PÓS-GRADUAÇÃO
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
Um Estudo Sobre a Dominação Internacional e a sua GeoPolítica
Por
Maria das Graças Mendonça
Orientador
Prof. Marco Antônio Chaves
Rio de janeiro, RJ, agosto de 2001
PÓS-GRADUAÇÃO
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
Um Estudo Sobre a Dominação Internacional e a sua GeoPolítica
Por
Maria das Graças Mendonça
Trabalho Monográfico apresentado
como requisito parcial para a
obtenção do Grau de Especialista em
Docência do Ensino Fundamental e
do Grau Médio.
Rio de Janeiro, RJ, agosto de 2001
II
DEDICATÓRIAS.
Quero dedicar este trabalho, à minha filha
Gabrielle .
III
AGRADECIMENTOS.
Quero agradecer á todos aqueles que tornaram possível
a execução deste trabalho, especialmente aos meus
mestres
que me orientaram na sua elaboração.
IV
“Admitidamente, todos nos esforçamos por evitar erros; e deveriamos ficar
tristes ao cometer um engano. Todavia, evitar erros é um ideal pobre; se não
ousarmos atacar problemas tão dificeis que o erro seja quase inevitável,
então não haverá crescimento do conhecimento. De fato, é com as nossas
teorias mais ousadas, inclusive as que são errôneas, que mais aprendemos.
Ninguem está isento de cometer enganos; a grande coisa é aprender com
eles.”
Citação de Karl Popper
AQUINO,Julio Groppa. ( Erro e Fracasso na Escola) ,
Summus, SP, 1997
V
SUMÁRIO
RESUMO...................…………………………………….…..6
INTRODUÇÃO........................………………………………………………….7
CAPÍTULO I – O Sucesso do Império Romano ……………..…………………11
CAPÍTULO II- A Expansão Árabe e a Expansão para o
Novo Mundo...............................................................……….13
CAPÍTULO III- As Raízes da Dominação ………………..….………………...14
CAPÍTULO IV- A Técnica e a Tecnologia ………………………………………19
CAPÍTULO V- A Dominação Espanhola no Sec. XVI………………………….24
CAPÍTULO VI- Do Feudalismo ao Capitalismo………………………………...26
CAPÍTULO VII- As Colônias Européias. O Mercantilismo……………………28
CAPÍTULO VIII- A Revolução Industrial e o Capitalismo…………………….31
CAPÍTULO IX- A América Latina……………………………………………….35
CAPÍTULO X- O Brasil…………………………………………………………...37
CONCLUSÕES- …………………………………………………………………..43
BIBLIOGRAFIA………………………………………………………………..…46
VI
RESUMO
Este trabalho monográfico foi desenvolvido com o objetivo de se estudar o
processo de dominação internacional segundo a ótica de vários autores. Como ele se
desenvolve, como avança e se completa? Quais os vários meios, recursos e objetivos
que permiram que se concretize. Assim inicialmente é apresentado um estudo sobre o
desenvolvimento da dominação da civilização romana, sua ascenção e decadência. A
seguir um breve relato da influência árabe. É dada uma atenção maior aos fatores
que desencadearam e permitiram este processo. A influencia da dominação da técnica
e da tecnologia. O pápel
da técnica da navegação portuguesa na descoberta e
dominação de um novo mundo. A ascenção e queda da dominação espanhola. Os
vários aspectos do feudalismo e do capitalismo. É apresentado um estudo sobre os
novos colonizadores europeus e suas formas de colonização.
Examina-se o
mercantilismo e a revolução industrial. A ascenção das novas potências
colonizadoras. O papel da dominação econômica. O que representa a América Latina
como objeto deste processo e, finalmente, o papel do Brasil neste contexto. Este
estudo permite concuir que a dominação é inerente ao homem , que sempre houve e
sempre haverá uma forma, pelas armas, pela técnica ou pelo poder econômico que
possibilitará este processo, e ainda mais, possibilita concluir um aspecto
nesta dominação, quando esta se faz presente com a anuência do dominado.
VII
complexo
INTRODUÇÃO
(O porque do tema e como foi desenvolvido)
Dentre os vários temas de contexto pedagógicos apresentados à discussão em
sala de aula, um é
particularmente atraente. Aquele que aborda a dominação
internacional de um modo geral. Um tema controverso, que sempre acarretou
discussões apaixonadas e posições radicais, mas de um modo geral discutido com
uma abordagem simplista e sempre pouco fundamentada nos conceitos expostos,
embora nem sempre incorreta.
A partir daí, adota-lo como tema de monografia foi um passo, um passo mal
dado, diga-se de passagem, percebido logo que iniciado a pesquisa bibliográfica
sobre o assunto.
Vasta, pesada, com abordagens conceituais diversas, com variados
pensamentos filosóficos, esta bibliografia não é de maneira alguma amena por ser tão
ampla. Pelo contrário, são grandes as dificuldades com que se pode deparar para
assimilar e
coordenar ao propósito do tema, tão variada e pesada gama de
conceituação filosófica.
Assim, para se poder atingir a um dos objetivos propostos, o qual seria
procurar entender os fatores correlacionados com a disputa, a partilha e/ou posse de
bens e riquezas de interesse mútuo entre agrupamentos humanos,
pôde-se
compreender que, melhor seria pesquisar historicamente, na origem e na formação
dos Estados/Nações atuais, aqueles fatores que poderiam ser entendidos como os
primários e elementares, nestas milenares disputas entre grupos humanos, antes de
analisar estas questões
no
contexto dos dias atuais. Muito oportunamente
KENNEDY ( Paul. Ascensão e Queda das Grandes Potências. 2 Ed. Rio. Campus,
1989), resolveu posicionar o período pesquisado para esta sua obra a partir de 1500,
porem, inicialmente, não se privou de dar um breve olhar sobre o século XV e até
um pouco mais anterior.
A revista Carta Capital Fevereiro/2000, apresenta nas palavras de Horácio
Lafer Piva ( Presidente da FIESP-2000), em um artigo denominado “Nacionalismo?
“, uma interessante definição de nacionalismo, e por extensão, de Nação.
VIII
Segundo este entrevistado, “O nacionalismo é um sentimento profundo que
une cidadãos em uma mesma cultura e em um mesmo anseio de realização… é a
relação com os patrícios, com os que falam a mesma língua e que compartilham a
mesma situação”.
Assim se o conceito de Nação é aquele que une grupos humanos de mesma
língua, mesma cultura e mesmos anseios, nada mais natural que os estrangeiros, os
não naturais, sejam encarados como uma ameaça em potencial.
Por curioso que possa parecer, outro tema em sala de aula seria um acréscimo
importante para o aprofundamento do estudo do tema: uma reflexão sobre a tendência
natural de dominação do homem pelo homem.
Os mais variados autores apresentam como uma constante na história das
relações humanas, a existência, verificada através dos tempos, de uma natural e
contínua ação predatória do homem pelo próprio homem. A existência de
uma
motivação qualquer, poderia ser bem entendida como o agente desencadeador de
uma ação de disputa. A identificação deste agente seria o primeiro passo para se
entender as razões causadoras deste processo de disputa, ou seja, em palavras mais
simples, seria o
“ Porque? ” .
Na vasta bibliografia pesquisada fica evidente que não seria apenas um este
agente, mas vários, atuando juntos ou separadamente na pretensão de conquista e
dominação,
como sejam: por mêdo, cobiça por riquezas, cobiça por terras, por
objetivos estratégicos, por motivos religiosos.
Complementando o exposto acima, e conhecendo-se o “ Porque? ” do
processo nos conflitos pesquisados, há que também
se estudar os fatores que
possibilitam o sucesso nestas ações de disputa, ou seja o “ Como? ”, e assim da
mesma forma, compreender as causas que permitiram que um agrupamento humano
mantivesse um domínio por um espaço de tempo relevante, e as influências culturais
mútuas que iriam se verificar no futuro entre dominador e dominado.
E aí começa realmente a pesquisa
processo de
proposta. Uma breve passagem pelo
disputa nas antigas civilizações,
poderia permitir um melhor
entendimento nas diferenças e similaridades com as questões atuais. Assim,
o
Império Romano seria um ótimo ponto de partida, pois foi o agrupamento humano
IX
que mais fielmente espelhou o conceito de dominador (e conquistador), considerando
ainda que a civilização romana foi o berço de todo o contexto territorial do que hoje
se entende como a constituição do conceito geopolítico dos modernos Estados/Nações
europeus.
Segundo ALBA ( André. Roma , História Universal. São Paulo. Mestre Jou,
1964), e vários outros autores, o fim do Império Romano do Ocidente marca o início
da Idade Média, influenciando decisivamente a civilização ocidental até os dia atuais.
Que povo, portanto, poderia fornecer melhor ponto de partida para uma pesquisa
mais isenta? Pois que livre das influências de opinião, distanciado no tempo, e, com
uma experiência mais rica e diversificada, pela amplidão territorial e pela diversidade
das civilizações submetidas?
Não se pode deixar de pesquisar também a civilização árabe pelo que
representou de influência e dominação na Europa, África e principalmente pelo seu
papel como desencadeador do processo das grandes navegações, a qual revolucionou
as dimensões territoriais do mundo conhecido, e
principalmente, introduziu o
conceito de Novo Mundo para a geopolítica dos Estados/Nações então constituídos e
para aqueles que se originaram a partir daí no próprio Novo Mundo.
Para possibilitar uma avaliação das questões, submetidas ao contexto dos dias
de hoje, atualizando as repostas do “ Porque? “ e do “Como? “, este estudo deveria se
estendido até os dias presente, ainda sob a luz da mesmas questões e atualizado no
conceito de mercado: O que representa o interesse econômico ou de mercado no
contexto dos Estados/Nações? O poder econômico seria aquele que pode substitui o
braço armado como fator principal para submeter nações mais indefesas? Um avanço
tecnológico complementa o poder econômico na substituição do braço armado para a
submissão de povos? Os grandes conglomerados econômicos multinacionais seriam o
substituto natural do poder do Estado para a submissão de povos aos interesses de
grupos não nacionais? Ou seriam muito mais que isto? Um Estado sem fronteira
dentro de Estados politicamente constituidos?
