Gomes IP, Camargo TC FERIDAS TUMORAIS E CUIDADO DE ENFERMAGEM: BUSCANDO EVIDÊNCIAS Artigos de Revisão PARA O CONTROLE DE SINTOMAS TUMORAL SKIN LESIONS AND NURSING CARE: IN SEARCH OF EVIDENCES ON SYMPTOMS MANAGEMENT Isabelle Pimentel Gomes* Teresa Caldas Camargo** RESUMO: Trata-se de uma revisão bibliográfica sobre feridas tumorais. Os objetivos foram subsidiar um cuidado de enfermagem qualificado no tratamento de feridas tumorais; identificar evidências efetivas para o controle dos sintomas responsáveis por desconforto e constrangimento do paciente. A pesquisa bibliográfica foi realizada através de uma revisão de literatura, computadorizada e manual, no período de 1999 a 2003. Concluiu-se que a ferida tumoral é resultado da infiltração do câncer no epitélio, que ulcera quebrando a integridade epidérmica. São sintomas que a caracterizam: dor, odor, exsudato, sangramento e difícil cicatrização. Identificou-se as formas de tratamento da ferida e os produtos mais indicados para controle dos sintomas através da realização dos curativos. Com base nesta revisão, é proposto um cuidado humanizado que minimize o desconforto e os problemas sociais que podem ser gerados pelas feridas tumorais. Palavras-Chave: Cuidado de enfermagem; enfermagem oncológica; qualidade de vida; úlcera cutânea. ABSTRACT ABSTRACT:: This is a bibliographic survey about tumoral skin ulcer. The purpose is to contribute to qualified nursing care in the treatment of tumoral skin ulcer; identify effective evidence to manage symptoms that disturb the patients, bringing them uneasiness and embarrassment. The bibliographic research was carried out by means of a survey of both on line and library produced in the period from 1999 to 2003. The tumoral skin lesion has been found to result from the cancer cells penetrating the epithelium, which ulcerates,disrupting the epidermal integrity. The symptoms that typifies them are: pain, odor, exudate, bleeding, and difficult healing. We identified the types of treatment for the skin ulcer and the most recommended products for controlling the symptoms by means of proper dressing of the wounds. In the light of this survey, we propose human care that radically reduces the embarrassment and social problems that may derive from tumoral skin ulcers. Keywords: Nursing care; oncology nursing; quality of life; skin ulcer. INTRODUÇÃO Muitas neoplasias são diagnosticadas em fase avançada, comprometendo as chances de cura já tão pequenas neste estágio da doença. No entanto, os pacientes apresentando doença avançada, devem receber tratamento, ainda que este não tenha intenção curativa. Os sintomas devem ser tratados de forma paliativa para diminuir as complicações da doença e melhorar a qualidade de vida, entendida aqui como sendo uma sensação de bem-estar físico, psíquico, emocional e social. A assistência prestada deve ser então desenvolvida de forma ativa e integral, visando garantir a melhoria da qualidade de vida do cliente e, é neste sentido, que a atuação da enfermeira se mostra preponderante. Por essa intervenção ser constante, em especial no que se refere à realização de curativos, as R Enferm UERJ 2004; 12:211-6. • p.211 Feridas tumorais e cuidado de enfermagem situações difíceis enfrentadas devem ser estudadas e investigadas, com a finalidade de traçar soluções efetivas para a clientela. Observa-se na literatura que 5 a 10% das pessoas com câncer desenvolvem metástases para pele nos últimos seis meses de vida1. As feridas tumorais são freqüentemente associadas à negligência, ou seja, o paciente demora a buscar ajuda médica2. Estas feridas têm uma grande repercussão sobre os pacientes, familiares e profissionais e podem constituir um problema importante na prática diária do cuidado de enfermagem. Cada ferida tumoral, assim como cada pessoa, é única e requer uma valorização e tratamento local e/ou sistêmico individualizado3. A massa tumoral visível e presente provoca mudanças na imagem corporal do paciente, na habilidade para realizar as atividades de vida diária