Desemprego cresce entre os mais pobres
Segundo estudo do Ipea, taxa na classe baixa subiu de 20% para 26% de 2004 para cá.
Entre os mais ricos caiu de 4% para 1,4%.
A parcela mais pobre da população desempregada não foi beneficiada pela reativação
do mercado de trabalho nas seis principais regiões metropolitanas do Brasil. Entre
agosto de 2004 e agosto deste ano, a taxa de desemprego dos 20% mais pobres (com
renda per capita domiciliar inferior a R$ 203,3 por mês) saltou de 20,7% para 26,27%,
enquanto o desemprego total caiu de 11,4% para 6,7%.
Entre os 20% mais ricos (com renda per capita domiciliar superior a R$ 812,3 mensais)
a taxa de desocupação despencou de 4,04% para 1,4% nesse mesmo período.
As informações são de levantamento inédito feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) com base nos dados da pesquisa mensal de emprego do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os números apontam para uma realidade mais dramática. Por si só, o forte crescimento
da economia e do emprego formal não está sendo suficiente para fazer com que os mais
pobres possam ter as mesmas oportunidades que as pessoas com maior renda têm de
encontrar uma ocupação.
"As dificuldades enfrentadas por essas pessoas estão diretamente relacionadas com a
baixa escolaridade", afirma o presidente do Ipea, Márcio Pochmann.
A questão é que o crescimento do emprego veio acompanhado de uma competição
muito grande entre as empresas por trabalhadores qualificados. Quem não está
preparado geralmente fica de fora.
De acordo com o levantamento do Ipea, apenas 41,8% dos desempregados mais pobres
frequentaram bancos escolares por período de 11 anos ou mais. Entre os mais ricos, o
número sobe para 86,1%.
Discriminação — Outro fator que também pesa contra os mais pobres é a
discriminação racial, tratamento injusto que ainda persiste em alguns setores do
mercado de trabalho, mesmo que de forma velada. Os dados levantados pelo Ipea
indicam que só 23,3% dos desempregados pertencentes a famílias de baixa renda são
brancos. Já a parcela dos desempregados de famílias mais abastadas é composta por
72,5% de brancos.
Nos últimos seis anos, o número de desempregados no chamado Brasil metropolitano
caiu de 2,442 milhões para 1,6 milhão. Mas, a quantidade de desempregados de baixa
renda aumentou de 652,1 mil para 667,7 mil.
"A persistir essa desigualdade, o que se pode esperar é que a distribuição dos salários
vai voltar a ficar mais desigual", diz o economista José Márcio Camargo, da PUC-Rio.
Os salários dos mais ricos vão crescer mais rapidamente do que os salários dos mais
pobres. "Vai ter menos gente qualificada se oferecendo no mercado de trabalho, porque
está todo mundo empregado, e as empresas vão disputar esse tipo de profissional, que é
cada vez mais raro, e mais c aro, no mercado", avalia.
(Estado)
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