A ÉTICA NA VIDA COMO UM TODO Paula Assumpção1 A ética, a virtude, a honestidade, a probidade, a conduta honrada. Enfim poderíamos ficar aqui enumerando sinônimos para a mesma conduta admirável que faz tanta falta nos dias atuais sem intercalar mais do que sinônimos e conseguiríamos mesmo assim que o leitor entendesse o sentido de meu texto. E não digo isso pela qualidade do texto e sim pelo conhecimento que todos temos sobre o significado destas palavras e sobre o vazio que a ausência delas tem deixado ao mundo contemporâneo. Antigamente as pessoas eram conhecidas e confiáveis pelo peso de suas palavras. Expressões como “Um homem de palavra”, “tudo pela honra”, e “alguma vez já deixei de cumprir minha palavra?!” eram tão comuns e valiam de tal maneira que as pessoas conheciam as outras pela sua honra e pelo esforço continuo de manter uma história sem manchas. Hodiernamente as coisas estão bem mais “ligths” e chegam até a serem frouxas ao passo que já não se cumpre a palavra, nem se esforça tanto pela honestidade. Em um texto do cronista Arnaldo Jabor, ele diz: “As circunstâncias entre as quais você vive determinarão sua reputação. A verdade em que você acredita determina seu caráter. A reputação é o que acham que você é. O caráter é o que você realmente é. A reputação é o que você tem quando chega a uma comunidade nova. O caráter é que você tem quando vai embora [...].” O texto de Arnaldo é digno de ser totalmente transcrito neste texto, mas esse pequeno e intenso fragmento já traduz muito da proposta de reflexão. Ultimamente as pessoas tem se preocupado muito com o que o mundo vai pensar ou vai dizer, das coisas que elas fazem ou deixam de fazer, é claro que o mundo e sua opinião refletirá em nossas vidas e que isso se fará de forma relevante para nós, o que nos leva a admitir que eles tem certa importância, mas o problema não é se importar com a opinião alheia, o problema está em viver para obter uma opinião alheia. 1 Aluna do 6º período B do Curso de Direito das FIVJ, Presidente do DCE das FIVJ. Aí é que vemos a diferença que o texto do afamado cronista nos transmite, a diferença entre caráter e reputação. Ambos trarão a nós os frutos da opinião alheia, mas de formas muito distintas. Recordo-me de uma propaganda veiculada pelas redes de televisão, há um tempo atrás, na qual se mostrava uma cena em que um rapaz muito acanhado fora empurrado e deixava vários livros caírem no chão, e outro que nem lhe era próximo estendia a mão para ajudá-lo a apanhar os livros e se recompor. A campanha com a melhor das intenções de incentivar a boa vontade entre as pessoas terminava com a frase: “Caráter passe a diante”. Ora, sabemos que não era essa a proposta, mas esta propagada nos leva a pensar a que ponto chegamos. Temos que passar adiante, um atributo que já devia ser nosso de berço. Já que a sociedade está tão carente de caráter, ética está sendo necessário incentiválos. Quem tem estes valores bem claros em sua mente cívica deve mesmo plantar algumas sementes, eu aceitei o convite. Quem sabe esse texto consegue “passar” um pouco desses valores “a diante”. Algumas profissões trazem a ética muito arraigadas a sua origem, virtude e fundação. É assim com a Medicina quem tem o dever de zelar por vidas, é assim com o jornalismo que tem o compromisso com a verdade que veicula, é assim com o Direito que garante nossa liberdade, nossa dignidade como cidadão, ente outras. Especialmente no Direito a atenção à ética se faz muito presente, porque os aplicadores do Direito julgam a vida de seus clientes, das partes, das vítimas, enfim jurisdicionam o direito que é o do outro, daquele que apresentar melhor suas razões e assim ganhar o sentimento do Julgador a lhe dizer que o direito é mais seu do que de seu adverso. E também porque de todas as profissões, inclusive dentro do ramo de atuação dos bacharéis em Direito, os advogados carregam a fama de mais dissimulados e desprovidos de honradez. Os médicos salvam. Os professores ensinam. Os engenheiros constroem. E os advogados, bem, estes segundo as más