Cryptococcus neoformans e C. gattii isolados de excretas de aves comercializadas em lojas de animais do município do Rio de Janeiro, RJ* Juan Rojas Pereira¹, Felipe Lopes Campos², Daniel Paiva Barros de Abreu³ e Francisco de Assis Baroni4+ ABSTRACT. Pereira J.R., Campos F.L., Abreu D.P.B. & Baroni F.A. [Cryptococcus neoformans and C. gattii isolated from birds droppings collected at petshops in Rio de Janeiro, RJ.] Cryptococcus neoformans e C. gattii isolados de excretas de aves comercializadas em lojas de animais do município do Rio de Janeiro, RJ. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, 36(1):90-94, 2014. Departamento de Microbiologia e Imunologia Veterinária, Instituto de Veterinária, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Campus Seropédica, BR 465 Km 7, Seropédica, RJ 23890-971, Brasil. E-mail: [email protected] The aim of this work was to verify the isolation of Cryptococcus neoformans from bird droppings at some pet-shops in the Municipality of Rio de Janeiro, RJ. A total of 1.268 samples were processed from different species of birds from 25 commercial establishments distributed on 16 neighborhoods. The identification was made by macromorphology and micromorphology evaluations, auxanographic method and complementary proofs. The biochemical serogrouping was carried out in C.G.B. culture medium. From the total samples, 85 (6.70%) were considered positive. According to serogrouping, from the total of 56 samples, 54 were classified as serogrouping AD (Cryptococcus neoformans) and two samples to serogrouping BC (Cryptococcus gattii). The presence of these etiological agents in this kind of commercial establishment may be a great concern to sanitary surveillance policy, considering the possibility of humans and animals to be infected. KEY WORDS. Cryptococcus neoformans, Cryptococcus gattii, birds, pet-shops. RESUMO. O objetivo do presente trabalho foi verificar o grau de isolamentos de Cryptococcus neoformans em excretas de aves comercializadas em pet-shops localizados no município do Rio de Janeiro, RJ. Foram recolhidas 1.268 amostras de diversas aves em 25 estabelecimentos distribuídos em 16 bairros do referido município. A identificação dos isolados foi realizada por avaliação macromorfológica, micromorfológica, uso de testes de assimilação de fontes carbonadas e nitrogenadas e provas complementares. A sorogrupagem foi realizada bioquimicamente em meio C.G.B. Do total de amostras coletadas, 85 (6,70%) mostraram-se positivas. A sorogrupagem realizada para 56 das cepas revelou que 54 amostras pertencem ao sorogrupo AD (Cryptococcus neoformans) e duas delas ao sorogrupo BC (Cryptococcus gattii). A presença deste agente em tais estabelecimentos comerciais *Recebido em 8 de agosto de 2012. Aceito para publicação em 18 de dezembro de 2013. Trabalho originado da Dissertação de Mestrado do primeiro autor. 1 Médico-veterinário, MSc. Autônomo com Especialização em Clínica e Cirurgia de Animais Exóticos, Rua Jabotiana, 165, Rio de Janeiro, RJ 21540-670, Brasil. E-mail: [email protected] 2 Médico-veterinário, MSc. Fiscal Estadual Agropecuário, Departamento de Defesa Agropecuária, Secretária da Agricultura Pecuária e Agronegócio do Rio Grande do Sul (DDA/SEAPA-RS), Rua Coronel Mussnich, nº 451, Estrela, RS 95880-000, Brasil. E-mail: [email protected] 3 Curso de Graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRRJ), BR 465 Km 7, Seropédica, RJ 23890-971, Brasil. E-mail: [email protected] - monitor UFRRJ. 