UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS BÁRBARA ANDRÉA SENTO SÉ MOURA COSTA REESTRUTURAÇÃO ORGANIZACIONAL E CRIAÇÃO DE VANTAGENS COMPETITIVAS : O CASO CEMAN SALVADOR 1999 BÁRBARA ANDRÉA SENTO SÉ MOURA COSTA REESTRUTURAÇÃO ORGANIZACIONAL E CRIAÇÃO DE VANTAGENS COMPETITIVAS : O CASO CEMAN Trabalho de conclusão de curso no Curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Econômicas. Orientador: Professor Oswaldo Ferreira Guerra SALVADOR 1999 RESUMO O objetivo deste trabalho será de analisar a estratégia utilizada pela CEMAN, com o intuito de reestruturar seu modelo organizacional e ganhar competitividade. Para atingir esse objetivo, a monografia foi dividida em três partes, além da introdução e conclusão. Na primeira discute-se o conceito de competitividade, procurando-se destacar os fatores determinantes da mesma. A identificação desses fatores permite que se localize o papel que as inovações organizacionais desempenham na construção das vantagens competitivas. Na segunda parte, a CEMAN entra em cena. Sua fundação, seu crescimento no mercado, sua estrutura organizacional original e uma primeira fase de mudanças nessa estrutura, particularizando-se a gestão da qualidade, são apresentadas. Finalmente, na terceira parte, examina-se a segunda fase de mudanças na estrutura organizacional da empresa, com a adoção do modelo Orbital, e identifica-se, tomando-se como referência a discussão teórica feita na segunda parte, os principais fatores internos de competitividade. AGRADECIMENTOS Foram inúmeras as pessoas que contribuíram para que este trabalho fosse realizado e graças à preciosa ajuda destas pessoas pude alcançar o meu objetivo que era a conclusão da monografia. Em primeiro lugar, o meu agradecimento em especial a Deus por ter me dado força e perseverança, para enfrentar todos os obstáculos e acreditar que o meu objetivo não seria adiado. Aos meus pais e irmãos, o meu carinho especial por tanta compreensão e por terem me apoiado numa hora tão delicada. Para não ocorrer o risco de omissões, quero destacar o meu agradecimento ao Coordenador do Apoio Logístico da CEMAN, Newton Washington Luz de Souza Filho, que pacientemente cedeu horas de seu trabalho e todas informações necessárias para a elaboração e desenvolvimento da tese e aos verdadeiros amigos, a exemplo de Elcy, que torceram pela minha vitória. E não poderia faltar o meu agradecimento ao professor e orientador Oswaldo Ferreira Guerra que através do seu vasto conhecimento, possibilitou alcançar o objetivo do trabalho. DEDICATÓRIA Segundo o pensamento de Jeremias Callieri “A perseverança e a certeza destroem as dificuldades e tornam possível o que parecia impossível”. Através deste pensamento, quero exaltar a contribuição das pessoas e os esforços que foram concentrados para que os obstáculos fossem vencidos e o objetivo almejado se concretizasse. Portanto, dedico o resultado deste trabalho em especial a DEUS, aos meus pais, irmãos e a todos os amigos que contribuíram para a conclusão da monografia. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................7 2 COMPETITIVIDADE E ESTRUTURA ORGANIZACIONAL: ALGUNS ASPECTOS TEÓRICOS ........................................................................................9 2.1 DETERMINANTES DA COMPETITIVIDADE .....................................................9 2.2 INOVAÇÕES ORGANIZACIONAIS E COMPETITIVIDADE............................13 3 MUDANDO A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL: 1ª FASE........................16 3.1 HISTÓRICO DA EMPRESA E AS PRIMEIRAS TRANSFORMAÇÕES............16 3.2 A GESTÃO DA QUALIDADE...............................................................................22 4 MUDANDO A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL: 2ª FASE........................26 4.1 O MODELO ORBITAL...........................................................................................26 4.2 OS PRINCIPAIS FATORES INTERNOS DE COMPETITIVIDADE...................30 5 CONCLUSÃO.........................................................................................................37 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................39 ANEXOS..................................................................................................................41 7 1 INTRODUÇÃO A década de 80 caracterizou-se por ser um período de grande instabilidade na economia brasileira e de esgotamento do modelo de substituição de importações, que tinha como uma de suas principais marcas a proteção ao mercado nacional via tarifas alfandegárias. A proteção exagerada aos produtos/serviços brasileiros, gerou uma forte acomodação empresarial, inibindo iniciativas destinadas a modernizar o aparato produtivo/tecnológico, os métodos administrativos-gerenciais e as relações capital-trabalho. Isto tudo resultou num significativo atraso das empresas brasileiras, quando comparadas às suas concorrentes internacionais. A partir dos anos 90, a abertura econômica iniciada pelo Governo Collor impõe uma profunda reestruturação industrial no Brasil, beneficiando os consumidores pela maior disponibilidade de bens e serviços a menores preços e maior qualidade. Do ponto de vista empresarial, o quadro tem sido outro. Imobilizadas por décadas de proteção, as empresas são abruptamente forçadas a concorrer com empresas plenamente inseridas na trilha da Terceira Revolução Industrial e Tecnológica. Diante desse novo quadro, as empresas brasileiras trataram de reagir para não morrer. Elas passam a observar as práticas empresariais internacionais e, a partir daí, buscam formular estratégias com o objetivo de manter sua posição no mercado. Tais estratégias envolvem