Quando se examina estas questões no contexto dos dias atuais, se percebe
que,
no mundo moderno,
a dominação pela força das armas se tornou muito
dispendiosa, eticamente condenável no contexto das nações, alem de sempre envolver
um risco de sublevação em um futuro imprevisível . Contudo, permanece nas nações
X
mais poderosas, a necessidade de manter submissa a seus interesses, àquelas nações
com maior potencial de proveito a ser utilizado pelas primeiras, principalmente se
estas nações são mais frágeis e indefesas econômica e/ou militarmente. E,
principalmente, se percebe que surge um novo elemento no cenário, o grupo multi nacional, que subverte completamente os conceitos conhecidos de Estado/Nação por
ser um ente abstrato, sem fronteiras físicas, cujo único objetivo consiste em existir de
modo autônomo e independente de todos os conceitos anteriores.
Este novo conceito deu origem a uma outra forma de dominação, denominada
“interesses de mercado”, com o objetivo sutil de desqualificar esta mesma dominação
e torna-la mais aceitável. Neste contexto pode ser visto até muitos naturais submissos
( ou com interesses próprios) e fazendo a sua plena apologia como se fossem (ou
talvez até sendo) naturais da nação dominadora.
Com os resultados desta pesquisa, se espera ter uma melhor compreensão
destas questões, que continuam tão atuais quanto à séculos atrás, ter um melhor
entendimento das formas e processos utilizados nesta ação de dominação entre grupos
humanos. Dominação esta que continua tão presente e atuante quanto nos tempos do
Império Romano, porem,
como visto, envolvendo
outros cenários, com outros
métodos, geralmente de forma mais sutil, com outras justificativas e denominações,
mais disfarçada, para dar ao dominado menos atento ou culturalmente menos
formado, a impressão de que não há dominação ou que esta se faz para seu próprio
benefício.
Esta pesquisa foi desenvolvida segundo uma metodologia
Descritiva,
Qualitativa, Bibliográfica, utilizando os pensamento e as informações de vários
autores como Francisco Falcon (Prof. Titular e Livre Docente em História Moderna
da UFF), Gerson Moura (Prof Assist. do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da
UFRJ), do Prof. Francisco de Assis Silva, de Milton Vargas (Prof. Pesquisador do
Centro Interunidade da História da Ciência e da Tecnologia da USP), de Florestan
Fernades (ex Prof. de Sociologia da USP), de Paul Kennedy ( grande pensador
americano), de Eduardo Bueno (jornalista e autor de vários livros sobre as grandes
navegações), de
André Alba (professor e autor de obras sobre a história universal)
e vários outros.
XI
CAPÍTULO I – O Sucesso do Império Romano
(O sucesso do patriotismo, disciplina, tenacidade )
O Mediterrâneo representou na antigüidade um vasto berço de povos e
civilizações, algumas fugazes, outras mais duradouras, nenhuma porem com o brilho
e influência para a cultura ocidental daquela representada pela civilização romana.
O ideal da civilização grega, outra grande civilização mediterrânea, segundo
ALBA (André. Roma , História Universal. São Paulo. Mestre Jou, 1964), “seria uma
multidão de pequenas cidades independentes umas das outras, regida cada uma por
suas próprias leis. Só Alexandre havia tentado unificar o imenso império que
governava, mas morreu muito cedo. Os imperadores romanos realizaram o seu sonho
e em uma escala muito maior ” .
Mas a que se devia a capacidade de conquista verificada durante
expansão
do
Império Romano? Segundo ALBA, provenientes da mesma família de povos que os
Gregos, os Gauleses, os Germanos, vindo todos estes povos das grandes planícies da
Europa oriental, teriam estes como aqueles, as mesmas condições de formar um
grande império mediterrâneo. Até porque ao tempo da fundação de Roma, ALBA
relata que a civilização grega já apresentava uma característica expansionista,
colonizando a Sicília e a Itália meridional, exercendo até uma marcante influência
cultural sobre os primitivos povos que formariam no futuro o império romano.
Outro povo, os Etruscos, também dominaram na
mesma época, a região da cidade de Roma, chegando mesmo
a possuírem reis que governariam igualmente esta cidade
por um vasto período. Porem, só após a expulsão deste povo
e a constituição da República foi que verdadeiramente se
apresentaram as condições que permitiram o surgimento e a
expansão do Império Romano.
Segundo ALBA “A constituição romana não poderia funcionar bem se não
houvesse uma espécie de equilíbrio entre os poderes (o Comício, o Senado e os
magistrados). Isto supunha que os cidadãos tinham em vista não o seu interesse
pessoal, mas unicamente o interesse da pátria. A força da constituição romana
repousava sobre o patriotismo dos cidadãos” . Este mesmo autor nos conta que “A
XII
religião romana não ensinava uma doutrina e nem se preocupava em tornar os
homens melhores, dava somente a conhecer as cerimonias que se devia realizar para
se obter os favores dos deuses” .
Tem-se aí uma combinação muito poderosa, de um lado um patriotismo
exacerbado, de outro a inexistência de uma religião limitadora e finalmente, para
coroar, uma disciplina férrea. A estas condições, aliadas a um comando rígido, e seria
a receita para o que se viu depois. Relata ALBA “O exército romano não era
permanente, em tempo de paz não havia soldado, mas quando se declarava a guerra
todos os cidadãos podiam ser mobilizados. A mais rigorosa disciplina reinava no
exercito. O general chefe tinha direito de vida e de morte sem apelação. Roma teve
raramente guerreiros notáveis. Deveu os seus êxitos ao valor de sua organização
militar. Deveu-se sobretudo ao patriotismo e a tenacidade de seus cidadãos”. Aqui
o coroamento! Disciplina e Tenacidade. Nenhum desastre, e foram muitos, abateu o
ânimo bélico romano. Assim o Império Romano se permitiu conquistar toda a
península italiana, o norte da África e a Europa central, dominando todo o
Mediterrâneo.
Mas qual seria a motivação para estas guerras de conquistas? Conta ALBA
que de início foram guerras de defesa própria, e contava neste caso fortemente, o
patriotismo, a tenacidade e a obstinação na luta pela própria vida, de um povo
camponês extremamente áspero, duro e frugal nos costumes. Esta luta muitas vezes
se precipitava pelo receio de uma possível perspectiva de animosidade do oponente.
E finalmente mais tarde, depois de várias conquistas obtidas, a possibilidade de ganho
financeiro, despertou a cobiça por riquezas e, relata ALBA “As conquistas romanas
foram em parte uma vasta operação financeira”.
Aqui, finalmente, pode ser encontrada quase toda a gama das motivações
pesquisadas: guerra e dominação por receio de outro povo ameaçador ( Gália
cisalpina, Etruscos, Sabinos, Volscos, cidades gregas da Itália Meridional, Tarento,
etc); por cobiça territorial e de riquezas ( Egito, Macedônia, Pérsia, África do norte,
Espanha, Gália), e por objetivos estratégicos contra um poderoso rival (Cártago).
Em toda esta vasta relação só não é possível encontrar a motivação religiosa,
pois como visto anteriormente, não era este o forte da civilização romana.
XIII
CAPÍTULO II – A Expansão Árabe e a Expansão para o Novo
Mundo
(O sucesso da fé )
Relata ALBA (André. Roma , História Universal. São Paulo. Mestre Jou,
1964) por volta do século V houve a completa decadência do Império Romano do
Ocidente, contudo, cerca de cem anos depois, já no século VI, surgia a figura de
Maomé, como o homem que, por sua pregação, produziu uma completa transformação
na vida religiosa muçulmana, e, por extensão, limitou o que restava ao Império
Romano do Oriente à Constantinopla, arrebatando-lhe a África do Norte, o Egito,
Palestina, Síria, Pérsia, estendendo-se a sudeste até
a Índia, a nordeste até o
Turquestão Chinês, e para oeste chegando a dominar até a Espanha.
Todas estas conquistas feitas em nome da fé religiosa muçulmana, promovida
pela pregação de Maomé, causaram profundas repercussões na civilização ocidental,
ao desencadear o processo das grandes navegações que culminou na descoberta do
Novo Mundo.
A dominação árabe teve também outras
conseqüências marcantes com
reflexos no mundo ocidental, na cultura, nas artes, e principalmente no comércio e
que estende até os dias atuais.
A Guerra Santa, pela dominação dos “ infiéis ”, teve seu início no mesmo ano
da morte de Maomé, que pregava na sua doutrina, que o combatente que morresse
pela fé certamente obteria o Paraíso. Isto evidentemente soava como música aos
belicosos ouvidos árabes, que por certo não precisavam de incentivo maior, o que tem
suas conseqüências até os dias atuais.
A Guerra Santa teve a contrapartida cristã, a qual consistiu nas Cruzadas, e
que não será estudada por não atender ao tema proposto.
XIV
CAPÍTULO III – As Raízes da Dominação
(O que causa o sucesso ou a decadência de um grupo
humano?)
Qual seria o fator diferenciador que possibilita a um
grupo humano obter sucesso ou causa a sua decadência no
contexto dos povos? Foi visto que a obstinação, o
patriotismo, a disciplina rígida, aliados a uma sólida
organização política permitiram ao Império Romano se
constituir e se expandir, mas não o impediram de decair,
embora ALBA aponte a dissolução dos rígidos costumes da
civilização romana, provocadas pela influência cultural dos
costumes dos povos dominados, entre os séculos I a IV,
como a causa maior desta decadência.
Da mesma forma como a fé religiosa (que não era o
forte do Império Romano) permitiu a civilização árabe se
expandir e dominar também um grande império,
igualmente, segundo ALBA, também não
impediu a
fragmentação deste mesmo império em muitas nações
menores, ainda que todas sob a égide de uma mesma fé.
Vários povos guerreiros ( hunos, normandos, vândalos,
etc.) submeteram enormes territórios na Europa e Ásia,
regularmente, mas nenhum deles deixou marca de
dominação mais perene que o imediatismo de sua conquista,
o que parece demonstrar que a simples vocação guerreira
não é suficiente para garantir a perenidade de uma
conquista pelas armas.
Por outro lado, grandes e organizadas civilizações
(China, Maias, Incas, Astecas, Egípcios, etc) como até
mesmo o Império Romano foram marcadas por sua
decadência, apesar de sua organização, e dominados por
outros povos, embora estes, sob alguns aspectos, serem até
mais primitivos.
A posse de riqueza metalista, pode também não ser
suficiente para garantir a ação dominante de uma nação,
como aponta SILVA (F. de Assis. História Geral, Moderna e
XV
Contemporânea.2 ed. São Paulo.Moderna,1990), pois assim
parece demonstrar o exemplo de Maias, Astecas e até
mesmo a Espanha, nação que os dominou e espoliou à
exaustão, mas contudo passou pelo dissabor do
empobrecimento, após anos de riqueza com a exploração do
ouro e da prata subtraídos àqueles povos dominados. Pelo
contrário, para aqueles povos indígenas centro –
americanos, muito mais organizados que outras nações
européias contemporâneas e, sob alguns aspectos, até mais
que seus dominadores espanhóis, a posse da riqueza
metalista foi o motivador da cobiça alheia e a sua ruína.
