UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA MONOGRAFIA DE BACHARELADO POLÍTICAS PÚBLICAS PARA ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS: O ARRANJO DE GEMAS DE TEÓFILO OTONI – MINAS GERAIS MARCELO GERSON PESSOA DE MATOS matrícula nº: 099203255 ORIENTADOR(A): Prof. José Eduardo Cassiolato MARÇO 2004 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA MONOGRAFIA DE BACHARELADO POLÍTICAS PÚBLICAS PARA ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS: O ARRANJO DE GEMAS DE TEÓFILO OTONI – MINAS GERAIS ____________________________________________________ MARCELO GERSON PESSOA DE MATOS matrícula nº: 099203255 ORIENTADOR(A): Prof. José Eduardo Cassiolato MARÇO 2004 As opiniões expressas neste trabalho são de exclusiva responsabilidade do autor 3 Dedico este trabalho a meus pais, Gerson Manoel Muniz de Matos e Irany Pessoa de Matos, que tanto contribuíram para minha formação acadêmica e para minha formação como ser humano. 4 AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao meu orientador, professor José Eduardo Cassiolato, por sua atenciosa orientação e por seu apoio durante todas as fases da execução deste trabalho. Agradeço igualmente à RedeSist por seu apoio e a toda sua equipe, especialmente a Eliane Pires Monteiro, Fabiane e Tatiane Morais, Helena Lastres, Márcia Rapini, Marina Szapiro, Max Hubert dos Santos e Rodolfo Torres, pela generosa ajuda, pelas sugestões e informações. Gostaria de expressar a minha gratidão à Fundação Universitária José Bonifácio por seu apoio financeiro nas fases de pesquisa e de pesquisa de campo, sem o qual este trabalho não seria possível. Aos professores da disciplina de SAE, no primeiro período de 2003, Renata Lèbre La Rovere e Nivalde José de Castro, agradeço pelas valiosas orientações, fundamentais nas fases de planejamento e estruturação deste trabalho. Agradeço ao Serviço Geológico do Brasil – CPRM, pela ampla disponibilização de informações, dados, e escritos técnicos. Dirijo meus especiais agradecimentos ao diretor executivo da GEA, senhor Guilherme Bamberg, que gentilmente me recebeu na cidade de Teófilo Otoni, pondo a minha disposição toda infraestrutura da associação, contribuindo com valiosas informações e, principalmente, estabelecendo o elo com os empresários do arranjo de gemas de Teófilo Otoni e com diversos agentes relacionados a este. Agradeço, igualmente, a todos os empresários e aos demais agentes relacionados ao arranjo de gemas de Teófilo Otoni, que contribuíram com valiosas informações na aplicação de questionários e nas diversas entrevistas. Sem este apoio a pesquisa de campo não alcançaria seus objetivos. Por fim, agradeço aos meus pais, Gerson Manoel Muniz de Matos e Irany Pessoa de Matos, minha irmã, Aline e minha querida Elaine. Sem o seu incansável apoio, aconselhamento, orientação, atenção e paciência nenhuma empreitada da minha vida teria igual êxito. 5 RESUMO O trabalho focaliza o arranjo produtivo de gemas de Teófilo Otoni – Minas Gerais, sob a ótica proposta no âmbito dos estudos realizados pela RedeSist (Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos Locais). Considerando as especificidades locais do processo produtivo e inovativo, propostas pela abordagem evolucionista, são traçadas as características do setor de gemas a nível mundial e nacional para, assim, melhor classificar as características específicas do arranjo em estudo, tendo em vista o seu potencial competitivo na atual configuração deste setor e as políticas públicas que possam fomentar este. Para este fim, são estudados diversos fatores relacionados ao arranjo, como o ambiente no qual este se insere, suas características históricas, econômicas e sociais. Considerando a empresa não como uma instância independente e sim como um agente direta ou indiretamente condicionado pelos demais agentes do meio no qual esta se insere, analisa-se a infra-estrutura educacional e física, de ciência e tecnologia, de financiamento e de fomento e representação, que cerca as empresas do arranjo. Ênfase especial se dá à capacitação das empresas para a inovação na busca de estabelecer vantagens competitivas dinâmicas. Neste sentido enfocam-se os esforços inovativos passados das empresas e os processos interativos de cooperação e de aprendizado interno e externo à firma. Por fim, busca-se comparar as políticas de desenvolvimento industrial e tecnológico direcionadas ao setor de gemas no Brasil e nos países que atualmente se destacam nesta atividade, além de identificar as diversas ações direcionadas ao arranjo produtivo em estudo. Verifica-se que o arranjo produtivo de gemas de Teófilo Otoni tem perdido gradativamente seu potencial competitivo, não se adequando às novas demandas estabelecidas pelo mercado mundial de gemas ao longo da última década. Dentre as causas deste processo pode-se definir três planos distintos que contribuem para este quadro: dispositivos de ordem legal; fatores infra-estruturais e a atuação dos agentes do segmento empresarial. Quanto ao primeiro ponto, destaca-se a legislação de exploração mineral inadequada a exploração de gemas, a atuação puramente punitiva de órgãos de controle ambiental, as dificuldades burocráticas para a regularização do produto da extração e das exportações, além de uma carga tributária contraproducente aplicada ao setor, que não considera as especificidades do setor de gemas. O resultado destes fatores se expressa no desestímulo à atividade garimpeira na região, com a conseqüente escassez de matéria prima (a pedra bruta) para as empresas do arranjo e um alto grau de informalidade. No que se refere ao segundo ponto, verifica-se a relativa falta de uma infra-estrutura científica e tecnológica e de qualificação profissional nos limites do arranjo e na região, que se reflete no emprego de técnicas produtivas rudimentares e tecnologicamente defasadas. A inexistência de uma infra-estrutura de financiamento e de linhas de crédito voltadas à atividade se reflete diretamente nas dificuldades enfrentadas pelas empresas para a aquisição de matéria prima e para a formação de estoques, impossibilitando um planejamento de longo prazo pelas empresas. A relativa desqualificação do empresariado local se reflete na baixa interação com universidades e instituições de pesquisa e em uma postura conservadora e isolada. Conseqüentemente, verifica-se o emprego de tecnologias defasadas, a repetição exaustiva de técnicas de produção e organização ultrapassadas e um baixo grau de interação entre os agentes e esforços inovativos tímidos e fragmentados. A qualificação da mão-de-obra relativamente baixa nas empresas do arranjo é, em parte, reflexo da baixa importância atribuída pelos empresários a esta questão e, conseqüentemente, de seu esforço insipiente na promoção de atividades de qualificação, dentro e fora da firma. Por outro lado, o arranjo produtivo conta com diversos fatores positivos e potencialidades que transcendem vantagens competitivas puramente estáticas. Além de vantagens estáticas como a proximidade com as fontes de matéria prima e a cultura lapidária instalada no arranjo, se destaca a qualidade criativa e artesanal da mão-de-obra local e o grande potencial de qualificação da jovem mão de obra, que se deve às expressivas melhorias no desempenho do sistema educacional de Teófilo Otoni. Observa-se, também, um considerável grau de interação e cooperação entre entidades de representação do setor, o poder público e diversas universidades, empenhados na execução de projetos, que buscam potencializar e integrar toda a cadeia produtiva de gemas nos limites da região e do arranjo produtivo. Porém, estes projetos têm os agentes produtivos do arranjo apenas como objeto e não como interlocutores no processo, o que implica em um menor êxito de tais ações e no incentivo à postura passiva e receptiva do empresariado local. Vislumbra-se no aproveitamento das qualidades inerentes a cultura lapidária e artesanal da região e na integração de toda cadeia produtiva, da extração ao produto final (joalheria, bijuteria e artesanato mineral), uma opção viável para superar as limitações impostas pelo mercado externo de gemas. 6 ÍNDICE INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................... 8 CAPÍTULO I – GLOBALIZAÇÃO, INOVAÇÃO E POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO INDÚSTRIAL E TECNOLÓGICO................................................................................................................... 12 I.1 GLOBALIZAÇÃO E MUDANÇA DE PARADIGMA TECNOLÓGICO ....................................................................... 12 I.2 O CARÁTER LOCAL DA INOVAÇÃO................................................................................................................ 14 I.3 POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO INDÚSTRIAL E TECNOLÓGICO ................................................................. 18 CAPÍTULO II - CARACTERIZAÇÃO DA INDÚSTRIA DE GEMAS........................................................ 23 II.1 DEFINIÇÕES ................................................................................................................................................ 23 II.2 PANORAMA INTERNACIONAL ...................................................................................................................... 25 II.2.1 Mercado internacional ....................................................................................................................... 25 II.2.2 Processos produtivos e regimes tecnológicos .................................................................................... 28 II.2.2.1 Pesquisa e extração..................................................................................................................... 28 II.2.2.2 Beneficiamento........................................................................................................................... 31 II.3. PANORAMA NACIONAL .............................................................................................................................. 33 II.3.1 Origem e panorama do mercado nacional......................................................................................... 33 II.3.2 Processos produtivos e regimes tecnológicos .................................................................................... 37 CAPÍTULO III - CARACTERIZAÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL....................................... 41 III.1 INFORMAÇÕES GERAIS ............................................................................................................................... 41 III.1.1 A região............................................................................................................................................. 41 III.1.2 Origem e desenvolvimento do arranjo .............................................................................................. 43 III.1.3 Fase de pesquisa e a atividade extrativa .......................................................................................... 43 III.1.4 A atividade de beneficiamento .......................................................................................................... 46 III.1.5 Legalização....................................................................................................................................... 49 III.2 AGENTES DO SEGMENTO EMPRESARIAL ..................................................................................................... 52 III.3 INSTITUIÇÕES DE FOMENTO E DE REPRESENTAÇÃO .................................................................................... 55 III.4 INFRA-ESTRUTURA EDUCACIONAL E FÍSICA ............................................................................................... 61 III.4.1 Infra-estrutura educacional e qualificação de mão-de-obra ............................................................ 61 III.4.2 Infra-estrutura física......................................................................................................................... 67 III.5 INFRA-ESTRUTURA CIENTÍFICO-TECNOLÓGICA (C&T, P&D) .................................................................... 68 III.6 INFRA-ESTRUTURA DE FINANCIAMENTO .................................................................................................... 70 CAPÍTULO IV – INOVAÇÃO, APRENDIZAGEM E COOPERAÇÃO NO ARRANJO........................... 72 IV.1 INOVAÇÃO E ATIVIDADES INOVATIVAS...................................................................................................... 72 IV.2 DINÂMICA DE APRENDIZAGEM INTERNA À FIRMA...................................................................................... 76 IV.3 PROCESSOS INTERATIVOS PARA APRENDIZAGEM ....................................................................................... 77 IV.4 EXTENSÃO E IMPACTOS DOS PROCESSOS INOVATIVOS E INTERATIVOS ...................................................... 81 CAPÍTULO V – POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO ARRANJO ................. 83 V.1 POLÍTICAS FISCAL E TRIBUTÁRIA ................................................................................................................ 83 V.2 POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS À PRODUÇÃO DE GEMAS E AO ARRANJO ................................................... 86 V.2.1 Ação recente ....................................................................................................................................... 86 V.2.2 A percepção do empresariado local quanto às políticas.................................................................... 88 CONCLUSÃO ..................................................................................................................................................... 92 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................................................. 99 7 INTRODUÇÃO No recente cenário de globalização e de introdução do novo paradigma tecnológico baseado na micro-informática tem se mostrado relevante discutir a reorganização do mercado mundial, a reestruturação da estrutura produtiva e,principalmente, os impactos destas mudanças sobre a esfera regional e local enquanto unidade produtiva e inovativa. Diversos estudos, embasados majoritariamente em uma abordagem evolucionista, comprovam, que a esfera local tem sua importância dentro da nova estrutura econômica, principalmente no que tange a geração de trabalho e renda em regiões pouco favorecidas. Como fruto destas observações, desenvolve-se no âmbito dos estudos realizados pela Redesist a abordagem de arranjos e sistemas produtivos locais, que destaca o papel central da inovação e do aprendizado interativos, como fatores de competitividade sustentada. Como fruto dos estudos realizados com o emprego desta abordagem verifica-se, que a proximidade geográfica de empresas e o aproveitamento das sinergias geradas por suas interações representam uma importante fonte de vantagens competitivas duradouras. Especialmente no que tange micro, pequenas e médias empresas, a participação dinâmica em arranjos produtivos locais tem se mostrado representativa para a superação de barreiras ao seu crescimento, para o emprego de métodos eficientes de produção e para a comercialização de seus produtos em mercados nacionais e até mesmo internacionais. Ressalta-se a importância de tais empresas de menor porte no caso brasileiro, devido ao fato de mais da metade dos postos de trabalho serem gerados por micro, pequenos e médios empreendimentos. Neste contexto, esta monografia pretende discutir, pautada na abordagem de arranjos e sistemas produtivos locais, como se caracteriza a produção de gemas na região leste e nordeste de Minas Gerais e especificamente no município de Teófilo Otoni, tendo como objetivo caracterizar a cadeia produtiva de gemas de forma ampla e em suas especificidades locais, enfocando não só fatores econômicos como também fatores sociais, políticos e institucionais que, dentro da visão evolucionista, são fundamentais na configuração de um arranjo produtivo. Ênfase especial se dá aos diferentes processos de aprendizagem e inovação dentro do arranjo. Com a compreensão dos pontos anteriores e com a análise dos impactos das mudanças estruturais na elaboração de estratégias competitivas e nas possibilidades de financiamento das empresas do arranjo, será possível identificar um conjunto de políticas públicas importantes para a promoção do desenvolvimento da atividade na região em questão. 8 O estudo da atividade produtiva de gemas no Brasil e especialmente na região leste e nordeste de Minas Gerais se justifica em face de sua grande importância econômica e social. Como características específicas desta atividade, que corroboram com esta visão, podem ser citadas (Calaes ,1995; IBGM ,1995): • Processamento (lapidação, Joalheria e bijuteria) com baixa recuperação física e elevada agregação de valor (até 2000x) • Baixo índice de investimento/emprego gerado, ou seja, intensivo em mão-de-obra • Baixo investimento fixo e elevado capital de giro • Baixo conteúdo energético e quase nenhum impacto ambiental • Interação e sinergia com o turismo Estima-se que a produção de gemas empregue diretamente ou indiretamente cerca de 500 mil pessoas em todo o Brasil, sendo 400 mil no garimpo, o que representa uma fonte de renda para um grande contingente em áreas deprimidas e/ou com poucas alternativas. Devido às características descritas acima, sugere-se que os produtores sejam capazes de responder a curto prazo a políticas públicas de estímulo no que se refere a expansão das exportações, contribuindo para o superávit da balança comercial, a geração de empregos, a desconcentração da economia e a redistribuição de renda. Porém, as políticas públicas para a área, no Brasil, não têm sido capazes de fomentar tais potencialidades e estabelecer bases para uma competitividade duradoura e consistente. A atividade extrativa de gemas se estende por uma vasta área do leste e nordeste de Minas Gerais, em uma área superior a cem mil quilômetros quadrados. A atividade de beneficiamento se concentra em algumas cidades pólos da região, tais como: Teófilo Otoni, Governador Valadares, Diamantina e Araçuaí. Embora se reconheça, que a definição de um arranjo produtivo de gemas na região englobaria inúmeros municípios geograficamente dispersos, este trabalho tem seu foco voltado para o segmento de lapidação do município de Teófilo Otoni, que se caracteriza como principal pólo da produção de gemas na região, devido às seguintes características: 9 • Especialização produtiva voltada ao segmento de lapidação (principal etapa de agregação de valor em toda cadeia produtiva), confirmada pelo “Quociente locacional” (6,17) e índice de concentração mais alto de todo estado de Minas Gerais1; • Sede dos principais eventos de promoção da produção de gemas da região, como exposições e feiras internacionais; • Sede de importantes órgãos representativos como associações empresariais e o Sindicato Nacional dos Garimpeiros. Devido a estes fatores e para efeito de simplificação, optou-se por delimitar espacialmente o arranjo produtivo em estudo ao município de Teófilo Otoni, sem desconsiderar, porém, as inter-relações existentes com o restante da região. Em se tratando de um estudo empírico, foi aplicado, junto aos agentes produtivos do arranjo, um questionário padrão, desenvolvido pela RedeSist (Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos Locais), que busca identificar as características dos diferentes agentes do arranjo em suas especificidades locais, dando ênfase aos diferentes processos interativos e à introdução de inovações. Além disto, foram abordados diversos agentes direta ou indiretamente envolvidos com o arranjo, tais como: órgãos de representação e fomento, universidades e instituições de pesquisa e o poder público local. Nos anexos V e VI é apresentada a metodologia empregada na pesquisa de campo. O presente trabalho é composto por cinco capítulos. No primeiro capítulo são discutidas, sob uma abordagem evolucionista, as recentes transformações no cenário econômico mundial, decorrentes do processo de globalização e da inserção do novo paradigma tecnológico, a permanência¸ em face destas transformações, da importância da esfera local para a atividade inovativa e as implicações deste processo para o desenho de novas políticas de desenvolvimento industrial e tecnológico. O segundo capítulo busca dar uma compreensão ampla do setor de gemas, o seu mercado, sua estrutura produtiva, os diferentes produtos e as técnicas aplicadas, a nível internacional e nacional. O terceiro capítulo mostra como o arranjo local se configura em comparação às características gerais do 1 O quociente locacional e o índice de concentração são indicadores utilizados pela CEDEPALAR (Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG) para a identificação de possíveis arranjos produtivos. O quociente locacional (QL) mede, em termo de número de pessoas ocupadas, o peso relativo do setor no município sobre o peso relativo do setor no Brasil. Um QL superior a um sugere alguma especialização produtiva, embora diferentes autores, que abordam o assunto, sugiram que sejam considerados apenas valores superiores (a partir de quatro). Para maiores esclarecimento ver Crocco (2003). No cálculo do QL para os municípios mineiros foram utilizados dados da RAIS 2001 (Relação Anual de Informações Sociais) do Ministério do Trabalho, que considera somente trabalhadores empregados em empresas legalmente estabelecidas. Considerando o grande contingente de pessoas informalmente ocupadas no segmento de beneficiamento de gemas na cidade de Teófilo Otoni, pode-se inferir uma especialização produtiva ainda superior. 10 setor, abordando aspectos produtivos, tecnológicos e legais, além de sua infra-estrutura educacional, física, científica, de representação e de financiamento. O quarto capítulo analisa como se dão os processos de aprendizagem e inovação entre os diferentes agentes e dentro das firmas, considerando processos interativos de aprendizado e cooperação. O último capítulo buscará identificar as políticas públicas relevantes para o desenvolvimento do setor em face às recentes mudanças estruturais, no que tange ao contexto econômico brasileiro e ao novo paradigma tecnológico e econômico. 11 CAPÍTULO I – GLOBALIZAÇÃO, INOVAÇÃO E POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO INDÚSTRIAL E TECNOLÓGICO I.1 Globalização e mudança de paradigma tecnológico O cenário mundial vem sofrendo, desde a década de 80, significativas transformações nos mais diversos aspectos. Na economia mundial, a expressão mais clara destas transformações se apresenta na liberalização econômica, na globalização e na introdução de um novo paradigma tecnológico, baseado nas tecnologias de informação e comunicação – TIC’s. O processo entendido por globalização sugere a noção de um mundo sem fronteiras, caracterizado por um mercado global de bens e serviços e dominado por grandes corporações sem vínculos nacionais. Dentro desta visão, o papel dos estados nacionais, enquanto catalisadores do desenvolvimento, seria diminuído, senão anulado, restando-lhes apenas uma postura passiva de aceitação das forças econômicas em escala global. Lastres; et al. (1999) aponta para o equívoco associado a esta visão, argumentando que a única esfera na qual se verifica efetivamente um mercado globalizado é a financeira, uma vez que esta esfera, em grande parte, não depende da circulação de objetos físicos ou de pessoas. Por outro lado, verificam-se crescentes barreiras não tarifárias à circulação de bens e serviços, como também de trabalhadores. A limitada dimensão da globalização econômica se explicita no fato de 80% de toda a produção mundial ainda ser consumida no país de origem e 95% da formação de capital ser financiada pela poupança doméstica. Paralelamente, verifica-se a difusão de novas tecnologias de informação e comunicação, baseadas principalmente nos avanços na área da micro-informática e das telecomunicações, possibilitando o gerenciamento de informações e a comunicação a nível global e a baixos custos. Os dois aspectos abordados – a liberalização e desregulamentação dos mercados e o surgimento e a consolidação das novas tecnologias da informação e comunicação – são vistos como motrizes do processo de transformação e readaptação dos diversos agentes envolvidos na atividade produtiva, como também das diversas instituições envolvidas, resultando em um 12 novo padrão de produção e acumulação2. Dentro deste novo paradigma tecnológico, verificase a substituição gradual de tecnologias intensivas em capital e energia por tecnologias intensivas em informação. Em consonância com esta transformação, o World Development Report do Banco Mundial (citado por Freeman, 1999) sugere, que, mais importante que o investimento em estrutura produtiva propriamente dita, seja o investimento em bens intangíveis, como a acumulação de conhecimento, considerados ativos primordiais para a competição. Neste sentido, a atividade de inovação3, passa a ser vista como ainda mais decisiva para a ação estratégica das firmas. Freeman (1999) aponta para a complementaridade dos investimentos em estrutura produtiva e em capacidade inovativa: The contribution of capital accumulation to growth depends not only on its quantity but on its quality, on the direction of investment, on the skills of entrepreneurs and the labour force in the exploitation of new investment, on the presence (or absence) of social overhead capital and so forth. (p. 142). Um aspecto relacionado à adoção das tecnologias de informação e comunicação está na mudança da forma como têm se dado a interação entre as empresas e entre estas e as demais instituições. A principal expressão desta transformação está na formação de diversos tipos de redes dentro de uma firma e entre firmas, dinamizando diversos aspectos da atividade produtiva, como o fornecimento de insumos, equipamentos, serviços, produção, distribuição e consumo. Este processo tem assumido dimensões globais, uma vez que grandes corporações têm se beneficiado de forma mais eficaz das inovações técnicas e organizacionais, controlando, assim, as principais áreas do avanço tecnológico, o que lhes permite a implementação de estratégias competitivas de caráter global. É preciso ressaltar, que o processo de globalização também está diretamente relacionado a mudanças na esfera política, comercial, financeira, social e mesmo cultural. Como resultante destas mudanças, em contradição à noção de globalização, verifica-se uma reorganização espacial da atividade econômica, expressa na concentração dos centros decisórios nos países desenvolvidos (Europa Ocidental, Japão e, principalmente, nos Estados 2 Segundo Cassiolato & Lastres (1999), estas mudanças implicam em importantes readaptações e reestruturações que afetam: a hierarquia política e econômica em diversos níveis; as várias atividades e setores produtivos; as inúmeras instituições e os próprios indivíduos. 3 No âmbito das pesquisas realizadas pela Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais – RedeSist, faz-se a diferenciação entre inovação radical e incremental. O primeiro termo se refere ao desenvolvimento de produtos, processos ou formas de organização da produção inteiramente novos, enquanto que o segundo se refere às melhorias que não alteram a estrutura industrial, mas que pode gerar maior eficiência técnica, aumento da produtividade e da qualidade, redução de custos, como também a ampliação das aplicações de um produto ou processo.Ver Freeman (1995) 13 Unidos). Assim, observa-se uma concentração das atividades consideradas estratégicas, principalmente as intensivas em tecnologia, no limite de tais países. A incorporação das periferias se dá apenas de forma limitada e muitas vezes condicionada a normas trabalhistas, ambientais e tributárias menos rígidas, implicando em condições favoráveis para grandes corporações no que tange a redução de custos. A extensão da globalização, no que tange aos ativos relacionados à ciência e tecnologia (globalização tecnológica), é extremamente limitada. Embora se verifique a constituição de diferentes programas e redes internacionais direcionadas à atividade de P&D, estas se centralizam nos poucos países desenvolvidos. Mesmo entre as empresas dos países desenvolvidos o grau de interação é limitado, uma vez que as principais atividades de P&D, relacionadas a sua importância estratégica, são mantidas no país de origem das mesmas. A internacionalização destas atividades e a incorporação da periferia comumente se baseiam apenas em atividades de P&D complementares ou marginais, sendo, muitas vezes, orientada apenas à adaptação de produtos as especificidades dos diversos mercados locais. (Lastres et al., 1999). A participação dos países em desenvolvimento neste processo é extremamente limitada, face aos crescentes obstáculos impostos à circulação dos conhecimentos científicos e tecnológicos, especialmente às tecnologias de ponta. Assim, a transferência dos resultados do progresso tecnológico para os países periféricos é parcial. Como resultado, estes países são mantidos em posição periférica, com a conseqüente perda de dinamismo das economias locais, além de inibir a consolidação de uma capacidade interna de progresso técnico. I.2 O caráter local da inovação A importância da esfera local, enquanto catalisadora do processo inovativo, tem sido questionada, em face da suposta tendência à globalização tecnológica. Este processo, aliado a crescente facilidade de comunicação e de troca de informações, possibilitado pelas TIC’s, anularia a importância da esfera local para o processo inovativo. Esta visão fundamenta-se no mainstream da teoria econômica, que considera a tecnologia como um fator exógeno à dinâmica economia e como um bem de livre circulação e aquisição, atribuindo-lhe, portanto, caráter de commodity. De acordo com esta abordagem, a inovação poderia ser gerada independentemente do local em questão. Porém, na prática, verificam-se grandes assimetrias em termos da distribuição espacial da capacidade inovativa e de incorporação de novas 14 tecnologias, o que sugere a existência de especificidades locais que influenciem estes aspectos. A abordagem da teoria evolucionista a respeito da tecnologia e suas implicações pode contribuir para um melhor entendimento das particularidades do processo inovativo. De acordo com esta abordagem a tecnologia consiste em um ativo de difícil aquisição, cujo custo de incorporação pode equivaler ao seu custo de desenvolvimento. As decisões técnicas das firmas são condicionadas por sua trajetória específica de aprendizado e acumulação de conhecimento, ou seja, são path-dependent4. Assim sendo, a geração, implementação, seleção e adoção de novas tecnologias são influenciadas pelas características das tecnologias que estão sendo utilizadas e pela experiência acumulada no passado (Lastres et al., 1999). Considerando que a trajetória de desenvolvimento da firma é influenciada pelas características específicas do espaço no qual ela se situa e por sua interação com diversos agentes, verifica-se que os processos de geração de conhecimento e de inovação são localmente determinados. Para o melhor entendimento do processo inovativo, destacam-se as seguintes características deste (Cassiolato & Lastres, 1999): • A inovação e o conhecimento (ao invés de poderem ser considerados como fenômenos marginais) colocam-se cada vez mais visivelmente como elementos centrais da dinâmica e do crescimento de nações, regiões, setores, organizações e instituições; • Existem importantes diferenças entre sistemas de inovação de países, regiões, setores, organizações, etc. em função de cada contexto social, político e institucional específico; • Se por um lado informações e conhecimentos codificados apresentam condições crescentes de transferência, dada a eficiente difusão das TIC’s, conhecimentos tácitos de caráter localizado e específico continuam tendo um papel primordial para o sucesso inovativo e permanecem difíceis (senão impossíveis) de serem transferidos. • A inovação constitui-se em processo de busca e aprendizado, o qual, enquanto dependente de interações, é socialmente determinado e fortemente influenciado por formatos institucionais e organizacionais específicos; • Existem marcantes diferenças entre os agentes e suas capacidades de aprender (as quais refletem e dependem de aprendizados anteriores, assim como da própria capacidade de esquecer); 4 “A fundamental point [...] is that in general, the series of attractors defined by an evolutionary path are behaviour-dependent and path-dependent. That is to say, it is the very process of approaching any one ‘attractor’ which may well change the value of the attractor itself: the process of ‘getting there’, and the ways one tries to get there, influences the ‘centre of gravity’ itself.” (Dosi & Orsenigo, 1988, p.23) 15 Tendo em vista a importância do caráter local da inovação, desenvolve-se, no âmbito da teoria evolucionista, varias abordagens buscando determinar as especificidades da esfera local para o processo inovativo. Uma destas contribuições diz respeito à abordagem conceitual de sistemas nacionais de inovação, que se baseia na observação das diversidades existentes entre os diferentes países e regiões. Estas diversidades derivam de características históricas, lingüísticas, culturais e sociais específicas, e que influenciam diretamente a configuração da estrutura política e institucional de cada país. Conseqüentemente, a interação entre estas esferas e os diversos agentes se reproduz em diferentes estruturas econômicas, na organização interna das firmas e dos mercados, e no sistema inovativo. Além das características singulares de cada região ou país na configuração da atividade econômica e de sua capacidade endógena de inovação, tem-se apontado para a importância da proximidade geográfica como fator relevante para o desenvolvimento de capacitações específicas. Diversas contribuições teóricas têm possibilitado uma melhor compreensão da importância da proximidade geográfica, não só de empresas, como também destas com entidades de apoio e promoção, instituições de ensino, pesquisa e apoio técnico, agentes financeiros, órgãos públicos e consumidores. A primeira contribuição remonta ao século XIX, quando Alfred Marshall criou o conceito de distrito industrial, para se referir à concentração espacial de pequenas firmas voltadas para a manufatura de produtos específicos na Inglaterra do período. Apesar das limitações de economia de escala de tais distritos, tendo em vista seus reduzidos custos de transação e suas expressivas economias externas, Marshall caracterizou os distritos indústrias ingleses da época como a ilustração mais eficiente do capitalismo (Freeman, 1999; Lastres et al., 1999). Tal enfoque tem contribuído e servido de base para muitos estudos posteriores, na busca de caracterizar os atuais “distritos industriais”. Particularmente, a abordagem Marshalliana tem sido resgatada, desde a década de 80, em face da observação de diversas configurações de aglomerados produtivos de pequenas e médias empresas ou destas em conjunto com grandes empresas, especializadas em determinados setores produtivos. Dentre as experiências mais emblemáticas podem ser citados os casos da “Terceira Itália”, de Baden-Württemberg, na Alemanha, de Jutland, na Dinamarca e de setores de alta tecnologia nos Estados Unidos, como o “Vale do Silício”. A “Terceira Itália” se caracteriza por um grande número de distritos industriais de pequenas e médias empresas, especializadas em setores tradicionais, tais como o de cerâmica vermelha, têxtil e de máquinas e ferramentas. Tais aglomerados apresentam, por um lado, um certo grau de competição entre as empresas e, por outro lado, um alto grau de cooperação, que é fortemente estimulada pelos governos locais, em atividades como os de serviços 16 tecnológicos, gerenciais e comerciais, de oferta de infra-estrutura, de promoção de feiras comerciais, além de serviços de marketing e de financiamento. Schmitz (citado por Lastres et al., 1999) apresenta como características comuns aos aglomerados produtivos da “Terceira Itália” e aos demais “distritos industriais” contemporâneos os seguintes pontos: proximidade geográfica, especialização setorial, predominância de pequenas e médias empresas, estreita colaboração entre firmas, competição entre firmas baseada na inovação, identidade sócio-cultural com confiança, organizações de apoio ativas na prestação de serviços comuns, atividades financeiras, etc., além da promoção de governos regionais e municipais. No empenho de analisar tais configurações produtivas, envolvendo diferentes atores em âmbito local, diversas contribuições teóricas vêm sendo desenvolvidas, que, embora análogas, apresentam ênfases distintas de acordo com os fatores considerados importantes5. Dentro da multiplicidade de enfoques teóricos destacam-se os estudos realizados pela RedeSist (Rede de Sistemas Produtivos e Inovativos Locais), que sugere a abordagem metodológica de arranjos e sistemas produtivos locais, pela qual se orienta o presente trabalho. Esta abordagem tem como ponto central de sua análise o papel desempenhado pela inovação e pelo aprendizado como fatores dinâmicos para a competitividade. De acordo com a definição empregada pela RedeSist, entende-se como arranjos produtivos locais as aglomerações territoriais de diversos agentes com foco em um conjunto específico de atividades econômicas e que apresentam vínculos mesmo que incipientes. Dentre os diversos agentes envolvidos incluem-se agentes econômicos e suas representações (produtoras de bens e serviços finais até fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras, clientes, associações empresariais), agentes políticos e sociais, além de diversas organizações públicas e privadas voltadas para a formação e capacitação de recursos humanos. Como sistemas produtivos e inovativos locais entendem-se aqueles arranjos produtivos, que apresentam um grau considerável de interação, cooperação e aprendizagem entre os diversos agentes, possibilitando, assim, um incremento da capacidade inovativa endógena, da competitividade e do desenvolvimento local. As diferentes abordagens teóricas, empregadas no estudo do caráter local da inovação, como também os estudos empíricos realizados pela RedeSist em diferentes regiões do país têm contribuído para afirmar, que a aglomeração e a interação de empresas, principalmente de micro, pequeno e médio portes, têm gerado vantagens competitivas dinâmicas, decisivas para o desenvolvimento das empresas e para a ampliação de seus mercados. Tais constatações 5 Dentre estas contribuições destacam-se as abordagens que tratam de: cluster, cadeia produtiva, milieu inovador, pólos e parques científicos e tecnológicos e rede de empresas. 