UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO MARIA FERNANDA AURELIANO NEPOMUCENO DESVIOS NA PARIDADE DAS OPÇÕES DE COMPRA E DE VENDA E PREVISIBILIDADE NO RETORNO DO MERCADO DE AÇÕES BRASILEIRO RIO DE JANEIRO 2012 2 Maria Fernanda Aureliano Nepomuceno DESVIOS NA PARIDADE DAS OPÇÕES DE COMPRA E DE VENDA E PREVISIBILIDADE NO RETORNO DO MERCADO DE AÇÕES BRASILEIRO Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, Instituto Coppead de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Administração. Área de concentração: Finanças e Controle Gerencial. Orientador: Eduardo Facó Lemgruber, Ph. D. Rio de Janeiro 2012 3 Maria Fernanda Aureliano Nepomuceno DESVIOS NA PARIDADE DAS OPÇÕES DE COMPRA E DE VENDA E PREVISIBILIDADE NO RETORNO DO MERCADO DE AÇÕES BRASILEIRO Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, Instituto Coppead de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Administração. Aprovada em: Banca Examinadora: Eduardo Facó Lemgruber Celso Funcia Lemme Claudio Henrique da Silveira Barbedo 3 À Tereza Aureliano, por tudo. E mais. 4 AGRADECIMENTOS Ao professor Eduardo Facó Lemgruber, pelas orientações precisas, diversas contribuições prestadas e constante assistência. A Tereza e Nancyldo, meus pais, à Maria Cecília, minha irmã, e a Liana e João Manuel, meus tios, por seus exemplos de vida e de valorização da honestidade, da educação e do conhecimento, além dos indispensáveis apoio e amor, em todos os aspectos, sem os quais eu certamente não teria sequer cursado esse renomado mestrado. A Josué Correia, meu namorado e meu parceiro da vida, pelo incansável auxílio prático e sentimental, antes e durante a minha estada no Rio de Janeiro, e pelos confortantes incentivo e compreensão em tudo o que almejo, sendo para mim inspiração de coragem, determinação e disposição para buscar, enfrentar e vencer desafios. À Juliana Jacob e à Maria Eugênia Gallotti, pela total solicitude, disponibilidade e amparo prestados a mim no Rio de Janeiro e, principalmente, por suas maravilhosas companhia e amizade terem tornado toda essa experiência infinitamente mais doce. À Camila Monte e à Monique Perin, por suas amizades e pela prestatividade de sempre ao dividirem seus conhecimentos ao longo do curso, incluindo os relacionados à melhor utilização das ferramentas do Excel, essenciais para o desenvolvimento mais eficiente desse trabalho. Aos professores, colegas, amigos e funcionários do Programa de Pós-Graduação em Administração do Instituto Coppead de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pelos vastos conhecimentos proporcionados, amizades construídas e importante contribuição para a minha formação, acadêmica e pessoal. À Instituição, pelo seu ambiente saudável e ensino gratuito de alta qualidade. 5 RESUMO Desvios na paridade das opções de compra e de venda não contêm, nos dias atuais, informação significativa sobre o retorno futuro do mercado de ações brasileiro. Por serem instrumentos derivativos, é suposto que os preços das opções devam ser liderados pelos preços dos ativos-objeto que as originaram, contudo, diversos trabalhos acadêmicos concluíram, em algum tempo ou em determinado grau, o inverso. Nesse estudo, é utilizada a diferença entre as volatilidades implícitas de pares de opções de compra e opções de venda como medida desses desvios e como indício de pressão de preço no mercado de opções, denominando-a spread de volatilidade. A interação entre os dois mercados é analisada em periodicidades semanal e diária, tomando-se como base tanto o nível, quanto o sentido e o grau da variação do spread, sendo também avaliadas a influência da liquidez e da passagem do tempo no suposto poder de previsão. Observa-se, no entanto sem significância estatística comprovada através do uso do p-valor, relações diretas entre a variação do spread de volatilidade e a rentabilidade do ativo-objeto no primeiro dia subsequente ao cálculo do desvio, ocorrendo o mesmo com a liquidez das opções correspondentes. Em acréscimo, são encontrados indícios de que o grau dessa previsibilidade tenha se reduzido com o passar dos anos. Palavras-chave: paridade entre as opções, mercado de opções, previsibilidade no retorno de ações, volatilidade implícita, spread de volatilidade. 6 ABSTRACT Deviations in put-call parity do not contain, nowadays, significant information about the future returns of the Brazilian stock market. As options are a derivatives, is supposed that their prices should be led by the prices of their underlying assets, however, many academic papers founded, at some time or in some degree, the reverse. In this study, the difference between the implied volatilities of pairs of calls options and puts options, or “volatility spread”, is used to measure these deviations and as evidence of price pressure in the options market. The interaction between the two markets is analyzed in weekly and daily frequencies, taking as basis the level, and the direction and degree of variation in the volatility spread. In addition, are studied the influences of liquidity and passage of time in the supposed predictive power. It is observed, despite it wasn´t proven statistically significant through the use of the p-value, direct relationships between the variation of volatility spread and return of the underlying asset on the first day after calculating the deviation. The same occurs with the liquidity of the correspondent options. Additionally, indications are found that the degree of predictability decreases over time. Keywords: put-call parity, option market, stock return predictability, implied volatility, volatility spread. 7 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Gráfico 1 – Valores dos spreads de volatilidade entre -300% e 300% e com mais de quatro . pares de opções válidos, de 1986 a 2007 .................................................................................30 .... . Gráfico 2 – Média aritmética dos retornos semanais das carteiras formadas nas quartasfeiras, entre 1986 e 2007, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade...........40 . Gráfico 3 – Média aritmética dos retornos semanais das carteiras formadas nas quartas-feiras, entre 1986 e 2007, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade.......................41 . Gráfico 4 – Média aritmética dos retornos semanais das carteiras formadas nas quartas-feiras, entre 1997 e 2007, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade.......................42 . Gráfico 5 – Média aritmética dos retornos semanais das carteiras formadas nas quartas-feiras, entre 1986 e 2007, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade.......................43 . Gráfico 6 – Média aritmética dos retornos semanais das carteiras formadas nas quartas-feiras, entre 1986 e 1996, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade.......................43 . Gráfico 7 – Média aritmética dos retornos semanais das carteiras formadas nas quartas-feiras, entre 1997 e 2007, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade.......................44 . Gráfico 8 – Média aritmética dos retornos diários das carteiras formadas entre 1986 e 2007, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade...................................................45 ....... Gráfico 9 – Média aritmética dos retornos semanais das carteiras formadas entre 1986 e 1996, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade ......................................................46 .. . Gráfico 10 – Média aritmética dos retornos semanais das carteiras formadas entre 1997 e 2007, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade............................................46 . Gráfico 11 – Média aritmética dos retornos diários das carteiras formadas entre 1986 e 2007, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade......................................................48 . Gráfico 12 – Média aritmética dos retornos diários das carteiras formadas entre 1986 e 1996, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade......................................................48 . ...................................................................................................................................................................................................................................................................................... Gráfico 13 – Média aritmética dos retornos diários das carteiras formadas entre 1997 e 2007, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade ......................................................49 . ..... 8 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Impacto do surgimento de uma informação positiva sobre o ativo subjacente no spread de volatilidade do par de opções correspondente ..........................................................26 .. . Tabela 2 – Estatística descritiva dos spreads de volatilidade entre -300% e 300%, encontrados de 1986 a 2007..........................................................................................................................29 . Tabela 3 – Estatística descritiva dos spreads de volatilidade entre -300% e 300%, encontrados de 1986 a 2007, a partir das médias aritméticas dos resultados encontrados em cada ativo..................................................................................................................................29 . Tabela 4 – Médias aritméticas dos spreads de volatilidade e dos retornos semanais das carteiras formadas nas quartas-feiras, entre 1986 e 2007, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade, com o cálculo dos respectivos p-valores.............................................40 . Tabela 5 – Médias aritméticas dos spreads de volatilidade e dos retornos semanais das carteiras formadas nas quartas-feiras, entre 1986 e 1996, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade, com o cálculo dos respectivos p-valores.............................................41 . Tabela 6 – Médias aritméticas dos spreads de volatilidade e dos retornos semanais das carteiras formadas nas quartas-feiras, entre 1997 e 2007, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade, com o cálculo dos respectivos p-valores.............................................41 . Tabela 7 – Médias aritméticas dos spreads de volatilidade e dos retornos semanais das carteiras formadas nas quartas-feiras, entre 1986 e 2007, restritos a opções com média aritmética dos negócios realizados no pregão superior a cinco, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade, com o cálculo dos respectivos p-valores...............................42 .. Tabela 8 – Médias aritméticas dos spreads de volatilidade e dos retornos semanais das carteiras formadas nas quartas-feiras, entre 1986 e 1996, restritos a opções com média aritmética dos negócios realizados no pregão superior a cinco, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade, com o cálculo dos respectivos p-valores...............................43 . Tabela 9 – Médias aritméticas dos spreads de volatilidade e dos retornos semanais das carteiras formadas nas quartas-feiras, entre 1997 e 2007, restritos a opções com média aritmética dos negócios realizados no pregão superior a cinco, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade, com o cálculo dos respectivos p-valores............................43 ........... Tabela 10 – Médias aritméticas dos spreads de volatilidade e dos retornos diários das carteiras formadas entre 1986 e 2007, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade, com o cálculo dos respectivos p-valores...........................................................................................45 elas................. Tabela 11 – Médias aritméticas dos spreads de volatilidade e dos retornos diários das carteiras formadas entre 1986 e 1996, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade, com o cálculo dos respectivos p-valores...........................................................................................46 . Tabela 12 – Médias aritméticas dos spreads de volatilidade e dos retornos diários das carteiras formadas entre 1997 e 2007, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade, com o cálculo dos respectivos p-valores...........................................................................................46 ................ Tabela 13 – Médias aritméticas dos spreads de volatilidade e dos retornos diários das carteiras formadas entre 1986 e 2007, restritos a opções com média aritmética dos negócios realizados no pregão superior a cinco, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade, com o 9 cálculo dos respectivos p-valores......................................................................................47 ................ Tabela 14 – Médias aritméticas dos spreads de volatilidade e dos retornos diários de todas as carteiras formadas entre 1986 e 1996, restritos a opções com média aritmética dos negócios realizados no pregão superior a cinco, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade, com o cálculo dos respectivos p-valores...........................................................48 ...... Tabela 15 – Médias aritméticas dos spreads de volatilidade e dos retornos diários de todas as carteiras formadas entre 1997 e 2007, restritos a opções com média aritmética dos negócios realizados no pregão superior a cinco, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade, com o cálculo dos respectivos p-valores..........................................................48 ....... Tabela 16 – Médias aritméticas dos retornos diários acumulados nos cinco primeiros dias úteis após o cálculo do spread de volatilidade, divididas de acordo com o período analisado, a quantidade mínima de negócios com as opções realizados no pregão e o sentido da variação do spread de volatilidade, sem restrições quanto à variação percentual do spread de volatilidade................................................................................................................................50 ... Tabela 17 – Médias aritméticas dos retornos diários acumulados nos cinco primeiros dias úteis após o cálculo do spread de volatilidade, divididas de acordo com o período analisado, a quantidade mínima de negócios com as opções realizados no pregão e o sentido da variação do spread de volatilidade, com restrição de variação do spread de volatilidade superior a 50%............................................................................................................................................51 . Tabela 18 – Estatística descritiva da carteira cujos spreads de volatilidade apresentam variação Negativa.....................................................................................................................53 .. Tabela 19 – Estatística descritiva da carteira cujos spreads de volatilidade apresentam variação positiva.......................................................................................................................54 . Tabela 20 – Análise da diferença entre as médias das carteiras com variação positiva e com variação negativa do spread de volatilidade, no primeiro dia úl subsequente à mudança do spread........................................................................................................................................55 . 