SILVANA CORRÊA DE BARROS LAMPERT PROMOÇÃO E EDUCAÇÃO EM SAÚDE: PROBLEMATIZANDO A PRÁTICA DO AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE ITAJAÍ (SC) 2012 UNIVALI UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e Cultura – ProPPEC Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho SILVANA CORRÊA DE BARROS LAMPERT PROMOÇÃO E DUCAÇÃO EM SAÚDE: PROBLEMATIZANDO A PRÁTICA DO AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE Dissertação apresentada ao Mestrado em Saúde e Gestão do Trabalho do Programa de Pós-Graduação da Universidade do Vale do Itajaí como requisito para obtenção do título de Mestre. Área de Concentração: Promoção e Educação em Saúde. Orientadora: Profª Dra. Águeda Lenita Pereira Wendhausen. ITAJAÍ (SC) 2012 FICHA CATALOGRÁFICA L197p Lampert, Silvana Corrêa de Barros, 1972Promoção e educação em saúde: problematizando a prática do agente comunitário de saúde / Silvana Corrêa de Barros Lampert, 2012. 112f. il.; il.; fig.; quadr. Anexos, Apêndices Cópia de computador (Printout(s)). Dissertação (Mestrado) Universidade do Vale do Itajaí. Centro de Ciências da Saúde. Mestrado em Saúde e Gestão do Trabalho. “Orientadora: Profª. Dra. Águeda Lenita Pereira Wendhausen” Bibliografia : p.91-99 1. Promoção da saúde. 2. Saúde pública. 3. Atenção à saúde. 4. Agentes comunitários da saúde. I. Título. CDU: 614 Josete de Almeida Burg – CRB 14.ª 293 UNIVALI UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e Cultura – ProPPEC Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho CERTIFICADO DE APROVAÇÃO SILVANA CORRÊA DE BARROS LAMPERT PROMOÇÃO E DUCAÇÃO EM SAÚDE: PROBLEMATIZANDO A PRÁTICA DO AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE Dissertação avaliada e aprovada pela Comissão Examinadora e referendada pelo Colegiado como requisito à obtenção do grau de Mestre em Saúde e Gestão do Trabalho. Itajaí (SC), 13 de julho de 2012. Orientadora: _______________________________ Profª Dra. Águeda Lenita Pereira Wendhausen Banca Interna: __________________________________ Dra. Stella Maris Brum Lopes Banca Externa: ________________________________ Dra. Maria Soledad Rivera Banca Externa: ________________________________ Maria Elisabeth Kleba da Silva AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a DEUS por ter me mostrado a força de seu amor incondicional e por estar sempre do meu lado, me ouvindo com a serenidade de um sábio e conduzindo minha vida com seu cajado. Obrigado por me mostrar o quanto preciso de TI! A minha mãe JUSSARA, mulher de personalidade forte, que me ensinou o valor de um caráter. Figura sempre presente em minha vida, me impulsionando nas horas difíceis. Obrigado por me ajudar a tornar esse sonho possível! A meu pai ODILON, que apesar de ausente, foi quem me ensinou a “transformar pedras em flores”. Tenho certeza que sentes orgulho de mim. Aos meus filhos INAIARA e LUÍS FELIPE fonte de toda a minha força e inspiração nos momentos difíceis. Sei que muito estive ausente, mas tudo o que fiz, foi por VOCÊS! A minha avó ZENAIRA, que embora não esteja mais entre nós, deixou um legado de valores e princípios para os seus. Foi para mim um exemplo de força e determinação. Amo-te além da vida! A MARIA MADALENA NUNES MONTEIRO, cuja perda me fez escolher a área da saúde. Tua simplicidade e benevolência influenciaram a minha vida. Ao meu namorado FERNANDO pela paciência nos momentos difíceis, pelo apoio e palavras de incentivo. Acima de tudo és um grande amigo e companheiro que muito respeito e admiro. A meu amigo de longa data ALEXANDRE RAPHAEL CABRAL que mesmo “do outro lado do mundo” sempre se fez presente em minha vida. “Figura certa nas horas incertas”, minha felicidade eu reparto contigo! Aos meus colegas enfermeiros KARLA, ENEIDA e RAFAEL e a minha EQUIPE 007 pela compreensão e apoio nos momentos em que me fiz ausente no trabalho. Valeu pela força! A minha orientadora e mestre DRA. ÁGUEDA por acreditar em mim e me direcionar no caminho certo, compartilhando conhecimentos e contribuindo para o meu crescimento profissional. Sempre te levarei do lado esquerdo do peito! Aos PROFESSORES e COLEGAS DE MESTRADO, que em muito contribuíram nessa caminhada. Aos AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE pelo acolhimento, confiança e o aprendizado que me proporcionaram. Nada teria sido possível sem vocês! O meu muito obrigado a todos! Se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas participar de práticas com ela coerentes. Paulo Freire LAMPERT, Silvana Corrêa de Barros. Promoção e educação em saúde: problematizando a prática do agente comunitário de saúde. 2012. Dissertação (Programa de Mestrado Profissionalizante em Saúde e Gestão do Trabalho) Universidade do Vale do Itajaí/SC, Itajaí, 2012. Orientadora: Profª. Dra. Águeda Lenita Pereira Wendhausen. RESUMO Vários são os conceitos acerca da Promoção da Saúde, bem como as suas variadas interpretações e aplicabilidades. Isso se reflete na forma como percebemos e trabalhamos a Promoção, utilizando como ferramenta a Educação em Saúde. No entanto, para melhor discorrer sobre o assunto, se fez necessária uma retrospectiva histórica para que possamos melhor compreender o momento atual. Objetivamos trabalhar o conceito de Promoção da Saúde de forma a problematizar a prática dos Agentes Comunitários de Saúde, visando torná-los profissionais mais críticos e atuantes na sua comunidade, intervindo como agentes transformadores de uma realidade social marginalizada e excluída. O estudo foi desenvolvido em uma Unidade Básica de Saúde, no município de Itajaí/SC, por meio de quatro oficinas com os Agentes Comunitários de Saúde (ACS). Através da Teoria Problematizadora de Paulo Freire, foi suscitado nos mesmos, alguns questionamentos sobre o que é Promoção da Saúde, qual a sua real dimensão, de que forma ela se dá na prática e como ela pode ser aplicada no dia a dia da Estratégia Saúde da Família. Os resultados obtidos através destes encontros serviram para discutir e refletir o conceito, as concepções e práticas de Promoção da Saúde desenvolvidas pelos ACS e sua ligação com a Educação Popular em Saúde. Foi possível observar nas falas conflitos, contradições, despreparo e desconhecimento quando o assunto é Promoção e Educação Popular em Saúde. Promoção que segue sendo confundida com Prevenção. O modelo de educação bancária ainda persiste, perpetuando a alienação nos modos de entender e fazer saúde que se reflete nas propostas educativas realizadas pela Estratégia de Saúde da Família. Persiste ainda a conduta prescritiva dos profissionais, muitos ainda formados no modelo biomédico, o que nos faz pensar que muito ainda temos que caminhar para mudar o modelo de atenção. Palavras-chave: Promoção da Saúde. Educação em Saúde. Agentes Comunitários de Saúde. LAMPERT, Silvana Corrêa de Barros. Health education and promotion: questioning the practice of the community health agent. 2012. Dissertation (Master’s Degree Program in Health and Management of Work) - University of Vale do Itajai/SC, Itajaí, 2012. Supervisor: Prof. Dr. Pereira Wendhausen, Águeda Lenita. ABSTRACT There are several concepts of health promotion, as well as their various interpretations and applications. This is reflected in the way we perceive and deal with Promotion, used as a tool in Health Education. To discuss this subject properly, a historical retrospective is needed, so that we can better understand the present. This work discusses the concept of health promotion, in order to examine the practice of Community Health Workers (CHW), seeking to make these professionals more critical and active in their communities, so that they can become agents of change of a marginalized and excluded social context. The study was conducted in a Basic Health Unit in the town of Itajaí/SC, through four workshops with Community Health Agents. Using Paulo Freire’s Investigation Theory, the health workers were questioned about the nature of Health Promotion, its real dimension, how it is put into practice, and how it can be applied in the everyday practices of the Family Health Strategy (FHS). The results obtained in these workshops formed the basis of discussion and reflection on the concept, the beliefs and practices of health promotion developed by the CHWs, and its connection with Popular Education in Health. It was observed, in the conflicting speeches, that there are contradictions, a lack of training, and a lack of knowledge when it comes to Promotion and Popular Education in Health Promotion. Heath promotion is often confused with prevention. The banking model of education still persists, perpetuating a sense of alienation in relation to ways of understanding and doing health that is reflected in the educational proposals of the FHS. Prescriptive conduct is still common among professionals, many of whom are still trained according to a biomedical model. This suggests that we still have a long way to go in order to change the existing healthcare model. Keywords: Health Promotion. Health Education. Community Health Agents. LISTA DE FIGURAS Figura 1 Figura 2 Figura 3 Figura 4 Mural “História do Nome” ......................................................................... 65 “Resgatando a nossa História” ................................................................. 66 Grupo 1 – “O que entendemos por Promoção/Educação Popular em Saúde” ..................................................................................................... 84 Grupo 2 – “O que entendemos por Promoção/Educação Popular em Saúde” ................................................................................................ 85 LISTA DE QUADRO Quadro 1 A evolução das conferências de promoção da saúde .............................. 32 LISTA DE APÊNDICES Apêndice A Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.................................... 101 Apêndice B Consentimento de Participação do Sujeito......................................... 102 LISTA DE ANEXOS Anexo A Atribuições do Comitê Gestor da PMPS................................................. 104 Anexo B Objetivos e Estratégias da Agenda Nacional ......................................... 105 Anexo C Normas da Revista Trabalho, Educação e Saúde Pública para preparo de manuscritos .......................................................................... 