CENTRO HISTÓRICO EMBRAER
Entrevista: Luiz Carlos Aguiar
São José dos Campos – SP
Março de 2007
Privatização
Com relação à questão governamental, a Embraer, no seu início,
depois de privatizada, sem sombra de dúvidas, precisou de um apoio
governamental para fomentar suas atividades de custeio e, também,
porque não falar, do desenvolvimento de novos programas. O apoio
dos sócios não era suficiente na época, apesar de depois da compra
ter sido feito um apoio, um aporte de capital vultoso, continuava tendo
uma necessidade de apoio de crédito da área governamental. E, nesse
sentido, eu lembro muito bem da atividade do nosso ex-conselheiro
que na época representava o Banco do Brasil, banco de investimentos,
que era sócio e participava do conselho de administração, e ex-diretor
da área internacional do Banco do Brasil, João Stefanon. A participação
dessa pessoa e a influência dele junto a nós, que na época
trabalhávamos no Banco do Brasil, no sentido de acreditar no projeto
da Embraer foi essencial para que houvesse esse apoio do Banco do
Brasil. No campo, na área do BNDES, eu, na época no conselho, nós já
tínhamos uma situação bastante diferente do que há 10, 11 anos
atrás. A Embraer já tinha nos seus produtos crédito natural do
mercado, ou seja, grande parte das operações, financiamento de
vendas,
já
podiam
ser
financiadas
através
do
mercado,
não
necessariamente só através de apoio governamental, mas mesmo
assim em determinadas campanhas, onde o papel de uma agência de
créditos de exportação era essencial para que a gente pudesse ganhar
as campanhas, nós tivemos um trabalho forte também junto às
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administrações do BNDES, das várias administrações que passaram
durante aquela época e esse fator foi, é um fator, continua sendo e foi
mais no passado, essencial e fundamental para o sucesso que a
Embraer conseguiu.
Aviação de Defesa e Segurança
Eu me sinto um privilegiado quando fui convidado pelo diretorpresidente Maurício Botelho para assumir o desafio da área de defesa
e governo da Embraer. Uma área que se diferencia das demais, ela é
uma área que você trabalha, não com produtos seriados, é uma área
que você não trabalha com aprovações de planos de negócios – até o
momento foi assim – planos de negócios antecipadamente, é uma área
que você trabalha com nichos de produtos específicos e, grande parte
desses produtos, para não dizer a totalidade deles, foi desenvolvida,
foram desenvolvidos esses produtos, pelo nosso contrato com a Força
Aérea Brasileira e, aí, que eu gostaria de enfatizar um pouco o futuro
da nossa área de defesa e governo da Embraer. Nós temos um esforço
nesses últimos 14 meses - onde eu estou à frente, liderando essa área
de negócios - de uma retomada forte do nosso relacionamento com a
Força Aérea Brasileira. Tivemos durante esses 14 meses um processo
de interação constante com o alto comando da Força Aérea e, por que
isso?, porque através desses contratos, através dessa relação – que é
uma
relação
recíproca
–
porque
nós
conseguimos
atender
às
necessidades operacionais da Força Aérea Brasileira que são das mais
diversas. Ao mesmo tempo, nós conseguimos, através dos contratos,
gerar novos produtos para a Embraer e novos produtos para o mundo.
Nós temos experiência com relação ao Projeto SIVAM, que foi um
contrato feito para a proteção da Amazônia, onde nós fomos
responsáveis pela produção das plataformas em que os radares e
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sensores foram colocados – isso para fazer a proteção dessa área
verde no Brasil –, e, com isso, é que nos permitiu alavancar a
exportação para outros dois países com um conjunto de produtos,
muito semelhantes a esse. Outro exemplo é o ALX, quer dizer, o
projeto nosso com a FAB de 99 aeronaves, do Super Tucano
(EMBRAER 314 Super Tucano) para FAB permitiu agora, recentemente,
nós ganharmos um contrato de exportação de 235 milhões de dólares
para
Colômbia
e
outros
programas
que
estamos
em fase
de
concorrência, de finalização da concorrência e devem ocorrer outros
projetos bem sucedidos como esse. Então, em suma, a retomada de
contratos com a Força Aérea Brasileira, que atenda ao interesse da
Força Aérea para proteção e defesa do nosso território em conjunto
com
o
desenvolvimento
de
novos
produtos,
com
certeza,
vai
proporcionar um ganho para a gente em termos de exportação, de
novos contratos e receitas para a Embraer. Outro ponto essencial,
histórico para a área de defesa da Embraer com relação também à
FAB, é a tecnologia. Nós aprendemos muito nos contratos da área de
defesa. Eu diria para você que, hoje, o fato de nós fazermos aviões
como o 170 (EMBRAER 170), 190 (EMBRAER 190) – que a gente pode
considerar que são aviões, aeronaves standard em termos de aviação
–, não seria possível chegar nesse nível tecnológico se não tivesse sido
feito junto com a Força Aérea Brasileira, por exemplo, o Programa
AMX, em termos de eletrônica embarcada e até mesmo em termos de
desenho e desenvolvimento de asas das aeronaves, esse programa
com os italianos nos ensinou muita coisa. Assim como também com o
próprio Programa SIVAM, no próprio Programa ALX, nós tivemos
muitas tecnologias incorporadas pela área comercial a partir desses
programas militares. São coisas intangíveis, são coisas que não
aparecem no nosso balanço de uma maneira direta, mas são coisas
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que aparecem sim, nas receitas da Embraer, de uma maneira indireta
porque proporciona um nível de aprendizado, um nível de expertise,
de ganho de expertise tecnológico, fantástico. E é nessa direção que a
gente continua indo. Nós temos certeza que, com essa relação
aprimorada, com a nossa aproximação, com nossos ouvidos abertos
para escutar e entender as necessidades da Força Aérea e tentar
responder,
responder
efetivamente
pode
ativamente,
fazer,
pode
com
oferecer.