E quanto a posse de técnicas ou tecnologias mais avançadas? Aqui deve-se
abrir um capítulo especial, para explicitar
a definição mais apropriada para se
entender o quer dizer técnica ou a tecnologia.
Procurando explicar as razões da supremacia de algumas nações
européia, ocorrida entre os séculos XV e XVIII, em acentuada fase de expansão
comercial e marítima, SILVA vem a afirmar que, esta supremacia havia decorrido
devido a posse de meios e bens de produção, da posse de recursos bélicos mais
avançados, e dos recursos econômicos extraídos das próprias colônias dominadas.
Porem segundo KENNEDY ( Paul. Ascensão e Queda das Grandes Potências.
2 Ed. Rio. Campus, 1989), “ …a força relativa das principais nações no cenário
mundial nunca permanece constante, principalmente em virtude da taxa de
crescimento desigual entre as diferentes sociedades, e das inovações tecnológicas e
organizacional que proporcionam a uma sociedade maior vantagem que a outra…”
e continua “ a vitória de qualquer grande potência neste período, ou o colapso de
outra, foi geralmente conseqüência de prolongadas luta de suas forças armadas, mas
também da utilização mais ou menos eficiente de seus recursos produtivos em tempo
de guerra e, com menos destaque, pela maneira com que sua economia vinha
crescendo ou decaindo ..”
Aponta ainda que, a possibilidade de uma nação arcar com o alto custo
de um poder armado permanente, assim como a sua localização física em uma posição
geográfica favorável, também foram fatores decisivos para determinar seu destino
frente a seus rivais.
XVI
Na palavras de KENNEDY “ …a história sugere a existência de uma ligação
muito clara, a longo prazo entre a ascensão e a queda econômica de uma potência
militar.. pois que tanto a riqueza como o poder são relativos e como tal devem ser
vistos..” e aponta ainda o texto do autor alemão Von Hornigk de que “…se uma
nação é hoje poderosa e rica, isto não depende da abundância ou segurança de seu
poder e riqueza, mas principalmente de terem seus vizinhos mais ou menos desse
poder e riqueza..”
Este autor aponta ainda que por volta do século XV , tanto muçulmanos,
quanto chineses da dinastia Ming, quanto japoneses e russos do Reino de Moscóvia
possuíam as mesmas condições para um desenvolvimento e supremacia técnica e
militar tanto em terra quanto no mar, semelhante ao desencadeado pelas nações da
Europa ocidental a partir de então, só não o fazendo como uma opção política de suas
elites governantes.
Segundo KENNEDY ( Paul. Ascensão e Queda das Grandes Potências. 2 Ed.
Rio. Campus, 1989), é um fato a fragmentação geo- política da Europa, evidente
mesmo durante a dominação do Império Romano, provocada ou proporcionada,
principalmente, devido a sua diversidade geográfica e climática.
As rivalidade latentes causadas por esta fragmentação geo - política, as lutas
constantes na busca por um predomínio, e, aliado a todos estes fatores, uma procura
freqüente de avanços técnicos nos artefatos bélicos, que permitissem a um Estado
sobrepujar o Estado rival, estimulariam uma série de eventos e guerras que iriam
desencadear um processo de incessante desenvolvimento econômico e de inovação
tecnológica que fariam surgir, em épocas distintas, diversas lideranças comerciais e
militares do mundo.
Cita ainda que, este desenvolvimento na Europa, desde fins da era medieval e
princípios da era moderna, faziam o pêndulo do poder oscilar entre as Nações, jamais
permitindo a supremacia absoluta de qualquer delas isoladamente, porem permitindo
o estabelecimento de variados centros de poder econômico e militar.
Como fator desequilibrador neste processo, aponta o posicionamento físico
geográfico, de uma nação, o que no seu entender “ …ajuda a explicar por que duas
nações marginais como Rússia e Grã – Bretanha tinham se tornado muito mais
importantes em 1815. “.
XVII
Finalmente, aponta ainda a Revolução Industrial, nas
últimas décadas do século XVIII ,que permitiria a
Inglaterra a capacidade de tanto colonizar alem mar, como
de frustar a tentativa Napoleônica de dominar a Europa.
Aqui vale a pena registrar que, nem sempre a posse pura e simples de metais
preciosos, ou de outros elementos valiosos, poderá ser tomado como determinante
para qualificar um Estado como rico e poderoso. Pelo contrário, estes recursos muitas
vezes podem determinar a cobiça de outras nações que não os possuem ou de que os
necessitam em grande quantidade e, se a posse destas riquezas não for associada a um
braço armado forte e poderoso, certamente haverá de ser estabelecido um processo de
dominação em que a ética e/ou a razão dificilmente poderão estar presentes.
Do século XII ao século XX, o que tanto SILVA quanto FALCON e MOURA
e ainda KENNEDY apontam, consiste em uma alternância de Estados dominantes,
todos procurando manter ou estabelecer uma relação de dominação sobre os demais,
em que o fator determinante desta relação de dominação ou de supremacia é apoiado
sempre em um avanço econômico/bélico/ tecnológico qualquer sobre seus
concorrentes, domínio este que se procura manter a qualquer preço, eventualmente até
por força das armas.
Assim, por volta do século XIV/XV, o Estado português, foi primeiro a
completar o processo de unificação e centralização política na Europa. Devido a sua
posição privilegiada às portas do Mediterrâneo, foi alçado à condição de importante
entreposto comercial da Europa, e pode desenvolver uma grande capacidade na arte
de navegar. Esta capacidade, aliada a um período de ausência de conflitos regionais(
o que não acontecia com aos demais Estados europeus, os quais se atracavam em
guerras desgastantes), permitiu aos portugueses lançar-se em um processo de
expansão comercial e marítima. Isto lhes possibilitou descobrir as tão almejadas rotas
marítimas alternativas para as fontes produtoras das valiosas especiarias, antes que as
demais Nações/Estados européias.
Uma aliança rei / burguesia no século XV, financiou
e possibilitou aos
portugueses dominar e estabelecer uma rota marítima de influência e exploração
muito extensa. Esta rota contornava a costa da África até a Ásia, em uma busca das
mercadorias valiosas, às quais agora, só eles possuíam a possibilidade de acesso por
XVIII
outra rota que não a Mediterrânea, dominada pelas cidades italianas de Gênova e
Veneza. A viajem era
extremamente perigosa, porem em caso de sucesso, o lucro
obtido era astronomicamente alto, pois como aponta HUBERMAN (Leo. História da
Riqueza do Homem. Rio. Guanabara, 1986), somente na primeira viagem de Vasco
da Gama às Índias os lucros atingiram 6.000 %. Um único carregamento de um navio,
normalmente, significava transportar quase toda a quantidade anual de especiarias
anteriormente comercializada.
Contudo,
rotas
tão
extensas
de
perigosa
navegação,
aliadas
ao
enfraquecimento do monopólio português, com conseqüente queda nos preços destes
produtos, levou Portugal, já no inicio do século XVI, a perder esta posição de domínio
em relação às demais nações, as quais a cobiçavam devido aos ganhos que prometia
proporcionar.
Primeiro a Espanha, nos século XV e XVI ,quando se transformou na maior
potência do século, devido a conquista e a exploração dos tesouros em ouro e prata
das civilizações Inca e Asteca no Novo Mundo.
Depois
ingleses, franceses e
holandeses, logo ocuparam as posições de potências marítimas exploradoras e
colonizadoras, que não puderam ser sustentadas por Portugal e Espanha.
XIX
CAPÍTULO IV – A Técnica e a Tecnologia
(Navegar é preciso, viver não é preciso)
“Técnica ou tecnologia
são ambas
palavras empregadas por nos com
sentido confuso. Note-se que não é só entre nós que isto acontece” aponta VARGAS(
Milton. História da Técnica e da Tecnologia no Brasil São Paulo.Unesp,1994). “ Em
inglês, por exemplo, a palavra technology é empregada num sentido muito mais
amplo que o da língua portuguesa ”, continua este autor.
VARGAS define a técnica como “ a habilidade humana de fabricar, construir
e utilizar instrumentos. É tão antiga quanto a humanidade, descreve, admitindo-se a
idéia de certos antropólogos de que um fóssil só pode ser considerado humano se ao
lado dele forem encontrados instrumentos”
E a tecnologia? “As técnicas modernas, nas quais já são incorporados os
conhecimentos empíricos de origem científica, aparecem durante o Renascimento,
como por exemplo Leonardo da Vinci na solução de seus problemas. A tecnologia,
por fim só pode ter vigência depois do estabelecimento da ciência moderna,
principalmente pelo fato dessa cultura ser um saber que, apesar de teórico, deve ser
necessariamente verificado pela experiência científica” e é ainda mais inflexível
quando completa “somente na segunda metade do século XVIII desenvolve-se na
engenharia como aplicação de conhecimentos científicos nas construções de obras,
fabricação de utensílios e extração e preparação de materiais”.
Já ALBA( André. Roma , História Universal. São Paulo. Mestre Jou, 1964)
tem uma outra versão e define a técnica como “ a arte de inventar processos de
trabalho que dão melhor rendimento ”.
Porque a preocupação em definir bem o que poderia ser entendido como
técnica ou como tecnologia? Isto se deve ao fato de que BUENO ( Eduardo. A
Viagem do Descobrimento. Rio. Objetiva, 1999), parece indicar que já no século
XV, o Infante D. Henrique e o Colégio de Sagres, na vila de Lagos, seriam os
XX
precursores de um processo, aparentemente contraditório à VARGAS, e que sinaliza
quanto ao surgimento de um embrião, do que poderia ser facilmente entendido como
tecnologia..
BUENO sugere, sutilmente, que o suposto tesouro secreto dos Templários,
estes expulsos da França e acolhidos por Portugal, foram os financiadores (
assimilados como a Ordem dos Cavaleiros de Cristo), a Cruz de Copta dos
Templários como o símbolo ( ou Ícone, como se diz nos dias de hoje), assim como o
recrutamento dos sábios da época, cartógrafos, matemáticos e astrônomos ( a maior
parte, judeus, fugidos das perseguições de Castela), promovidos pelo Infante, tudo
isto como o desenvolvimento de um processo, “o qual no seu desenrolar se tornaria
não apenas uma aventura, mas quase uma pesquisa, metódica e científica de caráter
moderno “.
