Exemplos: A frieza do olhar A lua nova é o sorriso do céu. AULA 01: CONCEITO DE LITERATURA: a arte da palavra linguagem e recursos expressivos do texto literário. Funções da Literatura: Sabemos que o reino das palavras é farto. Elas brotam de nosso pensamento de maneira natural, não temos a preocupação de elaborar o que dizemos ou até mesmo escrevemos. As palavras, contudo, podem ultrapassar seus limites de significação. Podendo assim, conquistar novos espaços e passar novas possibilidades de perceber a realidade. O caminho que a literatura percorre é este. O artista sente, escolhe e manipula as palavras, as organiza para que produzam um efeito que vá além da sua significação objetiva, procurando aproxima-las do imaginário. A obra do escritor é fruto de sua imaginação, embora seja baseado em elementos reais. Da concretização desse trabalho surge então a obra literária. Dotado de uma percepção aguçada, o escritor capta a realidade através de seus sentimentos. Explora as possibilidades linguísticas e as manipula no nível semântico, fonético e sintático. A literatura é uma manifestação artística. E difere das demais pela maneira como se expressa, sua matéria-prima é a palavra, a linguagem. O texto literário se caracteriza pelo predomínio da função poética. Um dos mais antigos textos sobre o conceito de Literatura é a Poética, de Aristóteles (que inaugurou a longa série de estudos). Nesse texto, o filósofo grego afirma que "arte é imitação (mímesis em grego)". E justifica: "o imitar é congênito no homem (e nisso difere dos outros viventes, pois de todos, é ele o mais imitador e, por imitação, apreende as primeiras lições), e os homens se comprazem no imitado". O que ele quer nos dizer é que o imitar faz parte da natureza humana e os homens sentem prazer nisso; em síntese, arte como recriação. Para Chklovski, escritor russo, a Literatura é como as demais formas de arte, tem a capacidade de provocar no leitor um estranhamento diante da realidade, como se a víssemos pela primeira vez, sob um prisma diferente. Para Ezra Pound, poeta, teórico e crítico de literatura norte-americano Literatura é a linguagem carregada de significado. Grande Literatura é simplesmente a linguagem carregada de significado até o máximo grau possível. A literatura não existe no vácuo. Os escritores como tais, têm uma função social definida, exatamente proporcional à sua competência como escritores. Essa é a sua principal utilidade. forma de brinquedo, diversão, entretenimento, Função lúdica jogo, despertar de emoções agradáveis, distração, sem qualquer finalidade prática e utilitária. Função pragmática ou social é uma função ética, utilitária e prática porque é a função do engajamento, da denúncia, da crítica. É a literatura compromisso arte como meio de conscientização. Tem como objetivo: convencer, atrair adeptos, ensinar e esclarecer, difundir valores. Função sinfônica ou sintonizada: através da literatura restauramos emocionalmente o passado. Nesse sentido, cada leitor é um recriador de emoções. Função cognitiva: é a função do reconhecimento. A Literatura funciona como elemento revelador da verdade oculta sob as aparências. É também a função da descoberta (cognoscere = conhecer). Esta função está centrada no conteúdo transmitido. Função catártica ou purificadora: cartase significa alívio de tensões, desabafo. A catarse é purificadora. Essa função tem uma longa tradição. Por Aristóteles, século IV a.C., ela já era apontada na Poética. Tem como objetivo: a compensação, a terapêutica e a transposição da personalidade. Função perenizadora: literatura é a ânsia de imortalidade, é o desejo de sobreviver ao tempo, perenizar-se, eternizar-se. É o desejo de todo ser humano de extrapolar o limite espaço-temporal. O objetivo desta função da literatura e das artes em geral é o desejo de reconhecimento. Função profética: na busca de mundos imaginários, o escritor, muitas vezes prediz o futuro com precisão quase absoluta. Não é à toa que chamamos ao poeta Vate que significa cognato do vaticínio na predição. previsão do futuro LINGUAGEM CONOTATIVA, a linguagem da literatura Função de arte pela arte: (parnasianos) é um fim em si mesma; é o alheamento dos problemas sociais. É a arte literária que existe apenas e tão somente em função da busca da beleza, é o isolamento para um trabalho meticuloso, sem emotividade. Busca da forma perfeita: versos perfeitos, rimas perfeitas, estrofes simétricas, palavras raras. Em semântica, a denotação de um termo é o objeto ao qual o mesmo se refere. A palavra tem valor referencial ou denotativo quando é tomada no seu sentido usual ou literal, isto é, naquele que lhe atribuem os dicionários; seu sentido é objetivo, explícito, constante. Ela designa ou denota determinado objeto, referindo-se à realidade palpável. A linguagem denotativa é basicamente informativa, ou seja, não produz emoção ao leitor. É informação bruta com o único objetivo de informar. É a forma de linguagem que lemos em jornais, bulas de remédios, em um manual de instruções etc. Conotação é o conjunto de caracteres compreendidos na significação de um dado termo, conceito, etc. Além do sentido referencial, literal, cada palavra remete a inúmeros outros sentidos, virtuais, conotativos, que são apenas sugeridos, evocando outras ideias associadas, de ordem abstrata, subjetiva. Portanto, podemos concluir que a linguagem literária apresenta um sentido conotativo, pois se trata de uma forma especial de tratar com a palavra. Conotação é o emprego de uma palavra tomada em um sentido incomum, figurado, circunstancial, que depende sempre de contexto. Muitas vezes é um sentido poético, fazendo comparações. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO Função de fuga da realidade, do escapismo ou da evasão: literatura funcionaria como um elemento de evasão do eu, permitindo-lhe a fuga à realidade concreta que o cerca. Pode ser construtiva ou destrutiva. 65 LITERATURA 65 EXERCÍCIOS DE SALA EXERCÍCIOS DE CASA Atente para o texto que se segue, para responder as questões 01e 02. Observe os textos abaixo: A arte é uma mentira. Mas uma mentira que nos ajuda a compreender a verdade. Pablo Picasso Meu povo, meu poema Meu povo e meu poema crescem juntos como cresce no fruto a árvore nova O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. Fernando Pessoa No povo meu poema vai nascendo como no canavial nasce verde o açúcar No povo meu poema está maduro como o sol na garganta do futuro 1)Os trechos acima se referem ao conceito de literatura, com relação tanto à linguagem como à sua função social. Os textos sugerem que, EXCETO: Meu povo em meu poema se reflete como a espiga se funde em terra fértil a)- a obra de arte, quando tocada pela magia do artista, serve para expressar a visão que este possui da realidade b)- a tarefa do artista - ao criar uma ficção - não é de faltar à verdade, mas de expressar, de comunicar, pela linguagem, a sua concepção de mundo c)- através dos recursos de linguagem figurada (conotação) - típicos da linguagem literária - o escritor capta aspectos da realidade d)- literatura é a ficção que se expressa, que se formaliza, através da palavra, reproduzindo de maneira fiel a realidade social e)- a arte aguça no homem a curiosidade intelectual, permitindo-lhe estimular a sensibilidade Ao povo seu poema aqui devolvo menos como quem canta do que planta (Ferreira Gullar) 1) De acordo com o poema acima, de Ferreira Gullar, atente para os itens abaixo: 2) Os versos: A arte é uma mentira e O poeta é um fingidor sugerem dizer que a linguagem literária, EXCETO: I- apresenta uma metalinguagem, ou seja, nele, o autor reflete sobre a natureza de sua poesia. II- podemos perceber que, na definição de sua poesia, o autor prefere que esta seja fruto de um produto natural orgânico do povo. III- na passagem menos como quem canta/do que planta..., sugere-se que o poema é apenas expressão do povo, não podendo de forma alguma gerar nenhum fruto. a)- atua como veículo para a formação da sensibilidade pessoal b)- ajuda a proporcionar novas formas de percepção, compreensão, avaliação e desenvolvimento da capacidade crítica c)- utiliza-se da prosa e do verso para atuar no processo cultural, criando instrumentos, inventando novos seres, gerando comunicação d)- contribui em captar aspectos da realidade passada, motivando a curiosidade intelectual para o presente ou para o futuro e)- é restritamente ficcional, criativa, apresentando uma linguagem predominantemente denotativa e de sentido unívoco Estão corretos: a) apenas I e II b) apenas I e III c) apenas II e III d) apenas II e) apenas III 2) Podemos classificar o poema de Ferreira Gullar, de acordo com as mais variadas funções que a Literatura pode assumir, como pertencente a uma Literatura: GABARITO : 1:D 2.E a) sem preocupação social. b) de forte engajamento e ação social. c) de forte religiosidade. d) sem compromisso com a realidade humana. e) de alienação em relação ao engajamento político e social. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO 66 LITERATURA 66 AULA 02: GÊNEROS LITERÁRIOS 1 · Farsa: pequena peça teatral, de caráter ridículo e caricatural, criticando a sociedade e seus costumes; baseada no lema latino Ridendo castigat mores (Rindo, castigam-se os costumes). o lírico e o dramático Os gêneros literários são geralmente divididos, desde a Antiguidade, em três grupos: narrativo ou épico, lírico e dramático. Essa divisão partiu dos filósofos da Grécia antiga, Platão e Aristóteles, quando iniciaram estudos para o questionamento daquilo que representaria o literário e como essa representação seria produzida.[1] Essas três classificações básicas fixadas pela tradição englobam inúmeras categorias menores, comumente denominadas subgêneros. O gênero lírico se faz, na maioria das vezes, em versos e explora a musicalidade das palavras. Entretanto, os outros dois gêneros o narrativo e o dramático também podem ser escritos nessa forma, embora modernamente prefira-se a prosa. Todas as modalidades literárias são influenciadas pelas personagens, pelo espaço e pelo tempo. Todos os gêneros podem ser não-ficcionais ou ficcionais. Os não-ficcionais baseiam-se na realidade, e os ficcionais inventam um mundo, onde os acontecimentos ocorrem coerentemente com o que se passa no enredo da história. A literatura, quanto à forma, pode se manifestar em prosa e verso. Quanto ao conteúdo, pode se manifestar em: ANOTAÇÕES 67 1. Gênero lírico = seu nome vem de lira, instrumento musical que acompanhava os cantos dos gregos. Por muito tempo, até o final da Idade Média, as poesias eram feitas para serem cantadas. Nas obras líricas notamos o predomínio dos sentimentos, da emoção, o que as torna subjetivas. O eu-lírico é o próprio sentimento do poeta naquela poesia. Pertencem a este gênero os poemas em geral, destacando-se: · Ode e hino: os dois nomes vêm da Grécia e significam canto. Ode é mais a poesia entusiástica, de exaltação. Hino é a poesia destinada a glorificar a pátria ou dar louvores às divindades. · Elegia: é a poesia de um canto lírico de tom triste. Fala de acontecimentos tristes ou da morte de alguém. O Cântico do Calvário, de Fagundes Varela, é, sem dúvida, a mais famosa elegia da literatura brasileira, inspirada na morte prematura de seu filho. · Idílio e écloga: são poesias pastoris, bucólicas. A écloga difere do idílio por apresentar diálogo. · Epitalâmio: poesia feita em homenagem às núpcias de alguém. · Sátira: poesia que se propõe corrigir os defeitos humanos, mostrando o ridículo de determinada situação. Quanto ao aspecto formal, as poesias podem apresentar forma fixa ou livre. Das poesias de forma fixa, a que resistiu ao tempo, aparecendo até nossos dias, foi o soneto. · Soneto: composição poética de 14 versos distribuídos em dois quartetos e dois tercetos. Apresenta sempre uma métrica - mais usualmente, versos decassílabos e versos alexandrinos - e uma rima. Soneto significa pequeno som e teria sido usado pela primeira vez por Jacopo de Lentini, da Escola Siciliana (século XIII). Tendo sido mais tarde difundido por Petrarca (século XIV). 2. Gênero dramático = drama, em grego, significa ação. Compreende essas modalidades: · Tragédia: é a representação de um fato trágico, compadecido, apto a suscitar compaixão e terror. · Comédia: é a representação de um fato inspirado na vida e no sentimento comum, de riso fácil, em geral criticando os costumes. · Tragicomédia: é a mistura do trágico com o cômico. Originalmente, significava a mistura do real com o imaginário. · Mistérios ou milagres: representações de trechos bíblicos. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO 67 LITERATURA EXERCÍCIOS DE CASA EXERCÍCIOS DE SALA Poema tirado de uma notícia de jornal Leia com atenção o fragmento abaixo, retirado do poema Cenário, de Cecília Meireles, no livro Romanceiro da Inconfidência, e responda as questões 01 e 02: João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia Num barracão sem número Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu Afogado. (Manuel Bandeira) Passei por essas plácidas1 colinas e vi das nuvens, silencioso, o gado, pascer2 nas solidões esmeraldinas. Largos rios de corpo sossegado dormiam sobre a tarde, imensamente, e eram sonhos sem fim, de cada lado. Entre nuvens, colinas e torrente, uma angústia de amor estremecia a deserta amplidão na minha frente. 1) Com relação ao poema é correto afirmar que: a) o texto é predominantemente lírico, por expressar o sentimento do sujeito poético. b) a presença do recurso da rubrica torna o texto característico do gênero dramático, sobretudo pelo final trágico da personagem. c) a pesar de escrito em versos, o poema se aproxima da prosa e destaca o caráter narrativo do assunto exposto. d) o texto pode ser considerado uma epopeia, devido o elemento heroico nele presente. e) os versos apresentam metrificação, uma vez que as sílabas não são perfeitas. Que vento, que cavalo, que bravia saudade me arrastava a esse deserto, me obrigava a adorar o que sofria? Passei por entre as grotas negras, perto dos arroios3 fanados4, do cascalho5 cujo ouro já foi todo descoberto. (...) tudo me fala e entendo: escuto as rosas e os girassóis destes jardins, que um dia foram terras e areias dolorosas, 2)Ainda de acordo com o texto acima, observe os itens que se seguem: I- o texto poético trata de um fato do cotidiano transformado em matéria literária. II- o texto jamais pode ser literário, visto que expõe assunto característico da linguagem jornalística, como se confirma pelo próprio título proposto pelo autor. III- o texto apresenta um caráter universal, uma vez que o assunto não se limita a um fato específico, muito embora se trate da morte de um homem. Estão corretos: a) apenas I e II d) apenas II b) apenas I e III e) apenas III c) apenas II e III por onde o passo da ambição rugia; por onde se arrastava, esquartejado, o mártir sem direito de agonia. (...) tudo me chama: a porta, a escada, os muros, as lajes sobre mortos ainda vivos, dos seus próprios assuntos inseguros. (Cecília Meireles, Romanceiro da Inconfidência) VOCABULÁRIO: 1- Plácidas: calmas, suaves, tranquilas. 2- Pascer: pastar, recrear, deliciar. 3- Arroios: pequena corrente de água. 4- Fanados: murcho, mutilado, seco. 5- Cascalho: camada de areia ou barro em que se encontram o diamante ou outra espécie de metal. Carta Há muito tempo, sim, que não te escrevo. ficaram velhas todas as notícias. eu mesmo envelheci: Olha, em relevo, estes sinais em mim, não das carícias A partir da leitura dos fragmentos acima, podemos afirmar que, exceto: a) através de um profundo memorialismo, o eu-lírico recorda fatos ligados ao passado em que esteve presente ao ambiente descrito. b) por apresentar uma descrição de um episódio vivido no passado, o texto apresenta um caráter narrativo, desprovido de elemento lírico. c) a presença do verso decassílabo em todos os versos torna o texto metrificado. d) as rimas do poema são perfeitas em cada estrofe, apresentando um esquema ABA. e) o poema é composto por tercetos em todas as estrofes. (tão leves) que fazias no meu rosto: são golpes, são espinhos, são lembranças da vida a teu menino, que ao sol posto perde a sabedoria das crianças. A falta que me fazes não é tanto à hora de dormir, quando dizias Deus te abençoe, e a noite abria em sonho. É quando, ao despertar, revejo a um canto a noite acumulada de meus dias, e sinto que estou vivo, e que não sonho. 