17 refutam a tese de uma globalização tecnológica que anule a importância da esfera local para o processo inovativo e sugerem uma melhor compreensão das implicações associadas à esfera local, no que tange o desenho de uma política de desenvolvimento industrial e tecnológico. I.3 Políticas de desenvolvimento industrial e tecnológico A abordagem evolucionista caracteriza o papel do estado na dinâmica econômica levando em conta as especificidades histórico-institucionais relacionados à esfera local discutidos acima. Esta abordagem teórica destaca as inter-relações e complementaridades históricas existentes entre as esferas pública e privada na configuração dos diferentes desenhos sócio-institucionais e das estruturas produtivas específicas. Por esse ponto de vista, ao contrário do que propõe o mainstream da teoria econômica, que apresenta o estado como fator exógeno à dinâmica econômica, a ação estatal apresenta-se aqui como um fator inerente à dinâmica econômica e da qual não pode ser dissociada. Cabe analisar, portanto, não em que circunstâncias se justifica a ação estatal, mas sim de que forma esta deve se dar. Devido ao fato de a abordagem evolucionista incluir em seu estudo a diversidade dos agentes e do contexto social, econômico e institucional, inerente a cada sistema produtivo e inovativo, esta não se propõe a construir um arcabouço normativo baseado em princípios gerais únicos. Busca-se a construção de um instrumental teórico, que possibilite a concepção de políticas em realidades complexas e diferenciadas. A proposta de ação do estado está diretamente ligada à concepção de mercado e concorrência adotada. Concebe-se a concorrência, não como um processo que tende ao equilíbrio através da equiparação dos preços aos custos marginais, mas sim como um processo em constante desequilíbrio, resultante do processo de destruição criadora, inerente aos esforços inovativos. As empresas, sob pressão competitiva, promovem as inovações e/ou a absorção das inovações geradas por competidores. O mercado é o lócus onde ocorre o processo de seleção das inovações (ou a ausência desta) e, portanto, dos agentes econômicos que respondem por elas. A ação estatal e o arcabouço institucional determinam os limites e influenciam a forma pela qual se dá tal processo. Para influenciar e interagir neste processo, mostra-se necessária a construção de capacitações dinâmicas no interior do estado, que possibilitem um melhor direcionamento das ações deste, num contexto de racionalidade limitada e de incerteza (Gadelha, 2002). Este processo, necessariamente passa pela compreensão dos diversos aspectos característicos de cada estrutura produtiva e do processo histórico associado. Neste sentido, sugere-se a 18 importância da compreensão das recentes transformações ocorridas na estrutura econômica mundial, sob o ponto de vista de suas implicações para a formulação de políticas públicas. A aceleração do processo de globalização, aliada à atual mudança de paradigma tecnológico, resulta em um novo padrão de acumulação capitalista, que afeta diretamente a forma de condução de políticas de desenvolvimento industrial e tecnológico, estabelecendo novos desafios a serem equacionados. Em relação a estas transformações e suas implicações para a consecução de políticas econômicas, Cassiolato & Lastres (1999) destacam quatro tendências principais: 1. O desenvolvimento de novas formas não apenas de produzir e comercializar novos e antigos bens e serviços, mas também de promover, estimular e financiar o desenvolvimento industrial e tecnológico; 2. A ascensão de novas (e renovadas) forças (econômicas, políticas, sociais, culturais etc.) operando à escala mundial; 3. A crescente subordinação das políticas nacionais a condicionantes externos e supranacionais; 4. A crescente valorização de políticas não apenas supra, mas também subnacionais. Diante das exigências impostas pelo novo padrão de acumulação capitalista e das diversas tendências, apontadas acima, apresenta-se a necessidade de compreender as implicação destas mudanças para o desenho de novas políticas industriais e tecnológicas. Verifica-se, porém, a ausência de uma base teórico-conceitual que possa propor um novo conjunto de políticas para a promoção do desenvolvimento industrial, como também para definir as características de um novo formato de estado desenvolvimentista. A análise das diversas políticas adotadas e suas conseqüências desempenha um papel importante, na medida que possibilita a determinação de erros e acertos destas políticas. Neste sentido, a observação das mudanças que vêm sendo sentidas e os diversos esforços de adaptação das políticas industrial e tecnológicas nos países da OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico)6 e do Mercosul podem contribuir para uma melhor compreensão do tema. Quanto aos países da OCDE, destacam-se as diversas políticas adotadas, no sentido de criar medidas compensatórias e de ajuste gradual ao processo de abertura econômica e da desregulamentação, fomentando a competitividade internacional de suas indústrias, tais como: 6 Integram a OCDE: Estados Unidos, México, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Japão, Coréia do Sul, toda Europa Ocidental, Eslováquia, República Checa, Grécia, Hungria, Polônia e Turquia. 19 • Aumento de barreiras não-tarifárias, em face da diminuição das barreiras tarifárias; • Preservação de tecnologias críticas, consideradas importantes para a soberania nacional; • Aumento do auxílio financeiro à atividades de P&D, às exportações e destinado ao desenvolvimento regional; • Políticas voltadas para blocos de desenvolvimento, que geralmente envolvem vários setores e atividades inter-relacionadas; • Investimento na capacitação e treinamento de recursos humanos; • Promoção de redes de todo tipo para fomentar a demanda e a oferta de tecnologia; • Estímulo à internacionalização das atividades das empresas nacionais. Os países menos desenvolvidos têm enfrentado desafios ainda mais sérios na adequação ao novo paradigma tecno-econômico. Muitos destes, seguindo os preceitos defendidos pelos países industrializados no consenso de Washington (abertura comercial, estabilização, desregulamentação e privatização), responderam ao novo paradigma econômico com a adoção de políticas liberais, diminuindo as barreiras nacionais e regionais, reduzindo o espaço de atuação do estado na esfera econômica e conferindo às forças de mercado a prerrogativa de coordenação do espaço econômico. Supunha-se, que tais medidas, aliadas a normas trabalhistas, ambientais e tributárias mais atrativas e flexíveis, contribuiriam para a atração de fluxos de investimento para tais países, que, por sua vez, possibilitaria a incorporação das novas tecnologias na economia nacional, impulsionando o processo de catch-up. Especificamente, no âmbito do Mercosul, tais medidas levaram a uma intensa competição entre os diversos estados nacionais, com expressivas conseqüências, tais como (Cassiolato & Lastres, 1999): • Diminuição dos gastos públicos, que não tem sido acompanhada por um aumento nos gastos privados. • Privatização parcial dos institutos tecnológicos públicos, diminuindo o financiamento à atividades de pesquisa. • Redução do custo de bens de capital importados, encorajando, portanto, o seu uso em detrimento das máquinas e equipamentos localmente produzidos. • Destruição de cadeias produtivas domésticas, que forneciam para as empresas estrangeiras máquinas, equipamentos e componentes. 20 • Reformulação das estratégias de “adaptação de tecnologia” e descontinuidade de programas tecnológicos locais por parte de empresas transnacionais, devido à possibilidade de estas operarem com base em partes e componentes importados; • Perda de grande parte dos esforços tecnológicos passados, devido à falta de políticas industriais; • Crescimento inexpressivo das empresas nacionais com alguma capacidade tecnológica; • Defasagem e obsolescência do capital tecnológico, assim como de parte importante da capacitação dos recursos humanos gerados e acumulados desde o período de substituição de importações. Como se verifica, a estratégia de abertura econômica com o favorecimento, a todo custo, da implantação de subsidiárias de empresas transnacionais nestes países, tende a tornar a esfera local um simples hospedeiro de investimentos, sem que haja nenhum tipo de benefícios para a esfera local, no que tange as suas necessidades e potencialidades, além de gerar um impacto negativo sobre o balanço de pagamentos, resultante da importação de máquinas e equipamentos, como também das remessas de lucros, royalties e dividendos. O relativo êxito dos países da OCDE na adaptação à nova fase do capitalismo mundial, se deve, em parte, ao esforço de administração do trade off existente entre o estímulo à geração de variedade e a administração do processo de seleção. Trata-se do balanceamento entre dois tipos de forças evolutivas, a “lamarckiana” do aprendizado, onde agentes movidos pela pressão competitiva passam a criar, imitar e incorporar novas tecnologias, e a “darwiniana” da seleção dos que melhor se adaptam ao ambiente em transformação7. Verifica-se no caso dos países do Mercosul uma escassez ou ausência de estímulos à geração de variedade e aprendizado (estimulo às forças evolutivas lamarckianas), direcionados aos agentes domésticos. Paralelamente, a excessiva exposição às forças seletivas acaba por gerar os diversos efeitos negativos listados acima. Segundo Coutinho (citado por Cassiolato & Lastres, 1999), “esse ‘excesso’ de seletividade darwiniana termina sendo contraproducente na medida em que inviabiliza o futuro de setores com potencial” (p. 790). Neste sentido, mostra-se necessária a proposição de políticas indústrias e tecnológicas, que venham reverter este quadro e potencializar a capacidade inovativa e competitiva dos países do Mercosul e, especificamente, do Brasil. Freeman (1999), ao analisar os esforços dos países em desenvolvimento no processo de catch-up, associados à abertura comercial, 7 Os termos lamarckiana e darwiniana fazem alusão a Lamarck e Darwin, que estudaram o processo evolutivo sob a ótica da evolução dos seres vivos. Segundo Lamarck, estes se modificavam devido ao seu esforço contínuo de melhor se adaptarem ao ambiente em transformação. Para Darwin, as mudanças ocorriam de mutações espontâneas e aquelas, melhor adaptadas ao ambiente em transformação, se estabeleciam, enquanto que as demais eram eliminadas. 21 privatização e atração de subsidiárias estrangeiras, aponta a importância dos investimentos em capacitação e P&D para uma estratégia bem sucedida: Nor will privatization necessarily generate management which is capable of introducing those technical and organisation innovations necessary for catch-up in the present world economy. This requires a fairly prolonged process of knowledge accumulation and sustained investment in R and D by the enterprises.(p.139). Dada as especificidades associadas à esfera local, no que tange a capacidade de aprendizado, de inovação e de produção, como discutido no item I.2, o desenho de uma política eficaz, passa, necessariamente, pela compreensão das características, potencialidades e necessidades específicas de cada setor produtivo e de cada região na qual este se insere. Diniz (1998), ao propor diretrizes para uma política industrial e tecnológica para o Brasil, sugere, que os programas adotados devem buscar um enraizamento local, considerando suas potencialidades naturais, sua base econômica e a experiência acumulada com a ação dos agentes locais. Assim, a base produtiva e institucional existente em cada esfera local condiciona o tipo de suporte necessário para o seu desenvolvimento. Isto se reflete diretamente na premência da promoção de arranjos produtivos de micro e pequenas empresas, uma vez que estas representam parcela expressiva dos agentes do setor privado e são responsáveis por mais de 50% dos empregos gerados no Brasil. Lastres (et al., 1999) acrescenta, que “em muitos casos [estas empresas] significam a possibilidade única (ou mais importante) de promoção do desenvolvimento econômico local.” (p. 66). 22 CAPÍTULO II - CARACTERIZAÇÃO DA INDÚSTRIA DE GEMAS Dado que o objetivo último desta monografia é a análise do arranjo produtivo de gemas de Teófilo Otoni, este capítulo pretende apresentar uma caracterização da produção de gemas em escala mundial e no Brasil. Desta maneira, torna-se possível uma análise comparativa da atividade no Brasil e no resto do mundo e, principalmente, do arranjo e destas demais esferas. O capítulo está organizado da seguinte maneira: em um primeiro momento são apresentadas algumas definições que se fazem necessárias para a compreensão do produto com qual trabalha a indústria de gemas. Posteriormente, aborda-se a produção de gemas em escala mundial e por último as características da produção no Brasil. II.1 Definições Os materiais gemológicos naturais são aqueles inteiramente formados pela natureza, sem interferência do homem. São de origem inorgânica: os minerais e as rochas; e orgânicas: os de origem animal ou vegetal. Quando estes, por suas características intrínsecas (cor, brilho, raridade, dureza e outros), são utilizados principalmente como adorno pessoal, estas são denominadas de Gemas Naturais (BRASIL 2001). Doravante, as gemas naturais serão denominadas neste trabalho simplesmente como gemas, para efeito de simplificação. Comumente, usa-se também o nome “pedra preciosa”, “pedra corada” ou “gemas de cor”, nos últimos dois casos referindo-se às demais gemas com exceção do diamante. A distinção entre “pedras preciosas” e “pedras semi-preciosas” atualmente caiu em desuso. Cabe ainda ressaltar as diversas aplicações práticas das gemas, como a dos diamantes industriais, ou estratégica, como a dos cristais de quartzo na radioeletrônica. Outro uso das pedras preciosas, principalmente dos rejeitos (minerais não adequados para a produção de gemas), está na extração de substâncias químicas como, por exemplo, o berílio extraído do mineral berilo. As gemas possuem definições e nomenclaturas indicadas em normas técnicas específicas nacionais – ABNT e internacionais – ISSO e CIBJO. A gama existente de gemas naturais é muito grande com mais de 300 variedades, porém apenas uma pequena parte delas, listadas no quadro 2.1, é de interesse comercial. Estas estão listadas pelo nome do mineral e suas variedades, que possuem a mesma fórmula química do mineral de referência. Algumas 23 gemas, que não possuem variações do mesmo mineral, são conhecidas pelo nome do próprio mineral, como, por exemplo, a Brasilianita. Em outros casos, existem variações do mesmo mineral e os nomes comumente utilizados pelo mercado são os destas variações, como é o caso da Água-marinha e a Esmeralda que são variedades do mineral Berilo. Quadro 2.1 - Gemas Naturais de interesse Comercial Mineral Variedades Mineral Nefrita - Jade (Actinolita e Nefrita) Almadina astérica - Labradorita - Ambligonita Berilo ⇒ - Malaquita - Berilo Verde Marcassita Esmeralda Microlínio - ⇒ Moldavito (rocha) - Morganita (Berilo róseo) Obsdiana (rocha) - Oligoclásio ⇒ Aventurina Águata com inclusões Olivina (Peridoto) Crisólita Cornalita Opala Crisoprásio Quartzo ⇒ ⇒ ⇒ Águata Pedra-do-Sol Crisoberilo Cristal-de-Rocha - ⇒ Ametista Citrino - Cordierita (Iolita) (diversas variedades) Aventurina Onix Cianita (Distênio) ⇒ Amazonita Heliodoro Jaspe Coríndon Espectrolita Lápis-Lazúli - ⇒ - ⇒ Água-marinha Brasilianita Calcedônia Variedades Morion Padparadscha (laranja rosa) Olho-de-tigre Rubi (vermelha) Prásio (quartzo verde) Rubi estrelado (ou astérico) Quartzo Astérico Safira Quartzo enfumaçado Safira estrelada (ou astérica) Quartzo róseo Alexandrita Quartzo com inclusões Olho-de-Gato Quartzo bicolor Crisocola - Diamante - Rodocrosita Diopsídio - Rodonita - Dravita (Turmalina) - Sodalita - Escapolita - Spessartita Esfênio (Titanita) - Topázio ⇒ Turmalina (Elbaíta) ⇒ Espessartita - Espinélio - Espodumênio ⇒ (ametista/citrino) - Topázio Imperial Topázio Azul Hiddenita Acroíta Indicolita (Indigolita) Kunzita Rubelita Euclásio - Turmalina Bicolor Granada - Turmalina Verde Grossulária Hematita ⇒ ⇒ Hessonita Turquesa Especularita Zircão Zoisita - ⇒ Tanzanita Fonte: Brasil, 2001 24 II.2 Panorama internacional II.2.1 Mercado internacional Os diversos tipos de gemas comercializadas têm seu valor determinado por diferentes fatores, como a sua raridade, sua beleza, a oferta e demanda do produto bruto, fatores subjetivos como a moda, além de características físicas, como a sua dureza, que influenciam na dificuldade e conseqüentemente no custo de seu tratamento. Quase a totalidade da produção mundial de gemas se destina ao setor de joalheria e bijuteria. O mercado de massa está pautado em pedras de médio e pequeno porte calibradas8, o que possibilita a montagem em série de um grande número de jóias e bijuterias idênticas (em média 10.000 por dia por empresa). O valor relativamente baixo do produto final e a sua grande quantidade permitem superar práticas tradicionalmente individualizadas de comercialização ao consumidor final, fazendo uso de meios de comunicação de massa. Destaca-se, neste sentido, o uso crescente de anúncios na televisão (com canais especializados na televisão por assinatura) e a venda virtual pela internet. O comércio internacional de gemas divide-se em três categorias: diamantes, demais gemas (também denominadas pedras coradas) e artefatos de adorno pessoal feitos com gemas, como jóias e bijuterias. Os diamantes e as pedras coradas podem ser comercializados em estado bruto ou lapidados. No mercado de diamantes, estima-se ter havido para o ano de 1994 um volume de transações de aproximadamente US$ 8 bilhões. Este mercado é bem organizado e controlado na origem pela De Beers Consolidated Mines, de origem inglesa, que atua na extração, na comercialização, na promoção de mercados e no apoio técnico a lojistas. A sua subsidiária, a Central Selling Organization, distribui os diamantes em bruto pelos grandes centros de lapidação do mundo. A comercialização dos diamantes lapidados ocorre, então, diretamente ou pelas bolsas de diamantes que estão reunidas na Federação Mundial de Bolsas de Diamantes, com destaque para a bolsa de Antuérpia. O Diamond Promotion Service, com filiais em diversos países, desenvolve diferentes atividades na promoção de mercados para diamantes e no apoio técnico aos lojistas do setor (IBGM, 1995). Os principais produtores de diamantes em bruto, responsáveis por 80% do volume mundial, são Botswana, Rússia, África do Sul, Angola, Namíbia, Austrália e Zaire. Na Tabela 2.1 figuram os principais produtores mundiais e sua participação percentual para o ano de 8 Grande número de pedras rigorosamente iguais em suas características físicas (cor, brilho, massa, volume, etc.) e no tipo de lapidação 25 2001. Entre os países com os principais centros lapidários figuram a Índia, Israel, Bélgica, EUA, Tailândia China e Singapura. A Índia processa dois terços do total mundial, contando com mais de um milhão de lapidários e é especializada em pedras pequenas. Israel e Bélgica são centros especializados no processamento mecanizado de pedras grandes. Já a Rússia e os países asiáticos tem apresentado crescente participação na exportação de diamantes lapidados, investindo em apoio técnico às empresas e em capacitação de mão de obra. Os maiores consumidores são os EUA e o Japão, tendo Israel como principal fornecedor. Tabela 2.1 - Produção Mundial de Diamantes no ano de 2001 País Austrália Congo Rússia África do Sul Botswana China Brasil Outros TOTAL Fonte: IBGM Quantidade em milhões Quilate 15,0 14,2 11,7 6,5 5,0 0,9 0,6 2,1 56 Participação sobre total em % 26,79 25,36 20,89 11,61 8,93 1,61 1,07 3,75 100 Com relação ao mercado das demais gemas, excluindo-se o diamante, existe uma tendência de se tratar a safira, o rubi e a esmeralda, mais tradicionais e valorizadas no mercado mundial, separadamente das outras gemas, que vêm ganhando, atualmente, maior projeção como pedras de médio ou baixo valor. O mercado de gemas apresentava em meados da década de 90 um volume anual de transações de US$ 1,5 bilhões (IBGM, 1995). Já a média anual das exportações mundiais nos anos de 2000 a 2002 apresenta a magnitude de US$ 1,8 bilhões, representando um crescimento de 20% de um período para outro. A tabela 2.2 apresenta a evolução das exportações e importações mundiais de 2000 a 2002. O crescimento negativo das transações neste período recente deve-se em maior grau ao cenário atual de baixo crescimento econômico, do que a uma retração do setor de gemas. Nestas condições, os bens que não são de primeira necessidade sofrem maior impacto negativo, o que não invalida a tendência de crescimento do mercado mundial de gemas a longo prazo. 26 Tabela 2.2 - Exportações e Importações mundiais no mercado de Gemas por subgrupos de produtos Exportações Mundiais em US$ milhões 2000 Pedras Preciosas em Bruto Rubis. Safiras e Esmeraldas Lapidadas Outras Pedras Preciosas Lapidadas Obras e Artefatos de Pedras Total 2001 2002 Média Var. % 02/01 Var. % 02/00 2000 a 2002 147,64 589,29 650,15 722,32 91,64 571,38 592,54 444,20 116,85 517,10 612,73 411,77 27,51 -9,50 3,41 -7,30 -20,86 -12,25 -5,75 -42,99 118,71 559,26 618,47 526,09 2.109,40 1.699,76 1.658,45 -2,43 -21,38 1.822,54 2000 2001 2002 Importações Mundiais em US$ milhões Média Var. % 02/01 Var. % 02/00 2000 a 2002 Pedras Preciosas em Bruto Rubis. Safiras e Esmeraldas Lapidadas Outras Pedras Preciosas Lapidadas Obras e Artefatos de Pedras 199,12 1.042,40 650,15 378,41 144,65 873,51 592,54 380,37 133,62 902,87 612,73 366,77 -7,63 3,36 3,41 -3,58 -32,89 -13,39 -5,75 -3,08 159,13 939,59 618,47 375,18 Total 2.270,08 1.991,07 2.015,99 1,25 -11,19 2.092,38 Fonte: IBGM As ocorrências de gemas se espalham por quase todo o mundo com forte concentração no Brasil, na África e na Ásia. As principais províncias gemológicas do mundo são: Brasil (responsável por cerca de 1/3 da produção mundial), ex-União Soviética, EUA, Índia, Birmânia, Sri Lanka, Malgaxe, Península da Indochina e Austrália (IBGM, 1995). Quanto aos principais centros de lapidação e/ou comercialização de gemas, ultimamente têm ocorrido grandes transformação no cenário mundial. Idar Oberstein, na Alemanha, que durante muitos anos foi um dos principais centros de lapidação e grande promotora das gemas no mercado mundial, praticamente encerrou suas atividades de processamento de pedras, mas permanece como importante centro de comercialização. Israel entrou na última década na atividade de lapidação de gemas, se especializando em gemas de maior valor agregado. Atualmente, os países asiáticos vêm se destacando no beneficiamento e na comercialização de gemas com a entrada, na última década, de países como Coréia do Sul, Singapura, Taiwan e China na atividade de lapidação em grande escala e com o fortalecimento de países como Índia (principal centro de lapidação tanto de diamantes como também das demais gemas), Hong-Kong e Tailândia. Os dois últimos vêm se destacando como grandes centros de comercialização, com a criação de centros comerciais especializados em gemas e promovendo feiras internacionais. Estes países do sudeste asiático figuram como principais exportadores de pedras lapidadas, principalmente as calibradas, que atendem ao mercado de massa. 27 Quanto ao consumo de gemas, os Estados Unidos e o Japão absorvem mais de 50% da produção de gemas. Suas importações de “outras pedras preciosas” em 2000 foram respectivamente de US$ 670milhões e US$ 177 milhões. Ressalta-se que a participação do Japão tem caindo significativamente nos últimos anos. Na Europa, os principais países importadores, no ano de 2000, foram: a Suíça (US$ 177 milhões), a França (US$ 110 milhões), a Itália (US$ 61 milhões), a Alemanha (US$ 51 milhões) e o Reino Unido (US$ 48 milhões)9. As principais regiões produtoras, os principais centros de lapidação e os principais consumidores de gemas se encontram esquematicamente resumidos no quadro 2.2. Quadro 2.2 – Principais Produtores, Centros de Lapidação e Consumidores mundiais Grupo Diamantes Produtores Botswana, Rússia, Angola, África do Sul, Namíbia, Austrália e Zaire Demais Gemas África, Ásia e Brasil Centros de Lapidação Consumidores Índia, Israel, Bélgica, EUA, EUA e Japão Tailândia, China e Singapura Alemanha, Israel, Tailândia, Índia, Korea, Singapura, Taiwan, China e Brasil EUA e Japão com mais de 50%, Suíça, França, Itália, Alemanha, Reino Unido e Espanha Fonte: IBGM, 1995 II.2.2 Processos produtivos e regimes tecnológicos Este item busca discutir de forma ampla e genérica os processos produtivos e regimes tecnológicos empregados ao longo da cadeia produtiva de gemas em todo o mundo. Esta se caracteriza, principalmente na fase de pesquisa e extração, pelo emprego de técnicas e equipamentos consagrados e de baixa incorporação tecnológica. Embora a literatura a respeito deste tema se mostre muito escassa, busca-se destacar, ao longo deste item, as especificidades que se apresentam em diversos países, no que diz respeito aos processos produtivos e às máquinas e equipamentos empregados ao longo da cadeia produtiva de gemas e principalmente na fase de beneficiamento. II.2.2.1 Pesquisa e extração As gemas são originadas nos pegmatitos e podem ser encontradas “in locu”, ou seja, dentro do corpo pegmatítico ou em colúvio, elúvio e alúvio10. Para cada tipo de ocorrência são 9 Dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Gemas e Metais Preciosos – IBGM Corpo Pegmatítico: Rocha de granulação grosseira portadora de gemas e minerais industriais Elúvio: Sedimento produto da desagregação “in sito” de rochas Colúvio: Desagregação, transporte natural e redeposição de detritos rochosos Alúvio: Sedimentos transportados por rios e depositados nos seus leitos 10 28 empregados métodos diferentes de estudo na fase de pesquisa de campo e de extração. De forma ampla, a fase de estudo se inicia com a identificação de uma área de exploração em potencial, fazendo uso de exames da documentação geológica, para a identificação de ocorrências de corpos pegmatíticos. Para se passar à pesquisa de campo, a entidade interessada tem que obter junto ao órgão responsável (no caso brasileiro o DNPM, Departamento Nacional da Produção Mineral) o alvará de pesquisa e garantir, junto aos demais órgãos locais envolvidos, o acesso à área. A pesquisa de gemas nos pegmatitos é difícil de ser realizada, e não conta com métodos consagrados. Porém, de acordo com diferentes referências, que fazem alusão a trabalhos de pesquisa específicos, pode-se traçar as etapas básicas de tal trabalho. O estudo se divide em duas partes. Na primeira parte mapea-se a área a ser pesquisada em escala aproximada de 1:15.000 cadastrando-se os corpos pegmatíticos, através da observação de evidências de superfície. Em seguida são abertas galerias, trincheiras ou cachimbos perpendiculares ao eixo maior dos pegmatitos, com dimensões de 0,80 cm de largura por 1,80 cm de altura e são abertos poços de cerca de 20 m de profundidade e dimensões de 1m x 1m. Após determinar-se a área de maior interesse, realiza-se o mapeamento topográfico, com eqüidistância de 10m nas curvas de nível, e geológico em escala 1:500. Todas as galerias são, então, descritas e perfiladas na escala 1:50. A pesquisa no colúvio, elúvio e alúvio, de menor complexidade, conta com técnicas há muito consolidadas. Após a identificação de áreas mais promissoras se segue um mapeamento geológico da área e a abertura de poços buscando a exposição de uma área de aproximadamente 50 a 100 m2 do embasamento. O cascalho contido nos poços é peneirado e concentrado em “Jigs” para a averiguação de alguns quesitos, quais sejam (Oliveira, 1988): • Espessura do capeamento • Espessura do Cascalho • Concentração das gemas no cascalho • Curva Granulométrica do cascalho • Avaliação das gemas recuperadas • Ângulo de repouso do material desmontado • Volume de água de infiltração • Curva granulométrica do capeamento Caso seja comprovada a existência de gemas em quantidade que viabilize economicamente a exploração, passa-se para uma segunda fase sistemática de detalhamento 29 que consiste na abertura de poços em cada vértice e um no centro da área pesquisada, com disposição em linhas perpendiculares ao plano horizontal do rio ou em malhas (Oliveira, 1988). Desta forma, são realizados os estudos citados anteriormente de forma mais detalhada, além de trabalhos de correlação entre os poços através de cortes geológicos nas linhas de escavação e nas malhas. Quanto aos diamantes, 80% são encontrados nos corpos rochosos denominados kimberlitos11, mas também ocorrem em colúvios, elúvios e alúvios. Existem técnicas consagradas que permitem identificar em um prazo de 5 a 10 anos a quantidade e qualidade do diamante contido no kimberlito e determinar a viabilidade econômica de sua exploração. O procedimento é semelhante à pesquisa de petróleo, com perfurações no kimberlito e a posterior analise de o que é extraído no vazio das brocas. A pesquisa em um kimberlito custa em torno de US$ 2 milhões e a maior parte do diamante encontrado, cerca de 95%, é de baixa qualidade, não servindo para a produção de gemas. Porém, no caso do diamante, todas as pedras são aproveitadas na indústria para a produção de brocas, serras e pó de diamante, etc (Walter Leite, diretor do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos – IBGM, comunicação pessoal, 20 de julho de 2003). Quanto à extração das gemas, o processo empregado varia de acordo com os dos tipos básicos de depósitos das gemas: no corpo pegmatítico e em depósitos secundários, como aluviões. No primeiro caso, a exploração se dá através de túneis subterrâneos ou poços que podem posteriormente ser continuados com galerias subterrâneas. No caso de o pegmatito estar muito próximo a superfície e em condições topográficas adequadas, podem ser abertos cortes expondo todo o corpo mineral. Comumente são utilizadas ferramentas manuais e, dada a necessidade, explosivos para a abertura de túneis e galerias. No caso de aluviões, o material mineralizado forma em associação com seixos grosseiros uma camada de espessura normalmente inferior a um metro e está soterrado a profundidade de quatro a cinco metros. Esta cama gemífera normalmente recobre a camada impermeável denominada “bedrock” e se encontra coberta por camadas de sedimentos mais finos. A exploração se dá através de catas abertas no antigo leito do rio em escavações com dimensões de 3 x 4 m ou 3 x 3 m e profundidade que varia de acordo com a ocorrência. Devido ao fato de a camada gemífera repousar sobre o "bedrock", há constante infiltração de água que pode gerar desmoronamentos. Assim é necessário o uso de escoras de madeira revestindo a cata e a água precisa ser constantemente esgotada com o uso de uma bomba. Nos dois tipos de ocorrência, a separação das gemas dos demais minerais se dá de forma artesanal e minuciosa. No caso dos corpos rochosos com o uso de ferramentas de mão, 11 Rocha intrusiva de composição ultrabásica e brechada 30 como picaretas, e no caso dos aluviões com o uso da bateia, que possibilita a separação dos minerais mais leves dos mais pesados, como as gemas. II.2.2.2 Beneficiamento O tipo de beneficiamento aplicado às pedras preciosas depende do segmento no qual serão aproveitadas. As pedras preciosas de melhor qualidade geralmente se destinam à indústria de lapidação e posteriormente a joalheria. Pedras de qualidade inferior (apresentando “defeitos”, como inclusões, má formação cristalográfica, etc.) podem, por um lado, ser aproveitadas no setor de artesanato mineral ou de bijuteria ou, por outro lado, serem utilizadas para diversas aplicações industriais, tais como química, cerâmica, vidro, corretivo de solo, construção civil e ornamentação. Como o presente trabalho foca a especialização produtiva na atividade de lapidação no município de Teófilo Otoni, este processo será aprofundado. A lapidação de uma gema é um processo no qual a pedra bruta é facetada, obedecendo a padrões estabelecidos quanto à simetria e ao ângulo das diferentes facetas, buscando o melhor grau de refração e reflexão da luz (GEA, 1995). Não existe tamanho ou forma de lapidação padronizada para todas as gemas, embora para cada tipo de gema, por convenção ou por causa da estrutura cristalográfica, existam padrões de lapidação. De forma geral esta pode ser calibrada ou solta. No primeiro caso o processo é mecanizado e utilizam-se pedras pequenas de menor valor para a produção em larga escala. No segundo caso, trata-se de um processo basicamente artesanal no qual se busca retirar o maior proveito das pedras, comumente de maior valor. A lapidação de uma gema é precedida de alguns estudos minuciosos que proporcionarão um melhor aproveitamento da gema na lapidação, buscando determinar as propriedades físicas, como a clivagem, dureza, etc. e óticas, como o pleocroísmo, índice de refração e birrefringência que possibilitam um melhor posicionamento da mesa (maior faceta da pedra lapidada) e da abertura ótica dos ângulos das facetas (Oliveira, 1988). Outros estudos, como o de inclusões não removíveis e de irregularidades na distribuição da cor da pedra, contribuem para que se obtenha o melhor resultado da lapidação. As principais fases da lapidação de uma gema podem ser resumidas da seguinte forma (IBGM, 1991; Minas Gerais, 1981): 1. Corte: A gema é serrada em pontos susceptíveis de lapidação 2. Dimensionamento: São traçados os contornos aproximados do formato desejado 3. Esboço: A gema sofre desgastes através de esmerilamento, recebendo aproximadamente o tamanho e a forma definitiva (oval, retangular, gota, etc.) 31 4. Facetamento (Corte): A gema é desgastada até a formação final das facetas, tendo em vista a maximização do brilho da pedra 5. Lixamento: As facetas são lixadas com granulometria cada vez mais fina, para se obter êxito na última fase 6. Polimento: Dá o brilho final da pedra, utilizando-se pó de trípoli, de óxido de alumínio, de óxido de cromo e de diamante de finíssima granulação Na fronteira tecnológica do setor lapidário verifica-se o uso de máquinas automatizadas voltadas a produção em grande escala de pedras calibradas (até 2.000 gemas por homem/dia). Verifica-se em diversos países do sudeste asiático a substituição das bancas de lapidação e de facetadores semi-automáticos (sistema de catraca) por rolos diamantados de 60 cm, que permitem a introdução de 18 a 20 pentes, lapidando as gemas afixadas a estes de forma simultânea e idêntica. Israel se destaca na lapidação de gemas de alto valor agregado. O emprego de tecnologias informatizadas, que permitem a visualização prévia do resultado da lapidação e seu planejamento, possibilita um melhor aproveitamento das gemas. Este processo, aliado a equipamentos de corte a raio laser permite uma significativa redução das perdas na lapidação, o que no caso de gemas de alto valor se mostra decisivo. Além da lapidação, as gemas também podem sofrer outros tipos de processamento, basicamente físico-químicos, que podem ser de realce ou de tratamento para valorizar a transparência e a cor e/ou para a retirada e preenchimento de inclusões. Dentre estes, destacam-se o processo de preenchimento de inclusões com vidro, o processo de aquecimento para realçar cor e transparência e técnicas de irradiação para a modificação de cor e tonalidade (bombardeamento com átomos de diferentes elementos, que variam de acordo com o resultado esperado). A international Colored Gemstones Association – ICA determina que conste no certificado da gema a descrição completa dos diferentes processamentos efetuados ou as letras de codificação do quadro N.E.T, resumidos no quadro 2.3. 