aquilo
que
Além
disso,
a
gente
de
uma
sensibilidade da Força Aérea Brasileira, do seu alto comando, da
necessidade de estimular a indústria nacional nessa direção – do
desenvolvimento da Indústria Aeronáutica no Brasil – aliás, como foi o
projeto da própria Embraer, do ITA, do CTA que data de 50 anos atrás.
Nessa direção, nós todos temos a ganhar: a Força Área Brasileira
ganha, a Empresa ganha e a sociedade brasileira ganha em termos de
ter, realmente, uma produção de alto valor agregado, de alto valor
tecnológico para o país.
Embraer e Futuro
Do ponto de vista da gestão, é uma gestão muito focada, muito
profissional, valores e atitudes que se destacam. Eu tive experiência
como diretor da Previ, a Previ tem inúmeros investimentos, em várias
empresas brasileiras e eu pude, de certa forma, conviver um pouco
com outras realidades, em empresas diferentes e, sinceramente,
nunca
vi
um
caso
como
a
Embraer,
de
compromisso,
de
comprometimento da administração – que na realidade essa liderança,
com esse comprometimento, ela se espalha por toda a Empresa –,
quer dizer, o exemplo da liderança é uma coisa importante e isso se
faz com muita força na Embraer. Eu acho que o nosso dia-dia é um
dia-dia de atitudes pró-ativas, de atitudes de ir para cima, de ver os
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problemas, de atacar os problemas, vendo o que exatamente é o
certo, o que deve ser feito para a gente resolver as questões que nós
temos no nosso dia-dia. Essas três coisas: atitude pró-ativa, o
empreendedorismo da Embraer e, mais, essa história de sucesso, de
conhecimento tecnológico, científico na tecnologia aeronáutica, esses
três pilares, com certeza determinam aonde a gente chegou hoje. E
pra a gente olhar para o futuro, basta você olhar como você está hoje
e conseguir implementar esse processo nas novas pessoas que estão
entrando para trabalhar conosco, esse é o grande desafio: olhar as
pessoas que não tem esse conhecimento, que não tem uma ligação
com esse passado, que vem de outras experiências ou até estão
entrando no mercado de trabalho agora, e que a gente consiga, de
alguma
forma,
passar
para
essas
pessoas,
que
elas
sintam
trabalhando aqui na Embraer a necessidade de ter essa atitude e de
praticar
esses
valores
de
transparência,
de
sinceridade,
de
objetividade, de foco nos nossos clientes e na solução dos problemas
dos nossos clientes. Eu acho que nós, fazendo essa gestão das
pessoas, integrando essas pessoas, não simplesmente com um crachá
com um número, mas integrando do ponto de vista do espírito delas,
da atividade que elas vão exercer aqui, o amor que elas passem a ter
pela Empresa, nós vamos conseguir realizar outros desafios que vem
daqui por diante que, sem dúvida nenhuma, só aumentam, está certo?
Quer dizer, a gente não pode ficar parando achando que nós temos
sucesso, porque muitas empresas ficaram achando que tinham
sucesso, que estavam muito bem, que eram líderes nos seus
mercados e não existem mais. Então, é constante o pensamento
estratégico, é constante o pensamento que a gente não pode ficar
parado achando que estamos numa situação boa e, portanto, não
precisamos pensar no futuro. Ao contrário, esse estado que a gente
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conseguiu chegar deve estimular a todos nós para que a gente pense
no futuro com a mesma atitude que estamos fazendo hoje.
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Luiz Carlos Aguiar - Centro Histórico Embraer