vários aspectos, podendo-se destacar o tecnológico/produtivo, o financeiro e o organizacional, entre outros. É neste último aspecto, o organizacional, que se situa a preocupação dessa monografia. Mais especificamente, o objetivo deste trabalho será de analisar a estratégia utilizada pela CEMAN, com o intuito de reestruturar seu modelo organizacional e ganhar competitividade. Para atingir esse objetivo, a monografia foi dividida em três partes, além da introdução e conclusão. Na primeira discute-se o conceito de competitividade, procurando-se destacar os fatores determinantes da mesma. A identificação desses fatores 8 permite que se localize o papel que as inovações organizacionais desempenham na construção das vantagens competitivas. Na segunda parte, a CEMAN entra em cena. Sua fundação, seu crescimento no mercado, sua estrutura organizacional original e uma primeira fase de mudanças nessa estrutura, particularizando-se a gestão da qualidade, são apresentadas. Finalmente, na terceira parte, examina-se a segunda fase de mudanças na estrutura organizacional da empresa, com a adoção do modelo Orbital, e identifica-se, tomando-se como referência a discussão teórica feita na segunda parte, os principais fatores internos de competitividade. 9 2 COMPETITIVIDADE E ASPECTOS TEÓRICOS ESTRUTURA ORGANIZACIONAL: ALGUNS 2.1 DETERMINANTES DA COMPETITIVIDADE No início dos anos 70, começa a emergir nos países avançados um novo paradigma de organização industrial e tecnológica, liderado pelo complexo eletrônico, envolvendo mudanças profundas nos métodos de produção, nas formas de gestão da concorrência e no relacionamento entre capital e trabalho que se convencionou chamar de Terceira Revolução Industrial. Essas mudanças e a difusão das novas tecnologias têm acelerado o processo de globalização produtiva e financeira e gerado grandes desafios para o setor empresarial, forçando setores e empresas a promoverem reestruturações. No caso das reestruturações produtivas, no âmbito industrial, observa-se, por exemplo, tanto em países em desenvolvimento quanto em países desenvolvidos, a crescente participação dos investimentos diretos externos, a multiplicação do número de fusões e aquisições, a ampliação das privatizações e o aumento de componentes importados na composição dos produtos. Neste contexto, a busca por incrementos na competitividade passou a ser um imperativo. Numa perspectiva dinâmica, ela pode ser definida como a capacidade das empresas formularem estratégias que permitam manter e/ou ampliar de forma sustentável sua posição no mercado. Assim sendo, as empresas devem ser vistas como um veículo dessa competitividade, na medida em que elas são responsáveis pela venda de bens e/ou serviços (Ferraz et alii, 1995). Para Porter (1986), o padrão de concorrência vigente no mercado no qual essas empresas atuam, irá induzir a formulação de estratégias competitivas, de modo a capacitá-las a concorrer seja em preços, esforços de vendas ou diferenciação do produto. 10 A essência da formulação de uma estratégia competitiva é o relacionamento que a companhia trata de estabelecer com o seu ambiente. Embora o meio ambiente relevante seja muito amplo, abrangendo tanto forças sociais como econômicas, o aspecto do meio ambiente mais próximo da empresa é a indústria ou as indústrias com as qual(is) ela compete. Para o autor acima mencionado, existem cinco forças competitivas que dirigem a concorrência na indústria, refletindo a base estrutural da mesma, como mostra a figura 2.1. Posteriormente, Porter (1993) acrescentou uma sexta força, o “Aparato Político Institucional”, que associa-se à influência das políticas econômicas e sociais na atividade empresarial. Ao alterarem as regras de mercado, elas impactam o desenvolvimento da empresa. FIGURA 2.1 As Forças Competitivas de Porter Fonte: Porter (1986) Conhecidas essas forças, que estratégias devem as empresas perseguirem para criar uma posição de defesa contra os concorrentes e obter maior retorno sobre os investimentos. Porter (1986) sugere três tipos de estratégias genéricas: Novos Entrantes Ameaça de novos entrantes Poder de negociação dos fornecedores Fornecedores Concorrentes na Indústria Poder de negociação dos compradores Ameaça de substitutos Substitutos Compradores 11 • Liderança em Custo Seria caracterizada por um controle rígido dos custos e despesas gerais, sem comprometer os gastos em áreas como qualidade, publicidade, P&D, força de vendas, assistência técnica etc. Uma posição de baixo custo defende a empresa da rivalidade dos concorrentes, de compradores e fornecedores poderosos, proporciona barreiras à entrada e, em geral, coloca a empresa numa posição favorável em relação aos produtos substitutos. Em suma, um baixo custo daria uma posição confortável à empresa em termos das cincos forças competitivas listadas na figura 2.1. Todavia, um líder em custo não pode ignorar as bases da diferenciação. Se o seu produto não é considerado comparável ou aceitável pelos compradores, um líder de custos será forçado a reduzir os preços bem abaixo dos concorrentes, anulando os benefícios de sua posição de custo favorável (Porter, 1986, p.11). •Diferenciação Nesta segunda estratégia, a empresa busca diferenciar um produto ou serviço, criando algo que seja exclusivo no âmbito de toda a indústria. A diferenciação pode apoiar-se na tecnologia, nos serviços sob encomendas, na rede de fornecedores, no marketing, nas características do próprio produto, entre outros. Vale ressaltar que tal estratégia não permite à empresa desprezar os custos, mesmo que este não seja seu alvo estratégico primário. Esta estratégia resultará num desempenho superior, quando a empresa consegue criar um valor superior a seus custos. A sustentabilidade da diferenciação vai depender do valor percebido permanentemente pelos compradores e a falta de imitação dos concorrentes. 