10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................................12 1.1 OBJETIVOS DO ESTUDO......................................................................................................13 1.2 RELEVÂNCIA DO ESTUDO..................................................................................................13 1.3 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO..............................................................................................14 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..................................................................................................15 2.1 ESTUDOS INTERNACIONAIS...............................................................................................15 2.2 ESTUDOS NACIONAIS...........................................................................................................20 3 CARACTERÍSTICAS DO MERCADO DE OPÇÕES E DO MERCADO A VISTA NO BRASIL E BANCO DE DADOS AMOSTRAL..........................................................................22 3.1 CARACTERÍSTICAS DO MERCADO DE OPÇÕES E DO MERCADO A VISTA NO BRASIL...........................................................................................................................................22 3.2 BANCO DE DADOS AMOSTRAL.........................................................................................23 4 METODOLOGIA E LIMITAÇÕES DO ESTUDO...............................................................25 4.1 METODOLOGIA.....................................................................................................................25 4.1.1 Carteiras nas quartas-feiras e retornos semanais..............................................................32 4.1.1.1 Desvios na paridade entre as opções de compra e de venda e retorno futuro de ações................................................................................................................................................33 4.1.1.2 Passagem do tempo e poder de previsão.............................................................................34 4.1.1.3 Liquidez das opções e poder de previsão............................................................................34 4.1.2 Carteiras e retornos diários................................................................................................34 4.1.2.1 Formação dos portfólios a partir dos níveis dos spreads de volatilidade...........................36 4.1.2.1.1 desvios na paridade entre as opções de compra e de venda e retorno futuro de ações................................................................................................................................................35 4.1.2.1.2 passagem do tempo e poder de previsão..........................................................................35 4.1.2.1.3 liquidez das opções e poder de previsão..........................................................................35 4.1.2.2 Formação dos portfólios a partir das variações nos spreads de volatilidade......................36 4.2 LIMITAÇÕES DO ESTUDO...................................................................................................37 5 RESULTADOS...........................................................................................................................40 5.1 CARTEIRA NAS QUARTAS-FEIRAS E RETORNOS SEMANAIS...............................40 5.11 Desvios na paridade entre as opções de compra e de venda e retorno futuro de ações.........................................................................................................................................40 5.1.2 Passagem do tempo e poder de previsão........................................................... ..........41 . 5.1.3 Liquidez das opções e poder de previsão.....................................................................42 5.2 CARTEIRAS E RETORNOS DIÁRIOS............................................................................45 5.2.1 Formação dos portfólios a partir dos níveis dos spreads de volatilidade..................45 11 5.2.1.1 Desvios na paridade entre as opções de compra e de venda e retorno futuro de ações..........................................................................................................................................45 5.2.1.2 Passagem do tempo e poder de previsão..........................................................................45 5.2.1.3 Liquidez das opções e poder de previsão.........................................................................47 5.2.2 Formação dos portfólios a partir das variações nos spreads de volatilidade............50 6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES................................................................................57 6.1 CONCLUSÕES........................................................................................................................57 6.2 RECOMENDAÇÕES...............................................................................................................60 REFERÊNCIAS............................................................................................................................61 12 1 INTRODUÇÃO Diversos foram os estudos, nacionais e internacionais, realizados sobre possíveis anomalias no mercado financeiro, intensificados de acordo com Rêgo (2008), no Brasil, a partir do desenvolvimento da computação, em meados dos anos 80. As opções, no entanto, constituem um instrumento derivativo financeiro cujo mercado e influências são, comparativamente, pouco explorados pelos estudiosos brasileiros. A negociação de opções tem crescido significativamente desde a primeira transação realizada em bolsa, em 1973, na Chicago Board Options Exchange (CBOE), estando esse mercado hoje presente praticamente na totalidade das bolsas mundiais. Detentor de expressiva flexibilidade, o mercado de opções tem sua importância referida à necessidade do posicionamento de seus participantes, os hedgers, os especuladores e os arbitradores, que por sua vez apresentam características variadas de risco e retorno e desempenham papéis complementares para o bom funcionamento do mercado (Farhi, 1999). Segundo Hull (1997), os derivativos podem ser definidos como instrumentos financeiros cujos valores derivam ou dependem de um ativo, seja ele financeiro ou não. Assim, por ser a opção um instrumento derivativo, espera-se que o seu preço seja influenciado pelo preço do ativo subjacente, não o contrário. Contudo, no Brasil e no mundo foram realizados vários estudos no intuito de verificar se o mercado de opções e de outros derivativos influencia o preço dos ativos subjacentes negociados à vista, conforme é observado na revisão bibliográfica, no próximo capítulo. No que se refere especificamente ao tema explorado nesse trabalho, que analisa a troca de informações entre os dois mercados a partir de supostas violações da paridade entre as opções de compra e de venda, os trabalhos pesquisados com semelhante abordagem, de uma maneira geral, não encontram reais possibilidades de arbitragem. Isso se observa a partir do momento em que são consideradas características reais de mercado, como restrições sobre venda a descoberto, pagamento de dividendos, chamadas de margem e custos de transação, além do valor do exercício antecipado das opções americanas. Conforme serão apresentados no decorrer na revisão de literatura, foram encontrados alguns trabalhos no exterior com esse método de análise, em especial nos Estados Unidos. No entanto, não foi identificado pela autora nenhum estudo desenvolvido no Brasil sobre 13 previsibilidade de retornos futuros de ações com abordagem semelhante. É dentro desse contexto que são apresentados a seguir os objetivos e a relevância desse trabalho. 1.1 OBJETIVOS DO ESTUDO Este trabalho apresenta como principal objetivo verificar se desvios na relação de paridade entre a opção de venda e de compra, também conhecida como put-call parity, contêm informações sobre os retornos futuros das ações. Os objetivos secundários são investigar a influência nesse eventual grau de previsibilidade da liquidez das opções, interesse do mercado em negociá-las, assim como avaliar a existência de mudanças, com a passagem do tempo, no poder de previsão supostamente identificado.1 1.2 RELEVÂNCIA DO ESTUDO A importância de se estudar, no mercado brasileiro, se as opções contêm informação sobre o retorno futuro das suas ações pode ser verificada em duas razões. A primeira seria a potencialidade de apontar indicação de ineficiência de mercado. Sendo os preços das opções informações relevantes disponíveis no mercado, caso tal ajuste imediato não ocorra têm-se um indício de contrariedade à forma semiforte de eficiência de mercado proposta por Fama (1970), que implica nos preços das ações refletindo todas as informações publicamente acessíveis, o que inclui os preços de outros ativos, como as opções (Cremers e Weinbaum, 2010). A segunda razão relaciona-se ao fato de não terem sido identificados pela autora significativo número de trabalhos nacionais envolvendo investigação de previsibilidade do mercado de opções sobre o mercado de ações. 1 No mercado financeiro, um ativo é dito mais líquido quanto maior for a facilidade e a rapidez em transformá-lo em dinheiro vivo. Dessa forma, pode-se interpretar a liquidez como a medida de interesse de negociação do mercado, podendo variar de acordo com o tipo de investimento feito pela empresa e as suas perspectivas de lucro, assim como as conjunturas econômicas nacional e internacional (Debastiani e Russo, 2008). 14 Tendo os estudos encontrados sobre o tema, em sua maioria, abrangido o mercado norte-americano, justifica-se assim uma análise para o mercado nacional, já que isso torna possível que os resultados encontrados nesses mercados sejam decorrentes de suas próprias características estruturais, não sendo, portanto, representativos para o mercado brasileiro. Em acréscimo, tampouco foi encontrado pela autora qualquer pesquisa nacional que estude esse assunto a partir de violações na paridade das opções de compra e de venda, abordagem por sua vez bastante difundida em trabalhos internacionais. Portanto, esse estudo busca contribuir para preencher essa lacuna existente nos trabalhos acadêmicos no Brasil. 1.3 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO O conteúdo desta dissertação está organizado em mais cinco capítulos além do presente, que introduz o tema estudado e apresenta a sua relevância, bem como os objetivos da pesquisa. No Capítulo 2, para o alcance dos objetivos desse estudo, inicialmente é realizada uma sucinta revisão de literatura, onde serão apresentados alguns trabalhos nacionais e internacionais que de alguma forma têm relação com o tema aqui discutido. O Capítulo 3 compreende as características relevantes do mercado de opções e a vista no Brasil, comparando-as às do mercado de opções americano, sendo este base da maioria dos estudos existentes sobre o assunto abordado neste trabalho. Em acréscimo, esse capítulo envolve a apresentação do banco de dados amostral aqui utilizado. A metodologia utilizada nesse estudo e a sua implementação, por sua vez, são abordadas no Capítulo 4, seguidas das conclusões preliminares advindas dos resultados dos testes realizados e da pontuação das principais limitações identificadas no decorrer do desenvolvimento do trabalho, que podem ser lidas no Capítulo 5. No Capítulo 6, por fim, apresentam-se as conclusões finais desse estudo e as sugestões para possíveis pesquisas futuras. 15 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA No intuito de verificar se violações na paridade entre as opções de compra e de venda contêm informações sobre retornos futuros das ações, utilizou-se nesse trabalho a diferença na volatilidade implícita (VI) entre pares de opções de compra e de venda como medida desses desvios. Dentro desse contexto, neste capítulo são primeiramente apresentadas as definições de opções de compra e de venda, em seguida o significado dessa relação de paridade, para por fim serem apresentados estudos relacionados especificamente ao tema aqui discutido. Segundo a BM&F BOVESPA, as opções constituem um instrumento derivativo financeiro cujo contrato caracteriza-se por um acordo bilateral de compra e de venda de um ativo, por um preço pré-determinado e em ou até uma data pré-estabelecida. 2 Uma clássica relação de relação de não-arbitragem entre os preços de opções de venda (puts) e de compra (calls), amplamente conhecida como put-call parity e por isso sendo também assim referida ao longo do presente trabalho, foi identificada primeiramente por Stoll (1969). Tal relação, que deve existir entre pares de opções de venda e opções de compra cujos preço de exercício, ativo subjacente e data de vencimento sejam iguais, dentre outros pressupostos assume que as opções não são exercidas antes da data de vencimento, o que, à princípio, restringe a sua aplicação às opções europeias, que têm essa característica.3 Pares de opções com essas três características mencionadas serão aqui denominados “pares válidos”. Além da equivalência presente na negociação das opções de compra e de venda, a relação put-call parity também implica na paridade das volatilidades implícitas, sendo baseado nas diferenças dessas volatilidades que serão medidos nesse estudo, conforme mencionado, os possíveis desvios na put-call parity. Esse assunto será retomado e discutido de maneira mais detalhada no capítulo cinco. 2.1 ESTUDOS INTERNACIONAIS Em linha com o tema aqui desenvolvido, serão apresentados nesta sessão diversos estudos realizados nos Estados Unidos, especialmente a partir de supostas violações na put2 Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/educacional/iniciantes/mercados-de-derivativos/tiposde-mercados-derivativos/tipos-de-mercados-derivativos.aspx?idioma=pt-br>. Acesso em: 27 abr. 2011. 3 Diferentemente das opções europeias, as chamadas opções americanas podem ser exercidas a qualquer dia de pregão até a data de vencimento. 16 call parity, com o objetivo de verificar se o mercado de opções influencia o preço dos ativos subjacentes negociados à vista. Os estudos publicados por Lamont e Thaler (2003), Ofek e Richardson (2003) e Ofek, Richardson e Whitelaw (2004) são exemplos, todos sugerindo uma suposta existência de oportunidades de arbitragem e vinculação com restrições à venda a descoberto. Ofek et al.