ENTRE IDENTIDADES E SABERES: REFLETINDO SOBRE OS DESAFIOS DA JUVENILIZAÇÃO NA EJA1 Quem trata com a juventude deve aprender a ser jovem. Cecília Meirelles INTRODUÇÃO O processo de juvenilização das turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Município do Rio de Janeiro constitui-se, hoje, num dos desafios para a construção e reconstrução de novas práticas pedagógicas que atendam a um perfil cada vez mais heterogêneo no que se refere à faixa etária nessa modalidade de ensino. O presente trabalho busca identificar a relação dos jovens com o saber, a partir de uma pesquisa com alunos que estudam em algumas escolas da Rede Municipal de Ensino do Rio de Janeiro, que oferecem o Programa de Educação de Jovens e Adultos – PEJA, num horário de funcionamento diferenciado daquele que comumente observamos para as classes de EJA: o horário diurno. O nosso caminhar como educadoras de jovens e adultos, possibilitou que, partindo de observações e reflexões da nossa prática cotidiana, surgissem vários questionamentos. Entre eles podemos citar: Por que existem tantos jovens no PEJA? Por que desistiram ou abandonaram a escola regular? A reprovação é um fenômeno importante (ou marca) no ingresso desses jovens no PEJA? Recuperar o tempo perdido é fundamental neste contexto? Podemos dizer que existe um desencanto dos jovens pela escola regular ou que esta escola não atende aos anseios desses jovens? O fator trabalho seria realmente determinante para a escolha dessa modalidade de ensino? Entender porque esse jovem retorna a escola após sucessivos fracassos no ensino regular, como também a aplicação de políticas públicas que atendam as suas especificidades e expectativas são os objetivos do presente estudo. 1 Jaqueline Luzia da Silva (Doutoranda em Educação – PUC-Rio e Equipe do PEJA – SME-RJ); Maria Luiza Lixa de Mendonça (Equipe do PEJA – SME-RJ) e Rosa Maria Pires de Freitas (Equipe do PEJA – SME-RJ). UM POUCO DE HISTÓRIA... A Educação de Jovens e Adultos na Rede Municipal de Ensino do Rio de Janeiro, foi criada em 1985, como parte do Programa Especial de Educação – PEE, no primeiro governo de Leonel Brizola (1982/1986). Destinava-se ao atendimento de jovens das classes populares, egressos do ensino regular, na faixa etária de 14 a 20 anos. O PEJ (Projeto de Educação Juvenil) foi implantado em 20 CIEPs (Centro Integrado de Educação Pública) privilegiando a alfabetização, conforme a concepção de Paulo Freire, vendo a leitura e a escrita não só como apropriação do sistema de representação, mas como instrumento de compreensão da realidade social e de formação/participação de cidadãos. Como proposta, pretendia “criar uma nova relação entre a escola e os professores, de um lado, e os jovens alfabetizandos, do outro. Uma relação de troca entre o saber universal e científico da escola e o saber das camadas populares, produzido em sua luta diária pela sobrevivência” (Documento original do PEJ – 1985). A partir de 1987, em resposta às reivindicações dos profissionais de educação e dos alunos, o Projeto foi ampliado e passou a garantir a continuidade de estudos daqueles que venceram o processo inicial de alfabetização no próprio PEJ ou fora dele. O curso organizou-se, então, de forma asseriada, em dois blocos de aprendizagem: no Bloco 1, ocorria a alfabetização propriamente dita e no Bloco 2, ampliavam-se os conceitos referentes às últimas séries do Ensino Fundamental. Apesar desta mudança, o PEJ não podia ainda certificar oficialmente os alunos, pois não era reconhecido pelo Conselho Municipal de Educação. Em 1988, a EJA no Município do Rio de Janeiro passou a conviver com outra modalidade de ensino – o Ensino Regular Noturno – atendendo jovens trabalhadores até 20 anos, impossibilitados de freqüentar o horário diurno e que desejavam completar sua escolaridade básica. Em 1996, com a parceria estabelecida no Convênio 610/96 SME/MEC/FNDE, foram destinadas verbas à EJA, possibilitando investimentos significativos para o Projeto de Educação Juvenil, dentre os quais a realização do I Encontro de Educação de Jovens e Adultos do Município do Rio de Janeiro. Neste encontro foi sinalizada a necessidade de revisão da faixa etária dos alunos, pois até então havia uma variação na oferta de vagas para os jovens que permaneciam ou retornavam aos estudos e a exclusão de adultos que lutavam pelo acesso à educação básica. É importante ressaltar que até 1996 a oferta da educação de jovens e adultos estava vinculada aos Programas Sociais e não ao campo do direito