12 •Enfoque Esta estratégia é bem distinta das outras por se basear na escolha feita pela empresa de uma forma mais estreita de atuação dentro de uma indústria. A estratégia de enfoque tem como finalidade atender clientes estratégicos de forma mais efetiva ou eficiente do que os concorrentes que estão competindo de forma mais ampla. A empresa que desenvolve com sucesso esta estratégia pode obter retornos acima da média na sua indústria. Idealmente, uma empresa deveria ter alvos estratégicos, baixo custo e buscar se diferenciar. Entretanto, em geral, uma empresa deve escolher uma das estratégias, pois é inconsistente conseguir liderança no custo e diferenciação simultaneamente, já que cada estratégia exige um método fundamentalmente diferente para que tal vantagem competitiva seja criada e sustentada (Porter, 1990, p.20). Nesta visão de Porter, a competitividade é, portanto, função da adequação das estratégias empresariais ao padrão de concorrência vigente no mercado específico, sendo este padrão influenciado por características estruturais e comportamentais do ambiente competitivo da empresa, sejam referentes ao seu setor ou mercado de atuação, sejam relacionadas ao próprio sistema econômico. Deve estar claro que, apesar da empresa ser o veículo da competitividade, a criação de vantagens competitivas não depende apenas dela. É preciso levar em conta tanto os fatores internos à empresa e à indústria quanto às condições vigentes no espaço nacional no qual ela atua. Ferraz et alii (1995) fazem referência a três grupos determinantes da competitividade. 13 Os determinantes empresariais associam-se a fatores sobre os quais a empresa detém poder de decisão. Eles podem ser agrupados em quatro áreas de competência: 1 gestão, cuja tarefa central é adequar as estratégias ao padrão de concorrência relevante para a empresa. No atual modelo de gestão empresarial, constata-se, por exemplo, a redução de níveis hierárquicos envolvidos nos processos decisórios, maior delegação de poderes e o estabelecimento de novas relações entre fornecedores; 2 inovação, que visa capturar mercados pela introdução de novos produtos e processos ou produzir com o máximo aproveitamento físico dos insumos, com objetivo de competir em preços. Nesta área, as atividades de P&D e as alianças tecnológicas tem sido muito utilizadas; 3 produção, na qual prioriza-se a qualidade, flexibilidade, racionalização dos custos de produção e rapidez de entrega; 4 recursos humanos, cuja finalidade principal é definir e implementar princípios de organização e operação de processos de trabalho para a melhoria contínua da qualidade do produto e dos métodos de fabricação. Nas grandes empresas, constata-se um novo padrão nas relações de trabalho, no qual os funcionários têm uma participação nos processos decisórios, estabilidade e compartilhamento dos ganhos no aumento da eficiência. Para este novo tipo de relacionamento entre empresas e trabalhadores faz-se necessário investimentos em treinamentos de toda a força de trabalho, a fim de que haja um conhecimento maior de todo o processo produtivo. Os determinantes estruturais são relacionados à indústria na qual a empresa atua, sendo sua capacidade de intervenção limitada pelo processo de concorrência, estando parcialmente sob sua influência. Como exemplo de fatores estruturais pode-se citar: 14 o mercado. A incorporação de novos atributos nos produtos antigos e a intensificação de lançamentos de novos produtos dinamizam mercados que apresentam saturação e estimulam os investimentos em equipamentos e métodos de produção que propiciam o crescimento sustentado da produtividade industrial. A atuação no mercado internacional é um outro fator estrutural que põe a empresa em contato com uma clientela mais variada, em geral, com elevados níveis de exigência, favorecendo processos de aprendizado e ampliando a capacidade de ajustamento às transformações do mercado de consumo; a configuração da indústria. As mudanças nos padrões de concorrência provocaram ajustes nas configurações industriais. Nos anos 90, elas mostram-se mais enxutas e mais integradas em termos de linhas de produtos do que no passado. Nos setores de menor intensidade de capital, houve a formação de redes cooperativas horizontais, propiciando uma melhor divisão do trabalho, maior eficiência empresarial ou a disponibilização de recursos para pesquisas tecnológicas; o regime de incentivos e regulação de concorrência. Os incentivos têm como finalidade aumentar a capacidade de resposta das empresas aos desafios impostos pela economia e as regulações buscam condicionar suas condutas em direções socialmente desejáveis. Já os determinantes sistêmicos dizem respeito ao ambiente do país. Os fatores a ele associados são externalidades para as empresas. Os aspectos macroeconômicos, as políticas institucionais, os aparatos legais-regulatórios e as condições infra-estruturais, sociais e internacionais são exemplos de determinantes sistêmicos. Traçado essa quadro geral, pretende-se, em seguida, analisar o papel das inovações organizacionais na construção de vantagens competitivas. 