18 Terça-feira 20 de outubro de 2015 Jornal do Comércio - Porto Alegre Política Editora: Paula Coutinho [email protected] RELAÇÕES INTERNACIONAIS Bancos e o PT Na comissão-geral em que parlamentares se reuniram com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o deputado federal Pompeo de Mattos (PDT) teve uma estranha constatação: o lucro dos bancos foi mais taxado na época de Fernando Henrique Cardoso (PSDB, 1995-2002) do que nos governos “esquerdistas” de Luiz Inácio Lula da Silva (PT, 2003-2010) e Dilma Rousseff (PT, 2011-2014). “A Câmara recebeu medida provisória ampliando a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) dos bancos, aumentando de 15% para 20%. É muito pouco. Poderiam aumentar de 15% para 30%. E isso já aconteceu, pasmem, no governo Fernando Henrique Cardoso. Na época, o ministro da Fazenda era Ciro Gomes, que hoje está filiado ao PDT. Os bancos tiveram seus lucros taxados em percentuais muito maiores no governo FHC do que no governo Dilma. Isso é coisa pouco compreensível”, ironizou o parlamentar. Pompeo criticou o governo por penalizar os trabalhadores e manter o lucro dos bancos. “Nós temos que tirar dos grandes, de quem tem, e não de quem não tem. Quem não tem, já não tem.” Mudanças necessárias ALEX FERREIRA/AGÊNCIA CÂMARA/JC O deputado federal Ronaldo Nogueira (PTB, foto) fez duas sugestões a Levy: mudar a tributação e deixar de buscar dinheiro no mercado especulativo internacional. Sobre os impostos, Nogueira propôs mudar a matriz: ao invés de tributar o consumo, tributar a renda. “Se simplificar nossa matriz tributária, desonerar a produção, desonerar o consumo e estabelecer um modelo de tributação progressiva para tributar a propriedade, tributar a renda e tributar as grandes fortunas, parece-me que, a médio e longo prazo, nós teríamos uma solução melhor para o nosso País desenvolvido.” Já sobre a dívida pública, o parlamentar lembrou que 40% da arrecadação do governo vai para o serviço da dívida. “Em vez de remunerar melhor os títulos que estão no mercado, buscando atrativos financeiros no mercado especulativo internacional, em razão das altas taxas de juros, caso melhorássemos a remuneração da poupança interna, combateríamos a inflação e baixaríamos os juros.” Combate à pólio O deputado federal gaúcho João Derly (Rede) enviou ao ministro da Saúde, Marcelo Castro, sugestão para criar uma rede de Centros de Referência para atenção à pessoa com síndrome pós-poliomielite (SPP) e outras doenças neuromusculares. “Décadas após a erradicação da transmissão do poliovírus selvagem, o Brasil se vê confrontado com um número considerável de portadores de Síndrome Pós-Poliomielite, enfermidade tardia que acomete cerca de dois terços dos sobreviventes da forma paralítica da poliomielite, que no País montam a dezenas de milhares”, justificou. Dilma prevê relação entre Mercosul e UE neste ano Negociação, que se arrasta há 15 anos, pode ocorrer em novembro A presidente Dilma Rousseff (PT) afirmou ontem esperar que a troca de ofertas comerciais entre Mercosul e União Europeia (UE) ocorra até o final de novembro. A troca de propostas é o passo necessário e decisivo para um acordo de livre comércio entre os dois blocos. “Nós esperamos apresentar as ofertas comerciais do Mercosul com a UE na data acordada com a comissária para questões comerciais da UE, isto é, até o final de novembro, última semana de novembro”, afirmou Dilma. A declaração sobre os blocos econômicos foi dada durante entrevista coletiva após o comunicado conjunto feito por ela ao lado do primeiro-ministro da Suécia, Stefan Lofven, em Estocolmo (Suécia), onde ela se encontra desde sábado para encontro com autoridades e empresários locais. “Somos muito otimistas em relação a esse acordo. Do ponto de visto do Mercosul, está pronto para ser assinado, e acreditamos que, do ponto de vista da UE, os sinais também são bem positivos”, disse a presidente. A negociação de livre comércio entre Mercosul e UE se arrasta há mais de 15 anos. Em junho, durante visita à Bélgica, Dilma havia declarado que o Brasil estava pronto para acelerar a troca de ofertas em julho. Mas as conversas não avançaram neste sentido e estipulou-se o fim deste ano como limite para tanto. A oferta de cada bloco significa, em tese, o que cada um tem a oferecer em termos de tarifa zerada numa relação comercial entre eles. É a principal etapa para que um acordo seja selado. Em setembro, o ministro Armando Monteiro (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) declarou à Folha de S.Paulo que esperava que essa troca ocorresse já em outubro. Ao lado de Dilma, o primeiro-ministro sueco evitou entrar em detalhes sobre o tema e apenas destacou que torce para que o acordo seja estabelecido o quanto antes. “A Suécia há muito tempo trabalha com sistema de comércios abertos”, declarou. O acordo de livre comércio entre União Europeia e Mercosul vem sendo discutido desde o início dos anos 2000. Em 2004, uma troca de ofertas chegou a acontecer, mas sem acordo final. O processo foi retomado em 2010, e vários prazos foram fixados para a apresentação das propostas, o que até hoje não aconteceu. No primeiro semestre, Dilma Rousseff chegou a expressar o desejo de que a troca acontecesse em julho, mas o processo segue indefinido. Nelson Jobim diz que desafio do País é político e econômico O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e ex-ministro Nelson Jobim (PMDB) afirmou ontem que a crise brasileira não é institucional, mas sim política e econômica. “E não é uma crise insolúvel. Estamos vivendo uma disfuncionalidade do Poder Executivo, que leva a uma inação, uma paralisia do Congresso, decorrente de situações criminalizadas e do desaparecimento de lideranças, e também uma disfuncionalidade do Poder Judiciário”, disse, em evento na Associação dos Advogados de São Paulo, Centro da capital paulista. Como exemplo da falta de eficiência da política brasileira, Jobim citou a discussão sobre o financiamento privado de campanha, que, segundo ele, só aborda o lado da receita, ignorando as despesas dos candidatos. “Imagine um candidato a deputado federal que, a 15 dias do dia da eleição, fica sem dinheiro. Ele tem duas opções: ou ele para a campanha, ou ele dá um jeito. Parar a campanha? Esqueça!” Na avaliação do ex-ministro, os legisladores precisam estar atentos também às necessidades de custos das campanhas. “Se as proibições das leis se chocam com as necessidades dos candidatos, estaremos empurrando os candidatos para a ilegalidade”, declarou, em uma crítica ao fim do financiamento privado de campanhas. Jobim declarou que o Congresso de hoje é mais representativo do que quando ele era deputado federal. GOVERNO FEDERAL Para Cunha, Brasil tem ‘maior escândalo do mundo’ Em entrevista coletiva ontem à tarde, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), respondeu a uma declaração da presidente Dilma Rousseff (PT). No domingo, em entrevista na Suécia, jornalistas perguntaram para a presidente se as denúncias contra o peemedebista causavam constrangimento internacional. Dilma, então, disse que seria estranho se causasse e lamentava que o escândalo seja com um brasileiro. “Eu lamento que seja com um governo brasileiro o maior escândalo de corrupção do mundo”, disse Cunha aos jornalistas ao ser perguntado sobre a declaração da presidente. O presidente da Câmara reafirmou na entrevista que não vai renunciar ao cargo por conta das denúncias envolvendo seu nome: “Eu me sinto em condição de continuar na presidência da Câmara”. J. BATISTA/CÂMARA DOS DEPUTADOS/JC