USO DO SOLO-CIMENTO COM TIJOLO MATTONE EM CONSTRUÇÕES DE ESTABELECIMENTOS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE. Alvino Galdino Xavier (1) Arquiteto e Urbanista graduado pelo Centro Universitário de João Pessoa – UNIPE. [email protected] Sheila Azevedo Freire Arquiteta e Urbanista pela Universidade Federal da Paraíba -UFPB; Mestre em Engenharia Urbana pela Universidade Federal da Paraíba –UFPB, Professora do Curso de Arquitetura e Urbanismo do UNIPE. sheilafreire @hotmail.com. Maria Ângela Pereira Xavier Engenheira Civil pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB; Mestre em Engenharia de Estruturas pela Escola de Engenharia de São Carlos – USP; Doutora em Engenharia de Estruturas pela Escola de Engenharia de São Carlos – USP; Professora do Curso de Arquitetura e Urbanismo do UNIPE, e Engenharia Ambiental da UNIPBFPB. [email protected] (1) Endereço: Rua Pedro Firmino 51, Sala 04, Bairro Brasília, CEP 58700-071, Patos, Paraíba, e-mail:[email protected], 0xx83- 8712-2260. USO DO SOLO-CIMENTO COM TIJOLO MATTONE EM CONSTRUÇÕES DE ESTABELECIMENTOS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE. INTRODUÇÃO A problemática do consumo de energia é mundial, e no Brasil o desperdício e o mau aproveitamento de nossas fontes energéticas já apontam para uma escassez caso não se reestruture o modelo atual. No que diz respeito aos materiais de construção e as técnicas construtivas, existem algumas alternativas para a redução do consumo de energia, embora ainda muito tímida. O presente trabalho discute a aplicação da técnica de solo-cimento conhecida como BTC - Bloco de Terra Compactado, do tipo Mattone, nos espaços assistenciais de saúde, considerando as recomendações do Ministério da Saúde sobre o controle de infecção hospitalar. Esta discussão tem com base um estudo de viabilidade de técnicas construtivas, conduzido pelo Centro Universitário de João Pessoa - UNIPE, onde foram realizados experimentos em edificações de uso educacional. Em seguida foram feitas avaliações sobre a aplicabilidade desta técnica em EASEstabelecimento Assistencial de Saúde. Nesta pesquisa pode-se constatar que, embora a tradição de se construir com terra tenha caído em desuso em quase todas as áreas urbanas da maioria dos países, inúmeras são as vantagens oferecidas pelo emprego deste material na construção, tais como: disponibilidade da terra em grandes quantidades; baixo custo para escavação e transporte, podendo utilizar a terra do próprio canteiro de obras; não necessitar de mão-de-obra qualificada; desempenho térmico favorável para diferentes tipos de climas; baixa utilização de energia elétrica ou fóssil, para o processamento manual do solo não estabilizado, o solo, quando não estabilizado, permite reutilização ilimitada, possibilitando a reciclagem do material. Apesar destas vantagens, as construções com terra sofrem constantemente o preconceito da aceitação por parte das pessoas, as quais enxergam este material como sinônimo de pobreza e de baixa durabilidade. Dessa forma esta pesquisa entende que sua aplicação em EAS concorreria para a disseminação desta técnica, contribuindo com ganhos nos âmbitos econômico, ambiental e social. MATERIAIS E MÉTODOS O uso da terra como material de construção remonta de épocas quando o homem sentiu a necessidade de construir seu abrigo ao invés de usar apenas aqueles oferecidos pela natureza. Existem evidências de que o uso da terra na construção data do final do Período Neolítico. A terra é um das matérias mais abundantes no planeta. Assim sendo, possui um excelente potencial para ser utilizado como base para a construção, apresentando ainda as vantagens de sua utilização não necessitar de processos de transformação dispendiosa em termos energéticos, apresentar um bom comportamento térmico e acústico, ser reutilizável e reciclável, ser atóxico e incombustível. As construções podem ser feitas completas ou parcialmente de terra, dependendo fundamentalmente da sua localização, do clima, dos recursos disponíveis, do custo e do uso que se fará do mesmo, podendo as paredes ser erguidas de forma monolítica ou não, utilizando-se elementos construtivos na forma de tijolos, blocos ou painéis. Em todos os recantos do mundo, a construção de terra sempre esteve presente, passando pelas devidas adaptações técnicas e culturais para atender às necessidades do homem e de seu ambiente construído. O conhecimento e habilidade necessários para construir com terra foram-se transmitindo gradativamente para diversas regiões. No Brasil, onde as construções com terra constituem a grande maioria da nossa arquitetura colonial, o processo construtivo foi trazido seguramente pelos portugueses e