A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS COMO RECURSO PEDAGÓGICO NA CONSTRUÇÃO DOS CONCEITOS MATEMÁTICOS NA EDUCAÇÃO – NOS ANOS INICIAIS1 Nilza Regina dos SANTOS 2 Ruth Izumi SETOGUTI3 Valdirene Maria dos SANTOS4 RESUMO O presente estudo é de cunho bibliográfico tendo por objetivo analisar jogos, brinquedos e brincadeiras na educação, como estes podem contribuir para o ensinoaprendizagem e são vistos do ponto de vista pedagógico. A pesquisa se efetiva utilizando vários autores e sua definições e pareceres sobre como professores e alunos mediam novas formas de ensinar e aprender, baseadas no lúdico. Palavra-chave: Jogos. Ensino-aprendizagem. Matemática. INTRODUÇÃO A matemática tem sido vista, muitas vezes, pelos alunos como uma disciplina aterrorizante, muito rigorosa e abstrata, não tendo sentido prático para sua vida. No entanto a matemática se faz presente em todas as situações do cotidiano tanto dentro quanto fora do espaço escolar. Provavelmente o terror atribuído a essa disciplina vem da forma como ela é aplicada, sem um significado, um sentido que leve o aluno a perceber que mesmo não estando de posse dos conceitos que a envolve formalmente a matemática é inerente à sua vida. O conhecimento significativo, não coercivo, aplicado de forma lúdica e reflexiva, pode fazer com que o aluno se motive, assim, se apropriando dos conceitos necessários de qualquer disciplina, de maneira especial da matemática, 1 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Pedagogia, da Universidade Estadual de Maringá – Campus Regional de Cianorte, como requisito para obtenção do título de Licenciada em Pedagogia. 2 Acadêmica do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Maringá – UEM. 3 Orientador – Docente do Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Estadual de Maringá – UEM. 4 Co-orientador – Docente do departamento de Matemática da Universidade Estadual de Maringá – UEM. 2 por isso é importante o uso do lúdico e dos jogos como recurso pedagógico dentro da sala de aula para os anos iniciais. Muitos são os pesquisadores, como: Antunes (1998, 2003, 2006), Kishimoto (1994, 2001), Miranda (2001) entre outros, que destacam o jogo como um elemento importante para que o ser humano se aproprie de conceitos básicos importantes para sua aprendizagem e desenvolvimento, com um cunho teórico a presente pesquisa foi desenvolvida por meio de fontes bibliográficas, acerca da construção de conhecimento matemático por meio dos jogos. O jogo como um recurso pedagógico contribui para que o sujeito colocado diante de situações lúdicas se aproprie das estruturas lógicas da brincadeira e também aprenda as estruturas matemáticas presentes. Historicamente o jogo vem ganhando espaço no processo de ensino aprendizagem como recurso facilitador na aquisição dos conceitos matemáticos. Este artigo se propõe a esclarecer questões pertinentes às definições de jogos, brinquedos e brincadeira, que podem ser aplicadas à realidade escolar, e buscando demonstrar a importância do jogo como mais que um simples recurso, mas, uma atividade de grande relevância para o ensino-aprendizagem na disciplina de matemática, em que de acordo com Sá (2010, p. 2) A proposta é a de instigar o aprender da matemática não como um ato mecânico de „decorar e aplicar fórmulas‟, mas compreender que „a matemática‟ está na vida, muito antes de ser apreendida ou apresentada no espaço escolarizado. Este trabalho em vários tópicos, em que trata da uma visão geral sobre como a matemática é vista pelas pessoas e suas possibilidades de ensino-aprendizagem, analisa os resultados do ensino da matemática e os jogos como novas possibilidades de ensino-aprendizagem, apresenta o jogo e seus entrelaçamentos: do brincar ao aprender pedagógico para o ensino de matemática, apresenta o papel do professor nos jogos como ensino de aprendizagem e tece a considerações finais. MATEMÁTICA: RESISTÊNCIAS E POSSIBILIDADES Matemática? Matemática? Matemática? Eca, socorro!!!!!!!! Muitas crianças, adolescentes e adultos desenvolvem ao longo de sua vida algumas resistências em 3 relação a esta disciplina na escola. Em