CONVIDADO Um ensino superior competitivo e de qualidade: sim, mas como? gundo objetivo com o combate à concentração no litoral e nos grandes centros dos alunos do ensino su- Arlindo Oliveira O Faz parte da nossa tradição e da nossa cultura que cada novo governo sinta a obri- gação de reformar profundamente o Estado. O guião, recentemente apresentado, elaborado de forma precipitada e estruturado como um conjunto de ideias soltas e inconsequentes é apenas a última demonstração da paixão que os nossos governos têm pelas reformas, independentemente destas endereçarem problemas reais ou imaginários. Embora o guião seja muito vago, em geral, no caso do ensino superior, o documento é singularmente vazio de ideias. Em vez de um diagnóstico dos problemas do sistema de ensino superior e de um conjunto de propostas para resolver esses problemas, areforma do ensino su- perior fica-se, concretamente, pela proposta de criação de um novo modelo de ensino superior de ciclo curto e a adaptação da rede de instituições de ensino superior do Estado... às novas necessidades educativas e à alteração da procura. Lamentavelmente não é referido, nem sequer superficialmente, que metodologia será usada para atingir estes objetivos, nem como se conciliará o se- perior. Propõe-se também manter a inqualidade e a competitividade ternacional do ensino superior português, objetivo com o qual estamos, seguramente, todos de acordo. No entanto, nenhuma medida é proposta que enderece as questões mais graves com que se debatem as e mais competitivas instituições bater mancontinuam a se por que ter uma qualidade comparável às das melhores escolas europeias e mundiais. Todas as ações concretas do governo vão, pelo contrário, no sentido de reduzir recursos, autonomia, competitividade e a capaci- dade de resposta das universidades. Aproposta de Orçamento do Estado, em discussão, é particular- mente gravosa nas medidas que propõe e que colocam as universidades numa situação extremamente difícil. Por um lado, esta proposta impõe nos orçamentos das universidades um corte de um valor que é mais do dobro do que resulta da diminuição dos salários dos seus que, quadros. As universidades além de outros cortes, já tinham sido penalizadas com uma redução próxima dos 9% por força da redu- em 2011 (contra uma mediana administração pública de 5%), vêem-se agora confrontadas com uma redução superior a 8% (além da redução de mais de 2% já decidida em Agosto) na dotação do Orçamento do Estado, quando, em média, a administração pública sofre uma redução inferior a 4%. Embora esta redução de orçamento sejagravíssimaeimpossível ção dos salários, de acomodar existem disposições ainda mais gravosas que retiram às universidades a pouca margem de manobra que ainda tinham para se manterem competitivas. Uma outra disposição da proposta de Orçamento do Estado estipula que, em 2014, as universidades apenas poderão efetuar contratações ou renovações de contratos quando as reduções na massa salarial atinjam os 3%, relativamente a valores de dezembro de 2013. Num sistema que viu, nos últimos anos, os seus quadros reduzirem-se entre 10 e 20%, esta restrição adicional retira às universidades qualquer esperança de renovar áreas que foram seriamente afetadas pela vaga de reformas que varreu a função pública e de garantir a manutenção da sua competitividade nessas áreas. Ao remover esta possibilidade, o Orçamento de Estado empurra também os nossos jovens mais talentosos para carreiras fora do país, bloqueadas que estão quaisquer possibilidades de virem a ingressar em carreiras de ensino ou investigação em Portugal. O problema mais grave com que se debate o ensino superior de qua- lidade em Portugal é a falta de autonomia que resulta das múltiplas restrições que lhe são impostas, por via das medidas horizontais impostas pública. Este atodaaadministração é não problema sequer referido no guião. A Universidade já demonstrou, ao encaixar cortes da ordem dos 35% nos últimos 5 anos, que é capaz de gerir recursos de forma mais eficiente que o governo central. É importante perceber que re- tirar autonomia às universidades não se traduzirá em poupanças e é urgente concretizar mecanismos que permitam às universidades gerir, da melhor forma possível, os parcos recursos que estão à sua disposição. Presidente do IST Este artigo de opinião foi escrito em conformidade com o novo Acordo Ortográfico.