As inovações portuguesas na arte de construir embarcações, que BUENO
chama de “engenharia naval” , e na arte de navegar no mar- oceano, arrostando todo o
receio de enfrentar o “ Mar Tenebroso” como era conhecido o Atlântico, levaram à
necessidade de resolver problemas específicos e inéditos, para os europeus, que
jamais tinham se aventurado, regularmente, a navegar fora do Mar Mediterrâneo.
A caravela de velas latinas e a arte de navegar contra o vento (bolinar), que
BUENO chama de uma das maiores obras do engenho naval lusitano, o astrolábio, a
balestrilha, a agulha de marear, a compreensão e a busca de alternativas de guias de
navegação para o fenômeno do “afogamento da estrela polar” quando se avança para
o Sul, o entendimento e o aproveitamento da chamada “volta do mar”, que consistia
em navegar em direção ao leste, tirando o melhor partido dos ventos e das correntes
marítimas favoráveis do Atlântico, e principalmente, se afastando e escapando do
verdadeiro cemitério de navios que constituía a acidentada costa atlântica africana
sub-saariana, foram elementos decisivos e definitivos de alguma coisa que parece
apontar seguramente na direção do conceito de tecnologia.
A revista semanal Veja, não só concorda, como também aponta em um artigo
de novembro de 99 denominado “O gênio português”, as inovações revolucionarias
obtidas por eles para a arte de navegar e construir navios, dizendo literalmente “ Algo
como se naquele pequeno país, ainda com um pé na Idade Média, se desenvolvesse
uma versão renascentista do programa Apollo que levou o homem à Lua “, e cita
XXI
como alguns dos avanços: a graduação da rosa do ventos, a tecnologia de aumento da
área útil das velas, canhões nos costados dos barcos, as citadas vela latinas para
navegar à bolina, o astrolábio, mudanças estruturais decisivas nos cascos dos barcos
para melhorar as manobras e resistir as longas viagens transoceânicas, a implantação
de uma unidade de medida para a velocidade marítima, ainda utilizado atualmente.
As fontes para tais afirmações são citadas como Celso Melo da Universidade
Federal de Pernambuco e Francisco Domingues da Universidade de Lisboa. Segundo
as palavras deste professor de Física pernambucano, especialista em ciências das
navegações e citado pela revista “ no ponto de vista tecnológico, o Renascimento
começa em Portugal”.
BUENO afirma que a “ indústria naval portuguesa, uma das primeiras
indústrias com tecnologia de ponta na Europa - em torno de 1600 - produzia 800
navios de 500 toneladas por ano e impulsionava a indústria de cabos de cânhamo e
de linho para as velas, verdadeiramente dizimando florestas de madeiras nobres
utilizadas na construção naval “
Os únicos rivais portugueses nestas navegações de longa distância se
resumiam aos barcos espanhóis ( muito mais tarde) e alguns aventureiros barco
franceses em busca do pau brasil. Neste ponto aparece a pergunta: Porque então, com
tecnologia tão superior, a dominação marítima portuguesa foi tão breve e limitada ?
BUENO aponta como poderoso agente limitador a esta dominação a escassa
população portuguesa, e cita a tomada de Ceuta (na entrada do Mediterrâneo ) em
1415 , em que foram utilizadas mais de 200 embarcações, 50.000 soldados e 30 .000
marinheiros, como exemplo, esclarecendo que estes números representavam algo
próximo a 20 % da população total de Portugal.
Este pensamento já era apontado também por FREYRE ( Gilberto. Casa
Grande & Senzala. 28 Ed. Rio. Record, 1992), onde diz textualmente “ um Portugal
quase sem gente, um pessoalzinho ralo, insignificante em número – sobejo de quanta
epidemia, fome e sobretudo guerra afligiu a Península na Idade Média ”.
KENNEDY( Paul. Ascensão e Queda das Grandes Potências. 2 Ed. Rio.
Campus, 1989) também descreve “…em retrospecto, parece difícil, por vezes, de
compreender que um país, com a limitada população e recursos de Portugal pudesse
chegar tão longe e conquistar tanto.. “.
XXII
Contudo, apesar de sua pouca população, mas devido a seu avanço técnico na
arte de navegar, Portugal conquista a costa ocidental da África, explora a costa
oriental, domina as Índias, vai ao Japão, chega até a China e coloniza o Brasil,
ameaçando constantemente a dominação espanhola no Novo Mundo.
LANDES, (David. Riqueza e Pobreza das Nações. Trad. CABRAL, Álvaro São
Paulo. Campus,1999), aponta essencialmente o conservadorismo dos povos como o
grande elemento impeditivo para que se possa compreender e tirar proveito de um
grande avanço tecnológico.
É um fato também apontado por BUENO, que as velas latinas já eram
conhecidas desde o Império Romano, porem os portugueses foram os primeiros a se
aventurarem a utiliza-las nas caravelas, as quais também por sua vez, eram conhecidas
de há muito.
As lentes utilizadas nas lunetas, o relógio, fundamental para determinação das
posições nas viagens marítimas, a bússola e mesmo o princípio de impressão com
tipos móveis, assim como muitos outros avanços técnicos e tecnológicos em várias
áreas, são apontados por LANDES como há muito conhecidos, porem só tardiamente
foram incorporados no cotidiano e aponta a civilização européia como a grande
beneficiada, pois que foi a primeira a perceber a potencialidade de tais avanços,
creditando a este fato como uma demonstração da superioridade desta cultura
ocidental européia.
KENNEDY, relata que, nas últimas décadas do século XI, havia uma indústria
de ferro no norte da China, produzindo cerca de 125.000 toneladas por ano,
principalmente para uso do governo e para suas forças armadas, ressaltando que esta
produção era muito maior que a da Inglaterra no início da revolução industrial
setecentos anos mais tarde. Não obstante, quando se deu o início da revolução
industrial esta metalurgia chinesa já não mais existia, fruto do temor dos governantes
chinesas quanto a possíveis reflexos a dificultar a manutenção do pensamento oficial.
O receio dos governantes chineses a novas idéias era tal, que, no dizer de
KENNEDY, entre 1405 e 1435, a marinha chinesa MING possuía tal força naval que
poderia ter chegado a África, dobrado o Cabo da Boa Esperança e “descoberto”
Portugal décadas antes de Vasco da Gama, contudo um édito imperial em 1433,
praticamente desmantelou esta armada ao proibir as viagens e construções navais,
XXIII
pelo que podia significar de ameaça
ao poder e ao pensamento dos mandarins
chineses.
De uma forma diferente, a dominação portuguesa do Novo-Mundo logo se
distanciou do interesse do Estado, pois que os objetivos imediatos deste eram as
Índias, o que explica no dizer de FREYRE “ No Brasil, como nas colônias inglesas
de tabaco, de algodão e de arroz da América do Norte as grandes plantações foram
obra não do Estado colonizador, sempre sumítico
em Portugal, mas de corajosa
iniciativa particular… A partir de 1532 a colonização portuguesa do Brasil, do
mesmo modo que a inglesa da América do Norte e ao contrário da espanhola e da
francesa nas duas Américas, caracteriza-se pelo domínio quase exclusivo da família
rural ou semi rural ”.
Mas para implementar este tipo de atividade haveria necessidade de braços
para a lavoura, e a conseqüente ausência dos braços portugueses, tão escassos, foi
certamente suprida pela presença do gentio nem sempre submetido facilmente, e
normalmente a custa de violentos confrontos. A tal ponto era a carência de braços
para o trabalho na lavoura que BUENO cita HOLANDA ( Sérgio Buarque. Visão do
Paraiso) “Um espanhol se encarregaria de debochar dos portugueses afirmando que
as melhores minas ( de ouro ou prata) do Brasil são capturar e matar tapuias”.
Nas Índias, o interesse primário, a dominação portuguesa se caracterizaria por
uma extrema crueldade, com o objetivo de procurar
manter o domínio, e uma
corrupção extremada entre seus administradores, segundo o relato de BUENO (
Eduardo. Capitães do Brasil. Rio. Objetiva, 1999), a ponto de Francisco Xavier, um
jesuíta para lá designado, escrever para seus colega da Companhia de Jesus, “Não
permitais que nenhum de vossos amigos venha para as Índias com cargos e
nomeações do Rei, pois destas pessoas se pode em verdade dizer : Riscai-os dos
livros dos vivos e não os deixeis entrar nos livros do justos ”. Era uma constante,
apontada por BUENO, a
expectativa de um rápido enriquecimento, de modo a
também rapidamente se retornar a corte, e para isto todos os métodos eram válidos.
CAPÍTULO V - A dominação espanhola no sec. XVI
XXIV
(…se trata de cousas nunca vistas nas Índias, e não creio que haja nada em poder de
nenhum príncipe.)
De acordo com SILVA, (F. de Assis .História Geral, Moderna e
Contemporânea. 2 ed. São Paulo.Moderna,1990 ), o segundo país europeu a partir
para as grandes navegações foi a Espanha, e mesmo assim com um atraso de quase
oitenta anos em relação a nação portuguesa. Isto devido a prolongada guerra com os
árabes, que desde o século VIII dominavam a Península Ibérica, e as dificuldades
para se organizar como um Estado- Nação antes da constituição do reinado de
Fernando e Isabel, “ os reis católicos”.
Durante este reinado foi organizada a viagem de Colombo, a descoberta do
Novo Mundo, a assinatura do Tratado de Tordesilhas, e ocorreram as primeiras
notícias da existência de um Eldorado miraculoso, “o feitiço do Peru e a
extraordinária Serra da Prata “, dominados por um “rei branco”, como se refere
BUENO ( Eduardo. Náufragos, Traficantes e Degradados. Rio. Objetiva, 1999),
senhor de riquezas imensuráveis em ouro e prata. A partir daí ocorreu uma corrida
desenfreada, entre espanhóis e portugueses, relatada por BUENO, para a primazia
sobre tão rico botim.
Nesta corrida, continua o relato de BUENO, Portugal chega inutilmente a
exaustão de seus recursos, mas a vitória é da Coroa Espanhola, primeiro com Fernão
Cortez invadindo o México e iniciando a destruição da civilização Asteca, com
requintes de violência e atrocidades, para se apossar de seus fabulosos tesouros, e em
seguida com Francisco Pizarro, que finalmente, havia descoberto e fora capaz de
conquistar o império do lendário “rei branco” e sua fantástica Serra da Prata, com
extrema violência e crueldade.