2.2 INOVAÇÕES ORGANIZACIONAIS E COMPETITIVIDADE 15 Como mencionado anteriormente, o avanço da Terceira Revolução Industrial tem imposto mudanças organizacionais profundas no interior das firmas. Essas mudanças, quando exitosas, propiciam um incremento da competitividade das firmas pioneiras forçando as demais a seguí-las. Tais mudanças inserem-se na dimensão empresarial da competitividade, equivalendo a dizer que as empresas têm poder total de decisão sobre as variáveis organizacionais. As empresas dos países centrais têm, desde o início da década de 70, adotado estruturas organizacionais onde salientam-se a descentralização do processo decisório, a redução de níveis hierárquicos e um maior grau de comunicação horizontal, tornando obsoletas as organizações fortemente verticalizadas e hierarquizadas. Com a perda de competitividade das organizações empresariais baseadas em hierarquias verticais rígidas, novas formas de estruturação das cadeias de comando e de incorporação de mão-de-obra à produção vêm se tornando dominantes em empresas bem sucedidas (Ferraz et alii,1995). No novo formato organizacional, a redução de níveis hierárquicos permite uma maior participação dos trabalhadores nos desafios competitivos, minimizando perdas de tempo que ocorrem entre a decisão e ação. Prevalece a multifuncionalidade, havendo uma necessidade de conhecimento de todo processo produtivo. Neste contexto, é importante o treinamento intensivo de toda força de trabalho, para que ela possa ter uma maior participação nos processos decisórios, gerando uma maior eficiência de produção. No que se refere às informações horizontais, a microeletrônica permite um aumento intenso do fluxo informativo, viabilizando respostas mais velozes e adequadas às necessidades competitivas e estreitando às relações entre cliente e fornecedores. “Crescem as interações, envolvendo mercadorias e tecnologias, exigindo que a empresa atue como um elo, em uma vasta rede de relações, envolvendo fornecedores e cliente: o que se faz internamente às empresas, o que e como adquirir, o que e como vender, são decisões cada vez mais formadas em parcerias com fornecedores e clientes” (Ferraz et alii,1995, p.15). 16 Para os autores acima, as inovações organizacionais podem ser agrupadas em três conjuntos: 1 métodos de economia de tempo e de materiais e estoque como Just-in-Time e Kanban. O Just-in-Time é uma técnica de produção que tem como finalidade reduzir os estoques a níveis próximo de zero, minimizando a necessidade de espaço físico para armazenagem de materiais nas diversas etapas de produção. O Kanban é uma técnica de administração de estoques que tem como meta produzir de acordo com a demanda de mercado; 2 métodos de organização do processo de trabalho como Círculo de Controle da Qualidade(CCQ). O Círculo de Controle de Qualidade consiste em corrigir os problemas na fabricação do produto, para a melhoria da sua qualidade. São formados pequenos grupos para ler e discutir os programas de produtividade e qualidade da empresa; 3 métodos de Gestão da Qualidade com controle de Qualidade Total(GQT). Este método tem como finalidade a integração do desenvolvimento e a manutenção da qualidade, permitindo produtos e serviços de boa qualidade, preço justo, tempo exigido, levando em conta a satisfação total do cliente. Neste processo de nova configuração organizacional, deve-se o enxugamento da estrutura administrativa com a consequente redução de custos fixos, o estreitamento das relações entre a empresa, seus fornecedores e clientes, estimulando padrões estáveis de relacionamento, e as alianças estratégicas entre empresas concorrentes. 17 Diante dessas tendências, e considerando o cenário de abertura econômica imposto às empresas brasileiras a partir dos anos 90, cabe agora examinar as transformações realizadas na CEMAN. Inicialmente, no próximo capítulo o foco dirigi-se para as primeiras alterações na estrutura organizacional original, com o intuito de identificar os problemas que exigiram novas mudanças na mesma. 3 MUDANDO A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL: 1ª FASE 3.1 HISTÓRICO DA EMPRESA E AS PRIMEIRAS TRANSFORMAÇÕES A Central de Manutenção Ltda (CEMAN), fundada em 15 de Abril de 1974, foi constituída a partir do núcleo de divisão de engenharia de manutenção (DIMAN) da antiga Petrofértil, atual Nitrofértil, para atender aos serviços de manutenção do Pólo Petroquímico de Camaçari, considerando-se a necessidade da época de se contar com uma estrutura de apoio para atender às diversas unidades industriais. Desde sua fundação, até 1985, a empresa se comportou, fundamentalmente, como uma alocadora de pessoal e recuperadora de equipamentos. A remuneração paga baseava-se nas horas trabalhadas. Nesta fase, a atividade comercial era bastante tímida, não existia grandes preocupações com a produtividade, nem havia um comprometimento dos seus empregados com os trabalhos desenvolvidos, inclusive porque a linha de serviços da empresa não era bem definida. Esses serviços eram prestados de duas formas: recuperação 18 de equipamentos nas suas oficinas e atuação de grupos de atendimento imediato nas unidades industriais. A grande instabilidade econômica da década de 80, cuja marca maior era a disparada inflacionária, passou a exigir das empresas em geral, uma redefinição dos seus negócios. É neste contexto que a CEMAN, em 1985, implanta o seu primeiro Planejamento Estratégico, cujo objetivo principal era expandir seus contratos a nível nacional. A partir de 1986, a linha de serviços passou a ser melhor definida, conforme mostra o quadro 3.1, sendo criado o serviço de execução voltado para atuar nas grandes paradas de manutenção das plantas petroquímicas, que duravam de cinco a vinte dias. A empresa adotou recursos tecnológicos de ponta, que resultaram no aumento do seu faturamento1 (45 milhões de dólares em 1986) e na ampliação da oferta de serviços. A remuneração paga deixou de ser baseada na hora trabalhada, passando a ter preços pré-estabelecidos. Apesar desses avanços, constatava-se um inchamento da estrutura da empresa, um quadro de pessoal muito numeroso2, de 