Anais de Simpósios da 43ª Reunião Anual da SBZ – João Pessoa – PB, 2006.
AVALIAÇÃO E UTILIZAÇÃO DA CONDIÇÃO CORPORAL COMO
FERRAMENTA DE MELHORIA DA REPRODUÇÃO E PRODUÇÃO
DE OVINOS E CAPRINOS DE CORTE
1
2
MARCILIO FONTES CEZAR , WANDRICK HAUSS DE SOUSA
1
2
Professor DSc. da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG, Unidade Acadêmica de Medicina Veterinária,
Campus Universitário, Caixa Postal 64, CEP 58700-590, Patos-PB. Brasil. [email protected]
Pesquisador DSc. da EMEPA-PB, Rua Eurípides Tavares, 210, Tambiá, Cx. Postal 275, CEP 58041-070, João PessoaPB. Brasil. [email protected]
RESUMO
O incremento, na produtividade da ovinocaprinocultura de corte, necessário para atender a
demanda de um mercado atual extremamente ávido pelos seus produtos depende, em boa parte,
da adoção de medidas de manejo capazes de impactar positivamente nas taxas reprodutiva e
produtiva do rebanho de cria. Dentre inúmeras medidas, a nutrição que resulta em condições
corporais tidas como desejáveis ou ideais para as matrizes, principalmente em torno da monta e
da parição, e para as crias, primordialmente no momento de abate, constitui-se numa das
estratégias mais eficazes para o incremento da eficiência reprodutiva e produtiva das matrizes e
para a melhoria da qualidade do produto final gerado pelas crias. Assim, este trabalho tem como
objetivo descrever a metodologia de avaliação da condição corporal em ovinos e caprinos, bem
como explicar de que forma a condição corporal pode ser utilizada estrategicamente para melhorar
a reprodução e a produção do rebanho de cria.
SUMMARY
The increment in the productivity of the sheep and goat meet type production system, necessary to
attend the demand of an extremely avid current market for your products depends, in good part, of
the adoption of managements practices capable to impel positively in the reproductive and
productive rates of the productive flock. Among numerous managements practices, the nutrition
that results in corporal conditions had as desirable or ideal for the females, mainly around of its
breeding and lambing season, and for hers progenies, mainly in the moment of the slaughter, make
up an of the most effective strategies for the increment of the reproductive and productive
efficiency of the ewes and does and for the improvement of the quality of the final product from
them. Like this, this work has as objectives to describe the methodology of evaluation of the
corporal condition in sheep and meet type goats, as well as to explain that forms that the corporal
condition can be used strategically to improve the reproduction and the production of the flock and
its products.
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1. INTRODUÇÃO
Quando se considera o ciclo completo de produção da ovinocaprinocultura de corte, ou
seja, da fase de cria até a terminação, os componentes mais importantes em termos econômicos
são
a
performance
reprodutiva,
estimada
pela
taxa
reprodutiva
(nº
de
crias
desmamadas/matriz/ano), e o desempenho produtivo, medido pela taxa produtiva (nº de kg de
crias desmamadas/matriz/ano), do rebanho de cria. Esse rebanho tem como unidade básica de
formação o conjunto mãe-cria em fase de amamentação, onde a matriz se constitui na “máquina”
produtora de crias e estas, em última instância, são o “produto” final de comercialização do
ovinocaprinocultor de corte. O desempenho é função do genótipo do animal, do ambiente e de
suas interações. Todavia, o baixo valor da herdabilidade da maioria dos parâmetros, que
influenciam a taxa reprodutiva dos rebanhos ovinos e caprinos de corte, assinala menor influência
nestes, por genes de ação aditiva, e, no entanto, muito mais afetados pelo meio e por genes de
ação não aditiva.
A inferência óbvia de tal conotação é a de que o incremento do desempenho do rebanho
de cria depende, em quase toda a sua extensão, da adoção de melhorias em todas as medidas de
natureza ambiental capazes de impactar positivamente a taxa reprodutiva do rebanho. Dentre
inúmeras medidas de manejo, a nutrição que resulta em condições corporais tidas como
desejáveis ou ideais para as matrizes, principalmente em torno da monta e da parição, e para as
crias, primordialmente no momento de abate, constitui-se numa das estratégias mais eficazes não
só para o incremento da eficiência reprodutiva dos rebanhos de cria, mas também para a melhoria
da qualidade do produto final, que é a carcaça.
Assim, este trabalho tem como objetivo descrever a metodologia de avaliação da condição
corporal compatível com a maioria das raças ovinas e caprinas, bem como relatar a importância
da condição corporal e explicar de que forma ela pode ser utilizada estrategicamente para
melhorar a reprodução e a produção dos rebanhos ovinos e caprinos de corte.
2. AVALIAÇÃO DA CONDIÇÃO CORPORAL
Condição corporal (CC) é a quantidade de tecido muscular e adiposo armazenado pelo
corpo do animal em determinado momento do ciclo reprodutivo-produtivo, que serve para estimar
a quantidade de energia acumulada, ou seja, o status energético do animal naquele dado estádio
fisiológico. As alterações da CC são uma estimativa de maior precisão das mudanças das
reservas energéticas corporais do que as flutuações do peso vivo. Muitas variáveis, como por
exemplo, o peso da água ou do alimento no trato gastrintestinal e dos fetos nas matrizes prenhes,
ao serem contabilizadas como peso do animal, podem superestimar a quantidade de tecidos de
reserva nos animais de maior peso vivo. Além disso, a CC do animal no momento do abate serve
para predizer a quantidade de gordura na carcaça, principalmente, subcutânea.
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Uma revisão cronológica das publicações relacionadas à CC dos ruminantes demonstrou
que Jeffeires (1961), na Escócia, foi quem primeiro idealizou um método de avaliação da CC,
baseado em uma escala de 0 a 5 pontos (desde muito magra a muito gorda) e se pontuava por
palpação o grau de cobertura tissular da região lombar das ovelhas. A partir de então, a
metodologia de avaliação da CC foi estendida aos outros ruminantes, tais como bovinos de corte
na Escócia (Lowman et. al.,1976), bovinos de leite na Escócia (SAC, 1976) e caprinos na França
(Santucci, 1984).
Dada à importância da CC como preditor do status energético dos animais, sua
avaliação, iniciada com os pequenos ruminantes, difundiu-se tanto que atualmente a CC está
sendo usada em muitos mamíferos, de domésticos a selvagens e de ruminantes a nãoruminantes, tais como: bovinos, camelos, cervos, cavalos, porcos, cães, gatos, ratos, esquilos,
macacos, entre outros.
Especificamente em relação aos pequenos ruminantes, a região lombar sempre foi tida
como a melhor região de avaliação da CC nos ovinos. Todavia, devido à escassa cobertura de
gordura subcutânea nos caprinos e em algumas raças de ovinos, diversas iniciativas de inclusão
de outras regiões corporais para o exame da CC nesses animais surgiram a partir da década de
80, tal como a base da cauda em ovinos (MLC, 1981), a região esternal em caprinos (Santucci,
1984) e a região escapular e ocular em caprinos (Morand-Fehr et al., 1987). O trabalho de Amaro
e Caldeira (1990) demonstrou, por sua vez, que os escores da região esternal (r = 0,89)
apresentaram correlação maior que os da região lombar (r = 0,72) em relação à proporção total de
tecido adiposo no corpo dos caprinos, indicando a avaliação subjetiva da região esternal como a
de maior acurácia na espécie caprina.
