O SR. REGINALDO GERMANO (PP-BA) pronuncia o seguinte discurso: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, muitos dos problemas brasileiros atuais derivam do fato de termos sido o último país ocidental a abolir a escravidão, em 13 de maio de 1888. Depois do Iluminismo, da Revolução Francesa, da Declaração Universal dos Direitos do Homem e da Revolução Industrial, o século XIX tornava-se cada vez menos tolerante ao escravagismo, sobre o qual a economia brasileira se apoiava desde o início da colonização. À medida em que o País, agora independente, crescia e se diversificava, a Monarquia brasileira, herdeira direta dos colonizadores portugueses, via sua base de sustentação cada vez mais se restringir aos latifundiários, dependentes do trabalho escravo. Os moradores das cidades, cuja economia não era diretamente dependente das exportações, tinham, porém, 2 outras idéias. Admiravam os poemas abolicionistas de Gonçalves Dias, e, apesar de não terem a maioria no Parlamento, tinham os melhores intelectuais, e o apoio estrangeiro. Um desses intelectuais foi o grande Deputado Joaquim Nabuco. Depois de ter proclamado da Tribuna que a honra do Exército Nacional era incompatível com as tarefas da captura de escravos fugidos, os militares, muitos dos quais ex-escravos libertos após a Guerra do Paraguai, fizeram uma representação à Princesa Regente se recusando a exercer esse papel. Estavam retiradas as condições de segurança da propriedade escrava. Em 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel assinou aquela que seria conhecida como Lei Áurea. No entanto, a pressão social já era tão grande nesse sentido que os próprios juízes há muito tempo desobedeciam as leis escravistas. O fim da escravidão significou o fim do apoio do 3 setor agrário tradicional à Monarquia, e o fim da própria Monarquia. A República Velha, nascida sob o signo do pujante capitalismo cafeeiro do Oeste paulista, já se baseava no trabalho livre. O mesmo Joaquim Nabuco, há quase dois séculos, preconizava a necessidade de uma reforma agrária que desse aos negros libertos condições de real liberdade econômica. No entanto, nada foi concedido àqueles que, com seus ancestrais, mantiveram por tanto tempo o funcionamento da economia brasileira. Os libertos foram entregues à própria sorte, sem as terras que eram dadas até aos recém-chegados imigrantes europeus. Num comportamento recorrente em nossa história, em vez de o Tesouro Nacional pagar indenizações aos ex-escravos, pagou-as aos seus ex-donos. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados: muitos dos descendentes dos escravos até hoje não têm 4 garantidos, de fato, os direitos básicos de moradia, propriedade e renda mínima. A escravidão foi abolida há 117 anos; o tempo que o Brasil ainda levará para se livrar de suas seqüelas depende da agilidade deste Parlamento. Em suma, a Lei Áurea foi apenas o começo de um processo, que chega aos nossos dias. Foi um começo necessário, útil, pois o sistema escravista precisou ser oficialmente extinto para que, a partir daí, a figura do senhor e do escravo começassem a se fundir na figura do cidadão, simultaneamente súdito e soberano de seu País, senhor e escravo das leis. Obrigado. 2005_5038_Liderança do PP_001