32 Quadro 2.3 – Quadro N.E.T de Gemas Técnica Não Tratada (N) Realçada (E) Tratada (T) Transparência Detalhamento Por Aquecimento Resina ou Óleo Incolor Por Aquecimento Revestimento Difusão Tingimento Óleo de Joban Preenchimento de cavidades com Vidro Irradiação Por Laser Fonte DNPM, 2001 A avaliação da qualidade das pedras lapidadas segue quatro itens básicos, os quatro C´s em inglês: peso (carat); cor (color); transparência (clarity); lapidação (cut). No caso de pedras calibradas, outros aspectos se tornam relevantes, como uma rigorosa classificação de peso, formato e tamanho. Para estas o padrão de tolerância internacional é de cerca de 0,1 mm (IBGM, 1991). II.3. Panorama nacional II.3.1 Origem e panorama do mercado nacional Desde sua descoberta, o Brasil tem sua história marcada pela busca por suas riquezas naturais. A partir do século XVIII, com a ação dos Bandeirantes, foram abertas as trilhas das pedras preciosas para o interior do país e o estado de Minas Gerais recebeu seu nome dos exploradores que buscavam suas riquezas minerais. Por mais de um século – de 1725 a 1866 o Brasil figurou como o maior produtor mundial de diamantes, superando a Índia cujas reservas há tempos já vinham sendo exploradas, enquanto que a grande variedade das demais gemas despertava pouco interesse do mercado até meados do século XX. Além disto, até os anos quarenta, todas as gemas brasileiras eram exportadas em estado bruto e o mercado doméstico era abastecido com a importação de pedras sintéticas e imitações de safiras e rubis. A segunda guerra mundial marca uma reviravolta do setor de gemas no Brasil. Substâncias até então desprezadas passaram a ser de grande interesse, como o cristal de rocha utilizado por suas características piezoelétricas em equipamentos eletrônicos como sonares e no controle de aviões por alta freqüência. A caça aos minerais industriais e estratégicos trouxe 33 em sua esteira um decisivo impulso para a descoberta e a exploração das pedras preciosas no país. Sauer (1982) descreve que as primeiras oficinas de lapidação de gemas surgiram no Brasil apenas por volta de 1941 e sofriam com a total falta de mão de obra qualificada. Na década de 50 o mercado brasileiro ganha forte impulso com o desenvolvimento de uma nova forma de lapidação, que fugia do padrão europeu. As pedras passaram a ser lapidadas em formas livres, em vez de serem fracionadas em dimensões calibradas, o que se mostrou mais bem adaptado às dimensões incomuns das gemas brasileiras. Paralelamente, observa-se o desenvolvimento das oficinas de ourivesaria se especializando na montagem de gemas em jóias. O fortalecimento da atividade de lapidação deu nova força para a atividade extrativa e atraiu grande número de garimpeiros para as regiões ricas em gemas. A descoberta da esmeralda com valor comercial, em 1963, consolidou a posição do Brasil como mais importante produtor mundial de gemas e esta chegou a representar nas décadas seguintes mais de 50% da receita do setor. Atualmente, a extração de gemas se dá em grande parte do território nacional com destaque para Rio Grande do Sul, Goiás, Espírito Santo, Bahia e vários estados do nordeste brasileiro e Minas Gerais, onde se situa a maior parte da Província Pegmatítica Oriental, uma das maiores províncias gemíferas do mundo. A indústria joalheira se encontra integrada desde a extração até o varejo envolvendo um amplo espectro de atividades: mineração, artesanato mineral, lapidação, joalheria, comercialização e exportação. Em meados dos anos 90 mais de 22.000 estabelecimentos comerciais, 2000 indústrias de lapidação e 5000 indústrias de jóias e bijuterias cadastrados e meio milhão de pessoas viviam diretamente ou indiretamente em função das pedras preciosas: 400.000 em garimpos; 50.000 em oficinas de lapidação, de joalheria e de bijuteria e 50.000 no comércio (IBGM, 1995). Nos anexos I e II, são apresentadas as ocorrências de gemas, como também as indústrias de Lapidação, Fabricação de Artefatos de Ourivesaria e Joalheria no território nacional. Existe uma grande dificuldade de se mensurar a produção de gemas, dado que esta é feita em grande parte por garimpeiros, pessoas com baixo nível de instrução em locais de reduzida infraestrutura e de difícil acesso, aliada à complexidade fiscal e alta carga tributária na origem, além do contrabando. No entanto, baseado em diversas fontes, o Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos - IBGM estima que, excluindo o diamante, o rubi e a safira, a produção de gemas brasileiras seja responsável por 1/3 da produção mundial. As estatísticas da produção e comercialização de gemas no Brasil, divulgadas pelo Departamento Nacional da Produção Mineral – DNPM no Anuário Mineral, são bastante incompletas e apresentam, com exceção do diamante, somente valores para a parcela beneficiada. Porém, 34 segundo representantes do setor de gemas no Brasil, grande parte do que é registrado como produção brasileira de diamantes tem sua real origem no exterior, especialmente em países africanos. Estes diamantes entram sem nenhum registro formal no país, são beneficiadas e posteriormente exportadas como produto nacional, o que torna as estatísticas referentes à produção e ao comércio externo de diamantes igualmente imprecisas. Os dados do Anuário Mineral Brasileiro, referentes ao ano de 2000, revelam, que o valor da produção de gemas e diamantes era de US$ 108 milhões, representando, com este montante, uma participação de 0,58% no total da PMB (produção mineral brasileira). A quantidade de diamantes produzida em bruto, expressa em metros cúbicos, é de 5,4 milhões e o montante beneficiado é de 23.000 quilates. Como abordado acima, no caso das demais gemas, há somente estatísticas de produção para a parcela beneficiada, que em 2000 indicam um volume de 17.567 toneladas. Houve uma redução de 50% no valor do total de gemas produzidas de 1990 a 2000. Isto se deve ao decréscimo de 99% da produção de diamantes, cuja participação no total produzido em 1990 era de 79% e em 2000 não passou de 1%. A produção das demais gemas obteve, ao contrário dos diamantes, um crescimento de 79% ao longo do período, representando 99% do valor total de gemas produzidas no ano de 2000, como demonstra a tabela 2.3. Este fato, aliado à crescente procura por gemas de médio e baixo valor no mercado mundial, indica a exploração das demais gemas como a opção mais promissora para o setor de gemas no Brasil. Tabela 2.3 – Produção Nacional de Gemas e Diamantes Valor produção em 1000 US$ Diamante 1990 157.298 1991 89.732 1992 119.438 1993 111.044 1994 37.484 1995 83.250 1996 24.155 1997 11.373 1998 9.801 1999 1.458 2000 1.594 Gemas1 59.587 47.945 11.873 17.340 20.777 24.376 27.205 30.585 62.695 87.178 106.830 Evolução 2000/90 -98,99 79,28 Fonte: DNPM (1) Dados referentes somente à parcela beneficiada Total 216.885 137.677 131.311 128.384 58.261 107.626 51.360 41.958 72.496 88.636 108.424 Diamantes/total 73% 65% 91% 86% 64% 77% 47% 27% 14% 2% 1% Gemas/total 27% 35% 9% 14% 36% 23% 53% 73% 86% 98% 99% -50,01 As exportações brasileiras oficiais do setor de gemas para os anos de 2000 a 2002 apresentaram um volume médio de US$ 112 milhões com um crescimento de 9,31% ao longo 35 do período, como se verifica na tabela 2.4. As exportações de diamante responderam em média por 15% deste total, enquanto as demais gemas, em seu estado bruto ou lapidadas, representaram a maior parte das exportações com 75,79% do total. Por outro lado, dividindo os produtos entre beneficiados e não-beneficiados, é notório verificar que a maior parte das gemas exportadas no mercado formal no período de 2000 a 2002 é beneficiada (lapidada ou na forma de artefatos de pedras) constituindo, em média, 66,38% do total exportado. Tabela 2.4 – Exportação e Importações Brasileira do Cap. 71 da NCM1 - em US$ mil 2000 Export. Import. 6.254 nd 5,56 29.993 5.558 26,68 82,52 4.645 nd 4,13 21.993 166 19,57 2,47 39.805 245 35,41 3,64 9.715 766 8,64 11,38 112.406 6.735 100 100 Diamantes em Bruto Participação em % Demais Gemas em Bruto Participação em % Diamantes Lapidados Participação em % Rubis. Safiras e Esmeraldas Lapidadas Participação em % Outras Gemas Lapidadas Participação em % Obras e Artefatos de Pedras Participação em % Total Participação em % Fonte: IBGM (1): Nomenclatura Comum do Mercosul Não Inclui vendas a não residentes no País (antigo DEE) Inclui produtos do Capítulo 28 da NCM 2001 Export. Import. 8.466 nd 8,31 25.646 5.190 25,17 83,28 2.180 nd 2,14 23.513 182 23,08 2,92 31.901 346 31,31 5,57 10.189 513 10,00 8,23 101.896 6.232 100 100 2002 Export. Import. 12.910 nd 10,51 30.271 833 24,64 47,75 17.589 nd 14,31 18.548 73 15,10 4,24 32.487 349 26,44 20,02 11.067 488 9,01 27,99 122.873 1.744 100 100 A participação do Brasil no comércio internacional de gemas é muito restrita, diante de seu grande potencial expresso pelo volume da produção e de reservas com potencial econômico. Isto pode ser verificado no estudo do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM, 1995) segundo o qual, o montante das transações anuais do mercado internacional, incluindo artefatos de metais preciosos, é estimado em US$ 15,5 bilhões, sendo US$ 8,0 bilhões de diamantes, US$ 1,5 bilhão das demais gemas, US$ 5,0 bilhões de Jóias e US$ 1,0 bilhão de Bijuterias. A participação do Brasil neste mercado se restringia em 1994 a US$ 150 milhões, ou seja, apenas 1% do mercado mundial. Analisando isoladamente o comércio mundial de gemas, não considerando Jóias e Bijuterias e o diamante, verifica-se que este percentual se mostra um pouco mais favorável. Comparando os US$ 1.658,45 milhões das exportações mundiais para no ano de 2002 com os US$ 60,24 milhões das exportações 36 brasileiras para o mesmo ano, nota-se uma participação do Brasil no mercado mundial correspondente a 3,63%. Embora haja um grande número de empresas exportadoras, uma grande parte das vendas é efetuada diretamente aos importadores nas zonas de produção ou de comercialização local (classificada como vendas à não residentes). Para que estas vendas figurem como exportações, existem vários enclaves burocráticos como a necessidade de emissão de guia de exportação e avaliação da mercadoria pelo DECEX (Departamento de Operações de Comércio Exterior) e pela Receita Federal. A isto se soma uma alta carga tributária, fazendo com que uma grande parte das gemas brasileiras sejam vendidas e saiam do país de forma clandestina. Estimava-se que cerca de US$ 200 milhões em gemas, na quase totalidade em bruto, saiam anualmente de forma irregular do país, o que representa um volume maior ao das exportações oficiais (IBGM, 1991). II.3.2 Processos produtivos e regimes tecnológicos A produção de gemas no Brasil é caracterizada pela preponderância de micro e pequenas empresas de cunho familiar e gestão tradicional, apresentando, em média, uma defasagem tecnológica nos processos produtivos, nas máquinas e equipamentos, como também nos métodos de gestão12. A estrutura de apoio técnico e científico, muito fragmentada e incompleta, encontra-se situada nos grandes centros urbanos e, portanto, relativamente distantes dos centros produtivos, reduzindo a capacidade das empresas de aferirem maior competitividade no mercado externo (no caso do arranjo em estudo, as principais referências se encontram em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo). Exemplo disto é a inexistência de centros de pesquisa especializados e de serviços de extensão tecnológica. Algumas entidades possuem pessoal qualificado na área de gemologia, como o Instituo Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos – IBGM, e prestam esporadicamente às empresas serviços tecnológicos, apoio laboratorial e de treinamento. Em contraponto, existe uma considerável estrutura científica como centros gemológicos em universidades (UFOP, UFRJ, UFMG, UFPA, UFRGS, etc), entidades de classe (AJOMIG, AJORIO, PROGEMAS, AJORSUL, IBGM, etc), órgãos governamentais (CPRM, DNPM, CEF, CETEM, METAGO, etc) e laboratórios particulares que prestam serviços na obtenção de certificados de autenticidade de gemas. 12 A análise dos processos produtivos e regimes tecnológicos está fundamentada no estudo de Hécliton Henriques (IBGM, 1991), que, apesar de uma relativa defasagem temporal, apresenta os traços, em maior parte, ainda vigentes nos dias de hoje, como foi confirmado em entrevistas com representantes do setor. 37 A inexistência de uma consultoria especializada para o setor faz com que empresas contratem especialistas internacionais, buscando se adaptarem ao mercado externo pelo incremento de produtividade e de qualidade de seus produtos. Esta prática se mostra muito onerosa e insipiente para o desenvolvimento do setor como um todo. Os métodos de extração empregados correspondem ao descrito no item II.2.2.1, porém em sua maior parte estes não são respaldados em nenhum tipo de pesquisa prévia. A busca por ocorrências ocorre de forma aleatória e é realizada principalmente por garimpeiros que contam apenas com algum conhecimento prático da geologia e da formação das rochas. Quanto ao processo de lapidação, o Brasil se destaca pela lapidação de pedras isoladas, adequadas à montagem em jóias individualizadas. Por outro lado, a produção de pedras calibradas, destinadas ao mercado de massa, é muito pequena e, geralmente, de baixa qualidade. No caso da lapidação de pedras isoladas e, comumente, de maior volume e valor, o processo se dá de forma semi-artesanal. Neste caso as máquinas e os equipamentos empregados são relativamente competitivos e comparáveis com os utilizados internacionalmente, uma vez que se trata de uma atividade basicamente artesanal. O ponto de estrangulamento, neste caso, se encontra na qualidade e/ou no custo de insumos e componentes, como serras, diamantes e pós de polimento, que precisam ser importados. Para a lapidação de pedras calibradas, usualmente de menor volume (inferior a 3 a 4 mm), é empregado um processo semi-automatizado ou automatizado. Neste caso, observamos uma grande defasagem tecnológica em relação ao exterior, onde são utilizados, por exemplo, equipamentos computadorizados a raio laser. Por outro lado, cabe ressaltar a produção doméstica de facetador (sistema de catraca) e polimento semi-automático de razoável qualidade. A produção de máquinas para o setor de gemas é muito insipiente, principalmente devido a problemas de escala, fazendo com que muitas lapidações fabriquem ou montem suas próprias máquinas (IBGM, 1991). O quadro 2.6 apresenta uma relação das principais máquinas e equipamentos utilizados, a existência de produção doméstica e, caso sejam produzidos no país, sua qualidade para o ano de 1991. Segundo representantes do setor, a produção doméstica de máquinas e equipamentos não tem se atualizado ao longo da última década e tampouco introduzidos novos produtos. Além disto, o número de empresas focadas nesta atividade tem caído constantemente, sugerindo que a indústria nacional de máquinas e equipamentos para o setor lapidário se encontre, hoje, ainda menos qualificada para atender as necessidades do setor, do que sugere o quadro 2.6. 38 Quadro 2.6 – Produção doméstica das principais máquinas e equipamentos para a lapidação Discriminação Bancada para corte com serra diamantada Bancada para esmerilamento, com rebolo de esmeril Bancada para lapidação/facetamento Bancada para polimento Facetador semi-automático (sistema de catraca) Máquina para formar e calibrar cabochão e chapas Máquina mecânica para lapidar diamantes Máquina hidráulica ou eletrônica para lapidar diamantes Tornos de precisão para diamantes (manuais e automáticos) Carretas e suportes partes, peças e acessórios para máquinas de rondir diamantes Produção doméstica Qualidade Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Não Não Sim Não boa boa boa boa regular regular ruim regular - Fonte: IBGM, 1991 Os métodos de gestão empregados no setor de lapidação são um reflexo das características das empresas, tradicionalmente de pequeno porte e de cunho familiar. Muitas vezes, recaem sobre o proprietário ou sobre poucas pessoas todas as atribuições administrativas e técnicas. O grau de profissionalização é reduzido e o de concentração das decisões é muito elevado. Isto se deve ao tamanho das firmas e às características do produto com qual se trabalha, pois a compra de pedras brutas, dado os altos valores envolvidos e o grau de especialização necessário, pode muitas vezes ser decisiva para o sucesso das empresas. No setor estão sendo empregados, salvo algumas exceções, métodos de controle de qualidade tradicionais, focando apenas o processo produtivo através do controle pela inspeção e a sucessiva correção de eventuais erros. Sistemas de gestão modernos, focando a competitividade e o atendimento das necessidades do mercado, são pouco empregados. O fluxograma no quadro 2.5 apresenta o processo de lapidação e as fases nas quais normalmente se fazem os controles de qualidade, de acordo com os métodos de gestão tradicionais. 39 Quadro 2.5 - Fluxograma da Produção de Gemas Lapidadas de acordo com métodos de controle de qualidade tradicionais Classificação do Bruto -EstudoMarcação para corte Determinação do formato p/ Lapidação Controle de Qualidade ← → Formação no Rebolo Controle de Qualidade ← → Corte ou Lapidação ↓↑ Lavagem e Controle de Qualidade Polimento Clivagem (só para Diamantes) Calibragem ↓↑ Controle de Qualidade ← Avaliação Pesagem e Determinação de Custos → classificação em lotes Pesagem Final e Embalagem Fonte: IBGM, 1991 Verifica-se nos países que têm se destacado na atividade de beneficiamento de gemas a crescente incorporação de máquinas e equipamentos com um grau cada vez maior de automação e informatização. Contrastando com este cenário, a atividade de beneficiamento no Brasil conta com técnicas produtivas tecnologicamente ultrapassadas e majoritariamente artesanais. Não se verifica no Brasil um esforço significativo de adaptação à evolução tecnológica, nem pela incorporação de máquinas e equipamentos estrangeiros, tampouco pela produção interna destes. Como reflexo, observa-se uma tendência decrescente da participação brasileira no mercado mundial de gemas. A crescente valorização no mercado internacional das gemas de médio e baixo valor, abundantes no subsolo brasileiro, não tem sido capaz de impulsionar a produção doméstica e tampouco de aumentar a participação brasileira no mercado mundial. Pelo contrário. O maior interesse por estas gemas tem fomentado a saída irregular de um volume crescentes de gemas em bruto, alimentando a indústria de beneficiamento de outros países. Em suma, o Brasil vem perdendo gradativamente seu potencial competitivo e sua participação no mercado mundial de gemas, além de comprometer seriamente seu futuro, com a exploração predatória de recursos não renováveis. 40 CAPÍTULO III - CARACTERIZAÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL III.1 Informações gerais III.1.1 A região O Município de Teófilo Otoni situa-se no nordeste do estado de Minas Gerais, inserido na macrorregião Jequitinhonha/Mucuri, mesorregião Vale do Mucuri e microrregião de mesmo nome do município. A macrorregião de Jequitinhonha/Mucuri engloba 74 municípios agregados em 7 microrregiões: Diamantina, Capelinha, Araçuaí, Pedra Azul, Almenara, Teófilo Otoni e Nanuque. A região possui uma área total de 70,6 mil Km2 e população de aproximadamente 1,04 milhões de habitantes, apresentando, assim, uma densidade demográfica de 14,7 hab/ Km2 (Brasil, 1998). A microrregião de Teófilo Otoni engloba os municípios de Ataléia, Catuji, Franciscópolis, Frei Gaspar, Itaipé, Ladainha, Malacacheta, Novo Oriente de Minas, Ouro Verde de Minas, Pavão, Poté, Setubinha e Teófilo Otoni. Estes municípios somam uma área de 11.260,28 Km2 com aproximadamente 257.911 habitantes. A região do Jequitinhonha / Mucuri destaca-se pela produção e exportação de “pedras preciosas e semipreciosas”, pela grande expressão de sua pecuária de corte e por sua policultura (Brasil, 1998). A importância do setor de gemas para a região é evidenciada no estudo setorial realizado pela associação dos Comerciantes e exportadores de gemas e jóias do Brasil (GEA, 1995), de acordo com o qual, aproximadamente 45% da população da região nordeste de Minas Gerais depende quase que exclusivamente do setor de gemas. A atividade de extração, predominantemente garimpeira, se encontra dispersa por toda a região nordeste e leste de Minas Gerais, onde está localizada a província pegmatítica oriental. O anexo III apresenta os municípios da região leste e nordeste de Minas Gerais, produtores de gemas, por número de garimpos e substâncias produzidas. A atividade de beneficiamento, focada principalmente na lapidação, se concentra em alguns municípios da região, tais como Teófilo Otoni, Governador Valadares, Diamantina, Coronel Fabriciano, Araçuaí e Ipatinga. O anexo VI apresenta o número de empresas e trabalhadores e o índice de especialização produtiva destes municípios. A pecuária sempre figurou como uma importante atividade subsidiária à exploração mineral na região, contribuindo para a ocupação desta. Essa atividade caracteriza-se por uma 41 exploração extensiva baseada em grandes propriedades, pela baixa incorporação de tecnologias, por baixos níveis de produtividade e pelo predomínio da cria e recria de gado para corte. A policultura é baseada nos cultivos de mamão, maracujá, banana, cacau, café, laranja, tomate, milho, mandioca, feijão, cana de açúcar, arroz e abacaxi e se caracteriza pelo emprego de técnicas rudimentares de produção de pouca produtividade. A isto se somam um potencial hídrico superficial limitado e um solo impróprio para a agricultura, carecendo de manejo e correções especiais (Brasil, 1998). Estes fatores contribuem para que a região figure entre uma das mais pobres do país e como a mais pobre do estado de Minas Gerais, com um PIB para o ano de 1999 de R$ 1,695 bilhões. Paradoxalmente, esta população reside sobre um dos subsolos mais ricos do país, senão do mundo. O PIB per cápita de R$ 1742,86 representava neste ano 36% da média estadual, situada na faixa de R$ 4841,77, como se verifica na tabela 3.1. Já a microrregião de Teófilo Otoni, com um PIB de R$ 563,88 milhões para o ano de 2000 e população de 260 mil habitantes, apresenta para este ano um PIB per cápita de R$ 2166,64, representando 45% da média estadual. Um valor consideravelmente superior ao da macrorregião do Vale do Jequitinhonha/Mucuri. Tabela 3.1 - PIB e PIB per cápita - Minas Gerais e suas Macrorregiões PIB - 1999 Percentual (R$ bilhões) Minas Gerais Central Zona da Mata Sul de Minas Triangulo Mineiro Noroeste Norte Centro-Oeste População 86,505 100% 17.866.402 39,471 45,63% 6.269.704 7,325 8,47% 2.029.168 11,146 12,88% 2.382.581 6,905 7,98% 1.277.356 1,631 1,89% 335.087 4,095 4,73% 1.490.344 4,272 4,94% 986.904 Jequitinhonha/Mucuri 1,695 1,96% 972.537 Rio Doce 6,905 7,98% 1.533.352 Alto do Paranaíba 3,060 3,54% 589.369 Fonte: INDI (Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais) PIB per capita Numero índice 1999 (R$ ) Estado = 100 4.841,77 6.295,51 3.609,85 4.678,12 5.405,70 4.867,39 2.747,69 4.328,69 1.742,86 4.503,21 5.191,99 100 130 75 97 112 101 57 89 36 93 107 O município de Teófilo Otoni destaca-se pelo beneficiamento e exportação de gemas, constituindo-se no grande pólo de afluência da matéria prima extraída em toda a região do Vale do Jequitinhonha/Mucuri. Com um PIB para o ano de 2000 de R$ 361,25 milhões e uma população de 129 mil habitantes, o PIB per cápita do município foi de R$ 2798,76, representando 58% da média estadual. De acordo com dados da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais, do Ministério do Trabalho e Emprego) para o ano de 2001, a atividade de beneficiamento de gemas, 42 realizada por 23 empresas, empregava um total de 173 trabalhadores, o que corresponde a 11,9% das pessoas ocupadas no município. Porém, de acordo com a GEA (1995), pode-se afirmar que o pessoal ocupado no setor representa um número muito maior, pois este afirma, que “em Teófilo Otoni estão instaladas aproximadamente 250 micro e pequenas empresas de lapidação e comercialização e 2.700 lapidações informais com um efetivo de cerca de 13.500 pessoas, 1.500 corretores autônomos, além de garimpeiros.” (p. 2). III.1.2 Origem e desenvolvimento do arranjo A origem do setor de gemas na região e na cidade de Teófilo Otoni se confunde com a história da ocupação da própria região. Como descrito no item II.3.1, a ocupação da região nordeste de Minas Gerais se deve em grande parte à busca pelas riquezas de seu subsolo. Um fator importante para o nascimento da indústria de lapidação foi a vinda de imigrantes alemães da região de Idar Oberstein no século XIX, que já trabalhavam com o processamento de gemas. Estes imigrantes trouxeram na bagagem o seu know-how no setor e deram início à lapidação de gemas na cidade. Na época, o seu produto tinha como principal consumidor o mercado europeu. A cidade de Teófilo Otoni se tornou um pólo de indústria e comércio devido ao fato de a indústria de gemas ter primeiro se instalado nesta cidade, aproveitando o potencial mineral da região. Posteriormente a atividade se espalhou para outras cidades da região, como Governador Valadares, e outras regiões do país (Guilherme Bamberg, diretor executivo da GEA, comunicação pessoal, 27 de Outubro de 2003). Teófilo Otoni chegou a figurar como um dos principais centros de lapidação e comercialização de gemas do mundo, se destacando nas formas livres de lapidar, que aproveitam melhor as dimensões incomuns das pedras da região. Porém, nos últimos dez anos a cidade vem gradativamente perdendo este espaço de destaque. Como apontado pela GEA (1995), hoje, apenas o mineral-gema em sua forma bruta tem representatividade no mercado internacional. As diferentes causas desta mudança são abordadas a seguir. III.1.3 Fase de pesquisa e a atividade extrativa O principal entrave ao setor está na base da cadeia produtiva, ou seja, no garimpo, que vem sendo inibido de diversas formas. Embora a cidade de Teófilo Otoni não se destaque na atividade de extração, a análise desta atividade é imprescindível para a compreensão das dificuldades que o setor lapidário da cidade enfrenta, uma vez que houve entre os empresários entrevistados uma unanimidade em apontar a falta de matéria prima (a pedra bruta) como um dos principais entraves do setor. 43 A atividade extrativa é realizada principalmente por garimpeiros autônomos, de forma desorganizada e sem domínio de técnicas adequadas para a detecção de ocorrências ou para a determinação da possibilidade de aproveitamento, na indústria de lapidação, das pedras extraídas. Os métodos de extração utilizados estão de acordo com o descrito no item II.2.2.1. Comumente a exploração é voltada somente para a gema de maior valor, descartando-se as demais. Além disto, são deixados como rejeitos diversos minerais de importante uso industrial, associados às gemas, tais como: feldspato, quartzo, etc. O garimpeiro é imprescindível para o setor, uma vez que a busca de gemas se caracteriza como um “jogo de sorte”. A contratação de geólogos e/ou engenheiros de mina para a realização de pesquisas estruturadas é muito cara e conduz aos mesmos resultados que os garimpeiros obteriam com sua busca difusa e sem planejamento. Mesmo determinada uma ocorrência, o empresário necessita de informações quanto ao volume e qualidade do mineral, a fim de poder determinar a viabilidade econômica de sua exploração. Dada a indisposição do empresariado de investir na fase de pesquisa e considerando a ausência de técnicas consagradas para tal processo, a presença do garimpeiro se torna essencial na identificação de possíveis ocorrências e na sua exploração. Quanto à pesquisa geológica básica, o estudo que vem sendo desenvolvido pelo Serviço Geológico do Brasil – CPRM, em convênio com a Secretaria estadual de Minas e Energia de Minas Gerais, juntamente com a Companhia Mineradora de Minas Gerais – COMIG, denominado de Projeto Leste, está sendo pioneiro no mapeamento da área da província pegmatítica oriental. Este projeto está inserido no programa de levantamentos geológicos básicos do Brasil do Ministério de Minas e Energia. Uma área de 90.000 Km2, que compreende quase que a totalidade da província pegmatítica oriental, foi mapeada na escala de 1:100.000, possibilitando uma melhor inferência de possíveis jazidas de gemas na região. Um dos principais fatores que contribuem para a atual escassez de matéria prima para o arranjo tem sua origem na legislação. De acordo com os preceitos legais, o proprietário do solo não tem nenhuma prioridade sobre a exploração das riquezas do subsolo e, por outro lado, esta prioridade é dada ao primeiro que apresentar junto ao Departamento Nacional da Produção Mineral – DNPM um projeto de pesquisa da área. Assim, proprietários de terra da região, a fim de resguardar suas terras e as potenciais riquezas do subsolo, apresentam ao DNPM projetos de pesquisa, muitas vezes sem nenhuma intenção de realizá-la. Em conseqüência, muitas ocorrências não são descobertas e exploradas. Na região, o detentor de um alvará de pesquisa é tido tacitamente como dono das riquezas do subsolo e inicia diretamente a lavra, que ocorre em regime de participação dos resultados. Na partilha destes resultados estão envolvidos o dono da terra ou do alvará de 44 pesquisa, o proprietário de máquinas e equipamentos, um sócio capitalista, que financia a lavra, e os garimpeiros. Ao primeiro cabe cerca de 20% dos resultados da lavra, ao segundo cerca de 35%, pelo aluguel de máquinas e equipamentos, ao sócio capitalista cerca de 22,5%, e aos garimpeiros igualmente cerca de 22,5%. À medida que as jazidas mais acessíveis e de fácil obtenção de resultados vão sendo exploradas, a lavra se torna cada vez mais dependente de máquinas e equipamentos, e da figura do sócio capitalista para financia-la. Assim, este regime de lavra, consagrado na região, vai se tornando menos atrativo para o sócio capitalista que começa a desaparecer (GEA, 1995). Hoje, como alternativa, o garimpeiro opta por vender antecipadamente a terceiros a parte que lhe cabe nos supostos resultados futuros da lavra, como forma de assegurar algum rendimento. Nesta brecha de falta de capital vêm se inserindo agentes estrangeiros13, assumindo o papel do sócio capitalista ou comprando dos garimpeiros a parte que lhes cabe da lavra. Em sua maioria, estes têm como objetivo a obtenção das gemas em bruto para serem lapidadas fora do país, contribuindo para a escassez de matéria prima necessária ao desenvolvimento da indústria lapidária do país e, especialmente, da região. Outro aspecto que contribui para a escassez de matéria prima para as indústrias lapidárias tem sido a ação do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). O fechamento, por este órgão, de aproximadamente 400 garimpos nos últimos anos, devido a disposições da legislação ambiental às quais o garimpeiro não pôde se adaptar, reduziu drasticamente a capacidade produtiva da região. Porém, a cultura da extração de gemas na região é anterior à discussão sobre questões relacionadas ao meio ambiente. Os empresários e, principalmente, os garimpeiros não têm o preparo cultural para partilhar desta visão. Entrevistas realizadas junto a órgãos representativos na região sugerem que os órgãos, como a Polícia Florestal, o IBAMA, o IEP (Instituto de Ecologia Política)e a FEAM (Fundação Estadual do Meio Ambiente), que deveriam fomentar essa cultura, ficaram omissos durante várias décadas, ou seja, não houve um preparo através da conscientização ambiental dos agentes do setor extrativo. Hoje, verifica-se que a ação destes órgãos tem sido diretamente a de punir e não a de educar. A ação indiscriminada de simplesmente se fecharem os garimpos tem gerado problemas sociais e ambientais ainda maiores, uma vez que o meio ambiente já agredido não será recuperado e centenas de trabalhadores perdem sua ocupação, acabando por engrossar as periferias pobres das cidades pólos da região. Diante disto, mostrase fundamental que haja primeiro um diálogo entre os representantes dessas entidades e os 13 Verifica-se, na região, a presença de agentes estrangeiros, que visam a aquisição das pedras brutas extraídas dos garimpos locais. Em parte, trata-se de indivíduos agindo à margem da lei, em parte, trata-se de representantes de empresas de outros países, que contam com incentivos e subsídios governamentais para a aquisição de pedras brutas para que sejam beneficiadas em seus países de origem. 