4 Médico-veterinário, DSc. Departamento de Microbiologia e Imunologia Veterinária, Instituto de Veterinária (IV), UFRRJ, Campus Seropédica, BR 465 Km 7, Seropédica, RJ 23890-971. +Autor para correspondência, E-mail: [email protected] 90 Rev. Bras. Med. Vet., 36(1):90-94, jan/mar 2014 Cryptococcus neoformans e C. gattii isolados de excretas de aves comercializadas em lojas de animais do município do Rio de Janeiro, RJ deve ser motivo de preocupação para as autoridades sanitárias, considerando-se a possibilidade de infecção tanto para o homem como para animais mantidos naqueles locais. PALAVRAS-CHAVE. Cryptococcus neoformans, Cryptococcus gattii, aves, pet-shops. INTRODUÇÃO O gênero Cryptococcus compreende aproximadamente 75 espécies, sendo Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii destacadas por seu potencial patogênico para humanos e animais. A primeira espécie tem conhecido caráter oportunista, estando relacionada a quadros de infecção em indivíduos imunocomprometidos. Cryptococcus gattii por sua vez, está mais relacionado a infecções em indivíduos sem comprometimento imunológico (Kwon-Chung et al. 2011). Para a espécie, C. neoformans, estabeleceram-se dois reservatórios naturais completamente distintos: as excretas de pombos (Columba livia) e restos de árvores em decomposição (Lazéra et al. 2000, Baroni et al. 2006, Mitchell et al. 2011, Souza et al. 2011). A espécie C. gattii também apresenta estreita relação com árvores e plantas em decomposição, sendo as árvores de eucaliptos (Eucalyptus camaldulensis, principalmente) o reservatório mais comum e mais estudado (Ellis 1990, Chakrabarti 1997). Nas excretas de pombos e de muitas outras aves, a presença de creatinina, ácido úrico, purinas e xantinas, utilizadas por esta levedura, são consideradas um importante fator no seu crescimento (Levitz 1991). Além das excretas de pombos (Baroni 2006), os dejetos de outras espécies de aves, também foram relatados como fonte de C. neoformans, tais como as oriundas de canários (Criseo 1995, Passoni 1998), periquitos australianos e calopsitas (Filiu et al. 2002), papagaios (Lopes-Martinez & Castanon-Olivares 1995), frangos e pardais (Swinne-Desgain 1986). A cidade do Rio de Janeiro apresenta, junto ao seu comércio, inúmeras lojas que trabalham com pássaros domésticos e aves ornamentais. As instalações são majoritariamente precárias e desaconselháveis ao comércio de animais, com acúmulo de excretas aviárias que resultam na proliferação de vários microrganismos, como bactérias diversas, protozoários, fungos filamentosos e unicelulares, dentre os quais se incluem espécies do gênero Cryptococcus. Esse contexto resulta em disseminação destes agentes etiológicos diretamente ou por aerosóis, havendo a possibilidade de contaminação Rev. Bras. Med. Vet., 36(1):90-94, jan/mar 2014 dos frequentadores e funcionários dos estabelecimentos em questão, podendo assim originar uma série de enfermidades. Essas circunstâncias, além de possibilitarem o desenvolvimento de graves casos de infecção, através das vias respiratórias para o homem, podem também ocasionar a infecção de outros animais, inclusive cães e gatos, geralmente também presentes para comercialização. Este trabalho teve como objetivo determinar o grau de isolamentos de Cryptococcus spp em pet-shops do Município do Rio de Janeiro, RJ, baseando-se no fato de que um maior entendimento deste aspecto ecológico do agente etiológico poderá evitar o desenvolvimento da patologia, principalmente nos casos de indivíduos imunocomprometidos e, além disso, propiciar um melhor entendimento dos riscos de infecção para o homem e também para os animais domésticos. MATERIAL E MÉTODOS A prévia seleção dos estabelecimentos comerciais utilizados na pesquisa foi realizada aleatoriamente, mas utilizando como critério a preferência por ambientes com acúmulo de excretas de aves. Os estabelecimentos comerciais selecionados distribuíam-se em 16 bairros do município do Rio de Janeiro: Cachambi, Praça Seca, Cascadura, Grajaú, Centro, Campo Grande, Taquara, Copacabana, Ipanema, Meier, Madureira, Rocha, Tijuca, Inhaúma, Abolição e Pilares. Para todos, houve prévio contato verbal com o proprietário ou gerência e subsequente envio de correspondência escrita, explicando e esclarecendo a importância deste trabalho. As amostras foram coletadas mensalmente, totalizando 20 coletas por local. Cinco dos estabelecimentos selecionados tiveram apenas 2 a 4 coletas por motivo de falência ou restrição da coleta pela gerência. As excretas foram coletadas do fundo das gaiolas e quase sempre se encontravam depositadas sobre diferentes tipos de