses sujeitos.
Um grupo é uma estrutura social e deve ser reconhecido como uma realidade
total, um conjunto que não pode ser reduzido a soma de seus membros, como,
infelizmente, encontramos os grupos hoje – tanto de alunos quanto de professores. A
totalidade de um grupo pressupõe vínculos essenciais entre os indivíduos, uma relação
de interdependência, que precisam ser construídos nas relações cotidianas, tendo em
vista a efetivação de um processo grupal.
E importante lembrarmos, conforme Lane (1984), que um grupo constitui um
canal de necessidades, interesses e expectativas em dadas circunstâncias, ou seja, cada
grupo tem seu caráter concreto, histórico e precisa ser considerado nesse contexto
histórico e social. Pois, o significado “[...] da existência e da ação grupal só pode ser
encontrado dentro de uma perspectiva histórica que considere sua inserção na
sociedade, com suas determinações econômicas, institucionais e ideológicas” (LANE,
1984, p. 81).
Ao considerarmos essa concepção de grupo, defendemos que no interior da
escola, esse espaço humano e social em constante movimento e transformação históricosocial, o processo grupal precisa ser objeto de freqüentes discussões. Isso porque, é na
construção de um trabalho coletivo dinâmico, em movimento e repleto de ações e
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contradições, que poderemos efetivar mudanças necessárias na realidade escolar, tanto
de alunos quanto dos seus professores e gestores.
Os encontros com os professores e gestores, por serem reconhecidos como
processo grupal em constante construção, evidenciam a importância e a necessidade do
‘outro’ na efetivação do desenvolvimento e humanização de cada sujeito participante.
Evidenciamos, ainda, que a construção de um processo grupal não prevê a plena
harmonia dos seus membros, ao contrário. Em muitos momentos mostra-nos e evidencia
as diferenças, explicita as contradições, as quais precisam ser reconhecidas e discutidas
democraticamente, para serem compreendidas e continuamente trabalhadas pelo grupo.
Nesse movimento de construção do processo grupal na escola é importante
enfatizar que o ambiente escolar é um espaço de relações pessoais intensas e formados
por diferentes grupos que se organizam e se constituem, os quais precisam estabelecer
relações significativas cujo objetivo deve voltar-se ao processo de desenvolvimento e
humanização dos seus membros.
Dentre esses vários grupos na escola, temos o grupo gestor, o grupo de
professores, o grupo de funcionários, os grupos de alunos das várias séries, assim como
os grupos de pais, os quais transitam nos variados espaços escolares. Temos também
outros grupos e espaços coletivos, tais como o Conselho de Escola, os Conselhos de
Série, os Grupos de HTPC, a APM (Associação de Pais e Mestres) e o Grêmio
Estudantil, dentre outros – os quais, da mesma forma, precisam dialogar no sentido de
se construir a escola enquanto um processo grupal, integrando esses diferentes grupos e
espaços coletivos, respeitando a liberdade de pensamento de cada de seus membros.
No desenvolvimento de nosso trabalho com os professores, estamos intervindo
em um segmento desse grande processo grupal – que são os professores. No entanto,
com o tempo pretendemos atingir todos os segmentos coletivos presentes na escola, por
acreditarmos que a partir da construção de relações diferenciadas e significativas entre
esses os vários grupos, no sentido de construirmos o processo grupal na escola, teremos
condições de efetivar transformações estruturais e qualitativas no interior da escola.
O grupo passa a ser decisivo à medida que avança no sentido de constituir-se
como processo que engendra a construção de uma comunidade, pois dessa forma poderá
permitir a cada sujeito singular, o desenvolvimento multidirecional de suas capacidades.
Quando os indivíduos veem-se distantes da possibilidade de vivenciarem e construírem
relações em comunidade, conforme afirma Heller (1977), suas oportunidades de adesão
aos valores do individualismo estarão muito mais presentes em suas vidas, e essa é uma
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séria questão a ser pensada quando se tem como finalidade à construção do processo
grupal na escola.
