UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES FACULDADE DE EDUCAÇÃO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSO EM ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL PROJETO “A VEZ DO MESTRE” ENSINO RELIGIOSO REGINA CAELI DOS SANTOS COSTA E SILVA RIO DE JANEIRO 07/2005 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES FACULDADE DE EDUCAÇÃO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSO EM ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL PROJETO “A VEZ DO MESTRE” ENSINO RELIGIOSO REGINA CAELI DOS SANTOS COSTA E SILVA Orientadora: Profª. Maria Esther de Araujo Niterói/2005 3 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus que me permitiu concretizar um sonho e as duas pessoas que mais amo: Edinal e Jorge, que Deus os abençoe, obrigado. A professora e orientadora Maria Esther de Araujo que contribuiu para a confecção desse trabalho acadêmico. 4 DEDICATÓRIA Dedico a todos aqueles que contribuíram para a construção deste meu trabalho. Em especial a minha orientadora Maria Esther que não mediu esforços para me ajudar na elaboração desta pesquisa e minhas colegas de turma Maria Ângela e Kátia Regina, que não permitiram desanimar nos momentos mais difíceis. 5 RESUMO O educar é um processo de descoberta e redescoberta do ser humano, é dinâmico influenciando por valores e cultura dos povos. O Ensino Religioso de hoje não é apenas informações sobre religiões, mas sim área de conhecimento e faz parte da educação integral do aluno, em de acordo com as metas para educação no século XXI. O Ensino Religioso também é comprometido com a cidadania procurando a reumanização da pessoa; devendo ser fonte de diálogo permanente, superando limites e contradições que fazem parte da vida humana. Não levará o aluno em nenhuma hipótese a abdicar de sua confessionalidade, mas tratará todas as questões com a imparcialidade e clareza necessária fazendo com que não haja dúvidas sobre assuntos pertinentes a disciplina. A política neoliberal tem favorecido a desigualdade entre os homens e o Ensino Religioso dentro da dimensão antropológica, visa dar ao aluno uma formação básica, social e religiosa para que o mesmo busque uma abertura ao transcendente. 6 METODOLOGIA Para a confecção do trabalho diferentes pesquisas bibliográficas foram utilizadas analisando o perfil dos povos com suas religiões em diferentes culturas e épocas; sua importância para os povos, suas doutrinas e dogmas. A partir da convivência humana procuramos retratar a necessidade da religião para a cidadania, seus valores morais e éticos na sociedade que caminha rumo ao transcendente. 7 SUMÁRIO Introdução 8 Capítulo I - A CONVIVÊNCIA 10 Capítulo II - HISTÓRICOS DA RELIGIÕES 18 Capítulo III - ELEMENTOS HISTÓRICOS DO ENSINO RELIGIOSO 37 Capítulo IV - GLOBOCOLONIZAÇÃO 57 Conclusão 70 Bibliografia 71 Índice 72 8 INTRODUÇÃO A escola tem um papel fundamental na socialização do indivíduo, para o exercício da cidadania. Os autores dizem que a emoção influência todas nossa vida; nas mais diferentes situações e decisões. A Educação religiosa deverá ser capaz de transformar à sociedade e a realidade que nos envolve e o aluno será o sujeito de sua própria história, o agente transformador de seu destino. Uma Educação Ética-Religiosa deverá ser facilitadora de emoções, que influenciam a nossa atividade cognitiva e torna o aprender um prazer. As metas para Educação no século XXI apontaram diretrizes para o aluno se torne um cidadão pleno, conhecendo, fazendo, sendo e convivendo em sociedade. A Ética-Religiosa poderá ser a chave que facilitará transformações sociais urgentes que são necessárias no mundo globalizado. O Ensino Religioso permitirá uma “Nova Cultura”, uma cultura de paz, solidariedade, fraternidade e muitos outros valores-éticos-religiosos que são conhecidos por milhares de seguidores. Afinal:”A paz é o caminho para uma sociedade mais justa” João PauloII 9 Capítulo I A CONVIVÊNCIA HUMANA 10 1. A CONVIVÊNCIA HUMANA O projeto para Ensino Religioso das escolas públicas de São Paulo antropológico cristão é um dos mais conhecidos, pois valoriza o ser humano criado por Deus a luz de um texto histórico, de nome Bíblia. Fala no sentido de nossa existência, da despersonalização e a desumanização vivida nos dias de hoje. O homem é por natureza criado para viver em sociedade, tem necessidade de relacionar-se com o outro, um depende do outro. Suas habilidades, competência e até mesmo crenças depende ou são (estão) diretamente relacionados.Desde o momento do nascimento até sua morte há uma relação forte, mental e física que os permite conviver. O ser humano não consegue viver só, ele tem necessidades básicas e vai construindo sua história e aperfeiçoando-se. O coletivo faz parte de sua vida, pois percebe que para ser aceito no grupo deverá ter uma boa relação com o mesmo, aceitando suas qualidades e também defeitos. O ser (substância), torna-se humanizado quando convive em comunidade; há troca e é aí que o mesmo cresce, com as experiências da e na comunidade. A cada dia na sociedade, os acontecimentos políticos, sociais e econômicos vão transformando o seu habitat, seu pensamento para o resto da vida, ele irá tecendo laços, como uma teia, envolvendo tudo e todos como quando participantes de campanhas humanitárias. O homem é dono da história da civilização e na caminhada através dos séculos, nem sempre o homem mantém boas relações com outras pessoas, fazendo com que inúmeras vezes diferentes guerras fossem travadas e como conseqüência, hoje, vivenciamos cada vez mais contravalores. Em sua carta as famílias a Encíclica de João Paulo II – 1994 lembra a dignidade de pessoa humana, fala também do cosmos que é imenso, diversificado, o mundo é de todos os seres vivos ef.3, 14-16 Antes de criar a pessoa humana o criador, como que reentra em si mesmo para procurar o modelo e a inspiração no mistério de seu ser, que já aqui se manifesta de algum modo como a nós divino. 11 Homem e mulher foram criados; há uma dualidade, há o masculino e o feminino no indivíduo, mas igualmente pessoas. Esta constituição com dignidade específica faz com que surja a idéia de bem comum, de coletividade de divisão. Desde o momento em que nasce o ser está destinado a ser pessoa, pois é a única criatura que pode verdadeiramente servir com amor e através deste vai se realizando. “Amar significa dar e receber aquilo que não se pode comprar, nem vender, mas apenas livre e reciprocamente oferecer”. João Paulo II - 1994 Em 1996, a CNBB com a campanha da Fraternidade: Justiça e Paz se abraçarão, exortava as pessoas pensar no ser humano como um ser social, que não poderia viver em separado, mas como parte de um todo de nome Sociedade. O ser humano não é um objeto, uma coisa, ele tem o seu próprio valor é o autor meio e fim da sua história. Portanto a organização da mesma também depende de fatores políticos e econômicos não singulares e solidários. Ele aspira a vida se firmando como pessoa humana e por ser humano, tem necessidades básicas como alimentação, saúde, moradia, educação. Com o tempo o homem construiu sociedades: públicas, privadas, coletivas... e suas estruturas são organizacionais, dependem da mesma para sua sobrevivência. Fazemos política em diferentes ambientes é nesses espaços que os nosso sonhos tornam-se projetos. “O exercício da cidadania deve propiciar a participação na construção de uma sociedade justa e solidária como exigência do bem comum a ser vivida segundo o exemplo de Cristo”. João Paulo II - 1994 Três homens e os seus sonhos devem ser relacionados quando falamos obrigatoriamente (quando tratamos) da pessoa humana. 12 1- Martin Luther king, advogado, negro que lutou nos EUA contra o preconceito racial. Ele não aceitava e não se acomodou, passou a lutar de maneira pacífica por aquilo que acreditava (acreditava também que Deus estava ao seu lado). Movido pela fé, se tornou um lider para os negros nos EUA, em 1968 foi assassinado, mas seu sonho não morreu. “O caminho é cheio de asperezas mas não obstante fadigas e humilhações, eu tenho ainda um sonho ... sonho que sobre as colinas vermelhas da Georgia, os filhos dos antigos escravos e filhos de escravizadores possam sentar-se juntos à mesa da fraternidade; Sonho que o Estado do Mississipi, repleto de opressão e brutalidade seja transformado num Estado onde as crianças negras possam dar as mãos as crianças brancas e andar juntas como irmão e irmã. Eu tenho ainda um sonho.Com fé eu volto para o Sul. Com esta fé poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, ir juntos à prisão, certos de que um dia seremos livres. Quando tudo isso acontecer, todos os filhos de Deus, brancos e negros, judeus e pagãos, protestantes e católicos, poderão dar-se as mãos uns aos outros e cantar aquele velho hino dos escravos: Finalmente livres! Graças a Deus onipotente, nós somos finalmente livres”. Discurso de Martin Luther King PCNs – temas transversais – Ética 1999. 2- Mahatma Gandhi, nasceu em 1869, na Índia. Seu nome em uma antiga língua hindu significa: grande alma. Estudou em Londres e formou advogado sendo contratado por uma empresa para trabalhar na África do Sul. A discriminação no país era muita; os brancos não tratavam indianos e negros da mesma forma (estes) eram tratados com desprezo e muita violência. Sendo Ganhi discriminado passa a defender como advogado o direito dos seus compatriotas e os negros, ficou na África do Sul por vinte anos. Ao voltar para Índia continuou sua luta pela liberdade política e econômica, também defendeu os que vivem em extrema pobreza e 13 analfabetos; procurou também amenizar os conflitos religiosos entre hindus e muçulmanos. Durante toda sua vida ele empregou o método da não-violência, sempre com muitas pessoas e comícios com milhares de pessoas. Foi preso várias vezes, mas não desistiu de lutar, por seu país, sem nunca ter recorrido a armas. Com a independência (1947) a Índia foi dividida em dois países: O Paquistão de maioria muçulmana e a Índia de maioria Hindu; com a divisão violentas rebeliões aconteceram, causando milhares de mortes, levando Gandhi a um estado de profunda tristeza. Foi assassinado em 1948, mas suas palavras e pregações não foram esquecidas, para Ele: “cedo ou tarde a verdade vence a mentira; a honestidade vence a hipocrisia; o amor vence o ódio”. Correia e Selnaders (2002) 3- Karol Wostila, nasceu em 1920, polonês, adotou o nome de João Paulo II e falecendo em 2005. Cursou filosofia na Cracrôvia. Em 1939, com as forças nazistas na sua terra o jovem operário, participava de teatro e um grupo clandestino de resistência cultural que ideologicamente lutava contra os nazistas. Em 1942 ingressa na Faculdade de Teologia, elegendo-se Papa em 1978, se tornando em 456 anos o primeiro pontífice não-italiano. Não defende a Teologia da Libertação “não há necessidade de recorrer a sistemas e ideologias para amar defender e colaborar na libertação do homem”, ajuda a derrotar com suas mensagens o regime comunista e prega a unidade da Europa Cristã. Diferentes acontecimentos marcam sua vida nas décadas de 80 e 90. Vem ao Brasil e visita detentos, operários, favelados e hansenianos. É atingido por três tiros, e escapa milagrosamente com vida do atentado. Encontra-se com dois líderes mundiais Ronald Reagam e Tasser Arafat. Pune o então frade Franciscano Leonardo Boff que seria na época em dos expoentes da Teoria da Libertação com o “silêncio penitencial”. Pede perdão aos africanos e índios pela tolerância da Igreja Católica no passado. Preside o primeiro encontro inter- 14 religioso na Itália que reúne líderes de diferentes igrejas e tradições religiosas.”A paz é portadora do nome de Cristo. Não temos sido sempre construtores da paz”. Defende a reunificação das Alemanhas e recebe pela primeira vez na história um secretário-geral do Partido Comunista Mikhail Gorbachev, restabelecendo relações diplomáticas entre a Santa Sé e Moscou; Publica a encíclica Centesimus Annus, onde critica o modelo comunista. A negação desse direito (econômico) ou sua limitação em nome de uma pretensa igualdade de toda sociedade, reduz e destrói o espírito de iniciativa e a personalidade criativa do cidadão. Em seu lugar prevaleceu a passividade, a dependência e a submissão; em 1993 publica a encíclica Veritatis Spendor que condena a homossexualidade, o aborto e o sexo fora do casamento, critica a ONU que apoia os métodos contraceptivos artificiais; é escolhido em 1994 pela revista Time o homem do ano; após seis anos de negociações, Fidel Castro é recebido no Vaticano; em 1998 pede perdão aos judeus pelo comportamento da Igreja no Holocausto faltou aos “cristãos resistência espiritual para fazer frente ao massacre dos nazistas, neste mesmo ano pede que Cuba se abra para abra para o mundo e o mundo se abra para Cuba; critica o embargo americano e defende a libertação dos “prisioneiros de consciência”. 