à educação. Em 1998, a Secretaria Municipal de Educação apresentou ao Conselho Municipal de Educação uma proposta para a implantação do 2º segmento do Ensino Fundamental no PEJ e a regulamentação do mesmo. No ano seguinte, por meio do 2 Parecer 03/99, foi dado caráter de terminalidade ao Projeto, com garantia de documentação retroativa a 1998 a todos que freqüentaram tal modalidade de ensino, sendo estabelecida a faixa etária de 14 a 22 anos para o PEJ I e de 14 a 25 anos para o PEJ II. Em 2004, foram encaminhadas ao Conselho Municipal de Educação alterações a serem feitas ao Projeto de Educação Juvenil, visando a atualização do atendimento, tendo em vista novas demandas. Como solicitação inicial encontravase a mudança da denominação, uma vez que era procurado por adultos de todas as idades que desejavam estudar e concluir o Ensino Fundamental. Em 2005, em concordância com a nova demanda e com as leis em vigor, foi publicado o Parecer 06/2005 que, entre outras alterações, estabeleceu o nome Programa de Educação de Jovens e Adultos - PEJA, em substituição à designação usada até então. Atualmente, o PEJA funciona em 125 escolas da Rede Municipal de Educação do Rio de Janeiro, oferecendo o PEJA I e o PEJA II funcionando no horário noturno, em sua grande maioria. Destas escolas, 12 funcionam com PEJA diurno. No ano de 2007, estão matriculados cerca de 30 mil alunos. A cada início de ano letivo são abertas mais vagas nas Unidades Escolares pelas Coordenadorias Regionais de Educação (CREs), de acordo com a demanda identificada nas diferentes comunidades para esta modalidade de ensino. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O presente trabalho trata da identidade dos sujeitos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), com o objetivo de analisar o perfil desses alunos e alunas. Para tanto, foram analisados pesquisas e estudos desenvolvidos acerca da temática da identidade do público desta modalidade de ensino. Para pensar no perfil dos alunos, é necessário refletir sobre a relação entre os saberes trazidos por esses alunos e a redefinição da identidade da educação de jovens e adultos, processo desencadeado pelo reconhecimento da diversidade sociocultural dos educandos, pelo embate entre o paradigma compensatório e a concepção de educação continuada. Maria Clara Di Pierro salienta que a identidade da EJA não foi construída com referência às características psicológicas ou cognitivas da juventude, da maturidade e da velhice, mas em torno de uma “representação social enraizada, de um lado, no estigma que recai sobre os analfabetos nas sociedades letradas e, de outro, em uma 3 relativa homogeneidade sociocultural dos educandos” (2005, p. 1120) – condição de camponeses, migrantes rurais, trabalhadores de baixa qualificação etc. Numa pesquisa sobre a psicologia desses jovens e adultos, desenvolvida por Marta Kohl de Oliveira (1999), fica claro que, para que esses estudantes sejam vistos como sujeitos de aprendizagem, é necessário encará-los em suas especificidades culturais, pois a heterogeneidade é resultado da construção de práticas sociais constitutivas do psiquismo. Di Pierro (2005) afirma, no entanto, que a maior parte das pesquisas sobre a identidade dos jovens e adultos da EJA tendeu a homogeneizá-los, abstraindo sua diversidade e diluindo suas singularidades, dando-lhes o rótulo genérico de “alunos”. Ela analisa historicamente a construção da identidade desses estudantes, que a partir dos anos oitenta, passam a ser vistos como “alunos trabalhadores”, colocando em destaque as relações de conflito entre educação e trabalho. Com esta concepção, questiona-se a prática do ensino noturno e a inadequação da organização escolar para atender às expectativas e características desses estudantes. O reconhecimento da diversidade desses sujeitos surgiu a partir da emergência de movimentos sociais que reivindicam a valorização das identidades singulares e do interculturalismo, nos últimos anos. Esse reconhecimento abriu espaço à percepção da “juvenilização” do alunado da EJA, dos recortes de gênero, da especificidade do meio rural e, em alguns casos, da condição étnico-racial. Contudo, ainda é reduzido, segundo Di Pierro (2005), o reconhecimento de pessoas com necessidades educativas especiais e das práticas religiosas desses estudantes. Essa necessidade de afirmação das identidades singulares é confirmada pelo crescimento2, a partir da virada do milênio, das aspirações dos jovens e adultos para a busca de maiores níveis de