geral conseguem dar conta da matemática relacionada ao seu cotidiano. A resistência aparece com relação à disciplina, seus conteúdos, conceitos e sua aplicação no contexto escolar, o que resulta numa desmotivação por parte dos educandos. Quando discutida essa realidade entre profissionais da educação a discussão fixa-se sempre no eixo do interesse e na capacidade do estudante, ou se justifica por condições sociais e familiares. Por este ângulo a escola, e sua prática de ensino em sala de aula, as metodologias aplicadas passam ao largo da situação e se exime da responsabilidade pela não aprendizagem do aluno. A questão é: a forma como o professor organiza suas metodologias pode ajudar a reverter esse grande medo que assola as crianças quando não conseguem entender os conceitos matemáticos que lhes são apresentados? Desde tempos idos, a Matemática é a disciplina que tem o maior índice de reprovação e de não aceitação dentro da escola, prova disso são os resultados do SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica) e do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes). É importante ressaltar que o ensino-aprendizagem em qualquer disciplina ou conteúdo, não depende só da ação e participação da criança, mas também da forma como o professor media essa relação. Estudos desenvolvidos na área da psicologia apontam que a criança é um ser de muita imaginação, portanto, cheia de possibilidades criativas para aprender. Como todo ser humano está em busca de conhecer o novo, descobrindo o mundo, encantando-se e desencantando, mas sempre curiosa por saber mais. Portanto, a criança que não recebe a mediação adequada perde essa criatividade e curiosidade, principalmente diante de números abstratos que, num primeiro momento, não lhes dizem nada. Diante do supra exposto, acreditamos que jogos, brinquedos e brincadeiras, não sejam simplesmente passa-tempo, mas que podem possibilitar ao professor trabalhar com os alunos de forma lúdica, para que possam aprender sem traumatizarem-se por medo da matemática, assim como em outras disciplinas. 4 JOGOS COMO POSSIBILIDADE DE FACILITAR A APRENDIZAGEM Sabemos que o ensino de matemática no Brasil é uma questão complexa. Existem avaliações realizadas pelo governo para analisar a situação escolar brasileira como o SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica), e ainda uma das mais importantes avalições mundiais que é o PISA (Program for International Student Assessment), chamado, no Brasil de Programa Internacional de Avaliação de Estudantes. Os resultados dessas avaliações demonstram que no Brasil os índices de aprendizado com relação ao ensino de matemática estão abaixo da média esperada. Resultados de exames oficiais como a Prova Brasil, o Saeb e Pisa, revelam de forma quantitativa essa realidade. Segundo Gallego (2007, p.8) [...] quanto aos seus resultados não poderiam ser piores, a média em matemática tem sido a mais baixa entre todas as áreas, e no Pisa (Program for International Student Assessment) de 2001, o Brasil ficou em último lugar em matemática. De acordo com o SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica), principal avaliação sobre o desempenho escolar das crianças brasileiras, o desenvolvimento de habilidade básicas em matemática vem se revelando insuficiente. A análise dos resultados, feita por meio de uma escala única de desempenho, mostra que 13% dos alunos da 4ª série não demonstraram, na resolução de testes de 2001, habilidades passíveis de serem descritas na escala. São estudantes que estão no estágio muito crítico, não construíram competências necessárias para resolver problemas com números naturais, seja de multiplicação ou de divisão ou mesmo de soma e de subtração. No Quadro1, apresentamos um demonstrativo do comparando um destes resultados das avaliações desde 2000 até 2009. 2009 Quadro 1 - Demonstrativo dos resultados do PISA (2000 a 2009) Média Leitura Matemática Ciências 401 412 386 405 2006 384 393 370 390 2003 383 403 356 390 2000 368 396 334 375 Fonte: Brasil (2011). 