IMPRESSO ESPECIAL CONTRATO N.º 050200271-9/2001 ECT/DR/RJ Sociedade Brasileira de Patologia Clínica Medicina Laboratorial nº 27 dezembro / 2006 Norma PALC 2007 tem novidades A Norma do Programa de Acreditação de Laboratórios Clínicos (PALC), da SBPC/ML, foi atualizada. A nova versão entra em vigor em 1º de janeiro. Até 30 de junho os laboratórios podem escolher por qual das duas versões querem ser acreditados: a 2007 (atualizada) ou a 2004. A partir do dia 1º de julho, será válida para as auditorias somente a versão 2007. Nesta entrevista, a diretora de Acreditação da SBPC/ML, Luisane Vieira, conta quais são as principais novidades da nova Norma do PALC. Leia a entrevista completa na página 2. Conhecendo nossos limites Muitos laboratórios sabem como controlar com precisão seu fluxo de caixa mas desconhecem sua origem. Para evitar que, mais cedo ou mais tarde, eles se vejam em uma situação financeira delicada é preciso ter informações detalhadas sobre o que acontece nos processos internos da empresa. Neste artigo, o engenheiro e consultor Nelson Beltrame mostra que não é suficiente conhecer a rentabilidade da empresa como um todo. Ele destaca a importância de saber identificar quais são os melhores clientes, os serviços mais rentáveis e os exames e equipamentos que geram maior margem de lucro. Como exemplo, o autor simula o desempenho, durante um mês, de um equipamento de imunologia de médio porte, analisa o custo de cada exame realizado em diferentes clientes e sua participação na rentabilidade do equipamento. Leia o artigo completo na página 4. Gestão Estratégica em Medicina Laboratorial - 1 Norma PALC 2007 tem novidades No dia 1º de janeiro entra em vigor a Norma 2007 do Programa de Acreditação de Laboratórios Clínicos (PALC), da SBPC/ML. A nova versão coloca o programa em conformidade com requisitos atuais de qualidade no Brasil e no exterior, como a Resolução Normativa 302/2005, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e a ISO 15.189. A Norma 2004 do nho de 2007. No períodas duas versões os laescolher por qual delas dos. A partir de 1º de ju2007 terá validade e auditorias realizadas PALC vale até 30 de judo de superposição boratórios poderão querem ser acreditalho, somente a versão será obrigatória para as após aquela data. Nesta entrevista, a da SBPC/ML, Luisane das principais novida2007 e as vantagens boratórios acreditados diretora de Acreditação Vieira, explica algumas des da Norma PALC que ela oferece aos lapelo programa. Por que a SBPC/ML versão 2004 da Norma decidiu rever a PALC? Luisane Vieira Foto: Arquivo SBPC/ML Uma das características do PALC, que o distingue positivamente de outros programas de acreditação de laboratórios, é a sua independência e gestão por profissionais do setor. Assim, sempre que fatos novos o justificarem, a norma pode ser revista com grande agilidade. O PALC foi lançado em 1998 e teve uma primeira revisão concluída em 2004. A revisão realizada neste ano teve como principais motivadores a RDC 302/2005, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e a tendência internacional de incorporação da Norma ISO 15.189 - “Laboratórios clínicos - Requisitos especiais de qualidade e competência aos programas de acreditação de laboratórios clínicos”. Quais os principais aspectos que a versão 2004 não possui e foram acrescentados na versão 2007? Luisane Vieira A versão 2007 da Norma PALC reconhece e cria normas específicas para duas novas modalidades de laboratórios clínicos recentes no mercado brasileiro. Devido à pressão por redução de custos, vários laboratórios estão se associando ou mesmo se fundindo. Com isto, há cada vez mais “laboratórios” que coletam as amostras mas não realizam, in loco, a maior parte dos exames. Criamos, então, o conceito “Unidade Captadora de Análises Laboratoriais – UCAL”. Assim, para ser acreditada pelo PALC, a UCAL precisa enviar os exames para uma unidade processadora também acreditada pelo PALC. Outro conceito criado envolve as unidades que processam análises laboratoriais provenientes de postos de coleta, por exemplo, públicos, que não são vinculados a ela diretamente. Este tipo é a “Unidade Processadora de Análises Laboratoriais – UPAL”, a qual deve informar, antes da auditoria, todos os