A comunidade, para Heller (1977, p.76), deve ser considerada a “[...] integração
decisiva para a estrutura do conjunto social e para a formação do homem singular”. Ao
se efetivar a comunidade, efetiva-se uma integração social superior, que supera por
incorporação, a organização social primária denominada grupo. No entanto, salienta a
autora que na sociedade capitalista, o homem deixou de ser um sujeito comunitário e
decorrente disso, encontramos indivíduos que passam pela vida sem sequer adquirir
consciência de classe, de pertencimento, mantendo-se presos à sua particularidade.
E importante lembrar que a sociabilidade do homem não implica diretamente
uma relação comunitária, tendo em vista que milhares e milhões de seres humanos se
constituem fora de relações comunitárias. É justamente na comunidade que o homem
singular poderá conquistar um intenso desenvolvimento de sua individualidade. Para
Heller (1977, p.45) a “[...] comunidade é um grupo ou unidade do estrato social
estruturada, organizada, com uma escala de valores relativamente homogêneos”. E isso
não implica dizer que os sujeitos devem ser iguais, agirem da mesma forma e pensarem
as mesmas coisas. Pois, homogeneização quer dizer ter condições homogêneas para os
sujeitos se desenvolverem e se constituírem sujeitos humano-genéricos, plenamente
humanizados.
Diante dessas reflexões Hellerianas, afirmamos a necessidade de pensarmos e
construirmos ações concretas e coletivas, para a efetivação de uma escola-comunidade.
Uma escola para uma sociedade igualitária, que considere as possibilidades de
construção de valores positivos, próprios de uma integração social consciente, pois
nessa condição é que o homem singular poderá avançar em seu desenvolvimento,
superar a particularidade e se tornar genérico, plenamente humanizado, porque
comunitário.
Defendemos, portanto, que os diferentes espaços coletivos, assim como os
diferentes grupos presentes na escola, precisam ser homogeneizados, a partir de um
trabalho contínuo, de reflexão e ação coletiva, no sentido de reconhecer as necessidades
individuais, os interesses coletivos, assim como as possibilidades concretas de
construção do processo grupal. Esse processo tem por finalidade consolidar a escola
numa perspectiva de comunidade, não harmônica e tão pouco adaptada, mas, sim,
homogênea e repleta de contradições, as quais devem ser continuamente trabalhadas
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pelo grupo, de forma critica e democrática, pois esse se mostra um caminho importante
para a construção de uma práxis educativa e emancipadora no interior da escola.
Pesquisar, refletir e discutir acerca da construção do processo grupal e de uma
escola-comunidade, permite um olhar rigoroso sobre as relações dentro da escola, além
de contribuir com elementos fundamentais que possibilitarão repensar a atuação
profissional junto aos sujeitos participantes desse processo, sejam eles estudantes de
licenciaturas, professores, gestores ou os pais e/ou responsáveis pelos estudantes.
Compreendemos que o espaço proporcionado no processo grupal escolar,
possibilita a apropriacão de conhecimentos, a expressão de sentimentos, a troca de
experiências e expectativas, dentre outras manifestações humanas que levam os sujeitos
da escola (estudantes, professores, gestores, pais e familiares) a se sentirem pertencentes
a essa comunidade, se sentirem verdadeiros sujeitos nesse espaço humano, social,
histórico e, em constante transformação, denominado escola.
Questão fundamental a ser pensada é que o processo grupal permite a
estruturação dos vínculos e relações entre as pessoas, além de ser um espaço em que as
necessidades individuais e os interesses coletivos podem ser expressos, analisados e
solucionados. Decorrente dessa característica que prima pela ação consciente dos
sujeitos, é que defendemos sua estruturação no interior da escola, pois, historicamente o
que temos visto na escola são grupos, agrupamentos, mas não um processo grupal.