5 Em 2009, num ranking de 65 países o Brasil foi o 57º em Matemática, a média na disciplina foi de 386. Num panorama geral em relação aos anos anteriores fica obvio um crescimento, no entanto se comparado aos outros países está muito aquém do desejado. Buscando a resolução a este impasse, ora atentamos as metodologias, ora à falta de capacitação dos professores, ora à estrutura escolar. No entanto, cabe-nos adentrar os portões escolares rumo ao processo-ensino aprendizado. O ensino da matemática, por exigir do educando certo nível de abstração, impõe algumas problemáticas a serem superadas, neste sentido, Belfort (2011), defende- que a Matemática deva ser ensinada de maneira contextualizada, levando em conta os interesses dos alunos com ênfase na formação de conceitos e não na mecanização de regras e procedimentos. Discute situações que possibilite a construção de conceitos numérco e matemáticos. De acordo com a autora, [...] em Matemática, algumas habilidades técnicas devem ser dominadas já que, para resolver um problema, além de elaborar boas estratégias, é preciso saber efetuar as operações necessárias com rapidez e correção. Da mesma forma, a linguagem simbólica da Matemática, com suas convenções, precisa ser utilizada adequadamente. Aos poucos, na prática de resolver problemas, o domínio das técnicas e da linguagem será incorporado, sem necessidade de realizar treinamentos áridos, como um fim em si mesmos. (BELFORT, 2011, p.6). Nessa lógica uma grande possibilidade de superação seria o jogo. Este pode ser interpretado de várias formas, e essa pode ser a mola propulsora para o uso do jogo como recurso educativo para o ensino da disciplina de matemática de acordo com Moura (2001, p. 80). O jogo na educação matemática, passa a ter o caráter de material de ensino quando considerado promotor de aprendizagem. A criança, colocada diante de situações lúdicas, aprende a estrutura lógica da brincadeira e, deste modo, apreende também a estrutura matemática presente [...]. Segundo este autor o jogo pode deve ser utilizado de forma reflexiva, com uma intencionalidade, ou seja, [...] é visto como conhecimento feito e também se fazendo. É educativo. Esta característica exige o seu uso de modo intencional e, sendo assim, requer um plano de ação que permita a aprendizagem de conceitos matemáticos e culturais, de maneira geral. (MOURA, 2001, p. 80). 6 Sendo assim, o jogo nesta perspectiva pode ser utilizado, segundo Moura (2001, p. 80) como “conteúdo assumido com a finalidade de desenvolver habilidades de resolução de problemas [...]”. A solução completa possivelmente não esteja atrelada apenas ao uso do jogo no ensino de matemática, porém o seu emprego não somente como instrumento, mas como algo lúdico num sentido mais significativo e atrelado a bases teórica podem garantir um ensino-aprendizagem efetivo e embasado cientificamente. O JOGO E SEUS ENTRELAÇAMENTOS: DO BRINCAR AO APRENDER PEDAGÓGICO É a partir do ato de brincar que as crianças constroem suas estruturas cognitivas e lógicas de como se relacionar com o mundo. Em relação ao desenvolvimento lógico matemático, este não se dá na esfera auditivo-oral, mas segundo Antunes (2003, p. 21) se estrutura no confronto com o mundo dos objetos onde de início a criança faz comparações, ordena, quantifica e de forma ativa, a mesma elabora suas próprias decisões. Esta mesma lógica “[...] é aplicada no desenvolvimento de afirmativas, de pessoas e de ações em relação a outras ações. [...]. Antunes (2003, p. 21). Em se tratando da inserção do jogo para o ensino de matemática, de acordo com alguns autores implica que: [...] a participação em jogos de grupo permite conquista cognitiva, emocional, moral e social para o estudante, uma vez que poderão agir como produtores de seu conhecimento, tomando decisões e resolvendo problemas, o que consiste um estímulo para o desenvolvimento da competência matemática e a formação de verdadeiros cidadãos. (SILVA; KODAMA, 2004, p. 3). O jogo de certa forma pode estar atrelado ao sentido de competição, onde deve haver um vencido e um vencedor, o que pode resultar em grande frustração à criança. Porém de acordo com Antunes (2003, p. 9): Do ponto de vista educacional, a palavra jogo se afasta do significado de competição e se aproxima de sua origem etimológica latina, com o sentido de gracejo ou mais especificamente divertimento, brincadeira, passatempo [...]