45 agentes do setor, a fim de promover uma adaptação, mesmo que gradual, à legislação ambiental. Outro fator inibidor da atividade garimpeira está na Lei nº 7.805/89, que busca regulamentar a atividade extrativa mineral14. De acordo com o disposto na lei, o requerimento de permissão de lavra garimpeira pode ser feito por pessoa física ou pessoa jurídica, inclusive Cooperativa de Garimpeiros. Como entraves à atividade extrativa, podem ser citadas as exigências de ordem burocrática dispostas na referida lei, tais como: • a necessidade de apresentação de informações quantitativas da produção e comercialização relativas ao ano anterior, através de Relatório Anual de Lavra; • a exigência de execução de estudo de impacto ambiental ou relatório de controle ambiental com obtenção de Licença Ambiental; • a exigência de que o requerimento de permissão de lavra garimpeira seja elaborado e assinado por um geólogo, engenheiro geólogo ou engenheiro de minas. Embora estas exigências sejam bem fundamentadas, elas são completamente incongruentes com a realidade do garimpeiro da região, em sua maioria com baixa instrução ou semi-analfabetos. Além disto, aponta-se como outra disposição legal, que inibe a atividade garimpeira, a lei de 1999 que exclui do âmbito rural a figura do garimpeiro, tendo como efeito o aumento da idade mínima para aposentadoria deste. Estes diferentes fatos têm, na soma, desencorajado a atividade garimpeira e provocado um êxodo rural para as cidades pólos da região. Como conseqüência direta disto, a oferta de matéria prima para a indústria de lapidação da região tem caído gradativamente. III.1.4 A atividade de beneficiamento Seguindo os passos do fluxograma descrito no item II.3.2, a primeira etapa dentro da indústria de lapidação, a compra da pedra bruta, é comumente realizada pelo proprietário da lapidação, devido ao fato de esta ser feita em lotes sem a possibilidade de escolha de pedras individuais e por ser esta etapa decisiva para o sucesso da empresa. A segunda etapa consiste na classificação das pedras, definindo parâmetros que influenciarão o peso e a qualidade da gema lapidada. Esta etapa é igualmente decisiva para a rentabilidade da empresa e, por isso, também costuma ser realizada pelo dono da empresa. 14 O presidente do Sindicato Nacional dos Garimpeiros, senhor Robson Caio de Andrade, aponta os fatores relacionados à legislação mineradora como os principais entraves à atividade garimpeira. 46 Com a marcação para corte inicia-se de fato a lapidação da pedra. No arranjo, para dar a pedra aproximadamente sua forma final, são utilizadas serras diamantadas de procedência nacional ou estrangeira. De acordo com a dureza e nobreza das pedras, são utilizados diferentes tipos de serra. Quanto mais valiosa é a pedra, serras de espessura mais fina são utilizadas. A indústria brasileira produz serras diamantadas de razoável qualidade até a espessura de 1mm, adequadas para pedras de menor valor como citrino, ametista e outros quartzos. Porém, para pedras de maior valor como a esmeralda, a alexandrita e o crisoberilo, são necessárias serras de espessura de aproximadamente 0,5 mm e, se possível, de espessura ainda menor. Estas precisam ser importadas. Para a realização desta etapa, os lapidários costumam se valer apenas do seu conhecimento prático podendo, assim, cometer erros que comprometam a qualidade da pedra. Em seguida é determinada a forma final da pedra (retangular, gota, oval, etc). Esta etapa ocorre com a formação da pedra no rebolo (mó fixada num eixo giratório) que, dependendo da pedra, pode ser de carborundum ou de diamante. No arranjo, as bancadas utilizadas no corte da pedra costumam ser de fabricação caseira, devido à simplicidade de sua estrutura. Estas são constituídas por uma roda disposta horizontalmente, que é adaptada a uma banca de corte através de um eixo vertical, acionado, por sua vez, por motores de baixa potência. Neste processo são utilizados abrasivos como o carborundum, além de um gabarito de ângulo que é constituído por uma tábua com numerosos furos, montada perpendicularmente à roda horizontal. Através de um sistema de graduação, esta tábua permite que se coloque a pedra no ângulo aproximado que a mesma deve ser cortada. Para afixar a pedra entre a roda e o gabarito, esta é colada com laca na ponta de canetas de madeira. Este processo manual permite apenas o corte de uma pedra por vez e é o mais empregado na região. Na pesquisa de campo, apenas uma empresa, a de maior porte, declarou fazer uso de um facetador semi-automático (sistema de catraca), que permite o corte e o polimento de 12 a 72 pedras ao mesmo tempo e com maior precisão. Para o polimento das pedras, são utilizados os mesmos equipamentos empregados no corte. Neste caso, de acordo com o tipo de pedra, a roda da bancada pode ser de estanho, cobre, chumbo ou bronze. Como abrasivos são utilizados óxidos de cromo, de alumínio, pó de diamantes ou trípole, sendo este último o mais empregado na região devido ao seu baixo custo. Nos últimos anos tem-se utilizado a lapidação calibrada de pedras na região. Porém, a calibragem foge à premissa do setor brasileiro de gemas de aproveitar a pedra ao máximo em termos de massa, uma vez que a lapidação calibrada gera uma perda de aproximadamente 80% do material bruto. Para a lapidação de um lote de dimensões padronizadas com pedras de 47 mesmo quilate a perda se mostra ainda maior. Assim, estão sendo calibradas apenas pedras de baixo valor tais como diferentes quartzos, topázio e, recentemente, água-Marinha, turmalina e esmeraldas de baixa qualidade. O processo de lapidação descrito acima pode ser utilizado na calibragem manual de pedras individuais, o que é mais empregado na região. Em contraponto, existem máquinas automáticas de calibrar que permitem o beneficiamento de até 2.000 pedras por homem/dia. Não há produção nacional destas máquinas e não foi registrado, na pesquisa de campo, nenhum caso de utilização destas. A calibragem manual empregada na região é evidentemente lenta, comprometendo a produção e até mesmo a qualidade, muitas vezes deixando de respeitar o limite de tolerância de 1mm imposto pelo mercado internacional. As especificidades do setor, como o baixo investimento em capital fixo e a tecnologia simples que vem sendo empregada, tornam as barreiras à entrada praticamente nulas. Por outro lado, fatores como a complexidade da matéria prima com qual se trabalha e a necessidade de grandes somas de capital de giro podem ser determinantes para o fracasso de novos empreendimentos. Em geral as máquinas e equipamentos utilizados na região se encontram ultrapassados. Entretanto, empresários do arranjo argumentam, que em outros países de destaque, como a China, a lapidação não calibrada das gemas de menor valor ocorre da mesma forma que na região (com o uso da banca tradicional de lapidação). No caso de gemas de maior valor, são utilizadas máquinas mais sofisticados. Os mesmos apontam como motivo para que não se implantem tais máquinas e equipamentos na região, a comparação entre o custo e o benefício no caso de pedras de médio e baixo valor. O uso de tais máquinas seria adequado apenas para gemas de alto valor, que não são o principal produto da região15. Dentro da cadeia produtiva das gemas cabe ainda mencionar o setor de artesanato mineral e o de Joalheria e Bijuteria. A região nordeste de Minas Gerais é bastante expressiva na produção de artesanato mineral. O estudo setorial realizado pela GEA (1995) verificou a existência de empresas e pequenas oficinas nas cidades de Teófilo Otoni, Governador Valadares, Araçuaí, Medina e Itaobim. Este setor utiliza como matéria prima gemas com defeitos ou os rejeitos destas, além de todo tipo de produto mineral não considerado “gema”. Os diferentes produtos do setor encontram aplicação como bijuteria, como objetos utilitários e de decoração, além de serem empregados na construção civil como revestimento de pisos e paredes em lajotas de pedra polida. Como o valor do produto está na criatividade do artista e não no custo da matéria 15 Representantes do arranjo admitem que as empresas não estão “recicladas”, dada a falta de cultura empresarial para se investir em tecnologia, mas não se apóiam a visão difundida de que a lapidação brasileira não tenha qualidade para competir no mercado externo. Tal posição é justificada pelo fato de a lapidação individual e artesanal possuir razoável qualidade e ter espaço no mercado mundial de gemas e jóias costumizadas. 48 prima, este setor está estrategicamente associado à indústria de gemas no aproveitamento de todos os tipos de rejeitos desta. A produção de jóias e bijuterias na região é muito incipiente. Esta se resume a duas empresas localizadas em Teófilo Otoni dedicadas à montagem de peças artesanais em ouro. No mais, verifica-se um número crescente de compradores de cidades como Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, que se instalam na região tendo como fim a aquisição de gemas lapidadas para serem montadas em jóias fora da região. No que tange a questão ambiental, somente na fase de extração verifica-se algum impacto sobre o meio ambiente, resultante do material rochoso extraído e dos rejeitos amontoados perto aos rios da região, podendo gerar seu assoreamento. No mais, o restante da cadeia produtiva não apresenta nenhum impacto ambiental uma vez que, como demonstrado acima, todo tipo de rejeito é aproveitado pelo setor de artesanato mineral ou em atividades industriais. Mesmo o pó resultante do processo de desgaste da gema na lapidação encontra sua aplicação como abrasivo. III.1.5 Legalização Ao longo de toda a cadeia produtiva de gemas na região verifica-se um alto grau de informalidade, principalmente na atividade extrativa, que em grande parte é devido às características físicas das gemas: pequeno volume e peso e alto valor. Os diferentes fatores que contribuem para isto são abordados a seguir. A Lei nº 7.805/89, citada no item III.1.3, além de inibir a atividade garimpeira, também é responsável por grande parte da informalidade da atividade garimpeira na região devido principalmente à sua complexidade burocrática. A exigência de que o requerimento de permissão de lavra garimpeira seja elaborado e assinado por um geólogo, engenheiro de minas ou engenheiro geólogo é incongruente com uma população de garimpeiros semianalfabetos e com empresas que dificilmente dispõe de tais profissionais em seus quadros. A extensa lista de documentos necessários para a obtenção de licença ambiental, na qual constam 19 diferentes itens, é outro exemplo da longa trajetória burocrática para a qual os garimpeiros não estão preparados. Assim, não está se fazendo uso do regime de permissão de lavra garimpeira, teoricamente adequado ao tipo de exploração na região. O que se verifica, como descrito acima, é o uso incompleto do regime de autorização de pesquisa e concessão de lavra que também se aplica à exploração de gemas (com exceção do diamante). Na prática, só se percorre o processo burocrático até a obtenção do alvará de pesquisa que depende somente da apresentação do requerimento completo e do assentimento da autoridade competente, não necessitando da obtenção de licença ambiental. O detentor de um alvará de pesquisa é tido 49 tacitamente como dono das riquezas do sub-solo e passa a explorá-las, sem efetuar o requerimento de concessão de lavra previsto neste regime de exploração. No quadro 3.1 são apresentados os dois regimes de exploração mencionados que podem ser aplicados para a exploração de gemas. Quadro 3.1 – Regimes de exploração mineral aplicáveis a extração de gemas Regimes Permissão de Lavra Garimpeira Área Máxima 50 Hectares Autorização de Pesquisa e concessão de Lavra 50 Hectares Prazo de Vigência até 5 anos Pesquisa 1 a 3 anos Lavra 3 Anos (renovável por igual período) Fonte: Minas Gerais, 1999 Outro fator que tem contribuído para o alto grau de informalidade no setor extrativo de gemas é a questão do registro da produção mineral. Até o ano de 1989 a Receita Federal controlava a produção mineral pela arrecadação do IUM (imposto único de minerais), com alíquota de 1%. Ao garimpeiro bastava o registro, a baixo custo, da produção através de uma guia de movimentação regularmente registrada na coletoria federal mais próxima. Com a nova constituição a produção mineral passou a ser controlada pelos estados com a arrecadação de ICMS com alíquotas que variam entre 12% e 18%. A alta carga tributária acaba por inibir a oficialização da produção de gemas, que só ocorre no caso de os compradores serem empresas legalizadas que absorvem o custo do imposto. Alguns representantes do setor de gemas e jóias brasileiro, destacam o desinteresse das autoridades competentes em criar um regime simplificado de registro da produção de gemas. Segundo estes, o atual status quo seria de interesse dos diferentes órgãos fiscalizadores, pelo fato de as eventuais apreensões de mercadorias serem bastante lucrativas. No caso de tais apreensões de mercadorias, o proprietário desta pode ser obrigado a pagar 100% sobre o valor da mesma para resgatá-la. Assim, na maior parte das vezes a primeira transação da gema se dá de maneira informal, sem que seja registrado o volume de pedras extraídas na região. A isto se acrescenta o despreparo por parte dos órgãos estaduais responsáveis pela arrecadação dos impostos cabíveis no que tange à avaliação do valor das gemas, uma vez que este depende de diversos fatores como, por exemplo, as diversas características físicas de cada gema. Representantes de associações empresariais locais ressaltam, que a informalidade no arranjo se apresenta apenas na base deste, enquanto que na ponta, considerando que quase a totalidade da produção da região se destina à exportação, não se verifica este grau de informalidade. Esta opinião está respaldada no fato de as exportações de gemas em bruto ou 50 lapidadas de Minas Gerais serem pouco oneradas por impostos, com um ICMS de apenas 1%. Diante disto, não seria oportuno correr os riscos de exportar gemas ilegalmente. Assim, na região, mesmo sendo a maioria das transações feitas de maneira informal, as gemas sempre acabariam sendo oficializadas por uma empresa exportadora, gerando, porém, muito menos receita tributária. As gemas estão incluídas no capítulo 71 da NBM (Nomenclatura Brasileira de Mercadorias) e, assim sendo, a exportação destas tem como pré-requisito a fiscalização por parte de um auditor da Receita Federal. Com a implantação do SISCOMEX (Sistema Integrado de Comércio Exterior), todo o processo de fiscalização pode ser feito no local de registro da exportação. Em toda a região nordeste de Minas Gerais, só se verifica a presença de fiscais encarregados de efetuar este serviço na cidade de Governador Valadares (GEA, 1995). Assim, as empresas de Teófilo Otoni e de outras cidades são obrigadas a aguardar a vinda esporádica de fiscais ou a transportar sua mercadoria para Governador Valadares ou outras cidades onde podem efetuar o registro de exportação. Este transporte, além de representar um risco, onera o produto. Também neste caso se mostra um despreparo dos fiscais encarregados de efetuar a avaliação do valor do que está sendo exportado. Dada as características de cada pedra e de cada lote de pedras, o valor das gemas exportadas pode ter grande variação, mesmo em se tratando do mesmo mineral. Isto abre uma brecha para a prática de “lavagem de dinheiro” por parte de quadrilhas que compram pedras e as exportam com valores superfaturados. Em suma, em grande parte a informalidade verificada na região é devida à forma de atuação do poder público junto à atividade garimpeira espalhada pela região nordeste mineira e junto ao arranjo produtivo. A atividade extrativa, representada por garimpeiros, se encontra em sua maior parte na informalidade devido à inadequação ao processo burocrático imposto pela Lei nº 7.805/89 para a atividade extrativa e devido à ação dos órgãos de fiscalização ambiental, omissos na tarefa de conscientizar os garimpeiros e na tarefa de criar subsídios que tornem possível a adequação às normas ambientais. Porém, como em todo território nacional, na região, o maior entrave à formalização do setor, com exceção das empresas exportadoras, está certamente na alta carga tributária que em operações dentro do estado chega a representar 53% do valor das gemas. Como reflexo disto, o grau de informalidade na cidade de Teófilo Otoni pode chegar a 91%, uma vez que a GEA (1995) faz referência a 250 empresas na cidade, enquanto que os dados da RAIS apresentam apenas 23 empresas legalmente constituídas na cidade. 51 III.2 Agentes do segmento empresarial Com referência ao município de Teófilo Otoni, que abrange o arranjo em questão, o documento da GEA (1995) faz menção à existência de aproximadamente 250 micro e pequenas empresas de lapidação e comercialização e 2700 lapidações informais, com um efetivo de cerca de 13.500 pessoas. Porém, o documento não diz quantas das 250 empresas citadas são dedicadas à atividade de beneficiamento, quantas ao comércio e quantas às duas atividades. Dentro do universo das empresas e das lapidações informais citadas pela GEA, a média de pessoas ocupadas seria de 4,58 por negócio. O documento ainda cita cerca de 1500 corretores autônomos, além de um número não especificado de garimpeiros. Porém, devido ao alto grau de informalidade vigente no setor e considerando apenas as empresas de extração de “outros minerais não-metálicos“ (classificação Cnae 1429-0) e de “lapidação de pedras preciosas e semi-preciosas, fabricação de artefatos de ourivesaria e joalheria” (classificação Cnae 3691-9), os dados extraídos da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS - 2001) apontam para a existência de apenas 23 empresas legalizadas. Estas empresas contavam no ano de 2001 com um efetivo de 173 pessoas ocupadas, apresentando uma média de 7,52 pessoas ocupadas por empresa. Contudo, este número pode ser ainda menor, dada a possibilidade de uma empresa atuar tanto na extração como no beneficiamento de gemas e, assim, ocorrer dupla contagem. Por outro lado, dados obtidos na pesquisa de campo apontam para a existência de um grande número de oficinas de lapidação informais, que prestam serviços terceirizados. Em média, cada empresa abordada na pesquisa de campo contrata o serviço de cerca de 18,6 pessoas nestas condições. Atendo-se aos dados da RAIS-2001, a atividade extrativa se mostrava pouco representativa no arranjo, contando com apenas uma microempresa com seis pessoas ocupadas, além de um número desconhecido de garimpeiros. De acordo com a mesma fonte, a atividade de lapidação de pedras preciosas e semi-preciosas, fabricação de artefatos de ourivesaria e joalheria conta com 19 microempresas (até 19 pessoas ocupadas) e 3 empresas de pequeno porte (de 20 a 49 pessoas ocupadas). Cabe ressaltar que dentro deste grupo podem constar também empresas de artesanato mineral. O estudo setorial realizado pela GEA (1995) aponta para duas empresas atuando no segmento de joalheria e ainda cita a existências de um número não especificado de empresas e pequenas oficinas de artesanato mineral em diversos municípios da região, inclusive Teófilo Otoni. Quanto a empresas produtoras de máquinas e equipamentos e fornecedoras de insumos para o setor de gemas, na pesquisa de campo verificou-se a inexistência de empresas legalmente constituídas no arranjo e na região nordeste mineira. Verifica-se apenas a fabricação caseira (ou por parte das próprias empresas 52 lapidárias) das tradicionais bancas de lapidação. A aquisição de insumos ocorre fora do arranjo (principalmente Belo Horizonte e São Paulo) e, em grande parte, no exterior. A tabela 3.2 resume os dados apresentados sobre o universo de empresas do arranjo bem como apresenta informações relativas à amostra de empresas abordadas na pesquisa de campo. Tabela 3.2 – Características do universo e da amostra de empresas do setor de gemas de Teófilo Otoni Amostra 6 Universo 5 Atividade Porte número pessoal número pessoal Origem Capital Cargo do Entrevistado empresas ocupado empresas ocupado Social Prop./ Sócio Gerente 1 3 Extração micro 1 6 1 10 100% nac. 100% 0% Bebeficiamento 2 micro 3 19 86 14 70 100% nac. 100% 0% pequena 4 3 81 2 67 100% nac. 50% 50% Sub-total 22 167 16 137 100% nac. 93,8% 6,2% Total 23 173 17 147 100% nac. 94,1% 5,9% 1 - Extração de outros minerais não-metálicos (classificação Cnae 1429-0) 2 - lapidação de pedras preciosas e semi-preciosas, fabricação de artefatos de ourivesaria e joalheria (classificação Cnae 3691-9) 3 - Até 19 pessoas ocupadas 4 - De 20 a 49 pessoas ocupadas 5 - Fonte: RAIS 2001 (inclui apenas empresas formais e seus funcionários com contratos formais de trabalho) 6 - Fonte: Pesquisa de campo Em todas as empresas entrevistadas, o capital é 100% de propriedade dos sócios. Isto está de acordo com as características do setor, onde o capital fixo representa apenas cerca de 1% do capital total e o uso de linhas de crédito e outras formas de financiamento para a aquisição de matéria prima e formação de estoques dificilmente é empregado pelas empresas do setor, como será abordado adiante. A empresa de extração entrevistada tem hoje sua atividade principal na exploração de rochas ornamentais fora do arranjo, mas também atua na extração de gemas e no seu beneficiamento. Quanto à extração de gemas, a empresa adquiriu uma lavra que já era explorada anteriormente na busca de gemas de alto valor agregado. Até o presente momento a empresa não foi obrigada a executar nenhuma escavação no local da lavra. A exploração tem se pautado somente na cata de minerais de médio e baixo valor, que já tinham sido removidos pelo antigo explorador e descartados como rejeito, predominantemente quartzo rosa de ótima qualidade. A totalidade das empresas de beneficiamento de gemas entrevistadas possui máquinas e equipamentos próprios. Apenas uma empresa, a maior em termos de número de empregados, declarou fazer uso de um facetador semi-automático com sistema de catraca, que 53 possibilita a lapidação calibrada de mais de uma gema de forma simultânea e com boa precisão. As demais declararam fazer uso apenas de bancas tradicionais, normalmente de construção própria, que permitem apenas a lapidação individual de gema por gema, dificultando o eventual processo de calibragem. Quanto às transações comerciais das empresas, em 2002 mais de 80% das vendas foram realizadas para fora do arranjo, tendo como principal destino o exterior (43,94%) e outros estados do Brasil (27,41%). As vendas no estado de Minas Gerais representaram 8,71% e as vendas em Teófilo Otoni 19,94%. A quase totalidade dessas gemas vendidas dentro do território nacional se destina a empresas exportadoras e joalherias, principalmente para as cidades de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e de São Paulo, e tem como destino último o mercado externo. A tabela 3.2 apresenta o grau de importância que as empresas do arranjo atribuem às diferentes transações comerciais realizadas no município do arranjo e na sua região. Tabela 3.2 – Visão do empresariado quanto à importância das diferentes transações comercias realizadas localmente (no arranjo ou na região) (em % de respostas) Tipos de transações Aquisição de insumos e matéria prima Aquisição de equipamentos Aquisição de componentes e peças Aquisição de serviços (manutenção, marketing, etc.) Vendas de produtos Perguntas respondidas por 17 empresas Fonte: Pesquisa de campo Irrelevante 11,76 52,94 52,94 41,18 11,76 Grau de importância baixa média 5,88 5,88 23,53 23,53 17,65 29,41 5,88 47,06 17,65 5,88 alta 76,47 0 0 5,88 64,71 A irrelevância atribuída pela maioria à aquisição de equipamentos e componentes e peças é condizente com a inexistência de empresas produtoras de tais bens na região. Ocorre, na região, apenas a aquisição de equipamentos rudimentares de fabricação caseira e seus componentes. A alta importância atribuída por 65% dos entrevistados à venda de produtos no arranjo sugere uma falsa importância da esfera local enquanto destino dos produtos, dado que os mesmos empresários apontam o município como destino de apenas 20% de sua produção, como exposto acima. Supõe-se que a alta importância atribuída à venda de produtos no arranjo e na região se deve mais a respostas relativisadas em relação aos demais itens investigados na tabela3.2, os quais se apresentam ainda menos significativos. A alta importância atribuída à compra de insumos reafirma a vocação natural da região, de rico subsolo, para a exploração e beneficiamento de gemas e aponta o fator matéria prima como um dos principais diferenciais da região e do arranjo. 54 A tabela 3.3, que investiga a vantagem das empresas estarem localizadas no arranjo no que tange a proximidade de diferentes agentes, reafirma a alta importância da esfera local quanto à aquisição de matéria prima e a baixa importância desta para a venda dos produtos, dada a pouca importância atribuída à proximidade de clientes e consumidores. Tabela 3.3 – Visão do empresariado quanto à vantagem de estarem localizados no arranjo em relação à presença dos diferentes agentes (em % de respostas) Agentes Proximidade com os fornecedores de insumos e matéria prima / Recursos minerais Proximidade com os clientes/consumidores Perguntas respondidas por 17 empresas Fonte: Pesquisa de campo Irrelevante 5,9 35,3 Grau de importância baixa média 0 5,9 23,5 5,9 alta 88,2 35,3 Quanto a relações de sub-contratação, todas as empresas entrevistadas declararam não serem sub-contratadas. Apenas duas empresas declararam serem sub-contratantes através de contratos ou acordos regulares e continuados. A primeira contrata empresas fora do arranjo para a obtenção de certificação de qualidade das gemas e para a execução de serviços administrativos de contabilidade. A segunda contrata uma empresa dentro do arranjo para a execução de serviços de contabilidade e uma empresa fora do arranjo para a comercialização de produtos. Ambas contratam tais serviços por contratos informais e com vigência limitada a cada operação ou lote de gemas. III.3 Instituições de fomento e de representação O arranjo produtivo de gemas da cidade de Teófilo Otoni conta com uma considerável infraestrutura institucional local e com outras instituições estaduais e federais com algum grau de alcance local. Quanto às instituições sediadas em Teófilo Otoni, constam a GEA (Associação dos Comerciantes e Exportadores de Gemas e Jóias do Brasil), a ACCOMPEDRAS (Associação dos Corretores do Comercio de Pedras Preciosas de Teófilo Otoni-MG) e o Sindicato Nacional dos Garimpeiros. Em Brasília situa-se o IBGM (Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos) e na cidade de Belo Horizonte a AJOMIG (Associação dos Joalheiros, Empresários de Pedras Preciosas e Relógios de Minas Gerais) e o SINDIJÓIAS-GEMAS-MG (Sindicato das Indústrias de Joalheria, Ourivesaria, Bijuteria, Lapidação de Pedras Preciosas e Relojoarias do Estado de Minas Gerais). 55 A GEA, cuja sigla resume o nome “Gems Exporter Association”, foi criada no ano de 1989 e conta com aproximadamente 45 associados. Apesar do nome da associação, esta tem uma representatividade que abrange toda a cadeia produtiva de gemas em Teófilo Otoni e na região. Dentre seus associados estão empresas que, além de atuarem no comércio e na exportação de gemas, também atuam no beneficiamento e/ou na extração destas. Tanto por seu histórico de atuação, quanto pelos profissionais qualificados que integram seu quadro, a GEA se mostra a instituição mais presente e mais qualificada na representação e no fomento da cadeia produtiva de gemas na região leste e nordeste mineira. A associação tem atuado de diversas formas. Ela mantém um constante diálogo junto ao poder público, buscando a mediação de conflitos e se empenhando para estabelecer meios para que se supere o alto grau de informalidade vigente. Destaca-se, neste sentido, o empenho na mediação dos conflitos entre os órgãos de fiscalização ambiental e os agentes do segmento extrativo, a fim de possibilitar uma adaptação a legislação ambiental sem sacrificar a população garimpeira da região. Em parceria com o SEBRAE-MG, a GEA realizou em 1995 um amplo “Diagnóstico Setorial - Gemas e Jóias do Nordeste do Estado de Minas Gerais”, que busca, além de apresentar as características da extração e do beneficiamento de gemas na região, propor ações que venham a viabilizar a superação de gargalos e o desenvolvimento destas atividades. Com o fim de fomentar o comércio de gemas na cidade de Teófilo Otoni, divulgar os produtos da região junto aos consumidores externos e atrair divisas, a GEA tem realizado desde 1989 a Feira Internacional de Pedras Preciosas-FIPP em parceria com a Secretaria Municipal de Indústria, Comércio e Turismo de Teófilo Otoni (até o ano de 2000 esta feira se chamava Gem Festa). Quanto ao desenvolvimento da mão-de-obra local, a associação tem se empenhado, juntamente com a prefeitura municipal, para criar na cidade uma escola técnica para o setor de gemas. O início de seu funcionamento está previsto para o mês de maio de 2004. A ACCOMPEDRAS tem sua atuação focada em seus associados, sendo estes corretores e comerciantes de gemas. Note-se que muitos destes atuam também na atividade de beneficiamento de gemas e na produção de artesanato mineral. A associação dispõe de um espaço no centro da cidade, dividido em estandes e lojas de, em média, 10m2, onde seus associados comercializam seus produtos. Sua ação tem se dado no sentido de fomentar atividades cooperativas entre seus filiados, como a compra conjunta de insumos para o beneficiamento de gemas a preços reduzidos. Paralelamente à FIPP, a ACCOMPEDRAS realiza com apoio da prefeitura municipal a Feira Livre de Pedras Preciosas, que já se encontra em sua décima sexta edição. 56 As duas feiras citadas acima, a FIPP e a Feira Livre de Pedras Preciosas, contaram no ano de 2002 com 240 expositores. Enquanto que a FIPP tem contado com uma boa infraestrutura com estandes para os expositores a Feira Livre de Pedras Preciosas tem sido realizada ao ar livre na praça central da cidade. Nota-se uma certa dificuldade de coordenação entre as duas associações no que tange à realização conjunta de uma feira onde os associados de ambas disponham da mesma infraestrutura e projeção. No que tange as demais questões relacionadas ao setor de gemas, a interação entre as duas associações é igualmente reduzida. O Sindicato Nacional dos Garimpeiros tem sua atuação voltada à mediação de conflitos existentes entre a classe garimpeira e o poder público estadual e federal, oriundos de questões da legislação ambiental, tributária e de mineração, como descrito no item III.1.3. Além disto, o sindicato tem atuado de forma conjunta com a GEA na identificação dos agentes envolvidos no setor e na definição de objetivos comuns para os agentes da atividade extrativa e de beneficiamento. As demais instituições citadas, o IBGM, a AJOMIG e o SINDIJÓIAS-GEMAS-MG, localizadas fora do arranjo, têm somente algum alcance local nas ações direcionadas a todo setor de gemas em suas respectivas abrangências, que acabam por beneficiar também as empresas de Teófilo Otoni. Destaca-se a participação da AJOMIG em feiras internacionais promovendo missões empresariais, além de sua relativa importância como representante do IBGM em Minas Gerais para o PSI – Programa Setorial Integrado de Apoio às Exportações de Gemas e Metais Nobres junto a APEX (Agência de Promoção de Exportações do Brasil)16. No mais, não tem sido constada nenhuma ação específica dessas instituições direcionada às empresas do arranjo. Por outro lado, destacam-se iniciativas oriundas de fora do arranjo por parte de universidades e da esfera pública, como o PROJEMAS e o projeto de caracterização de arranjos produtivos de base mineral. O PROGEMAS (Rede de Ações Integradas em Prol do Desenvolvimento Sustentável do Arranjo Produtivo de Gemas e Jóias do Norte/Nordeste de Minas Gerais) tem como executor a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e co-executores a UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto), a UEMG (Universidade Estadual de Minas Gerais) e o CETEC (Fundação Centro Tecnológico), além da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia de Minas Gerais. Ele conta ainda com o apoio de diversas prefeituras como a de 16 Agência autônoma com um Conselho Deliberativo, composto por representantes dos seguintes órgãos: Ministério do Desenvolvimento; Ministério das Relações Exteriores; Camex; BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social; CNI - Confederação Nacional da Indústria; AEB - Associação de Comércio Exterior do Brasil; e Sebrae - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Compete à agência a execução de políticas de promoção de exportações, em cooperação com o poder público, com o objetivo de inserir novas empresas exportadoras no mercado internacional, ampliar mercado e, em conseqüência, gerar emprego e renda. 