cobertura, como folhas de jornal, folhas plásticas e areia. Optou-se pelo recolhimento de amostras de 11 espécies frequentemente encontradas nestas lojas: pombo (Columba spp.), rolinha diamante (Geopelia cuneata), agapornis (Agapornis spp.), calopsita (Nymphicus hollandicus), periquito australiano (Melopsittacus undulatus), mandarim (Taeniopygia guttata), diamante de gould (Chloebia gouldiae), canário belga (Serinus canaria), manon (Lonchura domestica), calafate (Padda oryzivora) e star finch (Neochmia ruficauda). Para a coleta, utilizou-se máscaras, luvas, espátulas e sacos plásticos autoclaváveis, estéreis, padronizados, de fácil vedação. Após efetuar as coletas, estas eram em seguida transportadas para o Laboratório de Leveduras Patogênicas e Ambientais, Departamento de Microbiologia e Imunologia Veterinária, IV/UFRRJ, onde eram mantidas sob refrigeração até o momento do processamento que consistiu em: pesagem e diluição das excretas na proporção de 1:10 em salina com cloranfenicol 91 Juan Rojas Pereira et al. (200mg/L) contida em frascos de Erlenmeyer, homogeneização por agitação magnética, repouso por 30 minutos para separação das fases, extração de alíquota de 1mL do sobrenadante com pipetador automático e semeadura em duplicata em meio dopamina, contido em placas de Petri. A distribuição uniforme na superfície dos meios foi obtida com o auxílio de alças de Drigalski estéreis. As placas foram incubadas na temperatura de 32⁰C. Após incubação por até 11 dias, colônias cremosas com coloração variando de marrom claro a enegrecido foram selecionadas para avaliação micromorfológica, realizada mediante preparo de lâminas com a técnica de nigrosina. Aquelas que continham células compatíveis com as de C. neoformans ou outras espécies do gênero (redondas, ovais com ou sem brotamento) foram separadas para testes de identificação confirmatórios. Estes foram feitos avaliando-se a produção da enzima urease em meio de Christensen, crescimento negativo em meio acrescido de cicloheximida, testes bioquímicos de assimilação de fontes carbonadas e nitrogenadas (auxanograma) e de fermentação negativa de açúcares (zimograma), conforme preconizado por Kurtzman & Fell (2011). A sorogrupagem foi realizada em meio C.G.B. (L-Canavanina, Glicina e Azul de Bromotimol). Neste meio, cepas pertencentes aos sorotipos A e D são impossibilitadas de crescimento devido ao fato de serem sensíveis à canavanina. As cepas pertencentes aos sorotipos B e C são resistentes à canavanina, desenvolvendo-se no meio e ao fazerem uso da glicina alteram o pH do meio, tornando-o azul cobalto. Tabela 1. Cryptococcus neoformans/Cryptococcus gattii em aves comercializadas em pet-shops no município do Rio de Janeiro, RJ. Espécies aviárias Melopsittacus undulatus Serinus canaria Columba spp Taeniopygia guttata Lonchura domestica Nymphicus hollandicus Padda oryzivora Agapornis spp. Geopelia cuneata Neochmia ruficauda L. domestica + T. guttata castanotis C. gouldiae + N. ruficauda S. canaria + M. undulatus N. hollandicus + S. canaria Agapornis spp + N. hollandicus + M. unduculatus L. domestica + P. oryzivora M. undulatus + Agapornis spp. Agapornis spp + N. hollandicus + P. oryzivora L. domestica + S. canaria S. canaria + P. oryzivora + T. guttata castanotis + L. domestica N. hollandicus + Agapornis spp. P. oryzivora + Agapornis spp. P. oryzivora + S. canaria S. canaria + P. oryzivora + M. undulatus Total Número de amostras Coletadas Positivas 271 220 18 54 55 139 39 131 12 25 140 22 9 3 3 27 (9,96)a 14 (6,36) 4 (22,22) 1 (1,85) 3 (5,45) 2 (1,44) 2 (5,13) 1 (0,76) 1 (8,33) 0 (0) 8 (5,71) 7 (31,82) 2 (22,22) 1 (33,33) 2 (66,67) 2 6 4 1 (50,00) 1 (16,67) 0 (0) 3 15 1 (33,33) 1 (6,67) 46 10 25 16 4 (8,70) 1 (10,00) 1 (4,00) 0 (0) 1268 85 (6,70) Percentual de positividade. a RESULTADOS De um total de 1.268 amostras provenientes de 25 estabelecimentos no município do Rio e Janeiro, verificou-se que 85 destas amostras eram positivas, correspondente a 6,70% (Tabela 1). Destas 85 amostras obtidas, 28 mostraram-se inviáveis após algumas tentativas