e na interação social4. O cuidado com as feridas tumorais, cria nos pacientes um impacto psicológico devido a constante lembrança visível da doença. Estas feridas são consideradas como de mal prognóstico, pobre resultado de tratamento e podem indicar que o fim da vida está próximo4. As feridas podem produzir uma deformidade brutal, úlceras feias, ou odores intoleráveis e podem perturbar o paciente com exsudato e sangramento5. O odor desagradável das feridas tumorais adiciona angústia ao avanço da doença maligna, incontrolável e pode aprofundar nos pacientes a sensação de desamparo, humilhação, e isolamento social 6, 7. Ainda hoje o cuidado com essas feridas não está bem estabelecido. Tendo em vista o aumento do número de casos de câncer e conseqüente aumento da incidência de feridas tumorais, mostra-se pertinente selecionar o melhor material a ser utilizado em curativos tumorais para redução dos sintomas. Portanto, as enfermeiras, que tradicionalmente são responsáveis pela realização de curativos, precisam conhecer os produtos destinados a essa finalidade e então escolher, entre as opções, a que melhor se adequa a característica da ferida apresentada pelo paciente e a realidade econômica dele e da instituição em que estiver inserido. Neste sentido, esta revisão bibliográfica*** tem como objetivos subsidiar um cuidado de enfermagem qualificado no tratamento de feridas tumorais; identificar evidências efetivas para o controle dos sintomas responsáveis por desconforto e constrangimento do paciente. p.212 • R Enferm UERJ 2004; 12:211-16. Espera-se, assim, contribuir para a realização de um cuidado de enfermagem direcionado e eficiente para o alívio de sintomas e a melhoria da qualidade de vida dessas pessoas. METODOLOGIA Trata-se de um estudo na modalidade de revisão bibliográfica que tomou como recorte temporal o período de 1999 a 2003. A revisão de literatura, computadorizada e manual, utilizou as seguintes palavras-chave: feridas malignas, cuidados de enfermagem, cicatrização, fungating wound, sendo acessadas as bases de dados LILACS, MEDLINE, portal de periódicos da CAPES e também livros. Foram analisadas qualitativamente 17 referências e após, de acordo com sua relevância, elas foram agrupadas e discutidas por temas. C ARACTERÍSTICAS TUMORAIS DAS F ERIDAS A ferida tumoral ocorre a partir da quebra da integridade da epiderme, causada pela infiltração de células malignas. Aparece então, como resultado de um câncer de pele avançado ou em casos de metástases que podem ulcerar e apresentar semelhança com infecções dérmicas fúngicas, evoluindo para a formação de uma cratera com característica ulcerativa1, 2, 7, 8 . Na dependência de sua progressão recebe a designação de ferida fungóide ou fungóide maligna7. As lesões metastáticas para pele podem ocorrer por extensão direta do tumor ou como um novo tumor4, por via linfática ou sanguínea, podendo ocorrer também na linha de sutura após cirurgia de tumor primário ou câncer recorrente1. Se os nódulos regionais forem afetados, poderá ocorrer ulceração2. Eles inicialmente aparecem firmes, como nódulos coloridos, eventualmente róseo, vermelho, violeta ou azul1, 4. Nódulos podem crescer e remir espontaneamente. A lesão eventualmente pode se infiltrar no epitélio de sustentação de vasos linfáticos ou sanguíneos, formando uma cratera ulcerativa com margens distintas. Dependendo de sua localização (região abdominal, perineal e de cabeça e pescoço), pode se estender invadindo e destruindo estruturas internas e formar fistula 8, 9. As feridas podem ser classificadas como fechadas ou abertas. Todas as feridas fechadas foram clas- Gomes IP, Camargo TC sificadas como estágio 1; Feridas abertas são classificadas em 3 estágios: feridas envolvendo derme e epiderme (estágio 2); feridas espessas que evolvem tecido subcutâneo (estágio 3) e feridas invadindo profundas estruturas anatômicas, que apresenta dor e odor (estágio 4)10. Devido aos fatores de crescimento produzido pelas células tumorais, o tumor cresce e aumenta sua rede