africanos, uma vez que não se tem notícias de que o índio tivesse empregado a terra como material de construção. Para a construção com terra, é preciso conjugar duas condições básicas: a existência da matéria-prima em abundância e o conhecimento adequado das técnicas de construção. A terra crua e o solo-cimento utilizam como matéria-prima bruta a própria terra, necessitando apenas da energia mecânica humana para a sua fabricação, ou seja, moldagem. Além de poderem ser utilizadas com facilidade por indivíduos de menor poder econômico, é excelente agente de integração entre comunidades carentes, seja em nível de formação de mão-de-obra especializada, seja em nível de implementação de programas de moradias populares construídas pela comunidade, o que acarreta ganhos nos aspectos social, econômico e ambiental. Ressurge, atualmente, o interesse pelas técnicas que utilizam a terra crua como matéria-prima, nos países ocidentais, visto que no oriente ainda é tido como técnica atual e moderna. As principais características deste tipo de construção são: a possibilidade de ter vários pavimentos; receber diversos tipos de acabamento; execução das instalações elétricas e hidráulicas do mesmo modo que em construções de alvenaria comum; e apresentar excelente conforto termo/acústico. Além destas vantagens, ainda temos a facilidade da transmissão das técnicas que utilizam a terra crua, além do baixo custo econômico para o desenvolvimento de construções de excelentes qualidades térmicas, acústica e plásticas. Define-se solo-cimento como o produto endurecido resultante da cura de uma mistura homogênea compactada de solo, cimento e água e eventualmente aditivos, em proporções estabelecidas em laboratório. As primeiras experiências brasileiras de utilização de solo-cimento na habitação foram realizadas pela ABCP - Associação Brasileira de Cimento Portland, na década de 40, onde construíram uma casa de bombas com aproximadamente 42 m² em Santarém (PA), casas residenciais em Petrópolis (RJ) e um hospital com 10.800 m² em Manaus (AM); sendo esta a primeira grande obra com paredes monolíticas de solo-cimento. O bom estado de conservação em que essas edificações encontram-se hoje atesta claramente a qualidade do material e da técnica construtiva. A partir daí, o uso do solo-cimento foi consideravelmente ampliado por causa das vantagens técnicas e econômicas que o material oferece. As principais razões que afetam a durabilidade dessas edificações são: fissuras causadas por retração e expansão do material, provenientes de sucessivos ciclos de umedecimento e secagem; perda de resistência à compressão por causa de chuvas e enchentes; baixa resistência mecânica tornando estas edificações suscetíveis a sismos; baixa resistência à absorção e impacto. Dado a estas limitações, as construções de terra ainda apresentam pequena aceitação institucional na maioria dos países e provavelmente seja essa a razão pela qual não é freqüente a existência de normas de produção destes materiais, bem como códigos para a construção com o emprego deste material. O solo é o componente mais abundante no solo-cimento. O cimento, propriamente, entra em uma quantidade que fica, aproximadamente, entre 6% e 10% em peso, o suficiente apenas para estabilizar e conferir propriedades de resistência desejadas ao produto final. Praticamente qualquer tipo de solo pode ser utilizado. Entretanto, os solos mais apropriados são os que possuem teor de areia entre 45% e 50%. Somente os que contêm matéria orgânica em sua composição não podem ser utilizados. Eles só precisam ser umedecidos, para que se tornem resistentes. Além da grande resistência, outra vantagem desses tijolos ou blocos é o seu excelente aspecto. A produção de tijolos de terra prensada consiste das seguintes etapas: Escavação, pulverização, peneiramento, homogeneização ou mistura, estabilização, compactação da terra, e secagem e cura. Para a produção de pequenos volumes de tijolos é usada a prensa manual, de baixo custo e com produção da ordem de 1.500 tijolos maciços por dia. Com os tijolos prensados tipo Mattone e o devido controle de qualidade, é possível fazer construções de até três pavimentos com as paredes tendo função estrutural. Figura 01: Solo sendo estabilizado, detalhe da forma para confecção de BTC, Solo preenchendo a forma e Tijolos Mattone. Fonte: Alvino Galdino, 2009. PROCESSO CONSTRUTIVO COM TIJOLO MATTONE Fundações. No processo construtivo adotado, a fundação é composta de pedras. Nas paredes internas, caso não se disponha de pedra suficiente, pode-se fazer uma vala de 30 cm de largura e profundidade conforme o solo local e preencher a vala com a mesma mistura de terra-cimento com a qual foram fabricados