XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA ZOOTEC 2015 Dimensões Tecnológicas e Sociais da Zootecnia Fortaleza – CE, 27 a 29 de maio de 2015 Relação entre massa de forragem e altura de uma pastagem anual de inverno em diferentes sistemas integrados de produção agropecuária Sandoval Carpinelli1, Andressa Seliger Barbosa2, Claudio Guilherme De Matos Porto2, João Felipe Copla2, Keli Cristina Silva Guera2, Renato Almeida de Jesus2, Cainã Lucas Mallmann Caetano2, Laíse da Silveira Pontes3 1 Mestrando no Programa de Pós-graduação em agronomia; Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG, e-mail: [email protected] 2 Bolsista de Iniciação Cientifica no Instituto Agronômico do Paraná – IAPAR, Ponta Grossa-PR, Brasil 3 Pesquisador(a) do Instituto Agronômico do Paraná – IAPAR, Ponta Grossa-PR, Brasil Resumo: O objetivo do presente estudo foi avaliar a influência da presença de árvores, em área com pastagem de inverno pastejada por bovinos de corte, na relação entre a altura da pastagem e a massa de forragem. O trabalho foi realizado em dois distintos sistemas integrados de produção agropecuária (i.e. com vs. sem árvores), dois níveis de N na pastagem (90 e 180 kg N ha-1 ano-1), totalizando quatro tratamentos, com três repetições. O método de pastejo foi o contínuo com frequentes ajustes de carga animal, visando manter a altura da pastagem em torno de 20 cm. Diferenças significativas foram observadas apenas entre os interceptos (P<0,001), quando comparando as regressões para os quatro tratamentos entre massa de forragem e altura da pastagem. Para uma mesma altura média da pastagem, menores valores de massa de forragem foram observados no sistema arborizado. Palavras–chave: aveia-preta, azevém, adubação nitrogenada, sistemas arborizados Relationship between forage mass and canopy height of a cool season pasture in different integrated crop livestock systems Abstract: The aim of the current study was to evaluate the effect of trees presence, in a cool season pasture grazed by cattle, on the relationship between sward height and forage mass. The study was carried out in two integrated crop livestock systems (i.e. with and without trees), with two levels of nitrogen supply (90 and 180 kg N ha-1), a total of four treatments and three replicates. A continuous stocking method was used by adjusting the number of grazing animals frequently in order to maintain a target surface sward height of 20 cm. Significant differences were found only between intercepts (P<0,001) when comparing the regressions within each treatment between forage mass and sward height. For the same sward height, lowers forage mass values were observed in the system with trees. Keywords: agroforestry systems, black oat, ryegrass, nitrogen fertilization Introdução Um dos principais desafios para a otimização de sistemas integrados de produção agropecuária (SIPA), é o adequado manejo da pastagem. O manejo da pastagem afeta o uso eficiente da forragem e o alcance de um bom desempenho animal, além de influenciar as condições físicas, químicas e biológicas do solo, bem como o desenvolvimento da cultura em sucessão em SIPA (Carvalho et al., 2010). O critério altura da pastagem constitui numa excelente ferramenta de manejo para ajustar a carga animal, pois é indicadora da oferta de forragem (Cauduro et al., 2007). Contudo, em SIPA arborizados, o sombreamento provocado pela presença de árvores pode modificar significativamente as características morfofisiológicas e estruturais das plantas (e.g. Paciullo et al., 2007), podendo influenciar a relação entre a altura e a massa de forragem. Portanto, é de fundamental importância o conhecimento dos processos que afetam as plantas forrageiras em sistemas arborizados para adequação do manejo e, consequentemente, otimizar a produção de matéria seca. O objetivo do presente estudo foi avaliar a influência da presença de árvores, em área com pastagens de inverno pastejada por bovinos de corte, na relação entre a altura da pastagem e a massa de forragem. Material e Métodos O experimento foi conduzido na Estação Experimental Fazenda Modelo do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), em Ponta Grossa (25º 07’ 22’’ S; 50º 03’ 01’’ W), região Centro-Sul do estado do Paraná. Página - 1 - de 3 XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA ZOOTEC 2015 Dimensões Tecnológicas e Sociais da Zootecnia Fortaleza – CE, 27 a 29 de maio de 2015 A área experimental compreende 13,1 ha e está dividida em 12 unidades experimentais (u.e.), sendo 6 arborizadas com eucalipto (Eucaliptus dunnii), aroeira vermelha (Schinus terebinthifolius Raddi) e grevílea (Grevillea robusta), as quais foram plantadas em 2006 na mesma linha e distanciadas 3 m entre si (237 árvores/ha). As linhas de plantio estão dispostas transversalmente ao sentido predominante de declividade do terreno e espaçadas em 14 m. Desramas foram feitas no decorrer do desenvolvimento das árvores. No início de 2013 foi feito também o desbaste das árvores de aroeira. Durante o verão, cultiva-se milho e/ou soja (em rotação anual) e, durante o inverno, pastagem anual de aveia-preta (Avena strigosa Schreb) + azevém (Lolium multiflorum L.), a qual é pastejada por bovinos de corte. O delineamento experimental é o de blocos ao acaso com quatro tratamentos, resultantes do cruzamento de dois fatores: presença e/ou ausência de árvores [no decorrer do texto adotaremos os termos técnicos integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e integração lavoura-pecuária (ILP), para descrever tais tratamentos, respectivamente]; e dois níveis de adubação nitrogenada na pastagem de inverno: 90 e 180 kg N ha -1 (na forma de ureia, feita em cobertura no início do perfilhamento) com três repetições cada. Os resultados aqui apresentados referem-se à fase pecuária dos SIPA, mais especificamente, entre os dias 19 de maio a 17 de outubro de 2014. Neste período, o sistema arborizado apresentou, em média, um nível de restrição luminosa de 44,3%. Tal valor foi obtido a partir de duas avaliações, nos meses de junho e outubro, feitas entre 9h e 15h com o auxílio de dois ceptômetros (Decagon modelo AccPAR LP-80). A adubação de base na pastagem foi feita com 400 kg ha-1 do formulado NPK (04:30:10). Para o manejo dos animais, utilizou-se a técnica “put and take”, visando manter uma altura constante em torno de 20 cm. Para o ajuste da carga animal, medidas semanais de altura da pastagem foram feitas com o auxílio da régua “sward stick”, em 100 pontos aleatórios por u.e.. A massa de forragem (kg matéria seca ha-1) foi obtida através da coleta de cinco amostras aleatórias por u.e., de 0,25 m² cada, cortadas rente ao solo. Na mesma área de corte das amostras se fez a contagem do número de perfilhos e medidas de altura. Além disso, 10 perfilhos por espécie foram coletados aleatoriamente por u.e. para a relação “peso vs. comprimento”. Todas as amostras coletadas foram colocadas em estufa por 48 h a 60ºC e pesadas. Análises de comparação de regressões entre a altura da pastagem e a massa de forragem foram feitas através do software Statgraphics Centurion XV. Resultados e Discussão Observaram-se regressões lineares significativas entre massa de forragem e altura da pastagem (r² = 44%, P<0,001, Figura 1). Contudo, diferenças significativas foram observadas apenas entre os interceptos (P<0,001). Portanto, como os coeficientes angulares não diferiram significativamente entre si, comparando as regressões dos quatro tratamentos, o modelo foi refeito assumindo igual coeficiente angular, de modo a obter a distância média entre as regressões. A distância entre os dois sistemas no menor nível de N foi de 723 kg de MS ha-1, enquanto que no maior nível de N foi de 618 kg de MS ha-1. Menores diferenças ocorreram entre níveis de N dentro de cada sistema (e.g. a máxima diferença entre os níveis de N foi no sistema de ILP, i.e. 59 kg de MS ha-1, Figura 1). Em resumo, para uma mesma altura média da pastagem, menores valores de massa de forragem foram observados no sistema de ILPF (Figura 1). Segundo Belesky et al. (2011), a redução de luz pode influenciar o crescimento e o desenvolvimento das espécies forrageiras, por exemplo, pela elevação de colmos, modificação da área foliar e comprimento de folhas, permitindo que as plantas atinjam a altura requerida para realizar as atividades fotossintéticas. Embora isto pareça sustentar uma boa produção, em geral, são plantas estioladas contendo uma menor produção de perfilhos, quando comparando com ambientes sem restrição luminosa. Tal fato foi comprovado no presente trabalho, já que uma significativa (P<0,001) maior densidade de perfilhos foi observada no sistema de ILP (179 perfilhos m linear1 ) do que no sistema de ILPF (125 perfilhos m linear-1). Além disso, tais perfilhos tinham também um significativo (P<0,01) maior peso no sistema de ILP (0,08 ± 0,007 g cm-1) comparado ao sistema de ILPF (0,06 ± 0,003 g cm-1). Os ajustes de carga, durante o período experimental, foram realizados de acordo com as mudanças na altura da pastagem, visando manter esta em torno de 20 cm, em média. No entanto, mesmo se as alturas médias forem semelhantes entre os dois sistemas, diferenças importantes ocorrem em termos de massa de forragem (Figura 1). Portanto, a restrição luminosa em sistemas arborizados acarreta em alterações na estrutura da pastagem (e.g. densidade de perfilhos), alterando a relação entre massa de forragem e altura da pastagem. A necessidade de desbaste de árvores deve ser avaliada para minimizar tais efeitos negativos do elevado sombreamento. Página - 2 - de 3 XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA ZOOTEC 2015 Dimensões Tecnológicas e Sociais da Zootecnia Fortaleza – CE, 27 a 29 de maio de 2015 Massa de forragem (kg/ha) (X 1000,0) 3 ILP N90 ILPF N90 ILP N180 ILPF N180 2 1 0 0 10 20 30 40 Altura (cm) Figura 1. Relação entre a altura (cm) e a massa de forragem da pastagem de aveia-preta (Avena strigosa Schreb) + azevém anual (Lolium multiflorum L.). ILP, integração lavoura-pecuária; ILPF, integração lavourapecuária-floresta; N1= 90 kg N ha-1 ano-1; N2 = 180 kg N ha-1 ano-1. Conclusões Com um nível de restrição de luz de 44%, pastagens arborizadas de aveia-preta e azevém apresentaram menor massa de forragem, menor densidade de perfilhos e menor peso/cm em cada perfilho, do que pastagens sem árvores, mesmo que ambas sejam manejadas com alturas semelhantes. Agradecimentos Ao suporte técnico de Giliardi Stafin, Bruno Nunes e André Luiz Oliveira de Francisco, bem como aos bolsistas de iniciação científica do IAPAR. Ao pesquisador Dr. José Luiz Molleta pela colaboração no experimento. O presente trabalho faz parte de um acordo de cooperação (N° 21500.10/0008-2) entre o IAPAR e a Embrapa Florestas. Literatura citada BELESKY, D.P.; BURNER, D.M.; RUCKLE, J.M. 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