Estes fatos se tornaram, segundo BUENO, os determinadores da alteração dos
objetivos da Coroa Portuguesa e a progressiva decadência do seu domínio nos mares,
substituídos, aponta SILVA, primeiro por espanhóis, e finalmente com o vazio
provocado pela decadência econômica deste Estado, dando margem ao surgimento do
domínio da Armada Britânica.
Na ironia do destino contudo, estes dois autores apontam o sucesso tanto de
portugueses nas grandes navegações quanto de espanhóis no domínio do Peru e do
Império Inca como os causadores de suas respectivas decadências.
XXV
Dos portugueses, quando o fluxo maior das especiarias provenientes das
Índias, provocou a redução do valor na cotação final do produto, com a redução dos
lucros das perigosas e onerosas viagens entre Portugal e as Índias.
Dos espanhóis, devido ao fato de que um tamanho aporte de ouro e
principalmente prata ( BUENO descreve que, em 1534, somente na alfândega de
Sevilha, o “quinto real” correspondia a 6000 kg de ouro e 11.700 kg de prata) ,
também desequilibrou o valor da cotação dos metais, em uma aparente contradição ao
texto de HUBERMAN ( Leo. História da Riqueza do Homem. Rio. Guanabara, 1986),
quando aponta “Ouro e prata. Quanto mais tivesse, tanto mais rico o país seria, o
que se aplicava as nações e também as pessoas”
Principalmente, é citado por SILVA que, a abundância e a relativa facilidade
de obtenção dos metais, promoveu uma completa despreocupação espanhola em
relação as demais atividades econômicas. Portanto ao esgotamento desta exploração é
também aliado o fato de que grande parte do ouro e da prata que chegava à Espanha,
era retirada de sua posse através de operações financeiras de banqueiros alemães e
italianos. De qualquer maneira, já no século XVII, ambas as nações estavam em
profunda crise econômica.
A dominação espanhola do Novo Mundo foi caracterizada inicialmente pelo
massacre das civilizações indígenas, pela exploração de suas riquezas através do
trabalho escravo nas minas e, só muito mais tarde com o esgotamento desta atividade
econômica, começou a haver uma tentativa séria de atividade agrícola como
alternativa econômica. A sua decadência já era previsível.
CAPÍTULO VI –Do Feudalismo ao Capitalismo
(Dizer hoje que o capitalismo pressupõe a existência de um proletariado já se
tornou lugar- comum…)
O feudalismo, sistema de produção predominante na Europa entre os séculos
IX e XI, se caracterizava por uma economia natural, de base agrária, pelas relações
XXVI
servis de trabalho e pela descentralização do poder político, não constituindo Estados
como hoje é conhecido. O mundo feudal era fechado, auto-suficiente como unidade
de produção, e normalmente se bastava como proteção, para sua comunidade de
servos e senhores.
Com o crescimento populacional à partir do sec. XI, começou a ocorrer
lentamente uma desagregação deste mundo feudal, relata SILVA (Francisco de
Assis. História Geral, Moderna e Contempôranea.2 Ed. São Paulo.Moderna,1992),
assim como o desenvolvimento de algumas melhores técnicas agrícolas, para um
melhor aproveitamento da terra cultivada.
Em algumas oportunidades, a existência de um excedente de produção
comercializáveis, aliado ao recrudescimento de uma circulação comercial entre
regiões na Europa, deu origem a uma mudança irreversível
nos conceitos de
exploração da terra (e dos homens) até então observados.
Cita o autor que, a busca de um ganho adicional sistemático, pelos senhores
feudais, com a produção destes
excedentes
para comercialização, foi um fator
desencadeante de profundas alterações nas relações econômicas, políticas, sociais e
culturais, entre os grupos humanos, desde este período na Europa medieval e,
provocou o surgimento de um novo sistema de relacionamento de dominação entre os
agrupamentos humanos.
Desta forma, o autor posiciona quatro etapas neste processo de
relacionamento, marcadas pela existência deste tipo de atividade de comercialização,
com o fim único de proporcionar ao senhor desta atividade um maior ganho adicional
sistemático:
- pré- capitalismo (século XII ao XV)
- capitalismo comercial (século XV ao XVIII)
- capitalismo industrial (século XVIII ao XX)
- capitalismo financeiro ( dias atuais)
Esta divisão é contestada por FALCON e MOURA (Francisco. Gerson. A
Formação do Mundo Contemporâneo. 4 Ed.Rio.Campus,1989), contudo a
qualificação e o posicionamento temporal destas fases não tem para este estudo
importância maior, uma vez que não é este o objetivo deste trabalho.
XXVII
Estes poderosos senhores ( a burguesia), feudais proprietários de terras, os
ligados as indústrias artesanais e, principalmente, os ligados ao comércio, aliaram-se
aos reis na luta pela centralização do poder político, pois acreditavam que, quanto
mais forte o Estado, maior defesa e proteção teriam no comércio nacional. E aqui
abre-se um parágrafo especial para inserir o papel dos representantes do alto clero da
igreja que, com posses de terras e a coleta de seus impostos próprios, como a venda de
indulgências, se enquadravam como grandes proprietários, no mesmo contexto de
interesses.
Esta aliança reis - burguesia acelerou o processo de formação dos Estados
modernos, onde um e outro procuravam mutuamente proteger-se e preservar os
interesses comuns, escudados no interesse do Estado. Os governantes entendiam que
o controle das atividades econômicas dinamizariam a economia nacional e
enriqueceriam a nação, e neste conceito tinha todo apoio da burguesia, para quem um
Estado forte significava bons negócios e altos lucros e principalmente supremacia
sobre outros grupos nacionais.
CAPÍTULO VII – As colônias européias. O mercantilismo
( O princípio de toda soberania reside essencialmente na nação)
Ingleses, Franceses e Holandeses logo estabeleceram domínios ultramarinos
que lhes permitiram exercer uma efetiva política colonialista de exploração
econômica do continente americano, africano e de grande parte do asiático,
XXVIII
provocando um grande fluxo de riquezas para a Europa. Este fluxo permitiu criar
condições para o desenvolvimento de uma supremacia deste
países atlânticos.
Possibilitou o desenvolvimento de uma expansiva política mercantilista de
dominação. Provocou ainda, definitivamente, a transferência do eixo econômico do
Mediterrâneo para o Atlântico.
Todas estas potências colonialistas, segundo SILVA, submeteram as suas
colônias (exceto as inglesas da América do Norte, devido à características locais
impróprias ), a uma política de plena exploração econômica em benefício do governo
central e da burguesia mercantil metropolitana. Estabeleceram uma política
de
monoculturas agrícolas, extração predatória de recursos naturais e pleno emprego de
tráfico e trabalho escravo.
O processo de exploração colonialista, independente de
quem
o
praticava,
possuía uma característica
comum que eram os interesses da alta burguesia
comercial aliada ao Estado na sua implementação. Assim a administração das
colônias espanhola estava a cargo do espanhol Conselho das Índias.
A exploração açucareira durante a colonização portuguesa foi em princípio
financiada com capital holandês. A colonização inglesa foi impulsionada inicialmente
por grandes proprietários e por companhias de comércio como a Companhia de
Londres e a de Plymouth.
A colonização francesa foi também financiada por companhias particulares
com participação da Igreja Católica e, com a constituição da Companhia das Índias
Ocidentais Francesas. Finalmente, a colonização holandesa caracterizou-se
pela
constituição, já no início do século XVII, de duas grandes companhias de comércio, a
Companhia das Índias Orientais e a Companhia das Índias Ocidentais. A Companhia
das Índias Orientais holandesa avançou rumo ao Extremo Oriente em busca de seus
produtos, e a Companhia das índias Ocidentais foi a responsável pelas invasões
holandesas no Brasil e pela colonização de regiões americanas.
Estas iniciativas de investimentos particulares nas colonizações poderia ser
interpretada como o embrião das multi - nacionais como entendidas hoje e são
caracterizadas pelo que chamam FALCON & MOURA ( Francisco. Gerson. A
XXIX
formação do Mundo Contemporâneo.4 Ed. Rio.Campus,1989) de antigo sistema
colonial mercantilista.
Os autores FALCON e MOURA posicionam também de uma maneira muito
clara a luta e o desenvolvimento da cultura capitalista, qualificada como de
acumulação, nos séculos XIV / XV / XVI .
Tal como SILVA (Francisco de Assis. História Geral, Moderna e
Contemporânea. 2 Ed. São Paulo.Moderna,1992 ), apontam as práticas e costumes do
fim do período feudalista e igualam a busca de acumulação de terras, de bens de
propriedade e, mais amplamente, aquela decorrente do produto de saques e piratarias,
como os espanhóis na América e o inglês na Índia que, quando se esgotam estas
fontes de acumulação, voltam-se para o comércio, de especiarias ou de escravos.
Sendo este Novo Mundo rico em terras e minas, configura-se uma conjugação
de três formas de exploração para um melhor aproveitamento destas novas terras: a
exploração das minas, a exploração agrícola e a exploração da mão de obra escrava aí
incluindo o tráfico.
Ambos autores apontam as lutas européias como uma característica para
estabelecer uma hegemonia em suas relações internacionais de dominação dos novos
mundos ao longo dos séculos XIV até XVIII devido ao alto grau de lucratividade da
exploração destas colônias.
O mercantilismo
como política de expansão econômica de uma era de
acumulação primitiva, integra e coordena os esforços de uma burguesia, garantindolhe privilégios, lucros, exclusividade, defendendo os seus níveis de renda através da
proteção estatal. Faz ainda valer seus interesses em relação à nobreza, como também
em relação aos camponeses e artesãos reduzindo estes últimos a condição de
dominados proletários rurais e urbanos.
Estes proletários rurais,
deslocados de sua atividade, nesta fase de
acumulação capitalista primitiva, devido ao desvio da atividade do proprietário rural,
provocam um surgimento de um excesso populacional urbano, justamente nesta fase
de pré - industrialização capitalista, quando,
se por um lado abrem-se novas
perspectivas de multiplicação do trabalho, por outro exacerbam todos os critérios de
XXX
exploração do homem pela burguesia, na sua luta desesperada por mais ganho
adicional.
Esta transformação fica mais evidenciada na Inglaterra em meados do século
XVIII, que ao se industrializar, verificava um rápido crescimento dos mercados
interno e externo com uma exigência constante do aumento da produção
manufaturada.