. 7 Para o autor supracitado (2003, p.9), é cabível uma ou outra competição, no entanto, não é o objetivo do jogo, pois este (o jogo) teria o objetivo de estimular crescimento e aprendizagens, “[...] seriam melhor definidos se afirmássemos que representam relação interpessoal entre dois ou mais sujeitos, realizados dentro de determinadas regras.” Salienta ainda que: [...] por sua vez, incluem intenções lúdicas; muitas vezes é não literal – (por exemplo a boneca não é literalmente filha da criança, mas é como se fosse); estimula alegria e flexibilidade do pensamento, mas mantém um controle entre os jogadores e, portanto, uma relação interpessoal dentro de determinadas regras. (ANTUNES, 2003, p, 12). Neste sentido, é possível diferenciar a brincadeira do jogo educativo, uma vez que a brincadeira nem sempre tem uma intenção, não há regras fixas, as crianças criam suas próprias regras, brincam à vontade. Quando aplicado ao ensino, o jogo, para Moura (2001) deve ser organizado pelo professor de forma a estimular o aluno, e atento aos erros e acertos, do aluno o professor aprimora seu trabalho pedagógico e o aluno aprimora seu conhecimento. As atividades de jogos quando desenvolvidas em equipes como dito anteriormente acaba sempre suscitando certa competição, esta não é boa nem má, depende de como será trabalhada com os educandos, porém o resultado final é sempre um ganho, são experiências para a vida. Preconizam alguns teóricos que o professor sempre deve premiar as equipes vencedoras, no entanto o ganho para o aluno não está no premio, mas no ganho em conhecimento, seja perdendo ou ganhando o jogo, nos erros e nos acertos a aprendizagem acontece. A premiação pode ter lugar de forma excepcional na sala de aula, mas não sistematicamente, pois o ganho é sempre no plano pessoal, a vitória pela conquista de conhecimentos e conteúdos sistematizados apresentados de forma lúdica, como coloca Miranda (2001): Prazer e alegria não se dissociam jamais. O „brincar‟ é incontestavelmente uma fonte inesgotável desse dois elementos. O jogo, o brinquedo e a brincadeira sempre estiveram presentes na vida do homem, dos mais remotos tempos até os dias de hoje, nas mais variadas manifestações (bélicas, filosóficas, educacionais). O jogo pressupõe uma regra, o brinquedo é o objeto manipulável e a brincadeira, nada mais é que o ato de brincar com o brinquedo ou mesmo com o jogo. Jogar também é brincar com o jogo. O jogo pode existir por meio do brinquedo, se os brincantes lhe impuserem regras. Percebe-se, pois, que jogo, brinquedo e brincadeira têm conceitos distintos, todavia estão imbricados; e o lúdico abarca todos eles. (MIRANDA, 2001 p. 13). 8 O autor supracitado caracteriza o jogo, o brinquedo e a brincadeira deixando claro que no ensino a forma lúdica de ensinar perpassa tanto o jogo quanto a brincadeira em relação ao objeto que é o brinquedo. Porém para Kishimoto (1994), há diferença entre brinquedo e material pedagógico, e estes estão implicados nos objetivos da ação pedagógica: Se brinquedos são sempre suportes de brincadeiras, sua utilização deveria criar momentos lúdicos de livre exploração, nos quais prevalece a incerteza do ato e não se buscam resultados. Porém, se os mesmos objetos servem como auxiliar da ação docente, buscamse resultados em relação à aprendizagem de conceitos e noções ou, mesmo, ao desenvolvimento de algumas habilidades. Nesse caso, o objeto conhecido como brinquedo não realiza sua função lúdica, deixa de ser brinquedo para tornar-se material pedagógico (KISHIMOTO, 1994, p. 14). O jogo é mais que um material de instrução para o ensino de matemática e mesmo de qualquer outra disciplina, mesmo sendo ainda marginalizado no campo da educação por alguns professores, cada vez vem se firmando mais o aceite do jogo como uma atividade importante para o ensino-aprendizagem, jogo educativo, brinquedo ou brincadeiras é justificável na sua implementação no âmbito escolar. O