(2004), utilizando dados de fechamento, fornecem uma análise da put-call parity diante de restrições à venda a descoberto no mercado Americano, com período amostral entre julho de 1999 e novembro de 2001. Confirmando o pressuposto de que quando preços de bens idênticos divergem devem existir empecilhos à arbitragem, os autores encontram uma forte relação entre violações na put-call parity e restrições de venda a descoberto, concluindo que tais desvios possuem menor probabilidade de ocorrer nas opções mais baratas ou fáceis de vender a descoberto. Resultados esses interpretados por Ofek et al. (2004) como prova de que as restrições de venda a descoberto de fato limitam de maneira significativa a arbitragem. No entanto, os resultados obtidos por Battalio e Schultz (2006) ao investigarem, utilizando dados intradiários, o papel das restrições à venda a descoberto no evento da bolha da internet ocorrido no final da década passada, vão de encontro às conclusões de Ofek et al. (2004). Os autores não encontram evidências de que restrições de venda a descoberto afetaram os preços das ações da Internet no estouro da bolha e defendem, portanto, que o impacto à arbitragem causado por restrições à venda a descoberto são reduzidos, já que os investidores poderiam facilmente vender a descoberto de maneira sintética através das opções. Em seu estudo, apenas cerca de metade das aparentes violações da put-call parity foram consistentes com restrições à venda a descoberto, em oposição ao expressivo resultado encontrado por Ofek et al. Além disso, esses autores questionam a utilização de dados de fechamento por Ofek et al. (2004), argumentando ser o fato de o fechamento do mercado de opções ocorrer dois minutos após o do mercado a vista a causa da divergência dos resultados encontrados entre os dois trabalhos. De acordo com Battalio e Schultz (2006), essa falta de sincronismo entre os dois mercados podem fazer com que sejam identificados desvios inexistentes na put-call parity. Diante desses resultados contraditórios, existe a possibilidade de as aparentes violações encontradas da put-call parity serem devido apenas à aleatoriedade das imperfeições do mercado ou mesmo questões relacionadas a dados, em linha com o que 17 defendem Battalio e Schultz (2006). Por outro lado, esses desvios na paridade entre as opções de compra e de venda podem realmente refletir restrições na venda a descoberto, conforme defende Ofek et al.(2004), Lamont e Thaler (2003), entre diversos outros autores. No caso de Lamont e Thaler (2003), esses autores relacionaram aos altos custos de vender a descoberto as expressivas violações na put-call parity encontradas em uma pequena amostra de três ativos que haviam passado por um carve-out, que por sua vez consiste em uma transação em que uma companhia oferta publicamente parte de sua participação acionária através de um IPO (O. A. Lamont, 2005). 4 Lamont e Thaler (2003) concluíram que se a venda a descoberto é dificultada é possível ocorrer o desemparelhamento entre os preços dos mercados de ações e o de opções. Outra possível interpretação para as aparentes violações da paridade consiste em esses desvios da put-call parity serem reflexo das negociações de investidores melhor informados. Ao negociarem no mercado de ações após realizarem suas transações no mercado de opções, tendência devido aos custos de transação e à alavancagem, esses investidores mais bem informados podem fazer com que o mercado de opções sirva de fonte de informação para os movimentos futuros das suas ações subjacentes O modelo de equilíbrio de Easley, O'Hara, e Srinivas (1998), testado empiricamente com dados de opções intradiários, sugere que há um grau de previsibilidade superior quando a liquidez da opção é relativamente maior em relação à da ação, existindo mais negociações baseadas em informações no mercado de opções, nesse caso. Assim, os desvios da put-call parity seriam assimétricos em direção às negociações baseadas em informações privilegiadas. Neste contexto, o desenvolvimento desse trabalho relaciona-se à literatura que aborda a questão da descoberta de informações no mercado de opções, objetivando investigar se os preços das opções influenciam os preços das ações, no sentido de antecedê-lo. É possível perceber, diante dos estudos analisados, a inexistência de unanimidade na direção de que as opções contêm importantes infomações sobre o preço futuro das ações. Manaster e Rendleman (1982) estudaram retornos de fechamento de carteiras baseando-se na diferença relativa entre preços de ações e opções da Chicago Board Options Exchange (CBOE), tendo concluído que os preços de fechamento de opções continham informações adicionais às contidas nos preços de fechamento de ações. Contudo, como no 4 IPO é um termo em inglês que significa oferta inicial de ações, mecanismo através do qual é aberto o capital de uma empresa, que passa a ser listada na Bolsa de Valores. 18 período da realização do estudo a CBOE tinha seu fechamento 10 minutos após o mercado de ações, a utilização de dados de fechamento comprometeu o estudo realizado. No entanto, os resultados de Bhattacharya (1987), que utilizou dados intradiários de negociações, vão ao encontro das conclusões dos dois autores citados anteriormente, detectando que o mercado de opções influencia o mercado de ações. O trabalho desse autor busca identificar oportunidades de arbitragem através da comparação de preços implícitos de compra e de venda de ações, que foram calculados a partir de preços de calls, com os reais preços de compra e de venda das ações. O preço da ação estaria superestimado sendo encontrado um valor implícito menor do que a real oferta em mercado daquele ativo. No entanto, os resultados de uma simulação indicaram não haver reais oportunidades de arbitragem ao utilizar uma estratégia baseada nisso, já que os ganhos não seriam superiores aos custos de transação necessários para a sua implementação. Por outro lado, tanto os trabalhos dos autores Stephan e Whaley (1990), quanto o desenvolvido por Chan, Chung e Johnson (1993), ambos os estudos utilizando dados intradiários, não encontram evidências de liderança do mercado de opções sobre o mercado a vista. Enquanto os primeiros defendem ser o mercado de ações que influencia o mercado de opções (como deveria ser o esperado em se tratando de derivativos), tendo encontrado uma diferença entre eles de 15 a 20 minutos durante o primeiro trimestre de 1986, os últimos, baseados nesses resultados, chegaram à conclusão que não há trocas de influência entre os dois mercados, que por sua vez reagiriam simultaneamente ao surgirem novas informações. Em 2004, Chakravarty, Gulen e Mayhew, com dados intradiários entre 1988 e 1992 e analisando apenas opções de compra, identificaram, através do método de Hasbrouck (1995), como sendo cerca de 17% a contribuição fornecida pelo mercado desse tipo de opção para a descoberta de preço no mercado de ações. Mais recentemente, Cremers e Weinbaum (2010), utilizando no estudo um banco de dados correspondente ao período de 1996 a 2005, basearam-se nas diferenças entre as volatilidades implícitas entre opções de compra e opções de venda e identificaram fortes evidências de previsibilidade do retorno de ações pelo mercado de opções norte-americano, apresentando indícios de que os preços das opções podem influenciar o preço das ações subjacentes não apenas por minutos, mas por dias. Além disso, os autores evidenciaram um grau de previsibilidade decrescente com a passagem do tempo, sendo superior quando a liquidez da opção é alta e a da sua ação-objeto é baixa. Sendo o inverso, atestam que a capacidade de o mercado de opções prever preços futuros de ações é 19 baixa. Não possuindo um banco com dados intradiários e com o objetivo contornar a questão de assincronismo no fechamento dos dois mercados, para o cálculo do spread de volatilidade os autores utilizaram os dados de fechamento das opções, mas a acumulação dos retornos acontece apenas com a primeira negociação do dia seguinte, quando da abertura do mercado de ações. A abordagem utilizada neste trabalho, que objetiva investigar, no mercado brasileiro, essas questões relatadas, baseou-se na metodologia aplicada por esses autores, considerando-se o spread de volatilidades implícitas como meio de identificar pressões de preço no mercado de opções. Conforme se pode verificar ao longo da revisão de literatura apresentada, um banco de dados com preços de fechamento, em alguns estudos, foi alvo de várias críticas, devido à possibilidade de essa característica, graças ao assincronismo dos horários de funcionamento entre os mercados de ações e opções, ser responsável por erros na identificação de desvios na relação da put-call parity. Em recente trabalho, Muravyev, Pearson e Broussard (2011), com um banco de dados superior a três anos de registros de cada negociação referente a 36 ações líquidas do mercado norte-americano e três exchange-traded funds (ETFs), com suas opções correspondentes, utilizou a put-call parity para o cálculo de preços implícitos de ações, comparando-os com os preços realmente negociados no mercado a vista. Com o intuito de que o mercado absorvesse as novas informações acumuladas desde o fechamento, foram desconsiderados da amostra os dados correspondentes aos primeiros cinco minutos de cada dia de negociação, sendo assim contornado o problema do assincronismo entre os dois mercados. Comparando eventos onde havia e não havia discordância nesses mercados em relação aos preços das ações, os autores evidenciaram um movimento dos preços das ações praticamente idêntico nos dois casos, sugerindo que o mercado de opções não contém qualquer informação ainda não presente no mercado de ações. Assim, os preços das opções não teriam influência no processo descoberta de preços de suas ações subjacentes. Em acréscimo, Muravyev, Pearson e Broussard (2011) citam o anteriormente apresentado trabalho de Chakravarty, Gulen e Mayhew (2004) e comentam que esse e a maioria de outros estudos que investigam a influência entre os mercados de ações e opções partem do pressuposto de que a dinâmica de preços de tais mercados encaixa-se bem em determinado modelo econométrico, o que pode levar a falsas indicações de influência, caso o modelo seja inadequado. 20 2.2 ESTUDOS NACIONAIS No Brasil, apesar de ter sido possível encontrar alguns estudos que procuram investigar a influência do mercado de opções sobre o mercado a vista, a maioria deles investiga os efeitos causados pelo dia do vencimento ou os impactos sobre a volatilidade das ações-objeto. Foi identificado pela autora apenas um trabalho nacional que investigou a existência de informação direcional entre os dois mercados em questão, estudando-se a relação temporal de absorção de novas informações entre os mesmos. Em acréscimo, não foi encontrado nenhum estudo sobre uma possível previsibilidade do mercado de opções cuja metodologia abrangesse violações na put-call parity, por sua vez bastante utilizada em pesquisas semelhantes encontradas fora do país e correspondente à abordagem deste trabalho. Baseando-se na teoria da eficiência de mercado, não deveria ser esperado que decisões relacionadas ao exercício das opções impactassem o mercado a vista de ações, visto que somente a chegada de novas informações deveria provocar a alteração dos seus preços. No entanto, o efeito dia do vencimento relaciona-se à influência do vencimento das opções sobre o volume das negociações e preços das suas ações-objeto. Apesar de alguns trabalhos realizados no Brasil não terem identificado nenhuma evidência de influências das datas de vencimento sobre negociações do mercado a vista de ações (Brito e Sosin, 1984; Sanvicente e Kerr, 1989; Sanvicente, 1996; Körbes e Costa Jr.,1999), resultados contraditórios começaram a aparecer, principalmente devido à possibilidade de utilização de dados intradiários. Neste sentido, o trabalho mais conhecido nacionalmente é o desenvolvido por Sanvicente e Monteiro (2005), no qual, através de um sistema de equações simultâneas da oferta e da demanda das ações da Telemar PN, onde eram relacionados os preços e as quantidades negociadas, foi possível constatar evidências significativas da existência de manipulação dos preços das ações da empresa no dia do vencimento das opções de compra desse ativo. No que se refere à precificação das opções, para o seu cálculo é necessário se considerar uma volatilidade futura das ações-objeto. Portanto, sendo o modelo econométrico usado adequado e o mercado de opções eficiente, as volatilidades implícitas seriam bons indicadores das volatilidades futuras, já que os preços das opções já refletiriam todas as informações importantes. Nesse sentido, os estudos pesquisados indicam que a volatilidade implícita contém informação relevante para a volatilidade futura, sendo assim um bom 21 estimador, apesar de alguns deles terem identificado nela um viés (Andrade e Tabak, 2001; Gabe e Portugal, 2003; Mello 2009). Agora com o intuito de verificar a presença de quaisquer assimetrias de informação entre o mercado de opções e mercado a vista, no trabalho realizado em 1996 por Sanvicente é utilizada a quantidade agregada de negociações diárias realizadas por esses dois mercados de maneira simultânea. A aplicação do teste de Granger (1969) indicou a existência de assimetria de informação no mercado, resultando em evidências de uma antecipação do fluxo de informações no mercado de opções de no mínimo dois dias. Nesse contexto de investigação da interação entre os mercados de opções e a vista no Brasil, o presente trabalho estuda se o mercado de opções brasileiro, a partir de violações na put-call parity, contém informações sobre retornos futuros das ações subjacentes, sendo utilizada a diferença de volatilidade implícita entre pares de opções de compra e opções de venda para medir tais desvios. Em acréscimo, busca-se entender o papel da liquidez das opções, investigando a sua influência no grau de previsibilidade, além de estudar se houve mudanças na previsibilidade com passar do tempo. Na próxima sessão, para uma melhor compreensão do contexto do trabalho aqui desenvolvido, serão brevemente apresentadas, seguidas pelo banco de dados amostral, características relevantes, para esse estudo, dos mercados de opções e a vista brasileiros. 22 3 CARACTERÍSTICAS DO MERCADO DE OPÇÕES E DO MERCADO A VISTA NO BRASIL E BANCO DE DADOS AMOSTRAL 3.1 CARACTERÍSTICAS DO MERCADO DE OPÇÕES E DO MERCADO A VISTA NO BRASIL Constituída em 2008, a BM&F BOVESPA, resultado da integração das operações da Bolsa de Valores de São Paulo e da Bolsa de Mercadorias & Futuros, é a única bolsa de valores, mercadorias e futuros em operação no Brasil. A Bolsa brasileira vem apresentado alto crescimento ao longo dos anos e desfrutando de maior reconhecimento internacional, alavancado através de conquistas de grau de investimento, espécie de selo de qualidade que indica a confiabilidade do país para investidores internacionais, sendo fornecido pelas agências de classificação de risco. 5 Ressalta-se que o Brasil, em plena crise de 2008/2009, alcançou três graus de investimento (Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch). A negociação de opções de compra de ações tiveram início em agosto de 1979 e dezembro de 1982, nas bolsas de São Paulo e do Rio de Janeiro, respectivamente.6 A bolsa de Valores do Rio de Janeiro foi a primeira bolsa fundada no Brasil, com início formal de suas operações em 1845, no entanto, acordos de integração, a partir de 2000, transferiram a negociação de ações no País para a Bolsa de Valores de São Paulo. 7 Desde as primeiras transações na bolsa, o volume de opções negociado tem crescido de maneira significativa. Segundo levantamento feito em janeiro de 2011 pelo Instituto Assaf, entre 2001 e 2010 pode ser verificado um alto crescimento nos mercados a vista e de opções da BOVESPA, tendo o primeiro crescido em volume movimentado em torno de 1.000% e o último alcançado um crescimento nesse volume superior a 800% no mesmo período.8 De acordo com Cavalcanti (2010), no mercado de opções brasileiro, as opções de compra possuem maior volume de negociação, inexistindo liquidez nas opções de venda, diferentemente do que ocorre no mais desenvolvido mercado de opções norte-americano (Cunha e Costa Jr., 2006). 