Fotos: Fabiana Veloso inovações tecnológicas Casa Ecoeficiente Construída no Senai de Campina Grande, ela apresenta tecnologias de autossuficência energética para a construção civil A casa é uma vitrine permanente de tecnologias sustentáveis para a construção [ POR ALINNE SIMÕES ] Há quase cinco anos um grupo de pesquisadores e arquitetos, em parceria com várias empresas locais, construiu no Centro de Inovação e Tecnologia Industrial do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) em Campina Grande, o Laboratório de Energias - Casa Ecoeficiente que apresenta tecnologias de autossuficiência energética para a construção civil. A unidade possui dependências usuais de uma residência de padrão médio, constituindo-se em um ambiente tecnológico e didático para visitação, cursos, pesquisas e inovações. A ideia inicial da Casa Ecoeficiente era disponibilizar aos empresários e à comunidade a possibilidade de aplicação e utilização de fontes de energias renováveis: solar e eólica. Mas, depois foram incorporadas outras tecnologias alternativas que não estavam originalmente contempladas, como: tijolos ecológicos e paredes monolíticas de solo-cimento, painéis térmicos com placas de isopor e de resíduos sólidos, telhas de fibras vegetais, piso usando madeira de demolição e resíduos industriais. São processos diferentes de se construir, de forma que a casa acabou tomando uma dimensão maior. Uma Casa Ecoeficiente “é uma construção que interage bem com o meio ambiente e não traz efeitos negativos”, revela Newmark Heiner, engenheiro elétrico e diretor do Centro de Inovação e Tecnologia Industrial do Senai-PB, que está convicto de que a unidade de Campina Grande é única no país. 18 REVISTA | FE FEVEREIRO/MARÇO 2011 “São vários tipos de atividades que acontecem num único ambiente de forma que a casa ecológica do Senai da Paraíba, é única no país”. NEWMARK HEINER “Aqui nós temos tecnologias alternativas da construção civil, fontes renováveis de energia, reuso de água, treinamentos, cursos de formação profissional e de capacitação nas áreas de energias renováveis, desenvolvemos projetos com empresa local para uso de dessalinizador solar, com a prefeitura para o semáforo solar, com Federação das Indústrias do Estado da Paraíba, cuja sede tem poste mantido com energia solar. São vários tipos de atividades que acontecem num único ambiente, de forma que a casa ecológica do Senai da Paraíba é única no país”, explica. Em relação ao projeto arquitetônico da casa, Newmark conta que foi feito um estudo da posição do sol e ventilação, fazendo com que ela fosse posicionada de forma a aproveitar o máximo da ventilação e da luminosidade naturais. Não precisando, portanto, ligar ar condicionado e a luz artificial é utilizada apenas no final da tarde-noite. A energia elétrica vem de um sistema híbrido, formado por painéis fotovoltaicos e uma turbina eólica, que abastece toda a casa. Há ainda a estação de tratamento de águas servidas para reuso em pias, catavento para captação de água do poço, sistema solar para aquecimento de água e o dessalinizador. Toda parte hidráulica e elétrica é exposta. “Tanto a tecnologia dos painéis térmicos quanto a tecnologia solocimento segundo os construtores que na época nos prestaram consultoria tem uma economia em torno de 30% no processo completo da construção de uma obra”, revela Newmark. Como parte da pesquisa, o engenheiro mecânico, Jonatas Gomes, desenvolveu uma máquina sofisticada de prensa que imprime textura nos tijolos e acelera o processo de produção, porque elimina a etapa de texturizar uma parede quando se faz a pintura. O próprio tijolo é preparado com uma lama originada no processo de corte do granito (lama abrasiva), com dimensão de 240mm x 120mm x 60mm, e pesa 3 kg, sendo um produto ecológico novo que aproveita um resíduo de processo industrial. Laboratórios de eficiência energética A Casa tem uma sala de visita que se transformou em um auditório para palestras e exposições. Os quartos são laboratórios para realização de cursos e desenvolvimento de experimentos de pesquisa. Na cozinha e área de serviço funcionam laboratórios de eficiência energética equipados com eletrodomésticos usuais. O banheiro serve como demonstrativo do aquecedor solar e de reuso de águas, com canos diferentes para água fria e a quente. O escritório é uma sala de controle para monitoramento de sistemas e despensa abrigo para o banco de baterias. Jonatas Gomes desenvolveu programa que permite ver, em três dimensões, a textura do tijolo ecológico Tecnologias aplicadas Tijolo Solo-Cimento (rejeito de mármore) Traço da fabricação – 5:4:1 5: Barro (massame) 4: Rejeito de Mármore (lama abrasiva) 1: Cimento 225 – 250 ml: Água Comparativo de Custos (milheiro) Tijolo solo-cimento: R$ 122,50 Tijolo convencional: R$ 380,00 Comparativo de Custos (1m² de parede) Tijolo solo-cimento: R$ 6,89 Tijolo convencional: R$ 10,61 Para levantar uma parede 1m² Tijolo solo-cimento: 57 tijolos Tijolo convencional: 27 tijolos Painéis Térmicos – Algumas paredes foram levantadas utilizando a tecnologia que consiste em montar painéis com folha de isopor revestida por duas camadas de microconcreto. A função do isopor é isolante térmico e acústico. Em uma das paredes, por experimento, substituiu-se o isopor por material reciclado, o qual se tornou uma possibilidade que, aperfeiçoada, pode ser usada também. Tijolo Solo-Cimento (ecológico) – A maior parte da casa foi construída utilizando essa tecnologia, que é simples e pode ser feita até mesmo no canteiro de obras. Para fazer o tijolo utilizase barro (massame) e uma pequena quantidade de cimento. O material é misturado, umedecido e prensado na máquina que dá forma aos tijolos com furos que servem para passar a tubulação hidráulica, eletrodutos ou ferragens. Parede Monolítica – É do mesmo material do tijolo ecológico, mas ao invés de jogar na prensa pra fazer o tijolo, coloca o material em formas e vai compactando a cada 20 centímetros. Telhado Ecológico – A coberta tem telhas produzidas com resíduos de fibras vegetais. Retraços da indústria e madeira de demolição – Nos pisos da casa foram utilizados pedaços de granito e pedras brutas, como também, foi reaproveitado madeiras de demolição. Geração de Energia – A energia elétrica que alimenta é fornecida por um sistema híbrido formado por 20 painéis fotovoltaicos, com potência de mil watts, e uma turbina eólica, com a mesma potência. A energia gerada é armazenada em baterias. Estação de tratamento de água – Há uma mini-estação de tratamento de água, na qual a água das pias (do banheiro e cozinha), da máquina de lavar é direcionada para dois tanques. No primeiro reservatório ocorre a decantação e, no segundo, há um processo de filtragem (areia, brita e carvão). Em seguida é adicionado o cloro. A água vai para um deposito, sendo bombeada para ser utilizada no jardim e descarga de banheiro. REVISTA | www.revistaedificar.com.br 19