Dicas de Como Escrever
Prof. Maria da Conceição P.Saraiva
E-mail: [email protected]
Curso: Ortodontia
2012
Dicas de como escrever
Dicas de como escrever
De forma geral teses, monografias ou trabalhos para
publicações seguem um formato semelhante de partes
como por exemplo:
Resumo
Introdução
Material e Métodos (ou somente Métodos)
Resultados
Discussão
Referências (abordadas nos aquivos ABNT e Vancouver)
Anexos e Apêndices
A Arte de Escrever
Escrever não é uma tarefa fácil. Algumas
pessoas tem o dom de escrever, mas mesmo os
mais experientes escritores, lêm e relêm seus
textos várias vezes.
Mozart só tem um, o restante, somos pessoas
normais, e portanto, teremos que nos esforçar
para escrever.
Dicas ....
Depois de muito estudar sobre o assunto,
comece a escrever. Algumas pessoas gostam
de elaborar guias, isto é, fazer uma lista de
tópicos (outline).
Monte seu diagrama causal...ele irá ajudar na
montagem de sua introdução além de ajudar no
desenho de seu estudo.
Exemplo de Outline
Ex: se minha hipótese é a associação entre
chumbo e doença cardiovascular posso
imaginar as seguintes informações que deverão
estar numa introdução
1. Porque o chumbo e a doença cardiovascular
são importantes: prevalência da doenças,
quantas mortes e gastos com a mesma. Ou
apenas começar pelo chumbo
2. O quanto o chumbo é problema de saúde
pública em termos de frequência de
contaminação.
3. Efeitos do chumbo no organismo.
4. Atrelar o efeito do chumbo com o mecanismo
conhecido de doença cardiovascular.
5. Evidênciar se nunca testaram esta hipótese ou se ja,
descrever os estudos já existentes e suas falhas. O
motivo de você fazer aquele estudo será decorrência
da necessidade da informação.
6. Propor um estudo novo contemplando as falhas
passadas.
Depois de delimitar os tópicos
Dentro de cada tópico que você listou, escreva o
que for achando na literatura.
Não se esqueça de anotar quem falou o que.
Por exemplo:
As doenças cardiovasculares são a principal
causa de morte no Brasil (Ministério da Saúde,
IBGE 2001)
Escrever para a ciência não é escrever ficção ou
uma obra literária. Ciência já é cheia de palavras
complicadas para se complicá-la ainda mais.
Escreva de forma muito simples, com palavras
simples.
– Escreva simples para não cair no ridículo.
– “Todos os seres vivos tem enzimas, mas nem todas
as enzimas são seres vivos em si”....(babozeira em
revista cientìfica de aluno doutor)
Construa frases curtas, cada uma com um
pensamento.
Uma dica é sempre que uma frase alcançar duas linhas
completas ou três tente quebrá-la em duas frases.
Saramago é legal para literatura, porém, não existe
espaço para Saramago na ciência. Ele seria um
péssimo ciêntista escrevendo da maneira que escreve.
Mas como ele é inteligente saberia escrever de maneira
simples para cientístas..
Edição de texto
Escreva tudo que vem a cabeça e faça a edição
posteriormente.
Edição significa apurar o texto, quebrar frases
longas, dar sentido e rítimo a leitura.
Leia em voz alta o que escreve. Se o folego
acabar no meio da frase, é hora de quebrá-la.
Se o rítmo não estiver bom, modifique a frase.
Leia o texto a seguir. È um fragmento de uma
introdução de um artigo publicado numa revista
científica.
Felizberto, H. Monitoramento e e avaliação na atenção
básica: novos horizontes. Revista Bras. De Saúde Materno
Infantil 4(3)317-21. 2004.
Eu não gostei do que li. A saúde coletiva adora
este tipo de texto longo, mas eu odeio. Isso é
resquício de sociologia europeia que não
combina mais com a ciência atual.
Depois de mais de meia hora, consegui fazer o
resumo a seguir. Não está bom, mas já está
bem melhor eu acho. Se eu tentasse mais um
pouco conseguiria deixá-lo mais claro.
“Há muito pesquisadores e gestores ressaltam a
necessidade de se investir no processo de institucionalizar
a avaliação.Sendo a institucionalização a incorporação da
avaliação na rotina dos servicos, é necessário o
desenvolvimento e/ou fortalecimento da capacidade técnica
nos diversos níveis do sistema de saúde. A capacidade
técnica é condição impressindível para adotar ações de
monitoramento e avaliação como subsidiárias ou
intrinsecas ao planejamento e gestão. Desta forma, o
processo de avaliação funcionará como um instrumento de
suporte a formulação de políticas públicas, processos
decisórios e a formação de sujeitos envolvidos.”