os tijolos, compactando-a firmemente. As pedras da fundação, de preferência, devem ser postas com argamassa de cimento, em edificações maiores. Uma camada de concreto sobre as pedras, de 20 cm de largura e 7 a 8 cm de espessura, e um ferro de 6,3 mm, faz a amarração pela parte superior das pedras. A face superior desta cinta deve estar no nível do piso. Em seguida, por sobre esta cinta, corre-se uma primeira camada de concreto. Aí deve lembrar-se da posição das portas, onde esta camada é interrompida. Ela deve ser de 5 a 7 cm de espessura e de 16 a18 cm de largura nas paredes internas, que passa a 15 a 16 cm nas paredes externas. O objetivo é deixar um rodapé com 1 a 2 cm sacando do plano da parede, de forma a protegê-la da ação de choques de vassouras e de água quando da lavagem dos ambientes. Vedações Em seguida, a primeira fiada de tijolos é assentada com argamassa de cimento-areia, obedecendo à linha de referência. Isto porque a argamassa de cimento tem melhor aderência com o concreto sobre a qual a fiada de tijolos vai estar assente. Sobre cada tijolo, põe-se o nível nas duas direções, corrigindo-se os possíveis desníveis com um martelo de borracha ou pancadas sobre um pedaço de madeira que se apóia no tijolo. As saliências dos blocos de encaixe permitem pequenos movimentos para as correções de nível, linearidade e verticalidade. O assentamento das demais camadas é feito com a própria terra finamente peneirada e misturada com cerca de 10 % de cimento e muita água, de forma a permitir uma argamassa bem fluida, o que conduz a uma junta de poucos milímetros. Defasam-se as juntas de forma que um tijolo atraca outros dois. O controle do nível deve existir ao longo de todo o processo. A linearidade das paredes é controlada pela linha que corre paralelamente a elas e a verticalidade por régua e nível. Nos cantos, passa-se o esquadro em cada tijolo assentado. No topo da parede, que corresponde à altura das portas e janelas, passa-se uma cinta de concreto, no caso das casas populares, com apenas um ferro de 6.3mm. Esta passa por onde há parede, amarrando toda a construção. As saliências superiores do tijolo promovem uma excelente integração da cinta com a parede. Sobre as portas e janelas, para facilitar, podem-se usar elementos préfabricados, reforçados com aço ou mesmo com materiais vegetais como o bambu ou outro produto local. Deixando-se o devido comprimento de ancoragem, consegue-se uma boa ligação com o restante das cintas. Coberta Por sobre a cinta vem o madeiramento e cobertura. Caso se queira um maior pé direito, pode-se sobre a cinta colocar mais fiadas sobre ela. Recomenda-se que o assentamento do tijolo no concreto seja feita com argamassa cimento-areia. No telhado, deve-se deixar um significativo beiral, pelo menos meio metro, de forma a proteger ao máximo a parede da ação das chuvas. Acabamentos e Instalações Um acabamento final das paredes é feito preenchendo-se os pequenos orifícios que podem ocorrer entre fiadas com uma pasta de terra peneirada misturada com cimento e água. Procedendo-se a uma limpeza correta, nenhum revestimento é necessário. O aspecto final dos muros resulta muito agradável, sendo a pintura uma opção do morador. Para baratear ao máximo a construção, inclusive os marcos de porta, podem ser feitos em argamassa. Em todas as fases, um acompanhamento técnico é conveniente. Um experimento foi realizado na cidade de Santa Rita-Paraiba, onde foram construiudas salas de aulas em um centro comunitario denominado Casa dos Sonhos, utilizando-se a aplicacao e a transferencia de tecnologia de construcao com tijolo Mattone com a comunidade local, fazendo com que a populacao verificasse a viabilidade e a flexibilidade desta tecnica construtiva. Figura 02: Salas de aula do Centro Comunitário Casa dos Sonhos em Santa Rita, Paraíba. Fonte: Alvino Galdino, 2009. RESULTADOS A compreensão dos conhecimentos quanto aos mecanismos de transmissão das doenças, principalmente no que diz respeito ao controle das infecções tem se caracterizado por grandes mudanças nos últimos anos, no intuito de “desmistificar a infecção hospitalar. A partir dos novos conceitos em construção, grande parte das infecções hospitalares provem da própria flora endógena do paciente, da microbiótica humana. (KARMAN & FIORENTIN, 1995). Esses conhecimentos possibilitaram uma melhor compreensão do papel do ambiente físico no controle da infecção hospitalar: “Os projetos de arquitetura dos estabelecimentos assistenciais de saúde podem auxiliar no controle de infecção hospitalar, mas o atual estado da arte das ciências medicas e biológicas demonstra que a contribuição do meio ambiente inanimado para a aquisição e difusão de