Na mesma direção, enfatizando a construção do processo grupal como essencial
nesse movimento de transformação da escola, reiteramos a defesa por uma construção
da escola numa perspectiva de comunidade. Pois, essa organização, ao valorizar a ética
e a práxis humana em direção à construção de uma nova sociedade, calcada em
princípios e valores comunitários, em que cada sujeito possa assumir o compromisso
com o coletivo, sem perder de vista sua realização pessoal, será possível à realização do
indivíduo em consonância com a transformação da organização social.
Nesse movimento, cada sujeito participante do processo terá a viabilização de
instrumentos de luta possibilitados pelo acesso e apropriacão dos conhecimentos
humano-genéricos, assim como das experiências coletivas para se instrumentalizar. É no
movimento de apropriação dos conhecimentos historicamente acumulados pela
humanidade e no bojo das práticas sociais política e eticamente comprometidas, que se
faz avançar a consciência do homem e garantir a sua libertação/humanização.
Acreditamos ser importante à discussão sobre a viabilidade de uma escolacomunidade não apenas com os professores da escola em que desenvolvemos o Projeto
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de intervenção, mas com os professores de modo geral. Principalmente, nesse momento
histórico em decorrência do intenso desenvolvimento das forças produtivas da chamada
revolução da informação.
Nessa revolução, transfere-se para as máquinas as operações intelectuais que
eram realizadas pelos homens e qualificações intelectuais específicas tendem a
desaparecer, fato que coloca como contrapartida à possibilidade de elevação do patamar
de qualificação geral dos seres humanos, como afirma Saviani (1999). Nesse sentido, a
escola torna-se imprescindível e necessária ao processo de generalização e qualificação
da educação dos seres humanos, sobretudo, ao ser estruturada numa escola-comunidade.
E como já salientamos, a construção do processo grupal de forma continua e planejada
no interior das escolas é fundamental na construção dessa escola, para essa nova
sociedade.
Lane (1984, p.81) afirma que “[...] o significado da existência e da ação grupal
só pode ser encontrado dentro de uma perspectiva histórica que considere sua inserção
na sociedade”. Considerando as suas determinações econômicas, institucionais e
ideológicas, assim como todo o processo contraditório presente nas relações sociais,
tendo claro que um grupo para constituir-se como um processo, precisa ser reconhecido
nas suas múltiplas determinações, incluindo aí, as multideterminações que constituem
os próprios indivíduos membros do grupo, pois grupo não é uma instituição abstrata,
mas constituído por indivíduos, seres humanos em processo de formação e humanização
e, portanto, o professor e cada professor da escola são sujeitos fundamentais na
construção desse processo emancipador.
Os encontros de formação continuada com os professores na escola
Os encontros com os professores na escola ocorreram mais freqüentemente
nestes dois últimos anos, com a finalidade de engendrar esforços coletivos na direção da
construção de novas relações sociais, socialização e apropriação de conhecimentos
científicos, de experiências cotidianas, que possam imprimir no grupo o sentimento de
coletivo de valorização do seu processo de atuação na escola e seu compromisso com a
transformação da realidade escolar.
Todos os professores da escola estão participando dos encontros, os quais
acontecem quinzenalmente nos horários de HTPC (horário de trabalho pedagógico
coletivo) na escola. Participam, em média, de 20 a 25 professores, entre efetivos e
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substitutos. Temos também a participação de três gestores da escola (diretor, vicediretor e coordenador pedagógico).
Nos primeiros encontros do ano letivo, levantamos as expectativas do grupo de
professores para termos alguns temas a serem abordados, assim como ações a serem
viabilizadas para a efetivação da formação continuada visando uma relação teoriaprática-teoria sobre o trabalho docente efetivado pelo grupo de professores.
Retomamos constantemente a importância de construção do processo de grupo,
assim como os seus princípios teórico-metodológicos e a necessidade de atividades
coletivas para a transformação da escola e dos sujeitos participantes da escola.
Os temas mais apontados pelos professores estão relacionados a constituição do
processo grupal na escola, assim como temas relacionados às situações políticas e de
poder na escola, como a necessidade de consolidação de relações mais democráticas e
permeadas pelo diálogo e compreensão mutua, admitindo e respeitando as diferenças
pessoais. Bem como, a firmação especifica de cada sujeito participante da escola, dentre
outras questões relacionadas à construção de uma escola que efetivamente supere a
escola que reproduz a alienação social.