neovascular, provocando pressão sobre o tecido, levando a um desequilíbrio fisiológico que leva ao sangramento da ferida. As grandes hemorragias são causadas por rupturas dos principais vasos situados no tumor1, 8. O crescente aumento do exsudato observado nas lesões tumorais malignas de pele são atribuídos a vários fatores: primeiro, o tumor é hiper-permeável ao fibrinogênio e plasma; segundo, muitos tumores secretam um fator de permeabilidade vascular; e terceiro, o grande número de anaeróbios que ficam confinados na superfície da lesão, quando infectadas, resulta em larga quantidade de exsudato fibroso4, 8. Os anaeróbios, ao liberarem ácidos voláteis, são os responsáveis pelo odor, que é de difícil controle2, 8. As feridas tumorais têm uma larga deficiência de contração tecidual, a qual é responsável por 40 a 80% do fechamento de feridas benignas. Como, geralmente, os pacientes com câncer apresentam deficiência nutricional, sem reservas de nutrientes ou em pequena quantidade, o suprimento de energia, aminoácidos e oxigênio ficam comprometidos, prejudicando desta forma a produção de fibroblastos para a contração tecidual4. O crescimento tumoral rápido e desordenado, pode levar a dor neuropática e a danos ao tecido, passando a determinar a sensação dolorosa no leito da ferida. O trauma causado pela realização do curativo também leva a sensação dolorosa1, 7, 8. T RA T AMENTO RAT TUMORAIS D AS F ERID AS ERIDAS O tratamento das feridas tumorais é mui- to difícil, pois há escassez de pesquisas sobre a melhor terapia para esse tipo de lesão. Grande parte das informações, parecem ser empíricas pois, as enfermeiras oferecem cuidados baseados em uma experiência prévia ou em tentativa de acerto e erro2,4. No tratamento de feridas tumorais, que é paliativo, os objetivos são os seguintes: identificar e eliminar as lojas de infecção presente; controle do odor, drenagem e sangramento; manutenção do conforto, prevenir o isolamento social e proporcionar qualidade de vida4,8. Modalidades de tratamento Entre várias modalidades terapêuticas para esses tipos de feridas estão a radioterapia, a quimioterapia, a hormonioterapia, a laserterapia e a cirurgia paliativa. A radioterapia é um dos tratamentos de primeira escolha para redução da sintomatologia. A radiação ionizante provoca dano no DNA das células tumorais destruindo-as, reduz o tamanho da lesão, o esxudato, o sangramento, o odor e alivia a dor, proporcionando maior conforto ao paciente e podendo levar ao aumento da sobrevida1,2,4,8,11. Ultimamente, a radiologia intervencionista tem sido usada como terapêutica realizando a embolização intravascular do tumor, para o controle do sangramento e diminuição do tamanho12. A quimioterapia, assim como a radioterapia, também é um tratamento de primeira escolha. Pode ser utilizada com intenção de redução do tamanho do tumor e melhora da dor, porém aumenta o risco de hemorragia1,4. A hormonioterapia pode ser um método efetivo para controle dos sintomas no paciente com tumores que expressam receptores hormonais, como em alguns casos de câncer de mama1,8. A laserterapia pode ser utilizada com o intúito de redução da dor e da necrose tissular1. A cirurgia paliativa é indicada numa tentativa de minimizar as complicações do câncer mas, os riscos da cirurgia devem ser avaliados8, 13. A avaliação da ferida é fundamental para escolha do tratamento correto. A fotografia é uma ferramenta efetiva para a avaliação do cuidado e da evolução da ferida9. Limpeza e controle de odores e sangramento A limpeza da ferida é o primeiro passo do tratamento tópico.6,14 Estratégias de prevenção de sangramento devem ser realizadas, através da umidificação do curativo antes de tentar a remoção cautelosa 2,8 . Para minimizar o potencial de sangramento e dor pode-se usar curativo com gaze impregnada com petrolatum ou vaselina gel4. O sangramento pode ser controlado pelo uso de nitrato de prata (AgNO3), cauterizando a superfície dos vasos1,4,10. O alginato de cálcio é o material de primeira escolha no tratamento das