jogo na educação matemática parece justificar-se ao introduzir uma linguagem matemática que pouco a pouco será incorporado aos conceitos matemáticos formais, ao desenvolver a capacidade de lidar com informações e ao criar significados culturais para os conceitos matemáticos e estudo de novos conteúdos. A matemática, dessa forma, deve buscar no jogo (com sentido amplo) a ludicidade das soluções construídas para as situações problema seriamente vivida pelo homem. (MOURA, 2001, p. 85-86). Miranda (2001), Kishimoto (1994) e Moura (2001) reintegram o sentido do lúdico presente mesmo em situações educativas em que o jogo não é entendido como uma ação livre, com um fim em si mesmo dirigido apena pela criança. Logicamente a discussão não se finda aqui, muitos são os especialistas que debatem que o jogo apenas como brincadeira, sem regras estabelecidas e organizado pelo professor não tem lugar na escola e que o jogo educativo visando um resultado se esvazia de seu sentido lúdico. Atualmente, de acordo com documentos oficiais, como os PCN´s e orientações da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, professores têm sido orientados a trabalhar os conteúdos com objetos concretos que estimulam a 9 curiosidade e a criatividade das crianças. Segundo Almeida (2006 apud LAVORSKI; VENDITTI JUNIOR, 2011) O jogo na escola apresenta benefício a toda criança, um desenvolvimento completo do corpo e da mente por inteiro. Por isso, na atividade lúdica, o que importa não é apenas o produto da atividade que dela resulta, mas a própria ação, momentos de fantasia que são transformados em realidade, momentos de percepção, de conhecimentos, momentos de vida. [...] Uma relação educativa que pressupõe o conhecimento de sentimentos próprios e alheios que requerem do educador uma atenção mais profunda e um interesse em querer conhecer mais e conviver com o aluno; o envolvimento afetivo, como também o cognitivo de todo o processo de criatividade que envolve o sujeito-ser-criança. Assim, podemos dizer que os jogos e brincadeiras só tem a contribuir para o ensino de matemática, pois o aluno que aprende brincando além de estar se submetendo a regras e normas está também se revestindo do conhecimento de forma afetiva e efetiva. O PAPEL DO PROFESSOR NOS JOGOS COMO ENSINO DE APRENDIZAGEM No decorrer da história da matemática como foi citado anteriormente, muitos foram os momentos desta disciplina, pois os contextos em que ela esta inserida são muito variados, o que podemos dizer aqui é que a matemática nasce junto à humanidade. Contudo hoje os docentes devem se perguntar depois de tantas mudanças, num contexto globalizado e tecnológico, como deve ensinar matemática e a partir de qual vertente? É por meio dessas indagações que vamos tatear um caminho para encontrar uma resposta. Segundo os PCN´s (BRASIL, 2001) vários são os recursos didáticos que podem ser utilizados para o ensino-aprendizagem em matemática. Além de ser um objeto em que a matemática esta presente, o jogo é uma atividade natural no desenvolvimento dos processos psicológicos básicos; supõe um “fazer sem obrigação externa e imposta”, embora demande exigências, normas e controle. No jogo, mediante a articulação entre conhecido e o imaginado, desenvolve-se o autoconhecimento – até onde se pode chegar – e o 10 conhecimento dos outros – o que se pode esperar e em que circunstancias. (BRASIL, 2001, p. 35). Os jogos estão entre esses recursos como objeto de mediação para aluno, pois, propiciam à criança a compreensão e a utilização de regras que servem para seu processo de ensino-aprendizagem. Finalmente, um aspecto relevante nos jogos é o desafio genuíno que eles provocam no aluno, que gera interesse e prazer. Por isso, é importante que os jogos façam parte da cultura escolar, cabendo ao professor analisar e avaliar a potencialidade educativa dos diferentes jogos e o aspecto curricular que se deseja desenvolver''. (BRASIL, 200, p. 36). Ainda ressalta que os jogos são um desafio que desperta no aluno mais interesse e prazer no ato de aprender. Para tanto, é importante que os jogos façam parte da cultura escolar, e assim cabe