108 LISTA DE SIGLAS ACS ASB CLS CNS CONEP ESF ICIRA MCP MS NOB OMS ONGs ONU PACS PIB PNPS PSF PUC-SP SESI SESP SIAB SISNEP SUS TCLE TSB UBS UNICAMPI USP Comunitários de Saúde Auxiliar em Saúde Bucal Conselhos Locais de Saúde Conferência Nacional de Saúde Comissão Nacional de Ética em Pesquisa Estratégia Saúde da Família Instituto Chileno para a Reforma Agrária Movimento de Cultura Popular Ministério da Saúde Normas Operacionais Básicas Organização Mundial da Saúde Organizações não Governamentais Organização das Nações Unidas Programa de Agentes Comunitários de Saúde Produto Interno Bruno Política Nacional de Promoção da Saúde Programa de Saúde da Família Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Setor de Educação e Cultura do Serviço Social da Indústria Serviço Especial de Saúde Pública Sistema de Informação da Atenção Básica Sistema Nacional de Informação sobre Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos Sistema Único de Saúde Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Técnico em Saúde Bucal Unidade Básica de Saúde Universidade Estadual de Campinas Universidade do Estado de São Paulo SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO / JUSTIFICATIVA .................................................................... 13 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA........................................................................ 18 2.1 Breve retrospectiva histórica da saúde no Brasil e a entrada do ACS como trabalhador em saúde ......................................................................... 18 2.2 O conceito ampliado de saúde e a Promoção da Saúde na atualidade ..... 26 2.3 A história das concepções de promoção da saúde..................................... 29 2.4 Breve retrospectiva histórica das ações educativas no campo da saúde ............................................................................................................... 39 3 METODOLOGIA ............................................................................................... 51 3.1 Paulo Freire: uma síntese biográfica e suas ideias ..................................... 52 3.2 Local da investigação ..................................................................................... 54 3.3 Sujeitos pesquisados .................................................................................... 56 3.4 Procedimentos de coleta dos dados ............................................................. 56 3.5 Análise dos dados .......................................................................................... 59 3.6 Aspectos éticos .............................................................................................. 60 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................ 62 4.1 Identificações do trabalho e das participantes ............................................ 62 4.2 Dando início às discussões ........................................................................... 66 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 87 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 91 APÊNDICES .................................................................................................. 100 ANEXOS ......................................................................................................... 103 13 1 INTRODUÇÃO / JUSTIFICATIVA Desde que iniciei minha atuação como enfermeira em Saúde Pública, em 1999, mais especificamente dentro da Estratégia Saúde da Família (ESF), sempre tive um olhar voltado para os anseios da comunidade e me questionava de que forma o trabalho em equipe, dentro do modelo de saúde atual, poderia ser útil e provocar necessárias e positivas transformações. ESF iniciou em 1994, marcada pela evolução histórica e organização do sistema de saúde no Brasil. É uma estratégia de reorientação do modelo assistencial operacionalizada mediante a implantação de equipes multiprofissionais em unidades básicas de saúde. Tais equipes possuem uma composição mínima constituída por: médico generalista ou especialista em saúde da família ou médico de família e comunidade, enfermeiro generalista ou especialista em saúde da família, auxiliar ou técnico de enfermagem e agentes comunitários de saúde, podendo acrescentar a esta composição, como parte da equipe multiprofissional, os profissionais de saúde bucal: cirurgião dentista generalista ou especialista em saúde da família, auxiliar e/ou técnico em Saúde Bucal (BRASIL, 2011). Dentre os profissionais da equipe de Saúde da Família, sempre me chamou a atenção à atuação dos agentes comunitários de saúde (ACS), justamente pelo fato de ter livre acesso a mundos com características tão singulares. Por ser um morador na comunidade em que trabalha e ser capacitado a partir de referenciais biomédicos, esse papel diferenciado do ACS dentro da equipe, faz dele um ator que suscita múltiplas interpretações e intervenções. O caráter híbrido e polifônico desse ator pode funcionar ora como faciliador, ora como empecilho na mediação entre a comunidade e a equipe (NUNES et al., 2002). O ACS é um trabalhador que faz parte da equipe de saúde da comunidade onde mora e, segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2000a), tem como principal atribuição estabelecer um elo de ligação entre esses dois universos. Nogueira et al. (2000) e Carvalho (2002) confirmam o discurso preconizado pelo Ministério da Saúde - MS e ressaltam a importância do papel social do ACS como mediador, interferindo positivamente no trabalho da equipe de saúde. Silva e Dalmaso (2002) constatam que essa identidade ambivalente permite que, em determinadas situações, o ACS se aproxime mais do pólo institucional, ao passo que em outras se 14 dirige mais para o pólo comunitário. O livre acesso a mundos com características diferentes (o do usuário e o da unidade de saúde) pode ser um facilitador no trabalho de promoção e vigilância da saúde, pois viabiliza à equipe obter as informações necessárias para um diagnóstico situacional e à partir dele mapear o território de abrangência e estabelecer prioridades e estratégias de intervenção que se fizerem necessárias. Em virtude do papel mediador, exercido pelo ACS, Nunes et al. (2002, p. 1640) se referem a esse ator social como sendo o “ator mais intrigante” da equipe. Segundo Bornstein (2007, p. 205), “a função mediadora exercida pelo ACS pode ser de grande importância na mudança do modelo assistencial”. Em consonância, Jorge et al. (2007, p. 12) afirmam que o ACS vem exercendo o papel de porta voz da comunidade, ajudando a dar respostas às necessidades da população, desenvolvendo ações de promoção, prevenção e incentivo à organização local que visam a melhoria da vida das famílias sob sua responsabilidade. Neste contexto, a atuação dos ACS é de grande interesse tendo em vista que estes exercem um papel importante dentro da equipe de Saúde da Família, na permanente busca pela comunicação e trocas de experiências entre os profissionais da ESF e a comunidade. Na prática, pude observar que essa dicotomia, muitas vezes, causava conflitos dentro e fora da equipe. Durante minhas visitas domiciliares, ouvia de usuários questionamentos sobre qual era, afinal, o papel do ACS. O usuário percebe o ACS como um fiscalizador em virtude de seu monitoramento da comunidade, ou seja, se está tomando o anti-hipertensivo, se levou o filho para tomar a vacina ou se a gestante fez a consulta de pré-natal. Em contrapartida entendo que as funções do ACS podem estar diretamente ligadas à promoção, como o estímulo a manutenção e melhoria das condições de saúde da população, a promoção da desmonopolização do saber técnico para a população assistida e o estímulo à incorporação da noção do autocuidado. Porém, o que se observa no cotidiano é que quando o ACS circula entre a comunidade e a equipe, ele não quer ser reconhecido como comunidade, também se reconhece no papel de fiscalizador. Essa visão que os usuários e o próprio ACS têm dele próprio instiga uma reflexão sobre a identidade desse ator. O que remete a pensar que o papel do ACS é uma identidade em construção. O ACS talvez não tivesse se apropriado do seu importante papel. Por 15 outro lado, quando questionados sobre o assunto, referem sentir-se desvalorizados, muitos não se sentem como integrantes da equipe de saúde, não conseguem visualizar o impacto de suas ações e falta motivação. Naquele momento percebi que poderia ajudá-los para que resgatassem sua autoestima e valorização profissional. Nascia assim a preocupação com estes profissionais para que os mesmos conseguissem estabelecer vínculos de compromisso e corresponsabilidade com a comunidade, bem como estimular a organização das comunidades de forma a exercer o controle social das ações e serviços de saúde, através da concepção e prática da Promoção e Educação em Saúde. O presente projeto assim justifica-se pelos relatos, tantas vezes mencionados, das ACS quanto ao fato de sentirem necessidade de se instrumentalizar para poder desenvolver, junto à comunidade, ações educativas que promovessem mudanças positivas para a sua saúde. Entretanto, além de não terem clareza desse papel educativo, não sabem que hoje a Educação em Saúde pode fazer parte de uma estratégia maior, a Promoção da Saúde cuja efetivação é condição sine qua non para que sejam cumpridos os preceitos do Sistema Único de Saúde - SUS e ESF. Esta discussão foi retomada inúmeras vezes até que se tornou um projeto. Seu intuito vem ao encontro de um dos eixos da Atenção Básica que trata da Promoção da Saúde e suas conexões com a prática da Educação em Saúde, valorizando os diferentes saberes para a construção da cidadania e autonomia de seus cidadãos, onde a ESF exerce papel fundamental. Levando-se em consideração que o ACS como parte da comunidade, tem o desafio de reconhecer na realidade local necessidades e potencialidades de mudança, bem como de articular-se com a mesma em prol dessas mudanças, pressupõe-se que o mesmo deva estar devidamente preparado para exercer o seu papel como educador. Para tanto, deve apropriar-se do conhecimento necessário para conquistar sua autoconfiança, bem como estabelecer uma relação dialógica que possibilite estabelecer o vínculo e conquistar a confiança da população de sua área de abrangência. Suas ações devem ser voltadas para os problemas detectados no diagnóstico realizado a partir do cadastramento das famílias, sempre sob o olhar atento de seu enfermeiro supervisor. Sua atuação deve levar em conta a realidade específica de cada comunidade, sempre amparado num planejamento prévio com toda a equipe de Saúde da Família. 