escolarização após a infância e adolescência, bem como a busca de informação e comunicação, e a qualificação para o mercado de trabalho, competitivo e excludente. Durante algumas décadas, a EJA foi configurada somente como Educação de Adultos, objetivando, principalmente, a alfabetização destas pessoas. Nos últimos anos o que se observa é a juvenilização da EJA. No Brasil, esta realidade é devida, principalmente, a fatores como a exigência de certificação escolar para o mercado de trabalho, a elevada defasagem na relação idade/série e a redução da idade mínima permitida para a freqüência a essa modalidade, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996 (14 anos completos). Oliveira também nos apresenta o perfil do jovem da EJA, que não é o vestibulando, o aluno de cursos extracurriculares em busca de enriquecimento pessoal. É o jovem, como o adulto, também excluído da escola, mas com maiores chances de concluir o ensino fundamental ou mesmo o ensino médio. “É bem mais 2 A matrícula pública no ensino fundamental de jovens e adultos teve um aumento de 220% entre 1998 e 2004 (DI PIERRO, 2005). 4 ligado ao mundo urbano, envolvido em atividades de trabalho e lazer mais relacionadas com a sociedade letrada, escolarizada e urbana” (OLIVEIRA, 1999, p. 60). Como também aponta Eliane Andrade (2004, p. 50): São jovens que, por uma série de motivos, precisaram abandonar a escola; vivem em periferias, favelas, vilas e bairros pobres, principalmente nas grandes cidades; são majoritariamente negros; circulam no espaço escolar um “incansável” número de vezes, com entradas, saídas e retornos, após o período estabelecido como o próprio para a vida escolar (de 7 a 14 anos). Essas idas e vindas determinam a produção da situação de fracasso escolar. Os mesmos jovens que foram excluídos desse sistema escolar são aqueles que atualmente regressam e encontram, nesse espaço, a mesma escola que deixaram e dificilmente conseguem se adequar a ela. É como se a situação de exclusão da escola regular fosse, em si mesma, potencialmente geradora de fracasso na situação da escolarização tardia. [...] a exclusão da escola coloca os alunos em situação de desconforto pessoal em razão de aspectos de natureza mais afetiva, mas que podem também influenciar a aprendizagem. (OLIVEIRA, 1999, p. 62). O reflexo dessa exclusão, infelizmente, está na permanência dos jovens na situação de oprimidos na sociedade em que vivem, é o resultado da entrada e saída contínuas dos jovens aos bancos escolares. Mesmo assim, percebemos uma insistência desses jovens na permanência dentro da escola, principalmente por reconhecerem e acreditarem no quanto ainda é imprescindível a escolarização para o acesso a empregos e possibilidades de melhoria na condição de vida. “[...] Apesar de esses jovens terem todos os motivos compreensíveis para não voltar à escola, a ela retornam, mesmo sabendo dos limites e das dificuldades que lhes são colocados para construir uma trajetória escolar bem-sucedida” (ANDRADE, 2004, p. 50). Essa estratégia de escolarização dos jovens é muito mais produto de esforço e mobilização individual do que de um efetivo investimento familiar. Juarez Dayrell (2003, p. 43) investiga os jovens e os define da seguinte maneira: “eles são seres humanos, amam, sofrem, divertem-se, pensam a respeito de suas condições e de suas experiências de vida, posicionam-se, possuem desejos e propostas de melhoria de vida”. Para ele, é nesse processo de construção de si mesmo que o jovem deve ser reconhecido como sujeito, visto que é alguém capaz de se apropriar do social, que interpreta e dá sentido ao seu mundo e suas relações. Para isso é necessário assumir uma postura metodológica e ética diante desses jovens, ainda não assumida pela escola, que não consegue entender nem responder suas demandas, pouco contribuindo para sua constituição como sujeitos. 