Um bom exercício para escrever é consertar
textos de outras pessoas. É mais fácil criticar
textos que outros escreveram do que os nossos
próprios textos.
Outras dicas
Evite voz passiva...
– Prefira ...
• O camundongo consumiu oxigênio numa taxa mais alta
– Evite
• O oxigênio foi consumido numa taxa mais alta pelo rato
Evitar voz passiva é dificil, mas temos que
tentar. Se não houver outro jeito..ok, mas evite!
Use conecções para ligar frases:
–
–
–
–
–
–
–
–
Desta forma,
Por outro lado,
Contrariamente,
Entretando,
Assim,
Em contraste
Portanto,
Concluindo,
Escrevendo um texto.
Sempre que estiver re-lendo pense se realmente
aquelas palavras e frases são necessárias, e se
haveria uma forma mais simples de dizer o que
se quer.
Uma forma de se treinar a escrever de maneira
concisa, é fazendo resumos de textos. Nos
resumos temos que resumir nosso estudo em
250 palavras.
Resumo (última parte a ser escrita)
Introdução
Material e Métodos Resultados
Discussão
Referências
Anexos e Apêndices
Introdução
O objetivo da introdução é fornecer o
background e a justificativa do porque o
assunto é importante. È como se contasse
uma historinha com início meio e fim.
A introdução sempre culmina com o
objetivo do trabalho. A introdução deve ter no
máximo 3 páginas, o ideal é que tenha uma
página e meia ou duas (quando artigo, para
monografias pode ter 3/4).
A introdução e a revisão de literatura podem ter
formatos diferentes dependendo de sua área.
Pergunte a seu orientador, e peça um exemplo
de um bom trabalho para você ter idéia.
Por exemplo, algumas áreas têm utilzado no
protocolo, uma introdução misturada a revisão
de literatura que recebe o nome de “Justificativa
e importância do estudo”
Introdução
A introdução deve ser como uma historinha.
“ Uma frase inicial de impacto, ressaltando a
importância do que se está estudando. Esta
frase dá início a uma estrutura que
paulatinamente irá culminar nas falhas de
conhecimento existentes e, por fim, nas
hipóteses a serem testadas”
Exemplo de Introdução
Apesar do declínio, o efeito da exposição ao chumbo
ainda é observado na população americana. Fontes de
chumbo ainda são encontrados em algumas
comunidades, afetando principalmente pessoas menos
privilegiadas. Além disso, uma grande parte da
população dos EUA que foram expostos no passado,
ainda carregam o chumbo acumulado
...........
Exemplo de Introdução
Continuação.....
Condições de saúde associadas a contaminação por chumbo
foram encobertas no passado porque a maioria da população
americana era exposta a níveis moderados ou altos de chumbo.
Nas últimas duas décadas tem se acumulado evidências de que
mesmo exposições crônicas a baixa doses de chumbo podem
afetar o sistema imunológico e o metabolismo ósseo. Estas
evidências tornam o chumbo um candidato em potêncial para
ser fator de risco para a periodontite, que é uma doenças
multifatorial, complexa que afeta o osso que e é iniciado pelo
desequilíbio da defesa do hospedeiro e a patogenicidade de
microrganismos.
Exemplo de Introdução
Apesar da plausibilidade biológica não existem estudos
demonstrando tal associação, portanto, o objetivo de nosso
estudo é testar a hipótese de associação entre chumbo e
doença periodontal na população americana.
Revisão de Literatura
Além da “historinha” resumida da introdução, as vezes uma
monografia possui em seguida uma revisão de literatura
extensa. Revisão de literatura, seguinifica o comentário de toda
a literatura existente sobre o que se está escrevendo. Por
exemplo, se for uma monografia sobre o efeito dos celulares na
causa do câncer tenho que levantar todos os trabalhos já
publicados sobre o assunto. Para cada trabalho escrevo um
parágrafo comentando rapidamente que “fulano num estudo em
1998 estudando a população de Tambaú observou que cancer
de ouvido era 3 vezes mais comum do que em indivíduos que
nunca utilizaram celular”
Muitos trabalhos adotam a pratica da revisão de
literatura como sendo a descrição de cada
trabalho já publicado. Em geral isso é muito
cansativo para quem escreve e para quem lê e
inútil!
O mais interessante é agrupar os estudos de
acordo com a qualidade de sua evidência
cientìfica.
Por exemplo posso em algumas frases resumir.
Associações entre fumo e câncer de ouvido foi
observado em dois estudos publicados recentemente
(Ferreira 2004, Silva 2005) embora não tenha sido
encontrado associação em três outros trabalhos (Beline
e colaboradores,1988, Oliveira, 1991, Barros e Silva
1999). Metodologias e populações diferentes podem
explicar as contradições destes estudos........