02- Assinale o item em que a expressão se encontra em sentido denotativo. a) Largos rios de corpo sossegado/ dormiam sobre a tarde, imensamente, b) Passei por entre as grotas negras, perto/dos arroios fanados, do cascalho c) tudo me chama: a porta, a escada, os muros,/as lajes sobre mortos ainda vivos, d) por onde o passo da ambição rugia;/ por onde se arrastava, esquartejado, e) Que vento, que cavalo, que bravia/saudade me arrastava a esse deserto, (Carlos Drummond de Andrade) 1)A expressão sol posto, na segunda estrofe, faz referência à(ao): a)- dureza da vida b)- amadurecimento precoce da criança c)- tempo de maturidade na vida d)- saudade da mãe e)- sofrimento adquirido com a velhice GABARITO : 1.B SECRETARIA DA EDUCAÇÃO 68 68 2.B LITERATURA AULA 03: MODERNIDADE O GÊNERO ÉPICO e o NARRATIVO NA Sendo Os Lusíadas um texto renascentista, não poderia deixar de seguir a estética grega que dava particular importância ao número de ouro. Assim, o clímax da narrativa, a chegada à Índia, foi colocada no ponto que divide a obra na proporção áurea (início do Canto VII). O gênero épico (ou épica, ou gênero narrativo, ou simplesmente narrativa) é provavelmente a mais antiga das manifestações literárias. Ele surgiu quando os homens primitivos sentiram necessidade de relatar suas experiências, centradas na dura batalha de sobrevida num mundo caótico, hostil e ameaçador. Podemos imaginar os demais membros da tribo, em torno de uma roda de fogo, ouvindo estes narradores que talvez mais gesticulassem e emitissem grunhidos do que articulassem verbalmente as suas histórias. Podemos conceber também que alguns desses ancestrais dos grandes escritores tivessem maior capacidade para contar suas aventuras do que seus companheiros. Talvez selecionassem melhor os fatos interessantes, concatenassem de maneira mais ordenada os acontecimentos ou conseguissem descrever com maior realismo os animais ferozes que haviam caçado. É possível também que em função da resposta do auditório estes contadores primitivos de histórias acabassem aumentando o número e a intensidade de suas façanhas. E é de se supor, por fim, que em busca do aplauso do clã, não se restringissem apenas às situações vividas, mas acrescentassem pormenores inexistentes e inventassem ações heroicas. Ou seja, é bem provável que produzissem ficção. Estava nascendo o gênero épico, a narrativa. O género épico remonta à antiguidade grego e latina sendo os seus expoentes máximos Homero e Virgílio. A epopeia é um género narrativo em verso, em estilo elevado, que visa celebrar feitos grandiosos de heróis fora do comum reais ou lendários. Tem pois sempre um fundo histórico; de notar que o género épico é um género narrativo e que exige na sua estrutura a presença de uma ação, desempenhada por personagens num determinado tempo e espaço. O estilo é elevado e grandioso e possui uma estrutura própria, cujos principais aspectos são: ANOTAÇÕES 69 Proposição - em que o autor apresenta a matéria do poema; Invocação - às musas ou outras divindades e entidades míticas protetoras das artes; Dedicatória - em que o autor dedica o poema a alguém, sendo esta facultativa; Narração - a acção é narrada por ordem cronológica dos acontecimentos, mas inicia-se já no decurso dos acontecimentos (in medias res), sendo a parte inicial narrada posteriormente num processo de retrospectiva, flash-back ou analepse; Presença de mitologia greco-latina - contracenando heróis mitológicos e heróis humanos. A poesia épica, portanto, é aquela que narra ações humanas ou divinas, heroicas, fabulosas ou lendárias, de modo mais ou menos extenso. A primeira grande obra épica escrita em língua portuguesa foi o poema Os Lusísdas, do poeta português chamado Luís Vaz de Camões. Os Lusíadas é considerada a epopeia portuguesa por excelência. Provavelmente concluída em 1556, foi publicada pela primeira vez em 1572 no período literário do classicismo, três anos após o regresso do autor do Oriente. A obra é composta de dez cantos, 1102 estrofes que são oitavas decassílabas, sujeitas ao esquema rímico fixo AB AB AB CC oitava rima camoniana. A ação central é a descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama, à volta da qual se vão descrevendo outros episódios da história de Portugal, glorificando o povo português. A estrutura externa refere-se à análise formal do poema: número de estrofes, número de versos por estrofe, número de sílabas métricas, tipos de rimas, ritmo, figuras de estilo, etc. Assim, Os Lusíadas é constituído por dez partes, liricamente chamadas de cantos; cada canto possui um número variável de estrofes (em média, 110); as estâncias são oitavas, tendo portanto oito versos; a rima é cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois últimos (AB AB AB CC, ver na citação ao lado); cada verso é constituído por dez sílabas métricas (decassilábico), na sua maioria heróicas (acentuadas nas sextas e décimas sílabas). SECRETARIA DA EDUCAÇÃO 69 LITERATURA EXERCÍCIOS DE SALA Agora observe o poema abaixo: Papai Noel às Avessas Momento Num Café Papai Noel entrou pela porta dos fundos (no Brasil as chaminés não são praticáveis), entrou cauteloso que nem marido depois da farra. Tateando na escuridão torceu o comutador e a eletricidade bateu nas coisas resignadas, coisas que continuavam coisas no mistério do Natal. Papai Noel explorou a cozinha com olhos espertos, achou um queijo e comeu. Quando o enterro passou Os homens que se achavam no café Tiraram o chapéu maquinalmente Saudavam o morto distraídos Estavam todos voltados para a vida Absortos na vida Confiantes na vida. Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado Olhando o esquife longamente Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade Que a vida é traição E saudava a matéria que passava Liberta para sempre da alma extinta Depois tirou do bolso um cigarro que não quis Teve medo talvez de pegar fogo nas barbas (no Brasil os Papai-Noéis são todos de cara e avançou pelo corredor branco de Aquele quarto é o das Papai entrou compenetrado. acender. postiças raspada) luar. crianças Manuel Bandeira Os meninos dormiam sonhando outros natais muito mais lindos mas os sapatos deles estavam cheinhos de brinquedos soldados mulheres elefantes navios e um presidente de república de celulóide.1 Papai Noel agachou-se e recolheu aquilo tudo no interminável lenço vermelho de alcobaça.2 Fez a trouxa e deu o nó, mas apertou tanto que lá dentro mulheres elefantes soldados presidente brigavam por causa do aperto. 4)O poema pode ser classificado como CRÔNICA ou CONTO? Comente sua resposta. 5)O que diferencia os homens que se achavam no café do homem que se descobriu num gesto largo e demorado? Os pequenos continuavam dormindo. Longe um galo comunicou o nascimento de Cristo. Papai Noel voltou de manso para a cozinha, apagou a luz, saiu pela porta dos fundos. Na horta, o luar de Natal abençoava os legumes. 6)(Unifor-Ce) Na famosa quadra de Gonçalves Dias Minha terra tem palmeiras Onde canta o Sabiá; As aves que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Carlos Drummond de Andrade a) há versos hexassílabos e heptassílabos, rimando segundo o esquema abba b) os versos são octossílabos, rimando segundo o esquema abab c) apenas os versos pares têm a mesma medida d) o poeta se valeu de versos brancos e) todos os versos são heptassílabos, e apenas os versos pares constituem exemplos de rimas agudas 1) A narrativa, em versos, pode ser caracterizada como conto ou crônica? Justifique. 2) É noite de Natal. Um narrador quase imperceptível vai nos relatando as ações de um certo Papai Noel pelo interior de uma casa. A partir de tal constatação, responda: a)Observe, em primeiro lugar, que o narrador, embora quase imperceptível, se deixa ver ao inserir comentários em seu relato. Localize esses comentários. b)Note, em seguida, que o poema é, aparentemente, singelo e banal, pois se trata de um relato de um evento anônimo em linguagem do cotidiano. De onde vem, então, sua força expressiva? 3)Que sentido podemos atribuir aos seguintes versos: a)Coisas que continuavam coisas no mistério do Natal. b)Na horta, o luar de Natal abençoava os legumes. ANOTAÇÕES 1 Substância de que se fabricam vários objetos!, tais como pentes, colarinhos, etc. 2 Lenço grande de algodão, de cores, usado principalmente por pessoas que cheiravam rapé. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO 70 LITERATURA 70 AULA 04: periodização da literatura brasileira estilos de época estudo dos ANOTAÇÕES Literatura, segundo o nosso dicionário Aurélio, é a arte de compor trabalhos artísticos em prosa ou verso. Esses trabalhos literários dialogam com o contexto histórico-cultural e por isso para estudá-los precisamos conhecer o momento histórico no qual estão inseridos. O conjunto de alguns trabalhos literários escritos num mesmo período forma o que chamamos de estilos de época. Há então, como diz Domício Proença Filho em seu livro Estilos de Época na Literatura, um estilo que empresta fisionomia própria e inconfundível a cada época e que se traduz em características comuns aos vários escritos representativos desta mesma época. "Como todo ser humano, toda obra literária tem suas características individuais; mas também apresenta propriedades comuns com outras obras de arte"1, isto é, cada autor apresenta características particulares e também características genéricas que o liga a outros autores do mesmo momento histórico. As datas que marcam o início e o fim de cada época têm de ser entendidas apenas como marcos. Toda época apresenta um período de ascensão, um ponto máximo e um período de decadência (que coincide com o período de ascensão da próxima época). Na literatura brasileira, podemos dividir, didática e cronologicamente nos seguintes estilos de época: 71 QUINHENTISMO OU LITERATURA INFORMATIVA (1500-1601) BARROCO OU SEISCENTISMO (1601-1768) ARCADISMO (1768-1836) ROMANTISMO (1836-1881) REALISMO/NATURALISMO/PARNASIANISMO (1881-1893) PRÉ-MODERNISMO (1902-1922) MODERNISMO (1922 até os nossos dias) Assim, podemos sintetizar os principais elementos característicos dos estilos de época da seguinte forma. Barroco - Religioso; - Uso de antíteses; - Utiliza-se da poesia. Arcadismo - Gosto pela natureza; - Linguagem simples. Romantismo - Individualismo eu; - Subjetivista; - Linguagem emotiva; - Prosa e poesia. Realismo / Naturalismo - Científico; - Analisar o homem e a sociedade; - Objetivista; - Prosa. Parnasianismo - Científico; - As emoções são expostas de maneira objetiva; - Linguagem objetiva. Simbolismo - É contra o científico; - O espiritual é importante; - Literatura é subjetiva. Modernismo - Valorização do nacional; - Linguagem livre; - Prosa, poema, teatro político. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO 71 LITERATURA EXERCÍCIOS DE CASA EXERCÍCIOS DE SALA 1)Sobre estilos de época é correto afirmar, exceto. a)O Quinhentismo é apenas uma periodização da literatura informativa e jesuítica sem definição específica de estilo. b)O estilo barroco aparece também fortemente na arquitetura e é muito detalhista, com o aspecto espiritual mais em destaque. c)Ocorre quando certos procedimentos artísticos individuais se reproduzem e se tornam repetitivos e constantes entre uma ou mais gerações de escritores - favorecidos e influenciados pelas coordenadas da época. d)A história da literatura procura entender todas as modificações que a produção literária passou ao longo da evolução da sociedade. e)É a maneira pessoal do escritor manipular a linguagem literária, ou seja, a sua capacidade original e criativa de formular expressivamente o texto (língua, técnicas, procedimentos, etc.), em busca de um melhor resultado estético. 72 2)Ainda com relação ao estudo dos períodos literários, assinale o FALSO. a)O critério usado para dividir os estilos de época varia muito: às vezes, o autor publica uma obra revolucionária e ela acaba se tornando o marco inicial de um determinado período, outras vezes um fato histórico influencia uma infinidade de obras que darão origem a um determinado movimento literário. b)Muitas ideias adotadas em um período podem ser aproveitadas por outros estilos literários que fazem uma releitura ou uma reinterpretação de textos já escritos. c)No período colonial de nossa literatura, as obras já apresentavam um grande índice de circulação e consumo, visto que se formou um imenso público leitor e consumidor de obras. d)No período romântico, a literatura inicia um processo de formação de identidade, pois esse estilo literário se solidifica logo após o processo de emancipação politica de nosso país. e)No Modernismo, a literatura brasileira passa por uma grande revolução artística que busca revisar nosso passado cultural através da Semana de Arte Moderna. 3)(UNOPAR-PR) Considere as seguintes afirmações: I.A temática e a linguagem barroca expressam os conflitos experimentados pelo homem do século XVII. II.A linguagem barroca caracteriza-se por apresentar uma linguagem rebuscada III.A antítese e o paradoxo são as figuras que a linguagem barroca emprega para expressar a divisão entre mundo material e mundo espiritual. IV.A estética barroca privilegia a visão racional do mundo e das relações humanas, buscando na linguagem a fuga às constrições do dia-a-dia. Dentre elas, apenas a)I e III estão corretas. b)I, II e IV estão corretas. c)II e IV estão corretas. d)I, II e III estão corretas. e)III está correta. 4)Com referência ao Barroco, todas as alternativas são corretas, exceto: a) O Barroco estabelece contradições entre espírito e carne, alma e corpo, morte e vida. b) O homem centra suas preocupações em seu próprio ser, tendo em mira seu aprimoramento, com base na cultura greco-latina. c) O Barroco apresenta, como característica marcante, o espírito de tensão, conflito entre tendências opostas: de um lado, o teocentrismo medieval e, de outro, o antropocentrismo renascentista. d) A arte barroca é vinculada à Contra-Reforma. e) O barroco caracteriza-se pela sintaxe obscura, uso de hipérbole e de metáforas. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO 72 LITERATURA AULA 05: o Quinhentismo brasileiro informação e a literatura catequética. a literatura de ANOTAÇÕES O Quinhentismo corresponde ao estilo literário que abrange todas as manifestações literárias produzidas no Brasil à época de seu descobrimento, durante o século XVI. É um movimento paralelo ao Classicismo português e possui ideias relacionadas ao Renascimento, que vivia o seu auge na Europa. A literatura do Quinhentismo tem como tema central os próprios objetivos da expansão marítima: a conquista material, na forma da literatura informativa das Grandes Navegações, e a conquista espiritual, resultante da política portuguesa Literatura informativa 73 A literatura informativa, também chamada de literatura dos viajantes ou dos cronistas, consiste em relatórios, documentos e cartas que empenham-se em levantar a fauna, flora e habitantes da nova terra, com o objetivo principal de encontrar riquezas, daí o fato de ser uma literatura meramente descritiva e de pouco valor literário. A exaltação da terra exótica e exuberante seria sua principal característica, marcada pelos adjetivos, quase sempre empregados no superlativo. Esse ufanismo e exaltação do Brasil seria a principal semente do sentimento nativista, que ganharia força no século XVII, durante as primeiras manifestações contra a Metrópole[1] Com o crescente interesse dos europeus pelas terras recémdescobertas, expedições formadas por comerciantes e militares eram organizadas no intuito de descrever e noticiar a respeito das novas terras. Entre estes, estaria Pero Vaz de Caminha, escrivão que acompanhou a armada de Pedro Álvares Cabral, em 1500. Sua Carta a El Rei Dom Manuel sobre o descobrimento do Brasil é um dos exemplos mais importantes da literatura Informativa, de inestimável valor histórico.[1] É possível notar claramente o duplo objetivo do texto contido na Carta de Caminha, isto é, a conquista dos bens materias e a propagação da fé cristã, como demonstram os seguintes trechos:[1] Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares [...] Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. Literatura Catequética ou Literatura Jesuítica Foi consequência da Contra-Reforma. A principal preocupação dos jesuítas era o trabalho de catequese, objetivo que determinou toda a sua produção literária, tanto na poesia como no teatro. Mesmo assim, do ponto de vista estético, foi a melhor produção literária do Quinhentismo brasileiro. Além da poesia de devoção, os jesuítas cultivaram o teatro de caráter pedagógico, baseado em trechos bíblicos, e as cartas que informavam aos superiores na Europa o andamento dos trabalhos na Colônia. José de Anchieta se propôs ao estudo da língua tupi-guarani e é considerado o precursor do teatro no Brasil. Sua obra já apresenta traços barrocos. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO 73 LITERATURA EXERCÍCIOS DE SALA EXERCÍCIOS DE SALA 1)(POLI) "Duas relíquias históricas produzidas no Brasil, foram trazidas para exibição na Mostra do Redescobrimento, em São Paulo: o manto tupinambá e a carta de Pero Vaz de Caminha." 1)O culto à natureza, característica de alguns momentos da literatura brasileira, tem sua origem nos textos da Literatura de Informação. Assinale o fragmento da Carta de Caminha que já revela a mencionada característica: (Folha de São Paulo, 11 de maio de 2000.) A carta de Pero Vaz de Caminha, sobre o achamento do Brasil, enviada a El-Rei Dom Manuel é a principal manifestação literária do Quinhentismo, movimento literário brasileiro do século XVI. Tendo em vista o seu teor, podemos afirmar que os visitantes da Mostra do Redescobrimento, ao se depararem com tal texto, conseguiriam através dele: (A) resgatar valores e conceitos sociais brasileiros. (B) descobrir a história brasileira pela arte. (C) ter mais informações sobre a arte brasileira. (D) ver a cultura indígena brasileira. (E) perceber o interesse português em explorar a nova terra. a)- Viu um deles umas contas de rosário, brancas; acenou que lhas dessem, folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço. b)- Assim, quando o batel chegou à foz do rio, estavam ali dezoito ou vinte homens, pardos, todos nus, sem nenhuma roupa que lhes cobrisse suas vergonhas. c)- Mas a terra em si é muito boa de ares, tão frio e temperados como os de Entre Douro e Minho, porque, neste tempo de agora, assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas e infindas. De tal maneira é graciosa que, querendo aproveitá-la, dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem. d)- Porém o melhor fruto, que dela se pode tirar, me parece que será salvar essa gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. e)- Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como quem diz que os havia ali. 02) (UFPEL) O texto a seguir servirá de base para a próxima questão. Pero Vaz de Caminha, referindo-se aos indígenas escreveu: E naquilo sempre mais me convenço que são como aves ou animais montesinos, aos quais faz o ar melhor pena e melhor cabelo que aos mansos, porque os seus corpos são tão limpos, tão gordos e formosos, a não mais poder. [] Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem crença alguma, segundo as aparências. E, portanto, se os degredados que aqui hão de ficar aprenderem bem a sua fala e eles a nossa, não duvido que eles, segundo a santa tenção de Vossa Alteza, se farão cristãos e hão de crer na nossa santa fé, à qual praza a Nosso Senhor que os traga, porque certamente esta gente é boa e de bela simplicidade. E imprimir-se-á facilmente neles todo e qualquer cunho que lhes quiserem dar, uma vez que Nosso Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos, como a homens bons. E o fato de Ele nos haver até aqui trazido, creio que não o foi sem causa. E portanto, Vossa Alteza, que tanto deseja acrescentar à santa fé católica, deve cuidar da salvação deles. E aprazerá Deus que com pouco trabalho seja assim. [] Eles não lavram nem criam. Não há aqui boi ou vaca, cabra, ovelha ou galinha, ou qualquer outro animal que esteja acostumado ao convívio com o homem. E não comem senão deste inhame, de que aqui há muito, e dessas sementes e frutos que a terra e as árvores de si deitam. E com isto andam tais e tão rijos e tão nédios que o não somos nós tanto, com quanto trigo e legumes comemos. 2)(ESAN)- Na Carta de Pero Vaz de Caminha: a)- reconhecemos um texto de informação que em nada pode ter influenciado os escritores que se sucederam na literatura brasileira b)- vemos a preocupação do conquistador com a exploração do solo da terra conquistada, atitude única dos escritores da época, tal como o padre Anchieta c)- identificamos um escritor que, pela maneira nacionalista como apresenta a terra, será tomado como modelo para o Modernismo de Oswald de Andrade d)- temos um texto que, como todos os outros do século XVI, XVII e XVIII, até o Romantismo, nada contribuiu para a literatura brasileira e)- encontramos os germes da atitude de louvor à terra que terá grande relevo no Romantismo GABARITO: 01.C 02.E CASTRO, Silvio. A carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L&PM, 1996. De acordo com o texto e seus conhecimentos, marque a alternativa correta: (A) Caminha, numa visão eurocentrista, exalta a cultura do descobridor, menosprezando todos os aspectos referentes ao modo de vida dos nativos, por exemplo, a não exploração daqueles mamíferos placentários exóticos, citados na carta, introduzidos no Brasil quando da colonização. (B) Caminha realiza, através de farta adjetivação, descrições botânicas minuciosas acerca da flora da nova terra, destacando o tipo de alimentação do europeu rica em vitaminas e sais minerais em contraposição à indígena, que é rica em lipídios. (C) A religiosidade está presente ao longo do texto, quando se constata que o emissor, tendo em mente a conversão dos índios à santa fé católica pretensão dos europeus conquistadores , ressalta positivamente a existência de crenças animistas entre os nativos. (D) Na carta de Pero Vaz de Caminha, que apresenta linguagem formal, por ser o rei português o destinatário, há forte preocupação com aspectos da necessária conversão dos índios ao catolicismo, no contexto de crise religiosa na Europa. (E) Ao realizar concomitantemente a narração e a descrição dos hábitos dos nativos, o remetente destaca informações não só do habitat como dos usos e costumes indígenas, exaltando o cultivo das plantas de lavouras e dos pomares. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO 74 LITERATURA 74 AULA 06: BARROCO a arte da irregularidade e do rebuscamento: contexto histórico e social. Na Literatura, seu motivo onipresente foi o conflito entre a tradição clássica herdada do Renascimento e as novas descobertas da ciência, as mudanças na religião, novas aspirações e um desejo de experimentação. A herança clássica trazia consigo determinadas formas estéticas e padrões morais, mas ao mesmo tempo se fazia frente à necessidade cristã de rejeitar o modelo clássico por sua origem pagã, considerada uma influência corruptora e enganosa, e isso explica parte da rejeição do classicismo em boa parte do Barroco, um conflito que se estendeu para a área da educação, até então também pesadamente devedora dos clássicos e através da influência jesuítica vista como o principal e primeiro instrumento de reforma social. A EUROPA PÓS-RENASCIMENTO: a alteração de valores e crise espiritual do homem seiscentista. Durante o Renascimento o homem cresceu bastante, adquiriu autoconfiança, se tornou senhor da terra, mares, ciência e arte; libertou-se aos poucos da fé medieval. Essa libertação foi marcada principalmente pela Reforma Protestante que atingiu diretamente a igreja. A Companhia de Jesus foi fundada para combater o Protestantismo. Durante esse momento de dualismo e contradição surgiu o Barroco que expressava artisticamente todo o período. O espírito contraditório da época que se dividiu entre as influências do Renascimento e da religiosidade foi registrado pela arte barroca. Em termos estilísticos, a literatura barroca em linhas gerais praticou um culto exagerado à forma e ao virtuosismo no intuito de maravilhar o leitor, o que implicava o uso constante de figuras de linguagem e outros artifícios retóricos, como a metáfora, a elipse, a antítese, o paradoxo e a hipérbole, com grande atenção ao detalhe e à ornamentação como partes integrais do discurso. Contexto histórico O Barroco corresponde à segunda etapa da Era Clássica, iniciouse no fim do século XVI, teve seu ápice no século XVII, e se prolongou até o início do século XVIII. O movimento surgiu como uma forma de reagir às tendências humanistas, tentando reencontrar a tradição cristã. Vivia-se a