5 A EJA hoje não se compõe mais somente por aqueles que nunca foram à escola, mas também pelos que freqüentaram os bancos escolares, mas não realizaram aprendizagens suficientes para participar plenamente da vida social. Haddad e Di Pierro apontam para pesquisas que mostram que são necessários mais de quatro anos de escolarização bem-sucedida para que se adquira habilidades e competências necessárias às exigências da sociedade contemporânea. Contudo, até 1996, quase um terço da população com mais de 14 anos não havia concluído sequer quatro anos de estudos e mais de dois terços desse universo não havia completado oito anos de estudos. Enquanto os adultos vêem na escola uma perspectiva de integração sociocultural, os jovens mantêm com ela uma relação de tensão e conflito aprendida na experiência anterior (HADDAD e DI PIERRO, 2000). Os adultos carregam consigo um estereótipo impregnado historicamente na escola, e os jovens, um estigma de alunos-problema. Estas realidades heterogêneas desafiam os educadores, que precisam aprender a lidar com universos muito distintos, que agregam diversas idades, culturas e expectativas com relação à escola. Da mesma maneira, os programas de EJA passam a cumprir um papel acelerativo na educação de jovens e adultos com defasagem idade/série, na tentativa de regularização do fluxo escolar. O desafio maior da EJA, segundo Haddad e Di Pierro, é o de encontrar caminhos para fazer convergir as metodologias e práticas da educação continuada em favor da superação de problemas, como a universalização da alfabetização. É preciso garantir aos jovens a permanência no sistema de ensino e a continuidade de estudos. Isso se dará pelo cumprimento do direito público subjetivo, reconhecido constitucionalmente, mas não efetivado, da educação continuada ao longo da vida e de uma concepção ampliada da alfabetização, com a perspectiva do letramento. Seria fundamental para o trabalho pedagógico captar os anseios e necessidades destes jovens. E para isso, é preciso entrar em contato com sua realidade, entender seus questionamentos do mundo. A valorização desse retorno é fundamental para torná-lo um cidadão, já que representa a chance que, mais uma vez, esse jovem ou adulto está dando ao sistema educacional de considerar a sua existência social, sua condição de sujeito. Valorizar significa garantir condições de permanência e viabilizar o aproveitamento de sua experiência existencial no mundo, através de práticas pedagógicas adequadas e relevantes para sua realidade social. É sobre a relação entre o saber desses jovens e a realidade em que estão inseridos que Bernard Charlot (2001) trata. Não basta apenas que este jovem esteja matriculado na escola, é preciso que os conhecimentos que ele já possui e os que construirá no espaço escolar estabeleçam relações consigo mesmo, com os outros e com o mundo. Só assim a aprendizagem fará sentido para estes sujeitos. 6 A EJA precisa preparar-se melhor para receber tais jovens, reconhecendo-os como portadores de direitos e sujeitos de sua aprendizagem. Nela estão os jovens aos quais o sistema educacional tem acolhido por direito, mas não de fato. “Embora a identidade do aluno seja um elemento da realidade subjetiva, ela pode ser dialeticamente reproduzida ou renovada na relação social que professor e aluno constroem conjuntamente” (KLEIMAN, 2001, p. 275). PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A pesquisa com o PEJA diurno partiu dos questionamentos surgidos com a entrada maciça dos alunos de 14 a 18 anos no programa. Primeiramente, foi realizado um levantamento do número de alunos matriculados no PEJA diurno no início do ano letivo de 2007. Este levantamento foi conseguido através do Sistema de Controle Acadêmico das 12 escolas envolvidas na pesquisa, que gerou a seguinte tabela: FAIXA ETÁRIA DOS ALUNOS DO PEJA DIURNO IDADE 14 15 16 17 18 19-20 21-25 26-30 31-40 41-50 51-60 >60 anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos ESCOLA A 2 1 9 13 4 8 11 18 39 26 20 9 160 ESCOLA B 1 0 1 0 0 0 0 1 3 3 4 4 17 ESCOLA C 25 20 14 4 7 2 2 13 35 17 13 10 162 ESCOLA D 2 2 4 2 0 0 0 0 1 2 3 2 18 ESCOLA E 36 56 43 31 5 8 4 1 8 8 5 4 209 ESCOLA F 2 12 13 5 4 1 5 6 16 10 17 20 111 ESCOLA G 4 39 46 25 11 1 3 0 0 0 0 0 129 ESCOLA H 13 20 18 19 13 4 7 11 19 24 19 17 184 ESCOLA I 14 41 32 12 7 3 2 5 10 8 5 10 149 ESCOLA J 3 3 6 1 2 2 3 0 5 4 10 16 55 ESCOLA L 11 29 29 11 3 2 3 1 1 1 0 0 91 ESCOLA M 30 40 23 19 2 3 2 4 7 0 9 1 140 143 263 238 142 58 34 42 60 144 103 105 93 1425 10,0% 18,5% 16,7% 10,0% 4,1% 2,4% 2,9% 4,2% 10,1% 7,2% 7,4% 6,5% 100% ESCOLA TOTAL TOTAL 7 No quadro acima, é possível observar que nas escolas com PEJA diurno a maioria dos alunos concentra-se na faixa etária dos 14 aos 18 anos, o que corresponde às hipóteses iniciais da pesquisa. Se for feito um somatório destes alunos, verifica-se que cerca de 59% (844) dos que estudam no PEJA diurno estão nesta faixa etária. Assim, comprovamos que há uma juvenilização crescente neste programa. Ainda, podemos perceber que a maior concentração dos alunos encontra-se na faixa etária de 15 e 16 anos. Enquanto que a minoria dos alunos tem 19 a 25 anos. Esta