57 Teófilo Otoni, com o apoio da GEA, do CEP (Centro de Educação Profissional de Teófilo Otoni) e dos empresários de Teófilo Otoni. O projeto, com início em 2003 e com prazo de execução de 18 meses, abrange os municípios de Araçuaí, Ataléia, Caraí, Coronel Murta, Itambacuri, Padre Paraíso, Teófilo Otoni, Turmalina e São José da Safira. Os principais objetivos deste projeto são: • Aumentar e melhorar a regularidade da produção de gemas no norte e nordeste de Minas Gerais através do uso de tecnologias adequadas de extração mineral. • Agregar valor às gemas através do uso de técnicas adequadas de lapidação que possibilitem a criação e o desenvolvimento de novos produtos de joalheria, bijuteria e outros objetos de adorno (artesanato mineral). • Diminuir os impactos ambientais decorrentes das atividades garimpeiras através: - do uso de tecnologias apropriadas de lavra e desmonte de rochas; - do aproveitamento de outros minerais de valor econômico associados às gemas nos corpos pegmatíticos, tais como micas e feldspato; - do aproveitamento dos rejeitos e desenvolvimento de novos gemas de menor valor intrínseco para o produtos; da racionalização dos recursos hídricos envolvidos na extração e beneficiamento dos minerais de pegmatitos; - do desenvolvimento e/ou adequação de métodos e técnicas para a recuperação das áreas degradas proporcionando sua reabilitação para uso em atividades econômicas, sociais, culturais e turísticas tais como: áreas de lazer, mina-museu, etc. • Capacitar/formar mão-de-obra especializada, através: - de cursos de curta duração que envolvam todas as etapas da extração de gemas à comercialização das gemas e jóias; • da formação de profissionais técnicos especializados. Desenvolver ações associadas à tecnologia industrial básica através: - da criação de um sistema de informação sobre gemas e jóias que inclua desde as etapas da sua extração até a comercialização; - do levantamento e caracterização dos processos de normalização e certificação de gemas. O PROJEMAS incorporou o projeto “Explotação de Corpos Pegmatíticos Portadores de Minerais Gema: Uma Visão Inovadora”, financiado pelo CT-Mineral desde março de 2002, que tem como objetivo básico transformar o atual estágio garimpeiro de produção de 58 gemas em uma mineração sustentável de pegmatitos. Dentro deste projeto já foram realizados levantamentos geológicos e estudos de beneficiamento de rejeitos em determinadas área piloto, além de atividades na área educacional no sentido de viabilizar um Curso Técnico de Mineração na cidade de Teófilo Otoni, a ser oferecido pelo CEP (Centro de Educação Profissional). A segunda iniciativa citada acima é o projeto de caracterização de arranjos produtivos de base mineral do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos - CGEE do Ministério de Ciência e Tecnologia, que é financiado como projeto de pesquisa do CNPQ (Conselho Nacional de Pesquisas). Os estudos foram executados entre fevereiro e setembro de 2002 pelo Instituto Metas Crescimento Empresarial Ltda. em Belo Horizonte - MG, uma entidade associada ao Sistema FIEMG (Federação das Indústrias de Minas Gerais). Entre os principais objetivos deste projeto consta: • Identificar as concentrações de pequenas e médias empresas cuja atividade esta orientada para a exploração de recursos minerais não metálicos, em todo o Brasil; • Organizar as informações sobre a base mineral disponível, visando fornecer uma visão georreferenciada do ambiente de negócios existentes nestas concentrações de empresas; • Identificar as características de organização destas concentrações de empresas, denominadas de aglomerados de empresas, visando subsidiar uma futura estruturação de políticas de competitividade, de tecnologia e de incentivos, entre outras, que levem estes aglomerados a operarem no conceito moderno de arranjos produtivos locais. Como resultado foram confeccionados relatórios técnicos de caracterização dos arranjos estudados, dentre eles o que abrange a cadeia produtiva de gemas nas regiões de Governador Valadares e Teófilo Otoni e que equivocadamente aponta o primeiro município como sede do suposto arranjo. Os dois projetos descritos acima, o PROGEMAS e o projeto de caracterização de arranjos produtivos de base mineral, não geraram, até o presente momento, expressivo retorno para as empresas do arranjo, fato que é evidenciado pelo desconhecimento destes por quase todos os empresários entrevistados na pesquisa de campo. O primeiro teve sua atuação, até o momento, predominantemente voltada à atividade extrativa, pouco expressiva nos limites do arranjo. O segundo resultou apenas em um relatório técnico que busca dar subsidio a futuras ações concretas por parte do poder público federal. Quanto à avaliação das ações de sindicatos, associações e cooperativas locais na pesquisa de campo, as respostas se mostram muito variadas na maioria das questões 59 abordadas, apresentando, porém, uma avaliação predominantemente negativa. A tabela 3.4 apresenta os resultados obtidos. Tabela 3.4 – Visão do empresariado quanto à contribuição de sindicatos, associações, cooperativas, locais no tocante às seguintes atividades (em % de respostas) Tipo de contribuição Auxílio na definição de objetivos comuns para o arranjo produtivo Estímulo na percepção de visões de futuro para ação estratégica Disponibilização de informações sobre matérias-primas, equipamentos, assistência técnica, consultoria, etc. Identificação de fontes e formas de financiamento Promoção de ações cooperativas Apresentação de reivindicações comuns Criação de fóruns e ambientes para discussão Promoção de ações dirigidas à capacitação tecnológica de empresas Estímulo ao desenvolvimento do sistema de ensino e pesquisa local Organização de eventos técnicos e comerciais Perguntas respondidas por 17 empresas Fonte: Pesquisa de campo Grau de importância Irrelevante baixa média alta 41 18 6 35 35 12 12 41 59 76 47 47 65 70 70 6 12 6 12 0 23 6 6 6 23 6 18 29 6 6 12 18 6 12 23 24 6 18 12 70 Na avaliação de quatro das questões, as respostas se mostram muito dispersas não permitindo que se faça qualquer tipo de inferência. Por outro lado, em outras cinco questões apresenta-se uma avaliação predominantemente negativa onde 70% ou mais das respostas apontam para uma contribuição irrelevante ou baixa das entidades representativas. A avaliação negativa quanto à contribuição na identificação de fontes e formas de financiamento reflete, por um lado, a dificuldade das empresas do setor de terem acesso a crédito, uma vez que este é necessário em grandes somas. Por outro lado, a atuação de entidades representativas dificilmente pode ser avaliada quanto a este ponto, uma vez que não existem linhas de crédito direcionadas às especificidades do setor. Outro item que se destaca é a visão negativa quanto ao estímulo ao desenvolvimento do sistema de ensino e pesquisa local, uma vez que a GEA tem despendido esforços no sentido de instalar na cidade uma escola profissionalizante direcionada ao setor. Dado que tal empreendimento dificilmente pode ser visto como irrelevante para o setor, supõe-se que o empresariado não tenha conhecimento deste, o que aponta para um baixo grau de interação entre à associação em questão e os seus associados. A avaliação amplamente positiva referente à organização de eventos técnicos e comerciais se deve principalmente ao grande prestígio atribuído às feiras anualmente realizadas pela GEA e pela ACCOMPEDRAS. 60 III.4 Infra-estrutura educacional e física III.4.1 Infra-estrutura educacional e qualificação de mão-de-obra De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais INEP do Ministério da Educação, o município de Teófilo Otoni tem mostrado uma boa evolução no seu sistema educacional. Apesar de o município ainda apresentar uma taxa de analfabetismo (para a população com 15 ou mais anos de idade) acima da média estadual e nacional, esta foi reduzida de 19,4% no ano de 1996 para 18,3 % no ano de 2000, ou seja, mais de um ponto percentual (a evolução estadual no período foi de 12,5% para 12,0% e a nacional de 14,2% para 13,6%). O quadro 3.2 apresenta informações relevantes a respeito da escolarização da população da cidade e do estado. Quadro 3.2 – Anos de estudo das pessoas com 25 ou mais anos de idade em termos percentuais - 2000 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 sem instrução 1a3 4a7 8 a 11 mais de 11 Minas Gerais 14,8 18,0 35,1 24,3 7,8 Teófilo Otoni 22,8 17,4 29,1 23,9 6,8 Fonte: IPEADATA Apesar das melhorias apontadas anteriormente, a escolaridade da população de Teófilo Otoni é baixa em comparação à estadual. É flagrante observar, que em todas as faixas de anos de estudo a população de Teófilo Otoni apresenta um percentual inferior ao estadual. Conseqüentemente, observa-se um percentual muito alto da população sem nenhuma instrução. A tabela 3.5 demonstra o percentual de pessoas em diferentes faixas etárias que freqüentavam a escola em 1991 e como este quadro se mostra melhor no ano de 2000. 61 Tabela 3.5 – Percentual de pessoas que freqüentam a escola por faixa etária 4 a 5 anos 5 a 6 anos 7 a 14 anos 15 a 17 anos nd 46,4 37,1 71,9 82,8 95,9 48,0 76,0 nd 39,5 34,8 68,4 78,3 95,4 56,5 80,7 Minas Gerais 1991 2000 Teófilo Otoni 1991 2000 Fonte: IPEADATA Os dados evidenciam, de forma ampla, que o sistema educacional de Teófilo Otoni acompanhou a evolução estadual na última década. Para o ano de 2000, a população da cidade apresenta proporções baixas, em comparação com a média estadual, para as faixas de idade até os seis anos. Porém, nas faixas de idade crucias para o ensino fundamental e médio, a partir dos sete anos de idade, o percentual se mostra bastante elevado ou acima da média estadual. O que evidencia um bom potencial de qualificação da jovem mão-de-obra no município. Quanto à infraestrutura de ensino, no ano de 2002 constavam no município 118 instituições de ensino distribuídas como mostra o quadro 3.3. Quadro 3.3 – Instituições de ensino em Teófilo Otoni por nível de ensino e mantenedor 50 40 30 20 10 0 Estadual Municipal Particular Fundamental 46 39 10 Médio 13 0 6 Especial 0 0 1 Superior 0 0 3 Fonte: EDUDATABRASIL / INEP Em relação ao ensino fundamental, o estado apresenta um peso muito maior que o município, o que em tese representa uma inversão das atribuições de cada esfera. Das instituições de ensino fundamental, 46 são estaduais, apenas 39 são municipais e 10 são 62 particulares, sendo a rede pública responsável por 89% das escolas deste nível de ensino. Quanto às instituições de ensino médio, estas se encontram distribuídas entre escolas estaduais (13) e particulares (6). Consta ainda na cidade uma escola particular de ensino especial e três faculdades particulares, que oferecem um total de oito cursos de graduação nas áreas de educação, ciências sociais e de matemática. Não há nenhuma instituição federal de ensino em nenhum nível de ensino na cidade. Os dados referentes às matrículas por nível de ensino e por tipo de mantenedor, apresentados no quadro 3.4, revelam que em 2002 haviam 38.062 estudantes no município, 76% cursando o ensino fundamental, 19% o ensino médio, 1% matriculados na única escola de ensino especial e 4% nas três faculdades existentes. A rede pública estadual absorvia 68% dos alunos do ensino fundamental e 91% dos estudantes do ensino médio, o que coloca o estado como principal responsável por ambos os níveis de ensino. Quadro 3.4 – Número de matrículas em Teófilo Otoni por nível de ensino e mantenedor 25.000 20.000 15.000 10.000 5.000 - Estadual Municipal Particular Fundamental 19.687 7.811 1.479 Médio 6.419 - 664 Especial - - 413 Superior - - 1.589 Fonte: EDUDATABRASIL / INEP Como mencionado acima, a cidade de Teófilo Otoni passa a contar, a partir do ano letivo de 2004, com cursos profissionalizantes de meio ambiente, mineração, gemologia, lapidação/bijuteria, ourivesaria e artesanato mineral, a serem oferecidos pelo Centro de Educação Profissional de Teófilo Otoni – CEP, em parceria com o SENAI, com uma capacidade prevista para 1.200 alunos. Este inicia suas atividades no dia sete de Maio de 2004 com o curso introdutório em ourivesaria e joalheira. Este empreendimento é fruto do empenho da GEA, da prefeitura de Teófilo Otoni, como também das universidades e demais instituições envolvidas no projeto PROGEMAS e contará com o apoio da Secretaria de 63 Estado de Educação, através de recursos do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). O estudo setorial realizado pela GEA (1995), aponta o fator recursos humanos como o de maior carência na região. Uma escola técnica voltada ao setor viria a suprir parcialmente esta carência. Segundo o mesmo documento, seria igualmente necessária a existência, na cidade, de cursos de nível superior voltados ao setor. A universidade Federal de Ouro Preto oferece, por exemplo, um curso de graduação em geologia e um curso em nível pós-médio em gemologia. Porém, a distância entre Ouro Preto e Teófilo Otoni possibilita apenas o suprimento parcial da carência por capacitação profissional dos agentes do arranjo por esta instituição. Quanto às pessoas ocupadas nas empresas do arranjo, os dados da pesquisa de campo apontam para um grau mediano de escolaridade. Neste universo, 18% das pessoas ocupadas têm o ensino fundamental incompleto e 27% completo e 47% o ensino médio completo. Cabe ressaltar, que dentre as dez pessoas (7%) com um grau de escolaridade superior ao ensino médio, salvo uma exceção, encontram-se somente os sócios proprietários das empresas. Diante destes fatos, mostra-se relevante analisar a opinião do empresariado local no que tange a mão-de-obra no arranjo e sua qualificação. A tabela 3.6 apresenta a importância que o empresariado atribui às diferentes qualificações da mão de obra local. Tabela 3.6 – Visão do empresariado quanto à importância para a empresa das seguintes características da mão-de-obra local (em % de respostas) Características Escolaridade formal de 1º e 2º graus Escolaridade em nível superior e técnico Conhecimento prático e/ou técnico na produção Disciplina Flexibilidade Criatividade Capacidade para aprender novas qualificações Perguntas respondidas por 17 empresas Fonte: Pesquisa de campo Grau de importância Irrelevante baixa média alta 0 30 35 35 12 35 24 29 0 0 6 94 0 0 24 76 0 0 41 59 0 0 18 82 6 0 12 82 Como se verifica, o item referente à escolaridade em nível técnico ou superior é tido como o de menor importância. O item referente à escolaridade formal em 1º e 2º grau também recebeu uma avaliação relativamente baixa, apesar de 70% dos entrevistados considerarem esta característica da mão-de-obra local como de média ou alta importância. Em termos de conhecimentos, destaque se dá ao item referente ao conhecimento prático e/ou técnico na produção, sendo apontado como o de maior importância dentre as características investigadas. 64 Outras características, como disciplina, flexibilidade e criatividade, foram igualmente apontados pela maioria dos entrevistados como sendo de alta importância. Tendo em vista os valores atribuídos às diferentes características da mão-de-obra local, são apresentadas na tabela 3.7 as atividades de treinamento e de capacitação realizadas pelas mesmas empresas nos últimos três anos. Tabela 3.7 – Atividades de treinamento e capacitação de recursos humanos realizadas pelas empresas durante os últimos três anos, 2000 a 2002 (em % de respostas) Descrição Grau de importância Irrelevante baixa média Treinamento na empresa 53 0 18 Treinamento em cursos técnicos realizados no arranjo 88 0 6 Treinamento em cursos técnicos fora do arranjo 88 0 6 Estágios em empresas fornecedoras ou clientes 94 0 6 Estágios em empresas do grupo 100 0 0 Contratação de técnicos/engenheiros de outras empresas do arranjo 76 6 6 Contratação de técnicos/engenheiros de empresas fora do arranjo 100 0 0 Absorção de formandos dos cursos universitários localizados no arranjo ou próximo 100 0 0 Absorção de formandos dos cursos técnicos localizados no arranjo ou próximo 100 0 0 Perguntas respondidas por 17 empresas Fonte: Pesquisa de campo alta 29 6 6 0 0 12 0 0 0 As respostas obtidas apontam como um todo para um empenho muito pequeno por parte das empresas no que tange a qualificação da mão-de-obra local. Nenhuma das empresas absorveu formandos de cursos técnicos ou universitários, o que é condizente com a baixa importância atribuída a este tipo de qualificação da mão de obra local, como apontado na tabela 3.6. Para suprir a eventual necessidade desta mão-de-obra qualificada, houve por parte de apenas 24% das empresas a contratação, na maioria das vezes temporária, de técnicos ou engenheiros de outras empresas do arranjo. Igualmente condizente com os resultados da tabela anterior é a freqüência relativamente maior de treinamentos realizados dentro das empresas, que têm como principal fim a transmissão, para os novos empregados, do conhecimento prático ou técnico na produção, característica da mão-de-obra que é mais valorizada pelo empresariado local. No mais, foram realizadas em quatro ocasiões atividades de treinamento em cursos técnicos, sendo duas referentes a cursos de marketing oferecidos pelo SEBRAE local. Diante destes resultados pouco expressivos, levanta-se a dúvida sobre a real percepção dos empresários da necessidade de melhor qualificar sua mão-de-obra. Outras duas perguntas realizadas ao empresariado podem ajudar a trazer luz a esta questão. A primeira analisa as vantagens percebidas pelo empresariado por estarem localizados na região e a segunda refere-se aos fatores que eles consideram determinantes 65 para manter a capacidade competitiva na principal linha de produtos. Os itens relacionados à mão-de-obra nas duas perguntas são apresentados nas tabelas 3.8 e 3.9. Tabela 3.8 – Visão do empresariado quanto às vantagens relacionadas à mão-de-obra associadas a localização das empresas no arranjo (em % de respostas) Externalidades Disponibilidade de mão-de-obra qualificada Baixo custo da mão-de-obra Perguntas respondidas por 17 empresas Fonte: Pesquisa de campo Grau de importância Irrelevante baixa média 18 0 18 24 6 41 alta 64 29 Tabela 3.9 – Fatores relacionados à mão-de-obra considerados determinantes para a manutenção da capacidade competitiva na principal linha de produto (em % de respostas) Fatores Qualidade da mão-de-obra Custo da mão-de-obra Irrelevante 0 6 Grau de importância baixa média 0 12 24 29 alta 88 41 Perguntas respondidas por 17 empresas Fonte: Pesquisa de campo Diante do fato de a totalidade dos entrevistados atribuírem média ou alta importância à qualidade da mão-de-obra para a manutenção de sua capacidade competitiva e 82% destes verem a disponibilidade de mão-de-obra qualificada como uma vantagem local, pode-se concluir que haja uma relativa satisfação da maioria do empresariado com o grau de qualificação da mão-de-obra no arranjo. Tal satisfação, que justificaria o pouco empenho em atividades de treinamento, só se explica diante do baixo nível de conhecimentos que o empresariado exige de seus funcionários, como apontado na tabela 3.6. O baixo custo da mãode-obra é visto como de menor importância, dada a predileção por sua qualidade, embora 70% dos entrevistados vejam esse fator como uma vantagem de média ou alta importância da região. A baixa importância atribuída à qualificação dos empregados, o inexpressivo empenho em atividades de treinamento e capacitação são coerentes com a relativa satisfação do empresariado em relação ao nível de qualificação da mão-de-obra local. Esta postura evidencia em grande parte a desqualificação dos próprios empresários, atuando, em sua maioria, com técnicas e equipamentos há muito consagrados ou mesmo ultrapassados, que exigem pouca qualificação dos seus funcionários. 66 III.4.2 Infra-estrutura física A cidade de Teófilo Otoni é servida por uma satisfatória infra-estrutura física no que tange energia elétrica, telecomunicações e transportes. Quanto a áreas para instalação de indústrias a cidade ainda se mostra carente. Os dois últimos itens são aprofundados a seguir. A região de Teófilo Otoni se encontra servida por uma boa infra-estrutura de transporte. A região nordeste de Minas Gerais é servida por diversas rodovias. O eixo principal é a rodovia Rio-Bahia (BR-116) que atravessa as cidades de Governador Valadares e Teófilo Otoni e é cortada por outras três estradas federais, além de diversas estradas estaduais e municipais. A estrada de ferro Vitória-Minas que passa por Governador Valadares a 137 Km de Teófilo Otoni é um dos principais meios de escoação da produção da região pelo porto de Vitória no Espírito Santo. A cidade de Teófilo Otoni dispõe de um aeroporto e, segundo a GEA (1995), a cidade seria regularmente servida por vôos da Nordeste Linhas Aéreas. Porém, de acordo com o Secretário municipal de Indústria, Comércio e Turismo de Teófilo Otoni (comunicação pessoal, 29 de Outubro de 2003), até o ano de 2001 a cidade não era servida por nenhuma linha aérea. A parceria de empresários da cidade com a prefeitura possibilitou o funcionamento de um monomotor de três lugares ligando a cidade a Governador Valadares. Posteriormente, foi viabilizada uma linha aérea ligando Teófilo Otoni a Belo Horizonte com um avião Bandeirantes Bimotor de 12 lugares. São realizados vôos de segunda-feira a sextafeira com partida de Belo Horizonte às 8:00 hs e retorno ao final do dia. No ano de 2003, durante a realização da Feira Internacional de Pedras Preciosas – FIPP foram empregados dois vôos diários, dada a maior demanda. Quanto a áreas para instalação de indústrias, durante a primeira administração do atual prefeito foi criado em Teófilo Otoni um “pólo joalheiro” com a doação de terrenos para a instalação de indústrias e estabelecimentos comerciais. Porém, devido à sucessão política e conseqüente descontinuidade de políticas públicas, a área foi totalmente tomada por residências. A atual administração estuda a criação de um “Pólo Tecnológico”, onde seriam localizados o Centro de Educação Profissional de Gemas e Jóias e diversas indústrias ligadas a produção de gemas, além de criar uma área comercial no entorno. A visão do empresariado entrevistado na pesquisa de campo no que diz respeito às vantagens relacionadas à infra-estrutura física associadas à localização das empresas no arranjo é pouco otimista. A visão de que a infra-estrutura física é irrelevante enquanto vantagem local é compartilhada por 53% dos entrevistados. No mais, 12% atribuem a este quesito uma baixa importância, 23% lhe atribuem uma importância média e apenas 12% consideram a infra-estrutura física como uma vantagem local de alta importância. Apesar 67 desta postura descontente, não foi verificada nenhuma iniciativa por parte dos empresários do setor de gemas da cidade para suprir as eventuais carências ou para reivindicar possíveis melhorias. III.5 Infra-estrutura científico-tecnológica (C&T, P&D) A infra-estrutura tecnológica do arranjo e da região é bastante restrita. O município de Teófilo Otoni não conta, até o presente momento, com institutos de pesquisa ou instituições de ensaio, testes e certificações ou universidades voltadas às áreas de pesquisa relacionadas ao setor de gemas. Como mencionado no item III.4.1, as três faculdades situadas na cidade oferecem apenas cursos nas áreas de educação, de ciências sociais e de matemática. As referências mais próximas para o setor de gemas de Teófilo Otoni são as universidades localizadas nas cidades de Ouro Preto e Belo Horizonte. O arranjo de gemas de Teófilo Otoni tem se beneficiado ao longo dos anos da infraestrutura de ensino e pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais, da Universidade Estadual de Minas Gerais e da Universidade Federal de Ouro Preto nas áreas de geologia e engenharia de minas e suas especializações. Todas as três instituições estão envolvidas na coordenação e na execução do PROGEMAS. Destaque especial se dá à Escola de Minas da UFOP como importante centro de educação continuada na área de gemologia, onde são oferecidos cursos de especialização há mais de 20 anos. A estrutura modular do curso, com uma semana mensal de aula, possibilita o acesso de pessoas do arranjo sem que sejam comprometidas suas atividades profissionais. É grande a vocação de interação destas instituições com a região nordeste mineira, contribuído científica, tecnológica e socialmente para o seu desenvolvimento. Quanto ao setor de gemas, a sua recente atuação tem se concentrado nas atividades previstas no projeto PROGEMAS, descrito anteriormente. A Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais – CETEC, uma instituição pública, vinculada à Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia, tem atuado junto ao setor de gemas, igualmente, como agente integrante do PROGEMAS. A fundação atua como agente tecnológico para a consecução das políticas de governo e como centro de desenvolvimento de tecnologias limpas nas áreas de Tecnologia Mineral, Tecnologia Metalúrgica e de Materiais, Tecnologia de Alimentos, Tecnologia Ambiental, Metrologia e Ensaios, e Informação Tecnológica. O CETEM (Centro de Tecnologia Mineral), situado na cidade do Rio de Janeiro, subordinado o Ministério de Ciência e Tecnologia e vinculado ao CNPq (Centro Nacional de 68 Desenvolvimento Científico e Tecnológico), atua na pesquisa, no desenvolvimento e na adaptação de tecnologias adequadas aos recursos minerais brasileiros. No que diz respeito a centros de capacitação profissional e de assistência técnica, a atual carência pretende ser suprida pela instalação do Centro de Educação Profissional de Gemas e Jóias de Teófilo Otoni. Cabe ainda destacar a atuação do Serviço Geológico do Brasil - CPRM em convênio com a Secretaria Estadual de Minas e Energia do Estado de Minas Gerais, juntamente com a Companhia Mineradora de Minas Gerais - COMIG no Projeto Leste. O projeto resultou no levantamento topográfico e mapeamento geológico de uma área de 90.000 KM2 na escala 1:100.000, além de relatórios de petrografia/petrologia, de geologia estrutural e de gemas e pegmatitos. Este trabalho é importante subsídio para futuras atividades de pesquisa e de lavra das gemas da região. Resultados da pesquisa de campo apontam para a relativa valorização da questão tecnológica por parte dos empresários locais, mas também confirmam a carência de instituições de ciência e tecnologia nos limites do arranjo. No que diz respeito aos fatores determinantes para manter a capacidade competitiva na principal linha de produto, 41% dos entrevistados considera o nível tecnológico dos equipamentos e/ou processos de alta importância e 35% os considera de média importância. Por outro lado, 94% destes consideram que a proximidade com universidades e centros de pesquisa não representa nenhuma vantagem para a localização das empresas no arranjo. Estes dados sugerem que haja no arranjo uma demanda por serviços de tecnologia que não é atendida. Porém, perguntas referentes a fontes de informação para o aprendizado e a atividades cooperativas com universidades e instituições de pesquisa desmistificam esta visão. Enquanto fontes de informação para o aprendizado utilizadas nos últimos três anos, universidades são considerados irrelevantes por 76%, Institutos de pesquisa por 88%, centros de capacitação profissional por 94% e Instituições de ensaios testes e certificações por 88%. No que diz respeito a atividades cooperativas nos últimos três anos, apenas uma empresa apontou universidades e instituições de pesquisa como parceiros. A atuação das instituições envolvidas no PROGEMAS e a infra-estrutura da qual dispõe demonstra que, embora relativamente distante, existe uma infra-estrutura científica e tecnológica suficiente para atender a demanda das empresas do arranjo. Porém, a valorização da questão tecnológica por parte dos agentes do arranjo e a baixa interação destes com as instituições existentes leva a crer que a distância geográfica represente um significativo empecilho ou que não haja por parte das empresas do arranjo o conhecimento da infra- 69 estrutura da qual poderiam vir a dispor e das atividades realizadas pelas instituições citadas acima. III.6 Infra-estrutura de financiamento Nas diversas entrevistas realizadas na pesquisa de campo averiguou-se, que o arranjo produtivo não conta, até o momento, com nenhuma linha de crédito específica, tampouco com cooperativas de crédito. Quanto à infra-estrutura financeira existente no município, os dados da Relação Anual de Informações Sociais para o ano de 2001 apontam para a existência de dez (10) bancos com carteira comercial, duas (2) agências da Caixa Econômica Federal e três (3) cooperativas de crédito (Credito, Credivale e Unicred Três Vales), que são voltadas ao comércio em geral. Para suprir a carência por linhas de crédito específicas para o setor de gemas, algumas medidas estão sendo tomadas. É parte do programa do PROGEMAS a fundação de uma cooperativa de crédito do setor na cidade de Teófilo Otoni. O secretário de indústria, comércio e turismo de Teófilo Otoni informa, que há pouco mais de um ano a região passou a contar com o apoio do Banco do Nordeste do Brasil. O banco criou um fundo de aval, com previsão de funcionamento para o ano de 2004 e do qual o comércio de gemas poderá vir a se beneficiar. No mais, aguardam-se os novos critérios de funcionamento da SUDENE e a garantia de que a cidade de Teófilo Otoni disporá do FNE, o fundo do nordeste a taxas de 8,75% ao ano, igualmente voltado para o comércio. A inexistência de linhas de crédito voltadas ao setor se reflete nos resultados obtidos na pesquisa de campo. A totalidade do capital das empresas entrevistadas é de origem nacional, em sua maioria local, e de propriedade exclusiva dos sócios. Mesmo as eventuais atividades de inovação empreendidas tiveram exclusivamente como fonte de financiamento recursos próprios. A tabela 3.10 apresenta as principais dificuldades enfrentadas na operação das empresas referentes a custo ou falta de capital e utilização de empréstimos. Tabela 3.10 – Visão do empresariado quando a dificuldades na operação da empresa referentes a custo ou falta de capital e utilização de empréstimos (em % de respostas) Custo ou falta de capital de giro capital p/ aquisição de máquinas e equipamentos capital p/ aquisição/locação de instalações Pagamento de juros de empréstimos Perguntas respondidas por 17 empresas Fonte: Pesquisa de campo No primeiro ano de vida da Em 2002 empresa nula baixa média alta nula baixa média 23 6 12 59 6 12 23 47 6 6 41 41 18 6 59 0 0 41 52 0 24 75 0 6 19 75 6 0 alta 59 35 24 19 70 Como se verifica, o custo ou a falta de capital de giro é apontado pela maioria dos entrevistados como um fator de alta dificuldade, tanto no primeiro ano de vida da empresa quanto atualmente. As dificuldades referentes ao capital para a aquisição de máquinas e equipamentos e para a aquisição ou locação de instalações se mostram de menor peso, uma vez que o maquinário utilizado pelas empresas do arranjo é de baixo custo e a operação das empresas não demanda grandes espaços físicos, tampouco condições especiais. Estes dados são um reflexo das características do setor de lapidação de gemas onde o capital imobilizado representa apenas uma ínfima parte do capital total. Dentre os 75% dos entrevistados que afirmaram não enfrentarem dificuldades com o pagamento de empréstimos, todos justificaram esta posição devido ao fato de simplesmente não fazerem uso de empréstimos. Por outro lado, dos 25% que fizeram uso de empréstimos a grande maioria enfrentou no primeiro ano de vida da empresa e ainda enfrenta grande dificuldade para o seu pagamento, uma vez que tiveram que contar com empréstimos comuns em bancos comerciais. Os empresários do arranjo são unânimes em apontar, que a maior demanda por financiamento é para a formação de estoque. O fornecimento de pedras em bruto é irregular, ocorrendo às vezes grandes “derramas” de pedras. Com a grande oferta o preço cai, caracterizando-se, com isso, um momento oportuno para o investimento na formação de estoques. Entretanto, devido à falta de capital por parte dos empresários do setor lapidário local agentes estrangeiros, como mencionado no item III.1.3, acabam por adquirir a maioria das pedras brutas, uma vez que contam com subsídios de seus governos para a compra de pedras em bruto. Como resultado, não há a possibilidade, por parte das empresas do arranjo, de efetuarem um planejamento de fluxo de caixa a médio ou longo prazo, devido à inconstância do fornecimento da matéria prima e a falta de capital para a formação de estoque. Segundo o presidente da GEA, para sanar este problema, foi estudada a criação da “Bolsa Brasileira de Pedras Preciosas” em parceria do setor privado com o poder público, que teria o objetivo de regularizar o mercado. As pedras em estoque serviriam como lastro para a emissão de moeda na forma de empréstimo, que seria posteriormente quitado com a venda dos estoques. Porém, até o presente momento esta iniciativa não foi levada adiante. 