feridas tumorais com R Enferm UERJ 2004; 12:211-6. • p.213 Feridas tumorais e cuidado de enfermagem sangramento e muito exsudato, pelas suas características de absorção e poder hemostático. Ao absorver o exsudato a fibra de alginato de cálcio forma um gel viscoso que o faz desprender-se da ferida1,3,4. A adrenalina é outro recurso que pode ser usado em caso de sangramento persistente diretamente no leito da ferida1,2. Deve ser utilizada com muita cautela, pois pode levar a necrose isquêmica, por ser um potente vasoconstrictor. Sugere-se usá-la diluída. O uso do metronidazol em feridas fétidas, até esta data, tem tido relatos com números inadequados, mas é amplamente utilizado para reduzir o odor, já que a flora das feridas já está bem definida2,7. Pode ser esmagado e aplicado diretamente no leito da ferida; pode ser usado na forma de solução (500mg em solução salina de 100ml) para irrigação da lesão duas vezes por dia; ou ainda, pode ser aplicado na forma de gel tópico aplicado uma a duas vezes por dia8,15. O metronidazol por via oral, administrado 400mg três vezes ao dia, pode ser utilizado concomitantemente ao metronidazol gel tópico 7. Há relato de maior eficácia do metronidazol quando se aplica iogurte na lesão por 10 minutos e, após a lavagem do local, aplica-se o metronidazol, refazendo o procedimento quatro vezes ao dia, sem uso do metronidazol oral. Quatro dias após o início percebe-se o desaparecimento completo do odor e uma significativa diminuição do exsudato16. O creme de sulfadiazina de prata é usado quando há infecções por Pseudomonas aeruginosa 2. Curativos de carvão ativado e prata 0,15% são eficazes para absorver o odor e o exsudato produzido pois, a prata, tem uma ação bactericida mas são de alto custo1,3,4. A Dakin´s Solution (hipoclorito de sódio a 0,25 ou0,025%) é uma solução de baixo custo e é um efetivo desodorizante de ferida. É uma das melhores alternativas para dissolver o tecido necrótico e o curativo deve ser realizado a cada 12h, havendo necessidade de proteção da pele das bordas com o uso de vaselina ou óxido de zinco em pomada, por exemplo.1,4,14 O hipoclorito pode ser substituído por gluconato de clorexidina 4% emulsão ou solução aquosa a 1%1,14. Controle do exsudato A solução salina (cloreto de sódio 0,9%) é indicada no cuidado com ferida tumoral pois dilui o exsudato, mantém o meio úmido, prevenindo aderência mas, requer trocas freqüentes pois a solução p.214 • R Enferm UERJ 2004; 12:211-16. salina pode levar a maceração da pele perilesional5. Mesalt é um produto 100% de algodão impregnado com cristais de cloreto de sódio. Ele cria um meio hipertônico, estimula a limpeza da ferida, remove o excesso de líquidos e diminui o edema intersticial. Deve ser aplicado apenas em feridas com exsudato de moderado a intenso. Sugere-se que o meio hipertônico reduz o potencial para proliferação bacteriana. Sua remoção deve ser realizada quando estiver bem úmido. O produto é de fácil aplicação e reduz o odor consideravelmente5. Outros métodos podem ser utilizados para o controle do odor como a aplicação tópica de pasta de açúcar ou mel esterilizado, pois ambos são altamente bactericidas e estimulam o desbridamento da ferida mas precisam de trocas freqüentes8. A aplicação de desbridante enzimático ou autolítico pode resultar na diminuição da quantidade de exsudato8. O controle do exsudato é importante pelos seguintes fatores: diminuição do odor, proteção da pele sadia peri-lesional, aumento do conforto do paciente e melhora da auto estima1. Quando o exsudato é baixo ou moderado usa-se um hidrogel amorfo e ocasionalmente hidrocolóides.2 Curativos volumosos são efetivos para conter o exsudato, mas podem comprometer a estética do paciente4. O exsudato drenado da ferida pode causar maceração e rompimento da barreira de proteção na pele perilesional. Há relatos dos benefícios relacionados a aplicação de vitamina A + D em pomada como medida protetora1. É ainda indicada a utilização de barreiras de proteção na pele perilesional, trocadas a cada 