2,5 mil a 3 mil empregados, e uma escassa agilidade decisória. Ficava evidente, assim, a necessidade da empresa adaptar sua estrutura organizacional a nova realidade. QUADRO 3.1 Linha de Serviços da CEMAN Denominação 1 2 Dossiê Interno CEMAN (1987). Dossiê Interno CEMAN (1987). Descrição Básica Prazo dos serviços 19 Aluguel de diversos equipamentos Locação de Equipamentos e e também fornecimento de mãoMão-de-Obra (SEM) Não é definido de-obra. Comercialização de materiais,3 Serviços Integrados Campo e manutenção preventiva e corretiva Oficina (SIC) de equipamentos na área dos clientes CEMAN Não é definido e/ou nas oficinas da e fabricação e recuperação de equipamentos. Inspeção de equipamentos Serviços de Engenharia e de e engenharia, incluindo elaboração Inspeção (SEI) de procedimentos de engenharia de Não é definido manutenção e assistência técnica. Planejamento, Serviços de Parada (SEP) programação e execução de trabalhos nas plantas Não é definido industriais dos clientes. Fonte:CEMAN(1986) Neste mesmo ano, a empresa tratou de inserir a qualidade na sua cultura organizacional, lançando o documento “A IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE – REQUISITOS PARA A MUDANÇA”. Com ele, buscava-se adotar um novo modelo de gestão, voltado para a qualidade na execução dos trabalhos, que resultou na implementação do Programa de Garantia de Qualidade (PGQ), cuja finalidade era atingir os seguintes objetivos: fornecer serviços que atendessem as especificações dos clientes; disseminar entre seus empregados o comprometimento com os propósitos e metas da empresa; e utilizar tecnologia adequada, que pudesse garantir os serviços realizados e consolidar a empresa como prestadora de serviços especializados de manutenção. 3 Naquela época, a CEMAN comercializava materiais e demais componentes para as empresas do Polo Petroquímico de Camaçari, tendo um almoxarifado com cerca de 45 mil itens. 20 À esta época, a área de Recursos Humanos da CEMAN ainda não tinha uma política com procedimentos definidos de administração de pessoal, em função de sua visão ser restrita aos serviços prestados. A preocupação com a qualidade era descasada do treinamento dos empregados, treinamento esse que só existia para engenheiros, chefes e supervisores. Os demais aprendiam com a prática. Criou-se, assim, o Programa de Qualificação Pessoal (PQP) com intuito de treinar e certificar o empregado com um diploma de qualificação. Com essas mudanças, a CEMAN começa, a partir de 1987, a expandir sua linha de atuação para todo o país. Sua estrutura organizacional passa a contar com duas diretorias (Nordeste e Sudeste), destinadas a agilizar decisões, estar mais próximo do atendimento e pesquisar permanentemente o mercado, de modo a direcionar a atuação da empresa para outros segmentos como petroquímica, petróleo, celulose, metalurgia, siderurgia, fertilizantes, energia elétrica, cimento, bebidas e alimentos, passaram a ser atendidos. Em consequência, no período de 1986-1989, cresce o número de contratos firmados nacionalmente pela empresa (figura 3.1). FIGURA 3.1 21 A Atuação Nacional da CEMAN CEMAN CEMAN CEMAN CEMAN CEMAN CEMAN CEMAN CEMAN CONTRATOS CEMAN Rio Grande do Sul Santa Catarina São Paulo Rio de Janeiro Minas Gerais Bahia Pernambuco Pará Esse conjunto de transformações fez também que, a partir de 1990, a sua linha de serviços sofresse grandes modificações. Ela passou a ser classificada por prazo de serviços, conforme mostra o quadro3.2. 22 QUADRO 3.2 Nova Linha de Serviços da CEMAN Denominação Descrição Gerenciamento Global de A Manutenção – GGM CEMAN assume responsabilidade Prazo dos serviços total gerencial Longo Prazo e operacional da planta industrial do cliente. Serviços Integrados Manutenção – SIM de Assume parte responsabilidade gerencial da Longo Prazo e operacional de uma ou mais especialidade do cliente. FONTE: CEMAN (1990) Em 1991, com a abertura econômica iniciada no governo Collor, a CEMAN começa a perder mercado, em função da concorrência internacional que passa a oferecer serviços a custos menores que os praticados pela empresa. Para se defender desta concorrência, ela criou os Serviços Convencionais de Manutenção (SCM), compreendendo trabalhos de campo e de oficina, executados por equipes da empresa, para responder mais rapidamente aos desafios do mercado nos serviços de curto prazo, bem como para disponibilizar soluções dos problemas de equipamentos e sistemas. Estas equipes, conhecidas pelo nome de Pequenos Empreendedores (PE’s), passam a ter autonomia gerencial para tomar qualquer decisão inerente aos serviços prestados e negociar com os clientes. 23 Essas equipes, atuando nacionalmente, passaram a comercializar serviços com alto grau de especialidade em manutenção industrial (mecânica, elétrica, caldeiraria, instrumentação e demais atividades complementares). Onze marcas próprias foram criadas pelos PE’s, que as registraram no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), como observa-se no quadro 3.3. QUADRO 3.3 Marcas dos PE’s MARCAS TIPO DE SERVIÇO CALTEQ caldeiraria, tubulações e soldagem CEMAC Levantamento e movimentação de carga CEPAR CERVAL Paradas de Manutenção Manutenção de válvulas e reparo vazamentos em operação ELETROMAG Eletricidade e termovisão HIDROJATO SPECTRUM Limpeza com água e alta pressão Instrumentação, válvulas de controle e metrologia Balanceamento dinâmico e análise de vibrações TURBOMEC Manutenção de máquinas rotativas USICAMPO Usinagem de campo USIMAN Usinagem de oficina INSMEQ FONTE: CEMAN (1991) de 24 Em função dessa nova linha de serviços, a CEMAN passou a ter uma maior participação no mercado de manutenção. Seu faturamento4 triplicou5 no ano de 1993 (US$135 