ID: 60938889 12-09-2015 | Fugas Tiragem: 35268 Pág: 29 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 25,70 x 30,65 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 2 de 2 a Mau mmmmm Razoável mmmmm Bom mmmmm Bom Mais mmmmm Muito Bom mmmmm Excelente ADRIANO MIRANDA Quinze anos depois, os Lavradores de Feitoria continuam a mostrar que a união faz a força Baga diriam que a sua teoria só confirma, por excesso, uma outra teoria, segundo a qual, na Bairrada, só há dois anos bons de Baga por década… Mas esta é outra história e é sempre perigoso generalizar. Mesmo em anos maus, há sempre quem faça grandes vinhos de Baga. Este ano, se o tempo não se alterar muito, o mais difícil será fazer vinhos maus. E isto é válido para qualquer região do país, em especial para as mais frescas, como Lisboa ou o Dão. Aqui, só mesmo a chuva abundante pode impedir um ano de grandes vi- nhos. E mesmo no Alentejo, a região mais castigada pelo calor, se esperam vinhos memoráveis. No início da vindima, “parecia que tudo se estava a adiantar”, que a “fruta estava a ficar madura antes do tempo, que não íamos ter cor e sabor nas uvas tintas. Mas não. Como sempre acontece quando se trabalha com a natureza, tivemos que esperar para ver, e o resultado apareceu: fruta madura e com muito sabor. A natureza tem os seus tempos”, resumia, no site da Sogrape, Luis Cabral de Almeida, enólogo principal da Herdade do Peso, na Vidigueira. N um curto texto dedicado à celebração dos 15 anos da Lavradores de Feitoria, o seu presidente da Assembleia Geral, António Barreto, escreveu que a empresa é “uma espécie de quadratura do círculo”. Não apenas por procurar o “equilíbrio entre a grande venda e a qualidade do singular” ou por dar em simultâneo “liberdade aos seus membros” e exigir-lhes o cumprimento de “regras de qualidade”. Mas também porque a experiência ousou tentar “resolver a oposição entre o individual e o colectivo”. Numa região marcada pelo individualismo e pela fragmentação que tanto impede a tomada de posições fortes nas negociações com o Governo ou com o sector comercial como trava a criação de empresas com massa crítica para operarem no mercado global, a Lavradores de Feitoria tornou-se uma excepção e num exemplo. Que funciona, gera receitas e, fundamentalmente, produz vinhos de classe. Olhar o percurso da Lavradores de Feitoria ao longo desta década e meia é assim um exercício que nos obriga a destacar esse esforço de união de pequenos produtores, a gestão competente e uma aposta naquilo que o Douro tem de diverso e único. “Tentámos um casamento entre a modernidade e os padrões internacionais e a tradição do Douro”, sublinha Olga Martins, a administradora delegada da empresa. Nas suas marcas há essa preocupação de conservar alguma “rusticidade” dos vinhos da região, subalternizando a tentação de produzir vinhos padronizados, “com demasiada maquilhagem”. Instrumentos para cumprir essa vocação não faltam: para lá da competência e experiência do enólogo Paulo Ruão e de uma equipa de viticultura apoiada pelo “mestre” Nuno Magalhães, a Lavradores de Feitoria tem um património de aproximadamente 600 hectares de vinhas com diferentes localizações, altitudes ou exposições que dão para fazer quase tudo. “É um privilégio”, reconhece Paulo Ruão. Com estas produções faz-se de tudo um pouco. Das cerca de 800 mil garrafas produzidas por ano há, para lá dos vinhos base, um Sauvignon Blanc e um magnífico Riesling, um Tinto Cão surpreendente, vinhos de quinta e reservas brancos e tintos que ficam bem em qualquer garrafeira. A cola de toda esta engrenagem está na convicção de 15 lavradores de que a melhor forma de satisfazerem os seus interesses profissionais é entregarem a gestão das suas propriedades numa bolsa colectiva gerida por uma estrutura profissional. Há 15 anos, a ideia parecia tão revolucionária que poucos acreditavam na sua viabilidade. Mas a determinação de Fernando Albuquerque, dono do Palácio de Mateus, que é o presidente do Conselho de Administração, a influência de António Barreto, um entusiasta do projecto desde a primeira hora, o empenho dos produtores e, obviamente, os bons resultados comerciais foram consolidando o projecto. Hoje, esses 15 produtores permitem às equipas de enologia e viticultura trabalhar com a matéria-prima de 19 quintas. Em vez dos 24 accionistas fundadores, a Lavradores de Feitoria conta agora com 48. Os produtores têm a maioria do capital da sociedade e os outros sócios entraram na estrutura accionista por serem da região ou por terem especial afinidade com o vinho. “Não é uma sociedade aberta a qualquer investidor”, explica Olga Martins. Alguns são familiares dos produtores originais; outros são funcionários ou dirigentes da sociedade, como António Barreto. Outros ainda investiram porque subscrevem a ideia do projecto e quiseram partilhar do seu pioneirismo, como é o caso de Dirk Niepoort, o enólogo mais heterodoxo da actual geração duriense. Actualmente, a Lavradores de Feitoria factura 1,6 milhões por ano. O mercado português representa menos de 40% das suas vendas e, no exterior, o seu principal trunfo é a Noruega, para onde vendem cerca de 20% da sua produção, a maioria no formato bag in box DOC Douro. No seu portefólio há vinhos de diferentes gamas, brancos, tintos ou late harvest. Falta ainda um vinho do Porto para que a Lavradores de Feitoria cumpra o espírito do seu nome — os vinhos de feitoria eram a mais alta gama dos Porto na demarcação e regulamentação do marquês de Pombal, em 1756. Manuel Carvalho O TRIUNFO DOS LAVRADORES Rui Paula Riesling 2012 Só se encontra nos restaurantes de Rui Paula mas em breve terá vida própria. Um Riesling fresco, vibrante, com notas apetroladas. Uma delícia. mmmmm Três Bagos Sauvignon Blanc Provavelmente o melhor Sauvignon Blanc do país, que em 2014 atinge níveis de harmonia entre a acidez e a seivosidade notáveis. 8,99€ mmmmm X Aniversário Tinto Cão 2006 Não está no mercado, mas serve para testemunhar a longevidade e personalidade de uma casta algo esquecida. Cor de Pinot Noir, notas de especiaria, flores, uma textura formidável, elegância e graça. mmmmm Três Bagos Grande Escolha Estágio Prolongado 2005 Um colosso ainda na sua primeira juventude. Nariz de fiolho, azevinho, espargos silvestres, muito clássico. Na boca é opulento, com uma estrutura poderosa que não anula as suas dimensões aromáticas. Fabuloso. 60€ mmmmm FUGAS | Público | Sábado 12 Setembro 2015 | 29