2000 a 2005, sabia de sua real situação e procurou reafirmar todos os dons que dignificam a raça humana. Em 2000 pede novamente perdão pelos erros cometidos pela Igreja desde a Inquisição; em 2001 é o primeiro líder da igreja católica a entrar em um templo islâmico; em 2002, faz sua última visita a Polônia e se despede de seu povo; reconhece sua doença publicamente Parkison declarando: “está chegando o dia de se apresentar perante Deus”, e em 2005 em sua última carta apostólica: O Rápido Desenvolvimento, João Paulo II, pede aos meios de comunicação que promovam justiça e solidariedade. O mundo segundo João Paulo II. A família deve estar bem para que sua comunidade e a sociedade tenham futuro, deverá ser constituída de pai e mãe. 15 A mulher tem uma vocação para a ordem e promoção da paz em família, os homens não podem ter o pensamento que mulher nasceu apenas para servi-lo. É contra o aborto, pois o feto não tem como defender-se do ataque dos adultos, diz que a televisão não pode somente servir a grupos econômicos, mas sim ao bem comum. Lembra que não poderemos pensar que a palavra Ecologia é apenas uma moda. “Que os jovens buscam a beleza no amor” lindo e puro, mas existem determinados padrões de comportamento que deturpam esses valores. O capitalismo tem coisas ilimitadas (como a busca pelo poder exagerado) esquecendo do desemprego, dos pobres gerando graves problemas sociais, sofridos por milhares de seres humanos. “A família é o patrimônio da humanidade porque é por meio dela que Deus, se deve prolongar a presença do homem sobre a Terra”. João Paulo II(1993). “Não se deve permitir que a guerra provoque a desunião entre as religiões. Não podemos deixar que uma tragédia humana se transforme em catástrofe religiosa”. João Paulo II (2003). Concluiu-se que o ser humano deverá ser social e político para que possa se constituir pessoa. Deverá ter direitos e deveres, para que possa viver dignamente. O respeito à vida da pessoa e sua dignidade deverá ser levado como bandeira ideológica para o bem comum. Quando respeitamos o homem apostamos na vida e na sobrevivência de nossa espécie. E para tal a família é de importância fundamental em toda estrutura, pois é base para que possa nascer com dignidade; o ser humano vive em uma comunidade e a primeira sociedade da pessoa humana é a família. E uma comunidade de relações interpessoais, que buscam sempre o bem do coletivo. Ela é tão importante que não deverá ser substituída, ela tem um valor que não se compara com nenhuma outra instituição, e na família que aprendemos a criar laços que unem e perpetuem a espécie humana. Não há sociedade sem passar pela família, não se constrói uma nação sem que haja famílias. 16 E no “seio” familiar também que começamos a conhecer a espiritualidade que nos permite uma série de descobertas. 1.1 - A Espiritualidade Leonardo Boff foi muito categórico quando escreveu o livro: Espiritualidade um caminho para transformação. Ele afirma e explica a necessidade de sermos pessoas espiritualizadas. É urgente e se faz necessário refletimos sobre a espiritualidade da humanidade “humilhada” é urgente diante a realidade que nos cerca e informações desencontradas de inúmeros assuntos como: Exterminação da espécie, da liquidação da biosfera, da ameaça do futuro comum da Terra e de toda humanidade. Começamos nos indagar e até afirmar o que estaríamos fazendo no planeta terra, diante de tais dificuldades. Diante do contexto que é apresentado percebemos que a busca a espiritualidade é esperança de que algo (bom) poderá vir nos acontecer, começamos buscar algo muito além do humano para transcender e ser superhumano. Quando se fala em espiritualidade, é a busca, não só nas religiões, mas do ser humano rumo ao infinito dentro dele mesmo. A busca por algo melhor, passa pelos jovens, cientistas e até empresários diante de crises que constantemente vivemos. Há um vazio profundo, um buraco imenso dentro do seu ser, suscitando questões como gratuidade e espiritualidade, futuro da vida e do sistema Terra. Esse buraco existencial é do tamanho de Deus, por isso só Deus é capaz de preenchê-lo. A crise de valores é mundial e se busca entender, vivenciar os mesmos, pois não sabemos para onde modificar por dentro pessoas e nações, dar-lhes um novo sentido para sua vida e suas indagações, procurar algo novo que dê sentido a vida, para sua própria sobrevivência. A espiritualidade tem que ser sempre algo que cure o interior do ser humano dando-lhe paz, para que possa conviver em meio há tantas situações difíceis e plurais; quando entramos em nós mesmos e descobrimos que não somos ilha, mas continente; estamos caminhando rumo a espiritualidade. 17 “Espiritualidade tem haver com experiências, não com doutrina, não com dogmas, não com ritos, não com celebrações (que podem ajudar) pois são posteriores a espiritualidade”. Quando percebemos que podemos mudar, descobrimos dentro de nós uma fonte capaz de: Transformar nossa forma de ver e agir em frente a realidade por mais dura que possa ser. Quando percebemos que somos espirituais, nos questionamos e tentamos encontrar soluções para tudo e para todos. É necessário que tenhamos um encontro íntimo, pessoal para que possa render frutos que fortifiquem o nosso coração. “A espiritualidade é uma dimensão de cada ser humano. Essa dimensão espiritual que cada um de nós tem se revela pela capacidade de diálogo consigo mesmo... se traduz pelo amor, pela sensibilidade, pela compaixão, pela escrita do outro”. Boff, Leonardo ( 2001) 18 Capítulo II HISTÓRICOS DA RELIGIÕES 19 2. HISTÓRICOS DA RELIGIÕES Segundo Cisalpino (1994) o que nos torna diferentes dos animais é nossa capacidade de criar, de agir sobre o nosso meio transformando-os. Somos capazes de responder diferentes questões, pelo conhecimento acumulado ao longo de milênios. Perguntas que hoje somos capazes de responder com relativa facilidade (o que é o sol?) em outras épocas era difícil encontrar respostas. Pela dependência que o homem tinha em relação aos ciclos da natureza o ser humano buscava explicações no místico. E com o tempo desenvolveu rituais mágicos, que poderiam atrair desde, boa sorte, até fertilidade. 2.1 – Religiões Politeístas Na antigüidade a complexidade religiosa acompanhou a complexidade social, é a religião desempenhava um importante papel: de sistemas cosmogônicos a conduta ética, moral, sempre procurando explicar a existência do universo; era marcadas por características politeístas com diferentes funções. No antigo Egito surgiu uma região desértica. Cortado pelo grande. Nilo a cerca de 3000 anos a.C. e também uma civilização agrícola. A grande dependência do Egito em relação a natureza e ao Nilo, fez com que houvesse uma grande relação política e religiosa com o mesmo. O governante Egípcio era o Farão, e para os Egípcios, ele representava a encarnação do deus maior de sua religião: o Sol. O Farão era um deus vivo, um ser divino. Ele garantia o ciclo natural que viabilizaria a agricultura: as cheias do Nilo. “Sou vosso filho que vossos dois braços produziram. Fizeste-me soberano vida, saúde, força da terra. Fizeste para mim a perfeição sobre a terra. Cumpro minha função em paz. Não deixo repousar o meu coração, buscando o que é útil e eficaz para vossos santuários...”. (Trecho de O Egito no tempo de Ramsés. Coleção A vida cotidiana. SP. Cia das Letras, 1994) 20 Os deuses Egípcios relacionavam-se com a natureza; O Nilo era cultuado como um deus: o deus rio. Os egípcios relatavam as dádivas do Nilo em livros (papiros) e tinham outros deuses; como Rá que era chamado o Sol e a Deusa Osirís que controlava a morte e a ressurreição. Os egípcios já cultuavam a idéia de alma sem pecado e a escreveram em livro. “O livro dos mortos” que trazia instruções para uma vida digna e descrevia como era julgada a alma antes de entrar no paraíso, “alma leve” é o termo que usavam; quando morriam os Faraós e altos funcionários, a Barca do Sol, buscar vinha a alma para essa viagem era necessário, suprimentos cartas que recomendassem ao Deus dos mortos e de um corpo; esse corpo era mumificado e encarcerado em túmulos de nome pirâmide, pertences e até escravos eram e encarcerados. Os pobres não tinham pirâmides próprias, mas, também eram mumificados. Na Mesopotâmia, terra que ficava entre o rio Tigre e Eufrates no Oriente Médio, surgiu a mais importante cidade da antigüidade, a Babilônia. Era uma cidade-estado com governo próprio, os reis daquela cidade também eram ligados a religião, mas não eram considerados divindades, tinha como característica as artes advinhatórias. Os sacerdotes praticavam a hepatoscopia, acreditavam que o fígado podia predizer o futuro. Acreditavam também que os astros estavam a serviço dos deuses e que estes influenciavam a vida na terra. Esse povo foi o precursor da astrologia, astronomia e cálculos matemáticos e calendários, aprimorados posteriormente por outros povos. 2.2 - A Mitologia A mitologia greco-romana por vezes se confunde, sendo fundamentais para a cultura ocidental, que é baseada nas tradições, costumes, conhecimentos e línguas usadas por eles. São tão próximos culturalmente que sua cultura indissociável é caracterizada por mitos. “Que são a narrativa de uma criação. Conta-nos de que modo algo, que não era, começou a se”. Eliade, Mircea -1979. 21 A mitologia greco-romana apresenta seus deuses com forma humana, habitavam o universo emocional humano, sofriam, tinham paixões, amores, ódios. Existia uma hierarquia Zeus, que era o deus maior, que corresponde a Júpiter na mitologia romana, a estes estavam subordinados todos os outros deuses, musas e seres, como por exemplo, as sereias; Os heróis na mitologia grega eram meio mortais e suas ações e atitudes são sempre consideradas exemplares. A criação e o funcionamento do mundo são em particular o momento mais belo da mitologia grega. “Contam os mitos que existia uma entidade inicial chamada Cronos: era o senhor do tempo (daí termos cronômetro, cronologia) e teve vários filhos com Reia. Ele devara os filhos mas a deusa fez com que eles vomitasse os filhos e Zeus o matou. Depois dividiram o Universo: a Zeus couberam o céu e o firmamento; a Hera, a terra; a Poseidon, as águas e a Hades o mundo subterrâneo ... tendo controlado e hierarquizado o mundo foram para uma região acima do monte Olímpio onde passaram a viver”. Cisalpino Murilo –1994 Os gregos acreditavam que o Universo se dividia em duas partes: o caos predominava o desequilíbrio - era reino dos homens e o cosmos onde predominava a paz – era o reino dos deuses. Toda produção intelectual da antiga Grécia procurava essa perfeição do cosmos, que o mundo dos deuses deveria ser buscado pelos homens, uma escultura não representava uma pessoa, mas sim como deveria ser a espécie humana. O acontecimento mais importante da Grécia acontecia a cada quatro anos na cidade de nome Olímpia no oráculo de Zeus – a Olimpíada que representava o momento da unidade cultural dos gregos. Na mitologia romana encontra-se os mesmos deuses, embora com outros nomes. Os romanos eram um povo menos intelectual que os romanos, eram mais ligados a coisas terrenas. 22 Constituíram um extenso império (territoriamente e temporalmente) eram muito imediatistas. Era comum a prática de aupícios consultavam a vontade dos deuses. O mito romano mais conhecido é o da fundação da cidade de Roma, por dois gêmeos Rômulo e Remo, que abandonados pela mãe foram amamentados e protegidos por uma loba. 2.3 - Religiões Orientais O Hinduísmo, termo significa conjunto de princípios e práticas religiosas da população da Índia, também é praticado com variações em outros países: como por exemplo: Nepal, Bangladesh e Srilamka. Sua história começou em torno de 2000 a.C., com os Áríos que eram criadores de gado nômade, o carro de combate para lutas era puxado por cavalos fazendo com que fossem superiores aos povos que lutassem a pé, Com inúmeras guerras vencidas formo-se uma cultura das misturas de povos e religiões. O grande número de deuses do hinduísmo tem origem na mistura de povos e religiões. Duas características importantes: Tudo que existe da natureza até a divisão da sociedade em classes é justificada pela religião, é a força da tradição milenar. Existe um grande número de deuses que sofrem influência dos desejos e da vontade humana, procurando intervir nos seus atos. Os mais importantes são: Idra, senhor dos deuses (representado por um touro); Aurora que é mãe de todas as criaturas (representada por uma vaca); Vata deus dos ventos; Marutes das águas; Rudra da tempestade; O mais importante compõe a trindade hindu: VISHNU, SHIVA e BRAHMA. Utiliza fórmulas mágicas para influir sobre os deuses, mantras, encantos, amuletos, adivinhações e sinais astrológicos. A característica fundamental da sociedade hindu é o sistema de castas. A evolução do hinduísmo conheceu quatro fases: a primeira o hinduísmo védico, a segunda fez surgir o bramanismo, que quer dizer absoluto. Os brâmanes são considerados senhores de tudo o que existe no mundo. 23 Duas idéias essenciais do hinduísmo surgiram nessa fase a reencarnação e a salvação – Karma (conjunto de atitudes negativas que cada pessoa toma durante a vida). Esse negativismo marca toda existência do indivíduo criando um “peso” para sua alma. Apenas pelas sucessivas reencarnações é que a alma vai se purificando e atingindo estágios mais elevados. - Nirvana – a libertação só acontece quando a alma consegue libertar-se dos ciclos reencarnatários e reencontrar-se com o todo absoluto Brahma. Para eles quanto mais baixo na escala social maior carga cármica e maior o número de reencarnação para o indivíduo purificar sua alma. É interessante observar que no século XI, a força do hinduísmo foi abordada pela invasão muçulmana. Hoje o hinduísmo conserva sua originalidade no folclore e no misticismo, mas muitas vezes é difícil distinguir uma característica hindu de uma islamista. Entre os hindus determinadas práticas fazem com que o espírito se prepare para uma união cósmica, a prática mais conhecida entre nós é com um exercício que se chama HATHA IOGA (prepara o indivíduo para meditação). O budismo é uma outra religião muito importante no Oriente, foi fundado em torno do século VI a.C. por Siddharta Gautama, o Buda (o iluminado). É uma religião aberta a todos os grupos sociais. Fundado por Gautama que por quarenta e cinco anos pregou contra os excessos do Bramanismo, seu excesso de disciplina e sua dependência de uma classe social inacessível dos homens comuns. Para os budistas o universo e todas as coisas tudo se transforma todo o tempo, até mesmo idéias e pensamentos, não considera a existência de um espírito ou alma imortal. Os ensinamentos budistas procuram eliminar o sofrimento da vida do homem. O nirvana seria a libertação do sofrimento; no budismo não há um deus que possa salvar o homem, o próprio homem poderá chegar ao estado de ser “iluminado”. O budismo surgiu a fim de amenizar os sofrimentos dos miseráveis que, inferiorizados na sociedade hindu, poucas esperanças tinham (zen-budismo). 