16 Para que o mesmo consiga desenvolver ações de Promoção da Saúde é preciso perceber quais são as suas concepções sobre saúde e de que forma percebem e aplicam esse conhecimento na prática. As ações de Educação em Saúde tem relação direta com a Promoção da Saúde, seja quando se relacionam a seus princípios; por exemplo, desenvolver habilidades para a saúde, fortalecer a ação comunitária e mesmo quando se fala em mudança do modelo assistencial, pois, numa educação emancipatória, o usuário é tratado como sujeito e não objeto. Foi com estas ideias que tentamos problematizar algumas práticas dos ACS. Para problematizar estes temas escolhi trabalhar com o método Paulo Freire e busquei juntamente aos ACS, através da reflexão-ação sobre suas atuais práticas de Promoção e Educação promover resignificações. A escolha pela pesquisa qualitativa, tendo como inspiração a Pesquisa Participante, dá-se pelo fato de que a mesma envolve um processo de investigação, educação e ação. Trabalhar na perspectiva libertadora constitui-se num grande desafio, pois segundo Freire (1981, p. 35), a “pesquisa como ato de conhecimento, tem como sujeitos cognoscentes, de um lado, os pesquisadores profissionais; de outro os grupos populares e, como objeto a ser desvelado, a realidade concreta”. Levando-se em consideração que a ESF é a porta de entrada para o SUS e que a mesma é uma ferramenta usada para a mudança no modelo de atenção, considero ser pertinente este estudo, por entender que o papel do ACS se constitui e se afirma como tal, na medida em que esse se apropria do real sentido e significado da sua existência. Assim constitui-se o objetivo geral do estudo discutir e refletir sobre o conceito, as concepções e as práticas de Promoção da Saúde desenvolvidas pelos ACS e sua ligação com a Educação em Saúde com vistas à elaboração de propostas de ações para a comunidade assistida. Escolhi realizar oficinas com os ACS por entender que é uma forma de vivenciar situações concretas e significativas, baseada no tripé: sentir-pensar-agir, com objetivos pedagógicos. É o espaço onde ocorrem apropriação, construção e produção de conhecimentos teóricos e práticos, de forma ativa e reflexiva. Cuberes apud Vieira e Volquind (2002, p. 11), conceitua como sendo “um tempo e um espaço para aprendizagem; um processo ativo de transformação recíproca entre sujeito e objeto; um caminho com alternativas, com equilibrações que nos aproximam progressivamente do objeto a conhecer”. 17 Utilizei-me da metodologia problematizadora de Paulo Freire, para discutir questões relativas à Promoção de Saúde e Educação em Saúde (concepções e aplicabilidades) e identificar como ocorre a atuação dos ACS neste contexto: verificar as dificuldades e potencialidades no que se refere à forma como os ACS percebem e trabalham a Promoção da Saúde e a Educação em Saúde com a comunidade, dentro e fora da Unidade Básica de Saúde - UBS e, finalmente, propor junto com os ACS ações de saúde visando à Promoção da Saúde da comunidade através da Educação em Saúde. 18 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Breve retrospectiva histórica da saúde no Brasil e a entrada do ACS como trabalhador em saúde O movimento da Reforma Sanitária Brasileira remonta a segunda metade dos anos 70 em meio a lutas por liberdade democrática contra a ditadura, movimento sindical e posteriormente movimentos sociais que exerciam pressão sobre a Assembleia Nacional Constituinte. Mas é somente na década de 80 que este movimento toma força a partir da organização da sociedade civil que lutava em prol de uma saúde de qualidade, em todos os níveis de complexidade (DONIAK, 2002). Essa luta culminou com a 8ª Conferência Nacional de Saúde – CNS, realizada em Brasília no ano de 1986, e em muito contribuiu para a elaboração da nova Constituição Federal de 1988 que criou e instituiu o Sistema Único de Saúde – SUS. Nos anos 90 o Brasil foi palco de grandes mudanças nas políticas de saúde, norteadas pela urgência em romper com paradigmas dominantes no campo da saúde e a necessidade de reorganizar a atenção básica. Foram necessárias as leis orgânicas 8.080 e a 8.142, homologadas somente em 1990, para que efetivamente entrassem em vigor os artigos da Constituição. E somente em 1992, com dois anos e atraso, é que se realiza a 9ª CNS que define as Normas Operacionais Básicas (NOB), para que o SUS começasse a funcionar, de fato (DA ROS et al., 2006). A NOB/96 surge como um instrumento de regulação do SUS, redefinindo as responsabilidades dos Estados, do Distrito Federal e da União, ao mesmo tempo em que explicita e dá consequência prática, em toda sua totalidade aos princípios e diretrizes do SUS. Está consubstanciada na Constituição Federal e nas Leis No. 8.080/90 e No. 8.142/90, favorecendo, ainda, mudanças essenciais no modelo de atenção à saúde no Brasil (BRASIL, 1996). Com o advento do SUS foi estabelecido um conjunto de prioridades políticas de forma a garantir a mudança no modelo assistencial vigente, ainda focado numa visão biomédica e hospitalocêntrica. Neste contexto, surge o então chamado Programa de Saúde da Família (PSF) com a finalidade de reorganizar os sistemas 19 de saúde, reorientando suas práticas, tendo como propósito a superação fragmentada do ser humano. Seu foco principal é o de desenvolver uma atenção integral, prestada por equipe multiprofissional, ao indivíduo e comunidade, fomentando a intensa participação desta. Para tanto, em junho de 1991 deu-se início a implantação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e, na sequência, em janeiro de 1994, formaram-se as primeiras equipes de Saúde da Família, incorporando e ampliando a atuação dos ACS com o propósito de auxiliar os municípios na implementação da Atenção Básica. Segundo Sá Filha (2000), o PACS foi o primeiro programa a trabalhar com noção de área de abrangência e cobertura por família, fugindo da concepção meramente individualista, enfocando a família como objeto de ação. Considerando que o PSF tem como objetivo a reorganização da atenção primária, muitos e complexos são os desafios a serem superados para consolidar-se enquanto tal, sendo imprudente estabelecer um tempo para finalizar esta reorganização. Embora rotulado como programa, o PSF, por suas especificidades, foge à concepção usual dos demais programas concebidos no Ministério da Saúde (MS), já que não é uma intervenção vertical e paralela as atividades dos serviços de saúde. Pelo contrário, caracteriza-se como uma estratégia que possibilita a integração e promove a organização das atividades em um território definido, com o propósito de propiciar o enfrentamento e resolução dos problemas identificados (BRASIL, 1997a). Sendo assim, o MS entende que se faz necessário uma mudança de nomenclatura passando o PSF a ser chamado de Estratégia Saúde da Família (ESF). Em virtude da expansão do PSF e consolidação da ESF, em 28 de março de 2006 o MS aprovou a Política Nacional de Atenção Básica, através da publicação da Portaria nº 648. A referida Portaria estabelecia a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica para o PSF e o PACS. A mesma foi revogada em 21 de outubro de 2011 quando passou a vigorar a Portaria 2.488. Segundo a Portaria 2.488, o Ministério da Saúde caracteriza a Atenção Básica 20 [...] por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, redução de danos e a manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades. É desenvolvida por meio do exercício de práticas de cuidado e gestão, democráticas e participativas, sob forma de trabalho em equipe, dirigidas a populações de territórios definidos, pelas quais assume a responsabilidade sanitária, considerando a dinamicidade existente no território em que vivem essas populações. Utiliza tecnologias de cuidado complexas e variadas que devem auxiliar no manejo das demandas e necessidades de saúde de maior freqüência e relevância em seu território, observando critérios de risco, vulnerabilidade, resiliência e o imperativo ético de que toda demanda, necessidade de saúde ou sofrimento devem ser acolhidos. É desenvolvida com o mais alto grau de descentralização e capilaridade, próxima da vida das pessoas. Deve ser o contato preferencial dos usuários, a principal porta de entrada e centro de comunicação da Rede de Atenção à Saúde. Orienta-se pelos princípios da universalidade, da acessibilidade, do vínculo, da continuidade do cuidado, da integralidade da atenção, responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social. A Atenção Básica considera o sujeito em sua singularidade e inserção sócio-cultural, buscando produzir a atenção integral (BRASIL, 2011). Para que tais ações possam ser colocadas em prática, faz-se necessária a formação das Equipes de Saúde da Família, cujas condições foram determinadas, conforme a Portaria 2.488: I - Existência de equipe multiprofissional (equipe saúde da família) composta por, no mínimo, médico generalista ou especialista em saúde da família ou médico de família e comunidade, enfermeiro generalista ou especialista em saúde da família, auxiliar ou técnico de enfermagem e agentes comunitários de saúde, podendo acrescentar a esta composição, como parte da equipe multiprofissional, os profissionais de saúde bucal: cirurgião dentista generalista ou especialista em saúde da família, auxiliar e/ou técnico em Saúde Bucal; II - O número de ACS deve ser suficiente para cobrir 100% da população cadastrada, com um máximo de 750 pessoas por ACS e de 12 ACS por equipe de Saúde da Família, não ultrapassando o limite máximo recomendado de pessoas por equipe; 21 III - Cada equipe de saúde da família deve ser responsável por, no máximo, 4.000 pessoas, sendo a média recomendada de 3.000 pessoas, respeitando critérios de equidade para esta definição. Recomenda- se que o número de pessoas por equipe considere o grau de vulnerabilidade das famílias daquele território, sendo que quanto maior o grau de vulnerabilidade menor deverá ser a quantidade de pessoas por equipe; IV - Cadastramento de cada profissional de saúde em apenas 01 (uma) ESF, exceção feita somente ao profissional médico que poderá atuar em no máximo 02 (duas) ESF e com carga horária total de 40 (quarenta) horas semanais; e, V - Carga horária de 40 (quarenta) horas semanais para todos os profissionais de saúde membros da equipe de saúde da família. A jornada de 40 (quarenta) horas deve observar a necessidade de dedicação mínima de 32 (trinta e duas) horas da carga horária para atividades na equipe de saúde da família podendo, conforme decisão e prévia autorização do gestor, dedicar até 08 (oito) horas do total da carga horária para prestação de serviços na rede de urgência do município ou para atividades de especialização em saúde da família, residência multiprofissional e/ou de medicina de família e de comunidade, bem