5 Disponível em: <http://web.infomoney.com.br/templates/news/view.asp?codigo=2077598&path=/suasfinancas/>. Acesso em: 17 abr. 2011 6 Disponível em: < www.rausp.usp.br/download.asp?file=2401023.pdf>. Acesso em: 16 set. 2012. 7 Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/intros/intro-sobre-a-bolsa.aspx?idioma=pt-br>. Acesso em:16 set. 2012. 8 Disponível em: <http://www.institutoassaf.com.br/downloads/ANALISE_28_JANEIRO_2011.pdf>. Acesso em: 17 abr. 2011 23 No Brasil, de acordo com a BM&F BOVESPA, os horários regulares de funcionamento dos dois mercados aqui tratados são semelhantes, sendo a negociação autorizada a partir das 10:00h, até às 17:00h. 9 No entanto, apenas para as operações no mercado a vista são permitidas transações entre 17:45h e 19:00h, período denominado aftermarket. Vale ressaltar que a variação de preço do dia seguinte do mercado de ações é calculada tendo como base o fechamento do pregão regular, não o fechamento do aftermarket. Essa característica do mercado brasileiro anula aqui a possibilidade de ser apontado o assincronismo entre os mercados como um dos responsáveis pela eventual liderança do mercado de opções sobre o mercado de ações, como o fizeram alguns estudiosos estrangeiros ao questionarem os resultados de trabalhos realizados no mercado norte-americano, onde o mercado de opções fecha às 16:02h, enquanto o mercado de ações tem seu encerramento diário dois minutos antes. Por fim, outro ponto que merece atenção é a existência, no Brasil, de uma proteção nas opções. Sendo do tipo Protegidas, as opções negociadas no mercado brasileiro ajustam o preço de exercício de forma automática se a ação-objeto estiver sendo negociada sem os direitos de seus proventos. Portanto, de acordo com a BM&F BOVESPA, caso o ativo subjacente distribua dividendos, juros sobre o capital próprio ou quaisquer outros proventos em dinheiro, o valor líquido recebido é deduzido do preço de exercício da série, o que ocorre a partir do primeiro dia de negociação ex-direito. 10 Devido a essa característica, apesar de as opções de compra brasileiras serem atualmente do tipo americana, podendo assim ser exercidas a qualquer momento até o vencimento, a put-call parity pode ser aplicada sem necessidade de ajuste relativo aos proventos. No capítulo a seguir, apresentam-se os dados que serviram de base para a realização dos testes desenvolvidos nesse trabalho. 3.2 BANCO DE DADOS AMOSTRAL O banco de dados aqui trabalhado, que abrange dados do período de 1986 a 2007 e terá cada amostra utilizada detalhada de maneira individual no capítulo seguinte, à medida 9 Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/regulacao/horarios-de-negociacao/acoes.aspx?idioma=pt-br>. Acesso em: 15 julh. 2012. 10 Disponível em: <www.bmfbovespa.com.br/Pdf/opcoes.pdf>. Acesso em: 02 set. 2011. 24 que são apresentados os testes realizados, foi em sua maioria disponibilizado por Gustavo Santana e pode ser adquirido via Internet, através do site da BM&F BOVESPA. 11 A base de dados abrange dados de fechamento das negociações de calls e puts cujos preço de exercício, ativo subjacente e data de vencimento sejam iguais, além de conter dados de fechamento de seus ativos-objeto. Em acréscimo a esses valores de fechamento de mercado, para o cálculo das volatilidades implícitas de Black & Scholes das opções de compra e de venda, foram coletados os seguintes dados: a quantidade de dias úteis entre o dia da compra e o dia de vencimento da opção, o preço de exercício da opção e a taxa de juros anualizada. A quantidade de dias úteis foi obtida retirando-se do cálculo todos os feriados nacionais, enquanto a taxa de juros aqui utilizada, que por sua vez corresponde à CDI Over, foi coletada através do provedor de informações financeiras Bloomberg e, em seguida, anualizada. Entretanto, como a taxa CDI Over, que deve a sua opção pela coincidência com o período aqui estudado, tem seu início em 06/03/1986, foram descartados da amostra os dois primeiros meses do ano de 1986. Em adição, para a análise da relação entre a liquidez das opções e o suposto grau de previsibilidade do mercado de opções sobre o mercado a vista, além do impacto da passagem do tempo nesse poder de previsão eventualmente identificado, foram também considerados dados referentes ao número de negócios efetuados com aquele papel-mercado no pregão. 11 Santana, Gustado de A. Quesado. O Efeito Dia da Semana observado nas opções e nos direitos de subscrição negociados na BM&FBovespa. Dissertação (Mestrado em Administração) – Instituto Coppead de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010. 25 4 METODOLOGIA E LIMITAÇÕES DO ESTUDO 4.1 METODOLOGIA Para medir as violações na put-call parity foi utilizada a diferença média na volatilidade implícita de Black & Scholes entre pares de calls e puts com mesmos preço de exercício, data de vencimento e ativo subjacente, conforme metodologia empregada por Cremers e Weinbaum (2010). A primeira descrição na literatura moderna da clássica relação put-call parity foi apresentada em 1969, em um artigo desenvolvido por Hans Stoll , e uma de suas implicações consiste na paridade das volatilidades implícitas (VIcall = VIput) para opções europeias, em um mercado perfeito (Hull, 2002) . É por esse motivo que os spreads de volatilidades implícitas de pares de opções (VIcall – VIput) são aqui interpretados como desvios nessa relação de paridade. É importante ressaltar, no entanto, que tais violações não estão sendo consideradas oportunidades de arbitragem, mas pressões de preço no mercado de opções, em linha com o que defendem Cremers e Weinbaum (2010) em seu artigo. A volatilidade implícita, por sua vez, pode ser entendida como o valor que o mercado associa ao ativo-objeto para o parâmetro da sua volatilidade futura, ao calcular o valor da opção (Viana, 1998). Sendo a volatilidade um indicador da probabilidade do preço estar acima ou abaixo do preço de exercício, quanto maior ela for, maior é o risco de o ativo sofrer variações de preço. Como consequência, há um prêmio de risco embutido nas taxas de volatilidade implícita observadas no mercado, sendo mais elevado o valor da opção, portanto, quanto mais alta for essa estimativa para a volatilidade futura do ativo. Para o cálculo das volatilidades implícitas, o método de estimação mais comum utiliza metodologia reversa ao modelo de precificação de opções desenvolvido em 1973 pelos economistas Fisher Black e Myron Scholes. De acordo com Lemgruber (1995), sendo esse modelo válido, sabe-se que existe uma única volatilidade implícita capaz de solucionar a fórmula de Black & Scholes. Assim, o valor da volatilidade implícita é calculado resolvendo, em termos da volatilidade, a igualdade entre o preço de mercado da opção e a equação BlackScholes (1973), que permite o cálculo do preço justo das opções e considera, entre outras hipóteses, a utilização de opções europeias e a não distribuição de dividendos. 26 A restrição de não se poder utilizar uma opção capaz de ser exercida antes da data de vencimento se explica pelo fato de que esse direito deveria acrescentar algum valor ao preço da opção, assim uma opção americana teria o seu valor subavaliado na fórmula, já que a consideraria como uma opção europeia. Portanto, ao existirem opções americanas nas amostras investigadas ou a possibilidade de haver pagamento de dividendos, aspecto igualmente não abordado na fórmula, o emprego desse tipo de metodologia usualmente requer o ajuste das volatilidades implícitas utilizadas em relação a essas duas características, conforme procedimento realizado no estudo de Cremers e Weinbaum (2010). Contudo, no caso das opções brasileiras, ambos os problemas são contornados devido à existência da correção no preço de exercício do derivativo para compensação do pagamento de dividendos durante a vida da opção, cujo ajuste é feito automaticamente pela BM&F BOVESPA (Sanvicente, 2003). Dentro desse contexto e conforme defendem Easley, O’Hara e Srinivas (1998) em seu modelo, ao surgirem novas informações sobre a empresa, investidores de opções mais bem informados dão preferência à negociação das opções. É provável que essa prioridade de escolha ocorra, principalmente, devido à significativa alavancagem, possibilidade de maior retorno sobre o capital sem aumentar o montante investido, proporcionada pelo investimento em opções, em linha com a BM&F BOVESPA12. Portanto, o preço das opções de compra aumenta, assim como a sua volatilidade implícita, ao surgir novas informações positivas. O oposto é esperado nas opções de venda. Como consequência, o spread de volatilidade também apresenta trajetória de alta, já que aqui ele representa a diferença entre as opções de compra e de venda pertencentes ao mesmo par de opções válido. A seguir, um exemplo desenvolvido pela autora (Tabela 1), a partir do modelo de precificação de opções de Black & Scholes, ilustra essa situação. Tabela1: Impacto do surgimento de uma informação positiva sobre o ativo subjacente no spread de volatilidade do par de opções correspondente. Dias úteis Ativo Preço de exercício Retorno de dividendos Taxa de juros Call Put 37 R$ 1.049,00 R$ 1.000,00 0% 45,27% R$ 300,00 R$ 150,00 163,60% 130,59% 33,10% 37 R$ 1.049,00 R$ 1.000,00 0% 45,27% R$ 305,00 R$ 149,00 167,19% 129,90% 37,29% 12 Volatilidade Volatilidade Spread da da de Call Put Volatilidade Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/educacional/cursos/curso-basico/cur_opcoes9.htm>. Acesso em: 25 junh. 2012 27 As variáveis utilizadas para o cálculo da volatilidade implícita de Black & Scholes das opções de compra e de venda, conforme expostas na Tabela 1, foram as que seguem: a quantidade de dias úteis entre o dia da compra e o dia de vencimento da opção, o preço de fechamento do ativo subjacente, o preço de exercício da opção, o retorno percentual anualizado de dividendos em relação ao preço do ativo subjacente, também conhecido como dividend yield, a taxa de juros anualizada e o suposto valor de fechamento de mercado da call ou da put. Obtendo-se os resultados das volatilidades implícitas da opção de compra e da opção de venda, foram então calculados os spreads de volatilidade apresentados na tabela anterior, reduzindo-se da volatilidade da call, a volatilidade da put. Os cálculos para a obtenção das volatilidades implícitas foram realizados através do aplicativo Visual Basic do Microsoft Excel. A quantidade de dias úteis foi obtida retirando-se do cálculo todos os feriados nacionais. Ressalta-se, por sua vez, a nulidade do percentual de dividendos anualizado, considerado assim graças à prática brasileira de proteção das opções na forma de ajuste pelo preço de exercício, da mesma forma proposta por Black e Scholes (1973). No que se refere à taxa de juros, também utilizada nos cálculos para a volatilidade implícita, optou-se pela CDI Over anualizada. Assim, ao se observar a tabela anterior (Tabela 1), é possível perceber que, de fato, ao aumentar o valor de mercado da call em relação ao valor de mercado da put, mantendo-se todas as outras variáveis intactas, situação essa que pode ocorrer a partir da absorção de novas informações positivas sobre a empresa em questão, também cresce a volatilidade implícita da call em relação à da put e, como consequência, tem-se elevado o spread de volatilidade entre essas duas opções. Portanto, um aumento no spread de volatilidade poderia indicar um aumento subsequente no preço do ativo subjacente, devido à possibilidade de uma absorção de informação positiva, pelo mercado de opções, ainda não incorporada nos preços do mercado de ações. Diante do exposto, na busca de alcançar os objetivos desse trabalho, os ativos-objeto são classificados tendo como base os spreads de volatilidade. Com esse propósito, para uma mesma data e mesmo ativo-objeto, são calculadas as diferenças de volatilidade implícita de Black & Scholes dos pares de calls e puts válidos e tirada a média ponderada pelo número de negócios efetuados com aquele papel-mercado no pregão. Considera-se importante frisar que 28 não são necessários ajustes, por serem as opções brasileiras protegidas. O resultado obtido desse cálculo é o spread de volatilidade daquele ativo, naquela data específica. A seguir, temse a fórmula (4.1), utilizada para o cálculo dos spreads de volatilidade: ∑ ) (4.1) onde, para cada cada ativo (i) e para cada data de pregão (t): SV é o spread de volatilidade, é a volatilidade implícita de Black-Scholes(1973) da opção de compra, é a volatilidade implícita de Black-Scholes(1973) da opção de venda, N é o número de pares de opções válidos, w é o número de negócios efetuados com aquele papel-mercado no pregão. Após a obtenção dos spreads de volatilidade a partir da fórmula (4.1), são realizados cálculos abordando estatística descritiva, no intuito de aumentar a compreensão sobre a amostra obtida. Assim, são apresentadas tabelas referentes aos spreads de volatilidade, contendo média, desvio padrão e autocorrelação entre eles. Os tópicos que seguem detalham as etapas seguintes realizadas no desenvolvimento desse estudo. No intuito de fornecer uma visão mais ampla da amostra aqui trabalhada, é apresentada, nesse momento, uma estatística descritiva dos spreads de volatilidade calculados, abrangendo média, desvio padrão e autocorrelação entre eles. Além de serem realizados abrangendo o período total, de 1986 a 2007, todos os testes também foram aplicados dividindo-se a amostra em dois períodos de igual proporção: de 1986 a 1996 e de 1997 a 2007. Através dessa divisão, procurou-se estudar o impacto da passagem do tempo no grau de previsibilidade e no poder de previsão, supostamente identificados, em linha com os objetivos secundários desse trabalho. Dessa forma, considerando-se apenas as quartas-feiras, na amostra total foram encontrados 3281 dados, distribuídos entre 197 ativos distintos, com pares de call e put válidos. Dentre esses, estão presentes apenas 574 dados até o ano de 1996, referentes a 83 ativos diferentes. Na amostra considerada, todos os spreads de volatilidade ficaram restritos entre -300% e 300%, com o objetivo de eliminar valores extremos. Cada um desses ativos 29 apresentou entre 1 e 816 pares de opções válidos. A seguir, a Tabela 2 apresenta os resultados encontrados. Tabela 2: Estatística descritiva dos spreads de volatilidade entre -300% e 300%, encontrados de 1986 a 2007. Amostra Total 1986 - 2007 1986 - 1996 1997 - 2007 Média -0,05 -0,03 -0,05 Desvio Padrão 0,45 0,69 0,38 Autocorrelação 0,23 0,42 0,10 Objetivando uma melhor compreensão da amostra aqui trabalhada, foi também realizada a estatística descritiva dos spreads de volatilidade por ativos, atribuindo-se, dessa forma, o mesmo peso para cada ativo nos cálculos finais. Para tanto, primeiramente calculouse média, desvio-padrão e autocorrelação dos spreads de volatilidade de cada um dos 197 ativos distintos encontrados entre 1986 e 2007. A partir da análise dos resultados obtidos, decidiu-se eliminar da amostra os ativos que continham menos de cinco pares de opções válidos, já que dessa forma a autocorrelação