A metodologia de avaliação da CC nos pequenos ruminantes, de natureza subjetiva, é
realizada no animal vivo e em pé, por meio de exame visual e tátil (palpação externa), durante o
qual se busca estimar, diretamente, a quantidade de tecido muscular e adiposo depositada sobre
o esqueleto do animal, e indiretamente, a quantidade de energia que o animal tem armazenado
em seu organismo na forma de tecidos de reserva, principalmente, gordura.
Inicialmente, deve-se fazer uma avaliação preliminar e superficial dos animais,
observando, naqueles de CC pobre, uma estrutura esquelética com pouca cobertura tecidual, de
modo que os planos musculares e adiposos ficam abaixo (depressões) das protuberâncias ósseas
(elevações), tornando a superfície corpórea do animal ondulada e, portanto, angulosa.
Inversamente, nos animais com elevada CC, a estrutura esquelética tem boa cobertura tecidual,
de forma que os planos musculares e adiposos ultrapassam e encobrem bem as protuberâncias
ósseas, deixando a superfície corporal plana e lisa (Figura 1, A e B).
Posteriormente, realiza-se uma avaliação mais detalhada e acurada da CC. Para tanto,
devem-se eleger determinados pontos ou regiões do corpo do animal para se fazer um exame
visual e tátil mais minucioso da relação entre a estrutura esquelética e a massa de tecido muscular
e adiposo depositada sobre ela. Dadas as diferenças na deposição de gordura corporal entre
caprinos e a maioria das raças ovinas e pela falta de êxito das tentativas de utilização de várias
regiões corporais no exame de CC dessas espécies, adota-se, ainda como principal sítio
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anatômico de avaliação da CC dos ovinos, a região lombar, enquanto para os caprinos, as regiões
lombar e esternal (Figura 1,C). Embora o resultado final da avaliação da CC nos caprinos seja
obtido pela média de escores atribuídos às duas regiões, na dúvida é melhor levar mais em
consideração a pontuação da região esternal devido a sua maior correlação com o total de
gordura depositada no corpo dos caprinos.
Por outro lado, com base em experimentos realizados na EMEPA-PB, onde foram
realizadas avaliações comparativas da CC e da distribuição de gordura na carcaça entre ovinos
deslanados, semilanados e seus mestiços, verifica-se que há menor deposição de gordura
subcutânea e maior acúmulo de gordura interna nos deslanados do que nos semilanados e seus
mestiços. Portanto, a avaliação da CC nos ovinos deslanados está mais para a dos caprinos do
que para a dos ovinos lanados. Com base nesses experimentos, e pela carência desse tema na
literatura, é que muito em breve uma parceria entre pesquisadores da EMEPA e UFCG publicará
metodologia própria para avaliação da CC de ovinos deslanados.
Em uma avaliação mais minuciosa da região lombar e esternal, verifica-se que a
profundidade da massa muscular lombar (músculo Longíssimus lomborum ou contra-filé, como é
conhecido comercialmente) e esternal (músculos peitorais superficiais e profundos), bem como a
massa adiposa lombar (principalmente gordura subcutânea ou de cobertura) e esternal (gordura
interna e subcutânea) sobre as vértebras lombares e o esterno, dão a região lombar e esternal do
animal um contorno externo, ou seja, um perfil visual, bem como uma sensação tátil que variam
em função da CC apresentado pelo animal (Figura 2). Assim, quanto menor a profundidade dessa
massa tecidual, mais as proeminências ósseas lombares (apófises espinhosa e transversa) e
esternais (as esternébras e as articulações esterno-costal e condro-costal, por exemplo) tornam-se
perceptíveis ao exame de palpação, o que dá uma sensação cada vez mais de dureza ao tato,
bem como apresentam perfil mais convexo ao exame visual; enquanto o espaço angular entre
apófises das vértebras lombares e os sulcos esternais apresentam um contorno cada vez mais
côncavo e também de aspecto duro. Dessa forma, quanto mais evidente for essa caracterização
de escore, mais baixo deverá ser o escore aplicado ao animal.
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FIGURA 1. Aspectos gerais da CC baixa e alta na avaliação superficial e principais sítios corporais da
avaliação minuciosa dos pequenos ruminantes
A
B
Cabra com baixa CC
Cabra com alta CC
C
Região lombar
Região esternal
Principais sítios corporais de avaliação da CC em pequenos ruminantes
Contrariamente, quanto mais profunda for a massa tecidual, as proeminências ósseas são
menos palpáveis e de sensação tátil mais macia, além de estarem menos convexas visualmente;
enquanto o espaço angular vertebral lombar e os sulcos esternais estarão mais convexos e de
consistência mais macia ao tato. Quanto mais isso se torna perceptível, mais elevado deverá ser o
escore dado ao animal (Quadro 1).
Um outro aspecto importante da avaliação da CC é a escala de escores ou pontos a ser
adotada. Os escores de CC são notas baseadas nos resultados dos exames, visual e tátil, da
região lombar e esternal, onde através de intervalos de escores pré-estabelecidos os animais são
classificados em diferentes classes de CC.
O número de intervalos de escores que serve para agrupar os animais em uma mesma
classe de CC varia muito entre os diversos sistemas de avaliação existentes. O número de
escores e, portanto, de classes de CC nas escalas de classificação vai desde 5 escores e 5
classes de CC (escore 1 = muito magra ou emaciada, escore 2 = magra, escore 3 = moderada,
escore 4 = gorda e escore 5 = muito gorda ou obesa), como a escala de Cisse et al., (1990) para
caprinos, até escalas com 50 escores e 9 classes de CC (0-5 = emaciada, 5-10 = magra, 10-15 =
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pouco magra, 15-20 moderada, 20-30 = condicionada, 30-35 = acabada, 35-40 = gorda, 40-45 =
extremamente gorda e 45-50 = totalmente gorda), como a escala adotada pela South African Boer
Goats.
A subdivisão da escala de classificação de CC , em um grande número de escores, não
melhora tanto a precisão do exame da CC porque é praticamente impossível à mente humana
fazer repetidas vezes a distinção entre um número tão grande de escores e de situações. Diante
do exposto, sugere-se a escala de 5 escores corporais (EC) correspondentes a 5 classes de CC,
conforme demonstra o Quadro 2 .
O uso da CC, como uma ferramenta tecnológica para o melhoramento da reprodução e
produção dos rebanhos de corte, requer um manejo nutricional específico em cada fase do ciclo
reprodutivo-produtivo, de forma que seja capaz de assegurar uma CC tida como adequada ao
estádio fisiológico em que o animal se encontra naquela dada fase do ciclo (Figura 3).
A avaliação da CC deve ser realizada por mais de uma pessoa. Isso permite fazer
comparações, trocar experiências e na ausência imprescindível de algum dos avaliadores tem
quem o substitua. Se há dúvidas na determinação do escore de um determinado animal, o ideal é
soltá-lo e fazer uma avaliação visual girando em torno do animal e retornar a palpá-lo. Na
avaliação de um rebanho, é recomendável, inicialmente, fazer uma vistoria geral de todos os
animais e eleger um animal de referência, normalmente aquele de melhor escore, ou até mesmo,
dois animais, geralmente o de melhor e o de pior escore e a partir deles classificar os demais.
Quanto mais externo for o depósito de gordura mais fácil será sua estimativa através da
CC. Animais cuja deposição de gordura é mais externa, como aqueles de raças de clima
temperado, do tipo corte e da espécie ovina, a avaliação da CC torna-se mais fácil e de melhor
precisão. Em geral, as matrizes jovens, com até dois anos de idade, mostram uma variação de CC
individual menor que aquelas mais velhas.