línguas, mentem. Tudo porque carregamos em um só diploma a possibilidade de defender o inocente e o culpado, de jogar com o significado das palavras a fim de que elas pareçam mais favoráveis ao nosso cliente e de defende - lo mesmo quando ele não está tão certo assim. Esses atributos juntos fazem um terreno muito fértil para pessoas de má índole. E que pela falta de caráter, muito comum independente da profissão, deixaram estigmatizada a carreira. Justificando a preocupação com a boa conduta dos litigantes. É importante que o advogado ou que o formando em advocacia, além de uma boa formação educacional, ética e cívica tenha noção de seu compromisso com a sociedade, com a justiça, com aplicação das normas em prol de aproximá-las com o ideal de justiça social. O art. 3º do Código de Ética da profissão reza que: “O advogado deve ter consciência de que o Direito é um meio de mitigar as desigualdades para o encontro de soluções justas e que a lei é um instrumento para garantir a igualdade de todos.”. O advogado ainda pelas palavras de seu código disciplinar é defensor do estado democrático de Direito, da cidadania, da moralidade pública, da Justiça e da paz social. (grifo nosso) É aquele no qual a população espera ver um homem de honra, estudado, entendido, que proceda com tão famosa boa-fé, com a lealdade, e que por fazer parte de um ramo tão formalista, tão focado no certo e no errado, é aquele que a população espera que não esqueça o que estudou e aquilo que se propôs a defender: A Justiça e a liberdade. Eduardo Couture em um momento de inspiração divinal escreveu “Os 10 mandamentos do advogado” Decálogo consagrado pela síntese de 10 recomendações sabiamente feitas por um amante da profissão. O 4º mandamento, entre os outros também maravilhosos, traz uma peculiaridade que vem a engrandecer meu singelo diálogo com o meu interlocutor. O 4º mandamento nos recomenda que: “Luta: O teu dever é lutar pelo Direito, mas se encontrares o direito em conflito com a justiça, luta pela justiça”. Na escala dos valores dos homens não figura o direito, mas a justiça, um fim em si mesma. É mister que se pondere entre o meio e o fim. O direito é o instrumento, o advogado o artesão, a justiça à obra prima. Não podemos errar o instrumento, nem corromper o artista, porque a justiça é um bem comum. A sinceridade é um dever que gera autoridade, gera confiança e mantém a honestidade. Abraham Lincoln dizia “quem não puder ser um advogado honesto, seja honesto sem ser advogado”. A busca da conduta honrosa em detrimento de uma profissão, porque o caráter fará o nome de que o carrega. A ética é um compromisso do homem consigo mesmo. As pequenas coisas guardam indícios de grandes características. Porque a vida em comunidade é assim, as pequenas atitudes desencadeiam outras tantas e contaminam para o bem ou não tantas outras. “Não afrontes os ditames de sua consciência”. Muito importante não só para os advogados, quanto para todos nós enquanto sociedade, que tenhamos consciência e que não nos acostumemos banalizando nossa repulsa à desonestidade, a falsidade, a corrupção. São mandamentos tão simples, tão difíceis de aplicar que a humanidade vem tentando ao longo das eras e cada vez a convivência leal parece mais utópica. Aos cidadãos do mundo que cumpram seu compromisso interno de não esquecer que tem consciência e aos advogados que “erguem da Justiça à clava forte [...]”. Certas palavras foram feitas para serem lidas com os olhos, enquanto ficam gravadas na alma: “Juro acreditar no direito como a melhor forma para a convivência humana. Prometo fazer da justiça uma conseqüência normal e lógica do direito. Juro confiar na paz como resultado final da justiça. E, acima de tudo, prometo defender a liberdade, pois sem ela não há direito que sobreviva muito menos justiça, e nunca haverá paz. Prometo utiliza-me, no exercício da profissão de Advogado, Dos princípios éticos e morais sobre os quais se fundamentam as leis e justiça, valendo-me deles para assegurar aos Homens os seus direitos fundamentais e inatacáveis.”