ao professor, de acordo com Moura (2001, p. 84) a tarefa de analisar e organizar o ensino, onde seja permitida ao aluno a consciência do significado do conhecimento a ser adquirido e para isso seja utilizado métodos adequados para se atingir o objetivo. O professor vivencia a unicidade do significado do jogo e de material pedagógico, na elaboração das atividades de ensino, ao considerar nos planos afetivos e cognitivos, os objetivos, a capacidade do aluno, os elementos culturais e os instrumentos (materiais e psicológicos) capazes de colocar o pensamento da criança em ação. Isto significa que é importante ter uma atividade orientadora de aprendizagem (MOURA,1992). O professor é, por isso, importante como sujeito que organiza a ação pedagógica, intervindo de forma contingente na atividade auto-estruturante do aluno. (MOURA, 2001, p. 84). Também nos documentos referentes ao ensino de 9 anos encontramos destaque para os jogos e brincadeiras como atividade mediadora de ensino aprendizagem no que concerne à matemática. Por meio dos mesmos pode-se criar situações problemas para que os alunos resolvam ou eles mesmos podem propor situações problemas com a mediação do professor. Segundo Zimer (2010), a adoção de materiais didáticos (ábacos, material dourado, sólidos geométricos, embalagens diversas, palitos de sorvete, tampinhas de garrafas, calculadora, etc.) são de grande importância para o desenvolvimento de aprendizagem para o aluno, pois, com a mediação do professor de maneira lúdica, se evita a aversão que muitos alunos desenvolvem pela matemática e se consegue atingir os objetivos esperados pelo professor que é o de ensinar e o do aluno de aprender. 11 Para isso é preciso desde a educação infantil até o ensino médio, um trabalho diferenciado, permeado de ludicidade e rico em conteúdo, pois, mesmo os adolescentes se não estiverem bem estruturados desde o princípio de sua educação escolar acabam engrossando as estatísticas em relação ao fracasso escolar. Como está explicito, tanto nos PCN´s (BRASIL, 2001), como nas Orientações Pedagógicas para os anos iniciais (PARANÁ, 2010), atualmente o professor tem diante de si um amplo arcabouço pedagógico para ensinar matemática, todavia não mais pela decoreba, mas com o objetivo de compreender e interpretar a lógica matemática, mediando para que o aluno tenha conteúdo, possa pensar sobre os mesmos e avaliar seu aprendizado. Podemos ter um laboratório de matemática cheio de jogos educativos, brinquedos pedagógicos e não saber como desenvolver uma aula adequadamente, por isso a importância de uma formação permanente para o professor, a necessidade de estar sempre buscando, pesquisando, se atualizando. Nesta perspectiva destacamos as formações continuadas ministradas pelos municípios para preparar bem o professor. Estas não devem ser mais um encontro para cafezinhos e bolinhos, mas de troca de experiência, de aprendizado de crescimento intelectual, pois, só é possível ensinar àquele que busca aprender todos os dias e não desperdiça oportunidades de se aprimorar. CONSIDERAÇÕES FINAIS Quando pensamos estar no fim, na realidade é que estamos de fato começando. Acreditamos que embora muitos autores nos apresentem os benefícios dos jogos para qualquer tipo de aprendizagem, este ainda é um recurso visto com certo receio pelos professores e pela sociedade que acredita que se a sala de aula não possuir um quadro negro com carteiras enfileiradas, criança olhando na cabeça de criança e um professor á frente de uma escrivaninha com uma enorme régua nas mãos não é aula e o professor não está ensinando. Sala de aula com crianças conversando, rindo e brincando é taxada de bagunça onde professor deixa cada um fazer o que quer e isso é disseminado entre os próprios professores. 