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FIGURA 2. Base óssea e cobertura tecidual da região lombar (1) e esternal (2)
Apófise espinhosa
Pele
Espaço angular
Apófise transversa
Músculos
Gordura
VÉRTEBRA LOMBAR
(VISTA TRANSVERSAL)
COBERTURA TECIDUAL DA REGIÃO LOMBAR
(VISTA TRANSVERSAL)
Costela
Cavidade torácica
Articulação
condro-costal
Pele
Músculo
Cartilagem costal
Estérnebra
Arco
costal
Articulação
esterno-costal
Gordura interna
Gordura subcutânea
Cartilagem xifoide
TERNAL
COBERTURA TECIDUAL DA REGIÃO ESTERNAL
(VISTA TRANSVERSAL)
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QUADRO 1. Perfis da região lombar e esternal em função dos escores de CC
Perfil da Apófise
transversa
(corte transversal)
Perfil do Espaço
angular vertebral
(corte transversal)
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Perfil geral da
Região lombar
(vista lateral)
Perfil geral da
região lombar
(corte transversal)
Perfil geral da
região esternal
(corte transversal)
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crição dos parâmetros de avaliação da região lombar e esternal em função dos escores de condição corporal
Região Lombar
Parâmetros da Região Esternal
pção das
Perfil do
Percepção da
ses e do
espaço
concavidade
paço
angular
ventral das
tebral
vertebral
estérnebras
Muito
Palpável e
Côncavo e
Muito palpável e
côncavo
dura
muito dura
muito dura
Côncavo
Não palpável
Retilínea e
Muito palpável e
dura
dura
Retilíneo
Não palpável
Sub-convexa e
Medianamente
dureza média
palpável e dura
Convexo
Não palpável
Convexa e
Pouco Palpável e
mole
mole
Convexa
Pouco Palpável e
e muito mole
mole
lmente
pável e
to dura
Muito
pável e
Percepção do
sulco ventral
do esterno
ura
namente
pável e
ura
ouco
pável e
mole
palpável
Muito
ito mole
convexo
Não palpável
dos polegar e indicador;
2
Percepção das
arrticulações
Percepção da gordura subcutânea do esterno
das faces
condro-costais e
esterno-costais
1
2
Espessura
Apreensão
Mobilidade
laterais
(Inexistente)
(Inexistente)
Inexistente
Retilíneo
Fina
Fácil
Muito móvel
Média
Razoável
Grossa
Difícil
Imóvel
Grossa
Impossível
Imóvel
Mover a gordura subcutânea dorso-ventralmente e lateralmente
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Perfil
Pouco
móvel
Subcôncavo
Côncavo
Muito
côncavo
Subconvexo
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FIGURA 3. Escores de CC em função da fase do ciclo-reprodutivo-produtivo
Escores de CC
5
4
3
2
1
Parição
Gestação
Cobrição
Desmama
Parição
Fases do ciclo
Tão importante quanto a realização de uma avaliação correta, é saber quantos e quais os
momentos em que se devem realizar tais avaliações, pois só assim se pode fazer uma adequada
monitoração da CC dos animais ao longo de seu ciclo reprodutivo-produtivo. O ideal é realizá-la
mensalmente, todavia se isso não for possível ou for de difícil execução, deve-se fazer em
períodos prévios aos estádios fisiológicos em que a CC é mais importante, como um a dois meses
antes da estação de monta e do parto, nas matrizes, e próximo ao término da engorda, nas crias,
de modo que haja tempo suficiente para os devidos ajustes nutricionais. Em rebanhos muito
grandes, a avaliação em cerca de 10-20% do rebanho pode ser suficiente para se ter uma
estimativa da condição de todo o rebanho. Além disso, pode-se aproveitar determinadas
atividades em que já se vão manusear os animais do rebanho, como nas vacinações e
vermifugações, por exemplo.
Dependendo do número de animais, pode ser vantajoso, no momento da correção das
CC, dividir o rebanho em categorias, como por exemplo, em 3 grupos, um de alta CC, um de
média e outro de baixa CC. Afirmativamente, para os estádios fisiológicos mais importantes, o
grupo de CC baixa deve receber suplementação energética suficiente para atingir uma CC
intermediária; o grupo de CC intermediária deve melhorar um pouco a sua CC e, assim, usufruir as
vantagens do efeito dinâmico positivo, enquanto para o grupo com CC alta, melhor manter do que
perder CC para evitar os prejuízos causados pelo efeito dinâmico negativo, conforme será exposto
adiante.
Por sua vez, a monitoração da CC das matrizes para melhorar a reprodução e produção
dos rebanhos, pode tornar-se uma importante ferramenta de orientação e facilitação do manejo
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nutricional dos rebanhos caprinos e ovinos. A avaliação da CC é uma ferramenta econômica e
simples permitindo antecipar-se a muitos problemas alimentares ou nutricionais, por exemplo,
destinando os melhores piquetes ou suplementando as matrizes em piores CC. Assim, todo
programa de alimentação deve considerar a CC do animal como uma ferramenta muito valiosa e
usá-la como um “termômetro” indicador do estado nutricional do animal.
3.
IMPORTÂNCIA E
UTILIZAÇÃO
ESTRATÉGICA DA CONDIÇÃO
CORPORAL
NA
REPRODUÇÃO
A função reprodutiva é uma das primeiras a sofrer com as situações de desequilíbrios
nutricionais, primariamente resultantes de uma falha no ajuste do balanço entre a disponibilidade
de nutrientes e seus requerimentos, tanto pelos animais em reprodução como por aqueles que
irão ainda iniciar sua vida reprodutiva.
A energia é o nutriente mais importante na relação entre nutrição e a reprodução dos
pequenos ruminantes, embora a proteína e outros nutrientes específicos, tais como minerais e
vitaminas, sejam também essenciais ao processo reprodutivo desses animais.
Não é recente o reconhecimento de que a nutrição energética e, por conseguinte, a CC é
essencial para a reprodução das fêmeas dos pequenos ruminantes, uma vez que há citações na
literatura que datam de séculos passados. Por exemplo, já no século dezenove, Youatt (1837)
afirmava que ovelhas em bom estado nutricional ou sobre pastagens de boa qualidade pariam
com maior taxa de cordeiros gêmeos, enquanto no início do século vinte, Marshall (1905)
mostrava que curtos períodos de melhoramento da nutrição antes e durante a monta (“flushing”)
eram suficientes para incrementar a proporção do nascimento de cordeiros gêmeos.
Posteriormente, Clarck (1934) estabeleceu uma relação direta entre CC e taxa de ovulação. Logo
depois, Hart e Miller (1937) observaram que algumas fêmeas respondiam, e outras não, ao
flushing e cujo motivo para tal variabilidade nas respostas deviam-se às diferenças na CC das
matrizes. Na década de 60, Coop (1962) distinguiu os efeitos absolutos do peso vivo ou da CC
dos efeitos das mudanças do peso vivo ou da CC à monta, sobre a taxa de ovulação das ovelhas.
Segundo este pesquisador, os dois efeitos podem atuar de maneiras independentes sobre a taxa
de ovulação e passou a denominá-los de efeitos “estático” e “dinâmico”, respectivamente.
No presente trabalho, não se pretende analisar todos os efeitos da CC sobre a reprodução
das ovelhas e cabras, e sim, destacar aqueles considerados mais relevantes.