24 “Para o budismo apenas a prática de rituais não supera o ciclo do renascimento. É necessário obter a virtude que vem da responsabilidade individual”. Cisalpino Murilo –1994 Algumas técnicas, conhecidas por nós ocidentais vem de elementos budistas; a arte de arranjos florais, o judô, o caratê e outras técnicas de defesa corporal. O xintoísmo – Izanami e Izanagi formam o casal de deuses responsáveis pela criação de todas as coisas, até mesmo as inúmeras divindades menos importantes e a ilhas que constituem o Japão. “Segundo o xintoísmo assim foram criadas todas as coisas e os seres no mundo. E como o próprio Japão foi criado pelos deuses, os japoneses consideram-se superiores, raça de origem divina”. Cisalpino Murilo –1994 Os xintoístas cultuam os antepassados, com importantes rituais fúnebres, pois os mortos tornam-se deuses e punem ou recompensam os vivos caso sejam mal ou bem tratados. E também ressaltado o princípio da fidelidade, segundo o qual o indivíduo deve se sacrificar pela família e pela nação, esse princípio ficou muito conhecido quando em missões suicidas os pilotos se atiravam sobre inimigos na Segunda guerra mundial (os Kamikasi). - Taoísmo – É uma das religiões mais importantes da China, mais que uma religião é uma filosofia de vida. Não há um deus, mas uma visão de mundo, do caminho correto que deverá ser escolhido por cada um, que deverá se integrar à ordem “universal pela compreensão da essência do Universo”. Tao significa caminho, princípio universal da vida, razão suprema, procedimento correto. Segundo a Tradição, Lao-tsé foi o fundador do Taoísmo em mais ou menos 57 a 490 a.C. 25 A meditação é a maneira mais correta para atingir tao; seus adeptos meditam sobre a verdade, por meio de forças opostas e complementares em todas as coisas. A partir de V a.C., o taoísmo se transformou em religião de salvação com sacerdotes e cultos. No ocidente é muito divulgado é estudado principalmente por cientistas que perceberam semelhanças entre a concepção taioísta e a física contemporânea. O Confuncionismo - No início era um pensamento e não uma religião, mas quando misturou-se partes do budismo e taoísmo se transformou e uma das religiões mais importantes da China. Kung Fu-tzu (confúncio) viveu entre 551 e 479 a.C., pregava a volta à organização dos primeiros tempos da dinastia Chou (já que vivia em uma época muito conturbada por inúmeras guerras) onde a organização familiar se confundia com o Estado. Formou uma “escola” que modificava o pensamento de jovens aristocrata suas idéias eram racionalistas e pragmáticas (não havia idéias mitológicas e ou sobrenaturais). “O princípio da lealdade é básico no confucionismo. Há uma lealdade que o filho deve ao pai e uma que os súditos devem aos soberano. Dessa forma, a família não se desmantela o que contribui para a manutenção do Estado”. Cisalpino Murilo –1994 Justiça, benevolência e lealdade são os princípios mais importantes no pensamento de Lao-tsé. Com a revolução da China que passa receber influência ocidental o confucionismo foi criticado, considerado conservador e obscuro, após a revolução foi tachado de reacionário e seu pensamento execretado na China, mas continua até hoje em menor escala. O Candomblé e a Umbanda - Com a escravidão vieram os escravos que praticavam cultos a diferentes entidades relacionados principalmente com a natureza. 26 Como vieram de diferentes nações e sociedades, várias correntes se formaram no Brasil chamamos cultos Afro-brasileiros. Os mais conhecidos são a umbanda e o candomblé. Foram durante anos perseguidos, pois o Brasil foi colonizado por católicos, mas através de um subterfúgio chamado sincrelismo mantiveram sua crença e tradição. Passaram a dirigir-se aos seus deuses, chamando-os por nomes dos santos católicos. Nas crenças afro-brasileiras (politeístas) também existiria um deus- criador (Olorum) que seria responsável pela Orientação criadora, “originando e unindo outros orixás”, este é o pai de Oxalá (Jesus Cristo); existem outros importantes como por exemplo Iemanjá (protetora dos mares e oceanos) e Xangô (orixá da justiça). Na umbanda existem diferentes guias e espíritos e os seus cultos são realizados em salões de nome terreiros. Há muita música, danças e são oferecidos presentes. Segundo os cultos afro-brasileiros, cada pessoa já nasce com seus protetores de acordo com o dia e mês do nascimento sendo observados também pela astrologia que influenciará a vida do indivíduo. 2.4 - Religiões Monoteístas As religiões monoteístas professam a fé em um único Deus, representa um marco na história do homem, dando a sua vida novas organizações e muitos valores morais e éticos. A fé em um único Deus, que tudo cria e tudo vê manteve a unidade cultural dos povos, judeus, cristãos e muçulmanos. Devemos destacar a catequese do cristianismo e do islamismo que procurou levar aos pagãos a fé, a religião por meio até, mesmo de guerras chamadas santas, mas que levaram a uma significativa expansão das duas religiões. 27 O Judaísmo – É a própria história do povo hebreu e da aliança do povo com seu Deus. O Judaísmo foi a primeira religião que saiu do politeísmo para a monolatria, chegando ao monoteísmo que já afirma a existência de um único Deus. Essa religião surgiu entre as tribos hebraicas que viviam na Mesopotamia. Um patriarca (ancião) chamado Abraão, iniciou e unificou as 12 tribos que existiam com a afirmação da existência de um início Deus, onipotente e onisciente. Segundo Abraão este Deus ordenou que retirasse o povo hebreu da Mesopotâmia e os levasse para a “Terra prometida”, chamada Canaã, ou Palestina, essa saída “inaugura o fenômeno da união de povos pela força da fé em um Deus único”. É inaugurada nesse momento uma nova religião que por séculos, reuniu seus códigos de conduta ética e moral e destinos dos homens diante de único deus muito, todo, poderoso. As tribos durante a caminhada acabaram se dividindo uma parte ficou em Canaã, a outra dirigiu-se ao Egito onde viraram escravos. Nesse contexto surgiu um novo líder: Moisés que recebe de Deus a missão de reconduzir os hebreus a Palestina. Dos dez mandamentos que Moisés recebeu de Deus no monte Sinai surgiu a Lei Mosaica que é a base do judaísmo. Os livros sagrados do judaísmo são chamados de Tanach, que registram a história do povo de Israel, esse livro é composto de Torá (que fala da Lei judaica), Neviim (profetas), Ktuvim (escritos: salmos, provérbios e o livro de Jó), as cinco Meguilot (Cântico dos cânticos, Ruth Lamentações, Eclesiastes, Ester) e os livros históricos (Daniel, Esdras, Neemias, Crônicas I e II). O Tanach é a Bíblia Judaica. Além deste livro existe também o Talmud onde estão escritas as regras básicas e as orientações aos fiéis sobre suas rotinas diárias. A característica mas significativa na religião judaica são os profetas considerados mensageiros de Deus. Os judeus também tem na circuncisão um sinal da aliança com Deus e o apego à história de seu povo (o escolhido). 28 No calendário judaico não estaríamos em 2005 e sim no ano de 5766. Porque os judeus contam o tempo a partir da criação do mundo, segundo seus ensinamentos. O Islamismo – Fundado por Mohamma nascido na cidade de Meca na Arábia Saudita mais ou menos no ano 577 d.C. Conhecendo o Cristianismo e o Judaísmo Mahamad via nas duas religiões erros que desviavam do caminho de Deus, como a afirmação que somente os judeus são os povos escolhidos, criticava o politeísmo presente na idéia de adoração dos santos e a idéia de Santíssima Trindade e também descordava que Jesus Cristo seria a encarnação de Deus. Consideram Jesus Cristo, como um profeta que antecedeu (Maomé), Mohammad que seria o profeta que restabeleceria a vontade de Deus. O princípio básico da Lei Maometana é a submissão a Deus, pois a vida é dada por Deus. As revelações para conduzir os homens ao caminho da justiça social estão escritas em um livro sagrado de nome Alcorão, que reúne os ensinamentos transmitidos por Allah a Mohammad. As histórias da vida desse profeta está reunida e escrita em um livro chamado Suna, pois a vida do profeta é exemplo para os fiéis. Existem duas tendências dentro do Islamismo que significa dentro do coração) que são consideradas radicais: Os Sunitas: (que se consideram os únicos que seguem fielmente a Suna e conhecedores do Hadith (exemplos do profeta Mohammad) e os xiítas, que são fundamentalistas, preocupam-se mais com o Alcorão, com as palavras de Allah e “levam a ferro e fogo a idéia de Jihad – a guerra santa aos infiéis - são considerados “religiosos radicais” e “fanáticos”. Para eles as tradições devem ser seguidas, odeiam o povo ocidental, pois consideram todos os estragos feitos durante as ocupações sucessivas que aumentaram a propreza e o desrespeito a cultura árabe e muçulmana.Chegando ao ponto de considerá-los como cidadão de segunda classe. 29 O Cristianismo – É também uma crença monoteísta. Sua história começa com o nascimento de Jesus Cristo, na Palestina, que segundo a tradição judaica viria um salvador para libertá-los da opressão levando-os para o reino dos céus. Jesus Cristo pregava uma libertação pelo amor, condenava a violência, pois todos seríamos filhos do mesmo Deus: a idéia principal era o amor ao próximo. Foi morto pelos Romanos (dominadores da região na época), pois suas pregações representavam uma ameaça mais política do que religiosa. O receio de um levante popular, e uma quebra no “equilíbrio” da religião segundo os doutores da lei fizeram com que fosse condenado por subversão à morte em uma cruz. Após sua morte, seus apóstolos espalharam sua doutrina pelo mundo, e acreditam que seu Deus é o único, sendo criador de todos as coisas, primeira paz, vida eterna e o reino de Deus, terminou após anos de perseguição aos seus seguidores, sendo aceito pelos romanos, a partir de Constantino que adotou o Cristianismo como religião oficial do império. O caos em que viviam e a desagregação do Império Romano fez com que o Cristianismo se solidificasse, no ano V d.C. Houve duas divisões no Cristianismo a primeira foi a tentativa de retomar os Estados Cristãos do Oriente, na região da Palestina, Síria e Arábia, mas fracassou e esses estados foram reconquistados pelo povo árabe seguidores de Mahammad; e a reforma (século XVI), surgida dentro da Igreja Católica, que buscava recolocar a igreja no seu caminho original, Ela havia se tornado impura ao liga-se com com o poder político e econômico. A reforma deu origem ao protestantismo, a igreja católica reagiu a esse movimento por meio da contra-reforma, onde foram criados mecanismo de defesa e propagação da fé cristã como: Companhia de Jesus e Tribunal do Santo Ofício que julgava “heresias”. Religiões hoje – A palavra religião vem do latim religare que quer dizer voltar. 30 No entendimento dos mestres a busca do homem por um elo perdido que responda suas indagações, faz com que cada vez mais o homem busque um sentido para sua vida, respondendo através das religiões questões que o acompanham por toda vida: De onde vim? Qual o sentido de minha vida? A religião sempre teve um aspecto intelectual e emocional, o nosso intelecto procura todo o tempo respostas. Como foi visto sempre existiu uma relação do homem com o divino, por isso a busca é infinita, de certa forma o homem busca e procura a perfeição. E através mecanismos que são chamados, cultos, orações, meditação ritos, etc. sacrifícios, etc. O emocional é o equilíbrio pois envolve o fundo do coração; a tristeza, a alegria, faz parte do sentimento que tanto nos diferencia de outros animais. A religião portanto é o eterno buscar, não pensar que está acabado, mas sim que sempre se pode recomeçar. Conta-se que um monge budista define o é essa procura: “Um homem que buscava o caminho da espiritualidade, chegou ao sopé da montanha da Verdade e quis saber qual era o caminho que o conduziria à iluminação. De cada homem santo a quem perguntava, obtinha uma resposta diferente. Depois de muito pensar, decidiu-se por um caminho e afirmou que aquele era o único caminho que o levaria ao topo da montanha. Quando chegou ao topo eram tantos quantos eram as almas que procuravam a montanha”. Cisalpino Murilo –1994 E a Constituição da República Federativa do Brasil. Título II, capítulo I, Art. 5º itens VI e VIII diz: VI) “É inviolável a liberdade de consciência e de crença sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei a proteção aos locais de culto e suas liturgias”. VIII) “Ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta...”. 31 2.5 - Religiões no Aspecto Filosófico Uma manifestação cultural importante dentro da Filosofia é o estudo das religiões. O sagrado dentro desta é visto como uma força sobrenatural que habita em algum ente, é um poder que pertence a um ser temporariamente ou não. E a tentativa de demonstrar para os seres humanos que somos diferentes na essência e alguns são superiores sobre os outros, podendo ser até temidos, adorados , odiados... O divino, divide em natural e sobrenatural, em forças que poderão ajudar os homens, diante de situações que, para os mesmos sozinho seria impossível resolver. O Sagrado faz o homem feliz, há um simbolismo futuro do ideal de felicidade, pois em algum lugar algo ou alguém irá esperar uma recompensa por seus atos. Segundo o dicionário Aurélio, da Nova Fronteira o Sagrado é: “Que se sagrou, relativo às coisas divinas, a religião; sacro, santo. Venerável e sagrar: Dedicar à divindade ou ato serviço divino; benzer, consagrar. Investir numa divindade por meio de cerimônias religiosas”. O Sagrado na cultura humana é merecedor de culto (como na cultura dos índios sul-americanos por exemplo o sagrado é designado por palavras como tunpa e aigres ou na cultura hebraica, onde existem dois termos para designar sagrado: qados e herem (aqueles seres ou coisas que são separados por Deus para seu culto serviço, sacrifício, punição não; podendo ser tocado pelo homem. ”Assim a Arca da Aliança onde estavam guardados os textos sagrados era quando e, portanto, intocável ...”). Marilena Chauí – Filosofia – Ed. Ática. 