de recuperação. Desta forma, um número de 56 isolados foi submetido à sorogrupagem, resultando em 54 classificados como sorogrupo AD (C. neoformans) e dois isolados classificados como sorogrupo BC (C. gattii). DISCUSSÃO Os materiais utilizados no fundo da gaiola parecem apresentar alguma relação com o percentual de isolamento. Verificou-se que nos estabelecimentos que utilizavam jornal para esta função, um menor índice de isolamento foi detectado, quando comparados a outros que faziam uso de areia ou que deixavam as excretas caírem diretamente sobre a chapa de metal. Estes tipos de cobertura dos fundos das gaiolas são difíceis de limpar totalmente e, em consequência, os resíduos remanescentes propiciam a continuação da colonização por C. neoformans. 92 A maioria dos estabelecimentos visitados apresentava ventilação inadequada, o que favorece a dessecação das excretas. Por sua vez, este processo facilita a veiculação dos mesmos, particularmente Cryptococcus spp., uma vez que podem ser inalados pelos frequentadores da loja e principalmente pelos funcionários, que se encontram em contato constante com o ambiente contaminado. A importância destes aerossóis é afirmada por muitos autores, que defendem que a via de infecção deste agente ocorre principalmente pela inalação de leveduras dessecadas ou basidiósporos (Passoni et al. 1998). Quando dessecadas, suas cápsulas apresentam tamanho reduzido, porém, compatíveis com a deposição alveolar (Levitz 1991). A não exposição das gaiolas à luz solar foi observada na grande maioria dos estabelecimentos visitados. Este fator também apresenta relevância para a manutenção e desenvolvimento do microrganismo em foco, uma vez que esta levedura apresenta sensibilidade à luz solar e radiação ultravioleta. Fossem as gaiolas expostas ao sol, haveria elevação na temperatura das excretas, resultante desta exposição, o que culminaria também no controle do desenvolvimento destas leveduras, uma vez que são Rev. Bras. Med. Vet., 36(1):90-94, jan/mar 2014 Cryptococcus neoformans e C. gattii isolados de excretas de aves comercializadas em lojas de animais do município do Rio de Janeiro, RJ sensíveis a temperaturas acima de 39°C por tempo prolongado (Levitz 1991). Avaliando o número de isolados, individualmente por espécie aviária, verificamos um maior número de isolamentos a partir das excretas de Melopsittacus undulatus (periquito australiano). Este fato provavelmente pode ser explicado pela constatação de que esta ave sempre se encontra em maior número nos estabelecimentos. Seu custo é relativamente barato para aquisição e apresenta grande reprodutividade em cativeiro, o que faz com que seja de grande procura entre os compradores. Das 271 amostras de excretas oriundas desta espécie de pássaro, 24 foram positivas. Entre as aves de valor de mercado mais elevado e com maior atrativo popular, como é o caso da espécie Nymphicus hollandicus (calopsita), houve um baixo índice de isolamento. É também fato que os proprietários das lojas tendem a deixar as gaiolas destas aves sempre limpas, sem acúmulo de excretas e muitas vezes, a população por gaiola é bem menor, comparativamente às do periquito australiano. O isolamento a partir de excretas de canário foi de 6,6%. Este mesmo isolamento foi relatado por Swinne-Desgain (1975) e por Levitz (1991), sendo que Criseo et al (1995) relataram um percentual de 29,6% de isolamento, também em lojas de animais. Não há neste caso específico, uma explicação para essa grande diferença em percentuais, a não ser alguma influência climática ou as próprias condições de manutenção das aves. Muitas das amostras positivas foram provenientes de gaiolas com aves mistas. De um modo geral os comerciantes misturam as aves de menor valor comercial e que convivem pacificamente, sem, no entanto preocuparem-se com a higiene. Nestes casos, há limitação de espaço com grande volume de aves em gaiolas pequenas, com poucas exceções. O problema, então, é mais uma vez agravado pelo lado comercial. Das 85 amostras obtidas, 28 mostraram-se inviáveis após