3.1. Condição corporal em torno da monta
3.1.1. Efeito estático
A CC alcançada no período de monta, como resultado do consumo de energia durante
períodos prévios de restabelecimento das reservas corporais, é conhecida como efeito a médio
prazo ou efeito estático da energia sobre a reprodução.
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A CC alcançada pela ovelha e pela cabra no momento da monta tem uma ação reguladora
sobre a eficiência reprodutiva desses animais. Existe uma CC ótima de monta, normalmente entre
os escores 3 e 4, em que muito abaixo ou muito acima da qual a eficiência tende a cair, tal queda
caracteriza-se normalmente por uma redução na taxa de fertilidade e, principalmente, no índice de
prolificidade das matrizes. Geralmente há uma relação mais linear entre CC e fertilidade, enquanto
entre CC e prolificidade essa relação é mais curvilínea (Figura 4).
Em resumo, as pesquisas mostram que matrizes em boas CC à monta apresentam em
relação às de baixa CC, maior taxa de ovulação (Molina et al, 1994), maior ocorrência de cios
(Mellado et al, 1994), maior taxa de concepção ou fecundidade (Santucci, et al., 1991), menor taxa
de mortalidade embrionária (West et al, 1989; Menzies et al, 1998) e maior taxa de parição
(Mellado et al, 1996, 2004) ou de fertilidade (Atti et al, 2001). Outros estudos, por sua vez,
demonstraram uma relação curvilínea entre CC e alguns parâmetros reprodutivos, de modo que
CC muito baixa ou muito alta em relação às CC intermediárias ou boas resultam em menores
taxas de fertilidade ou prenhes (Branca e Casu, 1987; Santucci, et al., 1991) e de parição (Branca
e Casu, 1987), maior taxa de abortos (Mellado et al, 2004) e menor índice de prolificidade (Molina
et al, 1993, atti et al, 2001). Assim, tanto a CC muito baixa, como muito alta na monta atua
desfavoravelmente na reprodução das matrizes (Figura 4).
3.1.2. efeito dinâmico
As mudanças da CC, para mais ou para menos, que ocorrem durante o período de monta,
como resultado do consumo de energia nesse próprio período, chama-se de efeito a curto prazo
ou efeito dinâmico da energia sobre a reprodução. Se esse consumo de energia for superior às
suas necessidades, o animal fica em balanço energético positivo, a CC melhora e o efeito dessa
dieta energética é tido como efeito dinâmico positivo, se o consumo for inferior a demanda
energética, o animal entra em balanço energético negativo, a CC piora e o efeito dessa dieta,
chama-se efeito dinâmico negativo da energia sobre a performance reprodutiva.
A maneira mais prática e conhecida de melhorar a eficiência reprodutiva das matrizes
durante a monta por meio de efeito dinâmico positivo, é melhorar sua CC através da prática
alimentar denominada “flushing”. “Flushing” ou “flush” é uma palavra da língua inglesa adotada há
séculos por ovinocultores escoceses, que significa “encher de vigor” e como parece não existir um
termo equivalente em português, sugere-se a utilização do termo “condicionamento” corporal.
O condicionamento consiste, portanto, em proporcionar às matrizes uma dieta de alto nível
energético algumas semanas antes e durante o período de monta, para que essas fêmeas
melhorem sua CC, com o propósito principal de aumentar a taxa de ovulação e,
conseqüentemente, o índice de prolificidade, embora possa haver também melhoria na taxa de
fertilidade.
As recomendações encontradas para o período de condicionamento são bastante
variadas na literatura, indo desde 2 a 3 semanas antes do acasalamento até 4 a 6 semanas antes
e durante todo o período de monta. Essa disparidade na duração do condicionamento
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provavelmente se deve às diferenças de CC das matrizes. A sugestão é iniciar o condicionamento
por um período mínimo de um ciclo estral, ou seja, 17-18 dias para ovelhas e 21 para cabras,
antes da introdução do macho no rebanho de fêmeas e mantê-lo durante pelo menos um, mas
preferencialmente dois ciclos estrais, após o início da estação de monta. Se a CC das matrizes
estiver muito baixa, pode-se aumentar o período de condicionamento, a quantidade da
suplementação energética do condicionamento e/ou a densidade energética da suplementação.
Uma suplementação concentrada com 3,5Mcal de EM e com 16-18% de PB é adequada para a
maioria das situações. Por exemplo, para elevar a CC em 1 unidade de escore (13% do peso vivo)
em ovelhas com 50,0kg de peso vivo e com CC em torno de 3,0, ou seja, passar de 50,0 para
56,5kg de PV e de uma CC 3,0 para 4,0, seriam necessárias cerca de 28Mcal de EM, ou seja,
11,4kg desse concentrado, admitindo-se que sua eficiência de conversão em ganho de PV fosse
em torno de 70%. Fornecendo-se 0,50kg/dia dessa suplementação, esses animais ganhariam em
torno de 0,285kg/dia e passariam, portanto, cerca de 23 dias para atingir a CC 4,0. Para encurtar
esse período de tempo, seria necessário aumentar a quantidade de concentrado ofertada e/ou
melhorar a densidade nutricional, principalmente energética, do mesmo.
Em síntese, o condicionamento, no período de monta, resulta no incremento da produção,
fecundação e implantação de óvulos das matrizes (Cambellas, 1993) com conseqüente aumento
na taxa de ovulação (Gatenby, 1986) e fertilidade (Bourbouzet, 1974) e, portanto, num maior
índice de prolificidade (Gunn e Maxwell, 1978).
Algumas pesquisas (Gunn e Maxwell, 1978; Santucci et al., 1991, por exemplo) que
compararam os três perfis de mudanças de CC no período de monta, ou seja, perdendo,
mantendo ou ganhando CC, demonstraram que a perda de CC leva as matrizes a apresentarem
maior nº de montas/concepção, maior período de serviço, menor taxa de fertilidade, menor índice
de prolificidade e maior intervalo de partos do que àquelas que estavam mantendo a CC,
enquanto as que estavam ganhando CC foram superiores às demais.
Um ponto que ainda necessita de estudos mais aprofundados refere-se à utilização ou não
do condicionamento em fêmeas primíparas, haja vista os resultados até então muitos conflitantes,
em que para alguns (Kassen et al., 1989) há melhorias no desempenho reprodutivo, como maior
ciclicidade estral, maior taxa de fertilidade e de parição, enquanto para outros, melhorias não
existem (Allen e Lanming, 1961) ou podem até haver perdas reprodutivas, como maior incidência
de partos distócicos e de infertilidade, nessa categoria animal (Dyrmundsson, 1983).
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Anais de Simpósios da 43ª Reunião Anual da SBZ – João Pessoa – PB, 2006.
GURA 4. Efeitos da CC na monta e na parição sobre a reprodução das cabras e ovelhas
Efeito da CC na monta
Efeito da CC na parição
Taxa de ovulação
Índice de prolificidade
Precocidade reprodutiva
Taxa reprodutiva
Taxa produtiva
Interação dos efeito estático e dinâmico da CC na monta
ou
Condição corporal ao parto
Período de serviço
Intervalo de partos
Partos distócicos
Taxa de desmama
Condição corporal à monta
Dieta:
Sobre-mantença
(Flushing)
Mantença
Sub-mantença
ou
Condição corporal ao parto
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Anais de Simpósios da 43ª Reunião Anual da SBZ – João Pessoa – PB, 2006.