A discussão acerca do tema alienação tornou-se bastante presente nos encontros,
assim, visando à ampliação do debate, o grupo decidiu realizar leituras especificas sobre
o tema. Nós, membros do GEIPEE, ficamos encarregados de preparar uma exposição e
debate do tema junto aos professores e gestores. Essa discussão se efetivou e foi
avaliada como muito produtiva por parte dos professores, sendo que fizeram vários
questionamentos sobre o tema e quiseram outros encontros dentro da temática.
Essa temática abordada – a alienação – engendrou ricos debates acerca do
reconhecimento da escola como um espaço político, em que pesa forças políticas
conservadoras e revolucionárias. Espaço escolar esse em constante transformação, local
onde se entrecruzam e se chocam interesses diversos e antagônicos, grupos diversos e
em conflito. Buscamos, então, coletivamente compreender o espaço escolar no seu
movimento contraditório, em que cada pessoa precisa ter a liberdade de apresentar e
defender suas idéias de forma democrática. Independente do seu posicionamento
ideológico, cada sujeito participante da escola necessita ter direito a expressão e defesa
de suas idéias, as quais, obviamente, deverão ser objeto de crítica e discussão.
Entendemos que a escola, reconhecida nessa perspectiva, seria reconhecida a
partir de seu movimento dialético numa perspectiva de escola-comunidade. Nesse
sentido, é impossível termos uma escola que se constitua em um espaço de harmonia
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entre os sujeitos. Porém, certamente se constituirá como um espaço de pleno respeito
aos sujeitos que estão, também, em constante transformação. Isso nos possibilita pensar
na mudança da maneira de ser e pensar dos sujeitos a partir das discussões e ações
coletivas, pois assim se constitui um processo grupal.
Na defesa dessa proposta, procuramos sensibilizar os professores e gestores que
na escola-comunidade os vários grupos coexistem e precisam avançar na consolidação
das mesmas finalidades. Finalidades que entendemos ser a de desenvolvimento e de
humanização de cada sujeito participante da escola. Para tanto, professores e gestores
precisam refletir sobre as suas relações sociais, analisando criticamente o próprio grupo,
para, posteriormente, refletir sobre o grupo de alunos, compreendendo-os como parte
integrante e fundamental do processo grupal da escola.
É interessante enfatizar que os professores e os gestores, na sua maioria, não
realizam análises críticas sobre o seu grupo constituído no espaço escolar. No entanto,
ao se referirem ao grupo de alunos, os professores são bastante rígidos em suas falas,
fato que entendemos denotar a dissonância na construção do processo grupal na escola.
Em muitos momentos, os professores e gestores afirmam a existência de líderes
negativos e grupos de alunos indisciplinados e violentos, como se tais grupos fossem
naturais e imutáveis, cristalizados na escola, ou seja, como se os mesmos não
recebessem influência direta, sobretudo do próprio grupo de professores.
Em outros momentos de discussões na escola, os professores e gestores foram
instigados a refletir sobre a seguinte afirmação: “A escola não deve reproduzir o que
está posto na sociedade, mas sim possibilitar acesso a conteúdos humano-genéricos e
possibilitar que todos os alunos tenham as mesmas possibilidades de se apropriar desses
conteúdos”. A proposta de apresentar essa afirmação ao grupo teve por finalidade
valorizar a escola como local especial de apropriação da cultura letrada, da cultura
científica, dos conteúdos sistematizados pela humanidade (SAVIANI, 2000).
Enfatizando que pensamos e defendemos que nessa direção podemos realizar o processo
de humanização dos seres humanos numa escola-comunidade.