locais de onde recebe amostras. Todos os postos de coleta poderão ser auditados, estejam legalmente vinculados à UPAL ou não. Dessa forma, respeitamos o mercado sem deixar de garantir a qualidade para os clientes dos laboratórios acreditados pelo PALC. 2 - Gestão Estratégica em Medicina Laboratorial A Norma 2007 possui itens específicos para a gestão de Testes Laboratoriais Remotos (TLR). Isso já existia na versão 2004? Luisane Vieira Não. Os TLR foram primeiramente estudados por uma Comissão da SBPC/ML, que terminou seus trabalhos em 2004, posteriormente à elaboração da versão 2004 da Norma PALC. O trabalho desta comissão serviu de base para as contribuições dadas pela SBPC/ML à Anvisa, na fase de elaboração da RDC 302/2005. Com a incorporação dos requisitos desta Resolução à norma PALC 2007, os itens referentes aos TLR, já adequados na RDC, foram incorporados com mínimas mudanças. Este é um aspecto de muita importância para os laboratórios clínicos, uma vez que se espera um enorme crescimento desses testes nas próximas décadas. Além disso, houve um reconhecimento oficial de que eles podem ser executados por pessoas treinadas, mas não podem deixar de ser supervisionados por um Responsável Técnico de laboratório, e devem obedecer a todos os princípios das Boas Práticas de Laboratório Clínico. O glossário da versão 2007 apresenta muitos termos que não existiam na versão 2004? Luisane Vieira O glossário está mais completo e educativo. Uma dificuldade que encontramos na área de gestão da qualidade foi a terminologia específica adotada, que se baseia, em geral, na língua inglesa, o que gera uma série de traduções e neologismos, às vezes de difícil compreensão pelos profissionais de laboratórios. Procuramos unir as definições de entidades reconhecidas às tradições da área laboratorial. Um exemplo é a adição do termo “análise de causa raiz” , de fundamental importância para que os profissionais dos laboratórios saibam diferenciar “ação corretiva” de “ação preventiva”. Os valores das taxas de adesão ao PALC de participação no programa foram alterados, mas também aumentou o número de vezes para pagamento parcelado. Qual é o motivo dessas alterações? Luisane Vieira É importante destacar que o PALC é um programa sem fins lucrativos e a única meta financeira da SBPC/ML em relação a ele é de que não haja déficit para a Sociedade. Há vários anos que as taxas do PALC não eram reajustadas, uma vez que a SBPC/ML é sensível às dificuldades dos laboratórios. Para evitar uma majoração das taxas do programa em 2004 foi adotada a auditoria externa bianual, da mesma forma como é feita pelo Programa de Acreditação do College of American Pathologists (CAP), dos Estados Unidos. Desta forma, com a alternância de uma auditoria interna com uma auditoria externa foi possível manter o programa sem majorar as taxas, desde então. Contudo, tornou-se imprescindível ajustá-las, a partir de janeiro de 2007, para conseguir a redução do déficit ainda gerado pelo programa. Ao mesmo tempo, foi criada a modalidade de pagamento mensal. Assim, o laboratório pode desembolsar o valor de três anos de participação no programa por meio de uma mensalidade bastante acessível, no valor de R$350,00. Por que a versão 2007 da Norma PALC alterou o ciclo de auditorias nos laboratórios que participam do programa? Luisane Vieira Quando o PALC foi criado, as auditorias externas eram anuais. Na versão 2004, elas passaram a ser bianuais, a exemplo das auditorias do CAP. Esta modalidade permite maior controle dos custos do programa, tornando os valores de participação mais acessíveis. Contudo, a Comissão de Acreditação de Laboratórios Clínicos considerou que alguns dos laboratórios participantes se ressentiram da falta de acompanhamento anual. Isto é verdade, principalmente para os laboratórios recém-acreditados. Por este motivo, foi criada a modalidade de “Acompanhamento da Auditoria Interna”. De posse do relatório de Auditoria Interna do Laboratório, o gerente técnico do PALC pode designar um auditor para comparecer ao laboratório e prestar auxílio na conclusão da Auditoria Interna e na elaboração do Plano de Ações Corretivas. Tudo isso sem custo adicional para o laboratório participante. O texto completo da Norma PALC 