71 CAPÍTULO IV – INOVAÇÃO, APRENDIZAGEM E COOPERAÇÃO NO ARRANJO IV.1 Inovação e atividades inovativas As empresas do arranjo caracterizam-se por uma inovatividade extremamente reduzida. Como se pode observar na tabela 4.1, as atividades de introdução de inovações se mostram muito limitadas em quase todos os itens investigados. Destaque positivo se dá somente a mudanças nos conceitos e/ou práticas de comercialização, onde 59% dos entrevistados despenderam algum esforço e, principalmente, a inovações no desenho de produtos, onde 74% se engajaram. Tabela 4.1 - Ação das empresas no período entre 2000 e 2003, quanto à introdução de inovações (em % de respostas) Inovações de produto Produto novo para a empresa, mas já existente no mercado Produto novo para o mercado nacional Produto novo para o mercado internacional Inovações de processo Processos tecnológicos novos para a empresa, mas já existentes no setor Processos tecnológicos novos para o setor de atuação Outros tipos de inovação Criação ou melhoria substancial, do ponto de vista tecnológico, do modo de acondicionamento de produtos (embalagem)? Inovações no desenho de produtos Realização de mudanças organizacionais (inovações organizacionais) Implementação de técnicas avançadas de gestão Implementação de significativas mudanças na estrutura organizacional Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de marketing Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de comercialização Novos métodos de gerenciamento, visando atender normas de certificação (ISO 9000, ISSO 14000...) Perguntas respondidas por 17 empresas Fonte: Pesquisa de campo Sim 18 12 29 Não 82 88 71 24 12 76 88 6 76 94 24 6 12 24 59 94 88 76 41 0 100 Como se pode observar, apenas uma percentagem reduzida introduziu novos produtos no mercado, no período 2000-2003. De fato, apenas 12 % das empresas entrevistadas introduziu produto novo para o mercado nacional, enquanto, 18% introduziram um produto novo para o mercado internacional. Mais ainda, estas inovações de produtos, se referem, em 72 sua totalidade, à introdução de novos tipos de gemas, conhecidas por geólogos e gemólogos, mas não pelo mercado, como a flourita azul. Este potencial de introdução de novas gemas se deve à grande variedade que pode ocorrer de um mesmo mineral em cada região de ocorrência, apresentando principalmente variações de cor e brilho. Assim, estas inovações, de fato, representam um esforço extremamente reduzido por parte das empresas no que se refere ao desenvolvimento tecnológico. Quanto à inovação de processo, apenas 24% das empresas se empenharam na introdução de processos tecnológicos novos para a empresa e apenas 12% na introdução de processos tecnológicos novos para o setor de atuação. As inovações de processo tecnológico constatadas se resumem a dois casos: • As introduções de processos novos para as empresas, mas já existentes no setor, se referem à aquisição de máquinas e equipamentos, como no caso de uma empresa, que introduziu um facetador semi-automático (sistema de catraca); • As duas ocorrências de introdução de processos novos para o setor de atuação dizem respeito a tratamentos físico-químicos para a modificação de características físicas das gemas e sua conseqüente valorização, tais como um processo de queima para a obtenção de quartzo bicolor e a esterilização com cobalto. O grande percentual de 76% referente a inovações no desenho de produtos se deve exclusivamente à introdução de novos tipos de lapidação das gemas. As possibilidades de inovação neste campo se mostram quase ilimitadas e dependem, até certo ponto, apenas da criatividade do lapidário. Ressalta-se uma nova forma de lapidação denominada “lapidação millenium”, criada pela maior empresa dessa amostra, que já ganhou destaque no mercado internacional. As mudanças na estrutura organizacional, empreendidas em 12% das empresas, e nos conceitos e/ou práticas de marketing, acusadas por 24%, não foram especificadas pelos entrevistados. As mudanças nos conceitos e/ou práticas de comercialização, empreendidas por 59% dos entrevistados, dizem respeito, na maioria dos casos, à inserção das empresas no mercado externo através da participação em feiras internacionais e, em um dos casos, à introdução de vendas virtuais através da internet. O quadro 4.2 demonstra que os maiores impactos positivos decorrentes da introdução de inovações são aqueles diretamente relacionados aos itens que se destacam no quadro 4.1: a introdução de novos produtos e formas de acabamento e as mudanças nas práticas de comercialização. 73 Tabela 4.2 - Avaliação do empresariado quanto aos impactos resultantes da introdução de inovações introduzidas durante os últimos três anos (em % de respostas) Fatores Grau de importância Irrelevante baixa média 53 13 7 7 0 26 33 0 7 Aumento da produtividade da empresa Ampliação da gama de produtos ofertados Aumento da qualidade dos produtos Permitiu que a empresa mantivesse a sua participação nos mercados de atuação Aumento da participação no mercado interno da empresa Aumento da participação no mercado externo da empresa Permitiu que a empresa abrisse novos mercados Permitiu a redução de custos do trabalho Permitiu a redução de custos de insumos Permitiu a redução do consumo de energia Permitiu o enquadramento em regulações e normas padrão relativas ao: - Mercado Interno - Mercado Externo Permitiu reduzir o impacto sobre o meio ambiente Perguntas respondidas por 15 empresas Fonte: Pesquisa de campo alta 27 67 60 7 7 0 13 80 80 100 13 20 13 0 13 0 0 13 20 20 13 0 7 0 67 53 67 74 7 13 0 87 87 100 0 0 0 0 0 0 13 13 0 Em primeiro lugar, destaca-se o impacto positivo resultante da introdução de novas gemas e novos tipos de lapidação, gerando para 67% dos entrevistados uma ampliação de alta importância da gama de produtos ofertados. Em segundo lugar, destacam-se os impactos positivos resultantes tanto da introdução de novos produtos e formas de acabamento como das mudanças nos conceitos e/ou práticas de comercialização, gerando para 67% dos entrevistados um impacto positivo de alta importância no que diz respeito à manutenção da participação no mercado de atuação, para 53% uma importante ampliação da participação das empresas no mercado interno e para 67% uma significativa ampliação do mercado externo. Contudo, o item melhor avaliado diz respeito à abertura de novos mercados, onde 74% dos entrevistados apontam impactos de alta importância. No que se refere aos impactos diretamente relacionados às inovações de processos tecnológicos – produtividade, redução de custos, impacto ambiental e consumo de energia – a esmagadora maioria não verificou nenhuma melhoria. A única exceção se dá no item referente à qualidade dos produtos, onde 67% dos entrevistados apontam ter havido um aumento de média ou alta importância. As empresas do arranjo caracterizam-se, também, por dar uma baixa importância às atividades que visam o desenvolvimento ou incorporação de novas tecnologias, conforme apresentado na tabela 4.3. 74 Tabela 4.3 - Atividades inovativas desenvolvidas pelas empresas no ano de 2003 (em % de respostas) Atividade Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) na empresa Aquisição externa de P&D Aquisição de máquinas e equipamentos que implicaram em significativas melhorias tecnológicas de produtos/processos ou que estão associados aos novos produtos/processos Aquisição de outras tecnologias (softwares, licenças ou acordos de transferência de tecnologias tais como patentes, marcas, segredos industriais) Projeto industrial ou desenho industrial associados à produtos/processos tecnologicamente novos ou significativamente melhorados Programas de treinamento orientados à introdução de produtos/processos tecnologicamente novos ou significativamente melhorados Programas de gestão da qualidade ou de modernização organizacional, tais como: qualidade total, reengenharia de processos administrativos, desverticalização do processo produtivo, métodos de “just in time”, etc. Novas formas de comercialização e distribuição para o mercado de produtos novos ou significativamente melhorados Perguntas respondidas por 17 empresas Fonte: Pesquisa de campo ñ desenv. 94 70 Freqüência rotineiramente ocasionalmente 0 6 6 24 59 29 12 82 12 6 82 12 6 76 18 6 94 6 0 47 29 24 Os dados acima explicitam o empenho quase que nulo das empresas entrevistadas nas atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D), uma vez que 94% destas não realizam esta atividade internamente. Salvo uma exceção, ocorreram apenas ocasionais apropriações de resultados de P&D externos à firma por parte de 24% das empresas. Apenas nas demais atividades inovativas houve algum esforço contínuo mesmo que reduzido, principalmente no que se refere à aquisição por parte de 29% das empresas de tecnologias já existentes e no que diz respeito à adoção de novas formas de comercialização e distribuição de produtos, empreendidas rotineiramente por 29% das empresas e ocasionalmente por 24%. De acordo com os entrevistados, para as atividades inovativas foram despendidos apenas recursos próprios, que representaram, em média, 13,6% do valor do faturamento das empresas no mesmo ano. De forma geral, nota-se um empenho muito restrito das empresas do arranjo no desenvolvimento de novos produtos e processos, se restringindo à adoção de tecnologias já existentes. O pequeno êxito no desenvolvimento de novos produtos se justifica pelas especificidades da matéria prima empregada no setor lapidário, dado que as gemas são bens minerais produzidos pela natureza cabendo ao homem apenas sua modificação. Porém, o 75 incipiente desempenho em inovações de processo e mudanças organizacionais explicita a postura conservadora e a falta de visão empreendedora da maior parte do empresariado, além de explicitar o atraso tecnológico das empresas do setor. IV.2 Dinâmica de aprendizagem interna à firma Os processos de aprendizagem interna à firma são praticamente inexistentes no negócio de lapidação de gemas de Teófilo Otoni. Uma vez adquiridos os conhecimentos práticos necessários, a atividade de lapidação é repetitiva, não sendo exigido nenhum tipo de melhoria da qualificação da mão-de-obra. Na maioria dos casos em que houve incorporação de novos equipamentos no ano de 2002, em geral, tratava-se de equipamentos idênticos ou semelhantes aos já existentes, pouco exigindo em termos de aprendizagem. Os dados apresentados no item III.4.1 explicitam o fraco empenho dos empresários do setor, no que tange à capacitação de sua mão-de-obra. A única atividade de capacitação com alguma representatividade é a de treinamento na empresa, praticada por 47% das empresas entrevistadas. Em geral, esta atividade de treinamento tem uma abrangência reduzida, uma vez que se destina somente a passar para os novos empregados o conhecimento técnico ou prático na produção, característica da mão-de-obra que é mais valorizada pelo empresariado local. As demais características valorizadas pelo empresariado local são aquelas não passíveis de serem transmitidas como um conhecimento codificado: disciplina, flexibilidade, criatividade e a capacidade para aprender novas qualificações. Quanto ao último ponto, é contraditório verificar que os empresários valorizem esta qualidade, mas não fomentem o aprendizado. No mais, a eventual contratação de técnicos/engenheiros de outras empresas do arranjo para suprir eventuais carências de mão-de-obra qualificada não gera nenhuma capacitação dos recursos humanos da empresa. As fontes de informação internas à firma utilizadas para o aprendizado são muito limitadas pelo fato de as empresas do setor de gemas do arranjo serem em sua maioria de micro-porte, sendo constituídas, em sua maioria, apenas pelos sócios proprietários e pelos empregados da produção. Não se verifica a existência de áreas de vendas, de marketing e de atendimento ao cliente, tampouco departamentos de pesquisa e desenvolvimento. Estas funções são, em geral, desempenhadas pelos próprios sócios proprietários. A despeito disto, os resultados obtidos na pesquisa de campo, referentes a fontes de informação para o aprendizado, são apresentados na tabela 4.4. Observe-se que os campos referentes à 76 formalização, para cada item, só foram respondidos por aqueles entrevistados que apontaram algum grau de importância para tal item. Tabela 4.4 – Fontes internas de informação para o aprendizado utilizadas nos anos de 2000 a 2002 (em % de respostas) Fontes Grau de Importância1 Formalização informal formal Irrelevante baixa média alta Departamento de P & D 88 6 0 6 502 Área de produção 35 0 24 41 203 Áreas de vendas e marketing, serviços de atendimento ao cliente 35 0 30 35 94 (1) Perguntas respondidas por 17 empresas (2) Perguntas respondidas por 2 empresas, que atribuem alguma importância ao item (3) Perguntas respondidas por 11 empresas, que atribuem alguma importância ao item (4) Perguntas respondidas por 11 empresas, que atribuem alguma importância ao item Fonte: Pesquisa de campo 502 803 914 Como fonte de informação de maior relevância para o aprendizado figura a área de produção das empresas, apontada por 65% dos empresários como sendo de média ou alta importância. Uma vez que as demais áreas, apontadas como fontes de informação, não existem na prática, a investigação da formalização da troca de informações perde seu sentido. De forma geral, as informações obtidas no desempenho das funções de venda, marketing e atendimento ao cliente são absorvidas apenas pelos sócios proprietários, não sendo, assim, caracterizado um processo de aprendizagem interno à firma. Conclui-se que a baixa qualificação gerencial do empresariado, no setor de gemas de Teófilo Otoni, conduz a uma situação em que o único processo relevante de aprendizagem interno à firma se dá na troca de informações com a mão-de-obra do setor produtivo. IV.3 Processos interativos para aprendizagem O grau de interatividade entre as empresas lapidárias de Teófilo Otoni e os demais agentes envolvidos com o setor é baixo e, em grande parte, a interação se limita a atividades comerciais. As atividades de cooperação das empresas do arranjo com demais agentes são apresentadas na tabela 4.5. Do total de 17 empresas abordadas na pesquisa de campo, 15 afirmaram terem desenvolvido algum tipo de cooperação com outros agentes, do arranjo e/ou fora deste. Porém, para 12 empresas a única forma de cooperação verificada consiste na 77 participação conjunta em feiras, enquanto que apenas três empresas apontaram, também, outros tipos de cooperação. Tabela 4.5 - Relações de cooperação das empresas do arranjo de gemas de Teófilo Otoni com demais agentes (em % de respostas) nenhuma Agentes Formas de cooperação Participação compra de Venda Obtenção de conjunta em insumos e conjunta de financiamento feiras equipamentos produtos 0 7 0 0 0 0 0 0 83 0 11 6 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 7 0 0 0 0 0 94 0 0 6 0 0 0 0 Fornecedores de insumos e equipamentos 93 Clientes 100 Concorrentes 0 Outras empresas do setor 100 Empresas de consultoria 100 Universidades e Institutos de Pesquisa 100 Agentes de Representação 93 Entidades Sindicais 100 Órgãos de apoio e promoção 0 Agentes financeiros 100 Perguntas respondidas por 17 empresas Obs: Ações conjuntas para Desenvolvimento de Produtos e processos, Design e estilo de Produtos, Capacitação de Recursos Humanos e apresentação de reivindicações não foram registradas Fonte: Pesquisa de campo Dentre as 15 empresas relevantes, 93% atribuem à participação conjunta em feiras, principalmente a Feira Internacional de Pedras Preciosas – FIPP, alta importância. Os principais parceiros nestas atividades são as empresas concorrentes, as quais 73% atribuem alta importância como parceiro, e órgãos de apoio e promoção, como a GEA, aos quais 60% atribuem alta importância. Para a maioria dos entrevistados a cooperação com estes agentes se dá de maneira formal: para 73% no caso de empresas concorrentes e 91% no caso dos órgãos de apoio e promoção. Nesta atividade, a esfera local apresenta grande relevância para as empresas, dado que a maioria dos parceiros está situada dentro do arranjo. No caso de órgãos de apoio e promoção, 100% são locais e no caso de concorrentes, 65% se situam no município, 9% no estado de Minas Gerais, outros 9% em outras regiões do Brasil e 17% no exterior. Além da participação conjunta em feiras, três empresas apontaram outros tipos de cooperação, listados a seguir: • Para uma empresa, a parceria formal com concorrentes e órgãos de apoio e promoção foi de alta importância na obtenção de financiamento. • Uma empresa aponta fornecedores de insumos, situados no arranjo, como parceiros de alta importância na atividade de compra de insumos e equipamentos 78 • Duas empresas afirmaram estarem envolvidas em atividades cooperativas na venda de produtos. Como parceiros formais e de alta importância nesta atividade, ambas citam as empresas concorrentes locais e uma faz menção a agentes locais de representação (neste caso a ACCOMPEDRAS). Os resultados positivos das diferentes formas de cooperação, discutidas acima, são muito limitados, como mostram os dados da tabela 4.6. De forma geral, estes se resumem aos resultados diretamente relacionados à participação conjunta em feiras. Tabela 4.6 – Avaliação do empresariado quanto aos resultados das diferentes formas de cooperação com agentes locais (em % de respostas) Descrição Melhoria na qualidade dos produtos Desenvolvimento de novos produtos Melhoria nos processos produtivos Introdução de inovações organizacionais Melhoria nas condições de fornecimento dos produtos Melhor capacitação de recursos humanos Grau de importância Irrelevante baixa média alta 100 0 0 0 100 0 0 0 100 0 0 0 100 86 0 7 0 0 0 7 80 0 20 0 Melhoria nas condições de comercialização 0 7 47 47 Novas oportunidades de negócios 7 0 26 67 Promoção de nome/marca da empresa no mercado nacional 93 0 7 0 53 7 0 Perguntas respondidas pelas 15 empresas que apontaram a participação em algum tipo de cooperação Fonte: Pesquisa de campo 40 Maior inserção da empresa no mercado externo É compreensível que não tenha havido resultados positivos no que se refere aos quatro primeiros itens, apontados unanimemente como irrelevantes, uma vez que não foram realizadas atividades cooperativas que os possibilitasse. Os resultados positivos de maior relevância para os empresários do setor se referem à criação de novas oportunidades de negócio e à melhoria nas condições de comercialização, itens aos quais 93% dos entrevistados atribuem importância média ou alta. Apenas 47% sentiram algum resultado positivo referente à maior inserção no mercado externo. Os únicos dois casos de melhoria nas condições de fornecimento dos produtos foram citados pelas duas empresas que empreenderam atividades cooperativas de venda conjunta de produtos. No que tange à troca de informações entre as empresas do setor de gemas de Teófilo Otoni e demais agentes, verifica-se um grau de interação maior do que nas atividades de cooperação, porém também reduzido, como mostram os dados da tabela 4.7. 79 Tabela 4.7 – Fontes de informação para o aprendizado utilizadas durante os últimos três anos, 2000 a 2002 (em % de respostas) Grau de Importância Irrelevante baixa média Fontes Externas Fornecedores de insumos (equipamentos, materiais, etc) 47 6 6 Clientes 0 0 18 Concorrentes 47 0 12 Outras empresas do Setor 59 0 18 Empresas de consultoria 88 0 6 Universidades e Outros Institutos de Pesquisa Universidades 76 6 6 Institutos de Pesquisa 88 0 0 Centros de capacitação profissional, de assistência técnica e de manutenção 94 0 6 Instituições de testes, ensaios e certificações 88 0 0 Outras fontes de informação Conferências, Seminários, Cursos e Publicações Especializadas 47 0 18 Feiras, Exibições e Lojas 6 0 6 Encontros de Lazer (Clubes, Restaurantes, etc) 65 12 17 Associações empresariais 24 0 24 Informações de rede baseadas na internet ou computador 70 12 6 Obs.: Empresas associadas (joint venture) e Licenças, patentes e “know-how” não foram citados por nenhum dos entrevistados como fontes de informação Perguntas respondidas por 17 empresas Fonte: Pesquisa de campo alta 41 82 41 23 6 12 12 0 12 35 88 6 52 12 Verifica-se que as principais fontes de informação para o aprendizado são os clientes, tidos por 82% como de alta importância, as feiras e exibições, relevantes para 88%, e as associações empresariais, apontadas por 76% dos empresários. As duas principais feiras são realizadas pelas associações empresariais locais e é justamente nestas feiras onde há uma grande aproximação entre os empresários e seus clientes. Quanto aos agentes empresarias, verifica-se uma interação razoável com os concorrentes e com os fornecedores de insumos e equipamentos, em ambos os casos por parte de 53% das empresas, e uma interação baixa com as demais empresas ligadas ao setor, consideradas irrelevantes por 59% dos entrevistados. A troca de informações com universidades e outras instituições de pesquisa se mostra praticamente inexistente, sendo considerada por mais de 70% dos empresários como fontes de informação irrelevantes. Os poucos casos de interação registrados se deram com instituições localizadas fora do arranjo, principalmente em São Paulo e Belo Horizonte. Cabe analisar a importância atribuída à esfera local enquanto fonte de informação para o aprendizado. Para dar luz a esta questão, a tabela 4.8 apresenta a localização dos principais agentes destacados acima. 80 Tabela 4.8 – Localização dos principais agentes na troca de informações para o aprendizado (em % de respostas) Localização Nº de empresas respondentes 1 Teófilo Otoni Minas Gerais Brasil Exterior Fornecedores de insumos (equipamentos, materiais, etc.) 9 54 23 15 8 Clientes 17 18 7 29 46 Concorrentes 9 75 8 8 8 Feiras, Exibições e Lojas 16 50 10 17 23 Associações empresariais locais 13 72 17 6 6 (1) Número de respondentes varia de acordo com o número de empresas que atribuem a cada agente algum grau de importância como fonte de informações Fonte: Pesquisa de campo Os dados acima refletem claramente as características do arranjo e a dinâmica do negócio de gemas de Teófilo Otoni, com a vocação natural da região e o direcionamento para o mercado externo. Enquanto que os fornecedores de insumos (com 54%), concorrentes (com 75%) e associações empresariais (com 72%) estão em sua maior parte situada no arranjo ou na região, a maioria dos clientes está situada fora do arranjo, sendo a maior parcela a de estrangeiros, com 46% do total, e em segundo lugar a de pessoas de outras unidades da federação, com 29%. O potencial de mobilização das feiras realizadas anualmente na cidade é evidenciado pelo fato de a maior parcela da troca de informações se dar localmente, apesar de a maior parte dos clientes terem sua origem externa ao arranjo. IV.4 Extensão e impactos dos processos inovativos e interativos Os dados apresentados nos itens 4.2 e 4.3, comprovam que, tanto os processos de aprendizagem interna a firma, quanto os processos de interação e cooperação para o aprendizado são limitados, havendo grande desempenho apenas em algumas poucas atividades. Com isso, a possibilidade de obtenção de vantagens comparativas dinâmicas, através da introdução de inovações e da promoção da capacitação tecnológica, é igualmente limitada. A forma como se dão os principais processos interativos apresenta uma relação direta com as principais formas de inovação empreendidas pelas empresas do arranjo. Por um lado, como reflexo direto da falta de interação com órgãos de ensino e de pesquisa, verifica-se um baixo grau de inovações de processos e um relativo atraso tecnológico. Por outro lado, as empresas se mostram focadas principalmente no mercado consumidor, empreendendo, com 81 grande intensidade, inovações de produto e principalmente de seu desenho e mudanças nas práticas de comercialização. A concentração de empresas do setor de gemas no arranjo tem gerado poucos benefícios no que tange à capacitação tecnológica das empresas. Desde sua origem, o setor de gemas de Teófilo Otoni tem contado fundamentalmente com vantagens comparativas estáticas para seu desenvolvimento, tais como a riqueza do subsolo da região e a cultura lapidária instalada na cidade. Devido às dificuldades que as empresas do arranjo têm enfrentado a partir do início dos anos 90 e objetivando a retomada do espaço de projeção do arranjo no mercado mundial, algum esforço tem sido despendido, principalmente pelas associações empresariais locais em parceria com a prefeitura municipal, no sentido de criar vantagens comparativas dinâmicas. Porém, o efeito multiplicador destes esforços tem sido limitado pela falta de interação entre esses órgãos e os potenciais beneficiados e pela falta de engajamento do empresariado local, que se pode creditar, em parte, à sua baixa qualificação gerencial e, em parte, à sua desinformação. Prova disto é o desconhecimento, por parte da maioria dos entrevistados, de importantes ações que estão sendo desenvolvidas para o fomento do arranjo, como a criação de um centro de capacitação profissional e as diversas ações previstas no projeto PROGEMAS. 82 CAPÍTULO V – POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO ARRANJO A comparação entre as ações públicas em diversos países, que experimentaram uma rápida expansão na produção e exportação de gemas, e os esforços que vêm sendo despendidos no Brasil, contribui para apontar a importância da esfera pública no fomento e na reestruturação da produção de gemas. A literatura disponível não fornece um aprofundamento sobre o amplo leque de políticas que vieram a contribuir para o desenvolvimento da produção de gemas nos países que atualmente se destacam, tais como políticas de crédito, educação, tecnologia, regulação, etc. No caso brasileiro, verificam-se alguns esforços recentes no sentido de promover uma melhor estruturação e regulação da atividade. Porém, políticas verticais voltadas às áreas de tecnologia, de educação e, principalmente, de crédito ainda se mostram inexistentes. Tais esforços fragmentados, embora benéficos, não têm sido capazes de estabelecer uma capacidade competitiva sólida na atividade de produção de gemas. A discussão das recentes políticas direcionadas à produção de gemas de forma ampla e aquelas direcionadas ao arranjo produtivo de Teófilo Otoni, por serem inter-relacionadas, é aprofundada no item V.2. Entre diversos autores, que buscam avaliar os determinantes para o sucesso de alguns países na atividade de produção de gemas, observa-se a ênfase dada às questões de adequação fiscal e tributária, com a simplificação de procedimentos e a redução de carga tributária. Estes fatores são tidos como condição prévia essencial para o êxito de programas de desenvolvimento e para a integração de toda sua cadeia produtiva. Sugere-se, portanto, um aprofundamento sobre estas questões, buscando elucidar o entrave que representa a estrutura fiscal e tributária no caso brasileiro. V.1 Políticas fiscal e tributária O exemplo mais expressivo e recente de sucesso no setor é o da Tailândia, cujas exportações de gemas e jóias passaram de US$ 156 milhões, em 1982, para cerca de US$ 2 bilhões, em 1993 (IBGM, 1995). A partir de um consenso estabelecido entre o governo deste país e os agentes envolvidos no setor, foi dada ao setor de gemas, no ano de 1982, prioridade 83 nas políticas de desenvolvimento industrial. Esta prioridade fundamentou-se no reconhecimento, por parte do governo local, da importância do setor de gemas para a promoção do desenvolvimento econômico e social. A “Lei de Promoção de Investimentos”, criada em 1982, estabeleceu a isenção fiscal para empresas importadoras de pedras em bruto, lapidadas e de ouro, como estímulo à consolidação da indústria de beneficiamento de gemas em toda sua cadeia (lapidação, joalheria, bijuteria e artesanato). Outras mudanças instituídas com a referida lei foram a redução para 5% da alíquota de importação de máquinas e equipamentos e o fortalecimento do mercado doméstico com a redução dos impostos para uma carga total de 12% (Pereira, 2001). Nos anos subseqüentes, além de investimentos estrangeiros dos EUA, Alemanha e Hong Kong, verificou-se um intensivo investimento, por parte das empresas locais, nas áreas de capacitação profissional, adequação tecnológica, qualidade e marketing. Estes investimentos contaram com o explícito apoio do governo local e se mostraram fundamentais para a preservação da competitividade do setor no mercado mundial, em face da tendência de elevação do custo da mão-de-obra local. Outro aspecto que espelha o desempenho do setor na Tailândia é a construção de três grandes centros de comercialização e a criação da “cidade das gemas”, que abriga mais de 40 fábricas, residências para cerca 20.000 trabalhadores e dois prédios de escritórios para a comercialização. O exemplo da Tailândia e de outros países, como Israel, Índia, Coréia do Sul e China, que experimentaram, de forma geral, a desoneração da importação e exportação de gemas brutas e lapidadas de metais preciosos e a reduzida tributação sobre artigos de joalheria, aponta a adequação da estrutura fiscal e tributária, como característica comum e imprescindível para o sucesso do setor de gemas nestes países. No caso brasileiro, existe entre os diversos autores que tratam da produção de gemas um consenso quanto ao empecilho que representa a questão tributária para o seu desenvolvimento. A incorporação do antigo IUM – Imposto Único sobre Minerais, com alíquota de 1%, pelo ICMS em 1988 tem sido o maior motivo da grande clandestinidade ou informalidade vigente no setor. As diferenças existentes entre as alíquotas de ICMS nos diversos estados estimulam as transferências fictícias entre estados e induzem à clandestinidade naqueles de maiores alíquotas. Dado que mais de 90% da produção da indústria de gemas é destinada ao mercado externo e, portanto, não deveria ser taxada, a estrutura tributária se mostra inconsistente, pois esta parcela da produção é taxada duas vezes, na compra de matéria prima e na exportação. No segundo caso, a taxação se dá pelo fato de a 84 gema ser considerada um produto semi-elaborado. O quadro 2.4 apresenta a atual estrutura tributária vigente. Quadro 2.4 - Tributos e alíquotas aplicáveis ao setor de gemas IPI PIS e COFINS Isento 2,65% Pedra Lapidada 2,6% (1%1) 12% 18% Isento Artigos de Joalheria Isento 12% 17% ² 20% Fonte: Calaes, 1995; IBGM, 1995 Notas: ¹ BA, MT, RR, MG e PR ² MG :18%, Sul/Sudeste: 12%, Norte/Nordeste: 9%, Amazonas: 7,2% 2,65% 2,65% Exportação Pedra Bruta ICMS Operações Interestaduais Operações internas 12% 18% 2,6% (1%1) O setor de gemas é um caso específico no qual a redução da carga tributária gera um aumento de arrecadação. Isto pode ser comprovado pela experiência emblemática da tributação vigente entre 1974 e 1980, com uma carga tributaria muito inferior à atual. No âmbito do IPI experimentou-se uma redução das alíquotas para manufaturados e isenção para as matérias-primas e, no âmbito do ICM, vigorou a isenção para pedras em bruto e lapidadas, além de uma redução da alíquota para artefatos em geral. O resultado favorável se expressou no período pelo aumento de 30,5% da arrecadação de ICM, de 28,2% da arrecadação de IPI, de 35,6% do faturamento das empresas, de 17,3% do número de empregados, de 25,7% dos salários pagos e de 27,6% de recolhimentos previdenciários (Calaes, 1995). A experiência descrita acima representa uma aplicação prática da “curva de Laffer”. Esta construção teórica sugere a existência de um ponto ótimo das alíquotas que maximizaria a receita tributária do estado. Alíquotas superiores seriam contraproducentes, pois produzem uma evasão e/ou um desestímulo às atividades formais que superam o aumento de alíquota, gerando uma perda de receita (Giambiagi & Além, 2000). A experiência da estrutura tributária vigente entre 1974 e 1980, demonstra claramente como a carga tributária aplicada ao setor de gemas é contraproducente, e de forma geral é superior ao referido ponto ótimo. O tratamento tributário dado à produção de gemas no Brasil é incongruente com suas características específicas. Calaes (1995) sugere os conceitos relevantes que deveriam nortear o tratamento fiscal dispensado ao setor: 1. Gemas não se podem sujeitar ao mesmo tratamento fiscal de produtos supérfluos, nem de primeira necessidade. As gemas são bens duráveis, reserva de valor e, como tais, devem ter o tratamento aproximado ao de ativos financeiros; 85 2. As gemas têm características de valores mobiliários de reduzido volume e alto valor específico. Por isso, uma tributação elevada estimula a clandestinidade; 3. Os dispositivos de ordem fiscal constituem-se no principal mecanismo de estímulo para a redução da clandestinidade e para o fortalecimento de toda cadeia do setor de gemas. Isto demonstra como um sistema ágil e prático, em termos administrativos, e baixas alíquotas de imposto são fundamentais para que haja uma razoável regularização fiscal da produção de gemas. As tendências vigentes nos países que vêm se destacando no mercado mundial de gemas, que isentam as importações e exportações de gemas de impostos e ainda oferecem subsídio para tais operações, confirmam tal visão e apontam para a necessidade de uma mudança na estrutura fiscal e tributária brasileira. V.2 Políticas públicas voltadas à produção de gemas e ao arranjo V.2.1 Ação recente A presença de órgãos do poder público no arranjo se faz sentir através de ações e políticas públicas oriundas de todas as esferas de governo, como é detalhado a seguir. A prefeitura municipal de Teófilo Otoni tem se mostrada ativa e engajada no fomento e na valorização do setor gemas da cidade, explicitando o efetivo empenho de contribuir para que o setor retome seu lugar de destaque no cenário internacional. O título de “capital mundial das pedras preciosas”, criado pela atual administração municipal e que a mesma busca difundir, está inserido no empenho de reafirmar a cidade como um pólo do setor e de fomentar a vinda, principalmente, do público estrangeiro para a cidade, através do fomento do comércio e do turismo. Neste sentido, a prefeitura tem sido parceira constante das associações empresariais locais na realização das feiras anuais (FIPP e Feira Livre de Pedras Preciosas), além de fomentar missões empresariais para conhecer e participar de outras feiras internacionais. Dentre as ações voltadas para a infra-estrutura física destacam-se o empenho na introdução de uma linha aérea regular e o projeto de criação de um pólo industrial com a doação de terrenos, o que ainda não foi realizado. Verifica-se uma busca de cooperação da prefeitura com as demais esferas de poder em ações voltadas ao setor de gemas. Como um dos resultados deste esforço de coordenação, junto à Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia de Minas Gerais e ao SENAI, expressam-se as ações que estão sendo desenvolvidas no âmbito do PROJEMAS, descrito 86 acima, como a criação do “Centro de Educação Profissional em Gemas e Jóias de Teófilo Otoni”. A prefeitura tem buscado um diálogo com a esfera federal, principalmente com o Ministério de Minas e Energia, para discutir os diferentes gargalos que inibem o desenvolvimento do setor, destacando-se um seminário realizado na cidade de Belo Horizonte para o debate em torno de gargalos de ordem fiscal e da legislação ambiental e de exploração mineral. Dentre as ações oriundas do poder público federal, destacam-se projetos de pesquisa, que visam dar subsídios para ações concretas futuras, tais como: o Projeto de Caracterização de Arranjos Produtivos de Base Mineral do CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos) do Ministério de Ciência e Tecnologia, financiado pelo CNPQ (Conselho Nacional de Pesquisas); e o Projeto Leste realizado pelo serviço Geológico do Brasil – CPRM (órgão subordinado ao Ministério de Minas e Energia), em parceria com o governo do estado de Minas Gerais, através da COMIG – Companhia Mineradora de Minas Gerais. O Projeto de Caracterização de Arranjos Produtivos de Base Mineral está inserido na visão, por parte do governo federal, de que o segmento não-metálico é o de resposta mais rápida a políticas públicas, como abordado acima. Dentro desta visão, a Secretaria de Minas e Metalurgia, do Ministério de Minas e Energia, busca promover a flexibilização do código de mineração, dado que se reconhece a inadequação da atual legislação para setores como os de argila, brita, granito e gemas, além de criar mecanismos de crédito voltados para a micro e pequena mineração. Outro ponto que tem recebido atenção é a necessidade de modernização do DNPM, uma vez que se verifica uma ineficiência na análise de relatórios de pedidos de lavra, devido à falta de pessoal e devido ao fato de os diversos escritórios estaduais não serem interligados, o que obriga a análise manual dos processos. Busca-se, com tais ações, reposicionar a Secretaria de Minas e Metalurgia como interlocutor e formulador de políticas para o setor mineral. Cabe ainda mencionar o “Programa de Desenvolvimento Integrado e Sustentável da Mesorregião do Vale do Jequitinhonha e do Mucuri”, desenvolvido pela Secretaria de Programas Regionais do Ministério da Integração Nacional. O projeto tem como objetivo implantar um modelo de gestão para o desenvolvimento sustentável da macrorregião do Vale do Jequitinhonha/Mucuri, por meio de instrumentos que assegurem o fortalecimento da base econômica local, a inclusão social crescente e o manejo sustentável dos recursos naturais. Dentre as principais ações deste programa constam: Capacitação de recursos humanos para a gestão do desenvolvimento local e integrado; 87 Gerenciamento da implementação de projetos para o desenvolvimento sustentável; Implementação do planejamento para o desenvolvimento sustentável; Mobilização de comunidades mediante o associativismo e o cooperativismo; Realização de fórum de desenvolvimento local integrado e sustentável. Até o momento, as ações deste programa não abrangeram o arranjo produtivo de Teófilo Otoni e se fazem sentir apenas em municípios da mesorregião do Jequitinhonha, como, por exemplo, em projetos de qualificação da mão-de-obra envolvida na atividade garimpeira. Quanto aos órgãos de controle ambiental (Polícia Florestal, IBAMA, IEP e FEAM), como apontado por órgãos representativos do setor, não tem havido nenhum esforço no sentido de promover a conscientização quanto à necessidade e à importância da adequação à legislação ambiental, e sim, apenas uma ação punitiva. A última contribuição significativa do SEBRAE local, para o setor de gemas da região, foi a parceria com a GEA na realização do “Diagnóstico Setorial [do setor de] Gemas e Jóias do Nordeste do Estado de Minas Gerais”, no ano de 1995. No mais, embora atuante junto a outros setores produtivos da microrregião administrativa de Teófilo Otoni, nos últimos anos, o SEBRAE tem se mostrado distanciado do setor de gemas. Uma busca de reaproximação tem se dado, recentemente, com a visita à FIPP do gestor do SEBRAE responsável pela macrorregião, que engloba os núcleos microrregionais do nordeste mineiro, como o de Teófilo Otoni. O gestor da microrregião de Teófilo Otoni espera, que esta reaproximação possibilitará a troca de informações com os agentes envolvidos no setor, para que se possa definir como o SEBRAE poderia atuar junto ao setor. É curioso verificar, que em anos de presença na cidade de Teófilo Otoni, o SEBRAE local não saiba como atuar junto ao setor de gemas da cidade, o que pode se dever à falta de interesse do órgão pelo setor ou à ausência de qualquer tipo de interação entre este órgãos e os demais agentes envolvidos no arranjo. V.2.2 A percepção do empresariado local quanto às políticas Os resultados da pesquisa de campo refletem, em parte, os fatos descritos acima e, em maior peso, o desconhecimento por parte do empresariado do arranjo das diversas ações empreendidas pelo setor público, como mostra a tabela 5.1 e 5.2. 