3.1.3. Interação entre efeito estático e dinâmico
Atualmente, sabe-se que a eficiência reprodutiva à monta responde ao consumo de energia
ou as mudanças de CC somente dentro de uma faixa intermediária de CC. Se o animal chegar à
monta com uma CC abaixo ou acima dessa faixa intermediária, a perda ou o ganho de CC não vai
piorar, nem melhorar a baixa eficiência reprodutiva das matrizes. Dentro da faixa intermediária,
porém, a melhoria da CC resulta em incremento da eficiência, enquanto a perda de CC diminuirá o
desempenho reprodutivo das matrizes. O aumento da eficiência causada pele melhoria da CC dentro
da faixa intermediária é progressivo até uma determinada CC e a partir daí o aumento é retrocessivo.
O mesmo comportamento da curva, porém no sentido inverso, ocorre com a perda de CC dentro da
faixa intermediária (Figura 4).
Como ilustração, Robinson (1989), cita que Gunn et al., (1969) avaliando o fornecimento a
ovelhas em pobres CC, por cinco semanas antes da monta, uma dieta energética de sub-mantença
(com perda de CC), uma de mantença (com manutenção da CC) e outra de sobre-mantença (com
ganho de CC), apresentaram uma taxa de ovulação de 1,0, 1,2 e 1,4 respectivamente; demonstrando
o efeito dinâmico positivo da energia em matrizes com baixa CC. Contrariamente, ovelhas em boas
CC não aumentaram ou reduziram sua taxa de ovulação quando foram submetidas às dietas de sub,
sobre ou de mantença, mantendo-a mais ou menos constante e em torno de 2,0 e 2,1,
independentemente do nível de consumo energético.
Portanto, para o rebanho de matrizes apresentar uma melhor eficiência reprodutiva, este deve
ser alimentado de forma que as fêmeas cheguem à estação de monta numa faixa intermediária de
CC, de modo que a alimentação de condicionamento no decorrer desse período resulte em melhoria
da CC e, por conseguinte, aumente o desempenho das fêmeas durante a estação de monta.
3.2. Condição corporal em torno da parição
O anestro pós-parto, intervalo fisiológico do parto até o primeiro estro pós-parto, caracterizase pela ausência temporária da atividade ovariana, com conseqüente interrupção do ciclo estral e das
manifestações externas do cio. Esse anestro, quando prolongado, resulta em maior período de
serviço, maior IP (intervalo de partos) e, por conseguinte, em menor número de crias desmamadas
por matriz e por ano.
O nível de nutrição energética pré-parto, que resulta em uma determinada CC ao parto, tem
efeitos importantes na duração do anestro pós-parto e, dependendo do comprimento do período de
serviço e do IP desejados, pode também influenciar alguns parâmetros reprodutivos vinculados ao
período de monta.
Deve-se atentar para o fato de que, quanto menor for o IP almejado, de maior importância se
reveste a duração do anestro pós-parto, tornando-se, assim, mais crucial uma boa CC ao parto.
Quando se busca obter três parições em dois anos, ou seja, um IP de apenas oito meses, a obtenção
de uma boa CC ao parto e à monta, torna-se muito mais difícil de ser alcançada. Isso é justificado
pelo curto espaço de tempo disponível, cerca de 3 meses, para que as matrizes recuperem suas
555
Anais de Simpósios da 43ª Reunião Anual da SBZ – João Pessoa – PB, 2006.
reservas corporais e fiquem prenhes. Nesse caso, a correta alimentação pré-parto, objetivando uma
boa CC ao parto, vai ser importante não só para reduzir o anestro pós-parto e, conseqüentemente, o
IP, mas também fazer com que cheguem à monta com adequada CC e obter, dessa forma,
desejáveis taxas de fertilidade e prolificidade. Assim, nesse caso, a correta nutrição pós-parto não
poderá compensar, por motivo de tempo e pela própria condição fisiológica da amamentação, a
inadequada nutrição pré-parto.
Todavia, quando se objetiva apenas um parto ao ano, isto é, um IP de 12 meses, as matrizes
passam a dispor de 7 meses de período de serviço, tempo pós-parto mais do que suficiente para
recuperar a CC, entrar em cio e ser novamente fecundada.
Estudos têm demonstrado que ovelhas e cabras tropicais tanto com baixa, como com CC
muito alta ao parto, apresentaram anestro pós-parto mais longo, menor taxa de fertilidade e menor
índice de prolificidade do que aquelas com CC intermediária ou boa (Gonzalez-Stagnaro e Ramon,
1991). Por outro lado, a correta alimentação pré-parto e, por conseguinte, uma boa CC ao parto, vai
resultar, adicionalmente, em crias com maior peso vivo ao nascer, bem como vai permitir a própria
mãe um bom rendimento leiteiro pós-parto, que possibilitará não só uma maior taxa de desmama,
mas também maiores pesos vivos das crias desmamadas. Todavia, uma CC da matriz ao parto,
excessivamente baixa ou elevada, resulta em crias com peso vivo ao nascer muito pequeno ou muito
grande, podendo elevar a incidência de partos distócicos e em menor taxa de desmama, em ambos
os casos. Além disso, borregas com boa CC atingem mais precocemente a puberdade do que
aquelas com CC baixa (Gonzalez-Stagnaro, 1991). Entretanto, se as fêmeas forem cobertas muito
jovens e parirem com CC muito elevada, a associação de grande peso ao nascer das crias com pelvis
ainda infantil da matriz, pode resultar em maior proporção de partos distócicos (Figura 4). Em suma,
uma adequada CC ao parto resultará em maior taxa reprodutiva e produtiva dos rebanhos.
4. IMPORTÂNCIA E UTILIZAÇÃO ESTRATÉGICA DA CONDIÇÃO CORPORAL NA PRODUÇÃO
4.1. Condição corporal e o desempenho das crias
A CC da matriz ao parto afeta diretamente o crescimento das crias na fase de amamentação,
enquanto a CC alcançada pela cria no momento de abate influencia o seu desempenho na fase de
recria e terminação.
4.4.1. Condição corporal da matriz ao parto e o crescimento das crias
O balanço energético do animal, em uma dada fase do ciclo reprodutivo-produtivo, é a
diferença entre a energia ingerida por meio da dieta e a energia utilizada com a mantença,
reprodução e produção do animal.
Na fase do ciclo em que a ingestão total de energia pelo animal é maior que toda sua
demanda energética, os animais ficam em balanço energético positivo (BEP) e o excedente de
energia que vai ser depositado no organismo na forma de tecido adiposo, melhora a CC do animal.
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Anais de Simpósios da 43ª Reunião Anual da SBZ – João Pessoa – PB, 2006.
Inversamente, quando a demanda é maior que a ingestão, o animal está na condição de balanço
energético negativo (BEN), obrigando-o a mobilizar gordura para ser utilizada como fonte de energia
e, por conseguinte, reduz sua CC. Entretanto, quando a ingestão de energia é igual à demanda
energética, o animal fica na condição de balanço energético equilibrado ou neutro e sua CC é
mantida.
Em caso de restrição alimentar, os tecidos são mobilizados na seguinte ordem: gordura,
músculo e osso, ordem essa inversa a da deposição. Durante a perda de CC nos animais , há
catabolismo do tecido muscular e adiposo, embora a mobilização deste último, em termos
energéticos, seja mais importante, quantitativa e qualitativamente. O primeiro tecido adiposo a ser
mobilizado e, portanto, a ser utilizado como fonte de energia pelo animal é o subcutâneo, seguido
pelo perirenal, omental mais mesentérico, intermuscular e intramuscular.