revolução comercial, a política econômica era o mercantilismo. A burguesia detinha o poder econômico. O Estado absolutista se consolidava, esse sistema era voltado para atender às necessidades da burguesia. O século XVII foi marcado pelos reflexos das crises religiosas, essas ocorreram no século anterior, dentre as quais se destacam a Reforma Protestante e a Contra-Reforma. ANOTAÇÕES Características da nova estética: - Culto do contraste: o Barroco procurava aproximar os opostos como carne/espírito, pecado/perdão, céu/terra etc . - Conflito entre o eu e o mundo: o artista encontra-se dividido entre a fé e a razão. - Pessimismo: o pessimismo marca muitos textos e manifestações artísticas do Barroco. - Fusionismo: fusão das visões medieval e renascentista. - Feísmo: a miséria da condição humana é explorada. A linguagem barroca - Emprego constante de figuras de linguagem; - Uso de uma linguagem requintada; - Exploração de temas religiosos; -Consciência de que a vida é passageira: ao mesmo tempo em que o homem ao pensar na efemeridade da vida busca a salvação espiritual ele tem desejo de gozar dessa antes que acabe; - Cultismo: exploração dos efeitos sensoriais. - Jogo de ideias: formado por sutilezas do raciocínio e do pensamento lógico. Na estética barroca, observam-se duas tendências: o cultismo e o conceptismo. - O cultismo se refere à exploração de elementos sensoriais, baseadas em figuras de linguagem. - O conceptismo se caracteriza pelo uso de conceitos, linguagem marcada pelo jogo de ideias e pelo raciocínio lógico. - O cultismo predomina na poesia e o conceptismo na prosa. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO 75 LITERATURA 75 EXERCÍCIOS DE SALA EXERCÍCIOS DE CASA 1)Com referencias ao Barroco, todas as alternativas estão corretas, EXCETO: 01) A partir da leitura do texto abaixo, analise os itens que se seguem, e depois, assinale a alternativa correta: a)Estabelece contradição entre espírito e carne, alma e corpo, morte e vida. b)O homem centra suas preocupações em seu próprio ser, tendo em mira seu aprimoramento, com base na cultura greco-latina. c)O Barroco apresenta, como característica marcante, o espírito de tensão, conflito entre ideias opostas: de um lado, o teocentrismo medieval, e, de outro, o antropocentrismo. d)A arte barroca é vinculada à Contra-Reforma. e)O estilo Barroco representa o estado de angústia que marcou o homem seiscentista, dividido entre os prazeres materiais e o medo do pecado, por isso os poemas barrocos apresentam um forte rebuscamento sintático. Meu Deus, que estais pendente de um madeiro, Em cuja lei protesto de viver, Em cuja Santa Lei hei de morrer Animoso, constante, firme e inteiro. Neste lance, por ser o derradeiro, Pois vejo a minha vida anoitecer, É, meu Jesus, a hora de se ver A brandura de um Pai manso Cordeiro. 76 Mui grande é o vosso amor e o meu delito, Porém, pode ter fim todo o pecar, E não o vosso amor que é infinito. 2)(FUVEST)- Observe a estrofe abaixo. Esta razão me obriga a confiar, Que por mais que pequei, neste conflito, Espero em vosso amor de me salvar. Nasce o sol e não dura mais que um dia Depois da luz se segue a noite escura Em tristes sombras morre a formosura Em contínuas tristezas, a alegria. (Gregório de Matos) Na estrofe acima de Gregório de Matos, Aa principal característica do Barroco é: I- há no texto a percepção do fluir do tempo e a angústia ante a aproximação da morte. II- o texto apresenta uma visão dilemática da vida, que se configura como constante oscilação entre o bem e o mal. III- ao longo do soneto notamos um forte sentimento religioso enfraquecido pelas lembranças dos prazeres terrenos. IV- o poeta demonstra uma concepção do divino através da projeção de anseios e temores característicos do homem pecador. V- o poeta emprega sutilezas de raciocínio, do jogo de ideias, através da argumentação, próprios do estilo conceptista. a)O culto da natureza b)A utilização de rimas alternadas c)A forte presença de antíteses d)O culto do amor cortês e)O uso de aliterações 3) (USF-SP) Observe o texto abaixo: Que és terra, homem, e em terra hás de tornar-te, Te lembra hoje Deus por sua Igreja; De pó te fez espelho, em que se veja A vil matéria, de que quis formar-te. Estão corretos: a)- apenas I, II, IV e V. b)- apenas II e III. c)- apenas I, II e IV. d)- todos os itens. e)- apenas II, III, IV e V. Lembra-te Deus que és pó para humilhar-te E como o teu baixel sempre fraqueja Nos mares da vaidade onde peleja Te põe a vista a terra onde salvar-te. 2)Na expressão: Neste lance, por ser o derradeiro / Pois vejo a minha vida anoitecer..., encontramos caso de: Conforme sugere os excertos acima, o poeta barroco não raro expressa: a)- perífrase b)- metáfora c)- antítese d)- metonímia e)- eufemismo a)- o medo de ser infeliz; uma intensa angústia em face da vida, a que não consegue dar sentido; a desilusão diante da falência de valores terrenos e divinos. b)- a consciência de que o mundo terreno é efêmero e vão; o sentimento de nulidade diante do poder divino. c)- a percepção de que não há saídas para o homem; a certeza de que o aguardam o inferno, e a desgraça espiritual. d)- a necessidade de ser piedoso e caritativo, paralela à vontade de fluir até as últimas consequências o lado material da vida. e)- a revolta contra os aspectos fatais que os deuses imprimem a seu destino e à vida na terra. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO GABARITO: 1.D 2.E 76 LITERATURA AULA 07: A poesia de Gregório de Matos a lírica e a sátira. A maior parte foi escrita na última fase da vida do poeta, período de decadência pessoal e profissional. O doutor deixara de advogar e perambulava pelos engenhos do Recôncavo, levando sua viola de cabaça, frequentando festas de amigos e namorando as mulatas, muitas delas prostitutas, com tom brincalhão podem frequentemente tornar-se obscenos. Daí, o populismo chulo que irrompe às vezes e, longe de significar uma atitude aristocrática, nada mais é que válvula de escape para velhas obsessões sexuais ou arma para ferir os poderosos invejados. É considerado o maior poeta barroco do Brasil e o mais importante poeta satírico da literatura em língua portuguesa, no período. O autor escreveu dentro dos padrões estabelecidos pela estética barroca mas construiu também uma poesia voltada para as mazelas e os vícios da sociedade da época, tendo sido por isso chamado de Boca do Inferno. A poesia lírica de Gregório de Matos pode ser dividida em lírica sacra, lírica amorosa (espiritual e carnal), lírica encomiástica (poemas de circunstância, poemas laudatórios) e lírica filosófica. ANOTAÇÕES Poesia lírica sacra - A culpa e o arrependimento Expressa a cosmovisão barroca: a insignificância do homem perante Deus, a consciência nítida do pecado e a busca do perdão. Ao lado de momentos de verdadeiro arrependimento, muitas vezes o tema religioso é utilizado como simples pretexto para o exercício poético, desenvolvendo engenhosos jogos de imagens e conceitos. As ideias de Deus e do pecado, ao mesmo tempo que se opõem, são complementares. Embora Deus detenha o poder da condenação da alma, está sempre disposto ao perdão, por sua misericórdia e bondade; daí deriva Sua maior glória. O autor está sempre dividido entre pecado e virtude (sente culpa por pecar e busca a salvação) e vê o pecado como um erro humano, mas também, como a única forma de Deus cometer o ato do perdão. O eu-lírico, muitas vezes, se comporta como advogado que faz a própria defesa diante de Deus (para tal, usava, até mesmo, trechos da Bíblia) 77 Poesia lírica amorosa - O espírito e a carne Apresenta-se sob o signo da dualidade barroca, oscilando entre a atitude contemplativa, o amor elevado, à maneira dos sonetos de Camões, e a obscenidade, o carnalismo. É curioso que a postura platônica é dominante, quando o poeta se refere a mulheres brancas, de condição social superior, e a libido agressiva, o erotismo e o desbocamento são as tônicas, quando o poeta se inspira nas mulheres de condição social inferior, especialmente as mulatas. Neste sentido, destaca-se já certa tropicalidade, a antecipação de certo sentimento brasileiro. Portanto, na poesia amorosa do autor podemos encontrar o amor retratado como fonte de prazer e