milhões), em relação a 1986 (US$45 milhões), fazendo com que ela ganhasse posições no ranking nacional das maiores empresas (quadro 3.4). QUADRO 3.4 Posição da CEMAN entre as Maiores Empresas do País por Faturamento6 ANO POSIÇÃO 1990 327ª POSIÇÃO 1991 329ª POSIÇÃO 1992 288ª POSIÇÃO Fonte :Exame (1993) 3.2 A GESTÃO DA QUALIDADE O conjunto de modificações expostas no item anterior carecia de uma visão de qualidade mais abrangente, englobando desde o plano de negócio até às operações de rotina. Em vista disto, adotou-se um Programa de Gestão da Qualidade Total (GTQ), conforme mostra a figura 3.2, no qual definiu-se cinco funções estratégicas, que foram desdobradas em objetivos a serem perseguidos pela empresa: 1 Comprometer o indivíduo com a empresa, estimulando a sua participação no desenvolvimento de relações de qualidade entre as pessoas no ambiente de trabalho; 4 Dossiê CEMAN(1993). Conforme anexo II dos Balanços. Baseou-se no dólar 1986 (US$=14,57 Cruzados), 1993 (US$=73,48 Cruzeiros Reais). 6 Vê balanços de 1990, 1991 e 1992 no anexo II. 5 25 2 Buscar o desenvolvimento do serviço, a inovação tecnológica e a uniformização dos padrões; 3 desenvolver e aperfeiçoar a relação produto x mercado; 4 gerenciar de forma eficaz os recursos, revelando a composição dos custos; 5 melhorar a qualidade de comunicação da empresa e adequá-la do ponto de vista organizacional, a padrões internacionais. Além desse conjunto de funções que fazem parte do gerenciamento estratégico, buscou-se aliar a rotina, o dia a dia da empresa, à visão estratégica, união essa que denominou-se de gerenciamento de rotina. Através dos itens de controle, acompanha-se a evolução de cada área da empresa, sendo, basicamente, esta a cultura que se consolidou na CEMAN. Já o gerenciamento estratégico, que se move pela busca de objetivos por toda empresa, impulsiona o seu crescimento para o futuro. Nesse primeiro conjunto de mudanças, iniciado em 1986, buscou-se adaptar a CEMAN às novas exigências dos clientes, fazendo-a crescer no mercado nacional. Apesar disto, sua estrutura organizacional ainda continuava bastante complexa, como pode ser visto no anexo 1. Na ausência de uma estrutura mais ágil, o GTQ ficava inviabilizado. Essa estrutura pesada era composta por divisões de coordenação e formada por níveis hierárquicos, que iam do engenheiro até o auxiliar de serviços gerais, conforme anexo 1. Ademais, ela possuía muitos níveis hierárquicos, sendo que as decisões eram centralizadas nas gerências, resultando numa velocidade de resposta muito lenta, baixo nível de comunicação e de relações interpessoais e perda de competitividade. Tal configuração, que podia ser eficaz numa estrutura estabilizada, mostrava-se totalmente ineficaz em uma realidade de mercado muito instável. A dificuldade das informações fluírem, por exemplo, produzia uma grande distância na relação decisão x ação e inviabilizava que um dos 26 objetivos básicos, o comprometimento dos empregados com os propósitos da empresa, fosse atingido. 27 Tomando como referência duas tendências internacionais expostas no capítulo 2(redução dos níveis hierárquicos envolvidos no processo decisório e maior delegação de poderes), pode-se dizer que a CEMAN seguia no sentido contrário. A solução encontrada foi realizar uma segunda etapa de reestruturação. 28 4 MUDANDO A ESTRUTURAÇÃO ORGANIZACIONAL: 2ª FASE 4.1 O MODELO ORBITAL No início de 1994, a CEMAN passa a adotar uma nova estrutura organizacional, denominada de modelo Orbital, conforme mostra a figura 4.1. Neste modelo, os antigos departamentos gerenciais foram substituídos por coordenações dotadas de uma autonomia gerencial quase total. Cada processo, seja ele na área de apoio, administrativa, financeira ou operacional (oficinas) é constituído internamente de um coordenador, supervisores e equipes de trabalho ao nível de execução. Esses processos estão localizados em órbitas, conforme mostra a figura 4.2. Esta nova configuração exigiu uma modificação nas visões rígidas ou limitadas de autonomia, bem como no sistema de incentivos e nas funções dos coordenadores, supervisores e grupos de executantes. As órbitas se distribuem em torno da alta administração, denominada Mesa 1. Esta por sua vez é constituída pela Diretoria e pelo grupo de orientadores, responsáveis por direcionar os objetivos de cada processo, em alinhamento com as decisões estratégicas. Todos os processos corporativos estratégicos são orientados pela diretoria como forma de reforçar a necessidade de se uniformizar os padrões empresariais em todas as áreas da empresas. 29 Essa nova configuração possibilitou diversos ganhos como: redução dos níveis hierárquicos e de custos fixos; maior flexibilidade na tomada de decisões e agilidade nas ações de natureza gerencial, garantindo maior velocidade de resposta; aproximação dos clientes; melhor fluxo de informações, permitindo uma comunicação mais direta e mais precisa; maior autonomia e, consequentemente, maior desenvolvimento do componente gerencial. Além desses benefícios, a nova estrutura organizacional procurou estimular ainda mais o desenvolvimento das habilidades dos empregados. Para dar suporte a este objetivo foi criado o Plano de Carreira e Remuneração por Habilidades (PCRH), cujo foco deixa de ser a função/cargo passando a ser o conhecimento profissional, já que os empregados passaram a ter uma participação nos processos decisórios, que ia além de seu cargo. Assim sendo, a remuneração paga passa a ser, de acordo com o número de habilidades desenvolvidas pelos empregados. Isto os motiva a buscar maior conhecimento e capacitação técnica através de treinamento, resultando numa maior produtividade para a empresa e num fortalecimento da sua competitividade, como se verá a seguir. 