Segundo Atti e Bocquier (1999), ovelhas secas “Barbarine” severamente mal-alimentadas,
recebendo apenas 20% dos requerimentos de energia para mantença na forma de 200g/dia de feno
de aveia, podem sobreviver por 161 dias e perder 36% de seu peso corporal, perda essa
correspondente à mobilização de 3,4 kg de músculo e 8,8 kg de tecido adiposo, o que equivale à
mobilização de 70% do tecido adiposo total. Para se manter vivo, o animal tem que ter no mínimo 23% do seu peso vivo constituído de tecido adiposo. Em média, uma unidade de CC equivale à cerca
de 13% do peso vivo de uma ovelha com CC moderada entre 3,0 e 3,5.
As maiores vantagens dos lipídeos sobre os demais nutrientes como fonte de energia para
organismo é que esses podem ser armazenados em maiores quantidades e possuem uma densidade
energética mais elevada. O glicogênio, principal glicídio de reserva dos animais, só pode ser
acumulado em pequenas proporções no tecido muscular (cerca de 10% do peso tecidual) e no fígado
(1 a 2% do peso do órgão), enquanto o armazenamento de lipídeos, na forma de triglicerídeos no
tecido adiposo, é praticamente ilimitado, pois dezenas de kg desse tecido podem ser distribuídas em
diversas partes do corpo. Quanto à densidade energética, os lipídeos têm uma concentração de cerca
de 9,3 Kcal/g, que corresponde a mais de duas vezes a dos glicídios, que é de aproximadamente 4,1
Kcal/g. Assim, os lipídios armazenados no organismo animal na forma de triglicerídeos representam a
fonte corpórea mais abundante de energia potencial. Em relação aos outros nutrientes, portanto, a
quantidade de lipídeos disponível para a produção de energia é quase ilimitada.
Com base em dados obtidos na literatura, o leite de cabra tem cerca de 0,725 Mcal/kg leite
corrigido para 4% de gordura e a perda de 1kg de peso vivo corresponde a 0,45kg de lipídeos
mobilizados. Essa quantidade de lipídeo é capaz de gerar cerca de 4,2Mcal de EM, mas como a
eficiência de conversão da EM das reservas corporais em leite é de 0,82, os 0,45kg de lipídeos
mobilizados e catabolizados resultariam em cerca de 3,44Mcal de EM para a produção de leite. Essa
quantidade de energia seria, portanto, suficiente para produzir cerca de 4,74kg de leite com 4% de
gordura. Apenas para ilustrar o potencial energético das reservas corporais, ao considerar que uma
cabra no início da lactação perde 100g/dia de gordura, isso geraria uma quantidade de energia
suficiente para produzir 0,474 kg leite/dia. Admitindo-se uma eficiência de conversão de 0,69 da
energia do leite materno em ganho de peso da cria em amamentação e que 1kg de peso vivo de
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Anais de Simpósios da 43ª Reunião Anual da SBZ – João Pessoa – PB, 2006.
cordeiro tem cerca de 4,30Mcal, os 0,474kg leite originado da CC mobilizada da mãe resultaria num
ganho de peso do cordeiro em cerca de 80g/dia.
Nesse contexto, pode-se dizer que a CC é um bom parâmetro subjetivo e indicador do
balanço ou status energético da matriz em um dado momento ou fase do IP. Dentre todas as fases do
IP, aquela em torno do parto é a mais importante da relação entre CC e a produção de leite e,
portanto, a que mais exerce efeito sobre o crescimento das crias durante a fase de amamentação.
No período pré-parto, as fases inicial e intermediária do período gestacional normalmente são
de BEP, enquanto a fase final é de BEN. O nível de ingestão de matéria seca, com base no peso
vivo, mantém-se relativamente constante no início e meio da gestação, embora venha a cair
acentuadamente em seu final. O limitado nível de consumo na fase final está associado a uma
redução de volume do rúmen-retículo, devido ao espaço tomado pelo útero gravídico, que varia em
função do número de fetos em gestação, e provavelmente, por causa do grande depósito de gordura
interna adquirida durante a fase de BEP, principalmente nas cabras, já que as mesmas,
diferentemente das vacas e ovelhas, depositam mais gordura interna do que externa. Portanto,
devem-se evitar matrizes excessivamente gordas no período periparto, uma vez que reduz o
consumo alimentar, aumenta a taxa de lipomobilização e, conseqüentemente, eleva o risco de cetose
gestacional (toxemia) nas ovelhas e cetose lactacional nas cabras. Observar que a fêmea gestante
ganha peso durante todo o período gestacional, mesmo perdendo CC na fase final da gestação.
Assim, nos dois terços iniciais da gestação, o aumento do peso vivo é devido apenas à melhoria da
CC decorrente do BEP, enquanto no terço final , o ganho de peso vivo é resultante da diferença entre
o crescimento fetal e a perda de CC materna.
Dessa forma, uma boa alimentação no início e no meio da gestação, parece ser importante
não apenas para atender os requerimentos de energia para o crescimento fetal, mas também para a
reposição das reservas corporais para a próxima amamentação. Dessa forma, as matrizes devem
chegar à parição com uma CC em torno de 3,5 (Figura 3).
Durante o pós-parto, a fase inicial da amamentação constitui o período mais crítico do
balanço energético de todo o ciclo reprodutivo-produtivo das matrizes de corte. De fato, o que ocorre
nessa fase inicial do ciclo é que o pico da lactação antecede o pico de consumo alimentar e essa
defasagem cria para fêmea uma situação totalmente desfavorável, considerando que, no momento
em que as exigências nutricionais são máximas, as fêmeas não conseguem atingir o máximo de
ingestão de matéria seca. A alimentação, por não atender a grande demanda nutricional,
principalmente energética, faz com que a matriz entre em condição de BEN. Dessa forma, a fêmea
vê-se obrigada a utilizar o próprio corpo como fonte de nutrientes, ou seja, quantidades consideráveis
das reservas de gorduras corporais são mobilizadas para suprir as necessidades e, por isso, perdem
CC mesmo que a alimentação ofertada seja rica e abundante. No início da lactação, portanto, boa
parte da produção de leite das matrizes tem as reservas corporais como fonte energética, tendo como
melhor preditor a CC do animal.
Por exemplo, segundo AWI (2004), cordeiros filhos de ovelhas paridas com CC
2,0, 2,0-2,5,
2,5-3,0 e 3,0 apresentaram até a desmama um ganho de peso e uma taxa de desmama de 150,0 e
61,0, 160,0 e 70,0, 180,0 e 79,0 e 190g/cordeiro/dia e 79% de desmama, respectivamente.
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Enfim, cabras e ovelhas que parem em melhores CC produzem, em relação aquelas de baixa
CC ao parto, mais leite (Branca e Casu, 1989; Atti et al., 1995), geram crias com maior peso ao
nascer (Thomas et al, 1988, Molina et al, 1993), com menor taxa de mortalidade neonatal (Nordby et
al., 1986), com maior taxa de crescimento (Kelly e Metcalfe, 1992) e, subseqüentemente, maior taxa
de sobrevivência (Litherland et al, 1999), resultando em maior número e peso de crias desmamadas
(Khan et al, 1992, AWI, 2004) e, finalmente, em maior peso (kg) de crias para a venda (Molina et al,
1993).