infecções hospitalares e insignificante, embora se registrem casos de reservatórios de patógenos nas superfícies ou veiculadas pelo ar.” (GUTIERREZ, 1996, p.2). O resultado da utilização do tijolo tipo Mattone na construção das salas de aula do Centro Comunitário Casa dos Sonhos demonstrou ser possível sua aplicação em Estabelecimentos Assistenciais de Saúde, visto que, este material apresenta boa resistência e perfeita impermeabilidade, resistindo ao desgaste do tempo e à umidade o que facilita a sua higienização e conservação, além de gerar uma edificação com melhor conforto térmico, no ponto que regula o excesso ou a falta de umidade no ambiente. As variáveis termoambientais tem um papel fundamental na contaminação do ar, podendo contribuir para retenção/aumento ou a dispersão dos poluentes no interior do ambiente, influenciando diretamente a qualidade do ar. Especificamente em ambientes de saúde, é necessário o controle das condições termohigrometricas para, alem de proporcionar condições gerais de conforto para os usuários dos serviços de saúde, manter condições termohigrometricas ambientais favoráveis a tratamentos específicos e inibir a proliferação de microrganismos, favorecida por umidade alta, e propiciar condições especificas de temperatura e/ou umidade para operação de equipamentos especiais. (FREIRE, 2005) A proposta do Centro de Saúde da Família possui uma área de 950 m2, com tipologia horizontal, estruturada em cinco setores (atendimento medico-enfermagem,procedimentos,serviços, administrativo e apoio). Os ambientes internos são revestidos de acordo com as recomendações normativas para ambientes de saúde, com a utilização de reboco, aplicação de massa acrílica e pintura e em áreas molhadas a aplicação de cerâmica diretamente sobre a parede de solo-cimento. As instalações elétricas são embutidas nas paredes, na fase de levantamento das mesmas, de forma a evitar a perfuração da alvenaria após seu enrijecimento. Os ambientes que necessitam de instalações hidráulicas, por necessitar de cuidados especiais em função da técnica construtiva. estão agrupados. As alvenarias externas utilizam o tijolo sem reboco, apenas com a utilização da cal nos volumes mais altos contrastando com a cor natural do tijolo. Para as paredes que não estão protegidas por beirais ou marquises, utilizar-se-á no preparo do tijolo a proporção de 10% de cimento e quando da sua edificação, a utilização nas paredes externas de impermeabilizante natural resultante da cura da babosa- Aloe Vera -em água após sete dias de cura, com manutenção desta anualmente. CONCLUSAO As possibilidades de aplicação do solo-cimento nas edificações estão longe de serem esgotadas. A utilização deste material de construção vem suprir boa parte das necessidades de instalações de baixo custo e de baixo impacto ambiental, em grande parte das construções rurais e urbanas brasileiras. Essa técnica é de fácil assimilação por qualquer pessoa, utiliza somente materiais locais, além de não necessitar de energia para a sua produção. Com a utilização de Tijolos Matonne de solo-cimento, estamos diminuindo o consumo de diversos produtos industrializados, que necessitam de grandes queimas de energia para a sua fabricação. Com o quadro de degradação ambiental atual, com tendências ao agravamento, as técnicas que utilizam menores consumos de energia em sua fabricação e aplicação, surgem como possibilidades de sustentabilidade para a construção civil. Uma das grandes metas mundiais deste século é atender aos conceitos de sustentabilidade, satisfazer as necessidades básicas do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações em satisfazerem suas próprias necessidades, os quais incluem a reciclagem e reutilização dos recursos naturais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS 1. BARBOSA, Normando Perazzo. Construir com terra crua, tradição e modernidade. Professor titular do DTCC, CT/UFPB. 2. GUTIERREZ, W. (Coord.). Tema 4: O edifício e as condições de controle de infecções hospitalares. In JORNADA MULTIHOSPITALAR, 1., 1996, Londrina, 1996. 3. KARMAN, J.,FIORENTINI, D. M., LIMA, V., H., K. A arquitetura na prevenção de infecção 4. FREIRE, Sheila Azevedo. Inter-relações entre a qualidade do ar externo e interno em espaços hospitalares: O Complexo de Doenças Infecto-contagiosas Dr. Clementino Fraga em João Pessoa–Paraíba, Dissertação de Mestrado PPGEU/UFPB,João Pessoa, 2005. 5. XAVIER, Alvino Galdino. Estudo da viabilidade de materiais e técnicas construtivas para o projeto arquitetônico - o caso da Terra Crua. Anais do IX Encontro de Iniciação Científica do UNIPÊ. Novembro de 2005, João Pessoa –Paraíba. XAVIER, Maria Ângela Perreira E ACIOLY Carolina Vidal.