2001 O divino o sagrado, induz a devoção, amor, repulsa, ódio, temor e respeito, da soma desses sentimentos nasce a religião. A palavras religião vem do latim: religio; do prefixo re (outra vez de novo) e o verbo leigare (unir, ligar, vincular), a religião tem por meta unir, ligar, desligar o humano e o sagrado; o profano e o sagrado o concreto e o abstrato. 32 Na maioria das culturas, há sempre um líder religioso e um templo para que o povo preste culto as suas divindades. “No Cristianismo a religião é explicitada por um gesto de união. No novo testamento, Jesus disse a Pedro: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do reino: o que ligares na Terra será ligado no Céu) e o que desligares na Terra será desligado no Céu”. (Bíblia Sagrada – Ave Maria – Ed. Ave Maria. 2003) É bom lembrar que diferentes religiões criaram a idéia de um lugar sagrado como: Céu Monte Olimpo e outros, que segundo a idéia um dia dependendo de nossas ações também iremos para o mesmo lugar sagrado eu nos tornaremos uma divindade como aquelas que habitam esse espaço. O Divino e sua origem - A religião também dentro de manifestação cultural é uma narrativa da origem de um povo, de um deus; tem portanto a marca do sagrado, as narrativas religiosas normalmente começam com expressões: “no começo, quando a deusa M viu pela primeira vez a terra em outras”. A narrativa sagrada é a história sagrada que os gregos chamam de mito. Esta não é uma fabulação ilusória, uma fantasia sem consciência, mas a maneira pela qual uma sociedade narra para si mesma seu começo e o de toda realidade do seu povo, inclusive o começo ou nascimento dos próprios deuses”. Marilena Chauí. Filosofia. Ed. Ática. 2001 A história sagrada, mitos ou porque e como o mundo existe; é cosmogonia (do grego: cosmos, mundo; gonia, geração) conta o nascimento de todos os seres e como perecem sob a supervisão de um deus, ou deuses, existiria portanto um tempo anterior a criação. O tempo sagrado, quando tudo foi criado e o tempo de hoje, que inclui os homens e é um tempo profano segundo os deuses. 33 Os Rituais - A religião tem meios que permeiam à ligação dos homens às suas divindades são chamados ritos que segundo o dicionário Aurélio são: “regras e cerimônias próprias da prática de uma religião, culto”. Existem nos ritos palavras, objetos, gestos determinados para que o sagrado se sobreponha ao humano o mistério permaneça, os benefícios apareçam e a crença, a fé ou seja a confiança aumente na divindade que acredita pelos benefícios que proporciona ou para exorcizar sua cólera caso os humanos tenham feito algo que desagrade os deuses. “A repetição dos ritos é realizada toda vez que é praticada: como da primeira vez nada é mudado, para que alcance a eficácia desejada e os pedidos dos fiéis sejam atendidos.” “Um rito religioso e repetitivo em dois sentidos principais: a cerimônia deve repetir um acontecimento essencial da história sagrada, no cristianismo, a eucaristia ou a comunhão, em que se repete a Santa Ceia); e, em segundo lugar dos gestos, palavras, objetos devem ser sempre os mesmos, porque foram na primeira vez, consagrados pelo próprio deus”. Marilena Chauí – Filosofia. Ed. Ática. 2001. Teísmo e Politeísmo - Existem duas palavras que são muito usadas, quando falamos em religião: Imanência (Que existe sempre em um dado objeto e inseparável dele) e transcendência (Que transcende, superior, exelso. Que transcende os limites da experiência possível). Dicionário Aurélio Ed. Nova. Fronteiras. 2004. Quando estudamos as religiões Panteístas o divino, o sagrado, em diferentes culturas e religiões e objetos os seres sacros habitam nosso mundo, pertencem a ele, como os deuses que estão espalhados na natureza. Nas religiões Teístas o transcendente é a figura principal, os deuses são separados do mundo natural e humano, como os deuses que vivem no monte Olimpo, mas tem contado com os seres humanos, através da visitação. 34 “A visitação é um problema na religião Cristã, porque o Deus cristão é duas vezes mais misterioso e totalmente diferente das formas existentes no mundo: em primeiro lugar, é constituído por três pessoas que são uma só; em segundo lugar, é eterno, incorpóreo infinito, pleno e perfeito. Donde o caráter totalmente incompreensível e terrível da encarnação de Jesus Cristo, pois como explicar que uma das pessoas da Trindade se separe das outras para vir habitar entre os homens e que um ente eterno, imaterial e infinito tome a forma material, mortal, finita, carente e imperfeita do humano. Para superar as dificuldades, o Cristianismo fala na visitação de Deus através dos anjos e santos, e na inspiração do Espírito Santo, enviando pelo Pai”. Chauí – 2001 pág.227 Sacerdotes, profetas, xamás, pajés, videntes, astrólogo e magos, segundo suas crenças possuem o conhecimento da lei divina, é um conhecimento específico pois muitas vezes está requer interpretação do que está escrito. (é necessário um interprete da lei). O conhecimento da vontade divina é essencial para a narrativa da história sagrada e concretizar de maneira correta os seus ritos. Existe um grupo de interpretes que são separados da comunidade eles: narram, interpretam e escrevem a história sagrada. (No começo eram apenas interpretes da vontade divina). Hoje formam um grupo separado que poderíamos chamar de “classe social”, com poderes e vontades próprias, são portadoras dos símbolos sagrados e mediadores indispensáveis na busca do divino. Alguns povos tem nas suas lideranças religiosas também a autoridade militar e o poder econômico. Existem também conseqüências principais do desenvolvimento histórico nas religiões que tem como base a Transcendência; a formação de uma autoridade que detém o privilégio do saber, porque conhece a vontade divina e suas leis. Com elas surgem a instituição sacerdotal e eclesiástica, os saberes que se referem ao divino, constituem portanto a Teologia”. Os sacerdotes ou 35 uma parte deles, são teólogos, tais mágicos manipulação de poderes divinatório – prever acontecimentos futuros; propiciatório – só eles realizam corretamente ritos os punitivo – podem punir os transgressores. A idéia de hierarquia é muito forte nas religiões. Certas religiões politeístas a hierarquia começa nos próprios deuses (deuses inferiores e superiores) já nas religiões monoteístas a divindade fica acima dos demais seres, e como por exemplo no Cristianismo Deus, homem, animais, plantas, minerais, demônio e trevas. O mundo é organizado de uma maneira hierárquica e o sagrado ocupa um lugar de destaque, pois é o topo de tudo. E todos devem prestar culto que lhes devem obediência. Portanto do sagrado surge a religião e do humano, da sociedade a teologia. Alguns Filósofos - É importante lembrar que embora inúmeros Filósofos fizessem crítica a religião existem três linhas que procuraram conciliar Filosofia e Religião: Para Kant, o papel da religião é oferecer conceitos e princípios para a ação moral e fortalecer a esperança num destino superior da alma humana. Sem Deus e a alma livre não haverá humanidade, mas apenas a animalidade natural; sem a imortalidade, o dever torna-se banal[...] Para Hegel – a realidade não é senão a história do Espírito em busca da identidade consigo mesmo. Deus não é uma substância, cuja essência foi fixada antes e fora do tempo, mas é o sujeito espiritual, que se efetua como sujeito temporal, cuja ação é ele mesmo manifestando-se para si mesmo. A mais baixa manifestação do Espírito é a natureza; a mais alta é a cultura. Na cultura, o Espírito se realiza como Arte, Religião, Estado e Filosofia, nunca seqüência que é o aperfeiçoamento rumo ao término do tempo. Isso significa que Deus se manifesta primeiro como Arte nas artes, como Religião nas religiões, como Estado nos estados e como Filosofia nas filosofias, para Hengel a religião é uma etapa preparatória para todo o restante, e na Fenomenologia, que é a descrição da essência da consciência da intenção. Explica isso assim há atitudes que são de acordo com a nossa consciência, como atitude natural, atitude filosófica e atitude religiosa; como uma das 36 possibilidades da vida e quando práticos são ligadas a algo sagrado são chamadas de atitudes religiosas. Assim a consciência pode relacionar-se com o mundo de maneiras variadas, na ciência, na filosofia, nas artes e na religião de maneira que não há oposição nem exclusão entre elas, mas apenas diferenças. Portanto a felicidade é procurada por todos os seres humanos, e ela nunca é completa, estamos sempre procurando por algo que nos leve rumo a felicidade perfeita. Quando procuramos completar o que nos falta, realizar os nossos sonhos levando em conta os valores como por exemplo respeito, solidariedade, fraternidade, rumo a nossa felicidade podemos chamar de religiosidade. Ela faz parte de nós seres humanos cada comunidade, cada povo, cada nação sempre busca o melhor para si, para ser feliz; isso é religiosidade. “Todos os povos são religiosos, e sempre o foram em todos os tempos. Este é um dos fenômenos mais extraordinário da história. A religião é um dos grandes patrimônios universais da humanidade assim como a inteligência e a vontade, a linguagem e os costumes. Não se conhecem povos sem religião. Lançai um olhar por toda a superfície da terra, diz Plutarco, historiador grego (aprox. 50 – 120 d.C.), e podereis achar cidades sem trincheiras, sem letras, sem magistrados, sem habitações, sem uso de dinheiro, mas um povo sem Deus, sem orações, sem rito religioso, sem sacrifícios, não encontrareis”. Malba Tahan Lendas do céu e da Terra – Rio de Janeiro. Record, 1987.p.60 37 Capítulo III ELEMENTOS HISTÓRICOS DO ENSINO RELIGIOSO 38 3. ELEMENTOS HISTÓRICOS DO ENSINO RELIGIOSO Ø1500 – 1800 (Primeira fase) – O objetivo era que os alunos despertassem e entendessem os valores que existiam na sociedade. Havia uma integração entre: escola, igreja, sociedade política e econômica, É desenvolvida uma evangelização; O Ensino Religioso era a propagação de uma religião oficial (católica), era pois uma catequese para os índios e negros. Ø1800 – 1964 – (Segunda fase) – A Educação é referendada pelo Estado- Nação, seu principal objetivo é uma escola laica e gratuita para todos. A Religião e o seu estudo é vinculado a sociedade tudo o que trata de religião é submetido ao Estado que “cuida” do que deverá ser ministrado aos alunos. É interessante observar que no período da Monarquia (1823 – 1889) o fio condutor do Ensino Religioso é a “Carta Magna de 1824”, que mantém a religião Católica Apostólica Romana, como a oficial do Império, que é um dos principais aparelhos ideológicos do Estado. Em 1890 quando foi implantado o regime republicano, o Ensino Religioso passa a ser o principal obstáculo para a implantação do regime (há uma separação entre o Estado e a Igreja), mas ainda existia na Constituição e era ministrado, embora contestado por muitos. No período da transição (1930 à 1937) é inicialmente admitido em caráter facultativo, através do Decreto de 30 de abril de 1931 em seu artigo 153: “O Ensino Religioso será de matrícula facultativa e ministrado de acordo com os princípios da confissão religiosa do aluno, manifestada pelos pais e responsáveis, e constituirá matéria dos horários nas escolas públicas primárias, secundárias, profissionais e normais”. 39 Com o manifesto dos escolanovistas há uma oposição firme contra os princípios defendidos na constituição; eles eram contrários aos termos: “laicidade, obrigatoriedade e gratuidade do ensino público”. No período de 1937 e 1945, é efetivada a Reforma Francisco Campos o Ensino Religioso perde sua obrigatoriedade para os alunos. De 1946 a 1694 o Ensino Religioso é dever do Estado o artigo 141 em seu 7º parágrafo faz a seguinte afirmação: “É inviolável a liberdade de consciência e crença e assegurado o livre exercício dos cultos religiosos, salvo o dos que contrariam a ordem pública e os dos bons costumes”. Ø1964 – 1996 (Terceira fase) – A Escola não é mais um espaço de apenas uma elite, com a maior universalização do ensino, os problemas vigentes também refletem na escola, não havendo o monopólio de uma religião perante o Estado, diferentes forças sociais e profissionais aproximam-se da instituição escola, dando-lhe um caráter novo em matéria do Ensino Religioso. Ø1964 – 1984 (Quarto período) – “Os avanços democráticos alcançados são interrompidos. O conceito de liberdade passa pela ótica da segurança nacional. Nesse contexto, o Ensino Religioso é obrigatório para a escola, concedendo ao aluno o direito de optar pela freqüência ou não no ato da matrícula. Com a Lei 5692/71 o Ensino Religioso é incluído no Sistema Escolar da rede oficial, nos respectivos graus de ensino”. 