. * veja as regras de como colocar os nomes dos autores
lá nas citações da ABNT
Se você quiser dar detalhes dos trabalhos
publicados, como por exemplo, número de
indivíduos, definição de câncer adotado e etc,
você pode montar tabelas como a apresentada
a seguir. Esta tabelas, dependendo do tamanho,
podem ser colocadas dentro da sessão de
revisão de literatura ou no anexo (final do
trabalho ou protocolo, depois da referência
bibliográfica).
Note que a tabela anterior, contém de maneira
resumida informações importantes. Os nomes dos
autores com referência do número da Bibliografia
(numerozinho após o nome do autor). Detalhes como o
número de indivíduos expostos e não expostos ao
chumbo. E por fim resultados. Esta tabela não serve
apenas para o leitor, é útil para quem está escrevendo,
pois serve como uma lembrança rápida dos textos já
lidos.
Diagramas e figuras explicativas
Algumas figuras e diagramas biológicos ou causais
podem ajudar a explicar ao leitor sua proposta de
estudo. Sempre se lembre que quanto mais “palatavel”
o texto, quando mais gostoso de ler, melhor será
avaliado o seu trabalho.
Diagrama Biológico da associação entre:
Chumbo e Periodontite
O diagrama biológico neste caso serve para facilitar a
visualização da associação proposta. Embora o texto
traga informações sobre todas estas associações o
diagrama facilita o entendimento ao leitor do processo
biológico.
Diagrama: Periodontite-DCV
Este diagrama é chamado de diagrama causal. Nele
colocamos todos as informações sobre fatores outros
que podem influenciar na associação que desejamos
estudar.
Ele serve não somente para o leitor mas para o
pesquisador que mantem em mente todos os possíveis
fatores que deverão ser coletados em seu estudo e
também deverão se considerados na análise
estatística. Ainda se algum fator foi fracamente medido
suas implicações deverão ser levadas em consideração
na discussão.
Proposição (Objetivos)
Descreva sua proposição em forma de hipóteses a
serem testadas. Por exemplo:
Exemplo: “Portanto, este estudo propoe testar se o
efeito a nova droga é pelo menos 20% maior do que a
aspirina na redução de dor de cabeça entre indivíduos
com enxaqueca”
Proposição
A proposição tem que ser exatamente o objetivo de seu
trabalho.
Algumas vezes o objetivo é meio geral ao final da
introdução e na página da proposição lista-se objetivos
específicos . Vamos supor que o objetivo é testar a
associação entre pretermos e maloclusão. No entanto,
como é um estudo populacional quer se explorar a
prevalência total de maloclusão, e também de
pretermos. Assim poderiamos ter algo como:
Objetivo geral
– Testar associação entre pretermo e maloclusão
Objetivos específicos
– Estimar a prevalência de prematuros
– Estimar a prevalência de prematuros e os diversos
tipos de maloclusão
Material e Métodos
O material e métodos deve conter todo material
importante utilizado, e também os métodos.
Por vezes um trabalho não tem material. Por exemplo,
numa análise crítica da literatura. Não temos material,
porém temos método! Qual método?
Metodo em Análise crítica de literatura.
– O método, é todo o caminho que você percorreu para achar
os artigos/livros/revistas que você utilizou. Isto é as bases de
dados! Pubmed, Lilacs, Scielo, Proquest e outros. O que é
importante relatar:
– Bases de dados utilizadas
– Anos pesquisados
– Línguas incluídas
– Critérios de seleção de artigos
– Critérios para a análise crítica dos artigos.
– Critérios de exclusão de artigos.
Como assim? Por exemplo.
– Foram pesquisadas as bases de dados pubmed e
scielo desde janeiro de 1950 a setembro de 2005.
Foram incluídos todos os artigos em lingua
portuguesa, espanhola, inglesa, francesa, italiana.
Foram excluídos relatos de caso, e revisões de
literatura, e comentários.
Material e Métodos
Tipo de estudo
– Informe se será um experimento ou quaseexperimento, ou um estudo observacional e de que
tipo.
População a ser estudada
– Pode ser de humanos, ou animais. Descreva
exatamente as características e origem dos animais.
Descreva o procedimento de amostragem
Forneça informações detalhadas sobre procedimentos
de laboratório
Se relevante escreva o nome cormecial de aparelhos e
substâncias utilizadas. Se necessário não se esqueça
de Trade Mark stuff.
Não se esqueça de informações sobre controle de
qualidade, calibração, treinamento de pessoal
(reprodutibilidade, sensibilidade e especificidade se for
o caso)
Estatística
– Descreva os procedimentos estatísticos a serem utilizados.
Lembre-se que ainda estamos no protocolo de pesquisa,
mas a estatística a ser utilizada tem que ser proposta antes
de realizar o estudo.