dos seus spreads de volatilidade tendeu a 100%, divergindo de maneira significativa dos valores do restante da amostra. Dessa maneira, dos 197 ativos iniciais, permanecem na amostra considerada apenas 95 ativos com pares de call e put válidos, entre 1986 e 2007, número correspondente também à quantidade de dados utilizada para os cálculos. Dentre esses, apenas 19 ativos encontram-se até o ano de 1996. Por fim, são calculadas as médias dos resultados obtidos de cada ativo. Na tabela a seguir (Tabela 3), são apresentadas as médias aritméticas das médias, dos desvios padrão e da autocorrelação dos spreads de volatilidade dos ativos em questão. Tabela 3: Estatística descritiva dos spreads de volatilidade entre -300% e 300%, encontrados de 1986 a 2007, a partir das médias aritméticas dos resultados encontrados em cada ativo. Média por Ativo 1986 - 2007 1986 - 1996 1997 - 2007 Média -0,05 -0,03 -0,06 Desvio Padrão 0,39 0,46 0,36 Autocorrelação 0,05 0,19 0,00 É possível observar, em ambas as tabelas acima (Tabela 2 e Tabela 3), resultados negativos para os spreads de volatilidade, cabendo aqui, portanto, uma breve explicação sobre 30 o que significam. Ao analisar a fórmula do cálculo dos spreads de volatilidade (Fórmula 4.1), percebe-se que spreads de volatilidade negativos significam que a volatilidade implícita da put excede a volatilidade implícita da call naquele período analisado. Assim, maiores volatilidades implícitas das puts relativas às das calls indicam que as primeiras encontram-se supervalorizadas em relação às últimas. Por sua vez, maiores volatilidades implícitas de calls em relação às volatilidades implícitas das puts, indicam que as calls estao superfaturadas em relação às puts. Isso se deve ao fato de que as volatilidades implícitas nos preços das calls e puts de mesmos ativo-objeto e data de vencimento, em condições de um mercado perfeito, devem ser iguais, pois medem a volatilidade do ativo subjacente. Portanto, os resultados negativos das médias dos spreads de volatilidade sugerem uma supervalorização das puts em relação às calls em todos os períodos analisados. Segue gráfico ilustrativo (Gráfico 1) dos valores dos spreads de volatilidade encontrados na amostra. Gráfico 1: Valores dos spreads de volatilidade entre -300% e 300% e com mais de quatro pares de opções válidos, de 1986 a 2007. O Gráfico 1, que considera em sua amostra apenas os ativos contendo acima de quatro pares válidos, é formado a partir de 3.129 dados de spreads de volatilidade, divididos entre 95 ativos, que correspondem a 88 empresas distintas. Até o ano de 1996, foram encontrados apenas 496 dados, reflexo do maior volume de negociações de opções existente entre 1997 e 2007, o que explica a mais elevada presença de pares válidos para a amostra nesse período. Observa-se, no Gráfico 1, que há uma tendência de os valores absolutos dos spreads de volatilidade reduzirem-se ao longo do tempo. Analisando-se a fórmula de cálculo dos spreads (Fórmula 4.1), esse fato ilustra que a diferença entre as volatilidades implícitas das opções de compra e das opções de venda, ambas medidas da volatilidade do ativo subjacente, tem 31 diminuído, demonstrando uma esperada mais elevada eficiência de mercado, com o seu maior desenvolvimento ao passar do tempo. Após a média, é apresentado, nas Tabelas 2 e 3, o desvio padrão, que, por sua vez, corresponde a uma medida numérica da dispersão dos spreads de volatilidade em torno da média desses spreads. Dessa forma, um desvio padrão menor indica mais alta concentração dos spreads de volatilidade em torno da média, assim como um maior desvio padrão significa menor concentração dos spreads em torno da média. Conforme se percebe com a análise dos resultados, há na amostra aqui estudada uma tendência de redução da dispersão em torno da média dos spreads de volatilidade à medida que o tempo passa. Outro ponto que merece atenção, a partir da observação dos resultados ilustrados nas Tabelas 2 e 3, é a significativa redução da autocorrelação entre os spreads de volatilidade com o passar do tempo. Além disso, notam-se menores valores das autocorrelações na Tabela 3, se comparados com os da Tabela 2, em todos os períodos analisados. Foram identificados dois fatores que podem explicar esses resultados apresentados. O primeiro refere-se ao maior desenvolvimento observado no mercado de opções, pois esse crescimento faz com que, à medida que o tempo passa e sobe o volume negociado, os ativos em geral tendam naturalmente a aumentar a sua liquidez. O outro, em complemento, é a observação de que, de acordo com o observado a partir dos resultados individuais da estatística descritiva de cada ativo, a autocorrelação entre os spreads de volatilidade apresenta-se inversamente proporcional à liquidez dos ativos. Assim, como os cálculos das autocorrelações dos spreads de volatilidade do período de 1986 a 2007 abrangem uma menor quantidade de dados de ativos mais líquidos, esperamse nesse período valores mais elevados das autocorrelações, em linha com o que de fato foi encontrado. O mesmo raciocínio é pertinente no que se refere aos menores valores encontrados das autocorrelações dos spreads de volatilidade, quando se analisa os ativos individualmente (Tabela 3), em relação aos resultados ilustrados na Tabela 2. Ao serem retirados da amostra os ativos com menos de cinco pares de opções válidos, isso faz com que ela passe a conter um maior percentual de ativos mais líquidos, comparativamente ao percentual utilizado para os cálculos da Tabela 2. Portanto, com uma maior liquidez, reduz-se a autocorrelação entre os spreads de volatilidade ilustrados na Tabela 3, conforme o esperado. 32 Essa estrutura de autocorrelação é consistente com a situação onde as mudanças nos spreads de volatilidade surgem a partir de pressões sobre os preços na compra ou venda de opções, conforme considerado nesse estudo. Uma maior influência desse cenário ajuda a explicar a autocorrelação mais elevada no primeiro período, de 1986 a 1996. Quando as modificações nos spreads surgem a partir de uma transação sincronizada entre o mercado de opções e o mercado de ações subjacente, espera-se uma autocorrelação mais próxima a zero, portanto uma distribuição aleatória dos spreads de volatilidade, tendência que podemos observar no período de 1997 a 2007 de ambas as tabelas (Tabelas 2 e 3). A seguir, é apresentada a metodologia utilizada nesse trabalho para a formação dos portfólios e para a avaliação do desempenho das carteiras aqui consideradas. O teste de significância estatística aqui utilizado é o p-valor, com nível de significância estabelecido em 5%. 4.1.1 Carteira nas quartas-feiras e retornos semanais Utilizando como base os níveis dos spreads de volatilidade calculados, as ações são classificadas em apenas dois grupos, devido à reduzida quantidade de pares válidos por pregão analisado, uma das decorrências diretas do já mencionado menor volume de negócios das puts em relação às calls. Assim, a cada pregão, os ativos com menores spreads de volatilidade são agrupados em uma carteira, permanecendo, portanto, os ativos com spreads mais altos em outra carteira. A cada dia, apenas ações com ao menos um par de opções válido são incluídas na análise, assim, o tamanho da amostra apresenta flutuações. Para o cálculo do spread de volatilidade de cada carteira, é calculada a média aritmética entre os spreads de volatilidade dos ativos que formam aquela carteira. Ao ser identificado um número ímpar de ativos em determinado dia, o correspondente à posição intermediária é agrupado na carteira cujo resultado da média aritmética dos spreads de volatilidade dos seus componentes fosse o mais próximo do valor do spread de volatilidade daquele ativo sobressalente. Essa formação de duas carteiras por pregão, uma com os maiores e a outra com os menores spreads de volatilidade, é repetida até o fim do período analisado. Para a avaliação do desempenho das carteiras, inicialmente, em linha com os testes realizados por Cremers e Weinbaum (2010), são consideradas as carteiras formadas apenas a cada quarta-feira. Em seguida, cada carteira tem seus retornos subsequentes calculados em 33 horizontes de tempo semanais, de 1 a 4 semanas. A decisão aqui pela quarta-feira dá-se por ser este o dia da semana onde é identificada a maior quantidade de dados válidos para o desenvolvimento dessa pesquisa. Como as ações são separadas em duas carteiras em toda quarta-feira onde são encontrados pares de opções válidos e então medidos os retornos ao longo das próximas quatro semanas, as observações por vezes se sobrepõem. O retorno de cada carteira é medido, nas quatro semanas subsequentes, como o valor médio aritmético dos retornos dos ativos que a compunham, a partir da quarta-feira anterior até a terça-feira corrente, portanto, com lag de um dia. Essa defasagem de um dia significa que, se o spread de volatilidade encontra-se elevado hoje, a possibilidade de previsão do investidor hoje seria relacionada à semana que se inicia já nesse dia. São retiradas da amostra as carteiras onde não são identificados retornos nas quatro semanas subsequentes, permanecendo na amostra final 222 carteiras, distribuídas em 111 quartas-feiras. Para esse estudo que abrange carteiras apenas nas quartas-feiras e retornos semanais, são realizados três testes, que vão ao encontro dos objetivos desse trabalho. O primeiro teste envolve, portanto, a relação entre os desvios na paridade entre as opções de compra e de venda e o retorno futuro de ações, já o segundo engloba o impacto da passagem do tempo no poder de previsão, sendo a relação entre a liquidez das opções e o poder de previsão abrangida, por fim, abordado no terceiro teste realizado. As metodologias utilizadas para a realização desses testes podem ser observadas nos tópicos que seguem. 4.1.1.1 Desvios na paridade entre as opções de compra e de venda e retorno futuro de ações Com o objetivo de verificar se desvios na put-call parity contêm informações sobre os retornos futuros das ações subjacentes e, em caso positivo, analisar até quando é possível observar essa relação direta entre o nível do spread de volatilidade e as rentabilidades subsequentes do ativo-objeto, são comparadas as médias dos retornos obtidos das carteiras de menor e maior spread de volatilidade em cada uma das quatro semanas. Para isso, agrupam-se as 111 carteiras de menor spread em uma carteira (denominada “Carteira SV menor”) e as 111 de maior spread em outra carteira (denominada “Carteira SV maior”), tirando-se a média aritmética dos spreads e retornos das carteiras que as compõem. Em seguida, a cada semana, é verificado se o maior retorno corresponde ou não à carteira que apresenta o maior spread de volatilidade. Em paralelo, é calculado o p-valor das 34 duas carteiras semanalmente, com nível de significância estabelecido em 5%, estatística utilizada com o fim de analisar a significância das diferenças de rentabilidade obtidas entre elas. 4.1.1.2 Passagem do tempo e poder de previsão No intuito de analisar a existência de influência do passar dos anos no possível poder de previsão identificado, divide-se a amostra em dois períodos de igual duração. Dessa maneira, após os cálculos, é possível comparar os resultados das carteiras correspondentes aos anos entre 1986 e 1996 (42 carteiras) com os das carteiras situadas entre 1997 e 2007 (180 carteiras). 4.1.1.3 Liquidez das opções e poder de previsão Em busca de estudar o papel da liquidez no eventual grau de previsibilidade encontrado, são refeitas as carteiras nas quartas-feiras com retornos identificados nas quatro semanas seguintes, considerando-se apenas as opções cuja média aritmética dos negócios realizados no pregão seja superior a cinco. Esse valor foi escolhido após testes realizados com números inferiores não apresentarem resultados significativamente distintos dos feitos sem essa restrição de quantidade negociada. A partir dessa restrição, são encontradas apenas dez carteiras entre 1986 e 2007, divididas entre cinco datas, dentre elas quatro em 1986 e somente uma em 2006. 4.1.2 Carteiras e retornos diários Para o estudo com carteiras e retornos diários, são utilizadas duas estratégias distintas de investigação, ambas baseadas no spread de volatilidade. Na primeira estratégia, que trabalha a partir do nível dos spreads de volatilidade e é apresentada no tópico 4.1.2.1, são formadas carteiras diárias e analisados os retornos identificados nos cinco dias subsequentes, ao invés considerar apenas as carteiras das quartas-feiras e retornos semanais, conforme feito anteriormente. A segunda estratégia, por sua vez, utiliza como referência as variações diárias apresentadas nos spreads de volatilidade e será detalhada no tópico 4.1.2.2 , nesse capítulo. 35 4.1.2.1 Formação dos portfólios a partir dos níveis dos spreads de volatilidade Nessa análise, os cálculos dos spreads de volatilidade e dos retornos diários dos ativos, assim como a divisão em duas carteiras de acordo com os valores dos spreads, são realizados utilizando-se os mesmos critérios dos testes anteriores. Dentro desse contexto, identificou-se 1134 carteiras, distribuídas em 567 dias. Dessas, apenas 190 encontram-se entre os anos de 1986 e 1996. No tópico que segue, é detalhado o estudo dessa interação entre os dois mercados aqui abordados utilizando agora como base as variações diárias apresentadas pelos spreads de volatilidade calculados. 4.1.2.1.1 desvios na paridade entre as opções de compra e de venda e retorno futuro de ações De modo análogo ao que foi feito nos testes semanais, as 567 carteiras de menor spread são agrupadas em uma carteira (denominada “Carteira SV menor”) e as 567 de maior spread em outra carteira (denominada “Carteira SV maior”). Em seguida, calcula-se a média aritmética dos spreads e dos retornos das carteiras de cada grupo. A cada semana, é verificado se o maior retorno de fato corresponde à carteira que apresenta o maior spread de volatilidade. Diariamente, calcula-se também o p-valor com nível de significância de 5%, das duas carteiras. 4.1.2.1.2 passagem do tempo e poder de previsão Após a divisão da amostra em dois períodos de igual duração, de 1986 a 1996 e de 1997 a 2007, é possível comparar os resultados das carteiras situadas nos diferentes anos e assim analisar os efeitos da passagem do tempo no poder de previsão supostamente identificado. No primeiro período analisado, foram encontradas 190 carteiras, portanto do período de 1997 a 2007 participam aqui 944 carteiras. 4.1.2.1.3 liquidez das opções e poder de previsão Para investigar a influência da liquidez nesse eventual grau de previsibilidade, são consideradas para a formação das carteiras diárias, com retornos nos cinco dias seguintes, apenas as opções cuja média aritmética da quantidade de negócios realizados no pregão seja superior a cinco. Esse número foi escolhido, mais uma vez, após testes realizados com valores 36 inferiores não apresentarem resultados significativamente distintos dos feitos sem essa restrição de quantidade negociada. Dessa maneira, foram identificadas 56 carteiras, entre 1986 e 2007, divididas entre 28 datas, dentre elas doze em 1986 e dezesseis entre 2000 e 2007. 