CAPÍTULO VIII – A Revolução Industrial e o Capitalismo
(…o que importava agora era principalmente exportar…)
Aqui cabe relatar a idéia da propagação da Revolução Industrial, neste século,
apontada por FALCON e MOURA, quando se verifica que nem todos os países
conseguiram atingir idêntico grau de industrialização e na mesma velocidade, mesmo
XXXI
aplicando ou até copiando todo o processo inglês, devido possivelmente às condições
estruturais, econômicas ou sócio - culturais não idênticas.
Segundo estes autores, e também KENNEDY, a resposta a esta questão deve
ser procurada nas circunstâncias que cercam um país que, enquanto se industrializa,
acelera a sua ação econômica sobre seus vizinhos que estão em um estágio menos
avançado de industrialização, bem como cada país ou região que recebe influências
segundo suas próprias condições internas.
Em alguns casos tanto os investimentos externos como a luta de interesses são
transitórias, e assim as condições estruturais são satisfatórias o que permite, ao fim de
certo tempo, ultrapassar esta condição de dependência. Contudo isto nem sempre se
verifica por variados fatores e o país é convertido em verdadeira área de
empreendimentos coloniais de outros países desenvolvidos.
Isto se verificou na
própria Europa, onde pode se constatar uma Europa desenvolvida e outra não,
colonizada pelos próprios europeus no século XIX.
A Inglaterra porem, no seu processo de industrialização, desfrutou de todas as
condições favoráveis que lhe pode proporcionar a condição de pioneira e
se
industrializou em um pleno regime de livre concorrência e de franco liberalismo,
condição esta que nenhum país, posteriormente, pode desfrutar, porque já existia a
concorrência dos produtos ingleses.
Sendo assim, o protecionismo passou a ser essencial a todos aqueles que
desejassem desenvolver a própria indústria, se quisessem poupa-los da competição
inglesa. O processo de industrialização de alguns países, revelou-se portanto, não raro
voltado para a exploração de certas condições locais, com predomínio de capital
estrangeiro. Isto quando não apenas se apresenta altamente dependente deste capital
internacional, e este investimento assume feição nitidamente especulativa.
Até meados do século XIX, consistia essencialmente
no intercâmbio
comercial a relação da Europa industrializada com os demais países não europeus,
porem já no início do século XX, a Europa completara a dominação de vastas
extensões territoriais do planeta, subordinando-lhes à economia da mesma forma
como procedera com as economias dos países não industrializados.
XXXII
Estados Unidos e Japão procederam identicamente logo a seguir. Este
expansionismo
político/econômico que se reflete até os dias atuais e segundo
FALCON e MOURA é fruto das mudanças significativas nas organizações
econômicas, sociais, políticas e culturais que ocorreram. “Passaram-se os dias das
pequenas nações ; chegou o dia dos Impérios” citam estes autores, e ainda apontam
Barraclough “ ...poucos historiadores teriam negado que o “ novo imperialismo ” era
uma expressão lógica e uma conseqüência dos progressos econômicos e sociais dos
países industrializados...”
Dentre as mudanças significativas anotadas, ressalta-se o aparecimento das
grandes empresas, a tendência ao monopólio, uma política econômica protecionista e,
um novo impulso colonial que promoveu a partilha de quase todas as áreas de
influência do planeta e, com isto, um aguçamento das rivalidades internacionais. Tais
fatos se fizeram presentes em uma época de grandes crises do sistema com uma
intensificação da luta violenta na concorrência por mercados internos e externos.
Assim, o chamado jogo liberal tornou-se sem valor, pois todos os seus
paradigmas, como a livre concorrência, a oferta e procura foram completamente
subvertidos pela ação do grande capital e do Estado sobre o mercado, em benefício
próprio, apesar da pregação da ideologia liberal e seus pressupostos permanecerem
presentes. Os autores citados apontam tais acontecimentos como “ transformações
estruturais do capitalismo ”.
O processo de absorção ou eliminação de empresas pelas suas concorrentes
mais forte ou mais hábeis, com o emprego de métodos nem sempre éticos, tornou-se
uma constante em uma tendência marcantemente monopolista. Este processo ocorreu
tanto nas industrias como nos bancos e deu origem também a chamada integração de
produção, quando um grupo dominava verticalmente todas as fases do processo,
incluindo até a financeira.
O gigantismo das associações forçou o surgimento das sociedades anônimas
ou por ações, devido às limitações do capital frente ao vulto do propósito, elevando
gradativamente as políticas protecionistas, a utilização de recursos vários e pouco
éticos no contexto das nações, para valorizar um produto e seu preço, e levou ao
surgimento da tendência de exportação de capital na busca de melhores alternativas
de investimento.
XXXIII
A reorganização geral da economia e da sociedade nas nações capitalistas
mais industrializadas geravam novas exigências econômicas e estas por sua vez,
novas políticas estatais e maior competição internacional. Agora, o importante era
colocar nas áreas visadas o capital disponível, enquanto na fase anterior a ênfase
estava na troca de produtos primários e alimentos por produtos industrializados.
Este capital chegava nas áreas de interesse sob a forma de empréstimo ou de
investimentos, como obras públicas, e atividades primárias. Assim o envolvimento era
total, direto ou indiretamente, e os lucros eram realizados tanto na produção como no
serviço. A esta competição se seguiu uma repartição das áreas disponíveis do
mundo de acordo com o poderio de cada Estado empenhado na corrida.
É apontada a formulação de Cecil Rhodes em que a expansão pretendida em
uma área mundial limitada levava ao disponível ou seja tomar quantos pedaços
possível . E esta expansão se fazia a todos os títulos, chegando a caracterizar-se até
por seu aspecto supranacional. Neste contexto surgem acordos até entre grandes
empresas que operam no mesmo setor em vários países, sendo clássico o caso das
petrolíferas, quando ou partilhavam mercados ou se empenhavam em lutas ferozes.
Outro caso clássico a demonstrar a pouquíssima ética envolvida nestas disputa
por mercado entre nações foi a chamada Guerra do Ópio na China no século XIX.
Ao se resguardar da influência ocidental, que presumia perniciosa, a China não
permitia aos comerciantes ocidentais desembarcar em solo chinês. Estes então
apelavam amplamente para o contrabando, introduzindo até mesmo o consumo do
ópio que traziam de Bengala, onde era cultivado pela inglesa Companhia das Índias.
O confisco e a destruição de um carregamento deste ópio por uma autoridade
chinesa foi o pretexto para a Inglaterra deflagrar uma guerra que forçou a abertura de
cinco portos chineses e submetendo Hong - Kong ao domínio inglês. Mais tarde
outras guerras a mesmo pretexto permitiram a ingleses e franceses obter mais onze
portos e submeter a China a um não desejado relacionamento diplomático. Os tratados
obtidos ficaram muito apropriadamente conhecidos como “Tratados Desiguais” pela
quantidade de concessões a que os orientais foram submetidos.
Um mesmo tipo de coação forçou o Japão a se submeter aos interesses
americanos em 1853 com cessão de dois portos ao comércio americano e submetia
este país também a um não desejado relacionamento diplomático. Neste contexto
XXXIV
vemos a missão ao Japão do Almirante Perry para apresentar uma mensagem ao “
Xogum ”
“… um grande número de nossos navios dirige-se ao Japão. Como prova
de nossas intenções amigáveis trouxe agora apenas quatro pequenos,… mas está
pronto a voltar com uma força bem maior…”
Inglaterra, Holanda e Rússia rapidamente seguiram o exemplo americano.
Em 1894, já com pleno desenvolvimento industrial e militar, o próprio Japão trilhou
idêntica expansão imperialista.
XXXV
CAPÍTULO IX – A América Latina
(O Terceiro Mundo, os deserdados, os malditos da Terra… )
A América Latina já estava incorporada ao mercado mundial no início da
Revolução Industrial em termos de intercâmbio comercial, porem acentua-se de
modo extraordinário sua inserção durante o século XIX .
Os investimentos britânicos alcançavam 2/3 do total aplicado pouco antes da
Primeira Guerra Mundial, contudo as possibilidades de um processo industrializador
auto sustentado se frustrava devido ao destino do capital, fortemente direcionado para
o setor exportador, aliado a um mercado interno muito limitado.
O interesse norte americano por esta região explicitado no ” destino manifesto
”, um sonho americano acalentado no século XIX, tornou-se um programa de política
externa. Ao pretender manter esta região como sua esfera de influência econômica,
visava principalmente aqueles países com possibilidade de neles situar bases navais
que circundassem o seu território nacional. Daí o seu interesse pela América Central,
Caribe, e todo o Oceano Pacífico.
FALCON e MOURA demonstram que as várias
causas à dificultar e retardar a industrialização da região
sob a ótica de vários autores, não conseguem conciliar as
justificavas apresentadas. E aqui cabe apresentar o papel do
Estados Unidos na pretensão de manter como reserva de
interesses os Estados latino americanos, como nas palavras
de Cabot Lodge em 1895:
“as grandes nações do mundo estão devorando rapidamente todos os lugares
desocupados da terra, com vistas a sua futura expansão e a sua defesa atual; como
uma das grandes nações do mundo, os Estados Unidos não devem ficar atras”.
No início do século XX ficou evidenciado todo o grau interesse e intervenção
americano nos vários episódios de formação da América Central, como a guerra
hispano americana, a intervenção na Venezuela, a independência do Panamá, a
independência de Cuba em face da Espanha, quando houve a interferência direta de
tropas americanas na defesa de seus interesses econômicos nas plantações de cana-deaçucar, ( com a vitória, o congresso aprovou emenda que lhes garantia o direito de
intervenção direta em Cuba), a ocupação de Porto Rico.
XXXVI
A intervenção européia
(anglo/franco/italiana) na Venezuela, provocou,
segundo a ótica da nação americana do norte, o ideal do contra- intervencionismo
europeu, sob a alegação do seu próprio direito de intervenção, com a doutrina
Monroe. Outro caso exemplar ocorreu quando o Congresso da Colômbia recusou-se a
ratificar um tratado entre governos para o arrendamento de parte do território
colombiano para a construção de um canal entre o Pacífico e o Atlântico. Logo um
movimento separatista proclamou a independência da região, denominada Panamá,
prontamente reconhecido e apoiado com tropas, pelos norte americanos. Uma
seqüência de intervenção em vários outros países da área logo determinaram os rumos
da exclusiva área de influencia americana.