88 Tabela 5.1 – Participação e/ou conhecimento de programas ou ações específicas para o segmento de gemas, promovido pelos diferentes âmbitos de governo e/ou instituições (em % de respostas) Instituição/esfera governamental Não tem conhecimento Conhece, mas não participa Governo federal 59 18 Governo estadual 76 18 Governo local/municipal 35 41 SEBRAE 35 41 Perguntas respondidas por 17 empresas Fonte: Pesquisa de campo Conhece e participa 24 6 24 24 Tabela 5.2 – Avaliação dos programas ou ações específicas para o segmento de gemas, promovido pelos diferentes âmbitos de governo e/ou instituições (em % de respostas) Instituição/esfera governamental Avaliação positiva Governo federal 18 Governo estadual 12 Governo local/municipal 59 SEBRAE 35 Perguntas respondidas por 17 empresas Fonte: Pesquisa de campo Avaliação negativa 41 47 18 12 Sem elementos para avaliação 41 41 24 53 Os dados demonstram, que a maioria dos empresários entrevistados, desconhece programas ou ações oriundas do governo estadual (76%) e federal (59%). Por outro lado, 65% dos entrevistados tem conhecimento de ações da prefeitura e do SEBRAE local. Cabe ressaltar, que a maioria dos empresários que apresentaram conhecimento de ações por parte do SEBRAE local, se referiam, equivocadamente, não a ações específicas ao setor de gemas, mas sim, às atividades e cursos oferecidos rotineiramente por este órgão. A maioria dos que afirmam participar de programas do governo federal, se refere ao programa de incentivo às exportações desenvolvido pela APEX (Agência de Promoção de Exportações do Brasil). As avaliações da atuação das diferentes esferas de governo junto ao setor refletem o descontentamento da maioria do empresariado, tanto com o governo federal, avaliado positivamente por apenas 18% dos empresários, como com o estadual, com o qual apenas 12% apresentam contentamento. O único órgão que recebeu uma avaliação majoritariamente positiva, por parte de 59% dos entrevistados, é a prefeitura municipal. A importância, que sugerem estes dados, da esfera local na promoção do setor, é desmistificada frente à irrelevância apontada por 70% do empresariado no que diz respeito às vantagens relacionadas à localização no arranjo devido à existência de programas de apoio e promoção. Conclui-se, que, embora haja uma boa receptividade de ações individuais oriundas da administração local, as ações de apoio e promoção, de forma geral, se mostram fragmentadas e incapazes de alavancar o desenvolvimento do arranjo. 89 Cabe então, analisar quais são, na visão do empresariado, as principais carências do setor que poderiam ser supridas por ações e programas de órgãos públicos. Os dados da tabela 5.3 apresentam a visão do empresariado do arranjo quanto às políticas públicas desejáveis para promover o setor. Tabela 5.3 – Visão do empresariado quanto às políticas públicas que poderiam contribuir para o aumento da eficiência competitiva das empresas do arranjo (em % de respostas) Ações de Política Programas de capacitação profissional e treinamento técnico Melhorias na educação básica Programas de apoio a consultoria técnica Estímulos à oferta de serviços tecnológicos Programas de acesso à informação (produção, tecnologia, mercados, geologia, etc.) Linhas de crédito e outras formas de financiamento Incentivos fiscais Políticas de fundo de aval Programas de estímulo ao investimento (venture capital) Perguntas respondidas por 17 empresas Fonte: Pesquisa de campo Irrelevante 6 0 0 6 0 0 0 29 0 Grau de importância baixa média 0 24 0 41 0 29 0 24 6 6 0 12 0 24 12 24 6 18 alta 71 59 71 71 71 82 76 53 82 Nota-se que a maior demanda do setor está diretamente relacionado à necessidade de capital de giro e para a formação de estoques. A criação de linhas de crédito e outras formas de financiamento e programas de estímulo ao investimento são considerados de alta importância por 82% dos empresários. Incentivos fiscais se mostram importantes para 76% do empresariado. Tal resultado espelha claramente a ausência de uma política de financiamento voltada à produção de gemas, como também a inexistência de linhas de crédito adequadas, como discutido no item III.6. A grande valorização de programas de capacitação profissional e treinamento técnico, por parte de 71% dos entrevistados, e de melhoria na educação básica, por parte de 59%, contrastam com o baixo empenho dos empresários locais de promoveram este fator, como descrito no item III.4.1. Os pontos relacionados à ampliação de conhecimentos científicos e tecnológicos, embora bem avaliados por 71% do empresariado, contrastam com o baixo esforço dos empresários do setor no sentido de buscarem uma maior interação com as instituições já existentes e atuantes junto ao setor, tais como centros de pesquisa e universidades, e que podem contribuir significativamente com a ampliação do conhecimento científico e tecnológico das empresas do arranjo. O contraste entre as grandes expectativas do empresariado, expressas nos dados acima, e o seu baixo empenho em buscar suprir estas carências, explicita a posição passiva do 90 empresariado local, que espera ver as carências do setor serem supridas por ações e políticas públicas. Por outro lado, não se pode descartar a hipótese de que tal posição passiva decorra do fato de as ações sugeridas e implementadas não serem adequadas às necessidades primeiras dos agentes produtivos do arranjo. Além disto, a falta de conhecimento de diferentes ações que estão sendo implementadas pelas três esferas do poder público em parceria com diversos órgãos, explicita a falta de interação existente entre os diferentes agentes envolvidos no arranjo produtivo de gemas de Teófilo Otoni. Em parte, a falta de interação pode ser explicada pela deficiente comunicação dos agentes de promoção com as empresas e pelo sentimento de insegurança e desconfiança regente entre as diferentes empresas do arranjo, o que acaba por inibir a troca de informações e a cooperação entre os agentes locais na busca de possíveis melhorias para o arranjo. 91 CONCLUSÃO O arranjo produtivo de gemas de Teófilo Otoni tem perdido gradativamente seu potencial competitivo, não se adequando às novas demandas estabelecidas pelo mercado mundial de gemas, pautado crescentemente na produção em escala de gemas calibradas para a montagem em jóias padronizadas. De forma geral pode-se definir três planos distintos que contribuem para este quadro: dispositivos de ordem legal; fatores infra-estruturais e a atuação dos agentes do segmento empresarial. De forma geral, o primeiro ponto diz respeito à produção de gemas em todo o Brasil. A inadequação da legislação de exploração mineral à atividade de extração de gemas se soma à postura puramente punitiva dos órgãos de fiscalização ambiental, desencorajando a atividade garimpeira e, conseqüentemente, reduzindo a oferta de pedras brutas para o segmento de beneficiamento. As dificuldades de ordem burocrática para a regularização do produto da lavra e das exportações e/ou a falta de capacitação dos órgãos responsáveis geram altos custos de transação em toda a cadeia produtiva e acabam por fomentar o alto grau de informalidade verificado no setor. Outro fator, que contribui tanto para o desestimulo quanto para a informalidade na cadeia produtiva de gemas, é a estrutura tributária aplicada a esta atividade. A incidência de altas taxas de ICMS sobre a circulação interna em cada etapa da cadeia produtiva, por um lado desencoraja a formalização destes fluxos internos, tornando a arrecadação do setor irrisória e, por outro lado, estimula a exportação de gemas em bruto sem que se agregue valor internamente. Quanto ao segundo ponto, destaca-se a relativa falta de infra-estrutura científica e tecnológica e de qualificação profissional nos limites do arranjo e a inexistência de uma infraestrutura de financiamento que valorize a atividade de beneficiamento e a agregação de valor. Em um raio superior a 250 Km em torno do arranjo constata-se a inexistência de universidades, institutos de pesquisa e instituições de testes, ensaios e certificações direcionadas à extração e ao beneficiamento de gemas. Infelizmente, as iniciativas na área de qualificação profissional, principalmente vinculadas a projetos de fomento da atividade produtiva de gemas no nordeste mineiro, são muito recentes e não podem ser avaliadas. Estes fatos se refletem no emprego de técnicas produtivas rudimentares e tecnologicamente defasadas, não adaptadas ás exigências do mercado internacional, focado na produção em massa de gemas calibradas. 92 A inexistência de uma infra-estrutura de financiamento se reflete diretamente nas dificuldades enfrentadas pelas empresas para a aquisição de matéria prima (a gema bruta) e para a formação de estoques. Dado o fluxo descontínuo de produção destas pedras brutas e a concorrência de agentes externos, que contam com incentivos para a aquisição das gemas brutas, torna-se inviável, por parte das empresas do arranjo, a execução de um planejamento de longo prazo aliada a uma estratégia de crescimento e agregação de valor. As embrionárias iniciativas de criação de cooperativas de crédito não respondem as necessidades do setor, devido às altas somas requeridas para capital de giro e formação de estoques. Quanto ao terceiro ponto, verifica-se uma relativa desqualificação do empresariado local, que se expressa diretamente nas estratégias e formas de gestão empregadas pelas empresas. A expressão mais clara disto está no emprego de tecnologias defasadas e na repetição exaustiva de técnicas de produção e organização ultrapassadas. A inexistência de uma infra-estrutura de C&T adequada no arranjo não justifica totalmente este quadro. Em parte, este se deve aos esforços inexpressivos por parte dos empresários locais na busca de interação com universidades e instituições de pesquisa localizadas fora do arranjo, algumas atuantes em projetos de promoção deste. A baixa qualificação da mão-de-obra nas empresas do arranjo é, em parte, reflexo da baixa importância atribuída pelos empresários a esta questão e, conseqüentemente, de seu esforço insipiente na promoção de atividades de qualificação, dentro e fora da firma. Outra característica do empresariado local é sua postura conservadora e isolada, o que implica em um baixo grau de interação entre os agentes e em esforços inovativos fragmentados. Os poucos vínculos existentes entre as empresas do arranjo, tanto de subcontratação quanto de cooperação, estão focados quase que exclusivamente na compra de insumos e na participação conjunta em feiras comerciais. Conseqüentemente, não são construídas vantagens competitivas dinâmicas consistentes, pautadas na aprendizagem e na capacitação produtiva e inovativa. Por outro lado, o arranjo produtivo conta com diversos fatores positivos e potencialidades que transcendem vantagens competitivas puramente estáticas. Além de vantagens estáticas como a proximidade com as fontes de matéria prima e a cultura lapidária instalada no arranjo, se destacam fatores inerentes à mão-de-obra e as ações de apoio e promoção desenvolvidas recentemente. Quanto à mão-de-obra, verifica-se um grande potencial de qualificação da mão-de-obra futura, que se deve às expressivas melhorias no desempenho do ensino fundamental e médio no município de Teófilo Otoni. Este fato, aliado à criação de um centro de educação profissional na cidade e de outros projetos de qualificação na região, apresenta um quadro promissor, que viabilizaria a adoção de novas tecnologias e 93 processos produtivos, tanto na extração e no beneficiamento de gemas quanto na produção de bens com maiores valores agregados. Inerente à cultura lapidária do arranjo, se destacam qualidades específicas da mão-de-obra local, como sua criatividade e sua habilidade artesanal. Dada a possível integração de toda a cadeia produtiva nos limites do arranjo, englobando a fabricação de jóias e bijuterias e o artesanato mineral, o arranjo poderia superar as barreiras de padronização e produção em massa impostas pelo mercado externo, produzindo produtos finais de qualidade e de estilo próprio. Quanto às ações de apoio e promoção, observa-se um considerável grau de interação e cooperação entre entidades de representação do setor, o poder público e instituições de ensino e pesquisa. Destacam-se as ações desenvolvidas no âmbito do projeto PROGEMAS, que buscam potencializar e integrar toda a cadeia produtiva de gemas nos limites da região e do arranjo produtivo. Porém, o baixo retorno prático destas ações para o arranjo se explicita no desconhecimento, por parte dos empresários locais, de tais ações. Este fato sugere, que tais ações de apoio e promoção ocorram de fora para dentro da estrutura produtiva, ou seja, tendo os agentes produtivos do arranjo apenas como objeto e não como interlocutores no processo. Esta configuração, além de implicar em um menor êxito de tais ações, acaba por incentivar a postura passiva e receptiva do empresariado local. Tendo em vista a importância da atividade de extração e beneficiamento de gemas para o desenvolvimento econômico e social da região nordeste de Minas Gerais, assim como do próprio Brasil, propõe-se um conjunto de políticas, que possibilitem a superação dos obstáculos e carências atualmente enfrentados pelo arranjo e o fortalecimento de suas potencialidades, visando o estabelecimento de vantagens competitivas dinâmicas, que devolvam ao arranjo e a região o seu papel de destaque no mercado mundial de gemas, contribuindo para o desenvolvimento regional dentro de uma perspectiva de longo prazo. Tais propostas, complementares entre si e que não representam isoladamente opções eficazes para a consecução dos objetivos acima assinalados, se resumem aos seguintes pontos: 1. Recursos humanos e aprendizado: - Consolidação do Centro de Educação Profissional de Teófilo Otoni – CEP, e sua integração com demais iniciativas de capacitação de mão-de-obra desenvolvidas na região; - Qualificação do empresariado, incentivando a valorização de fatores como ciência tecnologia, inovação, cooperação e capacitação interna de trabalhadores; 94 - Capacitação de funcionários de órgãos relacionados à fiscalização da produção e exportação e de controle ambiental, visando estabelecer bases para a compreensão e consideração das especificidades do negócio de gemas; - Promoção de interação entre os agentes proponentes e executores de projetos de fomento e os agentes produtivos, viabilizando, não somente a participação efetiva no processo, mas também uma melhor absorção dos resultados destes. 2. Ciência e Tecnologia - Disponibilização de resultados da pesquisa geológica básica desenvolvida pela CPRM em parceria com a Comig e de resultados do PROGEMAS em entidades locais e centros de capacitação profissional; - Criação de um centro de gemologia, concentrando, além do centro de educação profissional, atividades de apoio laboratorial, apoio técnico e de certificação; - Criação de serviços de consultoria para marketing, investimentos, financiamentos, capacitação de recursos humanos, sistemas de qualidade e gestão tecnológica; - Estabelecimento e/ou capacitação de núcleos técnicos espalhados pela região, que possibilitem e apóiem a introdução da tecnologia mineral voltada para o aproveitamento integral de minerais dos pegmatitos. - Promoção de intercâmbio com estudantes de cursos de nível superior voltados ao setor de gemas e estímulo à absorção de formandos. 3. Capacitação para a Inovação e Cooperação (papel de associações locais) - Desenvolvimento, através de associações empresariais e do SEBRAE local, de programas de informação, sensibilização e demonstração, que contribuam para uma melhor compreensão de aspectos relacionados à interação, cooperação, inovação e à agregação local de valor e que mobilizem o empresariado local em torno destes aspectos; - Atuação do Sebrae local na capacitação e conscientização do empresariado local, visando a valorização e implementação de métodos organizacionais modernos; - Fortalecimento de atividades cooperativas em menor ou maior grau já existentes, que visam uma maior projeção do arranjo no mercado externo, tais como: feiras locais; missões empresariais (participação conjunta em feiras internacionais); consórcios de exportação e estratégias conjuntas de marketing; 95 - Incentivo às inovações de produto e de design de produto, aproveitando o potencial criativo e artesanal do arranjo local, estabelecendo um padrão de competitividade baseado na qualidade e no estilo dos produtos. 4. Cadeia produtiva e formalização: - Adaptação da legislação de exploração mineral, procurando estabelecer critérios realistas para a atividade; - Fomento à formação de cooperativas de garimpeiros, pautadas no desenvolvimento de uma atividade extrativa que respeite questões ambientais e que viabilize um aproveitamento racional e estratégico dos recursos minerais; - Garantir oferta e absorção interna de gemas brutas, através de tributação de exportação de gemas em bruto que desencoraje tal atividade e, principalmente, através da disponibilização de linhas de crédito para o segmento de beneficiamento local; - Fomento à instalação local das atividades de joalheria, bijuteria e artesanato mineral (verticalização produtiva local), que possibilite superar a dependência e a falta de demanda no mercado internacional; - Fomento à instalação de produtores de máquinas e equipamentos e insumos, inexistentes na região nordeste mineira e pouco expressiva no território nacional. 5. Fiscalização e registro da produção e exportação - Agilização do processo de regularização das exportações, através da instalação local de um posto da receita federal (coletoria federal – SISCOMEX) e da adequação de funcionários às especificidades do setor; - Regularização da produção e de transações internas, através da criação de um sistema de registro local e simplificado (por nota fiscal emitida pelo comprador), habilitando o poder público municipal para tal atribuição; - Mudança na postura de órgãos de controle ambiental, estabelecendo bases para uma adaptação gradual e definitiva da atividade extrativa à legislação ambiental. 6. Política fiscal e tributária - Inversão da atual lógica da estrutura tributária, que favorece a informalidade e a exportação de gemas em bruto. Redução de carga tributária total incidente sobre o setor, principalmente no que tange o IPI e o ICMS sobre a circulação interna. 96 Equalização, entre os estados, do ICMS incidente sobre a circulação interna de gemas, desencorajando a prática de transferências fictícias entre os estados; - Redução de IRPJ, possibilitando uma reavaliação de estoques; - Incentivos fiscais para novos investimentos, principalmente aqueles que promovam a agregação de valor e a integração local da atividade produtiva até o produto final. 7. Financiamento - Criação de linha de crédito específica para a constituição de capital de giro e formação de estoques. Dado o grande volume requerido, a opção por cooperativas de crédito se mostra insuficiente, sugerindo o envolvimento de bancos e fundos oficiais de desenvolvimento (BNDES / Banco do Nordeste do Brasil/ FNE – fundo do nordeste); - Cooperativa de crédito para investimentos em atividades inovativas, projetos de P&D e para atividade garimpeira; - Concretização da proposta de um “banco de pedras preciosas”, que considere as gemas em estoque como garantia para empréstimos. 8. Mercados - Sensibilização e agregação dos agentes produtivos para a implantação de uma estratégia conjunta de promoção do arranjo no mercado externo; - Criação de representações comerciais nas cidades brasileiras de grande afluxo turístico, estabelecendo um elo direto com o público de turistas estrangeiros, efetivos consumidores de grandes redes como H.Stern e Amsterdam Sauer, etc. - Estratégia de marketing para o estabelecimento e fortalecimento de nome e marca do arranjo no mercado externo, através, por exemplo, do fomento a participação em feiras internacionais com um estande que represente o arranjo. Em face dos diversos fatores abordados ao longo deste trabalho, explicita-se a urgência na construção de mecanismos que venham a contribuir para o desenvolvimento econômico e social desta que se constitui em uma das regiões mais pobres do país e que, paradoxalmente, está situada sobre um subsolo dos mais ricos. As dificuldades enfrentadas pela atividade extrativa na região e pelo beneficiamento no arranjo produtivo, assim como a importância estratégica e de longo prazo destas atividades para o desenvolvimento regional do país, convergem para destacar ainda mais a urgência de 97 se desenhar e implantar políticas adequadas que levem em conta as reais necessidades da cadeia produtiva de gemas na região e no arranjo. Neste sentido, este trabalho procura dar uma efetiva contribuição. Adicionalmente aponta-se para a necessidade de se equacionar a questão referente à utilização de recursos naturais não renováveis, que não constituem patrimônio exclusivo das atuais gerações. Esta “colheita que não se repete” tem sido conduzida de forma desorganizada, predatória, sem real agregação de valor e sem o enraizamento local dos benefícios advindos desta exploração. Infelizmente, constata-se, principalmente no que tange a atividade garimpeira, um quadro de atraso, subdesenvolvimento e espoliação que remete a um longínquo passado de nossa história, que se perpetua em pleno século XXI. Ou como diria nosso poeta popular: “Num tempo, página infeliz da nossa história, passagem desbotada na memória Das nossas novas gerações Dormia a nossa pátria mãe tão distraída sem perceber que era subtraída Em tenebrosas transações Seus filhos erravam cegos pelo continente, levavam pedras feito penitentes Erguendo estranhas catedrais.” (Chico Buarque de Holanda na música “Vai passar”) 98 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério do Planejamento e Orçamento. Secretaria Especial de Políticas Regionais. Promoção do desenvolvimento de mesorregiões diferenciadas: caracterização da mesorregião Vale do Jequitinhonha/Mucuri. Brasília, 1998. 101 p. ______. Ministério de Minas e Energia. Secretaria de Minas e Metalurgia. Departamento Nacional de Produção Mineral. 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Ouro, gemas e jóias: em busca de um entendimento. Brasília: IBGM, 2001. 48 p. SAUER, J. R. Brasil, paraíso de pedras preciosas. Rio de Janeiro: JB S.A., 1982. 136 p. 100 ANEXO I Reservas brasileiras de gemas por estado e município para o ano de 2000 Unidades da Federação / Municípios Medida - Minério Bahia 15.879.420 Caetite 1.898 Jacobina 2.384.739 Mirangaba 10.500.000 Vitória da Conquista 2.992.783 Ceará 14.729 Quixeramobim 5.293 Santa Quitéria 9.436 Goiás 37.576.736 Cavalcante 1.000 Itaberaí 37.575.736 Minas Gerais 3.166.294.169 Almenara 1.220.258.000 Antônio Dias 822 Araçuaí 32.985 Conselheiro Pena 121.354 Coronel Murta 253.624 Governador Valadares 110.323 Malacacheta 1.865.580 Nova Era 1.089 Ouro Preto 1.943.650.392 Paraná 252.242.000 Jaguariaiva 79.363.000 Senges 172.879.000 Rio Grande do Norte 15.430 Parelhas 15.430 Rio grande do Sul 92.611 Fontoura Xavier 92.611 Total 3.472.115.095 Fonte: Anuário Estatístico Mineral - 2001/DNPM Quantidade em Kg Indicada 1.084.000 1.084.000 14.101 14.101 2.100 500 1.600 2.112.359.391 825.000.000 3.457 173.495 529.656 447 1.286.652.336 17.570 17.570 141.354 141.354 2.113.618.516 Inferida 2.640 2.640 2.500 300 2.200 1.802.146.319 990.000.000 3.705 42.875 17.142 447 812.082.150 15.865 15.865 102.909 102.909 1.802.270.233 101 ANEXO II Distribuição Territorial das Empresas de Lapidação de Pedras Preciosas e Semi-Preciosas, Fabricação de Artefatos de Ourivesaria e Joalheria (classificação Cnae 3691-9) Fonte: CGEE - Centro de Gestão e Estudos Estratégicos do Ministério de Ciência e Tecnologia 102 ANEXO III Municípios da região leste e nordeste de Minas Gerais, produtores de gemas, por número de garimpos e substâncias produzidas Municípios Total Governador Valadares Caraí Nº Garimpos 523 48 47 Substâncias minerais exploradas Turmalina, Quartzo, Feldspato Água-Marinha, Topázio Municípios Nº Garimpos Substâncias minerais exploradas Medina Almenara 4 3 Água-Marinha Água-Marinha Itambacuri 3 Turmalina, ÁguaMarinha, Quartzo Itinga Mata Verde 3 3 Ninheira 3 Espodumênio Gemológico Quartzo Rosa, ÁguaMarinha Turmalina Bandeira 2 Água-Marinha Comercinho 2 Água-Marinha Curral de Dentro 2 Ametista Jordânia 2 Água-Marinha Ladainha 2 Palmópolis 2 Conselheiro Pena São José da Safira 35 34 Nacip Raydan 30 Catuji 28 Coronel Murta 25 Franciscópolis 24 Novo Oriente de Minas Santo Antônio do Jacinto Ataléia 24 22 Turmalina, Água-Marinha Turmalina, Quartzo, Morganita Turmalina, ÁguaMarinha, Quartzo Topázio, Água-Marinha, Quartzo Turmalina, Quartzo, Nb, Be Turmalina, Quartzo, Morganita Crisoberilo, ÁguaMarinha Crisoberilo, ÁguaMarinha, Topázio Quartzo Rosa Novo Cruzeiro 15 Turmalina Tarumirim 2 Pavão 14 Virgolândia 2 Divino das Laranjeiras Resplendor 10 Água-Marinha, Topázio, Quartzo Turmalina, Quartzo Água-Marinha, Quartzo, Nb, Berilo Água-Marinha, Quartzo Fumê Água-Marinha, Feldspato, Quartzo Água-Marinha, Berilo Berilo 1 Crisoberilo Berizal 1 Água-Marinha, Be Angelândia 9 Capelinha 1 Ametista, Brasilianita Padre Paraíso 9 Turmalina, ÁguaMarinha, Berilo Alexandrita, Turmalina, Crisoberilo Água-Marinha, Topázio, Quartzo Chapada do Norte 1 Crisoberilo, Espodumênio Gemológico Teófilo Otoni 8 Turmalina, Mica Frei Gaspar 1 Turmalina Virgem da Lapa Marilac 8 7 Diamante Turmalina, Quartzo, Morganita Inhapim Itabirinha de Mantena 1 1 Turmalina, Quartzo Rosa Quartzo Rosa Cachoeira do Pajeú Alvarenga 6 5 1 1 Quartzo Rosa Água-Marinha, Berilo Araçuaí 5 1 Água-Marinha Divisópolis 5 1 Água-Marinha Galiléia 5 1 Turmalina, Si Águas Vermelhas 4 1 Turmalina, Berilo Aimorés 4 Água-Marinha, Berilo Joaíma Água-Marinha, Morganita Santa Efigênia de Minas Espodumênio Gemológico Santa Maria do Salto Água-Marinha Santa Rita do Itueto Turmalina, Quartzo São Geraldo do Baixio Água-Marinha São Sebastião do Maranhão Turmalina Sardoá 1 Quartzo Hialino (cristal de rocha), Mica Itanhomi 4 Quartzo Rosa 1 Água-Marinha Jequitinhonha 4 Água-Marinha, Turmalina Veredinha 1 Ametista, Brasilianita 23 10 Tumiritinga Fonte: CGEE – Centro de Gestão e Estudos Estratégicos do Ministério de Ciência e Tecnologia 103 ANEXO IV Número de empresas e trabalhadores e o quociente locacional nos municípios do nordeste de Minas Gerais - Lapidação de Pedras Preciosas e Semi-Preciosas, Fabricação de Artefatos de Ourivesaria e Joalheria (classificação Cnae 3691-9) Nº Empresas Pessoal ocupado Total Ocupado Araçuaí Coronel Fabriciano Diamantina Governador Valadares Ipatinga Teófilo Otoni Total Brasil 1 2 4 24 1 22 54 2.065 3 9 27 78 2 167 286 10.727 1.731 10.780 4.046 37.094 48.505 13.523 1.351.059 5.363.522 Percentagem de pessoal ocupado 0,17 0,08 0,67 0,21 0,00 1,23 0,02 0,20 QL 0,87 0,42 3,34 1,05 0,02 6,17 0,11 1,00 Fonte: Relação Anual de Informações Sociais – RAIS 2001 104 ANEXO V Pesquisa de Campo A pesquisa de campo se baseia basicamente na entrevista com diversos atores envolvidos com o negócio de gemas no Brasil e em Teófilo Otoni e na aplicação do questionário desenvolvido pela Redesist junto às empresas pertencentes ao arranjo em estudo. 1. Entrevistas com diversos atores envolvidos com o negócio de gemas, no Brasil e em Teófilo Otoni: • Adair Evangelista Marques, presidente da GEA (Associação dos Comerciantes e Exportadores de Gemas e Jóias do Brasil). Teófilo Otoni, 27/10/2003 • Ana Claudia, engenheira de minas. Teófilo Otoni, 28/10/2003 • Cirilo Jardim Bonfim, gestor da microrregião de Teófilo Otoni – SEBRAE-MG. Teófilo Otoni, 31/10/2003 • Elcio Rodrigues, geólogo, chefe da divisão de exploração – CPRM (Serviço Geológico do Brasil). Rio de Janeiro, 03/10/2003 • Gerson Manoel Muniz de Matos, geólogo, doutor em mineralogia e metalogenia, chefe da divisão de geologia econômica – CPRM (Serviço Geológico do Brasil). Rio de Janeiro, 12/07/2003 • Guilherme Bamberg, geólogo, diretor executivo da GEA (Associação dos Comerciantes e Exportadores de Gemas e Jóias do Brasil). Teófilo Otoni, 27/10/2003 • Jary Mendonça Filho, secretário de indústria, comércio e turismo de Teófilo Otoni. Teófilo Otoni, 29/10/2003 • Robson Caio de Andrade, presidente do Sindicato Nacional dos Garimpeiros. Teófilo Otoni, 30/10/2003 • Walter Leite, diretor do IBGM (Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos). Rio de Janeiro, 14/09/2003 105 2. Questionário aplicado em dezessete empresas pertencentes ao arranjo produtivo de gemas de Teófilo Otoni: O questionário é composto por dois blocos. O primeiro tem por finalidade indicar as informações que devem ser obtidas sobre a estrutura do arranjo em estudo. Tais informações têm origem em fontes institucionais como a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego. As informações desta fonte referem-se ao número de empresas, seu tamanho e pessoal ocupado, obedecendo à classificação CNAE do IBGE. Com o emprego de outras fontes busca-se identificar a estrutura educacional, de coordenação, tecnológica e de financiamento. Em suma, os pontos a serem abordados nesta parte buscam identificar a existência e os diferentes atributos de: • Municípios de abrangência do arranjo • Estrutura produtiva do arranjo • Infraestrutura educacional local/regional • Infraestrutura Institucional local: Associações, Sindicatos de empresas/trabalhadores, cooperativas e outras instituições públicas locais. • Infraestrutura científico-tecnológica: • Infraestrutura de financiamento: O segundo bloco é o questionário a ser aplicado em cada empresa do arranjo e tem a seguinte estrutura: • Identificação da Empresa • Produção Mercados e Emprego • Inovação cooperação e aprendizado • Estrutura, Governança e Vantagens Associadas ao Ambiente Local • Políticas Públicas e Formas de Financiamento A identificação da empresa capta as informações usuais neste tipo de pesquisa. No entanto incluiu-se um grupo específico de perguntas dirigidas às micro e pequenas empresas. Tais perguntas procuram captar a origem, desenvolvimento e dificuldades de empresas de pequeno porte, nos moldes dos estudos sobre empreendedorismo. 