4.1.2.2 Formação dos portfólios a partir das variações nos spreads de volatilidade Essa estratégia de análise tem o propósito de avaliar se as variações apresentadas nos spreads de volatilidade contêm informações sobre o retorno futuro das ações subjacentes. Em acréscimo, é estudado se a passagem dos anos e o aumento da liquidez trazem modificações para esse suposto poder de previsão. Com esse intuito, a partir da mesma amostra inicial utilizada no tópico 5.2.2.1, são considerados apenas os ativos que apresentam pares de opções válidos em, ao menos, dois dias úteis de negociação consecutivos. Dessa forma, são trabalhados 232 dados, divididos entre 24 ativos distintos. Cada mudança diária do spread de volatilidade é então classificada em “Positiva” ou “Negativa”, de acordo com a modificação sofrida no valor do spread de volatilidade. Um dado é considerado da primeira carteira, portanto, quando apresenta um spread de volatilidade maior em relação ao do dia anterior, sendo incluído na última na ocorrência do oposto. Em paralelo, são contabilizados os valores percentuais absolutos correspondentes a cada movimento. Em seguida, são calculadas e comparadas as médias aritméticas de retorno acumuladas em cada um dos cinco primeiros dias subsequentes ao aumento ou redução do spread. O que se busca nesse momento é identificar se há uma relação direta entre o movimento do spread de volatilidade e o retorno da ação subjacente e, em caso positivo, a sua duração. No que se refere ao estudo da existência ou não de mudanças no suposto poder de previsibilidade com a passagem do tempo, a amostra é dividida em dois períodos de tempo de mesma duração, de 1986 a 1996 e de 1997 a 2007, de maneira análoga ao já realizado nos testes anteriores desse trabalho. Assim, são analisados e comparados os resultados obtidos nos dois períodos. Para a análise da influência da liquidez nesse eventual grau de previsibilidade, por sua vez, os testes são refeitos, primeiramente, excluindo-se da amostra anterior as opções cuja 37 média aritmética dos negócios realizados no pregão seja inferior a dois. Em seguida, excluemse da amostra as opções que apresentam essa média inferior a três. Esses valores foram escolhidos devido a uma substancial redução da amostra quando considerada uma liquidez superior. Em acréscimo, o último teste realizado leva em consideração o grau de modificação no spread de volatilidade. O propósito aqui é verificar se o suposto poder preditivo dos desvios na put-call parity, em relação ao desempenho dos ativos-objeto, sofre transformações a partir de mudanças nesse grau. Assim, repetem-se todas as análises descritas acima para uma amostra que passa a abranger somente os pares de opções que apresentam uma modificação em valor absoluto no spread de volatilidade maior do que 50%. A análise de apenas essa restrição deve-se ao reduzido tamanho da amostra disponível. São relacionadas, no tópico seguinte, as principais limitações identificadas no decorrer do desenvolvimento desse trabalho. 4.2 LIMITAÇÕES DO ESTUDO Primeiramente, considera-se importante frisar que as violações na paridade entre as opções de compra e de venda, medidas a partir da diferença entre as suas volatilidades implícitas, não estão aqui representando oportunidades de arbitragem, mas uma forma conveniente de identificar pressões de preço no mercado de opções, em linha com Cremers e Weinbaum (2010). Uma das limitações aqui identificadas deve-se à possibilidade de venda a descoberto no mercado brasileiro, que faz com que esses aparentes desvios na put-call parity possam existir devido a restrições nesse tipo de negociação, não apenas reflexo das negociações de investidores melhor informados, conforme interpretação utilizada nesse trabalho. Retomando Ofek et al. (2004) e Lamont e Thaler (2003), quanto mais facilitada a venda a descoberto, através de taxas mais baratas ou maior liquidez para esse tipo de transação, percebe-se uma redução do spread de volatilidade, confirmando o pressuposto de que quando existe divergência entre bens idênticos, deve haver empecilhos à arbitragem. As opções mais líquidas da BOVESPA, presentes em maior número na base amostral desse trabalho, se enquadram nessas características, porém não foi aqui realizado qualquer estudo de vinculação entre venda a descoberto e spread de volatilidade. 38 Uma segunda limitação encontrada nessa pesquisa deve-se ao tamanho da amostra de pares de opções válidos existente. No mercado brasileiro, as opções de compra são as mais negociadas, sendo a liquidez das opções de venda muito baixa, o que praticamente inviabiliza os negócios. 13 Com isso, pode haver pregões com negociações nas opções de compra, enquanto as opções de venda ficam sem negócios. Nesses casos, também haveria um aumento do spread de volatilidade, a partir de uma informação positiva, ou uma redução do spread, advindo de uma nova informação negativa sobre o ativo-objeto, no entanto, como a medição do spread é realizada entre opções negociadas na mesma data do pregão, esses movimentos não são computados, o que contribui para a redução do tamanho da amostra trabalhada. Dentro desse contexto, é preciso observar que alguns autores defendem que o tamanho da amostra tem grande impacto no resultado do teste de significância, influenciando inversamente no resultado do p-valor. Segundo Hubbard e Lindsay (2008), amostras grandes tendem a resultar em p-valores pequenos, já amostras pequenas tendem a apresentar p-valores mais altos, o que pode induzir a erros na tomada de decisão em relação às diferenças encontradas ou não nas médias dos retornos da pesquisa aqui desenvolvida. Além disso, esses autores, em linha com Schervish (1996), defendem que o p-valor é uma simplificação que exagera a evidência contra a hipótese nula por indicar a diferença em relação a um ponto único de nulidade, contra um contínuo de hipóteses atribuídas ao acaso, excetuando-se o princípio da igualdade. Assim, essas são algumas das razões pelas quais vários autores criticam a utilização do p-valor isoladamente como um critério objetivo e racional de medida da significância estatística. Apesar dos protestos muitos estatísticos, é importante frisar que o p-valor é amplamente utilizado como medida de significância estatística. Outra observação que cabe aqui consiste no pressuposto utilizado nesse trabalho de que os investidores que negociam primeiro no mercado de opções precificam na direção correta, ainda que possam exagerar nessa precificação. Assim, é esperada uma relação direta entre esse mercado e o mercado de ações. Tal pressuposto deve-se a uma outra suposição, à da existência de investidores mais bem informados que primeiro atuam no mercado de opções, possivelmente devido à maior possibilidade de alavancagem, como defendem Easley, O’Hara e Srinivas (1998). Ainda, a hipótese de eficiência do mercado de opções também 13 Disponível em: <http://www.equipetrader.com.br/files/downloads/11/opcoes-e-derivativos.pdf>. Acesso em: 03 set. 2012. 39 encontra-se implícita, no que se refere aos agentes envolvidos utilizarem todas as informações disponíveis em suas negociações e, portanto, os preços as refletirem por completo. 40 5 RESULTADOS São apresentados, nesse capítulo, os resultados dos testes aqui realizados, tendo como referência as mesmas denominações utilizadas nos tópicos do capítulo anterior para a descrição de cada teste. 5.1 CARTEIRA NAS QUARTAS-FEIRAS E RETORNOS SEMANAIS 5.1.1 Desvios na paridade entre as opções de compra e de venda e retorno futuro de ações São apresentados, na Tabela 4 e no Gráfico 2, os resultados encontrados. Tabela 4: Médias aritméticas dos spreads de volatilidade (SV) e dos retornos semanais das carteiras formadas nas quartas-feiras, entre 1986 e 2007, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade, com o cálculo dos respectivos p-valores. 1986 - 2007 SV Retorno semana 1 Retorno semana 2 Retorno semana 3 Retorno semana 4 Carteira SV menor -19,97% -0,70% 0,26% -0,89% -0,73% Carteira SV maior 19,91% -0,56% -0,62% -0,83% -0,72% p-valor 0,00% 40,89% 8,70% 44,86% 49,45% 0,50% 0,00% 1 2 3 4 -0,50% Carteira SV menor Carteira SV maior -1,00% Gráfico 2: Média aritmética dos retornos semanais das carteiras formadas nas quartas-feiras, entre 1986 e 2007, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade (SV). A partir dos resultados apresentados, observa-se que na primeira semana foi possível identificar uma relação direta entre o spread de volatilidade e o retorno do ativo-objeto, já que houve um maior retorno dos ativos na carteira de maior nível de spread de volatilidade. No entanto, o resultado do p-valor maior do que 5% indica que não se pode rejeitar que as rentabilidades encontradas nas duas amostras sejam iguais, portanto essa diferença dos retornos entre as duas carteiras não é significativa. 41 5.1.2 Passagem do tempo e poder de previsão Os resultados são apresentados nas Tabelas 5 e 6 e nos Gráficos 3 e 4, a seguir. Tabela 5: Médias aritméticas dos spreads de volatilidade (SV) e dos retornos semanais das carteiras formadas nas quartas-feiras, entre 1986 e 1996, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade, com o cálculo dos respectivos p-valores. 1986 - 1996 SV Retorno semana 1 Retorno semana 2 Retorno semana 3 Retorno semana 4 Carteira SV menor 2,22% -2,05% -3,30% -2,74% -0,79% Carteira SV maior 49,63% -1,75% -3,42% -4,22% -4,60% p-valor 0,00% 42,94% 47,81% 15,78% 0,84% 0,00% 1 2 3 4 -2,00% Carteira SV menor -4,00% Carteira SV maior -6,00% Gráfico 3: Média aritmética dos retornos semanais das carteiras formadas nas quartas-feiras, entre 1986 e 2007, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade (SV). Tabela 6: Médias aritméticas dos spreads de volatilidade (SV) e dos retornos semanais das carteiras formadas nas quartas-feiras, entre 1997 e 2007, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade, com o cálculo dos respectivos p-valores. 1997 - 2007 SV Retorno semana 1 Retorno semana 2 Retorno semana 3 Retorno semana 4 Carteira SV menor -25,15% -0,39% 1,09% -0,46% -0,71% Carteira SV maior 13,35% -0,30% 0,03% -0,03% 0,19% p-valor 0,00% 43,92% 4,29% 23,87% 16,25% 42 1,50% 1,00% Carteira SV menor 0,50% 0,00% -0,50% 1 2 3 Carteira SV maior 4 -1,00% Gráfico 4: Média aritmética dos retornos semanais das carteiras formadas nas quartas-feiras, entre 1997 e 2007, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade (SV). Conforme se pode observar, dividindo-se a amostra em dois períodos (1986-1996 e 1997-2007), os resultados encontrados são bastante semelhantes. A primeira semana de ambos os períodos apresenta resultados dos retornos dos ativos subjacentes diretamente relacionados com o nível do spread de volatilidade, porém, assim como no primeiro teste, não se pode rejeitar em nenhum dos períodos que os dados que compõem as carteiras sejam iguais, já que o p-valor calculado mostra-se mais uma vez acima de 5%. 5.1.3 Liquidez das opções e poder de previsão As ilustrações abaixo (Tabelas 7, 8 e 9 e Gráficos 5, 6 e 7) apresentam os resultados encontrados. Tabela 7: Médias aritméticas dos spreads de volatilidade (SV) e dos retornos semanais das carteiras formadas nas quartas-feiras, entre 1986 e 2007, restritos a opções com média aritmética dos negócios realizados no pregão superior a cinco, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade, com o cálculo dos respectivos p-valores. 1986 - 2007 SV Retorno semana 1 Retorno semana 2 Retorno semana 3 Retorno semana 4 Carteira SV menor 18,29% -2,68% 1,80% 0,26% -2,63% Carteira SV maior 47,10% -1,59% -7,45% -5,25% -4,58% p-valor 1,82% 33,11% 2,90% 8,79% 19,67% 43 5,00% Carteira SV menor 0,00% 1 2 3 4 Carteira SV maior -5,00% -10,00% Gráfico 5: Média aritmética dos retornos semanais das carteiras formadas nas quartas-feiras, entre 1986 e 2007, restritos a opções com média aritmética dos negócios realizados no pregão superior a cinco, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade (SV). Tabela 8: Médias aritméticas dos spreads de volatilidade (SV) e dos retornos semanais das carteiras formadas nas quartas-feiras, entre 1986 e 1996, restritos a opções com média aritmética dos negócios realizados no pregão superior a cinco, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade, com o cálculo dos respectivos p-valores. 1986 - 1996 SV Retorno semana 1 Retorno semana 2 Retorno semana 3 Retorno semana 4 Carteira SV menor 31,61% -3,00% -1,25% 0,64% -2,97% Carteira SV maior 58,68% -2,10% -10,53% -7,14% -4,90% p-valor 5,28% 39,17% 6,66% 4,60% 25,91% 5,00% 0,00% -5,00% 1 2 3 Carteira SV menor 4 Carteira SV maior -10,00% -15,00% Gráfico 6: Média aritmética dos retornos semanais das carteiras formadas nas quartas-feiras, entre 1986 e 1996, restritos a opções com média aritmética dos negócios realizados no pregão superior a cinco, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade (SV). Tabela 9: Médias aritméticas dos spreads de volatilidade (SV) e dos retornos semanais das carteiras formadas nas quartas-feiras, entre 1997 e 2007, restritos a opções com média aritmética dos negócios realizados no pregão superior a cinco, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade, com o cálculo dos respectivos p-valores. 1997 - 2007 SV Carteira SV menor -34,98% -1,41% 13,99% -1,27% -1,27% Carteira SV maior 0,77% 0,47% 4,86% 2,31% -3,33% p-valor Retorno semana 1 Retorno semana 2 Retorno semana 3 Retorno semana 4 Há apenas um dado que se enquadra nessas características. 44 15,00% 10,00% Carteira SV menor 5,00% Carteira SV maior 0,00% -5,00% 1 2 3 4 Gráfico 7: Média aritmética dos retornos semanais das carteiras formadas nas quartas-feiras, entre 1997 e 2007, restritos a opções com média aritmética dos negócios realizados no pregão superior a cinco, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade (SV). Dividindo-se a amostra em dois períodos (1986-1996 e 1997-2007), é possível perceber a semelhança entre os resultados obtidos. Por sua vez, ao se comparar os resultados encontrados sem a restrição imposta ao número de negócios efetuados com a opção no pregão, com os resultados dos testes realizados ao se trabalhar apenas com opções mais líquidas, é verificada, nos últimos, uma diferença mais significativa entre os retornos encontrados das ações subjacentes na primeira semana, além de uma redução no p-valor. No entanto, assim como em relação à passagem do tempo, não se pode afirmar que foi identificada uma influência da liquidez no suposto grau de previsibilidade, já que são semelhantes os resultados apresentados em todos os casos e intervalos de tempo considerados. É identificada uma relação direta na primeira semana entre os resultados dos retornos dos ativos subjacentes e o nível do spread de volatilidade, o que não se repete na semana seguinte, contudo, não se pode rejeitar em nenhum dos períodos que as amostras sejam iguais na primeira semana, pois em todos eles o p-valor mostra-se superior a 5%. Na Tabela 9 não é possível calcular o p-valor, já que cada amostra é composta por apenas um dado. Diante dos resultados encontrados, que se mostram inconclusivos, decidiu-se estudar de forma mais detalhada a primeira semana, no intuito de verificar a possibilidade de que desvios na put-call parity contenham informações sobre o retorno futuro de ações por um menor horizonte de tempo. Em acréscimo, também são analisados os papéis da liquidez e da passagem do tempo nesse eventual grau de previsibilidade, como se pode observar a seguir. 