3.1 O Ensino Religioso - Lei nº 9.475 de 22 de julho de 1997. Da nova redação ao art. 33 da Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O Presidente da República Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: 40 Art. 33 – O ensino religioso de matrícula facultativa é parte integrante da formação básica do cidadão, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurando o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedados quaisquer formas de proselitismo. §1º - Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos professores. §2º - Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituído pelas diferente denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso. Art. 2º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 3º - Revogam-se ao disposições em contrário. Brasília, 22 de julho de 1997, 176º da Independência e 109º da República Presidente Fernando Henrique Cardoso Ministro da Educação – Paulo Renato Souza O professor Carlos da Fonseca Brandão em seu livro LDB, passo a passo faz um importante comentário dos artigos acima: O artigo 33, independentemente da sua forma de redação, trata do ensino religioso nas escolas públicas de ensino fundamental. Em seus parágrafos 1º e 2º remetem aos sistemas de ensino as tarefas de regulamentar o mesmo. “Comparando com sua versão anterior à Lei nº 9.475/97, podemos ver que o caput desse art. 33 originalmente afirmava que o ensino religioso nas escolas de ensino fundamental público seria oferecido sem ônus para os cofres públicos. Isso significa que os custos decorrentes desse ensino religioso nas escolas públicas de ensino fundamental, não poderiam representar nenhum tipo de ônus para os cofres públicos, como por exemplo, de ensino religioso...Pressionado por líderes religiosos, especialmente os ligados à Igreja Católica representados pela CNBB, nos primeiros meses de 1997, o Presidente Fernando Henrique Cardoso pediu a 41 um deputado da base parlamentar governista que elaborasse um Projeto de lei a ser apreciado pelo Congresso Nacional, cuja intenção fosse única e exclusivamente, a de retirar a expressão “sem ônus para os cofres públicos” ... assim foi feito e, em 22 de julho de 1977, portanto apenas 7 meses após a promulgação da nova LDB (20 de dezembro de 1996), foi sancionada pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso a lei nº 9.475/97, que extingue a expressão “sem ônus para os cofres públicos”, do art. 33 da LDB e dessa maneira, passou a ser permitido que os custos decorrentes do ensino religioso, ministrado nas escolas públicas de ensino fundamental, onerem os cofres públicos”. Outros fatores interessante que a matrícula no ensino religioso é “facultativa” apenas ao aluno, devendo ser obrigatório nas instituições, observando a opção religiosa do educando. 3.2 Objetivos Gerais do Ensino Religioso para o Ensino Fundamental O Ensino Religioso, valorizando o pluralismo e a diversidade cultural presente na sociedade brasileira, facilita a compreensão das formas que exprimem o Transcendente na superação da finitude humana e que determinam, subjacente, o processo histórico da humanidade. Por isso deverá: “w Proporcionar o conhecimento dos elementos básicos que compõem o fenômeno religioso a partir das experiências percebidas no contexto educando: w Subsidiar o educando na formulação do questionamento existencial, em profundidade, para dar sua resposta devidamente informando; w Analisar o papel das tradições religiosas na estruturação e manutenção das diferentes culturas e manifestações socioculturais; w Facilitar a compreensão do significado das afirmações e verdades de fé das tradições religiosas; w Refletir o sentido da atitude moral como conseqüência do fenômeno religioso e expressão da consciência e da resposta pessoal e comunitária do ser humano; 42 w Possibilitar esclarecimento sobre o direito à diferença na construção de estruturas religiosas que tem na liberdade o seu valor inalienável”. Com a pluralidade de religiões na Escola brasileira os conteúdos a serem estudados são: Cultura e Religiões, Escrituras Sagradas, Teologias, Ritos e Ethos. Culturas e Tradições religiosas – é o estudo do fenômeno religioso à luz da razão humana, analisando valores na tradição religiosa e seus princípios. Não há um critério epistemológico único. Os conteúdos estudados são: filosofia da tradição religiosa; a idéia do Transcendente, na visão tradicional e atual; w história e tradição religiosa: a evolução da estrutura religiosa nas organizações humanas no decorrer dos tempos; w Sociologia e tradição religiosa: a função política das ideologias religiosas; w Psicologia e tradições religiosas: as determinações da tradição religiosa na construção mental do inconsciente pessoal e coletivo. Os textos que transmitem a idéia de fé e mensagem transcendentes, pela revelação é chamado Escrituras Sagradas, buscam orientar a vida neste mundo terreno. Nas tradições religiosas existem a transmissão oral chamadas: Tradições orais. “Os conteúdos são estabelecidos a partir de: revelação a autoridade do discurso religioso fundamentada na experiência mística do emissor que a transmite como verdade do Transcendente para o povo; * história das narrativas sagradas conhecimento e acontecimentos religiosos que originaram os mitos e segredos e a formação dos textos; * contexto cultural, a descrição do contexto sócio-político religioso determinante na redação final dos textos sagrados; * exagese: análise e a hermenêutica atualizadas dos textos sagrados”. 43 Teologias – “É o conjunto de afirmações e conhecimentos elaborados pela religião e repassados para os fiéis sobre o Transcendente, de um modo sistematizado r organizado”. Ela se mostra através de estudo nas verdades e na fé, tem a participação da natureza existe dentro de uma idéia de temporalidade é esprema pela idéia da existência do ser e é interpretada a luz de uma infinidade de informações como, reencarnação, encarnação e muitos outros fatores. Os conteúdos são estabelecidos a partir de: · divindades: a descrição das representações do Transcendente nas tradições religiosas; · verdades de fé: é o conjunto de mitos crenças e doutrinas que orientam a vida do fiel em cada tradição religiosa, na vida além da morte, respostas para o sentido da vida, reencarnação, ressurreição e muitas outras. A prática celebrativa das tradições é composta por diferentes partes: rituais que podem ser agrupados segundo suas características: propiciatórios (sacrifícios e purificações), divinatórios (o Transcendente e o futuro) e os mistérios (diferentes cerimônias relacionadas com práticas e limitadas a um número de fiéis); símbolos: que levem a entender o significado de por exemplo uma cerimônia; espiritualidade: uma relação do ser com o Transcendente). Os conteúdos são estabelecidos e relacionados a partir de: “* rituais: a descrição de práticas religiosas significantes, elaboradas pelos diferentes grupos religiosos; * símbolos: a identificação dos símbolos mais importantes de cada tradição religiosa comparando seu(s) significado(s); * espiritualidade: o estudo dos métodos utilizados pelas diferentes tradições religiosas no relacionamento com o Transcendente, consigo mesmo com os outros e com o mundo”. 44 Tratamento didático dos conteúdos - Não devemos esquecer que o Ensino Religioso é conhecimento humano e devemos portanto estudar os fenômenos que o compõem sua pluralidade e a liberdade da expressão religiosa. O aprendizado por parte do aluno haverá de levar em conta: a) bagagem cultural e religiosa; b) a complexidade dos assuntos religiosos e a possibilidade de aprofundamento; Para vivermos em uma sociedade com pensamentos tão diferentes de necessários que respeitemos as diferenças. A escola com sua pluralidade é um “canteiro” onde poderemos semear diferentes valores, vivenciado diferentes culturas e tradições religiosas para que não exista por exemplo intolerância religiosa. Aprendendo e construindo significados a partir de objeto de conhecimento, que no caso é o próprio Ensino Religioso. Refletindo sobre tudo o que lhe é ensinado pode tirar suas próprias conclusões e refletir sobre seus questionamentos que vão levá-lo ao sentido de sua existência. No tratamento didático dos conteúdos do Ensino Religioso e necessário levar em conta: Organização social das atividades a fim de produzir o diálogo; a organização do tempo, do espaço no aqui e agora, pela observação direta, pois o sagrado acontece no cotidiano e está presente na sala de aula: a conexão com o passado no mesmo espaço e em espaços diferentes também parte do presente e da limitação geográfica; na dimensão Transcendente não há tempo, nem espaço; o limite encontra-se na linguagem de cada tradição religiosa, na organização da seleção e critérios de uso de materiais e recursos; prevê a colaboração de cada educando na indicação ou no fornecimento de seus símbolos, a origem histórica, os ritos e os mitos da sua tradição religiosa. 45 3.3 O Ensino Religioso nos Ciclos 1º Ciclo - É o período da codificação e decodificação, convivência social, é o período em que interioriza valores e estabelece uma relação ou não com o Transcendente. O objetivo do Ensino Religioso é facilitar o entendimento dos diferentes significados, símbolos religiosos na vida do ser humano e a compreensão que a simbologia facilita o entendimento do Transcendente. A avaliação no 1º ciclo deverá fazer o aluno entender valores que poderão ser praticados em grupo e individualmente e que possa ter um diferencial o cerca do certo e do errado em sua vida presente e futura, respeitando as diferenças do futuro, entendendo seus limites. Os conteúdos devem ser compostos de Ritos: Símbolos – é a identificação de símbolos, mais importantes de cada tradição religiosa, estabelecendo a relação de seu(s) significado(s). Ethos – Alteridade (as orientações para o relacionamento com o outro, permeado por valores) Culturas e Tradições Religiosas: Filosofia da tradição religiosa ( a idéia do Transcendente). Didaticamente deverão ser estudados elementos que compõe o fenômeno religioso, favorecendo o diálogo. É necessário fazer com que o aluno entenda o que cada símbolo religioso significa para culturas diferentes, e necessário que entenda o significado mitico-simbólica. E necessário também que o mesmo exteriorize suas idéias e indagações. “No encaminhamento dos conteúdos do Ensino Religioso nesse ciclo, é importante que se exercite o silêncio interior como forma de o educando ir aprendendo a ouvir, respeitar, valorizar e comungar com o outro, justamente naquilo em que sem ser como ele, o desafia para os pontos de convergência, superando preconceitos que desvalorizam qualquer experiência religiosa. “ PNC – E. Religioso 46 2º Ciclo - É o período que o aluno passa da heteronomia para a autonomia, sempre a partir de reflexões e ações concretas no tempo e no espaço o objetivo é compreender a origem e os textos sagrados e sua importância para a cultura de um povo. A avaliação deverá levar em conta se o aluno entenda o direito de expressão religiosa do colega na sala de aula em sua comunidade. “Pelos conhecimentos do conteúdos nesse ciclo, espera-se que o Educando estabeleça o diálogo, cresça na convivência pacífica e possa também aprofundar as razões históricas da sua própria tradição religiosa”. Os conteúdos deverão ser compostos de: Escrituras sagradas: histórias de narrativas sagradas (o conhecimento dos acontecimentos religiosos que originaram os mitos e segredos sagrados e a formação dos textos). Ritos: rituais (a descrição de práticas religiosa, significantes, elaboradas pelos diferentes grupos religiosos). Teologias: divindades (a descrição das representações Transcendente em cada tradição religiosa). Didaticamente o conhecimento deverá fomentar o diálogo, já com reflexões e pensamentos concretos; despertar no aluno, a curiosidade para que o mesmo busque o místico, e que o mesmo entenda também a crença que professor e as diferenças existentes em seu contexto social, mas sempre rumo ao Transcendente. 3º Ciclo - É o período em que o aluno passa da lógica indutiva para a indutiva, busca valores novos, no que já conhecia inclusive, nesse ciclo o aluno já tem mais facilidade para a reflexão. O objetivo será que ele conheça e reconheça a idéia do Transcendente analisando as diferentes culturas e ideologias. 47 A avaliação deverá ser feita a partir da capacidade, do exercício do pensamento lógico, permitindo entender a evolução das organizações humanas em sociedade através dos tempos. Deve observar que determinadas ideologias “chegam a determinar verdades com o conhecimento das narrativas sagradas e da redação de textos sagrados, espera-se que o educando vá além do entendimento do contexto sóciopolítico-religioso e entenda a verdade neles contidas, na relação culturatradição religiosa possa ir construindo seu entendimento do fenômeno religioso”. Blocos de Conteúdos - Culturas e tradições religiosas: filosofia da tradição religiosa (a idéia do Transcendente no oriente e no ocidente, na visão tradicional e atual); história e tradição religiosa (a evolução da estrutura religiosa nas organizações humanas no decorrer dos tempos); sociologia e tradição religiosa (a função política das ideologias religiosas. Escrituras Sagradas - Revelação – (a autoridade do discurso religioso fundamentada na experiência mística do emissor que a transcendente como verdade do Transcendente para o povo); contexto cultural – (a descrição do contexto sóciopolítico-religioso determinante na redação final dos textos sagrados); exagese – (a análise e a hermenêutica atualizada dos textos sagrados). Didaticamente o aluno está na fase lógico-dedutiva deverá ler textos religiosos dentro do contexto sóciopolítico cultural, para que compreenda o seu eu interior rumo ao Transcendente. E necessário sensibilizar o aluno para todo o sobrenatural que envolve a idéia do Transcendente, diferentes tradições religiosas que irão fortalecer o entendimento de sua vista e o respeito que deverá ter pela mesma. 4º Ciclo - O aluno já formula hipótese, já tem o juízo do certo e do errado, vive em coletividade, supera o egocentrismo e começa a formação da consciência moral. 