As justificativas para tais ações seriam a alegada superioridade de civilização
explicitadas na doutrina Roosevelt:
“ Incidentes crônicos, a incapacidade ( de certos governos)... podem na
América, como em outros lugares, requerer a intervenção de uma nação civilizada…
mesmo contra a vontade, a exercer poderes de policia internacional em casos de
claro incidentes ou incapacidade “.
A doutrina Monroe, se também pregava a mesma formulação, era contudo
mais enfática em seus objetivos:
“ Se é verdade que nossa política estrangeira não deve desviar-se ....do
caminho reto da justiça, isto não exclui de modo algum uma intervenção ativa para
assegurar a nossas mercadorias e a nossos capitalistas facilidades para
investimentos lucrativos, fontes de beneficio para as duas partes(?) em presença “.
XXXVII
CAPÍTULO X – O Brasil
( Cada um dos filhotes do chupim é criado a custa de um ou dois de seus
hospedeiros…)
Nas primeiras três décadas após o descobrimento ( 1500 a 1532 ), não houve
por parte da coroa portuguesa um maior interesse na colônia recém descoberta. Como
bem
descreve
BUENO
(
Eduardo.
Náufragos,
Traficantes
e
Degradados.Rio.Objetiva, 1999 ), o objetivo único sempre foi as Índias e suas
ambicionadas e valiosas riquezas. Porem, as notícias do “ Rei Branco e das minas de
Potosi “ assim como das suas mitológicas riquezas em ouro e prata, provocaram uma
verdadeira corrida entre as coroas espanhola e portuguesa para a primazia de tão rico
botim do Novo Mundo.
A vitória espanhola com Cortez e Pizarro, desanimou a coroa portuguesa e
novamente deslocou o foco da ambição para as Índias. Apenas o interesse dos
franceses no comércio do pau brasil despertou um pouco mais a coroa da letargia
sobre a nova colônia, a ponto de
Duarte Coelho,
Donatário da Capitania de
Pernambuco, em uma de suas várias cartas a D. João III , estando ciente do maior
interesse do Rei nos metais preciosos que nos produtos da terra, lhe escreveria em
1542 “ …quanto as coisas do ouro, Senhor, nunca deixo de inquirir e procurar sobre
o negócio, e cada dia se esquentam mais as novas do sertão…”.
O desinteresse e o descaso da coroa com a colônia era tão flagrante que Luiz
de Gois, irmão de Pero de Gois, Donatário da Capitania de São Tomé, em São
Vicente, no ano de 1548 escreveria ao rei “ Senhor… peço a Vossa Alteza… queira
perdoar meu atrevimento … pois vos digo, mui alto e mui poderoso Senhor, que se,
com tempo e brevidade , Vossa Alteza não socorrer estas capitanias e costa do Brasil,
que ainda que nós percamos as vidas e as fazendas, Vossa Alteza perderá a terra …
e, ainda que nisso perca pouco, ….aventura-se a perder muito porque não está em
mais serem os franceses senhores dela, porque assim que se acabarem de perder
estas capitanias que sobram, terão eles (os franceses) um pé no Brasil e tenho medo
de onde quererão e poderão botar o outro….pois de dois anos para cá, vem a esta
parte de sete a oito naus (francesas) a cada ano, …. e já não há navio (português)
que ouse por aqui aparecer… Enquanto não passavam do Cabo de Santo Agostinho,
chegando no máximo até a Bahia, não eram tão perigosos, pois não se atreviam a
XXXVIII
dobrar o Cabo Frio. Queira Deus que não se atrevam agora a dobrar o Cabo da Boa
Esperança ”. Proféticas palavras, quando pouco mais de um século e meio mais tarde,
foram os portugueses substituídos por ingleses e holandeses no domínio das Índias.
BUENO aponta que onde se tentou alguma colonização durante as Capitanias
Hereditárias esta foi apoiado exclusivamente no capital privado, condição que estava
já expressa na própria intenção de partilha das Capitanias, uma vez que a coroa
portuguesa não dispunha, nem se propunha a dispor de recursos para promover esta
colonização, e ainda era sempre questionada internamente na corte pelo que
empregava na nova colônia, como dizia D. Antônio de Ataíde em carta a D. João III
em fins de 1542:
“ No Brasil tem Vossa Alteza gastado muito dinheiro e começou a gastar no
ano de 1530. Mistério grande foi fazer-se a primeira despesa a fim de coisa que não o
merecia”.
Curiosamente CALDEIRA ( Jorge. A Nação Mercantilista. Rio, 34, 1999)
aponta o desprezo pelo desenvolvimento nacional como uma das causas dos
problemas brasileiros até os dias atuais. Segundo este autor, apesar de todos os
problemas presentes durante o processo de colonização, esta se processava de um
modo muito promissor.
O engenho de açúcar, como estruturado no Brasil, tinha um funcionamento o
mais próximo das atuais fábricas que qualquer sistema de trabalho da época, e, se não
havia uma moeda para regular as trocas econômicas, logo o escravo africano supriu
este papel de uma maneira tão completa, que o meio ( o escravo) substitui o fim (
moeda de troca), dando surgimento a uma nova fase da economia.
No livro de VARGAS ( Milton. História da Técnica e da Tecnologia no
Brasil.São Paulo.Unesp,1994 ), o conferencista Ruy Gama aponta o papel pioneiro da
manufatura do açúcar, que por quase quatrocentos anos, desde o início da
colonização, representou como pilar de sustentação da economia brasileira. E enfatiza
o seu aspecto estritamente capitalista, industrial e coletivo, pois que era financiado
pelo capital internacional ( entendido na época como genoveses ou holandeses).
XXXIX
É já uma atividade essencialmente voltada para a exportação, envolvendo
Portugal apenas como intermediário de um trajeto, o qual, invariavelmente, levava a
portos holandeses, alemães, franceses, ingleses e genoveses
Prossegue CALDEIRA apontando que o Brasil de 1770 possuía o dobro das
exportações do Estados Unidos, e que a economia colonial brasileira do fim do século
XVIII era maior e mais diversificada que a dos Estados Unidos, chegando, no seu
entender, a ser a maior do Novo Mundo.
E aí, aponta CALDEIRA, começa a decadência. A chegada de D. João VI ao
Brasil
“ dispara e intensifica
deliberadamente pensada para
a formulação de uma política econômica
atender os interesses de uma minoria pouco
interessada no progresso, de modo a excluir os interesses da maioria ”. Segundo este
autor o projeto do Rei era manter tudo onde sempre esteve. Numa era de revoluções
industriais e capitalistas, agravadas por idéias de progresso e anseios libertários, todo
o esforço deveria ser voltado para impedir que esse perigoso conjunto viesse a abalar
a tranqüilidade da produção da colônia e das elites que dela usufruíam. Neste
contexto, continua o autor, o escravo que tinha sido utilizado como meio passa a ser
o fim e cobra o seu preço no desenvolvimento da colônia que antes se prenunciava
brilhante.
CONRAD (Robert. Os Últimos anos da Escravatura no Brasil. Rio. Civ.
Bras.1999) , descreve que o Império Britânico pressionava D João VI por volta de
1810, para abolir o tráfico de escravos. Depois da independência e ante as restrições
das elites brasileiras que não podiam se imaginar sem escravos, o Império Britânico
passou a utilizar para esta repressão a sua poderosa armada, chegando até a bloquear
o
porto do Rio. Neste contexto o autor aponta que os nobres e humanitários
sentimentos ingleses estavam todos apoiados no surgimento da revolução industrial e
do capitalismo,
onde evidentemente escravos competiam como força de trabalho
com as máquinas e estas eram produto de exportação, e homens livres e assalariados
eram também, livremente, consumidores potenciais de seus produtos manufaturados.
Fruto da produção de suas máquinas, que deveriam serem consumidos avidamente
como os espelhos e objetos de ferro, pelos índios, na época do descobrimento.
A situação pode ser um pouco melhor entendida quando o autor descreve que
Scott Blacklaw, agente que representava no Brasil os interesses britânicos do café do
XL
Ceilão (hoje Sri Lanka), na década de 1880, estimulava as fugas de escravos e
pregava a adoção de trabalho assalariado, não por razões humanitárias, mas sim
porque queria ver o produto brasileiro, concorrente ao seu, mais caro no mercado
mundial.
Dentre outro dos vários episódios característicos pode ser observada a luta
pelo petróleo descrita por LOBATO (Monteiro. O Escândalo do Petróleo. 4 ed. São
Paulo: Nacional, 1936). Ele aponta que a evolução da capacidade humana dos
músculos às máquinas, com a utilização da energia, torna possível uma
transformação, em que as nações mais poderosas neste caso
produtores/consumidoras
são as
de fontes primárias de energia e desta forma
industrializadas. As nações ricas em matéria prima produtora de energia primária
como o carvão inicialmente e o petróleo posteriormente passam a ter influencia
fundamental nos destinos mundiais.
Cita Lobato-“Elliot Alves, chefe da “British Oilfields”que o governo inglês
organizou para lutar contra a Standard Oil Company, disse: O país que dominar
pelo petróleo dominará também o comércio do mundo. Porque a base fundamental da
vida industrial moderna repousa no combustível”.
E o combustível é o fundamento do avanço tecnológico. Sem combustível
para acionar máquinas de transporte ou de processamento a civilização para e retorna
às cavernas.
Com esta linha de argumentação, Lobato pretendia demonstrar a existência de
jazidas de petróleo no Brasil de 1930, de maneira a obter a independência do Brasil
dos interesses das grandes companhias petrolíferas americanas e inglesas as quais, de
todas as formas, e, com o apoio de brasileiros de interesses pouco confessáveis,
teimavam em tentar manter sob controle externo.
Destaca-se na narrativa de Lobato o assassinato de muitos seguidores em
situações pouco esclarecidas, em um evidente esforço dos interesses contrariados em
calar bocas e pensamentos inconvenientes.
O cearense Delmiro Gouveia foi outro grande expoente desta luta para
desvincular os interesses do Brasil dos interesses das grandes empresas inglesas e
americanas. Estas procuravam manter, a qualquer custo, o Brasil como seu mercado
XLI
de produtos industriais, impedindo
qualquer desenvolvimento tecnológico que
pudesse comprometer esta dominação. Tal como nos relatos de Lobato, pagou com a
vida o sonho de subtrair aos dominadores o controle tecnológico.
Quando Delmiro Gouveia conheceu o distrito da Pedra, sua proximidade da
cachoeira de Paulo Afonso e as possibilidades de explorar racionalmente toda aquela
região, teve a idéia de realizar ali um grande projeto. Havia viajado diversas vezes à
Europa e aos Estados Unidos e vira a transformação que a utilização da energia
elétrica provocara na indústria. Na região onde ficava situado o distrito da Pedra,
confluência de quatro estados, servido por ferrovia e banhado pelo rio São Francisco,
era verdadeiro corredor de todo o comércio do sertão.