algumas tentativas de recuperação. Desta forma, um número de 56 isolados foi submetido à sorogrupagem, resultando em 54 classificados como sorogrupo AD e dois isolados classificados como sorogrupo BC. Estes dados estão condizentes com a literatura, onde o isolamento do sorogrupo AD proveniente de excretas aviárias é predominante quando comparado ao sorogrupo BC que é mais isolado de solos e ocos de árvore (Lazera et al. 2000, Filiu et al. 2002, Baroni et al. 2006). Rev. Bras. Med. Vet., 36(1):90-94, jan/mar 2014 A espécie C. neoformans sorotipo A é isolada mundialmente, e é a mais frequente em pacientes portadores de HIV (Mitchel & Perfect 1995). A espécie C. gattii, referente ao sorogrupo BC não depende de quadros de imunossupressão para causar a infecção. Na verdade, é até raramente encontrada em quadros envolvendo indivíduos imunossuprimidos. Mesmo nas áreas tropicais e subtropicais, na maioria dos casos, afeta principalmente indivíduos imunocompetentes (Pappalardo & Melhem 2004).A capacidade de infecção, no entanto, dá-se para indivíduos imunossuprimidos ou imunocompetentes. Neste trabalho, as duas amostras identificadas como C. gattii foram isoladas de um mesmo estabelecimento, localizado em Madureira, subúrbio da cidade, situado em construção totalmente fechada, sem contato com a luz solar e por onde circulam centenas de pessoas por dia. Neste mesmo local, há um variado comércio, desde serviços como lanchonetes ao comércio de gêneros alimentícios, produtos para chás (folhas, raízes, cascas de árvores), brinquedos e roupas. Esta é condição preocupante, considerando-se tratar de uma localização em um típico “Mercado popular”, pois há risco não somente para os frequentadores de pet-shops, mas também para os interessados em outros tipos de mercadorias. Relatos apontam C. neoformans e C. gattii como agentes etiológicos em infecções aviárias, gerando lesões cutâneas e em nível de trato respiratório superior (Malik et al. 2003). No entanto, a temperatura corporal das aves atinge a faixa entre 41,5 e 43°C, sendo muito elevada para favorecer o crescimento de Cryptococcus spp. (Littman & Borok. 1968). Por este motivo, as aves mantidas nestes ambientes comprovadamente positivos raramente apresentam quadros de criptococose. Não bastasse o fato do grande acúmulo de dejetos e a consequente multiplicação de células de Cryptococcus spp. dentro do estabelecimento, criando uma condição favorável à infecção, tanto dos trabalhadores locais como dos fregueses, esses últimos, muitas vezes, compram as aves juntamente com as gaiolas e as levam para casa no estado em que se encontram, carreando, nesse caso, o agente etiológico para dentro dos seus domicílios. CONCLUSÃO Excretas de várias aves, além das de pombos, são fontes de C. neoformans e mesmo de C. gattii e constatou-se que diferentes percentuais de isolamento podem ser verificados em função de diversos fatores, a maioria associados não só ao aglomerado de aves, 93 Juan Rojas Pereira et al. mas também à higiene inadequada das gaiolas. Ao se mostrar a importância destas novas fontes de infecção não só para animais como para o homem, em particular para frequentadores e funcionários de pet-shops, espera-se alertar aos profissionais de saúde, principalmente com relação ao risco que aves em cativeiro, sob as condições demonstradas nesta pesquisa, podem representar para a saúde pública. E com estes resultados, pretende-se chamar a atenção para a necessidade de um programa de sensibilização de todos os envolvidos nessa atividade, para que se possa minimizar o problema relacionado à possibilidade de infecção por estas espécies de fungos, encontrados nas fezes das aves. REFERÊNCIAS Baroni F.A., Paula C.R., Gonçalves da Silva E., Viani F.L., Rivera I.N.G., Barreto de Oliveira M.T. & Gambale W. Cryptococcus neoformans strains isolated from church towers in Rio de Janeiro City, RJ, Brazil. Rev. Inst. Med. Trop. São Paulo, 48:71-75, 2006. Chakrabarti A., Jatana M., Kumar P., Chata L., Kaushal A. & Padhye A.A. 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