106 As empresas abordadas: • Gems From Brasil Exp. e Imp. LTDA • Marcelo Gemas Indústria e Comércio • Denilson Henrique Salomão • Cristal Gemas • Coleções Arts Gemas • AV Pedras Preciosas LTDA • Silva Guimarães Comércio e Indústria LTDA • Leite & Fahd LTDA • Stone Keller Com. Ind. Exp. LTDA • Lapidação Keller LTDA • Naturale Stein LTDA • Gemextra LTDA • Kelles Pedras Preciosas LTDA • Ricardo Curi Indústria e Comércio • Antônio José Araújo Souza - ME • Ronaldo Alves • Cata Preta Pedras Preciosas Com. e Ind. Imp. e Exp. LTDA 107 Anexo VI REDESIST - QUESTIONÁRIO PARA OBTENÇÃO DE INFORMAÇÕES SOBRE ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS - Bloco A: Para coleta de informações em instituições locais e de fontes estatísticas oficiais sobre a estrutura do arranjo produtivo local Bloco B: Para coleta de informações nas empresas do arranjo produtivo local - BLOCO A - IDENTIFICAÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL Este primeiro bloco de questões busca uniformizar as informações gerais sobre a configuração dos arranjos a serem estudados a partir do uso de estatísticas oficiais. Tais informações são obtidas a partir de fontes secundárias tais como a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego, Base de informações Base de Informações Municipais (BIM), Censo, entre outras. A RAIS é fonte obrigatória para todos os estudos, de forma a permitir sua comparabilidade. As informações desta fonte referem-se ao número de empresas, seu tamanho e pessoal ocupado, obedecendo à classificação CNAE do IBGE. Neste bloco deve-se identificar também a amostra de empresas pesquisadas,, estratificada por tamanho. As demais fontes de informação devem ser definidas pelos pesquisadores de acordo com as características específicas de cada arranjo, observadas previamente, e devem possibilitar a identificação da estrutura educacional, de coordenação, tecnológica e de financiamento17.. 1. Municípios de abrangência do arranjo: Municípios abrangidos População residente Pessoal ocupado nas atividades pesquisadas* Pessoal total ocupado nos municípios** Notas: * Somatório do pessoal ocupado (empregado) nas classes de atividade econômica (classe CNAE – 5 dígitos) inseridas no arranjo produtivo, com base nos dados da RAIS18 – MTe. ** Emprego total nos municípios que compõem o arranjo, com base nos dados da RAIS – MTe. 2. Estrutura produtiva do arranjo: Classificação CNAE (Classe de atividade econômica – 4 dígitos) Número total de empresas conforme tamanho19 Micro Pequena Média Grande Total 3. Estratificação da amostra: Classificação CNAE (Classe de atividade econômica – 4 dígitos) Número de empresas selecionadas conforme tamanho Micro Pequena Média Grande Total 17 Identificar as fontes de informações usadas para o preenchimento de cada tabela. A base de dados RAIS e RAIS - ESTABELECIMENTOS do Ministério do Trabalho e Emprego deve ser usada pelos pesquisadores, para o levantamento dos dados referentes ao emprego formal e ao número e tamanho de estabelecimentos. 19 Pessoas ocupadas: a) Micro: até 19; b) Pequena: 20 a 99; c) Média: 100 a 499; d) Grande: 500 ou mais pessoas ocupadas. 18 108 4. Infraestrutura educacional local/regional: Cursos oferecidos Escolas técnicas de 2ograu Cursos superiores Outros cursos profissionais regulares Cursos profissionais temporários Número de cursos Número de alunos admitidos por ano 5. Infraestrutura Institucional local: Associações, Sindicatos de empresas/trabalhadores, cooperativas e outras instituições públicas locais. Nome/Tipo de instituição Criação Número de filiados Funções 6. Infraestrutura científico-tecnológica: Tipo de instituição Universidades Institutos de pesquisa Centros de capacitação profissional e de assistência técnica Instituições de testes, ensaios e certificações. 7. Infraestrutura de financiamento: Tipo de instituição Instituição comunitária Instituição municipal Instituição estadual/Agência local Instituição federal/ Agência local Outras. Citar Número de instituições Nº. de instituições Nº. de pessoas ocupadas Volume de empréstimos concedidos em 2002 8. Financiamento por tamanho de empresa seguindo o tipo de instituição no ano 2002: Percentual de empréstimo por tamanho de empresa Tipo de Instituição Micro Pequena Média Grande Instituição comunitária Instituição municipal Instituição estadual/Agência local Instituição federal/ Agência local Outras. Citar 109 BLOCO B - AS EMPRESAS NO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL I - IDENTIFICAÇÃO DA EMPRESA 1. 2. 3. 4. Razão Social: ___________________________________________________________________ Endereço_______________________________________________________________________ Município de localização: ___________________________(código IBGE)__________________ Tamanho. ( ) 1. Micro ( ) 2. Pequena ( ) 3. Média ( ) 4. Grande 5. 6. 7. 8. Segmento de atividade principal (classificação CNAE): _________________________________ Pessoal ocupado atual: ___________ Ano de fundação: _______________ Origem do capital controlador da empresa: ( ) 1. Nacional ( ) 2. Estrangeiro ( ) 3. Nacional e Estrangeiro 9. No caso do capital controlador estrangeiro, qual a sua localização: ( ) 1. Mercosul ( ) 2. Estados Unidos da América ( ) 3. Outros Países da América ( ) 4. Ásia ( ) 5. Europa ( ) 6. Oceania ou África 10. Sua empresa é: ( ) 1. Independente ( ) 2. Parte de um Grupo 11. Qual a sua relação com o grupo: ( ) 1. Controladora ( ) 2. Controlada ( ) 3. Coligada 110 EXPERIÊNCIA INICIAL DA EMPRESA (As questões a seguir são específicas para a pesquisa sobre Micro e Pequenas Empresas em Arranjos Produtivos Locais). 12. Número de Sócios fundadores: ______________ 13. Perfil do principal sócio fundador: Perfil Idade quando criou a empresa Dados Sexo ( ) 1. Masculino ( ) 2.Feminino Escolaridade quando criou a empresa (assinale o 1. ( ) 2. ( ) 3. ( ) 4. ( ) 5. ( ) 6. ( ) 7. ( ) 8. ( ) correspondente à classificação abaixo) Seus pais eram empresários ( ) 1. Sim ( ) 2. Não 1. Analfabeto; 2.Ensino Fundamental Incompleto; 3. Ensino Fundamental Completo; 4. Ensino Médio Incompleto; 5. Ensino Médio Completo; 6. Superior Incompleto; 7. Superior Completo; 8. Pós Graduação. 14. Identifique a principal atividade que o sócio fundador exercia antes de criar a empresa: Atividades ( ( ( ( ( ( ( ( ) ) ) ) ) ) ) ) 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Estudante universitário Estudante de escola técnica Empregado de micro ou pequena empresa local Empregado de média ou grande empresa local Empregado de empresa de fora do arranjo Funcionário de instituição pública Empresário Outra atividade. Citar 15. Estrutura do capital da empresa: Estrutura do capital da empresa Participação percentual (%) no 1o. ano Participação percentual (%) Em 2002 100% 100% Dos sócios Empréstimos de parentes e amigos Empréstimos de instituições financeiras gerais Empréstimos de instituições de apoio as MPEs Adiantamento de materiais por fornecedores Adiantamento de recursos por clientes Outras. Citar: Total 16. Evolução do número de empregados: Período de tempo Número de empregados Ao final do primeiro ano de criação da empresa Ao final do ano de 2002 111 17. Identifique as principais dificuldades na operação da empresa. Favor indicar a dificuldade utilizando a escala, onde 0 é nulo, 1 é baixa dificuldade, 2 é média dificuldade e 3 alta dificuldade. Principais dificuldades Contratar empregados qualificados Produzir com qualidade Vender a produção Custo ou falta de capital de giro Custo ou falta de capital para aquisição de máquinas e equipamentos Custo ou falta de capital para aquisição/locação de instalações Pagamento de juros de empréstimos Outras. Citar No primeiro ano de vida Em 2002 (0) (0) (0) (0) ( 1) ( 1) ( 1) ( 1) (2) (2) (2) (2) (3) (3) (3) (3) (0) (0) (0) (0) (1) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (2) (3) (3) (3) (3) (0) ( 1) (2) (3) (0) (1) (2) (3) (0) ( 1) (2) (3) (0) (1) (2) (3) (0) (0) ( 1) ( 1) (2) (2) (3) (3) (0) (0) (1) (1) (2) (2) (3) (3) 18. Informe o número de pessoas que trabalham na empresa, segundo características das relações de trabalho: Tipo de relação de trabalho Número de pessoal ocupado Sócio proprietário Contratos formais Estagiário Serviço temporário Terceirizados Familiares sem contrato formal Total II – PRODUÇÃO, MERCADOS E EMPREGO. 1. Evolução da empresa: Anos Vendas nos municípios do arranjo Mercados (%) Vendas no Vendas no Estado Brasil Vendas no exterior 1990 2002 Total 100% 100% 2. Escolaridade do pessoal ocupado (situação atual): Ensino Analfabeto Ensino fundamental incompleto Ensino fundamental completo Ensino médio incompleto Ensino médio completo Superior incompleto Superior completo Pós-Graduação Total Número do pessoal ocupado 112 3. Quais fatores são determinantes para manter a capacidade competitiva na principal linha de produto? Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Fatores Qualidade da matéria-prima e outros insumos Qualidade da mão-de-obra Custo da mão-de-obra Nível tecnológico dos equipamentos e/ou processos Capacidade de introdução de novos produtos/processos Desenho e estilo nos produtos Estratégias de comercialização Qualidade do produto Capacidade de atendimento (volume e prazo) Outra. Citar: (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) Grau de importância (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) III – INOVAÇÃO, COOPERAÇÃO E APRENDIZADO BOX 1 Um novo produto (bem ou serviço industrial) é um produto que é novo para a sua empresa ou para o mercado e cujas características tecnológicas ou uso previsto diferem significativamente de todos os produtos que sua empresa já produziu. Uma significativa melhoria tecnológica de produto (bem ou serviço industrial) refere-se a um produto previamente existente cuja performance foi substancialmente aumentada. Um produto complexo que consiste de um número de componentes ou subsistemas integrados pode ser aperfeiçoado via mudanças parciais de um dos componentes ou subsistemas. Mudanças que são puramente estéticas ou de estilo não devem ser consideradas. Novos processos de produção são processos que são novos para a sua empresa ou para o setor. Eles envolvem a introdução de novos métodos, procedimentos, sistemas, máquinas ou equipamentos que diferem substancialmente daqueles previamente utilizados por sua firma. Significativas melhorias dos processos de produção envolvem importantes mudanças tecnológicas parciais em processos previamente adotados. Pequenas ou rotineiras mudanças nos processos existentes não devem ser consideradas. 1. Qual a ação da sua empresa no período entre 2000 e 2002, quanto à introdução de inovações? Informe as principais características conforme listado abaixo. (observe no Box 1 os conceitos de produtos/processos novos ou produtos/processos significativamente melhorados de forma a auxilialo na identificação do tipo de inovação introduzida) Descrição Inovações de produto Produto novo para a sua empresa, mas já existente no mercado?. Produto novo para o mercado nacional?. Produto novo para o mercado internacional? Inovações de processo Processos tecnológicos novos para a sua empresa, mas já existentes no setor? Processos tecnológicos novos para o setor de atuação? Outros tipos de inovação Criação ou melhoria substancial, do ponto de vista tecnológico, do modo de acondicionamento de produtos (embalagem)? Inovações no desenho de produtos / tipos de lapidação das gemas Realização de mudanças organizacionais (inovações organizacionais) Implementação de técnicas avançadas de gestão ? Implementação de significativas mudanças na estrutura organizacional? Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de marketing ? Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de comercialização ? Implementação de novos métodos e gerenciamento, visando a atender normas certificação (ISO 9000, ISSO 14000, etc.)? de 1. Sim 2. Não (1) (1) (1) (2) (2) (2) (1) (1) (2) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (2) (1) (2) 113 2. Se sua empresa introduziu algum produto novo ou significativamente melhorado durante os últimos anos, 2000 a 2002, favor assinalar a participação destes produtos nas vendas em 2002, de acordo com os seguintes intervalos:(1) equivale de 1% a 5%; (2) de 6% a 15%;(3) de 16% a 25%; (4) de 26% a 50%; (5) de 51% a 75%; (6) de 76% a 100%. Descrição Vendas internas em 2002 de novos produtos (bens ou serviços) introduzidos entre 2000 e 2002 Vendas internas em 2002 de significativos aperfeiçoamentos de produtos (bens ou serviços) introduzidos entre 2000 e 2002 Exportações em 2002 de novos produtos (bens ou serviços)introduzidos entre 2000 e 2002 Exportações em 2002 de significativos aperfeiçoamentosde produtos (bens ou serviços) introduzidos entre 2000 e 2002 Intervalos (0) (1) (2) (3) (4) (5) (6) (0) (1) (2) (3) (4) (5) (6) (0) (1) (2) (3) (4) (5) (6) (0) (1) (2) (3) (4) (5) (6) 3. Avalie a importância do impacto resultante da introdução de inovações introduzidas durante os últimos três anos, 2000 a 2002, na sua empresa. Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Descrição Aumento da produtividade da empresa Ampliação da gama de produtos ofertados Aumento da qualidade dos produtos Permitiu que a empresa mantivesse a sua participação nos mercados de atuação Aumento da participação no mercado interno da empresa Aumento da participação no mercado externo da empresa Permitiu que a empresa abrisse novos mercados Permitiu a redução de custos do trabalho Permitiu a redução de custos de insumos Permitiu a redução do consumo de energia Permitiu o enquadramento em regulações e normas padrão relativas ao: - Mercado Interno - Mercado Externo Permitiu reduzir o impacto sobre o meio ambiente (0) (0) (0) Grau de Importância (1) (2) (3) (1) (2) (3) (1) (2) (3) (0) (1) (2) (3) (0) (0) (0) (0) (0) (0) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (0) (0) (0) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (3) (3) (3) 4. Que tipo de atividade inovativa sua empresa desenvolveu no ano de 2002? Indique o grau de constância dedicado à atividade assinalando (0) se não desenvolveu, (1) se desenvolveu rotineiramente, e (2) se desenvolveu ocasionalmente. (observe no Box 2 a descrição do tipo de atividade) Descrição Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) na sua empresa Aquisição externa de P&D Aquisição de máquinas e equipamentos que implicaram em significativas melhorias tecnológicas de produtos/processos ou que estão associados aos novos produtos/processos Aquisição de outras tecnologias (softwares, licenças ou acordos de transferência de tecnologias tais como patentes, marcas, segredos industriais) Projeto industrial ou desenho industrial associados à produtos/processos tecnologicamente novos ou significativamente melhorados Programa de treinamento orientado à introdução de produtos/processos tecnologicamente novos ou significativamente melhorados Programas de gestão da qualidade ou de modernização organizacional, tais como: qualidade total, reengenharia de processos administrativos, desverticalização do processo produtivo, métodos de “just in time”, etc Novas formas de comercialização e distribuição para o mercado de produtos novos ou significativamente melhorados Grau de Constância (0) (1) (2) (0) (1) (2) (0) (1) (2) (0) (1) (2) (0) (1) (2) (0) (1) (2) (0) (1) (2) (0) (1) (2) 114 4.1 Informe os gastos despendidos para desenvolver as atividades de inovação: Gastos com atividades inovativas sobre faturamento em 2002.....................( %) Gastos com P&D sobre faturamento em 2002............................................ .( %) Fontes de financiamento para as atividades inovativas (em %) Próprias ( %) De Terceiros ( %) Privados ( %) Público (FINEP,BNDES, SEBRAE, BB, etc.) ( %) BOX 2 Atividades inovativas são todas as etapas necessárias para o desenvolvimento de produtos ou processos novos ou melhorados, podendo incluir: pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e processos; desenho e engenharia; aquisição de tecnologia incorporadas ao capital (máquinas e equipamentos) e não incorporadas ao capital (patentes, licenças, know how, marcas de fábrica, serviços computacionais ou técnico-científicos) relacionadas à implementação de inovações; modernização organizacional (orientadas para reduzir o tempo de produção, modificações no desenho da linha de produção e melhora na sua organização física, desverticalização, just in time, círculos de qualidade, qualidade total, etc); comercialização (atividades relacionadas ao lançamento de produtos novos ou melhorados, incluindo a pesquisa de mercado, gastos em publicidade, métodos de entrega, etc); capacitação, que se refere ao treiname0nto de mão-de-obra relacionado com as atividades inovativas da empresa. Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) - compreende o trabalho criativo que aumenta o estoque de conhecimento, o uso do conhecimento objetivando novas aplicações, inclui a construção, desenho e teste de protótipos. Projeto industrial e desenho - planos gráficos orientados para definir procedimentos, especificações técnicas e características operacionais necessárias para a introdução de inovações e modificações de produto ou processos necessárias para o início da produção. 5. Sua empresa efetuou atividades de treinamento e capacitação de recursos humanos durante os últimos três anos, 2000 a 2002? Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Descrição Treinamento na empresa Treinamento em cursos técnicos realizados no arranjo Treinamento em cursos técnicos fora do arranjo Estágios em empresas fornecedoras ou clientes Estágios em empresas do grupo Contratação de técnicos/engenheiros de outras empresas do arranjos Contratação de técnicos/engenheiros de empresas fora do arranjo Absorção de formandos dos cursos universitários localizados no arranjo ou próximo Absorção de formandos dos cursos técnicos localizados no arranjo ou próximo (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) Grau de Importância (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (0) (1) (2) (3) (0) (1) (2) (3) BOX 3 Na literatura econômica, o conceito de aprendizado está associado a um processo cumulativo através do qual as firmas ampliam seus conhecimentos, aperfeiçoam seus procedimentos de busca e refinam suas habilidades em desenvolver, produzir e comercializar bens e serviços. As várias formas de aprendizado se dão: - a partir de fontes internas à empresa, incluindo: aprendizado com experiência própria, no processo de produção, comercialização e uso; na busca de novas soluções técnicas nas unidades de pesquisa e desenvolvimento; e 115 - a partir de fontes externas, incluindo: a interação com fornecedores, concorrentes, clientes, usuários, consultores, sócios, universidades, institutos de pesquisa, prestadores de serviços tecnológicos, agências e laboratórios governamentais, organismos de apoio, entre outros. Nos APLs, o aprendizado interativo constitui fonte fundamental para a transmissão de conhecimentos e a ampliação da capacitação produtiva e inovativa das firmas e instituições. 6. Quais dos seguintes itens desempenharam um papel importante como fonte de informação para o aprendizado, durante os últimos três anos, 2000 a 2002? Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Indicar a formalização utilizando 1 para formal e 2 para informal. Quanto à localização utilizar 1 quando localizado no arranjo, 2 no estado, 3 no Brasil, 4 no exterior. (Observe no Box 3 os conceitos sobre formas de aprendizado). Grau de Importância Formalização Fontes Internas Departamento de P & D Área de produção Áreas de vendas e marketing, serviços de atendimento ao cliente Outros (especifique) Fontes Externas Outras empresas dentro do grupo Empresas associadas (joint venture) Fornecedores de insumos (equipamentos, materiais Clientes Concorrentes Outras empresas do Setor Empresas de consultoria Universidades e Outros Institutos de Pesquisa Universidades Institutos de Pesquisa Centros de capacitação profissional, de assistência técnica e de manutenção Instituições de testes, ensaios e certificações Outras fontes de informação Licenças, patentes e “know-how” Conferências, Seminários, Cursos e Publicações Especializadas Feiras, Exibições e Lojas Encontros de Lazer (Clubes, Restaurantes, etc) Associações empresariais locais (inclusive consórcios de exportações) Informações de rede baseadas na internet ou computador Localização (0) (0) (1) (2) (1) (2) (3) (3) (1) (2) (1) (2) (0) (1) (2) (3) (1) (2) (0) (1) (2) (3) (1) (2) (0) (0) (1) (2) (1) (2) (3) (3) (1) (2) (1) (2) (1) (1) (2) (2) (3) (3) (4) (4) (0) (1) (2) (3) (1) (2) (1) (2) (3) (4) (0) (0) (0) (0) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (3) (3) (3) (3) (1) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (2) (1) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (2) (3) (3) (3) (3) (4) (4) (4) (4) (0) (0) (1) (2) (1) (2) (3) (3) (1) (2) (1) (2) (1) (1) (2) (2) (3) (3) (4) (4) (0) (1) (2) (3) (1) (2) (1) (2) (3) (4) (0) (1) (2) (3) (1) (2) (1) (2) (3) (4) (0) (1) (2) (3) (1) (2) (1) (2) (3) (4) (0) (1) (2) (3) (1) (2) (1) (2) (3) (4) (0) (0) (1) (2) (1) (2) (3) (3) (1) (2) (1) (2) (1) (1) (2) (2) (3) (3) (4) (4) (0) (1) (2) (3) (1) (2) (1) (2) (3) (4) (0) (1) (2) (3) (1) (2) (1) (2) (3) (4) BOX 4 O significado genérico de cooperação é o de trabalhar em comum, envolvendo relações de confiança mútua e coordenação, em níveis diferenciados, entre os agentes. Em arranjos produtivos locais, identificam-se diferentes tipos de cooperação, incluindo a cooperação produtiva visando a obtenção de economias de escala e de escopo, bem como a melhoria dos índices de qualidade e produtividade; e a cooperação inovativa, que resulta na diminuição de riscos, custos, tempo e, principalmente, no aprendizado interativo, dinamizando o potencial inovativo do arranjo produtivo local. A cooperação pode ocorrer por meio de: • intercâmbio sistemático de informações produtivas, tecnológicas e mercadológicas (com clientes, fornecedores, concorrentes e outros) • interação de vários tipos, envolvendo empresas e outras instituições, por meio de programas comuns de treinamento, realização de eventos/feiras, cursos e seminários, entre outros 116 • integração de competências, por meio da realização de projetos conjuntos, incluindo desde melhoria de produtos e processos até pesquisa e desenvolvimento propriamente dita, entre empresas e destas com outras instituições 7. Durante os últimos três anos, 2000 a 2002, sua empresa esteve envolvida em atividades cooperativas , formais ou informais, com outra (s) empresa ou organização? (observe no Box 4 o conceito de cooperação). ( ) 1. Sim ( ) 2. Não 8. Em caso afirmativo, quais dos seguintes agentes desempenharam papel importante como parceiros, durante os últimos três anos, 2000 a 2002? Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Indicar a formalização utilizando 1 para formal e 2 para informal. Quanto a localização utilizar 1 quando localizado no arranjo, 2 no estado, 3 no Brasil, 4 no exterior. Agentes Empresas Outras empresas dentro do grupo Empresas associadas (joint venture) Fornecedores de insumos (equipamentos, materiais, componentes e softwares) Clientes Concorrentes Outras empresas do setor Empresas de consultoria Universidades e Institutos de Pesquisa Formalização Importância Localização (0) (0) (1) (2) (3) (1) (2) (3) (1) (1) (2) (2) (1) (1) (2) (2) (3) (4) (3) (4) (0) (1) (2) (3) (1) (2) (1) (2) (3) (4) (0) (0) (0) (0) (1) (1) (1) (1) (3) (3) (3) (3) (1) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (2) (1) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (2) (3) (3) (3) (3) Universidades Institutos de pesquisa Centros de capacitação profissional de assistência técnica e de manutenção Instituições de testes, ensaios e certificações Outras Agentes (0) (0) (1) (2) (3) (1) (2) (3) (1) (1) (2) (2) (1) (1) (2) (2) (3) (4) (3) (4) (0) (1) (2) (3) (1) (2) (1) (2) (3) (4) (0) (1) (2) (3) (1) (2) (1) (2) (3) (4) Representação Entidades Sindicais Órgãos de apoio e promoção Agentes financeiros (0) (0) (0) (0) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (2) (1) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (2) (3) (3) (3) (3) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (3) (3) (3) (3) (4) (4) (4) (4) (4) (4) (4) (4) 9. Qual a importância das seguintes formas de cooperação realizadas durante os últimos três anos, 2000 a 2002 com outros agentes do arranjo? Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Descrição Compra de insumos e equipamentos Venda conjunta de produtos Desenvolvimento de Produtos e processos Design e estilo de Produtos Capacitação de Recursos Humanos Obtenção de financiamento Reivindicações Participação conjunta em feiras, etc Outras: especificar (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) Grau de Importância (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) 117 10. Caso a empresa já tenha participado de alguma forma de cooperação com agentes locais, como avalia os resultados das ações conjuntas já realizadas. Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Descrição Melhoria na qualidade dos produtos Desenvolvimento de novos produtos Melhoria nos processos produtivos Melhoria nas condições de fornecimento dos produtos Melhor capacitação de recursos humanos Melhoria nas condições de comercialização Introdução de inovações organizacionais Novas oportunidades de negócios Promoção de nome/marca da empresa no mercado nacional Maior inserção da empresa no mercado externo Outras: especificar (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) Grau de Importância (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) 11.Como resultado dos processos de treinamento e aprendizagem, formais e informais, acima discutidos, como melhoraram as capacitações da empresa. Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Descrição Melhor utilização de técnicas produtivas, equipamentos, insumos e componentes Maior capacitação para realização de modificações e melhorias em produtos e processos Melhor capacitação para desenvolver novos produtos e processos Maior conhecimento sobre as características dos mercados de atuação da empresa Melhor capacitação administrativa Grau de Importância (0) (1) (2) (3) (0) (1) (2) (3) (0) (1) (2) (3) (0) (1) (2) (3) (0) (1) (2) (3) IV – ESTRUTURA, GOVERNANÇA E VANTAGENS ASSOCIADAS AO AMBIENTE LOCAL BOX 5 Governança diz respeito aos diferentes modos de coordenação, intervenção e participação, nos processos de decisão locais, dos diferentes agentes — Estado, em seus vários níveis, empresas, cidadãos e trabalhadores, organizações não-governamentais etc. — ; e das diversas atividades que envolvem a organização dos fluxos de produção, assim como o processo de geração, disseminação e uso de conhecimentos. Verificam-se duas formas principais de governança em arranjos produtivos locais. As hierárquicas são aquelas em que a autoridade é claramente internalizada dentro de grandes empresas, com real ou potencial capacidade de coordenar as relações econômicas e tecnológicas no âmbito local. A governança na forma de “redes” caracteriza-se pela existência de aglomerações de micro, pequenas e médias empresas, sem grandes empresas localmente instaladas exercendo o papel de coordenação das atividades econômicas e tecnológicas. São marcadas pela forte intensidade de relações entre um amplo número de agentes, onde nenhum deles é dominante. 118 1. Quais são as principais vantagens que a empresa tem por estar localizada no arranjo? Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Externalidades Grau de importância Disponibilidade de mão-de-obra qualificada Baixo custo da mão-de-obra Proximidade com os fornecedores de insumos e matéria prima Proximidade com os clientes/consumidores Infra-estrutura física (energia, transporte, comunicações) Proximidade com produtores de equipamentos Disponibilidade de serviços técnicos especializados Existência de programas de apoio e promoção Proximidade com universidades e centros de pesquisa Outra. Citar: (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) 2. Quais as principais transações comerciais que a empresa realiza localmente (no município ou região)? Favor indicar o grau de importância atribuindo a cada forma de capacitação utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Tipos de transações Grau de importância Aquisição de insumos e matéria prima (0) (1) (2) (3) Aquisição de equipamentos (0) (1) (2) (3) Aquisição de componentes e peças (0) (1) (2) (3) Aquisição de serviços (manutenção, marketing, etc.) (0) (1) (2) (3) Vendas de produtos (0) (1) (2) (3) 3. Qual a importância para a sua empresa das seguintes características da mão-de-obra local? Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Características Escolaridade formal de 1º e 2º graus Escolaridade em nível superior e técnico Conhecimento prático e/ou técnico na produção Disciplina Flexibilidade Criatividade Capacidade para aprender novas qualificações Outros. Citar: Grau de importância (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) 4. A empresa atua como subcontratada ou subcontratante de outras empresas, através de contrato ou acordo de fornecimento regular e continuado de peças, componentes, materiais ou serviços? Identifique o porte das empresas envolvidas assinalando 1 para Micro e Pequenas Empresas e 2 para Grandes e Médias empresas. 4.1 Sua empresa mantém relações de subcontratação com outras empresas ? ( 1 )Sim ( 2 )Não Caso a resposta seja negativa passe para a questão 7 119 4.2 Caso a resposta anterior seja afirmativa, identifique: Sua empresa é: Subcontratada de empresa local Subcontratada de empresas localizada fora do arranjo Subcontratante de empresa local Subcontratante de empresa de fora do arranjo Porte da empresa subcontratante (1) (2) (1) (2) Porte da empresa subcontratada (1) (2) (1) (2) 5.Caso sua empresa seja subcontratada, indique o tipo de atividade que realiza e a localização da empresa subcontratante: 1 significa que a empresa não realiza este tipo de atividade, 2 significa que a empresa realiza a atividade para uma subcontratante localizada dentro do arranjo, e 3 significa que a empresa realiza a atividade para uma subcontratante localizada fora do arranjo. Tipo de atividade Localização Fornecimentos de insumos e componentes Etapas do processo produtivo (montagem, embalagem, etc.) Serviços especializados na produção (laboratoriais, engenharia, manutenção, certificação, etc.) Administrativas (gestão, processamento de dados, contabilidade, recursos humanos) Desenvolvimento de produto (design, projeto, etc.) Comercialização Serviços gerais (limpeza, refeições, transporte, etc) (1) (1) (2) (2) (3) (3) (1) (2) (3) (1) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (2) (3) (3) (3) (3) 6. Caso sua empresa seja subcontratante indique o tipo de atividade e a localização da empresa subcontratada: 1 significa que a empresa não realiza este tipo de atividade, 2 significa que sua empresa subcontrata esta atividade de outra empresa localizada dentro do arranjo, e 3 significa que sua empresa subcontrata esta atividade de outra empresa localizada fora do arranjo. Tipo de atividade Localização Fornecimentos de insumos e componentes Etapas do processo produtivo (montagem, embalagem, etc.) Serviços especializados na produção (laboratoriais, engenharia, manutenção, certificação, etc.) Administrativas (gestão, processamento de dados, contabilidade, recursos humanos) Desenvolvimento de produto (design, projeto, etc.) Comercialização Serviços gerais (limpeza, refeições, transporte, etc) (1) (1) (2) (2) (3) (3) (1) (2) (3) (1) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (2) (3) (3) (3) (3) 7. Como a sua empresa avalia a contribuição de sindicatos, associações, cooperativas, locais no tocante às seguintes atividades: Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Tipo de contribuição Auxílio na definição de objetivos comuns para o arranjo produtivo Estímulo na percepção de visões de futuro para ação estratégica Disponibilização de informações sobre matérias-primas, equipamento, assistência técnica, consultoria, etc. Identificação de fontes e formas de financiamento Promoção de ações cooperativas Apresentação de reivindicações comuns Criação de fóruns e ambientes para discussão Promoção de ações dirigidas a capacitação tecnológica de empresas Estímulo ao desenvolvimento do sistema de ensino e pesquisa local Organização de eventos técnicos e comerciais Grau de importância (0) (0) (1) (1) (2) (2) (3) (3) (0) (1) (2) (3) (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) 120 V – POLÍTICAS PÚBLICAS E FORMAS DE FINANCIAMENTO 1. A empresa participa ou tem conhecimento sobre algum tipo de programa ou ações específicas para o segmento onde atua, promovido pelos diferentes âmbitos de governo e/ou instituições abaixo relacionados: Instituição/esfera governamental Governo federal Governo estadual Governo local/municipal SEBRAE Outras Instituições 1. Não tem conhecimento (1) (1) (1) (1) (1) 2. Conhece, mas não participa (2) (2) (2) (2) (2) 3. Conhece e participa (3) (3) (3) (3) (3) 2. Qual a sua avaliação dos programas ou ações específicas para o segmento onde atua, promovido pelos diferentes âmbitos de governo e/ou instituições abaixo relacionados: Instituição/esfera governamental 1. Avaliação positiva 2. Avaliação negativa 3. Sem elementos para avaliação (1) (1) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (2) (2) (3) (3) (3) (3) (3) Governo federal Governo estadual Governo local/municipal SEBRAE Outras Instituições 3. Quais políticas públicas poderiam contribuir para o aumento da eficiência competitiva das empresas do arranjo? Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Ações de Política Programas de capacitação profissional e treinamento técnico Melhorias na educação básica Programas de apoio a consultoria técnica Estímulos à oferta de serviços tecnológicos Programas de acesso à informação (produção, tecnologia, mercados, geologia, etc.) Linhas de crédito e outras formas de financiamento Incentivos fiscais Políticas de fundo de aval Programas de estímulo ao investimento (venture capital) Outras (especifique): Grau de importância (0) (0) (0) (0) (1) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (2) (3) (3) (3) (3) (0) (1) (2) (3) (0) (0) (0) (0) (0) (1) (1) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (2) (2) (3) (3) (3) (3) (3) 4. Indique os principais obstáculos que limitam o acesso da empresa as fontes externas de financiamento: Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Limitações Inexistência de linhas de crédito adequadas às necessidades da empresa Dificuldades ou entraves burocráticos para se utilizar as fontes de financiamento existentes Exigência de aval/garantias por parte das instituições de financiamento Entraves fiscais que impedem o acesso às fontes oficiais de financiamento Outras. Especifique Grau de importância (0) (1) (2) (3) (0) (1) (2) (3) (0) (0) (0) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (3) (3) (3) 121