45 5.2 CARTEIRAS E RETORNOS DIÁRIOS 5.2.1 Formação dos portfólios a partir dos níveis dos spreads de volatilidade 5.2.1.1 Desvios na paridade entre as opções de compra e de venda e retorno futuro de ações Nas ilustrações a seguir (Tabela 10 e Gráfico 8), são apresentados os resultados encontrados. Tabela 10: Médias aritméticas dos spreads de volatilidade (SV) e dos retornos diários das carteiras formadas entre 1986 e 2007, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade, com o cálculo dos respectivos p-valores. 1986 - 2007 SV Retorno dia 1 Retorno dia 2 Retorno dia 3 Retorno dia 4 Retorno dia 5 Carteira SV menor -21,44% 0,08% 0,18% -0,18% -0,11% -0,04% Carteira SV maior 17,06% 0,02% 0,23% 0,17% -0,02% -0,02% p-valor 0,00% 35,77% 39,40% 2,08% 31,23% 43,23% Gráfico 8: Média aritmética dos retornos diários das carteiras formadas entre 1986 e 2007, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade (SV). Ao se observar os resultados da Tabela 10 e do Gráfico 8, nota-se que não é possível identificar uma relação direta entre o spread de volatilidade e o retorno do ativo-objeto apenas no primeiro dia, verificando-se nos dias seguintes um retorno superior dos ativos na carteira de maior nível de spread de volatilidade. O resultado do p-valor maior do que 5%, excetuando-se o terceiro dia, indica, contudo, que essa diferença de retornos entre as duas carteiras não é significativa. 5.2.1.2 Passagem do tempo e poder de previsão Os resultados encontrados podem ser observados nas Tabelas 11 e 12 e nos Gráficos 9 e 10, que seguem. 46 Tabela 11: Médias aritméticas dos spreads de volatilidade (SV) e dos retornos diários das carteiras formadas entre 1986 e 1996, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade, com o cálculo dos respectivos p-valores. 1986 - 1996 SV Retorno dia 1 Retorno dia 2 Retorno dia 3 Retorno dia 4 Retorno dia 5 Carteira SV menor -10,46% 0,62% 0,19% -0,69% -0,69% -0,21% Carteira SV maior 34,68% 0,34% 0,58% 0,38% -0,50% 0,02% p-valor 0,00% 30,24% 18,45% 1,98% 35,62% 35,72% Gráfico 9: Média aritmética dos retornos semanais das carteiras formadas entre 1986 e 1996, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade (SV). Tabela 12: Médias aritméticas dos spreads de volatilidade (SV) e dos retornos diários das carteiras formadas entre 1997 e 2007, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade, com o cálculo dos respectivos p-valores. 1997 - 2007 SV Retorno dia 1 Retorno dia 2 Retorno dia 3 Retorno dia 4 Retorno dia 5 Carteira SV menor -23,65% -0,03% 0,18% -0,08% 0,01% -0,01% Carteira SV maior 13,51% -0,04% 0,16% 0,13% 0,07% -0,02% p-valor 0,00% 46,88% 45,03% 12,22% 36,30% 46,70% Gráfico 10: Média aritmética dos retornos semanais das carteiras formadas entre 1997 e 2007, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade (SV). Após se dividir a amostra, é possível observar alguma semelhança entre os resultados encontrados nos dois períodos. O primeiro dia de ambos os períodos não apresenta resultados 47 dos retornos dos ativos subjacentes diretamente relacionados com o nível do spread de volatilidade. Contudo, em nenhum dos períodos se pode rejeitar a igualdade entre os dados que os compõem, pois o p-valor calculado mostra-se, mais uma vez, superior a 5%. No entanto, ao se analisar os resultados do horizonte de tempo completo (1986 a 2007) e do primeiro período (1986 a 1996), observa-se uma relação inversa entre o tamanho do spread de volatilidade e o retorno dos ativos subjacentes apenas no primeiro dia dos cinco dias úteis subsequentes analisados. O p-valor diário calculado, no entanto, apenas mostra significância na diferença entre os retornos no terceiro dia útil. Esse resultado poderia indicar a existência, no primeiro período de tempo amostral, de um lag na absorção de informações entre o mercado de opções e o de ações. Porém, ao se elevar o grau de liquidez da amostra, o que pode ser observado no tópico seguinte, percebe-se que a relação direta entre o spread de volatilidade e a rentabilidade obtida se estende desde o primeiro até o quinto dia no primeiro período de tempo analisado (1986 a 1996), inclusive com um p-valor menor do que 5% também no primeiro dia. 5.2.1.3 Liquidez das opções e poder de previsão A seguir, são ilustrados os resultados encontrados (Tabelas 13, 14 e 15 e Gráficos 11, 12 e 13). Tabela 13: Médias aritméticas dos spreads de volatilidade (SV) e dos retornos diários das carteiras formadas entre 1986 e 2007, restritos a opções com média aritmética dos negócios realizados no pregão superior a cinco, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade, com o cálculo dos respectivos p-valores. 1986 - 2007 SV Retorno dia 1 Retorno dia 2 Retorno dia 3 Retorno dia 4 Retorno dia 5 Carteira SV menor -15,90% -0,63% 0,19% -1,33% -0,63% -0,23% Carteira SV maior 21,42% 0,56% -0,06% 0,05% -0,76% -0,71% p-valor 0,00% 2,52% 36,10% 0,68% 40,61% 21,73% 48 Gráfico 11: Média aritmética dos retornos diários das carteiras formadas entre 1986 e 2007, restritos a opções com média aritmética dos negócios realizados no pregão superior a cinco, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade (SV). Tabela 14: Médias aritméticas dos spreads de volatilidade (SV) e dos retornos diários de todas as carteiras formadas entre 1986 e 1996, restritos a opções com média aritmética dos negócios realizados no pregão superior a cinco, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade, com o cálculo dos respectivos p-valores. 1986 - 1996 SV Retorno dia 1 Retorno dia 2 Retorno dia 3 Retorno dia 4 Retorno dia 5 Carteira SV menor 7,84% -0,73% -1,13% -2,34% -1,33% -1,29% Carteira SV maior 48,95% 1,87% 0,48% -0,34% -1,23% -0,53% p-valor 0,00% 2,10% 10,58% 4,87% 46,68% 24,89% Gráfico 12: Média aritmética dos retornos diários das carteiras formadas entre 1986 e 1996, restritos a opções com média aritmética dos negócios realizados no pregão superior a cinco, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade (SV). Tabela 15: Médias aritméticas dos spreads de volatilidade (SV) e dos retornos diários de todas as carteiras formadas entre 1997 e 2007, restritos a opções com média aritmética dos negócios realizados no pregão superior a cinco, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade, com o cálculo dos respectivos p-valores. 1997 - 2007 SV Retorno dia 1 Retorno dia 2 Retorno dia 3 Retorno dia 4 Retorno dia 5 p-valor 0,00% 38,73% 0,58% 1,69% 25,15% 1,74% Carteira SV menor -33,71% -0,55% 1,17% -0,56% -0,10% 0,56% Carteira SV maior 0,77% -0,43% -0,46% 0,34% -0,40% -0,84% 49 Gráfico 13: Média aritmética dos retornos diários das carteiras formadas entre 1997 e 2007, restritos a opções com média aritmética dos negócios realizados no pregão superior a cinco, divididas de acordo com o nível do spread de volatilidade (SV). Conforme se pode observar a partir dos resultados apresentados, ao se restringir a amostra para opções mais líquidas é possível identificar a influência da liquidez no poder de previsibilidade estudado. Ao se comparar os resultados obtidos anteriormente com os obtidos a partir dessa restrição do número mínimo de negócios efetuados com a opção no pregão, é verificado um maior poder de previsão no último caso. Essa conclusão se deve ao fato de, nos testes realizados com a amostra de liquidez média maior, serem identificados no primeiro dia de todos os períodos de tempo considerados retornos superiores advindos das carteiras de maior nível de spread de volatilidade, diferentemente do observado nos testes diários anteriores. Ao se dividir a amostra nos dois períodos analisados, por sua vez, percebe-se a diferença entre os resultados encontrados em função da passagem dos anos. Em ambos os intervalos de tempo considerados é identificada, no primeiro dia, uma relação direta entre os resultados dos retornos dos ativos subjacentes e o nível do spread de volatilidade, o que se repete em todos os dias seguintes do período de 1986 a 1996, inclusive nesse período podemse observar interessantes diferenças entre os retornos se estendendo até o terceiro dia analisado. No entanto, no período de 1997 a 2007 não se pode rejeitar que ambas as carteiras sejam iguais no primeiro dia, já que o p-valor entre elas mostra-se superior a 5%. Já no período anterior, de 1986 a 1996, o p-valor apresenta-se satisfatório no primeiro dia, com o resultado de 2,10%, o que não se repete no dia seguinte. 50 5.2.2 Formação dos portfólios a partir das variações nos spreads de volatilidade São apresentados, nas Tabelas 16 e 17, os resultados dos testes realizados. Tabela 16: Médias aritméticas dos retornos diários acumulados nos cinco primeiros dias úteis após o cálculo do spread de volatilidade, divididas de acordo com o período analisado, a quantidade mínima de negócios com as opções realizados no pregão e o sentido da variação do spread de volatilidade, sem restrições quanto à variação percentual do spread de volatilidade. Sem restrições quanto à variação percentual do spread de volatilidade Média Retornos Diários Acumulados Período Negociações 1986 a 2007 Sem restrição Mínimo 2 Mínimo 3 1986 a 1996 Sem restrição Mínimo 2 Mínimo 3 1997 a 2007 Sem restrição Mínimo 2 Mínimo 3 Variação do SV 1 dia 2 dias 3 dias 4 dias 5 dias Negativa -0,68% -0,30% -1,17% -1,43% -1,63% Positiva 0,02% -0,23% -0,91% -1,40% -1,90% Negativa -2,41% -2,60% -3,29% -4,06% -4,23% Positiva 1,16% 1,08% 0,61% -1,36% -1,79% Negativa -6,15% -6,55% -7,44% -8,69% -8,77% Positiva 1,81% 1,48% 1,32% -0,26% -0,90% Negativa -0,78% 0,04% -1,22% -0,30% -0,93% Positiva 0,47% -0,64% -0,09% -1,41% -1,97% Negativa -0,13% 1,56% -0,45% -1,02% -2,41% Positiva 1,74% 1,30% 1,69% -0,91% -1,82% Negativa -1,90% 1,22% 0,12% -0,62% -3,08% Positiva 2,28% 2,39% 2,82% 0,18% -1,18% Negativa -0,66% -0,39% -1,16% -1,72% -1,81% Positiva -0,16% -0,07% -1,24% -1,39% -1,88% Negativa -3,33% -4,72% -4,43% -5,27% -4,96% Positiva 0,71% 0,91% -0,22% -1,69% -1,78% Negativa -8,70% -11,22% -11,98% -13,54% -12,17% Positiva 0,41% -1,28% -3,20% -1,58% -0,07% 51 Tabela 17: Médias aritméticas dos retornos diários acumulados nos cinco primeiros dias úteis após o cálculo do spread de volatilidade, divididas de acordo com o período analisado, a quantidade mínima de negócios com as opções realizados no pregão e o sentido da variação do spread de volatilidade, com restrição de variação do spread de volatilidade superior a 50%. Média Retornos Diários Acumulados Período Negociações 1986 a 2007 Sem restrição Mínimo 2 Mínimo 3 1986 a 1996 Sem restrição Mínimo 2 Mínimo 3 1997 a 2007 Sem restrição Mínimo 2 Mínimo 3 Variação no spread de volatilidade superior a 50% Variação do SV 1 dia 2 dias 3 dias 4 dias 5 dias Negativa -0,66% 0,08% -0,81% -1,32% -1,73% Positiva 0,31% 0,20% -0,47% -1,36% -1,85% Negativa -2,72% -2,59% -3,37% -4,23% -4,71% Positiva 1,88% 2,15% 1,94% -0,55% -0,91% Negativa -7,13% -6,96% -8,08% -9,41% -9,82% Positiva 2,70% 2,65% 2,84% 0,64% -0,10% Negativa -1,50% -0,42% -1,79% -2,05% -2,88% Positiva 1,06% -0,03% 0,51% -1,28% -1,98% Negativa -0,90% 1,09% -0,97% -2,28% -4,70% Positiva 1,62% 1,06% 1,44% -1,42% -2,23% Negativa -3,29% 0,12% -0,86% -2,31% -5,05% Positiva 2,20% 2,24% 2,66% -0,27% -1,57% Negativa -0,48% 0,18% -0,60% -1,16% -1,48% Positiva -0,04% 0,31% -0,92% -1,39% -1,79% Negativa -3,29% -3,77% -4,13% -4,85% -4,72% Positiva 2,13% 3,24% 2,44% 0,33% 0,40% Negativa -9,27% -10,89% -12,09% -13,35% -12,47% Positiva 5,42% 4,93% 3,83% 5,67% 7,95% É possível observar, nos resultados apresentados nas Tabelas 16 e 17, a alta predominância de maiores retornos acumulados quando se dá uma variação positiva no spread de volatilidade. Isso ocorre especialmente ao se aumentar o grau de liquidez e a variação sofrida pelo spread de volatilidade, como se verifica em todos os resultados acumulados de cada um dos cinco dias subsequentes da Tabela 17, ao se restringir para no mínimo três o número de negócios realizados com o papel-mercado no pregão. No entanto, ao se analisar os resultados de cada dia individualmente, nota-se um destaque para os do primeiro dia (Tabelas 16 e 17), no qual se percebe em todos os casos apresentados, diferentemente do que ocorre no segundo dia, a existência de um maior retorno médio do ativo subjacente quando há aumento do spread de volatilidade, comparando-o com o retorno médio obtido quando ocorre redução desse spread. Além disso, com exceção do período de 1997 a 2007 e onde não há restrições de número de negócios efetuados no pregão, 52 os resultados do primeiro dia mostram retornos negativos sempre que há redução do spread de volatilidade, ocorrendo o inverso quando ocorre um aumento do spread. Assim, esses resultados apontam para a existência de uma relação direta entre a mudança do spread de volatilidade e o retorno do ativo-objeto no primeiro dia útil subsequente a essa alteração no spread, restringindo-se, portanto, a análise aqui realizada a esse dia, a partir desse ponto da pesquisa. No que se refere ao estudo do papel da liquidez na possível previsibilidade detectada, é verificado a partir dos resultados apresentados que, à medida que se aumenta o número mínimo exigido de negociações para fazer parte da amostra, percebe-se também a tendência de crescer a diferença entre os retornos correspondentes aos grupos de aumento e redução do spread de volatilidade. Isso ocorre em todos os casos aqui analisados, com exceção apenas do par correspondente ao período de 1986 a 1996, com modificação do spread acima de 50% e restrição de ao menos dois negócios efetuados no pregão (Tabela 17), que, em relação ao par sem restrições de negociações apresentou redução de 0,04 pontos percentuais. Dessa maneira, tais resultados parecem indicar uma relação direta entre a liquidez e o poder de previsão. Por sua vez, ao se isolar apenas os pares de opções cujos spreads de volatilidade sofreram uma modificação superior a 50% (Tabela 17), é possível observar, além das características já mencionadas a partir dos testes sem essa restrição percentual, uma maior diferença entre os dois resultados, aumento e redução do spread de volatilidade, em relação aos valores apresentados na Tabela 16. Encontrou-se apenas uma exceção, o par de resultados contido no período de 1997 a 2007 e sem restrição de número mínimo de negócios no pregão, que apresentou uma redução de 0,06 pontos percentuais em relação ao seu par correspondente da Tabela 16. Portanto, os resultados apontam que uma modificação mais acentuada no spread de volatilidade entre os pares de opções tende a levar a retornos mais significativos dos ativos subjacentes no primeiro dia útil posterior, indicando, assim, a existência de uma relação direta entre esses dois fatores. Quanto ao estudo da existência de mudanças com a passagem dos anos no poder de previsão do mercado de opções em relação ao mercado de ações, no entanto, verifica-se que os dois períodos analisados apresentam resultados equivalentes. Não são identificadas diferenças significativas, no suposto grau de previsibilidade, entre os dois períodos de tempo considerados. 