sofrimento, ao mesmo tempo em que a mulher é retratada como um anjo e fonte de perdição (pois desperta o desejo carnal). Poesia lírica filosófica A influência de Camões é muito evidenciada nesse tipo de composição. Aqui, Gregório fica no campo das especulações, tentando obter respostas sobre dúvidas que dilaceram o eu lírico. Tais dúvidas, em grande parte, são oriundas do conflito espiritual vivenciado pelo autor. Embora exista uma busca constante por respostas, o que se percebe é um eu poético perdido em suas indagações, transitando entre seus conflitos em busca de valores. Daí o profundo pessimismo e a angustia diante da vida, abordando o desconcerto do mundo e a instabilidade dos bens materiais Poesia satírica O "Boca do Inferno" não perdoava ninguém: ricos e pobres, negros, brancos e mulatos, padres, freiras, autoridades civis e religiosas, amigos e inimigos, todos, enfim, eram objeto de sua "lira maldizente". Contudo, o melhor de sua sátira não é esse tipo de zombaria, engraçada e maldosa, mas a crítica de cunho geral aos vícios da sociedade. Sua vasta galeria de tipos humanos contribui para construir sua maior e principal personagem - a cidade da Bahia. De modo sempre galhofeiro, o poeta registra em versos sempre pequenos acontecimentos da vida cotidiana da cidade e dos engenhos. Segundo James Amado, a poesia burlesca é a crônica do viver baiano seiscentista. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO 77 LITERATURA Texto II EXERCÍCIOS DE SALA Quase Nada (Zeca Baleiro e Alice Ruiz) Um soneto começo em vosso gabo: Contemos esta regra por primeira, Já lá vão duas, e esta é a terceira, Já este quartetinho está no cabo. De você sei quase nada pra onde vai ou porque veio nem mesmo sei qual é a parte da tua estrada no meu caminho será um atalho ou um desvio um rio raso um passo em falso um prato8 fundo pra toda fome que há no mundo noite alta que revele o passeio pela pele dia claro madrugada de nós dois não sei mais nada se tudo passa como se explica o amor que fica nessa parada amor que chega sem dar aviso não é preciso saber mais nada Na quinta torce agora a porca o rabo: A sexta vá também desta maneira, Na sétima entro já com grã canseira, E saio dos quartetos muito brabo. Agora nos tercetos que direi? Direi, que vós, Senhor, a mim me honrais, Gabando-vos a vós, e eu fico um Rei. Nesta vida um soneto já ditei, Se desta agora escapo, nunca mais; Louvado seja Deus, que o acabei. 1) De acordo com o soneto acima, é incorreto afirmar que: a)- trata-se de uma metalinguagem em que o poeta elabora uma explicação de seu próprio fazer poético b)- ao elogiar a conduta moral de alguém importante, o poeta cria uma apologia às suas virtudes, tornando o poema uma espécie de ode c)- o esvaziamento do conteúdo apresentado pelo poema retrata a ironia proposital elaborada, na tentativa de mostrar seu desprezo pela pessoa a quem se dirige d)- o tom irônico e jocoso do poema não abre mão da linguagem rebuscada, muito embora o coloquialismo se faça presente como recurso de linguagem e)- a construção do poema é montada em cima de forte angústia e sufoco, que se expressa através de um discurso vazio, percebendo que, ao final, o mérito pela elaboração do texto é apenas do próprio poema 78 2) De acordo com os textos pode-se afirmar que, exceto: a) Podemos observar de forma clara o jogo de opostos, que serve para expressar um estado de espírito atormentado. No texto I, o poeta busca se esmerar em aparentar uma certa tranquilidade, sentindo-se no entanto aprisionado em seu segredo dentro do peito; no texto II, o tormento se mostra através da dificuldade de definir o amor entre os amantes. b) Hiperbolicamente, o silêncio proferido pelo sujeito do texto I é amplificado, já que, ninguém sufoca a voz. O sujeito lírico, como todo ser humano que sofre os tormentos íntimos e profundos, acaba por explodir, permitindo o afloramento de sua tormenta. c) Os poemas, apesar do afastamento no tempo, expressam bem a lírica amorosa barroca, incorporando elementos característicos do cultismo, que se configuram através da linguagem lúdica, em que o formalismo métrico do primeiro e a liberdade formal do segundo apontam para uma abordagem contraditória e desequilibrada na apresentação da realidade. d) No texto II, o amor se apresenta de forma inesperada, levando o sujeito poético a buscar uma definição dessa nova realidade suscitada em seu íntimo, se conseguir, no entanto, uma explicação lógica para esse sentimento. e) Os poemas demonstram como a literatura não deve ser encarada como coisa estanque, hierarquizada e temporal, pois, em certos momentos de nossa história literária, pode haver retomada de temáticas presentes em outros tempos, através de uma nova visão que se enquadre dentro das propostas estéticas da época em questão. Os textos que seguem pertencem a poetas de épocas literárias distintas. O texto I, ao poeta Gregório de Matos, do barroco brasileiro, o texto II, ao poeta e músico contemporâneo Zeca Baleiro. Leia-os com atenção para responder as questões propostas. Texto I (Gregório de Matos Guerra) Largo em sentir, em respirar sucinto Peno, e calo tão fino, e tão atento, Que fazendo disfarce do tormento Mostro, que o não padeço, e sei, que o sinto. O mal, que fora encubro, ou que desminto, Dentro no coração é, que o sustento, Com que para penar é sentimento, Para não se entender é labirinto. 3)Através das expressões textuais presentes no textos I, atente para os itens que se seguem: I- No texto I, o verso Largo em sentir em respirar sucinto faz referência ao mal que aponta na estrofe seguinte. II- Os termos sentimento e labirinto, na segunda estrofe do texto I, têm relação direta com o conflito íntimo do sujeito lírico. III- No verso Mostro que o não padeço e sei que o sinto, na primeira estrofe do texto I, reforça o combate que existe entre o mundo interior X o mundo exterior do sujeito lírico. Ninguém sufoca a voz nos seus retiros; Da tempestade é o estrondo efeito: Lá tem ecos a terra, o mar suspiros. Mas oh do meu segredo alto conceito! Pois não me chegam a vir à boca os tiros Dos combates que vão dentro do peito Estão corretos os itens: a) Apenas I e II b) Apenas I e III c) Apenas II e III d) Apenas II e) Todos os itens SECRETARIA DA EDUCAÇÃO 78 LITERATURA AULA 08: a obra de Padre Antônio Vieira conceptista dos sermões a linguagem Exalta os valores que nortearam a construção do grande Império português. E julga (de forma messiânica) que este Império deveria ser reconstruído no Brasil. Propõe o retorno dos cristãos novos (judeus) a territórios lusos como forma de Portugal escapar da decadência na qual naufragara desde meados do século XVI. Apresenta uma linguagem de tendência conceptista, de notável elaboração, grande riqueza de ideias e imagens espetaculares. Seu método de pregação era conhecido como método parenético. Padre António Vieira foi um religioso, escritor e orador português da Companhia de Jesus. Um dos mais influentes personagens do século XVII em termos de política e Oratória, destacou-se como missionário em terras brasileiras. Nesta qualidade, defendeu infatigavelmente os direitos humanos dos povos indígenas combatendo a sua exploração e escravização e fazendo a sua evangelização. Era por eles chamado de "Paiaçu" (Grande Padre/Pai, em tupi). António Vieira defendeu também os judeus, a abolição da distinção entre cristãos-novos (judeus convertidos, perseguidos à época pela Inquisição) e cristãos-velhos (os católicos tradicionais), e a abolição da escravatura. Criticou ainda severamente os sacerdotes da sua época e a própria Inquisição. Na literatura, seus sermões possuem considerável importância no barroco brasileiro e português. As universidades frequentemente exigem sua leitura. Por esses e outros aspectos Fernando Pessoa o chamou de "Imperador da Língua Portuguesa". ANOTAÇÕES 79 Os Sermões são a obra pela qual o jesuíta Antônio Vieira (1608-1697) ficou conhecido, sendo depois considerado por suas prédicas impressas o Imperador da língua portuguesa, na expressão recorrentemente lembrada de Fernando Pessoa. Os seus sermões, notável conjunto de obras-primas da oratória ocidental, constituem um mundo rico e contraditório, a revelar uma inteligência voltada para as coisas