30 31 32 4.2 OS PRINCIPAIS FATORES INTERNOS DE COMPETITIVIDADE Como visto na parte teórica dessa monografia, os fatores determinantes podem ser reunidos em três grandes grupos: empresariais ou internos, estruturais e sistêmicos. Na dimensão empresarial, a educação e o treinamento são cada vez mais vistos como fatores cruciais para o incremento da competitividade, sendo os investimentos nesta área, uma exigência para o bom desempenho das atividades e para que o trabalhador possa atingir a tão perseguida multifuncionalidade. Por conta disto, a área de Recursos Humanos das grandes empresas tem grande relevância devido ao seu papel na determinação das qualificações e da motivação dos empregados e do treinamento. Nessas empresas, ela torna-se decisiva para obtenção de vantagem competitiva. 33 A CEMAN não fugiu à esta regra, quando passou a adotar uma política de Recursos Humanos voltada para o treinamento dos empregados, que passavam a atuar de forma mais ativa nos processos decisórios, já que os níveis de produtividade e a qualidade dos serviços dependem fortemente da educação e qualificação da mão-de-obra. Para tanto, os seguintes programas de treinamento, englobando desde aspectos técnicos/operacionais até o desenvolvimento gerencial, foram montados: 1 o Programa de Educação Empresarial Continuada (PEEC), voltado para o desenvolvimento gerencial, estabeleceu um convênio com a Universidade Federal da Bahia, que responsabilizou-se por ministrar cursos de especialização; 2 o Programa de Desenvolvimento de Supervisores (PDES): eliminou-se níveis hierárquicos, fazendo que o supervisor além de suas funções de rotina, assumisse o papel de orientador/treinador de sua equipe de trabalho, que fica responsável pela solução de problemas e a obtenção de níveis crescentes de produtividade; 3 o Programa de Qualificação de Pessoal (PQP), direcionado para a capacitação, qualificação e reciclagem a nível de execução, apresentou os resultados expostos no quadro 4.1; QUADRO 4.1 Resultado do Programa de Qualificação de Pessoal (PQP) ANO TOTAL DE CURSOS HOMEM HORA TREINADO 1988 58 31.953 1989 60 27.756 34 1990 62 29.980 1991 149 75.700 1992 88 37.644 1993 67 23.251 Fonte: CEMAN (1994) 4 o Plano Diretor de Segurança (PDS) foi criado em função do tipo de serviço desenvolvido pela empresa, com o objetivo de identificar e mensurar os riscos, implementando medidas que os reduzisse ao mínimo. Ele pode ser melhor compreendido através da observação do quadro abaixo. QUADRO 4.2 Plano Diretor de Segurança LINHA DE AÇÃO ATIVIDADES PREVENCIONISTAS APLICAÇÃO Por todos os empregados da Controle de Riscos ART – Análise de Risco de Tarefa empresa. OPAI – Observação Planejada de Atos Pela coordenação e supervisão Inseguros nas atividades de execução. Por todos os empregados da 35 DDS – Diálogo Diário de Segurança Conscientização empresa. Pela coordenação e supervisão RS – Reunião de Segurança de todas atividades. Pela coordenação e execução de TS – Treinamento de Segurança todas as atividades. Pela coordenação e supervisão Controle de Acidentes e CA – Controle de Acidentes de todas as atividades. Incidentes Por todos os empregados e ROI – Relatório de ocorrência de Incidentes supervisão nas atividades de execução. Por todos os empregados e Eliminação de Condições AP – Alerta Preventivo (Controle de Supervisão nas atividades de Inseguras condições Inseguras) execução. Fonte: PDS DA CEMAN(1994) 5 o Programa de Complementação Escolar (PCE), foi desenvolvido para todos empregados que ainda não possuíssem o segundo grau completo; 6 o Programa de Microinformática (PMI) foi implementado para ministrar cursos desta natureza, de modo a capacitar o trabalhador na função de processar e transmitir informações; 7 o Programa de Autodesenvolvimento (PAD), cujo objetivo é incentivar o trabalhador a buscar, por conta própria, novos aprendizados, seja a nível técnico ou universitário. O gráfico abaixo ilustra o percentual de horas/homens dos projetos acima listados e de outros existentes na empresa. 36 GRÁFICO 4.1 % DE H/h P O R P RO JET O DE T REINAM ENT O PA D 17% TREX 9% PMI 9% PDS 13% PDES 3% GTQ 9% TRIN 21% PEEC 3% PQP 16% FONTE:CEMAN(1996) Além do treinamento, a CEMAN criou, como um incentivo à produtividade, uma Política de Remuneração, que garantia: a Participação no Resultado(PR); revisão salarial para corrigir as defasagens internas (da equipe) ou externa (em relação ao mercado); Plano de Carreira e Remuneração por Habilidades(PCRH); e aumento por mérito, visando estimular e recompensar o desempenho dos empregados. O gráfico 4.2 ilustra a evolução do sistema de remuneração e reconhecimento. 37 N.º DE EMPREGADOS N.º DE EMPREGADOS RECONHECIDOS COM AUMENTO POR MÉRITO E REVISÕES SALARIAIS 1800 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 1658 1510 1196 1036 93 94 95 96 ANOS GRÁFICO 4.2 FONTE:CEMAN(1996) Ainda com relação à mão-de-obra, a nova estrutura hierárquica mais horizontalizada proporcionou um estreitamento nas relações entre os empregados e seus líderes, possibilitando uma maior comunicação e agilidade decisória. Com isto, tornou-se mais fácil para o empregado emitir opiniões a respeito do processo de trabalho e da sua satisfação com relação à empresa. Não se pode deixar de mencionar a relevância dos programas participativos (5S, Células de Qualidade e Programa de Sugestões), que não somente contribuíram para melhorar o ambiente de trabalho, mas possibilitaram o desenvolvimento do trabalho em equipe, resultando num sentimento de coresponsabilidade entre os empregados e melhorias contínuas no processo de trabalho. 