48 Tem-se o objetivo nesse ciclo conhecer algumas respostas, como morte e fé. Busca o Transcendente consigo, com o outro e com o mundo, o aluno buscará o sentido da vida. A avaliação deverá ser feita, a partir de orientações que lhe forneçam uma consciência moral. Espera-se que o aluno descubra a dimensão do sagrado, do ser humano, suas convicções; respeite seus ensinamentos; busque o autoconhecimento, do mundo e do Transcendente. Perceba também o sentido da vida e da morte. E o Ensino Religioso deverá ser norteador do “sentido da vida”. O conteúdo deverá ser composto de: Teologias: verdades de fé – conjuntos de mitos, crenças e doutrinas que orientam a vida do fiel em cada tradição religiosa; vida além da morte – as possíveis respostas norteadoras do sentido da vida; Ritos: espiritualidade – estudo dos métodos utilizados pelas diferentes tradições religiosas no relacionamento do Transcendente consigo mesmo, com os outros e com o mundo; Culturas e Tradições Religiosas: psicologia e tradição religiosa – as determinações da tradição religiosa na construção mental do inconsciente pessoal e coletivo. Ethos valores (o conhecimento do conjunto de normas de cada tradição religiosa apresentado para os fiéis e no contexto da respectiva cultura); limites – fundamentação dos limites éticos propostos pelas várias tradições religiosas. Didaticamente deverá ser tratado questões das relações vida e morte, verdades de fé, e sua compreensão, cultivar a espiritualidade como também o diálogo; “É fundamental que o diálogo subsidie a necessidade de ver, saber, sentir e encontrar caminho para a realização junto com o outro, 49 passando do psicossocial para a Transcendência. No encaminhamento do Ensino Religioso nesse ciclo é importante a experiência pessoal de liberdade, como condição básica para inserção libertadora no pluralismo sociopolítico-cultural . E que se desafie para a prática de valores na superação de limites do eu pessoal, abrindo para alteridade e a para responsabilidade na vida social”. PCN Ensino Religioso Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso é um marco na história do Ensino Religioso no Brasil. Pela primeira vez pessoas de diferentes religiões enquanto educadores encontraram uma proposta educacional que tem como objetivo principal o Transcendente. Sistematizam a proposta com fundamentação nas ideologias e tradições religiosas do Ocidente, Oriente e África, para isso trabalhando com a diversidade e respeitando as tradições de cada religião. É uma proposta que não propaga o proselitismo e aborda com muita liberdade, para o aluno e professor diferentes temas. Para isso foi elaborado em currículo tendo como base a pluralidade cultural do Brasil. Os parâmetros fazem um histórico das leis que abordam o Ensino Religioso até os dias atuais, apresenta a escola como um espaço “socializador do conhecimento através dos conteúdos”. Perpassa pelas culturas e o fenômeno religioso que as rege e a busca pelo sentido da vida. Fala também nos conteúdos didáticos e a avaliação do aluno, explica como deverá ser aplicado nos ciclos do ensino fundamental o estudo, digo o Ensino Religioso. A escola é um espaço muito oportuno, pois a pluralidade de raças que compõe o país, faz da mesma uma ”garantia” da liberdade religiosa de nosso aluno o mesmo não conviverá com a intolerância de ideologias, pois não é permitido e incentivado o estudo dos valores que acompanham a raça humana que vive em sociedade. 50 3.4 Ética e Religião As religiões não fazem muita diferença entre o plano ético e plano religioso: Não há distinção entre ética e religião. A noção do ser humano como uma criação divina implica que ele é responsável perante Deus por tudo o que faz, ritual, moral social e politicamente. As sociedades onde habitam diferentes religiões é mais difícil ligar ética somente a religião, mas também a outros fatores como por exemplo as Leis. Hoje a Declaração dos Direitos dos Direitos Humanos é uma afirmação de ética comum independentemente de religião. Em 10 de dezembro de 1948, foi aprovada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, pela assembléia geral das Nações Unidas (ONU), que diz o seguinte: “Todos os homens nascem livres. Todos os homens nascem iguais tem portanto, os mesmos direitos. Todos tem inteligência e compreendem que passa a seu redor. Todos devem agir como se fossem irmãos. Não importa a raça de cada um, tampouco importa que seja homem ou mulher, não importa ainda, sua língua, religião, opinião política, país ou a família de que ele venha; não importa ainda que ele seja rico ou pobre, nem que o país de onde ele venha seja uma república ou reinado.” Estes direitos devem ser gozados por todos. Todas as pessoas tem à vista, à liberdade e à segurança pessoal. Ninguém pode ser escravo de ninguém. Não se pode maltratar as pessoas ou castigá-las de maneira cruel e humilhante. As leis devem ser iguais para todos e devem proteger todas as pessoas. Todos os homens tem direito de receber a proteção dos tribunais para que seus direitos não sejam contrariados. Ninguém tem direito de interferir na vida particular das pessoas, na sua família e na sua correspondência. Toda pessoa tem direito de se movimentar dentro das fronteiras de seu país. E tem o direito de sair e voltar de seu país. 51 Ninguém deve ser privado de sua nacionalidade. Quer dizer, toda pessoa tem o direito de se pertencer a uma nação. E tem o direito de trocar de nacionalidade, por sua vontade. Todos os homens e mulheres de certa idade, não importa sua raça, religião ou nacionalidade, tem o direito de se casar e começa uma família. Um homem e uma mulher só pode casar se os dois quiserem. Todas as pessoas tem direito a propriedade. E aquilo que uma pessoa possui não deve ser tirado dela a não ser que haja um motivo justo. Todas as pessoas tem direito a pensar o que quiserem. Elas tem o direito de trocar suas idéias e praticar sua fé em público ou em particular e de contar a todos sua opinião. Todas as pessoas tem direito de se reunir e de se associar, mas ninguém deve ser obrigado a isso. À autoridade do governo vem da vontade do povo. O povo deve mostrar qual é a sua vontade pelo voto. Todas as pessoas tem direito de votar. Todas pessoas tem direito ao tipo de trabalho que preferirem e a boas condições de trabalho. Todos devem receber remuneração igual, quando fazem o mesmo trabalho, e devem ganhar o suficiente para saúde, alimentação e vestuário. Todo homem tem direito ao descanso e deve ter um número de horas de trabalho limitado e férias pagas. Todas as crianças tem os mesmos direitos sejam ou não nascidas de um casamento. Todas as pessoas tem direito a uma escola gratuita. Todos tem direito de aprender uma profissão. A escola deve promover o entendimento a compreensão e a amizade. Todos os homens tem deveres para com o lugar onde vivem e para com as pessoas que aliviem também. Não se deve usar o que está escrito neste documento para destruir os direitos e deveres estabelecidos. Há muitos anos esta declaração foi aprovada, mas ainda existem países que não obedecem a este documento. 52 Para que isso aconteça é preciso que todos aprendam nas escolas de todo o mundo o conteúdo desta Declaração.” Emanuel Kant em seu livro Fundamentos da Metafísica dos Costumes escrito em 1785 reconheceu que nós seres humanos somos valiosos em nós mesmos não como uma coisa, um objeto. Existe uma obrigação moral de nos respeitarmos pois somos valiosos, temos muito valor. Ele diz: “Se tudo houvesse um equivalente a que pudesse fixar um preço uma troca não haveria nenhuma obrigação moral para com ninguém. Portanto, só se existirem seres valiosos em si, cujo valor não provém de que satisfaçam necessidades, é que poderemos afirmar que eles não tem equivalentes e que não podemos lhes fixar preço. Por isso dizemos desses seres que eles não tem preço, mas sim dignidade e, por conseguinte, merecem o respeito que engendra as obrigações morais”. Cortina Adela - 1996. Se pusermos preço na pessoa humana ela poderá ser trocada, onde ficaria a dignidade da pessoa? As coisas podem ter sim preço comercial, não as pessoas. “No reino dos fins tudo tem um preço pode ser substituído por algo equivalente; em compensação, o que está acima de qualquer preço e por conseguinte, não admite equivalente é que tem dignidade. As coisas relativas às inclinações e necessidades do homem tem um preço comercial; já aquelas que, sem supor uma necessidade conformam-se a certo gosto, isto é, a uma satisfação produzida por simples diversão, sem nenhum dos fins de nossas faculdades, tem um preço de afeto; no entanto, aquilo que constitui a condição para que algo seja fim em si mesmo não tem simplesmente valor relativo ou preço, mas um valor interno ou seja dignidade. A moralidade é a condição através da qual um ser racional pode ser fim em si mesmo, porque é somente por ela que é possível ser membro legislador no reino dos fins. Assim sendo a moralidade e a 53 humanidade, está última enquanto é capaz de moralidade, é só o que possuir dignidade” Emanuel Kant, Fundamentos da Metafísica dos Costumes, capítulo 2 Os valores universais surgiram no Ocidente com a filosofia grega e a religião cristã. As pessoas tem uma dignidade e tem direitos que nenhum outro ser humano pode negar e foi reconhecido esse direito na Declaração Universal dos Direitos Humanos e o reconhecimento dessa verdade, onde nos lembra que as pessoas não podem ser tratados como instrumentos; devemos ter direitos chamados de primeira geração liberdade civis e políticas; direitos básicos chamados de 2ª geração, como direito à educação e a saúde; direito chamados terceira geração como direito a paz e ao meio ambiente equilibrado. São valores universais, todos nós devemos ter direito a tudo isso. Esses direitos nos levem a condição de cidadão em seu país e no mundo e não permitindo espaços para humilhações como e submissões como os vassalos na época feudal; os súditos nos países monárquicos e diferentes dominações que atualmente vem sofrendo os seres humanos, com guerras intolerâncias religiosas e muito mais. A Ética Civil é fundamentada em valores, valores morais que devem ser compartilhados pelos cidadãos em uma sociedade plural, a convivência quando observados esses valores torna-se pacífica. O reconhecimento da autonomia do outro faz com que possamos viver e conviver com liberdade, O ser humano, o mundo quando pensar em futuro melhor, deverá pensar sempre em valores que levem o homem a libertação e não sua escravidão, todo cidadão merece, respeito por ser pessoa humana. Somos uma sociedade plural e não devemos impor aos outros o que pensamos ser o melhor para o homem fonte de reflexão para compartilhar suas idéias presentes e fonte de inspiração para o futuro. Segundo o Projeto do Ensino Religioso para as escolas públicas, a ética é um fenômeno humano é um fenômeno que abrange, também a comunidade, a 54 sociedade humana ela é observada nos relacionamentos humanos, a ética é um fator intrínseco ao modo de ser do ser humano. “A ação identifica o modo de ser da pessoa humana estar no mundo, pois ser pessoa é ser ação é viver continuamente agindo é estar no mundo prático do ser. O qualitativo que delimita o significado da ação recai incisivamente sobre dar que toda a ação é sempre manifestação concreta do sujeito humano. Por outro lado, a marca de sua individualidade e humanidade, de sua capacidade moral, se manifesta na realização de atos tipicamente humanos, dos que nascem de sua diferença específica. Atos que são colocados pela pessoa humana”. Os critérios que caracterizam a ação humana são: a razão – é a característica que marca o ser humano dentre os animais; a vontade – é operacionalizar sua razão, é o querer e fazer ou não concretizado motivo ou intenção – é o impulsiona a vontade a fazer ou não algumas coisas; os meios – é o que utilizamos para chegar a um fim com um resultado positivo ou negativo, dependerá de nossa intenção; a liberdade – está relacionada a moral autônoma do ser humano; o bom e o valioso – é a percepção do que realmente importa ao ser humano, seu comportamento e suas ações; o factual e o normativo – nossas situações rotineiras, os acontecimentos e dimensão do ideal de moralidade o certo e o errado dentro do acontecimento; a dimensão social e individual – onde é enfocada os atos individuais e coletivos que normalmente se entrelaçam. 3.5 A Escola e o Conhecimento Religioso A escola tem a função de fazer o educando refletir sobre diferentes situações que podem vir impedi-lo de se libertar das situações opressoras ou segurança ilusória oferecida para objetivos, situações e autoridades não legítimas. 55 Faz o aluno perceber os limites do conhecimento e a “finitude do ser humano”. Faz crescer uma necessidade de partir para uma outra dimensão humana que chamamos de Fé. O processo de aprendizagem busca no saber e no desejo de transcendência, perspectivas para o futuro. O educador do Ensino Religioso, deverá saber responder questões várias, no universo de culturas existentes. A busca do conhecimento deverá ser constante, e ter clareza e respeito de sua própria fé. O educador religioso deverá conhecer diferentes conteúdos como: cultura e tradições religiosas; escrituras sagradas, teologias, fazendo comparações e tirando suas conclusões, que irão permear sua prática educativa. Desse profissional espera-se que esteja disponível para o diálogo e seja capaz de articulá-lo a partir de questões suscitadas no processo de aprendizagem do educando. Cabe a esse educador escutar, facilitar o diálogo, ser o interlocutor entre a escola e comunidade e mediar conflitos. O Educador deverá sempre ressaltar a liberdade religiosa do educando e considerar seu meio familiar e sua comunidade escolar. Através de valores e atitudes deverá o Ensino Religioso desenvolver o indivíduo como pessoa humana, fazendo que o aluno se desenvolva integralmente suas competências, suas habilidades e até sua fé. A educação escolar deverá ser totalmente integrada, educador e educando, com uma visão globalizada de tudo o que cerca para poder tirar suas próprias conclusões. O aluno deverá ter conhecimento de diferentes estruturas religiosas e tempos históricos para entender até mesmo sua cidadania. “Essa responsabilidade atribuída à escola como conseqüência do projeto educativo, comprometido com a democratização social e cultural, coloca o Ensino Religioso na função de garantir que todos os educandos tenham a possibilidade de estabelecer diálogo”. 