2007 está disponível na página “Acreditação de laboratórios”, do site da SBPC/ML (www.sbpc.org.br). Gestão Estratégica em Medicina Laboratorial - 3 Conhecendo nossos limites Nelson Bruxellas Beltrame* Você realmente conhece quais são seus melhores clientes ou quais são seus serviços mais rentáveis? Qual exame, realizado para qual cliente e em que equipamento, gera maior margem? Para responder a essas perguntas e a outras igualmente importantes desenvolvemos análises focadas em objetivos específicos, mas que nem sempre atendem a todos os nossos anseios. Agrupamos informações, desmembramos o faturamento, estudamos meticulosamente os efeitos fiscais, isolamos custos operacionais, analisamos nossos fornecedores e projetamos cenários diferenciados. Todo esse esforço tem como principal objetivo a conquista de vantagem competitiva ou, em outros termos, algo que nos faça vencer a concorrência e maximizar o lucro. Comercializamos serviços múltiplos para diferentes clientes onde os preços podem vir a ter significativas variações. Foto: divulgação Os planos e seguros de saúde, grandes fontes pagadoras de nossos serviços, impõem condições cada vez mais restritivas. Qual é o limite entre lucro e prejuízo? Até onde podemos conceder descontos ou ampliar nosso prazo de recebimento? A famigerada frase “Quem define o preço é o mercado” está levando empresas, anteriormente sólidas e lucrativas, a preocupante e perigoso estado de atenção. A maioria controla com precisão o seu fluxo de caixa, mas não necessariamente as origens do mesmo. As empresas com maior representatividade no mercado tentam resolver este problema repassando para fornecedores a pressão que recebem de seus clientes, estratégia que também tem um limite de atuação, pois depende de sua importância junto ao mesmo (poder de barganha) e da própria margem que obtém sobre suas compras. Para otimizar nossas margens necessitamos, inicialmente, aprimorar o entendimento sobre como ela é detalhadamente constituída. Podemos definir como margem sobre um serviço o montante que resulta da receita deduzida de impostos, custo de materiais, custos operacionais e demais despesas indiretas. Se quisermos comandar nosso futuro necessitamos desenvolver esforços para identificar com precisão de que forma nossas margens são formatadas e quais fatores geram nossos resultados de caixa. Quando do desempenho de nossas atividades utilizamos equipamentos. Eles também devem merecer o foco de nossas análises. Individualmente, possuem uma capacidade de execução de serviços e, como conseqüência, seus correlatos custos operacionais. Outro importante fator é o correto entendimento sobre os tributos a que estamos sujeitos e como funcionam seus mecanismos operacionais. Os tributos incidentes sobre nossa venda são basicamente o Imposto de Renda (IR), a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), PIS, Cofins e o Imposto Sobre Serviços (ISS). O IR, CSLL, PIS e Cofins são de âmbito federal e o ISS é municipal. Para cada regime de enquadramento tributário (Lucro Real Apurado ou Lucro Presumido) encontramos também um diferente modelo de aplicação sobre os mesmos. Para melhor direcionamento de nossas decisões necessitamos também identificar em cada equipamento quais são seus exames mais rentáveis e os clientes também mais rentáveis. O equipamento passa a ser entendido como uma unidade independente de geração de margem e, como tal, deve ser minuciosamente estudado. 4 - Gestão Estratégica em Medicina Laboratorial Os Custos e Despesas Indiretas devem ser isolados e separados, pois o que, na realidade, queremos é conhecer qual é a real capacidade de gerar recursos para cobri-los. Um conceito muito interessante é o da identificação da Margem Bruta de Contribuição (MBC) ou qual é o montante resultante para cobrir Custos e Despesas Operacionais. Para melhor exemplificar este conceito será desenvolvida, a seguir, a simulação, durante um mês de análise, de um equipamento de imunologia de médio porte. Será apresentada uma rotina (hipotética) de 5.850 exames, remunerados por quatro diferentes clientes – A, B, C e D – e subdivididos em sete diferentes classes – Tireóide, Fertilidade, Marcadores Tumorais, Anemias, Diabetes, Hepatite A e Hepatite B. Em cada classe