4.1.2. Condição corporal da cria ao abate e seu desempenho na terminação
O grau de acabamento que se deseja na carcaça é determinado em boa proporção pela CC
do animal ao abate. Dessa forma, quando se buscam elevados níveis de acabamento, faz-se
necessário o abate de animais com altos escores de CC e devido ao custo energético do ganho de
gordura ser maior do que ao de músculo, espera-se uma conversão alimentar pior e um tempo de
terminação maior, com conseqüente elevação dos custos energético e econômico no abate de
animais com melhores CC.
Supondo-se que dois grupos de animais, A e B, ambos abatidos com 30kg de peso vivo, mas
com escores de CC igual a 1,0 e 3,0, teriam uma espessura e um teor de gordura de cobertura na
carcaça, segundo dados da literatura, em torno de 2 e 6mm e 6 e 12% respectivamente. Caso o
rendimento de carcaça fosse de 50,0%, o peso da carcaça seria para ambos de 15kg, enquanto a
quantidade de gordura seria de 0,9 e 1,8kg nas carcaças do grupo A e B, respectivamente.
Considerando que a eficiência de conversão de energia da dieta em gordura corporal é de 0,70, a
diferença de 0,9kg de gordura entre as carcaças representaria uma necessidade 12Mcal de EM a
mais na dieta do grupo B. Em termos alimentares , isso representaria maior necessidade de
consumo, cerca de 3,4kg de milho , por exemplo, com conseqüente aumento no custo de produção
da carcaça.
Visando confirmar tais dados, foi conduzido um experimento com cordeiros numa parceria
entre EMEPA e UFCG, tendo a CC como parâmetro utilizado para indicar o término do período de
confinamento e, portanto, o momento de abate dos animais. A ingestão de matéria seca, o ganho de
0,75
peso, a conversão alimentar e o período de confinamento foram de 82,6 e 86,8g/kg
, 296,0 e
273,0g/cabeça/dia, 3,6 e 4,2kgMS/Kg de ganho e 32,4 e 42,0 dias para cordeiros abatidos com CC
média (escore de 3,0 a 3,5) e gorda (escore de 4,0 a 4,5), respectivamente. Além disso, os cordeiros
abatidos com CC média tiveram uma margem bruta de lucro 28,8% maior que os de CC gorda.
4.2. Condição corporal e a produção de carcaça e carne
Nas espécies de ruminantes, a gordura corporal se acumula em depósitos graxos cuja
denominação particular guarda relação com sua localização anatômica. Os depósitos de gordura
corporal classificam-se em: externos (gordura subcutânea ou de cobertura), intermediários (gordura
inter e intramuscular) e internos [gorduras abdominais (gordura perirrenal e retroperitoneal), a gordura
mesentérica (em torno dos intestinos) e a gordura omental (ao redor dos pré-estômagos)]. Os
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Anais de Simpósios da 43ª Reunião Anual da SBZ – João Pessoa – PB, 2006.
depósitos externos, intermediários e os internos abdominais constituem o tecido adiposo das
carcaças dos ruminantes.
O padrão de deposição de gordura na carcaça dos ruminantes varia em função da espécie
animal. Segundo Boggs et al. (1998), de toda a gordura depositada na carcaça de bovinos e ovinos,
cerca de 30 e 44% são de gordura subcutânea, 42 e 34% são de gordura intermuscular, 15 e 9 % são
de gordura intramuscular (marmoreio) e 13 e 13% são de gordura interna (renal e pélvica),
respectivamente. Quanto às diferenças entre as espécies de pequenos ruminantes, a mais marcante
é a do tecido adiposo subcutâneo na espécie caprina, pouco desenvolvido ou escasso, sendo quase
todo ele depositado nas cavidades corporais. Por exemplo, Casey e Naude (1982), citado por Van
Niekerk e Casey (1988), avaliando caprinos Boer e ovinos Dorper de 23 a 41kg de peso vivo ao
abate, encontraram um teor e uma espessura média de gordura subcutânea na carcaça de 6,4 e
12,2% e 2,1 e 6,0mm para as duas espécies, respectivamente.
Dentro de uma mesma espécie de ruminante, há também diferenças de deposição entre os
diversos tipos econômicos e as diferentes raças. Por exemplo, os animais do tipo leiteiro e as raças
tropicais tendem a acumular mais gordura nos depósitos internos do que nos depósitos externos,
ocorrendo o inverso com os animais de raças para corte e de clima temperado. Isso ocorre porque os
depósitos internos por serem mais fortemente vascularizados permitem aos animais leiteiros e
tropicais mobilizarem mais rapidamente lipídeos para manterem seus elevados níveis de produção de
leite e para suportarem freqüentes períodos de escassez alimentar. Além disso, como a gordura é um
tecido mal condutor de calor, animais de clima tropical, que necessitam constantemente de perder
calor corporal para manter sua homeotermia, deverá ter o mínimo de gordura de cobertura. Tal fato
foi verificado em experimentos realizados na EMEPA onde se avaliou comparativamente a CC e o
estado de engorduramento entre animais e carcaças de raças deslanadas com raças semi-lanadas.
Pelo exposto, conclui-se que entre os tecidos que compõem a carcaça dos pequenos
ruminantes, a gordura é o tecido mais variável, tanto em quantidade quanto em distribuição. A
proporção e a distribuição de gordura na carcaça são, portanto, determinadas por fatores extrínsecos
e intrínsecos ao animal, sendo que entre os intrínsecos a CC é um dos mais importantes.
Embora a CC seja um parâmetro de avaliação animal in vivo, esta se constitui num ótimo
preditor da quantidade de gordura na carcaça do animal que vai ser abatido. Por exemplo, Delfa et
al., (1992), por meio de regressão múltipla obteve em ovelhas aragonesas um coeficiente de
2
determinação (r ) para a relação entre a CC e a gordura subcutânea, intermuscular, renal mais
pélvica e a gordura total na carcaça de 0,72, 0,80, 0,81 e 0,80, respectivamente.
A CC, por meio da gordura que se estima existir no animal, exerce influência sobre algumas
características quantitativas e qualitativas da carcaça. Qualquer fator, como a CC, que aumente a
gordura total do animal incrementa também o rendimento de carcaça devido à maior taxa de
crescimento de seus tecidos, particularmente gordura, quando comparado com o crescimento dos
componentes não constituintes da carcaça, bem como devido à maior capacidade de armazenamento
de gordura na carcaça do que em outras partes do organismo animal. Segundo McLeod, (2003), para
cada aumento de uma unidade no escore de CC há um incremento de cerca de 5mm na medida GR
(medida da gordura subcutânea no ponto de maior espessura no lombo) e de aproximadamente 2%
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Anais de Simpósios da 43ª Reunião Anual da SBZ – João Pessoa – PB, 2006.
no rendimento de carcaça, de forma que para cordeiros com escore 1, 2, 3, 4 e 5 a espessura da GR
é de 0-5, 6-10, 11-15, 16-20 e
21mm e o rendimento é de 41, 43, 45, 47 e 49%, respectivamente.
Segundo a Cornell University (2002), ovinos com escores de CC 1, 2, 3, 4 e 5 ao abate
apresentam em sua carcaça uma espessura de gordura subcutânea lombar de < 0,41; 0,41-0,64;
0,64-1,02; 1,02-1,27 e >1,27 cm, respectivamente. Em experimento desenvolvido na EMEPA, com
cordeiros Santa Inês e seus mestiços F1 com Dorper, verificou-se que aqueles animais abatidos com
CC baixa (escore 1,5-2,0), intermediária (escore de 3,0-3,5) e alta (escore de 4,0 a 4,5),
apresentaram um rendimento de carcaça fria, respectivamente, de 42,50, 46,49 e 48,84%,
demonstrando o papel da CC e, por conseguinte, do acabamento como isolante térmico.