56 E na escola que o ser humano percebe que é limitado, mas que também poderá superar limites e crescer, procurar o que busca e respostas para suas questões; poderá melhorar sua finalidade de vida. Entenderá que a religião está ligada intimamente a conhecimento cultural, entendimento globalizado diante de desafios e conflitos religiosos, o aluno não deverá se tornar radical, fechando questões a cerca de um só tema, pois deverá ter conhecimento de diferentes situações religiosas e abordagens da mesma; o fim deverá ser comum explicar o surgimento do ser humano e a finalidade de sua existência. “Ele é o instrumento que auxilia na superação das contradições de respostas isoladas de cada cultura. Criar a oportunidade de ter o Ensino Religioso de forma sistematizada permite uma compreensão mais crítica do cidadão”. Fórum do E. Religioso,1996. 57 Capítulo IV GLOBOCOLONIZAÇÃO 58 4. GLOBOCOLONIZAÇÃO Segundo Krajewski (2004) No final do século XX houve uma crescente produção de bens e serviços com o aumento da produção industrial; Tornandose mais grave uma situação econômica que já perdurava por anos. Após a Segunda Grande Guerra Mundial os países ricos procuravam desenvolver políticas de previdência social e pleno emprego procurando promover a inclusão social que garantisse o mínimo de condições para a sobrevivência do indivíduo, o que seria muito bom para os países pois quanto mais pessoas com condições de consumir mais a economia do país iria crescer. Como o Estado só se preocupava em produzir e não proporcionava, não se comprometia com o social (que é a política neoliberal) surgia uma população miserável e excluída da sociedade. As mudanças na economia internacional fizeram com que cada vez mais aumentasse o número de excluídos no mundo. Pois as melhorias são apenas para uma pequena parcela da população que tem direito a: meios de transporte mais rápidos; novas tecnologias, redes de computadores; remédios caros e muito mais. “O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) indicou que as prioridades de desenvolvimento científico e tecnológico estão voltadas para a agenda dos ricos, constando que no ramo da biotecnia por exemplo, as pesquisas sobre o amadurecimento lento do tomate e sobre comésticos foram considerados mais importantes em relação à vacina contra a malária e as colheitas resistentes à seca nos países pobres”. O relatório do Banco Mundial revela que 1,2 bilhão de pessoas vivem com menos deU$$1 por dia. E na América Latina a situação é muito grave 15,6 por cento da população vive abaixo da linha da pobreza e segundo o Banco Mundial até 2015, mas de 2 bilhões de pessoas viverão com menos de U$$ por dia. 59 E uma observação muito importante, os 48 países mais pobres detém apenas 0,3% do comércio mundial e suas populações representam 10% do total do planeta. Em 2003 o Banco Mundial concluia: “(...) se o crescimento da economia mundial se mantiver no mesmo ritmo, em 2015 as taxas de pobreza global cairão a menos, da metade de seu nível de 1990, tirando cerca de 360 milhões de pessoas da pobreza extrema. Mas a força que impulsiona esse congresso – crescimento rápido na Ásia e melhoria na Europa Oriental – pouco fará para reduzir a pobreza na África, onde o número de pobres provavelmente aumentará de 315 milhões em 1999 para 404 milhões em 2015, e no Oriente Médio, onde também está em crescimento.” 4.1 - Educação e Exclusão Para conseguir dinheiro para financiamento de seus projetos sociais, os países pobres, são obrigados a submeter-se ao FMI e ao Banco Mundial, para pagamentos de dívidas, ou para cobrir os juros da dívida ou para obras de infra-estrutura. Setores como educação e saúde não são tratados ficando cada vez mais a situação precária. Um dos principais fatores que prejudicam os países pobres é o nível cultural destes, pois a qualificação de mão-de-obra requer treinamento e incentivo nessa área, o que não interessada dos países ricos. Acabar com essa situação, afinal e não pagarmos, cada vez e como conseqüência eles ficariam menos ricos., cada vez mais enriquece os ricos. “Segundo a ONU, existe um bilhão de analfabetos adultos em países pobres, e o analfabetismo constitui um entrave para o ingresso desses países na economia moderna. Levando em conta apenas os analfabetos funcionais, que é considerado. Também nos países ricos. O analfabeto funcional é o indivíduo que foi alfabetizado, mas é incapaz de escrever um texto ou compreender o que está lendo. Só o fato de ser alfabetizado não lhe dá condições de competir no mercado de trabalho, principalmente urbano, onde além da escassez de vagas, ele enfrenta exigências que não tem condições de cumprir”. (Geografia Coleção Base – 2004 – Pág. 279). 60 4.2 – Emprego e Exclusão Com as novas tecnologias inúmeras profissões já não mais existem. As novas tecnologias incluem também formas de administração e organização nas empresas. Os profissionais de diferentes áreas não são qualificados para o desenvolvimento, vão se tornando profissionalmente absoletos não tendo campo para trabalhar engrossando a massa de trabalhadores desempregados. O governo, deveria criar mecanismos para que essa “massa” fosse produtiva garantindo aos cidadãos empregos e melhores condição de vida. O desemprego estrutural está acontecendo até mesmos nos países ricos, principalmente na Europa pois há falta de perspectiva futura que acarreta problemas de no círculo familiar. No livro Por ruma Sociologia da Exclusão, o sociólogo Serge Paugam analisa a exclusão social a partir da ruptura dos vínculos sociais. “A ausência da perspectiva de um emprego estável e o desemprego ameaçam destruir a identidade profissional; o divórcio ou a separação fragiliza frequentemente, a identidade familiar e provoca, às vezes, um isolamento duradouro. Além disso, se os vínculos sociais se afrouxam, é também paradoxalmente, porque a sociedade se torna, pelo menos na aparência, mais democrática. Se as igualdades se renovam, as fronteiras entre os grupos sociais, aparecem hoje menos visíveis que no começo do século XX ou na metade dele. O sentimento de certos barreiras se esfumam e a quebra mais ou menos voluntária dos status sociais criados pelo Estado Providência provocam uma fluidez de identidades e, por isso, uma dificuldade maior de organizar a existência em função das expectativas coletivas de grupos sociais determinados. A partir daí, o problema essencial para numeroso indivíduos é a ameaça de perder o lugar que ocupam na sociedade, ou seja o vínculo frágil que os liga aos outros”. Véras, Maura Pardini Bicudo (ed.) Por uma sociologia de exclusão; o debate com Serge Pougam. São Paulo. Educ. 1999 p. 50-51. 61 4.3 – A Exclusão no Brasil Devemos considerar a colonização de exploração no Brasil como um dos principais fatores da exclusão social no país. Em nossa colonização vieram de Portugal os degredados portugueses (não eram bem vindos em sua terra e aqui serviria para ser seu exílio) a escravidão de negros também é parte do processo de exclusão em nosso país desde sua colonização. A casa grande e a senzala são marcos do começo dessa situação (do país), da segregação entre a elite e o povo, entre o branco e o negro. Durante a década de 70, houve o tão falado “milagre brasileiro”, que era a tentativa dos militares de validar o golpe de 1964, procurando através do endividamento externo e construções faraônicas, com capital estrangeiro “desenvolver o país”, houve por um determinado tempo crescimento, mas em contra-partida, a sociedade começa a viver um forte achatamento salarial que levou o país ter um dos piores índices de distribuição de renda para os trabalhadores. Na década de 82 existiram muitos planos econômicos que buscavam sem solução deter a inflação, situação que pendurou até o final da década de 1990. 4.4 – Movimentos Sociais e Cidadania O princípio dos movimentos sociais é o coletivo, a luta coletiva. A luta pela posse da terra no Brasil nos reporta a época da colonização quando estes dizimaram os índios para ficar com a terra; e os negros quando criaram os quilombos, que tinham uma organização própria em “pequenas” propriedades. Em 1534 quando Portugal criou a Lei das Sesmarias, que dividiu a colônia brasileira em capitanias hereditárias (para evitar que outros povos a tomassem) era um dote hereditário (acredita-se que daí surgiu a concentração de terras no país). Essa lei foi suspensa em 1822 existiam pessoas que ocupavam a terra mas não tinham documentos, daí o nome posseiros. Em 1850 com a criação da Lei de Terras, o governo passou a regularizar as concessões de posse. 62 Como resultado: houve muita injustiça no país, para os que possuem a terra mas não tinham como pagar pela mesma diante dessa situação. Surge (um líder religioso Antonio Conselheiro que mobilizou camponeses, expropriados e negros libertos a lutar por suas terras, o que terminou com um verdadeiro massacre da população. Entre 1512 e 1916 houve outra manifestação de vulto após a construção da ferrovia São Paulo - Rio, trabalhadores desempregados juntaram-se a camponeses sem terra sob o comando do “monge” José Maria (também líder religioso) ocuparam uma área de litígio entre Santa Catarina e o Paraná; a Guerra da Contestado envolveu 20 mil camponeses e terminou com quase 3 mil mortos. Na década de 50 surgiram as Lojas Camponesas onde criou-se a Sociedade Agrícola de Plantadores de Pecuaristas de Pernambuco, posteriormente foram criados sindicatos de trabalhadores rurais e culminou e com a criação da Confederação Nacional dos Trabalhadores na agricultura congregando vários sindicatos rurais. Com o golpe militar de 1964 todas iniciativas populares foram sufocadas. Durante os governos militares (1964-1995) os levantes contaram com a ajuda da Igreja Católica, por meio das comunidades Eclesias de Base, pois a igreja tinha “opção preferencial pelos pobres” a famosa Teologia da Libertação. Em 1975 surgiu a também famosa Comissão Pastoral da Terra que apoiava as manifestações sociais dos lavradores, marcando o nascimento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (1979) cuja principal fonte de manifestação são as caminhadas e os acampamentos; suas palavras de ordem: “Ocupar, resistir e produzir”, mas muitas das vezes as ocupações tem graves episódios como: Eldorado dos Carajás (PA), em 1996 que ocasionou muitas mortes. O movimento operário - Com a revolução industrial onde o trabalhador passou a receber de acordo com sua função no trabalho, surgiu os sindicatos que conquistaram vitórias ao longo dos anos como por exemplo redução da jornada de trabalho, que era até de 15 horas por dia, onde os trabalhadores que não agüentavam e ficavam doentes por causa das condições insalubres do 63 trabalho, eram mandados embora sem nada receber. No Brasil os sindicatos começaram no século XX com duas vertentes a dos anarco-sindicalistas (que defendiam a greve como forma de expressão) e os comunistas-socialistas (que tinham preferência pela negociação com os patrões). Com a fundação do PCB (Partido Comunista do Brasil) os anarquistas perderam sua força e o PCB optou por uma política de aliança com a Burguesia industrial o que permitiu a expansão da classe operária. Com Getúlio Vargas no período de1930-1945, o PCB tornou-se ilegal, pois o presidente adotou uma política que não permitia a autonomia dos sindicatos. Em 1943 criou-se a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). De 1964 à 1970 as intervenções nos sindicatos eram freqüentes; só no final da década de 70, já com o Presidente João Figueiredo o sindicalismo voltou principalmente nas regiões do Brasil que tinham o maior número de indústrias e surgiram novas lideranças sindicais como a de: Luiz Inácio Lula da Silva (Hoje Presidente do País). Os sindicatos voltam com força após surgirem lideranças, os mais importantes são: a CUT - Central Única dos Trabalhadores e a Força Sindical, cujo o objetivo principal das duas é a manutenção dos postos de trabalho e a redução da jornada de trabalho para que sejam criados mais empregos. Na década de 70, surgiram com a força novos movimentos sociais: O movimento social urbano cuja luta principal é a educação, a saúde e moradia e movimentos que lutam contra a discriminação como dos negros e homossexuais. “Os países subdesenvolvidos conheceram pelo menos três formas de pobreza e, paralelamente três formas de dívida social, no último meio do século. A primeira seria o que ousadamente chamaremos de pobreza incluída, uma pobreza acidental, às vezes residual ou sazonal, produzida em certos momentos do ano, uma pobreza intersticial e, sobretudo, sem vasos comunicantes. Depois chega uma outra, reconhecida e estudada como uma doença da civilização. Então chamada de marginalidade, tal pobreza era produzida pelo 64 processo econômico da divisão do trabalho, internacional ou interna. Admitiase que poderia ser corrigida, o que era buscado pelas mãos dos governos. E agora chegamos ao terceiro tipo, a pobreza estrutural, que de um ponto de vista moral e político equivale a uma dívida social. Ela é estrutural e não mais local, nem mesmo nacional; torna-se globalizada, presente em toda parte do mundo. Há uma disseminação planetária e uma produção globalizada ainda que esteja mais presente nos países pobres. Mas é também uma produção científica, portanto voluntária da dívida social, para a qual na maior parte do planeta, não se buscam remédios”. Santos, 2000 p.69. Desde 1990 a ONU tem publicado o Relatório do Desenvolvimento humano e seu objetivo é procurar dados sobre o desenvolvimento humano e propor formas de melhorar a situação no planeta terra. Nesses documentos é apresentado “um glossário da pobreza e do desenvolvimento humano” (que deve ser entendido como processo pelo qual são concedidas à pessoas as condições de escolha que lhes possibilitem ampliar suas capacidades e funções na sociedade. “As capacidades essenciais são aquelas que permitem aos ser humano uma vida digna, com condições de alimentação, moradia e educação de qualidade, bem como participação política, direito à segurança e à efetiva sustentabilidade. Em síntese, o almejado desenvolvimento humano será alcançado quando toda pessoa tiver garantido o direito a uma vida digna e à plena cidadania, a completa autonomia”. Krajewski –2004. pág.271 Com base em tabelas, o PNUD estabeleceu o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) que levanta dados a partir da coleta de informações que levam em conta as taxas de: ”esperança de vida ao nascer; quantidade de adultos alfabetizados, escolaridade bruta nos níveis primário, secundário e superior, e PIB percapita considerando o dólar PPC paridade de poder de compra”. 