como atividades de educação permanente e apoio matricial. Serão admitidas também, além da inserção integral (40h), as seguintes modalidades de inserção dos profissionais médicos generalistas ou especialistas em saúde da família ou médicos de família e comunidade nas Equipes de Saúde da Família, com as respectivas equivalências de incentivo federal: I - 2 (dois) médicos integrados a uma única equipe em uma mesma UBS, cumprindo individualmente carga horária semanal de 30 horas (equivalente a 01 (um) médico com jornada de 40 horas semanais), com repasse integral do incentivo financeiro referente a uma equipe de saúde da família; II - 3 (três) médicos integrados a uma equipe em uma mesma UBS, cumprindo individualmente carga horária semanal de 30 horas (equivalente a 02 (dois) médicos 22 com jornada de 40 horas, de duas equipes), com repasse integral do incentivo financeiro referente a duas equipes de saúde da família; III - 4 (quatro) médicos integrados a uma equipe em uma mesma UBS, com carga horária semanal de 30 horas (equivalente a 03 (três) médicos com jornada de 40 horas semanais, de três equipes), com repasse integral do incentivo financeiro referente a três equipes de saúde da família; IV - 2 (dois) médicos integrados a uma equipe, cumprindo individualmente jornada de 20 horas semanais, e demais profissionais com jornada de 40 horas semanais, com repasse mensal equivalente a 85% do incentivo financeiro referente a uma equipe de saúde da família; e V - 1 (um) médico cumprindo jornada de 20 horas semanais e demais profissionais com jornada de 40 horas semanais, com repasse mensal equivalente a 60% do incentivo financeiro referente a uma equipe de saúde da família. Tendo em vista a presença do médico em horário parcial, o gestor municipal deve organizar os protocolos de atuação da equipe, os fluxos e a retaguarda assistencial, para atender a esta especificidade. Além disso, é recomendável que o número de usuários por equipe seja próximo de 2.500 pessoas. As equipes com esta configuração são denominadas Equipes Transitórias, pois, ainda que não tenham tempo mínimo estabelecido de permanência neste formato, é desejável que o gestor, tão logo tenha condições, transite para um dos formatos anteriores que preveem horas de médico disponíveis durante todo o tempo de funcionamento da equipe. A referida Portaria diz que os profissionais de saúde bucal que compõem as equipes de saúde da família podem se organizar nas seguintes modalidades: I - Cirurgião dentista generalista ou especialista em saúde da família e auxiliar em saúde bucal (ASB); II - Cirurgião dentista generalista ou especialista em saúde da família, técnico em saúde bucal (TSB) e auxiliar em saúde bucal (ASB); e 23 III - Profissionais das modalidades I ou II que operam em Unidade Odontológica Móvel. Independente da modalidade adotada recomenda-se que os profissionais de Saúde Bucal, estejam vinculados a uma ESF e compartilhem a gestão e o processo de trabalho da equipe tendo responsabilidade sanitária pela mesma população e território que a ESF à qual integra, e com jornada de trabalho de 40 horas semanais para todos os seus componentes. Cada Equipe de Saúde da Família que for implantada com os profissionais de saúde bucal ou quando se introduzir pela primeira vez os profissionais de saúde bucal numa equipe já implantada, modalidade I ou II, o gestor receberá do Ministério da Saúde os equipamentos odontológicos, através de doação direta ou o repasse de recursos necessários para adquiri-los (equipo odontológico completo). Além da reorganização dos serviços de saúde, a Estratégia Saúde da Família tem como pressuposto a reorganização das práticas profissionais. O trabalho do ACS vem sendo respaldado, legalmente, nos seguintes documentos: - Portaria nº 1.886/1997 (BRASIL, 1997b) que aprova as normas e diretrizes do Programa de Agente Comunitário de Saúde e do Programa de Saúde da Família, com vistas a regulamentar a implantação e operacionalização dos referidos Programas. - Decreto nº 3.189/1999 (BRASIL, 1999) que fixa as diretrizes para o exercício da atividade de Agente Comunitário de Saúde (ACS) e dá outras providências. - Lei nº 10.507/2002 (BRASIL, 2002b) que cria a profissão do Agente Comunitário de Saúde e dá outras providências. A referida Lei foi revogada em 2006 quando passou a vigorar a Lei nº 11.350, de 5 de outubro de 2006. - Portaria nº 44/GM de 03 de janeiro de 2002 (BRASIL, 2002c) que define as atribuições do ACS na prevenção e no controle da malária e da dengue. - Lei nº 11.350/2006 (BRASIL, 2006) que regulamenta o § 5º do art. 198 da Constituição, dispõe sobre o aproveitamento de pessoal amparado pelo parágrafo único do art. 2º da Emenda Constitucional nº 51, de 14 de fevereiro de 2006, e dá outras providências. 24 Segundo a Portaria MS n° 2488, de 21 de outubro de 2011, as atribuições específicas do Agente Comunitário de Saúde são: I - trabalhar com adscrição de famílias em base geográfica definida, a microárea; II - cadastrar todas as pessoas de sua microárea e manter os cadastros atualizados; III - orientar as famílias quanto à utilização dos serviços de saúde disponíveis; IV - realizar atividades programadas e de atenção à demanda espontânea; V - acompanhar, por meio de visita domiciliar, todas as famílias e indivíduos sob sua responsabilidade. As visitas deverão ser programadas em conjunto com a equipe, considerando os critérios de risco e vulnerabilidade de modo que famílias com maior necessidade sejam visitadas mais vezes, mantendo como referência a média de 1 (uma) visita/família/mês; VI - desenvolver ações que busquem a integração entre a equipe de saúde e a população adscrita à UBS, considerando as características e as finalidades do trabalho de acompanhamento de indivíduos e grupos sociais ou coletividade; VII - desenvolver atividades de promoção da saúde, de prevenção das doenças e agravos e de vigilância à saúde, por meio de visitas domiciliares e de ações educativas individuais e coletivas nos domicílios e na comunidade, como por exemplo, combate à Dengue, malária, leishmaniose, entre outras, mantendo a equipe informada, principalmente a respeito das situações de risco; e VIII - estar em contato permanente com as famílias, desenvolvendo ações educativas, visando à promoção da saúde, à prevenção das doenças, e ao acompanhamento das pessoas com problemas de saúde, bem como ao acompanhamento das condicionalidades do Programa Bolsa Família ou de qualquer outro programa similar de transferência de renda e enfrentamento de vulnerabilidades implantado pelo Governo Federal, estadual e municipal de acordo com o planejamento da equipe. 25 É permitido ao ACS desenvolver outras atividades nas Unidades Básicas de Saúde, desde que vinculadas às atribuições acima. De acordo com o art. 3º da Portaria 2.488, o Agente Comunitário de Saúde tem como atribuição o exercício de atividades de prevenção de doenças e promoção da saúde, mediante ações domiciliares ou comunitárias, individuais ou coletivas, desenvolvidas em conformidade com as diretrizes do SUS e sob supervisão do gestor municipal, distrital, estadual ou federal. Parágrafo único. São consideradas atividades do Agente Comunitário de Saúde, na sua área de atuação: I - a utilização de instrumentos para diagnóstico demográfico e sócio-cultural da comunidade; II - a promoção de ações de educação para a saúde individual e coletiva; III - o registro, para fins exclusivos de controle e planejamento das ações de saúde, de nascimentos, óbitos, doenças e outros agravos à saúde; IV - o estímulo à participação da comunidade nas políticas públicas voltadas para a área da saúde; V - a realização de visitas domiciliares periódicas para monitoramento de situações de risco à família; e VI - a participação em ações que fortaleçam os elos entre o setor saúde e outras políticas que promovam a qualidade de vida. Dentro da nova proposta de ver e entender saúde, é possível identificar duas dimensões na prática do ACS. A primeira, diz respeito a um caráter estritamente técnico, relacionado ao atendimento individual e coletivo, o monitoramento de grupos ou problemas de saúde específicos ou a intervenção para prevenção de agravos. A segunda se refere a um caráter mais político, explícito no auxílio a organização da comunidade e luta por melhorias nas condições de vida. É 26 justamente nesta dimensão de caráter mais político que a Educação em Saúde influencia no relacionamento desenvolvido entre o ACS e usuários/comunidade. No entanto, a prática da Educação em Saúde exige dos profissionais certa cautela, no sentido de não torná-la impositiva, ou seja, restringi-la ao mero cumprimento de orientações repassadas pelos profissionais da ESF. Para que o conceito de Promoção da Saúde possa, realmente, se efetivar como pensado atualmente, a Educação em Saúde correspondente necessita ser inclusiva, permeando a troca de saberes, contribuindo para a efetiva gestão compartilhada dos serviços de saúde e conhecimento do processo saúde-doença. Ou seja, ela necessita ser “libertadora/problematizadora”, como sabiamente nos ensina Paulo Freire (2005, p. 78). Assim se faz necessário que partamos de um “novo” conceito de saúde que não aquele que preconizava este processo unicausal ou até multicausal, mas em considerar o peso destes determinantes, o que passa a ocorrer no Brasil após a 8ª Conferência de Saúde de 1986 como discorreremos a seguir. 2.2 O conceito ampliado de saúde e a Promoção da Saúde na atualidade Wendhausen e Saupe (2007) ao se referir à Promoção da Saúde dizem que, embora a efetivação de suas práticas transcenda o setor sanitário, ela reúne potencial extraordinário para o desenvolvimento do conceito ampliado de saúde. O próprio debate em torno do conceito de Promoção de Saúde tem como ponto de partida o conceito de saúde (CZERESNIA; FREITAS, 2009). Sendo assim, faz-se necessário, primeiramente, entender o que é saúde e como esta é atualmente concebida em seu conceito mais amplo. O conceito de saúde é muito mais do que a ausência de doença, mais do que o conceito biomédico. Ainda é algo diferente do que propôs a OMS1, que coloca vários determinantes à saúde, admitindo que todos tem a mesma influência. O Conceito Ampliado de Saúde é sem dúvida, um dos mais importantes avanços propiciados pela 8ª CNS, onde diz que saúde é considerada como: 1 A OMS organismo sanitário internacional integrante da ONU, fundada em 1948, diz que: “saúde é o estado do mais completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de enfermidade ou invalidez” (OMS, 1946). 