5 ou 7 dias, com filme adesivo de copolymer17. Outros métodos de proteção envolvem o uso de pasta de hidrocolóide ao redor da ferida, esta estratégia protege a pele das agressões que podem ser provocadas pela cola de filmes e esparadrapos, com trocas repetidas8. É importante utilizar materiais de curativo ajustáveis às feridas para reduzir o risco de vazamento pelas bordas2. Controle da dor e aparência do curativo A dor provocada pela ferida deve ser avaliada quanto ao tipo, intensidade, freqüência e duração. O cuidado de prevenir a dor antes da realização da troca do curativo é muito importante e para tanto, uma analgesia deve ser realizada 20 minutos antes do procedimento15. Gomes IP, Camargo TC A aplicação da morfina tópica está sendo estudada na seguinte concentração: 1mg de morfina para 2g de higrogel. Estudos8 estão sendo realizados também com o uso da morfina associada ao metronidazol gel para tratar concomitantemente a dor e o odor, presentes nas feridas classificadas como estágio 4. Para redução da dor na ferida sugere-se a realização de curativos que se mantenham úmidos1. A manutenção do meio úmido reduz o número de trocas do curativo reduzindo desta forma a dor e o desconforto provocado pelos traumas durante a remoção. O gel anestésico com tricíclicos e corticóides sobre o leito da ferida podem reduzir a dor associada a escoriações e infecções da pele perilesional1. A administração de medicamentos anestésicos em gel ou spray antes de remover o curativo é muito eficiente para prevenção da dor. Pode ser utilizado por exemplo o Hurricane TM Topical Anesthesic Aerosol Spray e Aerosol of Benzocaine 20%, que inicia sua ação em 15 a 30 segundos17. O ideal é que o curativo não seja muito volumoso, para não modificar muito a anatomia do paciente, mantendo a estética e conforto evitando a alteração da auto-imagem. O volume pode ser reduzido por meio de curativos externos com altos índices de transferência de umidade evaporada 2 . Bandagens, redes tubulares e gazes tubulares são as maneiras mais versáteis de se fixar um curativo. As redes tubulares permitem fácil acesso à ferida e não causam muitos danos à pele saudável2. As fitas devem ser usadas com cautela, pois podem irritar a pele com a troca frequente do curativo2,4. CONCLUSÃO Com o desenvolvimento deste trabalho fi- cou claro que a ferida tumoral é resultado de um câncer de pele avançado ou de metástases. Os sintomas que a caracterizam são: dor, odor, exsudato, sangramento e difícil cicatrização. As formas de tratamento da ferida são: radioterapia, quimioterapia, hormonioterapia, laserterapia, cirurgia e embolização do tumor; e os produtos mais indicados para o controle dos sintomas, através da realização de curativos são: alginato de cálcio, Petrolatum gel, Gelfoam, Surgicel, adrenalina, nitrato de prata, metronidazol, sufadiazina de prata, carvão ativado, açúcar, mel, hidrogel, hidrocolóides, anestésicos tópicos, opióides, bandagens e redes tubulares; produtos ainda pouco usados no Brasil como o Mesalt; alguns com restrições bem criteriosas como o Dakin´s Solution (hipoclorito de sódio) e a clorohexidina. A cicatrização depende do tratamento do câncer de base. Como as feridas tumorais são resultado de doença em estágio avançado, é muito difícil se obter a cura completa já que as chances são pequenas no contexto dessa doença. Por isso, é importante que a enfermeira atue junto a estes pacientes realizando cuidados paliativos e sempre visando à prevenção de sintomas. Embora as feridas tumorais sejam um fenômeno antigo associado ao câncer, poucas são as pesquisas com números satisfatórios sobre este tema o que, compromete a qualidade de vida dos pacientes. Pesquisas experimentais são raras e, grande parte das publicações, relatam experiências pessoais dos profissionais envolvidos com os cuidados a estas feridas. Há necessidade de se desenvolver estudos para validar protocolos visando o controle dos sintomas apresentados, melhorando desta forma o cuidado e diminuindo o estresse vivido pelos