53 Dentro desse contexto, para estudar a significância dos resultados acima relatados, analisa-se estatisticamente a diferença entre as médias de retorno obtidas pelas duas carteiras no primeiro dia útil subsequente à variação detectada no spread de volatilidade. Primeiramente, no intuito de fornecer uma visão mais específica da amostra aqui trabalhada, é apresentada, nas Tabelas 18 e 19, uma estatística descritiva das duas carteiras envolvidas, abrangendo média e desvio padrão, além de informação sobre o tamanho da amostra. Tabela 18: Estatística descritiva da carteira cujos spreads de volatilidade (SV) apresentam variação negativa. Variação SV Negativa Período Negociações 1986 a 2007 Sem restrição Mínimo 2 Mínimo 3 1986 a 1996 Sem restrição Mínimo 2 Mínimo 3 1997 a 2007 Sem restrição Mínimo 2 Mínimo 3 Variação SV (%) Média Tamanho da amostra Desvio padrão Sem restrição -0,68% 80 12,21% Superior a 50% -0,66% 62 13,76% Sem restrição -2,41% 35 17,50% Superior a 50% -2,72% 29 19,20% Sem restrição -6,15% 16 25,46% Superior a 50% -7,13% 14 27,14% Sem restrição -0,78% 16 3,71% Superior a 50% -1,50% 11 3,96% Sem restrição -0,13% 10 4,30% Superior a 50% -0,90% 7 4,60% Sem restrição -1,90% 6 4,04% Superior a 50% -3,29% 5 2,44% Sem restrição -0,66% 64 13,55% Superior a 50% -0,48% 51 15,09% Sem restrição -3,33% 25 20,59% Superior a 50% -3,29% 22 22,01% Sem restrição -8,70% 10 32,43% Superior a 50% -9,27% 9 34,34% 54 Tabela 19: Estatística descritiva da carteira cujos spreads de volatilidade (SV) apresentam variação positiva. Variação SV Positiva Período Negociações 1986 a 2007 Sem restrição Mínimo 2 Mínimo 3 1986 a 1996 Sem restrição Mínimo 2 Mínimo 3 1997 a 2007 Sem restrição Mínimo 2 Mínimo 3 Variação SV (%) Média Tamanho da amostra Desvio padrão Sem restrição 0,02% 66 4,92% Superior a 50% 0,31% 51 4,84% Sem restrição 1,16% 30 5,84% Superior a 50% 1,88% 24 6,13% Sem restrição 1,81% 16 6,40% Superior a 50% 2,70% 13 6,50% Sem restrição 0,47% 19 5,85% Superior a 50% 1,06% 16 5,88% Sem restrição 1,74% 13 6,35% Superior a 50% 1,62% 12 6,62% Sem restrição 2,28% 12 6,31% Superior a 50% 2,20% 11 6,62% Sem restrição -0,16% 47 4,55% Superior a 50% -0,04% 35 4,34% Sem restrição 0,71% 17 5,58% Superior a 50% 2,13% 12 5,88% Sem restrição 0,41% 4 7,43% Superior a 50% 5,42% 2 7,25% Por sua vez, para a análise estatística da diferença entre as médias de rentabilidade das duas carteiras aqui estudadas, utiliza-se mais uma vez o método do p-valor. Com esse intuito, inicialmente é calculada a estatística de teste t de Student, através da Fórmula (5.1), que assume que as observações nos dois grupos são independentes e apresentam distibuição normal , como segue: (5.1) onde: 𝑋 é a média dos retornos da carteira de mudança positiva no spread de volatilidade, 55 𝑋 é a média dos retornos da carteira de mudança negativa no spread de volatilidade, 𝑛 é o tamanho da amostra1, 𝑛 é o tamanho da amostra 2, 𝑠 é o desvio padrão da amostra 1, 𝑠 é o desvio padrão da amostra 2. Em seguida, é calculado o p-valor da estatística de teste t, utilizando a função do Excel “=1-dist.normp(t)”. As diferenças entre as médias das duas carteiras em pontos percentuais (p.p) e os valores da estatística de teste t e do p-valor podem ser verificados na tabela seguinte. Tabela 20: Análise da diferença entre as médias de retorno das carteiras com variação positiva e com variação negativa do spread de volatilidade, no primeiro dia útil subsequente à mudança do spread. Diferença entre as Médias de Retorno das Carteiras Período Negociações 1986 a 2007 Sem restrição Mínimo 2 Mínimo 3 1986 a 1996 Sem restrição Mínimo 2 Mínimo 3 1997 a 2007 Sem restrição Mínimo 2 Mínimo 3 Diferença entre as médias de retorno t p-valor Sem restrição 0,71% 0,44 33,05% Superior a 50% 0,97% 0,47 31,77% Sem restrição 3,57% 1,05 14,65% Superior a 50% 4,59% 1,10 13,48% Sem restrição 7,96% 1,17 12,01% Superior a 50% 9,83% 1,22 11,03% Sem restrição 1,25% 0,72 23,71% Superior a 50% 2,56% 1,21 11,29% Sem restrição 1,87% 0,77 22,20% Superior a 50% 2,52% 0,84 20,00% Sem restrição 4,17% 1,39 8,21% Superior a 50% 5,49% 1,68 4,60% Sem restrição 0,50% 0,24 40,44% Superior a 50% 0,44% 0,17 43,35% Sem restrição 4,04% 0,77 22,04% Superior a 50% 5,43% 0,81 20,80% Sem restrição 9,11% 0,51 30,34% Superior a 50% 14,69% 0,54 29,30% Variação SV (%) 56 Diante do exposto, a análise baseada no sentido da variação do spread de volatilidade dos pares de opções válidos sugere, no primeiro dia útil subsequente à variação do spread, uma superioridade de retorno da carteira que correspondente à variação positiva do spread de volatilidade, em relação à carteira relacionada às opções cujos spreads variam negativamente. Isso pode ser verificado em todos os casos aqui analisados, que abordam diferentes graus de liquidez, modificação percentual do spread de volatilidade e períodos de tempo, com diferença média de 4,43 pontos percentuais entre as médias das duas carteiras citadas. Além disso, observa-se, ainda no primeiro dia em questão e em todas as situações aqui estudadas, rentabilidade negativa do ativo-objeto após variação negativa do spread de volatilidade. Quando se dá uma variação positiva, a rentabilidade apenas não foi positiva na condição de menor liquidez do período mais recente (1997 a 2007). Em acréscimo, os resultados apresentados apontam a existência de uma relação direta entre a liquidez e o grau de mudança do spread de volatilidade dos pares de opções válidos e o retorno dos ativos subjacentes. Porém, ao se realizar o teste de significância estatística, percebe-se que não se pode rejeitar que as médias dos retornos das duas carteiras sejam iguais, com exceção dos retornos das carteiras com maior liquidez estudada e cujo spread de volatilidade sofreu um aumento de mais de 50%, correspondentes ao ano de 1986. A seguir, o próximo capítulo apresenta as conclusões e recomendações finais desse trabalho. 57 6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 6.1 CONCLUSÕES Os resultados da pesquisa desenvolvida nesse trabalho não permitem afirmar que desvios dos valores do modelo relacionados à relação de paridade entre as opções de compra e de venda contêm informações sobre os preços futuros das ações. Foram utilizadas para medir esses desvios as diferenças entre as volatilidades implícitas de pares de opções de compra e opções de venda com o mesmo preço de exercício, data de vencimento e ativo-objeto. O teste de periodicidade semanal realizado indica a possibilidade de relação direta entre spread de volatilidade e retorno do ativo-objeto na primeira semana, em todos os períodos de tempo ou grau de liquidez considerados. No entanto apresentando testes de significância insatisfatórios, impedindo a afirmação de que os retornos entre as duas carteiras são estatisticamente diferentes. Em seguida, o trabalho com um horizonte de tempo menor, em base diária e abrangendo os cinco dias úteis subsequentes à contabilização do spread de volatilidade possibilitou, além do estudo com maior profundidade da primeira semana, a obtenção de uma amostra de tamanho mais expressivo, o que tende a agregar maior valor aos testes realizados. Para tanto, são utilizadas duas estratégias: a primeira trabalha ainda com o nível do spread de volatilidade, já a segunda aborda a mudança sofrida por ele. Naquela, os resultados estatisticamente significativos sugerem, no período de 1986 a 1996, que ativos-objeto correspondentes a opções mais líquidas e com maiores níveis de spread de volatilidade apresentavam maiores retornos no primeiro dia útil seguinte, não sendo possível observar o mesmo fato nos anos mais recentes. Tais resultados sugerem que, enquanto nos primeiros anos de negociação na bolsa de valores, se o spread de volatilidade aumentasse hoje, seria possível se antecipar à rentabilidade do dia seguinte, nos últimos anos já não se pode afirmar que isso permanece uma realidade. Na segunda estratégia utilizada, por sua vez, os testes realizados apontam a existência de relação direta entre a previsibilidade das ações-objeto e a liquidez e o grau de mudança do spread de volatilidade dos pares de opções válidos, no primeiro dia útil subsequente à variação do spread, inclusive no período atual. Contudo, de acordo com o teste de significância estatística não é possível rejeitar, de forma geral, que as médias de rentabilidade 58 das duas carteiras sejam iguais. A única exceção, que pode ser mais um indício de influência direta tanto da liquidez, quanto do sentido e do grau de mudança do spread, além de redução do poder de previsão com a passagem do tempo, foi a estatisticamente significante diferença entre as médias de retorno das duas carteiras do ano de 1986, com maior liquidez estudada e cujo spread de volatilidade sofreu um aumento superior a de 50%. É possível que essa suposta redução no grau de previsibilidade com o passar dos anos esteja relacionada à melhoria de informação no mercado financeiro, sendo permitindo, através de menores custos de transação e maiores transparência e liquidez de mercado, que novas informações relevantes sejam absorvidas com maior rapidez. Esses resultados, portanto, sugerem elevação da eficiência de mercado com o passar dos anos de funcionamento da bolsa de valores, não se encontrando hoje indícios contundentes de contrariedade à forma semi-forte de eficiência de mercado proposta por Fama (1970). Assim, os resultados aqui apresentados se assemelham aos do recente estudo de Muravyev, Pearson e Broussard (2011), dentre vários trabalhos anteriores de outros autores já apresentados, que sugerem que o mercado de opções não contém qualquer informação ainda não presente no mercado de ações. No entanto, os resultados desse trabalho se diferenciam dos encontrados por diversos outros autores, conforme descrito na revisão de literatura, inclusive das conclusões do artigo que lhe serviu de base, no qual Cremers e Weinbaum (2010), estudando o mercado norteamericano, encontraram fortes evidências de previsibilidade do retorno de ações pelo mercado de opções, mostrando indícios de que os preços das opções podem influenciar o preço das ações subjacentes por vários dias, conseguindo evidenciar um aumento de previsibilidade quando a liquidez das opções é alta e um grau de previsibilidade decrescente com a passagem do tempo. Uma possibilidade identificada para explicar essa diferença de resultados é a menor liquidez do mercado de opções brasileiro referente ao norte-americano, com forte presença amostral aqui de pares de opções válidos referentes às ações mais negociadas nos pregões, o que vai ao encontro do que defendem os autores citados em relação ao papel da liquidez, quando afirmam que o grau de previsibilidade é mais alto quando a liquidez da opção é relativamente maior em relação à da ação, já que assim haveria mais negociações baseadas em 59 informações no mercado de opções, reduzindo significativamente a previsibilidade à medida que o oposto é verdadeiro. Além dessa, outra possível justificativa para as divergências de resultados entre esse trabalho e os estudos desenvolvidos nos Estados Unidos que evidenciaram que os preços das opções, ainda nos dias atuais, contêm informações ainda não incorporadas nos preços dos títulos subjacentes, consiste na distinção entre os horários de funcionamento dos mercados de opções e a vista, naquele país e no Brasil. Conforme citado ao longo da revisão de literatura realizada, um banco de dados com preços de fechamento é alvo de várias críticas, devido à possibilidade de essa característica, por razão do assincronismo entre os horários de funcionamento dos mercados de ações e opções, poder ser responsável por erros na identificação de desvios na relação de paridade entre as opções de compra e de venda, já que o ideal seria calcular os spreads de volatilidade no mesmo horário de fechamento da bolsa. Assim, um problema potencial desses estudos é que eles podem levar a falsas previsibilidades, sendo possível que estas decorram do intervalo de dois minutos entre a última transação de ações do pregão e o sinal de opção. No Brasil, por sua vez, de acordo com a BM&F BOVESPA14, ocorre o inverso: apesar dos horários regulares de funcionamento dos mercados de opções e a vista serem os mesmos, apenas para as operações no mercado a vista são permitidas transações em um intervalo de tempo após o fechamento regular, o after-market. No entanto, cabe ressaltar que essa característica não aparenta favorecer a um resultado de liderança do mercado de ações, com informações sendo absorvidas em defasagem pelo mercado de opções, já que a variação de preço das ações é calculada tendo como base o fechamento do pregão regular, não o fechamento do after-market. Considerando-se todas as proposições, análises e resultados contidos nesse trabalho, pode-se afirmar que os seus objetivos geral e específicos foram devidamente alcançados. A interdependência entre os objetivos e o assunto abordado possibilita, além do cumprimento ao que se propôs esse projeto, realizar algumas recomendações para trabalhos futuros, em função das restrições encontradas, o que será apresentado no item a seguir. 14 Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/regulacao/horarios-de-negociacao/acoes.aspx?idioma=pt-br>. Acesso em: 15 julh. 2012. 60 6.2 RECOMENDAÇÕES Apesar de estatisticamente pouco significativos diante dos testes de significância aqui realizados, entende-se que os resultados encontrados nesse trabalho sugerem que o sentido da variação do spread de volatilidade no dia anterior merece atenção ao se pretender prever a rentabilidade das ações do dia seguinte, com potencial de ser incluído como uma das variáveis desse tipo de decisão. Dentro desse contexto, por meio da experiência de realização dessa pesquisa, são propostos novos trabalhos que possam ser desenvolvidos no sentido de dar prosseguimento ao assunto estudado. Uma primeira sugestão para trabalho futuro consiste em utilizar outros testes estatísticos para avaliar a significância dos resultados encontrados, diante das críticas de estatísticos como Hubbard e Lindsay (2008), que defendem a necessidade de se repensar as limitações oriundas do uso do p-valor nos critérios de decisão como única fonte de inferência estatística. Outra possibilidade para novos estudos nessa mesma linha seria trabalhar com dados intradiários, buscando assim identificar, em horizontes de tempo ainda menores, uma suposta defasagem entre as variações do mercado a vista e as atividades do mercado de opções correspondente. Em acréscimo, uma última sugestão de pesquisa seria calcular os retornos incluindo outros fatores, como os três fatores de Fama e French (1993), na tentativa de isolar a influência do spread de volatilidade, buscando garantir que os resultados não são reflexo de diferenças de risco ou de características específicas das empresas envolvidas nos cálculos. Espera-se que as sugestões acima apresentadas sejam capazes de despertar o interesse para futuras pesquisas acadêmicas. 61 REFERÊNCIAS ANDRADE, S C, E B M TABAK. Is it Worth Tracking Dollar/Real Implied Volatility, Working Paper, p. 1-25, 2001. BATTALIO, R.; SCHULTZ, P. Options and the bubble. Journal of Finance 61, p. 20712102, 2006. BHATTACHARYA, M. Price changes of related securities: The case of call options and stocks. Journal of Financial and Quantitative Analysis 22, p. 1-15, 1987. BLACK, F.; SCHOLES, M. The pricing of options and corporate liabilities. Journal of Political Economy 81, p. 637-654, 1973. BRITO, N. R. 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