27 [...] resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde. É, assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida (DA ROS et al., 2006, p. 56). Segundo a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 196, saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988). Neste conceito saúde/doença fica entendida como um processo, que é determinado socialmente. Assim, adotar como eixo o paradigma promocional, como forma de produzir saúde, significa comprometer-se com sujeitos e coletividades que expressem crescente autonomia, crescente capacidade para gerenciar satisfatoriamente os limites e os riscos impostos pela doença, pela constituição genética e pelo contexto sócio-político-econômico-cultural, enfim pela vida (CAPONI, 2003). A Promoção da Saúde emerge como estratégia poderosa e de relevância para o desenvolvimento social. Ela abarca uma série de princípios que fundamentam uma série de estratégias, no intuito de promover as condições necessárias às populações para que se tornem saudáveis e façam escolhas saudáveis. As referidas estratégias baseiam-se em vários campos do pensamento como: antropologia, epidemiologia, sociologia, psicologia e outras ciências do comportamento, saúde pública, ciência política, educação e comunicação, entre outros e suas respectivas metodologias (HEALTH PROMOTION AGENCY FOR NORTHERN IRELAND, 2004). Sendo assim, essa forma de conceber saúde reconhece o ser humano na sua integralidade e a saúde como qualidade de vida. Porém, as gritantes desigualdades sociais que assolam nosso país constituem um importante desafio na garantia aos direitos de saúde da população. Para tanto, é preciso gerar condições e oportunidades para o desenvolvimento social como forma de quebrar o ciclo da exclusão. O desenvolvimento de políticas sociais e econômicas se faz necessário para o desenvolvimento econômico sustentável e distribuição de renda. Cabe ao SUS 28 garantir ações de promoção, proteção e recuperação da saúde tanto do indivíduo como da coletividade, equitativamente falando (PEREIRA, 2004). Somente assim o “direito” sairia do papel e passaria a integrar o cotidiano da vida dos brasileiros, o que se traduz como tarefa árdua e imbricada. Ao se perceber saúde como qualidade de vida faz-se necessário voltar o olhar para os condicionantes e os determinantes de saúde citados no Artigo 3º das Disposições Gerais da Lei 8.080, como: alimentação, moradia, saneamento básico, meio ambiente, trabalho, renda, educação, transporte, lazer e o acesso que a população tem aos bens e serviços que lhe são essenciais e de direito (BRASIL, 1990). É no estabelecimento de parcerias com outros setores e atores que conseguimos estender a reflexão sobre a nova concepção de saúde. Sendo assim, é possível desencadear um processo de repensar novas formas de planejar, organizar e pôr em prática questões relativas à saúde. Para tanto, podemos contar com os mais variados espaços como: escolas, igrejas, associação de moradores, sindicatos, empresas, indústrias, Organizações não Governamentais - ONGs, Conselhos Locais de Saúde – CLS e Conselho Municipal de Saúde entre outros setores e Secretarias da Administração Municipal. O conceito ampliado de saúde precisa ser pensado além do ponto de vista da doença, levando-se em consideração os aspectos econômicos, políticos e históricosociais do ser humano. É preciso entender as relações dinâmicas que o indivíduo mantém com o outro e sua comunidade, bem como suas variadas formas de conviver e interagir com o meio ambiente. A partir dessas percepções, do estabelecimento de parcerias e da participação do maior número de atores diretamente envolvidos é que podemos então trabalhar, de uma forma mais eficaz, questões relativas à Promoção da Saúde. A Promoção da Saúde tem estreita relação com um movimento de crítica à medicalização do setor e com a vigilância à saúde, que desloca radicalmente o olhar da doença para o modo de vida das pessoas. Sua essência não limita saúde a mera ausência de doença e supõe o direito e a capacidade de exercer ação sobre seus determinantes sociais. Essa aproximação entre a promoção e a vigilância nada mais é do que o fortalecimento da capacidade de resposta aos velhos e novos desafios. A atuação dessa vigilância é caracterizada pela intervenção sobre problemas de saúde que requerem atenção e acompanhamento contínuos; articulação entre 29 ações promocionais, preventivas, curativas e reabilitadoras; atuação intersetorial; ação sobre o território e intervenção sob a forma de operações (PAIM; ALMEIDA FILHO, 2000). Constitui-se num olhar, numa atitude incorporada ao cotidiano, buscando descortinar e ampliar o campo de visibilidade possibilitando ações mais concretas. 2.3 A história das concepções de promoção da saúde O médico historiador Henry Ernest Sigerist foi quem utilizou, pela primeira vez, a expressão “promoção da saúde” no ano de 1945. Sigerist nasceu em 1891 em Paris e morreu em 1957 na Suíça. Graduado na Universidade de Zurique dedicou-se ao estudo da história da medicina (PEREIRA; PENTEADO; MARCELO, 2000). Foi ele quem definiu as quatro tarefas essenciais da medicina: a promoção de saúde, a prevenção de doenças, o tratamento dos doentes e a reabilitação, afirmando que “la salud se promueve proporcionando condiciones de vida decentes, buenas condiciones de trabajo, educación, cultura física y descanso” (SIGERIST apud TERRIS, 1992, p. 38). Essa definição original da promoção, que chama a atenção para os determinantes sociais da saúde difere da concepção difundida pelo Informe Lalonde (1974), que privilegiou os fatores particulares (TERRIS, 1992). O documento de Lalonde destaca a limitação das ações centradas na assistência médica e questiona oficialmente o impacto e o custo elevado dos cuidados médicos na saúde (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2000). O mesmo propõe ampliar o campo de atuação da saúde pública, intervindo com ênfase em segmentos da população com maior risco, enfatiza que melhorar a saúde implica em mudanças de comportamentos cuja responsabilidade cabe a cada indivíduo, bem como contribui para a identificação de desigualdades sanitárias. Aumenta cada vez mais a noção de que Promoção da Saúde estava embutida na “História Natural da Doença”, principalmente quando era considerada unicamente como uma possível mudança de comportamento, ou seja, como algo a prevenir o risco de adoecer. A Promoção da Saúde comportaria três níveis de “prevenção” para o que o indivíduo, juntamente com a família ou grupos, atuaria. Era, portanto neste momento, um 30 enfoque ligado ao risco de adoecer e a escolha individual de um “comportamento” mais saudável (BUSS, 2003). Em contraposição, em 1978, ocorreu em Alma-Ata, na Rússia (atual Cazaquistão), a I Conferência Internacional sobre Atenção Primária à Saúde. A referida Conferência reconhece a saúde como um direito fundamental do ser humano e teve um significado ímpar para a saúde pública. Menciona a adoção de um conjunto de medidas, entre as quais, a Educação em Saúde, a prevenção de doenças e agravos, o saneamento básico e a prioridade para a atenção à saúde materno-infantil. Dos resultados obtidos, alguns tiveram bastante significância como: o incentivo ao aleitamento materno, a adesão ao esquema vacinal, a procura e distribuição do soro de reidratação oral, o controle da diarreia e infecções respiratórias, bem como o estabelecimento da prática de puericultura (MATTA; MOROSINI, 2006). A Promoção e Proteção da saúde em nível mundial passam a ser condição sine qua non para o contínuo desenvolvimento social e econômico, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida e para a paz entre os povos. É nessa Conferência que se reforça o compromisso nacional e internacional com a Atenção Primária à Saúde, concentrando esforços, de cunho técnico e financeiro, com especial atenção aos países em desenvolvimento. O conceito de Promoção da Saúde, assim como o desenvolvimento de novas práticas coerentes com suas bases político-ideológicas, vem sendo construído nos últimos anos a partir destes e outros questionamentos que se concretizam a partir da I Conferência Internacional de Promoção da Saúde, realizada em Ottawa em 1986. No Brasil, neste momento trava-se uma luta histórica por uma atenção à saúde cujo modelo priorize ações com impacto positivo para a saúde do sujeito e coletividade, o que se concentra na 8a Conferência Nacional de Saúde. O esforço investido para a formulação, implementação e concretização de políticas de promoção, proteção e recuperação da saúde, traduz a consciência de que o modelo biomédico, com todo o seu instrumental científico-tecnológico, por si só, não dá conta da gama de determinantes e condicionantes a que estamos submetidos. Fazse necessário pensar saúde de uma forma mais global, relacionando-a aos modos de viver e não de forma reducionista relacionando-a meramente a determinação genética e biológica. 31 Estudos contemporâneos realizados sobre a saúde mundial apontam para uma realidade preocupante. A pobreza crescente, fruto do descontrole do processo de globalização, que não deu conta de questões relativas ao desenvolvimento social, tem provocado consequências desastrosas para a saúde da população. A violação dos direitos humanos, o crescente número de vítimas de violências e acidentes, o ressurgimento de antigas endemias, o aumento de doenças crônicas não transmissíveis e a disseminação de micro-organismos desconhecidos tem sido motivo de alerta mundial. Tais consequências tornam evidente a incapacidade do modelo biomédico vigente em dar conta de tal problemática, o que inviabiliza as promessas de saúde para todos no início do século XXI (DECLARAÇÃO DE ALMAATA, 1978 apud BRASIL, 2002a; KICKBUSCH, 2003; SANTOS, 2001). No Brasil o Ministério da Saúde Pública, cria através da Portaria nº 1190 – GAB/MS, de 14/07/2005, o Comitê Gestor da Política Nacional de Promoção da Saúde, cujas atribuições encontram-se em anexo (Anexo A). Embora possamos ter críticas, pois essa política tem desdobramentos operacionais que se voltam muito mais para a mudança de comportamento individual que para a busca da cidadania, o Ministério da Saúde assume a Promoção da Saúde como uma prioridade nacional. A partir daí estabelece uma Agenda Nacional (2005-2007) num esforço de sistematização e consolidação de ações e estratégias no campo da Promoção da Saúde, bem como a construção de documento que subsidie o trabalho do Comitê Gestor da Política Nacional de Promoção da Saúde. Os objetivos e as estratégias para atingi-los estão no anexo (Anexo B). Em resposta às demandas do setor sanitário, em 2006 o MS