pacientes, familiares e profissionais de saúde. Um ponto pouco discutido nos artigos foi a realização do curativo mais anatômico visando a minimização das desfigurações causadas à imagem do paciente, provocadas pelas feridas. Há feridas que evoluem para crateras e ulceram estruturas muito visíveis, principalmente nos casos localizados na região da cabeça e pescoço onde as vestimentas não disfarçam. A enfermeira deve agir de forma que o paciente possa ser um agente participativo do seu cuidado, explicando a importância de cada passo do curativo desde a limpeza até a oclusão do mesmo de forma mais anatômica possível. Com base na revisão realizada, entendemos que um cuidado humanizado e singular, que minimize o desconforto e os problemas sociais, psíquicos e emocionais que podem ser gerados pelas feridas tumorais, deve ser proporcionado a esses pacientes. REFERÊNCIAS 1. Poletti NAAP, Caliri MHL, Simão CDSR, Juliani KB, Tácito VE. Feridas Malígnas: uma revisão de literatura. Rev Bras Cancer 2002; 48(3): 411-17. 2. Dealey C. Cuidando de feridas: um guia para as enfermeiras. 2ª ed. São Paulo: Atheneu; 2001. 3. Vera JLA et al. El aumento de qualidade de vida en R Enferm UERJ 2004; 12:211-6. • p.215 Feridas tumorais e cuidado de enfermagem los pacientes con úlceras neoplásicas: un reto para los profesionales de enfermería. Rev Enferm Oncol 2001; 6(2):230-6. Disponível em: http://www.seeo.org/ revis.html#. Acesso em 20 abr. 2004. 4. Bauer C, Gerlach MA, Doughty D. Care of metastatic skin lesions. J WOCN. 2000; 27:247-51. 5. Upright CA, Salton C, Roberts F, Murphy J. Evaluation of mesalt dressing and continuous wet saline dressings in ulcerating metastatic skin lesions. Cancer Nursing 1994; 17 (2):149-55. 6. Management of smelly tumours.The Lancet 1990; 335:141-2. 7. Firmino F, Araújo DF, Sobreiro V. O controle do odor em feridas tumorais através do uso do metronidazol. Prática Hospitalar 2002; 4(24):30-3. 8. Naylor W. Palliative management of fungating wounds. Eur J Palliative Care 2003; 10(3):93-7. 9. Manning MP. Metastasis to skin. Seminars. Oncology Nursing 1998; 14(3): 240-3. 10. Haisfield-Wolfe ME, Baxandale-Coz LM. Staging of malignant cutaneous wounds: a pilot study. Oncology Nursing Forum 1999; 26(6): 1055-64. 11. Fine PG. Palliative radiation therapy in end-of-life care: evidence-based utilization. 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Los objetivos fueron subsidiar un cuidado de enfermería calificado en el tratamiento de heridas tumorales; identificar evidencias efectivas para el control de los síntomas responsables por incomodidad y constreñimiento del paciente. La investigación bibliográfica se realizó a través de una revisión de la literatura, computadorizada y manual, en el periodo de 1999 a 2003. Se concluyó que la herida tumoral se dá como resultado de la infiltración del cáncer en el epitelio, la cual ulcera perjudicando a la integridad epidérmica. Los síntomas característicos de este cuadro son: dolor, olor, secreción, sangrado y difícil cicatrización. Se identificó las formas de tratamiento de la herida y los productos más indicados para control de los síntomas a través de la realización de curativos. Con base en esta revisión, se propone un cuidado humanizado para minimizar la incomodidad y los problemas sociales que puedem ser generados por las heridas tumorales. Palabras clave: Cuidado de enfermería; enfermería oncológica; calidad de vida; úlcera cutánea. Recebido e m: 03.05.2004 Aprovado em: 12.07.2004 Notas * Enfermeira, Residência em Enfermagem Oncológica pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA). Endereço: Rua Visconde de Santa Isabel 10/303. Vila R Enferm UERJ 2004; 12:211-16. Isabel, CEP 20560-120. email: [email protected] ** Doutora em Enfermagem pela Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ, Enfermeira da Educação Continuada e Pesquisa de Enfermagem do Hospital do Câncer III/INCA, orientadora do trabalho. *** Síntese do Trabalho de Conclusão do Curso de Residência em Enfermagem Oncológica do INCA. p.216 •