sacras e, simultaneamente, para a vida social portuguesa e brasileira de então. Neles encontramos uma grande crônica da história imediata, (Vieira jamais se absteve das grandes questões cotidianas e políticas do seu século), mas nos deparamos também com uma atormentada ânsia da eternidade, que só a religião parece atender. Em seu Sermão da Sexagésima, um dos mais conhecidos do autor, pregado no ano de 1655, valoriza a pregação pela persistência diante das dificuldades. Tal tema é mencionado a partir da ação do pregador evangélico da palavra divina. A Deus perguntado onde pregar e a quem pregar o evangelho, responde-lhe o Senhor que a todas as criaturas em todos os lugares. Viera analisando o tema expõe a perseverança do semeador que ao sair para o ofício, encontra vales de espinhos, montanhas rochosas e todo tipo de terreno e de homens, dificultando a semeadura e a pregação. E a quem pregar? Aos espinhos? As árvores? As aves? Aos troncos? Sim, pois em cada nação há homens degenerados de toda a espécie. Há homens espinhos, que são bárbaros e incultos. Há homens árvores, pois há arvores que dão frutos, flores, muitos galhos, e aquelas que estão sempre secas, cheias da sua própria morte. Há homens aves, que se sentem tão livres que não tem porto seguro. Há homens troncos que só conhecem a brutalidade. Então se há todo tipo de homem há de haver todo tipo de palavra semeadora. E se a palavra prosperar será louvor do semeador não do homem, assim como se a palavra não proceder é do semeador a derrota. Daí a importância do pregador com toda sua bagagem com habilidades de pescador. Frutificar a palavra é plantar amor nos corações dos homens. É perseverar diante das dificuldades, é sentir-se vitorioso de cada pequena semente que vinga. É amar sem limites, mesmo que o limite lhe atropele o caminho. Muita diferença há entre o pregador e o semeador. O pregador, fala. O semeador, semeia, faz com as mãos. O semeador dá o exemplo, faz a obra, vive a palavra. Vieira questiona; Porque hoje há tantos pregadores e tão poucos semeadores? Contaminem aos homens com boas palavras para a salvação do mundo. Características dos Sermões de Vieira Utiliza continuamente passagens da Bíblia e todos os recursos da oratória jesuítica para convencer os fiéis de sua mensagem, mesmo quando trata de temas cotidianos. Ataca os vícios (corrupção, violência, arrogância etc.) e defende as virtudes cristãs (religiosidade, caridade, modéstia, etc.). Combate os hereges, os indiferentes à religião e os católicos desleixados em relação à Igreja. Defende abertamente os índios. Mantém-se ambíguo frente aos escravos negros: ora tenta justificar a escravidão, ora condena veementemente seus malefícios éticos e sociais. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO 79 LITERATURA EXERCÍCIOS DE SALA Observe esses trechos, de Padre Vieira, que apresentam as características de um sermão: Os textos que se seguem pertencem a um sermão de Padre Antônio Vieira. Leia-o com atenção para responder as questões propostas. O sermão há de ter um só assunto e uma só matéria, As razões não hão de ser enxertadas, hão de ser nascidas. O pregar não é recitar. As razões próprias nascem do entendimento, as alheias vão pegadas à memória, e os homens não se convencem pela memória, senão pelo entendimento. Texto 1 Será porventura o não fazer hoje fruto a palavra de Deus, pela circunstância da pessoa? Será por que antigamente os pregadores eram santos, eram varões apostólicos e exemplares, e hoje os pregadores são eu, e outros como eu? Boa razão é esta. A definição do pregador é a vida e o exemplo. Por isso Cristo no Evangelho não o comparou ao semeador, senão ao que semeia. (...) Entre o semeador e o que semeia há muita diferença: uma coisa é o soldado e outra coisa o que peleja; uma coisa é o governador e outra o que governa. Da mesma maneira, uma coisa é o semeador, e outra o que semeia; uma coisa é o pregador e outra o que prega. O semeador e o pregador é nome; o que semeia e o que prega é ação; e as ações são as que dão o ser ao pregador. Ter nome de pregador, ou ser pregador de nome, não importa nada; as ações, a vida, o exemplo, as obras, são as que convertem o Mundo. Texto 2 3)De acordo com os fragmentos, NÃO podemos afirmar que: a)- segundo o autor, um sermão deve concentrar-se em um só assunto, que por sua vez, deve ser bem fundamentado b)- segundo o escritor, os argumentos de um sermão, decorrem do raciocínio lógico e de fatos concretos c)- pelas características apresentadas sobre um sermão, na concepção do autor, percebe-se a aproximação com o estilo conceptista d)- de acordo com a passagem O pregar não é recitar, levando-se em conta o objetivo da poesia e do sermão, o autor deixa claro que, os sermões buscam convencer o ouvinte sobre determinado assunto, de ordem coletiva, universal, enquanto que a poesia busca sensibilizar o ouvinte/leitor por meio da expressão de sentimentos individuais e)- de acordo com os fragmentos, percebe-se nitidamente a ideia de que o sermão deve apresentar um jogo de sentimentos do autor, tentando persuadir o leitor por meio da expressividade emotiva e não racional Sendo, pois, certo que a palavra divina não pode deixar de frutificar por parte de Deus, segue-se que ou é por falta do pregador ou por falta do ouvinte. Por qual será? (...) Os ouvintes ou são maus ou São bons; se são bons, faz neles grande fruto a palavra de Deus; se são maus, ainda que não faça fruto, faz efeito. (...) a palavra de Deus é tão fecunda, que nos bons faz muito fruto e é tão eficaz que nos maus, ainda que não faça fruto, faz efeito; lançada nos espinhos não frutificou, mas nasceu até nos espinhos; lançada nas pedras não frutificou, mas nasceu até nas pedras. Não são só ladrões, diz o Santo, os que cortam bolsas ou espreitam os que vão se banhar para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor nem perigo; os outros, se furtam são enforcados, estes furtam e enforcam. 1)De acordo com os textos, NÃO se pode afirmar que: a)- no texto 1, o autor se vale de um interminável jogo de ideias para elaborar um argumento acerca da diferença entre pregador verdadeiro e falso pregador b)- no texto 2 o elogio da natureza ocorre para elaborar um ideal pagão de vida, apelando à repetição de palavras e ideias c)- ao relacionar o verbo com a ação, o pregador no texto 1 mostra a diferença entre semear e ser semeador da palavra de Deus d)- no texto 2 a progressão gradual do raciocínio elaborado pelo sermonista visa ao convencimento do ouvinte ou leitor e)- as antíteses e metáforas são encontradas nos dois fragmentos, que expressam uma linguagem ornamentada e repleta de relações de causa, condição e efeito. Padre Antônio Vieira 4)De acordo com o texto lido, assinale a alternativa CORRETA: a) O autor critica os ladrões porque eles invadem a propriedade alheia. b) Vieira acha que a propriedade privada deve ser defendida a qualquer custo, mesmo que para isso inocentes sejam confundidos com criminosos. c) O autor distingue dois tipos de ladrões; os que estão no poder e roubam os povos e os outros que se furtam são enforcados. d) De acordo com o texto, o autor acha que apesar de haver dois tipos de ladrões, ambos devem ser enforcados, pois ladrão é sempre ladrão. e) a texto reflete sobre a problemática social, sem liberar juízo de valor. 2)Sobre a obra de Padre Vieira, é correto afirmar que: a)- por ser um escritor português, nunca se interessou por problemas brasileiros, utilizando toda a sua capacidade de oratória para defender Portugal, sobretudo de questões políticas. b)- a utilização de textos bíblicos em seus sermões servia para mostrar, em forma de argumentos, o ideário da Reforma Protestante que ele tanto defendeu. c)- a linguagem de Vieira apresenta uma sutileza de raciocínio, revelando a preocupação em desenvolver ideias e ilustrá-las da forma mais clara possível na tentativa de persuadir o público. d)- o método parenético utilizado por Vieira em sua linguagem consistia em elaborar um intricado jogo de palavras para complicar a oratória, desprovendo-se da argumentação e)- em seus sermões, Vieira preocupou-se com a pregação religiosa, deixando de lado o envolvimento político. 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