publica a Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS). Esse modo de entender saúde traduz-se na definição de seu objetivo geral que é o de: [...] promover a qualidade de vida e reduzir vulnerabilidade e riscos à saúde relacionados aos seus determinantes e condicionantes – modos de viver, condições de trabalho, habitação, ambiente, educação, lazer, cultura, acesso a bens e serviços essenciais [...] (BRASIL, 2006). Assim, em nosso país cujas demandas da realidade sanitária brasileira suscitam medidas urgentes na tentativa de reduzir os riscos e promover uma vida saudável, outros modos de compreender o estreito vínculo entre a produção do conhecimento e qualidade de vida, como o paradigma da Promoção da Saúde e da 32 Educação em Saúde, podem contribuir na busca da integralidade e da produção de cidadania e autonomia. A população brasileira vem construindo, ao longo dos anos, um extraordinário processo dialógico de teoria/prática, reflexão/ação. Esse processo se expressa na criação do SUS que vem aprofundando o debate em torno da saúde. O somatório de atitudes pró-ativas, baseada na cooperação e no respeito às singularidades, promovem mudanças na cultura organizacional cujo objetivo é a adoção de práticas horizontais de gestão com ênfase na organização do trabalho em equipe. A Promoção e Educação em Saúde, tem como finalidade a formação de sujeitos críticos e comprometidos com a saúde individual e coletiva. Para tal, é importante entender que para alcançarmos uma saúde de qualidade é preciso compartilhar, trocar, construir e disseminar o conhecimento, articulando e somando esforços em prol do bem viver. Para que o desenvolvimento no campo da Promoção da Saúde possa ser visualizado historicamente, proponho o seguinte esquema, por ordem cronológica, conforme Quadro 1. A seguir discorreremos sobre cada um destes eventos. ANO CONFERÊNCIA 1986 I Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde em Ottawa 1988 II Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde em Adelaide 1991 III Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde em Sundsvall 1992 Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde em Bogotá 1993 Primeira Conferência de Promoção da Saúde no Caribe, em Port of Spain 1997 IV Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde em Jacarta 1998 Rede de Mega Países para Promoção da Saúde, Suíça 2000 V Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde na cidade do México TEMA/OBJETIVO Promoção da Saúde nos Países Industrializados Promoção da Saúde e Políticas Públicas Saudáveis Promoção da Saúde e Ambientes Favoráveis à Saúde Promoção da Saúde na América Latina Elaborada, a pedido da 13ª Reunião dos Ministros responsáveis pela saúde da região. A Carta do Caribe para a Promoção da Saúde defendia a igualdade social e a atenção primária em saúde como fatores de bem-estar social. Promoção da Saúde no Século XXI Comunicação Nasceu do reconhecimento da necessidade e do potencial para possibilitar um maior impacto na saúde mundial, por meio da formação de uma aliança entre os países mais populosos. Promoção da Saúde: Rumo a Maior Equidade 33 ANO CONFERÊNCIA TEMA/OBJETIVO 2002 III Conferência Latino Americana de Visão Crítica da Promoção da Saúde e Promoção da Saúde e Educação para a Educação para Saúde: Situação Atual e Saúde, em São Paulo Perspectivas 2005 VI Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde num Mundo Promoção da Saúde em Bangkok Globalizado 2007 Conferência Internacional de Saúde De Alma-Ata à Declaração do Milênio para o Desenvolvimento, em Buenos Aires 2009 VII Conferência Mundial sobre Ação sobre os Determinantes Sociais Promoção da Saúde em Nairobi de Saúde para a Equidade (Quênia) Quadro 1 - A evolução das conferências de promoção da saúde Fonte: Elaborado pela pesquisadora (2012) Em decorrência das expectativas mundiais por uma saúde pública eficiente, a I Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde em Ottawa (1986) teve como tema a “Promoção da Saúde nos Países Industrializados”, focalizando em especial as necessidades dos países industrializados, e estendendo tal necessidade aos demais países. Mediante os progressos alcançados após a Declaração de Alma-Ata para a Atenção Primária à saúde, o documento da OMS “As Metas de Saúde para Todos” e o debate ocorrido na Assembléia Mundial da Saúde sobre as ações intersetoriais necessárias, foi elaborada a Carta de Ottawa, que estabelecia fatores de importância para o alcance de uma saúde para todos. Este momento é emblemático para a nova perspectiva da Promoção da Saúde e a Carta de Ottawa daí decorrente identifica cinco estratégias básicas, as quais continuam sendo referência são (BRASIL, 2002a): − Criação de políticas de saúde pública. − Criação de ambientes de suporte para a saúde. − Reforço da ação e participação comunitárias. − Desenvolvimento das capacidades individuais. − Reorientação dos serviços de saúde. Na sequência, a II Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde em Adelaide (1988) teve como tema central a “Promoção da Saúde e Políticas Públicas Saudáveis” (BRASIL, 2002a), ressaltando a importância das políticas voltadas para 34 a saúde e as principais alternativas mantiveram a direção já estabelecida nas Conferências de Alma-Ata e Ottawa. As estratégias para a ação em prol de políticas públicas voltadas para a saúde foram estabelecidas no documento denominado Declaração de Adelaide, cujas recomendações estabelecem uma nova direção para as políticas de saúde, pelo realce do envolvimento dos indivíduos, pela cooperação entre os diferentes setores da sociedade e os cuidados primários de saúde (e a sua criação). Identificou quatro áreas prioritárias: apoio à saúde da mulher; alimentação e nutrição; tabaco e álcool; criação de ambientes favoráveis. Três anos depois, a III Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde foi realizada em Sundsvall (1991), cujo tema era “Promoção da Saúde e Ambientes Favoráveis à Saúde” (BRASIL, 2002a), com a conclamação de todos os povos do globo para o engajamento na causa ecológica como fator de saúde, apontando para a situação de milhões de pessoas que vivem em extrema pobreza, em ambientes ameaçadores à saúde. Propõe a ação de diversos segmentos da sociedade para obtenção do desenvolvimento de ambientes físicos, sociais, econômicos e políticos mais favoráveis à saúde. A Conferência de Sundsvall (BRASIL, 2002a) aponta dois princípios para a implementação das estratégias da saúde para todos: − A equidade deve ser uma prioridade básica na criação de ambientes de suporte para a saúde. − Deve ser reconhecida a interdependência entre os seres humanos na ação pública para a criação de ambientes de suporte para a saúde. A Declaração de Sundsvall preconiza que o princípio da equidade deve nortear a criação de ambientes promotores de saúde (SÍCOLI; NASCIMENTO, 2003), e que todos tem um papel na criação de ambientes favoráveis e promotores da saúde. Engloba quatro aspectos importantes: a dimensão social; a dimensão política; a dimensão econômica e a necessidade de reconhecer e utilizar a capacidade e o conhecimento das mulheres em todos os setores, inclusive o político e o econômico. Em decorrência das discussões a nível mundial, em 1992 ocorre a Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde de Bogotá trazendo ao debate 35 o significado da “Promoção da Saúde na América Latina” (BRASIL, 2002a), para o qual foram apresentados compromissos e estratégias relacionadas com o sucesso da saúde da população da região. A referida Conferência discutiu a transformação da cultura e do setor saúde a fim de garantir acesso universal e estimulou o compromisso social para assumir a vontade política de fazer da saúde uma prioridade (WESTPHAL, 2006; HEIDMANN et al., 2006). No ano seguinte, em 1993, foi elaborada a Primeira Conferência de Promoção da Saúde no Caribe, em Port of Spain. A Carta do Caribe para a Promoção da Saúde, foi elaborada a pedido da 13ª Reunião dos Ministros responsáveis pela saúde da região. O documento, seguindo as metas das conferências anteriores, defende a igualdade social e a atenção primária em saúde como fatores de bemestar social. A Carta do Caribe (OPS, 1993) reforçou a importância da Promoção da Saúde, e apresentou seis estratégias fundamentais. − Elaboração de políticas públicas saúdáveis. − Reorientação dos serviços de saúde. − Empoderamento das comunidades para alcançar o bem-estar. − Criação de ambientes favoráveis à saúde. − Desenvolvimento/implementação de habilidades pessoais para a saúde. − Construção de alianças, principalmente com os meios de comunicação. Com o tema “Promoção da Saúde no Século XXI”, ocorreu em 1997 a IV Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde em Jacarta. A mesma destacase por ter sido a primeira a ter lugar em um país em desenvolvimento e a incluir o setor privado no apoio à promoção da saúde. Ofereceu uma reflexão sobre os determinantes da saúde, na identificação das direções e estratégias necessárias para enfrentar os desafios do século XXI, tendo originado a Declaração de Jacarta (BRASIL, 2002a). O referido documento identifica cinco prioridades: − Promoção da responsabilidade social da saúde. − Aumento dos investimentos para o desenvolvimento da saúde. − Consolidação e expansão das parcerias para a promoção da saúde. 36 − Aumento das capacidades comunitárias e do empowerment individual. − Assegurar infraestruturas para a promoção da saúde. Ainda nesta conferência é criada uma aliança mundial para a promoção da saúde que tem como meta promover as prioridades de ação para a promoção da saúde: − Aumento da sensibilização sobre os determinantes da saúde em constante mudança. − Apoio à criação de atividades de colaboração e de redes para o desenvolvimento sanitário. − Mobilização de recursos para a promoção da saúde. − Acumulação de conhecimentos sobre as melhores práticas. − Facilitação da aprendizagem partilhada. − Promoção da solidariedade em ação. − Promoção da transparência e da responsabilidade pública na prestação de contas na promoção da saúde. Em consonância ao movimento existente na época, no ano de 1998, em Genebra, Suiça, foi idealizada pela Organização Mundial da Saúde a Rede de Megapaíses para Promoção da Saúde em reconhecimento da necessidade da formação de uma aliança entre os países mais populosos na busca de soluções para a promoção da saúde (BRASIL, 2002a). Atualmente os megapaíses (Bangladesh, Brasil, China, Índia, Indonésia, Japão, México, Nigéria, Paquistão, Federação Russa e Estados Unidos da América) atingem 60% da população mundial. Tal diversidade de países engloba todos os níveis de desenvolvimento, o que implica diferentes estágios nos padrões de morbidade e de mortalidade. Tal realidade exige um trabalho conjunto, cuja representatividade os permita traçar os rumos para a aquisição de políticas de promoção à saúde. Para tal, a Rede de Megapaíses propõe como metas: melhorar a base de informações da promoção, desenvolvimento da saúde, aumento da intersetorialidade e parcerias para melhorar a distribuição dos recursos para a saúde. 