Em 1914, organizou a Cia. Agro-Fabril Mercantil e instalou, no salto de
Angiquinho, no lado alagoano do rio, uma usina hidrelétrica
com turbinas e
geradores alemães e suíços e, próximo, um complexo têxtil industrial, com máquinas
inglesas, para produção de linhas, fios e cordões em novelos, com a marca Estrela. A
fábrica passou a abastecer em 1916, alem do Brasil, os mercados da Argentina, Chile,
Peru e outros países andinos.
O grupo britânico Machine Cotton ( Linhas Corrente) que monopolizava o
mercado brasileiro e latino americano não demorou a reagir e executou diversas ações
objetivando desativar ou adquirir a concorrente. A intensidade de seus interesses
contrariados pode ser avaliada com a alegação do truste ao jornal Daily Mail de 19
de fevereiro de 1920 que, no ano anterior, seus lucros haviam sido de 19% na
Inglaterra e de 80 % no Exterior.
Delmiro Gouveia, que batalhou ferozmente pelo seu sonho, foi assassinado em
10 de outubro de 1917, em circunstâncias nunca totalmente esclarecidas.
A ação da Machine Cotton para desativar a concorrência foi de tal maneira
escandalosa, a ponto de provocar uma reação do governo federal através do Decreto
17.383 de 19 de julho de 1926 em que o presidente da República Artur Bernardes
assinou, quintuplicando o valor da taxa de importação sobre linhas de coser. O texto
introdutório do Decreto aludia à "terrível concorrência" movida contra a única
fábrica brasileira de linhas e baseava-se em documentos apresentados pela Cia
Agro-Fabril para afirmar que estava evidenciado o "propósito dos fabricantes
XLII
estrangeiros de extinguir a concorrência nacional, para, dominando o mercado,
estabelecerem preços exorbitantes".
Dois anos depois, no governo Washington Luis, a lei foi revogada.
Empenhado em estabilizar a moeda e contando para isso com os banqueiros ingleses,
o presidente teria sido advertido, pelo embaixador britânico Henry Lynch, de que os
banqueiros seus compatriotas considerariam a volta da barreira alfandegária
como um ato de hostilidade.
Em novembro de 1929, na sede da Machine Cotton, na Escócia, a fábrica
Estrela foi vendida, seguindo-se o desmantelamento das máquinas e desmonte do
complexo.
Todos estes relatos apontam claramente para uma terrivel força coercitiva, que
não hesita em usar os mais infames e escusos recursos para manter o estado de
dominação tecnológico/econômico no qual o interessado procura tirar o maior
proveito possível desta situação, opondo-se ferozmente a qualquer iniciativa que se
proponha altera-la.
XLIII
CONCLUSÕES
(Sim. Echelon existe !!!! )
Recentemente o dep. Walter Pinheiro ( PT-BA) pediu á Mesa da Câmara que
solicitasse ao Parlamento Europeu uma cópia do relatório que
parece provar a
existência de um ente abstrato que lembra ficção: O Sistema Echelon.
Os partidos europeus, aparvalhados, parecem não querer acreditar neste ser
abstrato, que como um “Grande Irmão “ a todos espiona, e em um nível global como
nunca se pensou possível.
Qual o significado real de Echelon?
De uma maneira simplista poderia ser interpretado ou reconhecido como um
grande sistema espião a nível global, fruto da mais moderna engenharia de sistemas.
O verdadeiro BIG BROTHER da ficção literária. Porem, à luz do que foi possível
compreender com este trabalho, pode-se concluir que Echelon não apenas existe
como sempre existiu desde o Império Romano e até antes. Ele estava presente no
Senado Romano, nas cortes feudais, nos palácios muçulmanos, nas grandes
navegações, na conquista das Índias e na colonização do Novo Mundo, no
desenvolvimento do capitalismo, na revolução industrial, em suma, em todas as etapas
do desenvolvimento humano, a partir daquela constatação apontada no início deste
trabalho, de que “o homem é o próprio lobo do homem”.
Fica constatado de uma maneira bastante evidente, que a simples coexistência
de agrupamentos humanos distintos, leva junto consigo a necessidade de que um
agrupamento submeta o outro, segundo as suas próprias razões. Nesta ótica não existe
razão maior, mais nobre ou humanitária que a própria razão de sobrevivência.
O exemplo espanhol na América e muito esclarecedor. As próprias
civilizações Maias e Astecas que a dominação espanhola dizimou de maneira tão
selvagem já haviam dizimado, de maneira não menos selvagem, tribos menores.
A escravidão indígena e negra no Brasil colônia já havia sido precedida por
escravidões similares nos grupos de origem, apenas o dono e senhor dos escravos é
que havia mudado. As regras capitalistas não atenuam o reino de Echelon, apenas o
disfarçam com novas cores, que não são menos crueis.
XLIV
Quando KENNEDY ( Paul. Ascensão e Queda das Grandes Potências. 2 Ed.
Rio. Campus, 1989) afirma que “um ambiente territorial pode ser menos ou mais
seguro, não em função do que um estado possui em poder e riqueza, mas sim em
função do que seus vizinhos possuem deste poder e riqueza “ , ele quer dizer
exatamente que vizinhos poderosos e ambiciosos são em última análise sempre um
perigo a sobrevivência nacional. É mais uma vez o homem lobo a perseguir o lobo
homem. É Echelon revivido.
No mundo moderno e globalizado o conceito de vizinho perde todo o seu
sentido de proximidade física e assume um sentido de interesses conflitantes. Já no
século XVI, sem globalização, este conceito era evidente, no interesse dos franceses
no pau brasil e na rota para as Índias, a ponto de provocar a carta de Luiz de Gois ao
Rei D. João III.
O Império Romano combatia os bárbaros na Gália Cisalpina sob o pretexto de
levar a eles a luz da civilização romana, e para isto empregava meios e recursos tão ou
mais selvagens e bárbaros quanto os que dizia combater. E isto sob a fé na civilização
romana.
Enquanto os árabes conquistavam e dominavam o mundo Mediterrâneo com o
respaldo da fé religiosa, as cortes portuguesas e espanholas repartiam o mundo entre
si, com o respaldo não menos religioso do poder do Papa, no Tratado de Tordesilhas.
Logo em seguida a revolução industrial, o Império Britânico tomava a si
metade do mundo sob o respaldo da fé no capitalismo e no mercado. E este conceito
de fé no mercado e no capital foi levado ao máximo sob o calcanhar do imperialismo
norte americano que com ele parece querer levar todo o planeta a submissão global,
em um enfoque inédito do conceito de globalização.
A esta conclusão parece ter até o nosso Presidente FHC alegremente chegado,
quando em uma entrevista a revista Veja aponta que os EUA “ não precisam mais da
força para invadir: os Estados Unidos invadem pela cabeça via meios de
comunicação, tecnologia ”.
Aqui a submissão explicita a um conceito novo
apontado no início deste trabalho: a fé na tecnologia. Assim
como os portugueses dominaram as grandes navegações com
uma nova tecnologia em navegação de grande distâncias, as
XLV
nações tecnicamente mais evoluidas pretendem, em um novo
Tratado de Tordesilhas, redefinir uma nova divisão do
mundo em áreas de influencias, ainda que sob a égide do
poder maior americano. Como se as palavras de Cabot
Lodge em 1895 fossem agora tão atuais como quando
proferidas:
“as grandes nações do mundo estão devorando rapidamente todos os lugares
desocupados da terra, com vistas a sua futura expansão e a sua defesa atual; como
uma das grandes nações do mundo, os Estados Unidos não devem ficar atras”.
É o Echelon sempre presente. Sob várias formas. Com várias filosofias de fé.
E o pior, com muitos adeptos simpatizantes não naturais dos Estados dominantes. E a
esta filosofia de fé entreguista e não nacionalista se evoca todas as razões, as mesmas
dos
povos
simpatizantes
ao
Império
Romano,
todos
eles
submetidos
inexoravelmente. As mesmas razões das tribos indígenas do Novo Mundo quando
se aliaram a franceses ou portugueses numa luta entre aqueles, em que os perdedores
foram os próprios indígenas.
São tambem as mesmas razões dos povos da Europa Central, invariavelmente
submetidos ao entrechoque dos vizinhos poderosos e da mesma forma destroçados
com eles.
Em todos os casos relatados e examinados no decorrer deste trabalho
invariavelmente a máxima
Paul Kennedy se faz sempre presente “ o vizinho
poderoso e forte é sempre uma fonte de temor e insegurança”, e não importa o quanto
haja uma submissão a seus interesses, pois que o interesse daquele sempre será
contrário ao deste, e aí entra a máxima do lobo e novamente teremos Echelon
redivivo.
XLVI
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBA, André. Roma , História Universal. São Paulo. Mestre Jou, 1964
BUENO, Eduardo. A Viagem do Descobrimento. Rio. Objetiva, 1999
BUENO, Eduardo. Náufragos, Traficantes e Degradados. Rio. Objetiva, 1999
BUENO, Eduardo. Capitães do Brasil. Rio. Objetiva, 1999
CALDEIRA, Jorge. A Nação Mercantilista. Rio, 34, 1999
CONRAD, Robert. Os Ultimos anos da Escravatura no Brasil. Rio. Civ. Bras.1998
DANTAS,Eider. WEB PAGE - Delmiro Gouveia. Ó. Críticas,1998
FALCON,Francisco.MOURA,Gerson.A Formação do Mundo Contemporâneo.16
Ed.Rio. Campus, 1981
FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala. 28 Ed. Rio. Record, 1992
HUBERMAN ,Leo.História da Riqueza do Homem. Rio.Guanabara, 1986
KENNEDY, Paul. Ascensão e Queda das Grandes Potências. 2 Ed. Rio. Campus,
1989
LOBATO,Monteiro. O escândalo do Petróleo. 4 ed.São Paulo:Nacional,1936.
LANDES,David.Riqueza e Pobreza das Nações.Trad.CABRAL,Álvaro.São
Paulo.Campus,1999
SILVA,F. de Assis.História Geral,Moderna e Contemporânea.2 ed.São
Paulo.Moderna,1990
VARGAS, Milton.História da Técnica e da Tecnologia no Brasil.São
Paulo.Unesp,1994
XLVII
ANEXOS
XLVIII
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Maria das Graças Mendonça