65 Esse índice expressa a média mínima de consumo de bens e serviços por dia, nos diferentes países. Para a América Latina e o Caribe, é considerado o valor de US$2. Já nos países do Leste Europeu e nos que compunham a antiga União Soviética é considerado o valor de US$4. Nos países ricos o índice utilizado como limite à linha de pobreza é o dos Estados Unidos ou seja US$14,4 por pessoa por dia. O IDH varia de 0 a 1. Assim quanto mais próximo de 1, maior será o índice de desenvolvimento humano. O Relatório do Banco Mundial alerta que há uma enorme diferença entre países ricos e pobres, segundo este nos países pobres 121 crianças morrem de cada 1000 crianças que nascem nos países ricos sete em cada 1000. Frei Beto nos faz refletir na verdadeira situação da sociedade: Latino Americano e Caribenha. Grito dos excluídos da América Latina e do Caribe. “[...] Somos todos passageiros da mesma nave espacial chamada Terra. No entanto, como nas caravelas dos colonizadores e nos aviões transatlânticos, viajamos em condições desiguais. Uma minoria usufrui, na primeira classe de tecnologia de ponta como a internet, de alimentação saudável, de medicina sofisticada e de acesso à cultura. A maioria – 85 por cento da população mundial amontoa-se em porões insalubres, ameaçada pela fome, pelas doenças e pela violência. Nosso grito se ergue contra a globalização, que ao favorece os poucos países metropolitanos, em detrimento das nações pobres revela o seu caráter de verdadeira globocolonização. O Pib mundial calculado hoje em 25 trilhões de dólares, é o retrato da brutal acumulação da riqueza em mãos de poucos países do G7 (EUA, Canadá, Inglaterra, Itália, França, Alemanha e Japão) detém 18 trilhões de dólares. Os 7 trilhões de dólares que restam devem ser repartidos entre os mais de 240 países. Clama aos céus constatar que apenas três cidadãos norteamericanos – Bill Gates, Paul Allen e Warren Buffett – possuem 66 juntos, uma fortuna superior ao Pib de 42 nações pobres, nas quais vivem 600 milhões de habitantes! Hoje na América Latina e no Caribe há 204 milhões de pobres e 90 milhões de miseráveis. São 192 milhões de crianças das quais a morte atinge a cada ano, quase 500.000, afetadas por doenças previsíveis, cerca de 14 milhões de crianças com menos de cinco anos de idade sofrem deficiência de vitamina A. Cerca de 20 milhões de crianças menores de 15 anos de idade trabalham na América Latina e no Caribe. Muitas abandonaram a escola para ajudar no orçamento familiar, enquanto outras assumem risco de vida em suas atividades profissionais. Quase 2 milhões de latino-americanos e caribenhos são contaminados com o vírus HIV. Nas escolas de ensino fundamental a taxa média de repetência é de 30%, sem contas que amplas camadas da população ainda são analfabetas. Essa situação se agrava pelo analfabetismo virtual por não saberem lidar com os novos equipamentos eletrônicos. Nosso grito é de protesto contra a economia neoliberal, que monitorada pelo FMI e pelo Banco Mundial, reduz a democracia ao mercado, a cidadania ao consumismo, e viola a soberania de nossos Estados Nacionais através da privatização de nossas empresas estatais e públicas. Em 1999, o desemprego elevou-se a 8,7 por cento em nosso continente, a taxa mais alta da década, enquanto o salário real na indústria caiu, segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho), 0,9 por cento no primeiro semestre de 1999, frente a igual período no ano anterior. Globalizar-se a pobreza e não o progresso; a dependência e não a independência; a competitividade e não a solidariedade. Enquanto isso as nações ricas investem em tropas e armas, anualmente, 800 bilhões de dólares [...]”. Frei Betto. (2000 pág. 17) 67 Democracia na atualidade - Após a Segunda Guerra e posteriormente a Guerra Fria, o mundo foi dividido em dois blocos geopolíticos (econômico e militar) os Estados Unidos (captalista) e a União Soviética e a China (militar) Surgiu no mundo o Welfare State Estado do bem-estar social, onde o Estado passa a intervir na economia investindo em indústrias estatais e subsidiando empresas privadas na indústria, na agricultura e no comércio com o controle de preços, salários e taxas de juros e um conjunto de encargos sociais e serviços públicos; com isso os países capitalistas que promoviam o bem-estar para si, não desejavam os países que são se submetiam ao seu ideal de Estado, com medo de revoluções nos países do Terceiro Mundo sufocavam qualquer tipo de insurreição como no caso de Cuba em 1958 que promoveu uma revolução, libertam-se de seus colonizadores. Os países mais fortes do bloco capitalista adotaram medidas para que não mais houvesse “rebeliões”: através do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), emprestaram grande quantias aos mesmos para que estes se “desenvolvessem” e junto com o dinheiro também “ajuda” militar, para reprimir revoltas e ou revoluções estimulando em alguns países ditaduras militares como foi o caso do Brasil. E tudo isso em nome da soberania do País. A democracia liberal era culpada segundo estes pela desordem e caos sócioeconômico que o país vivia (1964). A democracia no Brasil seguiu entre duas vertentes: Ora como bem (liberdade), ora como o mal (ditadura); e foi se descaracterizando (não mais era uma forma de vida social) foi se tornando um instrumento ideológico usado de maneira vil pelos Estados Capitalistas em nome da liberdade dos países de Terceiro Mundo. O liberalismo (limita os direitos à cidadania política da classe dominante e a social democracia (acolhe as idéias de direitos sociais) não são sinônimas pelo que vimos, mas tem certa semelhança quando apoiam a livre iniciativa, e a competição política, afirmam que a Lei deve limitar o poder público e que o poder executivo e judiciário existem para limitar os conflitos sociais e atender as demandas sociais. 68 “A democracia é, assim, reduzida a um regime político eficaz, baseado na idéia de cidadania organizada em partidos políticos e que se manifesta no processo eleitoral de escolha dos representantes, na rotatividade dos governantes e nas soluções técnicas (e não políticas) para os problemas sociais. Vista por esse prisma, é realmente uma ideologia política e justifica a crítica que lhe dirigiu Marx ao referir-se ao formalismo jurídico que preside a idéia de direitos do cidadão. Em outras palavras, desde a Revolução Francesa 1789, essa democracia declara os direitos universais do homem e cidadão, mas a sociedade está estruturada de tal maneira que tais direitos não podem existir concretamente para a maioria da população. A democracia é formal não concreta”. Chauí, Marilena (2001,Pág.229) Podemos afirmar que a democracia é diferente de outras formas sociais existentes, é pois nela o conflito é legítimo e uma sociedade verdadeiramente histórica, aberta aos acontecimentos e às possíveis modificações que possam vir ocorrer, como a criação de novos direitos, ela não para de trabalhar suas divisões e diferenças rumo as modificações que se façam necessárias. O governo do povo para o povo era a política da democracia, mas como a sociedade está dividida em classes, fez com que esse ideal fosse modificado. O capitalismo desenfreado de alguns países tornou essa afirmação quase uma inverdade, tendo em vista o conflito de interesses e a exploração da sociedade, principalmente nos países do Terceiro Mundo. Com a divisão internacional do trabalho e da exploração que melhorou a vida de poucos e agravou a situação de muitos, surgiu o neoliberalismo que basicamente é o abandono da política do Estado de garantias dos direitos sociais e retomam a idéia de autocontrole da economia pelo mercado Capitalista. A isso damos o nome de privatização e quando o Estado se afasta do planejamento econômico se dá a desregularização. “Essa mudança nas forças produtivas (pois a tecnologia alterou o processo social do trabalho) vem causando o desemprego 69 em massa nos países de capitalismo avançado, movimentos racistas contra imigrantes, exclusão social, política e cultural de grande massa da população. Esse fenômeno começa também a atingir alguns países do Terceiro Mundo, como o Brasil”. Chauí, Marilena (2001, Pág. 228) Como conseqüência os direitos sociais e econômicos conquistados pelas classes populares estão em dificuldades, com a exclusão cada vez maior no mercado de trabalho (há cada vez menos trabalhadores devido altas tecnologias que não mais absorvem o grande números de trabalhadores). A social democracia, o Estado do Bem Estar Social será suprimido pelo Estado neoliberal onde o objetivo é privatizar tudo o que era dever do Estado como: Educação, saúde, transporte, moradia e alimentação. Ideologia da competência técnico-científica: “(...) é a idéia de que quem possui conhecimento está naturalmente dotado de poder de mando e direção. Essa ideologia, foi fortalecida pelos meios de comunicação de massa que a estimulam diariamente, invadiu a política: esta passou a ser considerada uma atividade reservada para administradores políticos competentes e não uma ação coletiva de todos os cidadãos.” Chauí , Marilena (2001, Pág229) Não só o direito à representação política (ser representante) diminui porque se restringe aos competentes como ainda a ideologia da competência oculta e dissimula o fato de que, para ser “competente”, é preciso ter recursos econômicos para estudar e adquirir conhecimentos. À grande dificuldade para a democracia no Brasil é a “indústria política”, onde os meios de comunicação manipulam a vontade do eleitor juntamente com a situação social no país onde sempre aparecem lideranças políticas (por vezes sem nenhum pudor) que se apresentam para o povo como sabedores da Nação. Na verdade não somos realmente eleitores (os que escolhem) mas meros votantes (os que dão o voto para alguém). 70 CONCLUSÃO O Ensino Religioso de hoje não pode ser apenas pastoral. Ele deverá facilitar o diálogo e ser um importante interlocutor entre a escola e a comunidade, servindo também como mediador de conflitos. Exemplificando valores e atitudes deverá desenvolver o indivíduo como pessoa humana, superando limites e fazendo o mesmo crescer como cidadão encontrando respostas para muitos de seus questionamentos. Como área de conhecimento deverá ser interdisciplinar, globalizando, não poderá fechar questões pois vivemos em um mundo multicultural e multireligioso; levando a compreensão dos fatos históricos que o levaram a ser quem é. Também deverá levar a descoberta e a compreensão do fenômeno religioso que pode ser um importante fator de inclusão social quando o aluno percebe-se como parte integrante do universo é religiosamente plural. 71 BIBLIOGRAFIA Adas, Melhem: Os impasses da Globalização e o mundo desenvolvido SP.2003 Alves, Rubens; A Alegria de Ensinar. Ed. Papirus – 2000 Aurélio, Dicionário da Lingua Portuguesa Ed. Nova Fronteira – 2000 Azenha, Maria das Graças: Construtivismo de Piaget a Emilia Ferreiro. Ed. Ática – 1999 Azevedo, Maria M. Lins de: A Educação como Política Pública: SP. Autores Associados. 2004 Católica. Catesismo da Igreja.Edições Loyola – SP, Brasil – 1999 Chauí, Maeilena: Filosofia Ed. Ática – 2001 Cisalpino, Murilo: Religiões. Ed. Scipione – 1994 Cruz, Therezinha da: Descobrindo Caminhos – Ensino Religioso. SP. Ed. FTD2002 Demo, Pedro – A Nova LDB Ranços e Avanços Ed. Papirus – 2004 Educação Religiosa Escolar – Conselho Interconfessional para Educação Religiosa – SP Ed. Vozes – 1980 Libâneo, José Carlos: Pedagogia e Pedagogos - Editora Cortez – 2002 Krajewski, Ângela Corrêa; Guimarães, Raul Borges e Ribeiro, Wagner Costa: Geografia , Pesquisa e Ação: SP Ed. Moderna – 2004 Mesquita, Maria Fernanda Nogueira: Valores humanos na Educação:SP Ed. Gente.2003 Morin, Edigar: Os sete saberes necessários à educação do futuro: Editora Cortez – 2002 Ojeda, Eduardo Aparício Baez: História. Uma Abordagem Integrada. Ed Moderna – 2003 Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Religioso – Ed. Ave Maria – 2004 Projeto Para Ensino Religioso das Escolas Públicas – SP. Ed. Papirus – 1996 Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Br. MEC – 2002 Saviani, Dermeval; Escola e Democracia - SP. Autores Associados. 2003 Silva, Sidney Reinaldo do: Instrução Pública e Formação Moral- SP. Autores Associados. 2004 Teles, Maria Luiza Silveira: Sociologia para Jovens Ed. Vozes - 1993 72 ÍNDICE Introdução 8 Capítulo I 10 1. A Convivência Humana 10 1.1 Espiritualidade 16 Capítulo II 2. HISTÓRICOS DA RELIGIÕES 18 2.1 Religiões Politeístas 19 2.2 A Mitologia 20 2.3 Religiões Orientais 22 2.4 Religiões Monoteístas 26 2.5 Religiões nos Aspectos Filosóficos 31 Capítulo III 3. ELEMENTOS HISTÓRICOS DO ENSINO RELIGIOSO 3.1 O Ensino Religioso 37 39 3.2 Os Objetivos Gerais do Ensino Religioso para o Ensino Fundamental 41 3.3 O Ensino Religioso nos Ciclos 45 3.4 Ética e Religião 50 3.5 A Escola e o Conhecimento Religioso 54 Capítulo IV 4. GLOBOCOLONIZAÇÃO 58 4.1 A Educação e Exclusão 59 4.2 O Emprego e Exclusão 60 4.3 A Exclusão no Brasil 61 4.4 Movimentos Sociais e Cidadania 61 Conclusão 70 Bibliografia 71 Índice 72 73 FOLHA DE AVALIAÇÃO UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO ‘LATO SENSU’ TÍTULO: A MÚSICA E A CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Data da entrega:_____________________________ Auto Avaliação: Como você avaliaria este livro? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Avaliado por:________________________________ Grau________________ Niterói,..... de julho de 2005. 74 ANEXOS 75 EVENTOS CULTURAIS