37 Na virada do século, no ano 2000, acontece a V Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde na Cidade do México, com o tema “Promoção da Saúde: Rumo a Maior Equidade”. A mesma reconheceu a responsabilidade dos governantes nas políticas de saúde, assim como a necessidade do compartilhamento dessas estratégias entre todos os setores sociais (BRASIL, 2002a). O documento proposto, a Declaração do México, constatou uma melhora significativa do bem-estar social em muitos países do mundo, porém ressaltou a persistência de problemas que exigiam solução urgente e, para tanto, estabeleceu ações dirigidas à saúde, em especial à Saúde Pública. A Declaração reforça a importância das ações de promoção à saúde nos programas e políticas governamentais, no nível local, regional, nacional e internacional, bem como valoriza as ações intersetoriais para assegurar a implementação das ações de promoção e ampliar as parcerias na área da saúde. No entanto, verificou-se que persistiam ainda muitos problemas de saúde que prejudicavam o desenvolvimento econômico e social. Portanto, deveriam ser urgentemente resolvidos para promover uma situação mais equitativa em termos de saúde e bem estar. Foi constatada a urgência de se abordar os determinantes sociais, econômicos e ambientais da saúde e o fortalecimento de mecanismos de colaboração para a promoção da saúde em todos os níveis e setores da sociedade (WESTPHAL, 2006). Já no Brasil, em 2002, acontece em São Paulo a III Conferência Latino Americana de Promoção da Saúde e Educação para a Saúde. O tema da Conferência, "Visão Crítica da Promoção da Saúde e Educação para Saúde: Situação Atual e Perspectivas", teve como objetivo o estímulo e o desenvolvimento de estratégias de promoção da qualidade de vida e saúde e educação para a saúde na América Latina. Promoveu o debate sobre princípios, estratégias e compromissos orientados para a universalidade e a equidade no acesso aos direitos fundamentais e sociais da região. Voltando às Conferências Internacionais, em 2005 ocorre a VI Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde em Bangkok. O tema foi a “Promoção da Saúde num Mundo Globalizado”, com a elaboração da Carta de Bangkok, que buscou identificar as ações, os compromissos e as promessas necessárias para abordar os determinantes da saúde num mundo globalizado, através da promoção da saúde. 38 A Promoção da Saúde foi definida na Carta de Bankok como sendo “o processo que permite às pessoas aumentar o controle sobre sua saúde e seus determinantes, mobilizando-se (individualmente e coletivamente) para melhorar a sua saúde” (WHO, 2005). A Carta de Bangkok se dirigiu a todas as organizações responsáveis pela manutenção dos objetivos de saúde, e defendeu como requisito do desenvolvimento global as políticas e alianças capazes de capacitar as comunidades para a melhoria social, além de reafirmar os valores e estratégias da Carta de Ottawa. Em 2007, em Buenos Aires, Argentina, é realizada a Conferência Internacional de Saúde para o Desenvolvimento, promovida pelo Ministério de Saúde do país. Seu tema, “De Alma-Ata à Declaração do Milênio; Conferência Internacional de Saúde para o Desenvolvimento: Direitos, Fatos e Realidades”, buscou contribuir para a concretização dos “Objetivos de Desenvolvimento do Milênio” previstos para 2015, ressaltando a importância da força de trabalho em saúde. Os principais tópicos em discussão foram os “Cuidados primários e sistemas de saúde no atual contexto global”, os “Recursos humanos para o novo milênio” e a “Equidade na saúde e financiamento”. Referenda o evento – vide internet. Mais recentemente, em 2009, em Nairobi/Quênia, houve a VII Conferência Mundial sobre Promoção da Saúde. O tema “Ação sobre os Determinantes Sociais de Saúde para a Equidade” foi amplamente discutido, sendo reforçado os benefícios da Promoção da Saúde quando utilizada corretamente. A VII Conferência trouxe como temas centrais: o empoderamento comunitário e dos indivíduos, o fortalecimento dos processos participativos e o fortalecimento das lideranças e das forças de trabalho. A partir do debate em torno dos temas, buscou-se reafirmar os valores, princípios e estratégias de ações para a Promoção da Saúde no intuito de reduzir as iniquidades em saúde e a pobreza e promover saúde e qualidade de vida (WHO, 2010). O ex-presidente da Comissão dos Determinantes da Saúde, o Professor Michael Marmout, destacou em seu discurso os aspectos chaves para que se alcance uma Promoção da Saúde de qualidade: − Justiça Social. − Maior poder às comunidades, no domínio social, psicológico e político. 39 − Criação de condições que permitam às pessoas um maior controle sobre suas próprias vidas. Declarou que os países de baixa renda foram afetados pela crise financeira internacional e que em muitos países o problema está na má distribuição de renda e na forma como esta é utilizada e não propriamente a falta de dinheiro. A presente Conferência contou com a participação de mais de 500 delegados provenientes de 102 países e culminou com uma Declaração para a Ação. A Promoção da Saúde se estabelece dentro de uma proposta holística, incorporando a integralidade e a complexa relação sujeito-ambiente, contemplando em seus projetos, questões éticas, valores, situações concretas, engajamento ativo e a construção dinâmica do conhecimento. A noção de correlação entre as comunidades, os profissionais e os espaços institucionais nos remete a um trabalho educativo em rede onde o emprego das metodologias participativas visam a interação e a mobilização social (POLONIA; ALVES, 2003) e um sujeito ativo em relação à sua saúde. Neste sentido a Educação em Saúde como estratégia para promover a saúde deve ter o mesmo embasamento, de fomentar nos sujeitos que a saúde é um direito e é produzida socialmente. Para se obter uma prática educativa emancipatória é preciso compreender como foi historicamente pensada e praticada, para chegar-se atualmente ao que se propõe que seja um educar para a emancipação. 2.4 Breve retrospectiva histórica das ações educativas no campo da saúde Desde a Europa Medieval, acreditava-se na importância da educação em saúde. Na época, para obter boa saúde e viver mais, era preciso uma alimentação correta, práticas adequadas de higiene e horas prolongadas de sono. Já no século XVIII, sob a luz das ideias de John Locke, houve uma intensa divulgação de conhecimentos científicos, por meio de publicações em livros e periódicos, referentes a questões de higiene e saúde. Porém este conhecimento ficou restrito as classes dominantes (ROSEN, 1994). Pode-se dizer que não só naquela época, mas também nos dias atuais, a pura e simples divulgação de informações ainda é vista 40 como suficiente para provocar mudanças no comportamento da população. O que não só não é verdade, como é igualmente perigoso. Após uma série de investigações realizadas na Europa, a Teoria Microbiana das Doenças, que sustenta que os microorganismos são a causa de inúmeras doenças, foi confirmada no final do século XIX (ROSEN, 1994). A concepção biológica da doença foi marcada por uma educação controladora, baseada na teoria tradicional liderada por Durkheim, hoje considerado um dos pais da Sociologia moderna. Sua teoria explicava de uma forma simplista o surgimento das doenças condicionando-as à “ignorância e descaso das pessoas”. O ensino higienista, desde o início do século XIX, já fazia parte do curriculum de formação médica exercendo influencias na área de educação em saúde. No Brasil, até o início do século XX as preocupações do setor saúde estavam focadas apenas nas situações de epidemia e, no campo da educação, limitava-se ao ensino de hábitos de higiene. A visão positivista subjacente era de que a educação poderia corrigir através da higiene a ignorância do indivíduo que comprometia a sua saúde, e de que a saúde individual era a base da estabilidade e segurança da nação. Em virtude disso, o nascimento da Educação em Saúde no Brasil é marcado por discursos e práticas normalizadoras. O controle sobre a doença e o exclusivo poder da cura estava nas práticas dos profissionais, “rotulando as eventuais resistências e os saberes alternativos de cegueira política, ignorância do povo, má-fé dos charlatães” (ALVES, 2005 apud COSTA, 1987, p. 44). O primeiro movimento sistemático de Educação em Saúde no Brasil ocorreu durante o governo de Rodrigues Alves, em 1904, liderado por Oswaldo Cruz. Nessa época, o poder exercido pela polícia sanitária no Rio de Janeiro, através de práticas coercitivas de Educação em Saúde no controle das enfermidades, vacinação compulsória, vigilância sobre o comportamento da população pobre, influenciou na arquitetônica das cidades e dos portos. Vasconcelos (2001) denominou essas práticas de Educação Higienista. Movimentos de resistência e expressão de descontentamento como a Revolta da Vacina (1906) e as greves ocorreram em virtude do aumento populacional de imigrantes europeus avessos às ideologias e práticas de dominação (VASCONCELOS, 2001). Surge em 1923, através da Lei Elói Chaves, um novo modelo de regulamento sanitário, de assistência médica, chamado “Caixas de Aposentadorias e Pensões” 41 para trabalhadores das ferrovias. Nesse momento, o movimento higienista amplia seus horizontes, seu poder de atuação e interfere na educação da população através de medidas de divulgação de higiene pessoal e pública, inspeções médicas de imigrantes, além do confinamento de leprosos e tuberculosos. Neste mesmo período surge o que Vasconcelos (2001) chama de Educação Sanitária. A educação com abordagem preventiva, presente na Educação Sanitária, tinha como objetivo principal o indivíduo com comportamento saudável, e o educador propunha a indução de uma mudança de hábitos que promovesse a saúde e evitasse as doenças (ALVES, 2005). A Educação Sanitária se definiu como uma Especialidade da medicina preventiva, devido aos educadores sanitários utilizar como base filosófica a medicina cujos: [...] problemas são definidos sob o ponto de vista médico e os diagnósticos proporcionam o ponto de partida. As atividades