– Nome do pacote estatístico somente é relevante se for feita
uma estatística especial tipo com ajuste por amostragem
complexa, caso contrário,test-t, qui-quadrado, ANOVAs,
regressões logisticas e lineares são feitas por pacotes
estatísticos comuns e não devem ser mencionados.
Discussão
O Objetivo da discussão é discutir a validade interna de
um estudo.
O maior erro que existe numa discussão é achar que
ela serve apenas para comparar seus dados com o de
outros trabalhos.
Também se discute as diferenças de seu trabalho com
os demais, porém somente depois de discutir a
validade interna do seu estudo. Além disso, é finalidade
da discussão tentar dar explicações para seus
achados.
O que é validade interna ?
Validade interna é a capacidade do seu estudo
em responder o que você perguntou a princípio.
O que pode ameaçar a validade interna do seu
estudo?
– Amostragem com problemas (viés de seleção)
– Erros de medidas (viès de informação)
– Falta de alguma informação para ajustar como fator
de confusão
– Alguma dificuldade estatística que possa não ser
ideal para análise.
– Falta de validação de questionários
– Imprecisão de medidas. Ex: nível sócio econômico
medido através de renda e escolaridade. Baixo peso
ao nascer que significa dois outros desfechos ao
mesmo tempo (idade gestacional e taxa de
crescimento intrauterino)
Problemas em Amostragem
Vies de Seleção
– Determinação da estrutura amostral errada
(sampling frame)
– Processo de aleatorização que acaba em grupos
não equivalentes em experimentos em humanos
(ex: teste de medicamentos0
– Taxa de recusa alta ou de grupos específicos
Problemas de Informação
Viés de Informação
– Validação de instrumentos tipo questionário
– Precisão de instrumentos utilizados
– Introdução de possíveis viéses na hora de obter
informação: doentes relatanto mais doença.
– Pardos mais educados se reportanto como negros,
e os demais como pardos.
– Calibração de instrumentos e variabilidade dos
mesmos em laboratório
Problemas com seguimentos
Problemas com seguimentos de pacientes. Isso
acontece principalmente em estudos
longitudinais (de coorte) ou em experimentos
para se verificar a eficácia de medicamentos.
Perda de amostras em laboratório. Morte de
ratos em grupos diferentes.
Problemas Estatísticos
Dificuldades de emprego de alguma estatística
que ainda não se mostre eficiente para estudar
o que se quer.
Problema de baixo poder de teste. Dizemos
quando a amostra é pequena e não nos permite
realizar um teste estatístico com eficiência
Explicações para os achados
Explicações baseadas em evidências da
literatura são importantes para fundamentar
suas hipóteses para explicar o que foi achado.
Isso é fundamental principalmente quando se
encontra algo inesperado.
Comparação com a Literatura
Comparar com a literatura é um papel
secundário da discussão.
Lembre-se compara-se apenas com os estudos
bons da literatura. Por isso é importante saber
crtiticar um artigo e separar o joio do trigo!
Compare e de explicações para as possíveis
diferenças entre seu estudo e os demais.
Conclusão
A conclusão deve ser exatamente a resposta ao
objetivo sem florear. Se o estudo foi para testar a
hipótese de associação entre consumo de café e baixa
incidência de diabetes, a conclusão deve ser
em caso de não associação:
– não fomos capazes de encontrar associação entre
consumo de café e baixa incidência de diabetes.
Conclusão
Em caso de associação:
– Neste estudo demonstramos associação estatisticamente
significante entre alto consumo de café e baixa incidência de
diabéticos.
Não tente fazer em sua conclusão recomendações
como “deve se tomar mais café”. Lembre-se que este é
apenas um estudo e não vamos concluir causalidade!
Para concluírmos causalidade precisamos verificar os
critérios de causalidade na literatura!
Anexo vs Apêndice
Anexo
– Texto ou documento não elaborado pelo autor que serve de
fundamentação, comprovação ou ilustração.
Apêndice
– Texto ou documento elaborado pelo autor, a fim de
complementar sua argumentação sem prejuizo da unidade
nuclear do trabalho.
Anexo e Apendice devem ser reconhecidos por letras Ex.
Anexo A, Anexo B, Apêndice A, Apêndice B
Resumo
Embora o resumo seja a primeira parte que você vê
num artigo ou monografia, ele é o último a ser escrito.
O resumo ou abstract deve ser muito curto. Em geral as
revistas de lingua inglesa pedem resumos de no
máximo 250-300 palavras. Escrever um bom resumo é
uma arte. Ele contém todas as partes textuais principais
de um artigo.
Estrutura do Resumo
Introdução (uma a duas frases)
– Uma ou duas frases no maximo, apenas para situar seu
estudo.
Objetivos (hipótese a ser testada)
Material e Método
Resultados
Discussão (apenas se algum ponto for relevante)
Conclusão
O que você acha deste abstract?
E deste?
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