constatação remete-se à proposta inicial do PEJ que era voltado para o atendimento de pessoas até 20 anos de idade. Concomitantemente a este levantamento, foram visitadas as escolas pesquisadas. Durante as visitas, foi preenchido um questionário de informações sobre o funcionamento do programa nas escolas. Estas perguntas iam desde o quadro de turmas que compõem cada escola, passando por questões sobre a utilização do espaço escolar pelos alunos do PEJA, até uma avaliação do programa pelos gestores da escola (a causa da abertura do PEJA diurno e eventuais problemas apresentados no dia-a-dia). Nas conversas com os professores, percebemos uma reclamação contínua quanto a entrada dos alunos muito jovens no PEJA. Eles questionam a idade mínima do ingresso, demonstrando as dificuldades do trabalho com as diversas faixas etárias numa mesma classe. Nestas visitas, as pesquisadoras buscaram conversar com alunos, professores, coordenadores pedagógicos e diretores das escolas. Nas salas de aula, o primeiro contato propunha uma avaliação das aulas e da escola pelos alunos. Foi neste contato que descobrimos o principal motivo expressado pelos alunos para a procura ao PEJA diurno: porque foram reprovados um ou mais anos e estão em busca do que chamam de “aceleração”, porque querem “terminar logo” o Ensino Fundamental. O terceiro momento da pesquisa será uma nova visita às escolas, desta vez para que os alunos expressem individualmente suas motivações, seus desejos com relação à escolarização. Isso se dará através de um questionário, respondido pelos alunos de faixa etária dos 14 aos 18 anos. A análise desses dados partirá da relação entre as pesquisas já existentes sobre a juvenilização na EJA, as diferentes realidades vividas por estes alunos do PEJA e suas respostas a respeito dos motivos que os levaram a matricularem-se no PEJA, do que esperam da escola, de seus sonhos e de seus saberes. 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados da presente pesquisa pretenderão compreender os saberes trazidos por estes alunos até a escola e aqueles construídos por eles no espaço escolar, fornecendo subsídios para o trabalho dos educadores que atuam no PEJA. Estes resultados, ainda parciais, transparecem as armadilhas de uma prática educativa pensada para um determinado grupo, frente às necessidades de outro (s). Consideramos ser indispensável realizar um trabalho, junto aos professores e alunos no sentido de superação destas questões. Para tanto, a escola necessita considerar o jovem em sua constituição, observando suas particularidades, entendendo-o como sujeito, pois os alunos pertencentes à EJA são parte integrante do sistema educacional. É necessário que a escola os encare como sujeitos sociais, portadores de necessidades, desejos e vontades, sendo o espaço escolar um significativo local de expressão do direito a essas vivências. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, Eliane Ribeiro. Os jovens da EJA e a EJA dos jovens. In: OLIVEIRA, Inês Barbosa de.; PAIVA, Jane (Orgs.). Educação de jovens e adultos. Rio de Janeiro: DP&A, 2004, p. 43-54. BRUNEL, Carmen. Jovens cada vez mais jovens na educação de jovens e adultos. Porto Alegre: Mediação, 2004. CHARLOT, Bernard. Os jovens e o saber: perspectivas mundiais. Porto Alegre: Artmed, 2001. DAYRELL, Juarez. O jovem como sujeito social. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, n. 24, p. 40-52, set./dez. 2003. DI PIERRO, Maria Clara. Notas sobre a redefinição da identidade e das políticas públicas de educação de jovens e adultos no Brasil. Educação e Sociedade, Campinas, vol. 26, n. 92, p. 1115-1139, out. 2005. HADDAD, Sérgio; DI PIERRO, Maria Clara. Escolarização de jovens e adultos. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, n. 14, p. 108-130, mai./ago. 2000. 9 KLEIMAN, Angela B. Programas de educação de jovens e adultos e pesquisa acadêmica: a contribuição dos estudos do letramento. Educação e Pesquisa, São Paulo, vol. 27, n. 2, p. 267-281, jul./dez. 2001. OLIVEIRA, Marta Kohl de. Jovens e adultos como sujeitos de conhecimento e aprendizagem. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, n. 12, p. 59-73, 1999. PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. Projeto de Educação Juvenil – Documento de fundação do Projeto, Rio de Janeiro, 1985. RIBEIRO, Darcy. O livro dos CIEPs. Rio de Janeiro: Bloch, 1986. SOARES, Leôncio. Diretrizes Curriculares Nacionais: Educação de jovens e adultos. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. 10