Como afirmamos anteriormente, a construção do processo grupal na escola é que
possibilitará essas conquistas, tendo em vista constituir-se como uma atividade voltada
à superação das dificuldades dos grupos, sem fragmentá-los. Ao contrário, buscamos
estabelecer condições teórico-práticas para que o grupo de professores e gestores tenha
condições de pensar a escola numa perspectiva de comunidade. Uma escolacomunidade que, por seus princípios, valoriza a ação humana e coletiva como caminho
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consciente de transformação da realidade social e humana, enfatizando a criação de
condições coletivas de apropriação de conteúdos essenciais para que as individualidades
sejam construídas numa direção humano-genérica na escola (DUARTE, 1993).
Para avançar na sua forma de atuação na direção de uma práxis educativa em
consonância com a construção de uma escola-comunidade, os professores e gestores
precisam se preparar para compreender que na escola os grupos precisam se relacionar,
compreender e estabelecer relações democráticas de poder (MARTINS, 2003) pois e
desta forma que será possível se pensar em emancipação no interior da escola.
Na consolidação dessa tarefa, temos discutido com os professores e gestores a
importância de cada grupo (professores, gestores, estudantes, pais) estabelecer relações
mais próximas e democráticas, no sentido de levar em conta as necessidades de cada
grupo e sujeitos do grupo. Objetivando, assim, garantir que todos tenham acesso à
produção intelectual e cultural, bem como, direito de manifestação e expressão no
interior da escola, na busca da finalidade universal de humanização de todos os sujeitos
participantes do processo. O processo grupal permite a reflexão individual e coletiva,
possibilitando que seus membros se conscientizem e formem sua identidade grupal,
estabeleçam relação intrínseca entre os interesses pessoais e o coletivo. É o espaço para
a problematização do cotidiano, para o desencadeamento de novas relações e vínculos
afetivos, para a expressão de opiniões e sentimentos, portanto, espaço vital numa
escola-comunidade (MARTINS, 2003).
Finalizando, queremos ressaltar que as reflexões apresentadas neste trabalho,
nos remetem a escola, a escola atual e sua valorização como espaço necessário de
firmação de milhares e milhões de c ranças e jovens em nosso país. Ou seja, ressaltamos
a escola como espaço diferenciado de formação da humanidade nos homens. Sobretudo,
porque é na escola que se encontram as possibilidades de apropriação de conteúdos
fundamentais, como a ciência, a filosofia, a ética, a política, as artes, a cultura corporal,
dentre outros conhecimentos humano-genéricos (DUARTE, 1993).
Salientamos que o processo grupal torna-se fundamental para este avanço e
transformação da escola, justamente no desenvolvimento e efetivação dessa escola que
chamamos escola-comunidade. Ou seja, visamos que os sujeitos participantes da escola
tenham identidade grupal, sejam comprometidos com as finalidades propostas pelo
grupo, para que possam ser sujeitos da construção e transformação qualitativa da escola.
A escola-comunidade, portanto, deve ser o espaço do processo grupal continuo e
transformador. Deve ser o local da práxis educativa, transformadora e humanizadora, na
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qual cada sujeito escolar seja respeitado na sua maneira de ser e tenha condições de
participar desse processo grupal, para ter a chance de se transformar, participando da
atividade maior presente na escola – que é atividade de desenvolvimento e humanização
de todos os seus sujeitos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DUARTE, N. A Individualidade Para-si – contribuições a uma teoria histórico-social
da formação do indivíduo. Campinas: Autores Associados, 1993.
HELLER, A. Sociologia de la vida cotidiana. Madri: Península, 1977.
LANE, S. Psicologia social: o homem em movimento. São Paulo: Melhoramentos,
1984.
MARTINS, S. T. F. Processo grupal e a questão do poder em Martín-Baró. Psicologia
&
Sociedade;
v.15,
jan./jun.2003,
p.
201-217.
Disponível
em:
<http://www.scielo.br/pdf/psoc/v15n1/v15n1a11.pdf> Acesso em: Set. 2010.
OLIVEIRA, B. O trabalho educativo. Campinas: Autores Associados, 1996.
SAVIANI, D. Escola e Democracia. São Paulo: Autores Associados, 1999.
___________. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. São Paulo:
Autores Associados, 2000.
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