apresentada encontraremos diferentes exames com diferentes preços individuais a cada cliente. O custo médio de cada exame resultante desta análise será de R$ 5,97, perfazendo, portanto, um montante de R$ 5,97/exame (para uma empresa enquadrada no regime de Lucro Presumido). O montante dos custos com o equipamento, materiais e reagentes deste quadro em análise será de R$ 34.922,23. Observando-se mais detalhadamente podemos constatar qual é a representatividade de cada cliente referente ao montante do total de exames oferecidos. Devido ao volume diferenciado de exames consumido individualmente, temos um diferente perfil de preços (poder de barganha). Cliente A: 50% do total de exames – Valor CH = 0,20 Cliente B: 30% do total de exames – Valor CH = 0,22 Cliente C: 15% do total de exames – Valor CH = 0,25 Cliente D: 5% do total de exames – Valor CH = 0,30 O preço médio de execução de um exame é de R$ 18,95. Como conseqüência, a receita total será de R$ 110.858,65. Para desenvolvermos o levantamento sobre a Margem Bruta de Contribuição necessitamos analisar a carga fiscal incidente diretamente sobre o faturamento. Como conseqüência, podemos calcular o montante da Margem Bruta de Contribuição que a operação deixa. Como pudemos observar, o equipamento gera, para uma empresa optante pelo regime de Lucro Presumido, uma massa aproximada de 55% sobre a Receita Total ou, sob outra ótica, R$ 10,37 por exame executado. É importante salientar que este não é o lucro sobre a operação pois necessitamos ainda deduzir Custos e Despesas Indiretas. Esta análise nos aponta a saúde operacional da empresa como um todo mas não nos mostra de que forma os mesmos são constituídos. Com um foco mais objetivo podemos entender cada cliente como sendo uma empresa à parte e, portanto, identificar sua representatividade diante da geração dos resultados. Para tanto, apresentamos, a seguir, um maior detalhamento através do direcionamento das análises para o foco de seus clientes. Como podemos observar, apesar do cliente A representar Gestão Estratégica em Medicina Laboratorial - 5 50% do total de exames comercializados, gera menos Margem Bruta de Contribuição do que o cliente B, que representa somente 30% do total de exames. Podemos avançar na análise compreendendo também qual é a Margem Bruta de Contribuição por classe de exame. Torna-se importante salientar a participação dos resultados dos exames de Tireóide, que representam, aproximadamente, 72% do total. Podemos também analisar como a Margem Bruta de Contribuição é formatada por Classe de Exame x Cliente. Analisando-se mais detalhadamente os dados referentes ao Cliente A (50% do total dos exames), obtemos o curioso resultado de que a maioria dos exames gera margem negativa, mas no todo o mesmo deixa-nos uma contribuição positiva. Como conclusão, podemos afirmar que não é suficiente conhecermos a rentabilidade da empresa como um todo. Necessitamos, também, detalhar sua formatação, cliente por cliente, classe de análise por classe, cliente por classe de análise, equipamento por equipamento, cliente por equipamento, exame por exame e assim por diante. Dia-a-dia a pressão tende a continuar por parte das empresas contratantes dos serviços de saúde. O que representa receita para os laboratórios de análise também representa custo por parte das mesmas. Em condições extremas necessitaremos calcular e negociar os preços de nossos serviços prestados, cliente por cliente e exame por exame. Você está preparado? O segredo é controlar e direcionar suas ações! * Sócio da Data Custos Anal. e Ger. de Sistemas, prof. da FIA, Canal Varejo, Saint Paul, Integração, Abimaq/Sindimaq, Sindipeças, Simabesp, Fecomércio, Sebrae, Ciesp e outros. www.custos.com.br 6 - Gestão Estratégica em Medicina Laboratorial Gestão Estratégica em Medicina Laboratorial Jornal da SBPC/ML - Periodicidade mensal Rua Dois de Dezembro, 78 Salas 909/910 CEP 22220-040 - Rio de Janeiro - RJ Tel. (21) 3077-1400 Fax (21) 2205-3386 [email protected] http://www.sbpc.org.br Presidente 2006/2007 Wilson Shcolnik Criação, Arte e Diagramação Design To Ltda Diretor de Comunicação Octavio Fernandes da Silva Filho Jornalista responsável Roberto Duarte - Reg. 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