Por outro lado, como a maior proporção da gordura que a CC indica existir no animal,
principalmente em ovinos, faz parte da carcaça, espera-se que a CC do animal ao abate altere a
composição tecidual da carcaça, de modo que quanto mais elevada a CC maior a proporção de
tecido adiposo em relação aos demais tecidos. Há, portanto, uma relação inversa entre a espessura
da gordura subcutânea e o rendimento de músculo na carcaça, pois uma gordura de cobertura dorsal
na carcaça de ovinos de 1,5; 4,1; 6,6; 9,1 e 11,7mm resultaria, segundo Boggs e Merkel (1984), em
51,0; 49,7; 48,4; 47,1 e 45,8% de rendimento de carne magra na carcaça, respectivamente. Além
disso, o excesso de gordura, embora comestível, é de pequeno valor comercial e em determinados
casos, indesejável. Assim, o abate de animais com CC excessiva resulta em aumento nas
necessidades de aparas adiposas no toalete das carcaças e, portanto, no incremento nos custos com
a mão-de-obra, bem como pode se tornar um fator de menor aceitação da carcaça por parte de
alguns mercados consumidores.
A musculosidade e acabamento juntos, ou seja, a conformação da carcaça é uma das
características qualitativas mais importantes na maioria dos sistemas de classificação de carcaça do
mundo. A CC no animal vivo pode ser usada para a predição da conformação e, principalmente, do
acabamento da carcaça. Na carcaça sem acabamento, a musculatura se apresenta bem definida,
distinguindo-se facilmente o músculo um do outro. À medida que a carcaça vai sendo acabada, as
depressões ou vincos existentes nos encontros de dois ou mais músculos da superfície da carcaça
começam a serem preenchidas por gordura subcutânea até o ponto em que desaparece e torna
quase que indistinguível um músculo do outro. Em estágios mais avançados de acabamento, a maior
cobertura de gordura, não só impossibilita a delimitação entre músculos, mas também impede a
visualização da musculatura como um todo. Nas carcaças bem acabadas, sua superfície apresentase plana e lisa, sem depressões e nem elevações. Enquanto nas carcaças não acabadas, as
ondulações, na superfície da carcaça, devem-se às depressões por falta de deposição de gordura
nos vincos e depressões musculares superficiais, nas excessivamente acabadas as ondulações são
resultantes de elevações provenientes de acúmulo localizado e excessivo de gordura superficial em
determinados pontos da carcaça. Assim, um animal vivo, quando abatido com excesso, mas
principalmente com carência de CC, não poderá dar origem a uma carcaça adequadamente acabada
e, por conseguinte, bem conformada. Corroborando com essas afirmativas, experimento realizado na
EMEPA obteve para cordeiros Santa Inês e mestiços F1 (Santa Inês x Dorper) abatidos com CC baixa
561
Anais de Simpósios da 43ª Reunião Anual da SBZ – João Pessoa – PB, 2006.
(escore 1,5-2,0), intermediária (escore de 3,0-3,5) e alta (escore de 4,0 a 4,5), um escore de
conformação de 4,12, 7,00 e 8,38, respectivamente.
Além do aspecto de conformação, a CC e, por conseguinte, o acabamento da carcaça é
essencial a diversos aspectos qualitativos da carne na carcaça. Por exemplo, após o abate, o
resfriamento da carne da carcaça deve ocorrer de forma lenta, pois um choque térmico muito brusco
durante a maturação da carne certamente irá ocasionar o chamado encurtamento das fibras
musculares e a queima da carne pelo frio. Quando isso acontece, por falta de acabamento, a carne
fica dura e escura de modo irreversível, independente de raça, sexo ou idade do animal. Portanto,
uma correta cobertura de gordura na carcaça, resultante do abate de animais em boa CC, serve de
isolante térmico ou “agasalho” da carcaça, permitindo que as propriedades da carne fresca sejam
preservadas nas carcaças resfriadas.
A gordura, ao contrário do que ocorre com os ossos e músculos, apresenta desenvolvimento
contínuo durante toda a vida do animal sendo depositada intracavitariamente, principalmente em
torno das vísceras e dos rins, e entre os músculos, no início da vida. À medida que os animais
crescem e se aproximam da maturidade, quantidades crescentes de gordura passam a ser
depositadas externamente sob a pele. Quando essa camada atinge certo nível, a gordura começa a
se infiltrar dentro dos músculos, num processo conhecido como marmorização. Há, portanto, uma
ordem preferencial de deposição de gordura na carcaça, sendo a gordura renal e pélvica a mais
precoce de todas, e a da marmorização a mais tardia delas, com a gordura subcutânea e
intermuscular de deposição intermediária.
Como a gordura intramuscular depende de uma prévia deposição de gordura subcutânea, o
marmoreio depende, portanto, da CC do animal no abate. Em experimento da EMEPA, cordeiros
Santa Inês e seus mestiços F1 (Santa Inês x Dorper) abatidos com peso vivo médio de 20kg e com
CC baixa (escore 1,5-2,0), intermediária (escore de 3,0-3,5) e alta (escore de 4,0 a 4,5),
apresentaram uma espessura de gordura subcutânea e uma quantidade (nota) de marmoreio de
0,12mm e 1,37 pontos, 1,18mm e 1,52 pontos e 1,65mm e 1,92 pontos, respectivamente. Por outro
lado, como o marmoreio contribui positivamente no sabor e maciez da carne, pode-se concluir, por
simples dedução, que os animais devem ser abatidos com boa CC para que possam produzir carne
mais saborosa e macia.
Uma CC ao abate em torno de 3,5 é suficiente, dependendo do genótipo em questão, para
resultar numa espessura de gordura subcutânea lombar na carcaça de 0,5 -1,0 cm. Esse nível de
acabamento parece ser o que resulta em melhores características quantitativas e qualitativas nas
carcaças ovinas e caprinas. Abaixo disso, as características ficam aquém do desejável, enquanto
acima, além passar dos limites preteridos pela maioria dos mercados consumidores, os gastos para
elevar a CC a níveis superiores tornam-se normalmente antieconômicos, haja vista o custo energético
e, portanto, econômico do ganho de peso dos animais à base de gordura é muito elevado, quando
comparado ao ganho de peso às custa de músculo.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora se saiba há anos que o mercado de carne ovina e caprina no Brasil apresenta
elevado potencial, pouquíssima evolução tem-se observado no sistema produtivo, tanto que as
informações presentes na literatura e a vivência com a exploração demonstram que a técnica de
avaliação da CC nos ovinos e caprinos no Brasil ainda é pouco utilizada, mesmo que se trate de
prática fácil e barata execução, além de ser largamente utilizada com sucesso em outros países.
Espera-se que trabalhos deste tipo possam conscientizar técnicos e produtores de que a
avaliação da CC dos rebanhos é uma prática indispensável e que sua adoção rotineira pode levar a
um incremento substancial na produtividade dos rebanhos ovinos e caprinos de corte.
Dadas as particularidades de deposição de gordura em alguns animais, mais estudos serão
necessários para a elaboração de metodologias próprias e específicas de avaliação da CC em ovinos
deslanados e de raças portadoras de garupa e rabo largos, por exemplo.
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