12 Porém, ainda que defenda firmemente a utilização dos jogos em sala de aula e considere que uma sala agitada não necessariamente pode ser chamada de bagunça, apoiamos daqueles que defendem que uma aula bem preparada, organizada com uma metodologia, objetivos claros e uma boa dose de jogos e brincadeiras pode e é o caminho certo para que a criança, assim como o adolescente possam se sentir estimulado e desenvolvam e aprendam os conteúdos. É certo que os conceitos matemáticos não são uma herança genética, e que bastam alguns processos de desenvolvimento biológico, para que os conteúdos historicamente construídos pelos homens espontaneamente sejam aprendidos. Os conceitos que hoje conhecemos da matemática foram desenvolvidos ao longo de anos e séculos, e se hoje nós temos uma visão diferente mais ampliada do que é a matemática em nossas vidas, as conquistas nesta área se devem a muitos esforços daqueles que vieram antes de nós. Assim, o aluno não importa sua idade, precisa sim, conhecer os conceitos matemáticos, sua história suas conquistas e conflitos. Nesta perspectiva dependendo da metodologia utilizada eles podem odiar ou se encantar por pela disciplina. É imprescindível ao professor ser coerente com sua profissão, e assumi-la com paixão para buscar, por meio da pesquisa, aprimorar os conteúdos, para que num processo de reflexão possa aprimorar sua práxis. Quando o professor busca o conhecimento, se organiza, planeja e pensa na sua prática e sobre o aluno que é a razão de seu trabalho, demonstra respeito pela sua profissão e honra as escolhas que fez, seja, assumindo sua formação em licenciatura em matemática ou na licenciatura como pedagogo docente nos anos iniciais. A matemática não é uma “má temática”, ela é o tema de nossa vida, tudo o que fazemos perpassa os pilares da matemática, os espaços, a geometria, as medidas e quantidades. A matemática não é uma disciplina fria, obtusa, estática, ela está sempre numa constante vir a ser, estamos sempre descobrindo algo novo, as novas tecnologias, sejam atribuídas à informática (programas de computador), à nano tecnologia, à medicina, enfim, nas divisões, nas multiplicações e nas subtrações da vida. 13 As perspectivas, as dimensões, a ampliação das ideias, o pensar sobre e agir de acordo com o que se acredita, de fato depende de uma grande dose de vontade e esforço, mas ninguém se anima a se esforçar por algo que não ama e não crê. Dessa maneira, para a criança crer que 2 e 2 ou (2+2) é 4 é preciso provar para ela, não magicamente, mas de forma que ela entenda, porque 2 e não 3, porque 4 e não 5, ou seja, a forma como os símbolos foram construídos historicamente, a nossa história com seus jogos e regras para certas convenções na sociedade. Por isso precisamos de um ensino que organize suas práticas levando em consideração a historicidade das coisas, o aluno, o próprio professor e o objeto de ensino. Ao longo da história, homens pensaram, definiram certas convenções, mais tarde outros pensaram sobre o que estes pensaram, e criaram novas convenções, e assim até chegar a nós, continuamos pensando e resolvendo problemas, nos envolvendo na dinâmica da vida, somando conhecimentos, dividindo conquistas, multiplicando nossos saberes e subtraindo as distâncias. Seguimos conquistando, avançando cada dia mais nessa era tecnológica. Agora cabe a nós nos apropriarmos de todas essas encucações, pesquisarmos mais e criarmos espaços mais lúdicos para a construção do conhecimento. Muitas redes educativas estão preparando professores para trabalharem de forma mais significativas suas práticas pedagógicas, o pedagogo tem papel fundamental nesse processo, e cabe ao pedagogo e ao professor a pesquisa e a reflexão sobre os meios possíveis e pertinentes ao ensino e à aprendizagem dentro da escola. REFERÊNCIAS ANTUNES, Celso. Jogos para estimulação das múltiplas inteligências. Petrópolis: Vozes, 1998. ANTUNES, Celso. O jogo e a educação infantil: falar e dizer/ olhar e ver/ escutar e ouvir. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2003. 14 ______. Inteligências múltiplas e seus jogos: inteligência logico-matemática. Petrópolis: Vozes, 2006. v. 6. BRASIL. Resultados. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/internacional-novopisa-resultados>. Acesso em: 18 ago. 2011. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Brasília, DF: MEC, 2001. v. 3 BELFORT, Elizabeth. Discutindo práticas em matemática. 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