38 No que concerne aos processos de inovação, buscou-se criar novos serviços e novas oportunidades de negócio, com objetivo de competir em preços. Para alcançá-lo, a estratégia adotada foi formar alianças com empresas estrangeiras líderes em sua área. Com isto foi possível criar serviços realizados em relação a concorrência, promover melhoria contínua nos processos, inserir em mercados internacionais e atuar em novos segmentos. Como exemplo de alianças tem-se: Dresser Rand (EUA), Fluor Daniel (EUA), Rayteon (EUA) e SFPE (França). Além disso, essas alianças promoveram também a atualização de equipamentos a base da microeletrônica, possibilitando à CEMAN enfrentar o aumento da complexidade tecnológica e dos custos de atividades de pesquisa. Igualmente importante foi o estreitamento das relações com fornecedores e clientes. Isto resultou ganhos consideráveis, como por exemplo: troca de informações sobre a qualidade e desempenho dos produtos adquiridos; estabelecimento de relações comerciais de longo prazo com fornecedores; efetivação de compras com fornecedores cadastrados pela empresa, que satisfaçam as condições de menores preços, menores prazos de entrega e maior conformidade às especificações, minimizando, assim, o estoque de compras. Além de todos esses pontos positivos, essa maior proximidade garantiu à CEMAN a conquista do Prêmio Petrobrás em 1992 e 1996, bem como a certificação pelas normas de procedimento da ISO 9002, certificação essa que é fundamental para uma empresa que atua no mercado internacional, expondo-se a uma clientela mais exigente e um maior número de concorrentes. É nesse ponto, sua exposição internacional que localiza-se um problema grave que se defronta a CEMAN: a falta de um departamento específico de marketing e vendas, isto dificulta, muitas vezes, a aquisição de novos negócios pela falta de divulgação dos valores agregados nos preços dos serviços, resultando na perda de competitividade. De fato, a empresa carece de uma área que empenhe maiores esforços na divulgação dos elementos diferenciadores embutidos em seus serviços, tornando-os singular aos olhos dos clientes. 39 Concluindo esse item, pode-se dizer que a CEMAN trabalhou intensamente com alguns determinantes de competitividade que reforçaram/ampliaram sua posição no mercado, cabendo destacar o investimento em treinamento e em incentivos ao trabalhador que são a base para o crescimento da organização através do desenvolvimento do potencial humano, as novas formas de relações com clientes e fornecedores e a formação de alianças estratégicas, visando a conquista de novos mercados e atualizações tecnológicas. Em termos de fragilidade competitiva, pode-se apontar a pobre divulgação dos valores agregados nos preços dos serviços, no processo de negociação com os clientes. A superação desse obstáculo, por parte da CEMAN, poderá estimular a obtenção de novos negócios. 40 5 CONCLUSÃO Como se sabe, são múltiplos os desafios a serem enfrentados pelas empresas atualmente, desafios esses cada vez mais complexos, pois as mudanças tecnológicas, organizacionais e nas formas de concorrência ocorrem numa velocidade fantástica. É cada vez mais claro a importância da aquisição de novos conhecimentos, seja através de relações de cooperação entre empresas (alianças estratégicas) ou investimento em treinamento, e a orientação para o mercado, através da construção de relacionamentos fortes com fornecedores e clientes. Essas novas tarefas têm, usualmente, exigido profundas mudanças organizacionais, que passam pela diminuição de níveis hierárquicos e por uma redivisão das tarefas, implicando num maior comprometimento dos empregados e numa maior agilidade nos processos decisórios. Essas mudanças e esses resultados foram observados na CEMAN. Ela foi uma empresa que se expandiu no mercado, passando a operar em várias partes do país. Com o seu crescimento e a transformação do ambiente competitivo, era impossível manter seu modelo organizacional original, complexo, cheio de níveis hierárquicos, emperrando a comunicação, as relações interpessoais, e distanciando decisão e ação. Em vista disto, ela iniciou uma série de transformações na sua estrutura organizacional. Como apresentado, a partir dessas transformações tornou-se possível uma maior velocidade de resposta às exigências dos clientes, estreitou-se as relações com fornecedores e clientes e formou-se alianças estratégicas com empresas líderes no seu mercado de atuação, facilitando a atualização da empresa. Adicionalmente, novas relações 41 de trabalho foram estimuladas com o novo modelo, que reforçou também a necessidade do investimento em treinamento e a adoção de um sistema de incentivos aos empregados. Em que pese esses avanços, que permitiram a CEMAN criar um diferencial em relação aos seus concorrentes, por priorizar a qualidade, a segurança nos serviços, e o atendimento ao cliente, que fazem parte do valor agregado de seus preços dos serviços, a empresa carece de uma estratégia de marketing mais agressiva, direcionada para a divulgação dos valores agregados nos seus serviços. Com isto, novos negócios poderiam ser obtidos, garantindolhe uma maior inserção no mercado. 42 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS CAMPOS, Vicente Falcone. Controle da qualidade total (No Estilo Japonês). Rio de Janeiro: Bloch Editores, 1992. COUTINHO, Luciano, FERRAZ, João Carlos. Estudo da competitividade da indústria brasileira. São Paulo: Papirus, 1994. DRUCKER, Peter F. Administrando em tempos de grandes mudanças. São Paulo: Pioneira, 1995. DRUMOND, Regina. Qualidade total – o homem – fator de sucesso, Belo Horizonte: Mazza, 1991. FERRAZ, João Carlos, KUPFER, David, HAGUENAUER, Lia. Made in brazil. 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