de educação sanitária são afins a esse padrão de problemas medicamente definidos que freqüentemente terminam em programas ou campanhas fragmentadas e focalizadas em um problema apenas (STOTZ, 1993, p. 18). Segundo Stotz (1993), a educação com abordagem preventiva, que ocorreu a partir da década de 20, possuía como objetivo principal o indivíduo com comportamento saudável. O sujeito desta ação era o educador através de comportamentos persuasivos sobre os riscos de doenças. As estratégias de prevenção de doenças ocorriam pelo desenvolvimento de comportamentos saudáveis, ou seja, adequados, propondo a extinção ou a mudança de comportamento individual para a eficácia do processo. Segundo Vasconcelos (2001), o sujeito ainda possuía papel inativo no processo educativo sendo culpabilizado individualmente pelas doenças que o acometiam. Esta culpabilização era escamoteada pelo modelo biologicista na sua determinação. A Educação em Saúde, dentro da perspectiva sanitária, teve o sujeito como um depositário de conhecimentos, partindo do pressuposto de que o profissional era o detentor de todo o saber para a saúde e que o sujeito não tinha conhecimento suficiente, isto é, científico sobre as doenças e as corretas medidas de prevenção, culpabilizando-o caso viesse a adoecer, pois apontava que realmente não tinha 42 modificado seus comportamentos perante as prevenções ditadas por um “educador” (VASCONCELOS, 1997). Segundo Freire (2005), este modo de educação se chamou de bancária, na qual não havia diálogo, e sim o opressor ditando regras sobre o oprimido. Essa ideologia permeou fortemente a Educação em Saúde até meados de 1940, quando outras formas de participação social começaram a surgir no Brasil, iniciando com os movimentos operários da Era Vargas (VASCONCELOS, 2003). Como consequência do pós-guerra, o Brasil passou a programar projetos de apoio internacional – com influência norte-americana – principalmente nos serviços de saúde brasileiro. Também vale registrar que foi devido aos interesses na exploração de borracha e minérios na região amazônica que os EUA instalaram a Fundação do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), com o objetivo de controlar as grandes endemias da região através da educação sanitária com técnicas mais modernas, ainda que impositivas, com os grupos, como a utilização de recursos audiovisuais, participação e lideranças comunitárias (VASCONCELOS, 2001; WENDHAUSEN; SAUPE, 2003). Nesse momento, ainda se destinou ao sujeito a responsabilidade pelo processo saúde/doença, não sendo considerados como determinantes os fatores culturais, subjetivos, valores e costumes. Na década de 50, houve a necessidade de modernização da agricultura e da educação do homem rural, pois a exploração rural exigia a participação do trabalhador na incorporação de tecnologias. Nesse momento histórico se deu início à alfabetização de adultos no Brasil, com a proposta dos Círculos de Cultura de Paulo Freire, que abrangiam educação e mudança político-social (VASCONCELOS, 2001). Essa forma de educação diferenciava-se pela oportunidade dada ao educando de manifestar-se e ser valorizado, apontando que é possível construir saberes a partir do diálogo. Nessa década e no início da seguinte, o cenário político brasileiro foi turbulento. Os movimentos sociais ganharam espaço. Começou a alterar-se a percepção do processo saúde/doença, considerado pela multidimensionalidade e relacionando-o aos aspectos sociais (WENDHAUSEN; SAUPE, 2003). Na década de 60, o fato marcante foi o surgimento da perspectiva da Medicina Comunitária, em que foi possível perceber um apelo à participação da comunidade para a solução dos problemas de saúde existentes. Entretanto, como afirma Alves (2005), por trás desse apelo de participação comunitária pareceu 43 camuflar-se o mesmo discurso da culpabilidade dos sujeitos, com a ressalva desta passar da individualidade para a coletividade. As práticas de Educação em Saúde comunitárias continuavam semelhantes à visão anterior e partiam, então, do pressuposto de que as comunidades seriam as responsáveis pela solução de seus problemas de saúde, devendo, para isto, serem conscientizadas (ALVES, 2005). Segundo Vasconcelos (2001), houve um encontro entre as vertentes no campo da saúde e da Educação em Saúde, pois a visão de sujeito social era menos determinada pelas circunstâncias. Ainda não prevalecia o questionamento do direito de ter saúde, mas se começou a relacionar doença com as condições de vida e com a participação nas manifestações de encaminhamentos dos problemas, considerando que a própria educação poderia resolver. Entretanto, na década de 60, durante o regime militar (1964), o campo da Educação em Saúde permaneceu sem se expressar publicamente, devido à limitação dos espaços institucionais para sua realização. Constatou-se a expansão dos serviços médicos privados e da medicina curativa em detrimento dos serviços de atenção preventiva. Este modelo assistencial de cunho curativo, hospitalocêntrico, fragmentado e de baixa resolubilidade não favorecia a Promoção à Saúde ou a atenção primária, que contava com a participação popular. Smeke e Oliveira (2001) afirmam que durante esse tempo a Educação em Saúde se referiu ao controle sobre os sujeitos. Em contraponto, ao padrão de imposição de normas e comportamentos considerados adequados pela educação, na época do regime militar despertou-se uma resistência e aumentou a insatisfação da população, que acelerou, ao longo da década de 1970, a organização de movimentos sociais. Esses reuniram intelectuais e populares visando à ampliação de conceitos sobre o processo saúde/doença e o papel do educador e da Educação em Saúde, pois a falência na saúde se expressava pelas condições de vida, refletindo nos altos índices de mortalidade infantil, acidentes de trabalho, epidemias como a meningite e a crise previdenciária (VASCONCELOS, 2001; VALLA; STOTZ, 1993; ALVES, 2005). O modelo hegemônico vigente nesse período preconiza a persuasão sobre o indivíduo que deveria adotar comportamentos mais saudáveis mediante a divulgação por meios de comunicação de massa, TV, folhetos, cartazes e jornais, responsabilizando o sujeito pelos seus comportamentos. O que fica nítido é o esquecimento de que o sujeito possui subjetividade e que as soluções dos 44 problemas de saúde requerem ações socialmente sustentadas pelos aspectos culturais, políticos e econômicos da sociedade em que esse mesmo indivíduo está inserido (STOTZ, 1993). A medicina curativa é praticada nos consultórios particulares, nos hospitais e nos grandes ambulatórios da Previdência Social. A medicina preventiva e a Educação em Saúde são realizadas por órgãos ou pessoas isoladas sem maiores recursos (VASCONCELOS, 1997). Dentre os movimentos que se apresentaram no início na década de 70 que procuraram rescindir com a tradição autoritária e normalizadora da relação entre os serviços de saúde e a população se destaca o movimento da Educação Popular em Saúde (VASCONCELOS, 2001). Este movimento foi precipitado pela insatisfação de alguns profissionais de saúde com os serviços oficiais, dirigindo-se para as periferias dos grandes centros urbanos e regiões rurais, aproximando, assim, as classes populares dos movimentos sociais locais. Através de um realinhamento ideológico apresentava uma postura contra-hegemônica na Educação em Saúde. Este Movimento surgiu a partir de experiências de serviços comunitários, desvinculados do Estado, transformando-se em movimentos sociais que lutavam pela Reforma Sanitária. A iniciativa dos profissionais em inserir-se em serviços de saúde que prestavam assistência às classes populares se deu integrada a projetos mais amplos, dentre os quais predominava a metodologia da Educação Popular (VASCONCELOS, 2001). Dessa forma, esta metodologia foi assimilada pelo movimento dos profissionais, compondo seu elemento estruturante essencial. Nesse período, pós-regime militar, na faculdade de Saúde Pública da Universidade do Estado de São Paulo (USP) se fez um grande investimento ao redirecionar a profissionalização do educador de saúde pública. Sua compreensão englobaria o processo saúde/doença na sua multicausalidade social, econômica, cultural, e despertando a visão crítica na identificação dos obstáculos ao desenvolvimento da população e o surgimento de propostas e medidas educativas corretas. Esta visão de ensino despertaria nos alunos, futuros educadores, o desenvolvimento do caráter crítico, participativo e politizador. As práticas dessa Educação em Saúde proporcionavam flexibilização e ampliação, distanciando-se das ações impositivas da educação higienista. Nesse momento, tratou-se de reavaliações e reorientações aos avanços para uma participação social e política efetiva (VASCONCELOS, 2001). 45 A partir das teorias e práticas referenciadas e desenvolvidas na Educação Popular e na saúde constituiu-se o Movimento Sanitário, com idealizações contrárias e incompatíveis às medidas autoritárias. Nesse momento, manifestou-se a preocupação com a autonomia do sujeito. Sujeito este que é social, competente, responsável por transformações sociopolíticas voltadas na busca de seus interesses (VASCONCELOS, 2001). Alterou-se aos poucos a concepção saúde/doença, saindo do modelo tradicional biologicista que preconizava a prevenção das doenças pela mudança de atitudes e comportamentos individuais, incluindo informações verticalizadas para manter a saúde e a intervenção curativa em caso de doença, para ser resultante da inter-relação causal entre fatores sociais, econômicos, culturais e a consideração dos determinantes psicossociais dos comportamentos de saúde (ALVES, 2005). A Educação em Saúde, baseada na determinação social do processo saúde/doença, considerou a luta política para a melhoria de condições de vida e saúde. O discurso do educador mudou, pois mediante a persuasão política deveria envolver os usuários em momentos reivindicatórios, tendo, também, o objetivo de desenvolver uma consciência sanitária sobre os limites e possibilidades de sua ação como sujeitos capazes de promover mudanças políticas, econômicas e sociais. Nesses movimentos sociais e de reavaliação dos conceitos, a Educação em Saúde passou a ter novo foco, no qual profissionais e população compartilhavam saberes e buscavam a melhoria da qualidade de vida das pessoas (WENDHAUSEN; SAUPE, 2003). A proposta de práticas educativas referentes às necessidades dos usuários se inseriu no discurso emergente de Educação em Saúde – o modelo dialógico. Em oposição ao modelo tradicional, trabalhou-se com a perspectiva de sujeitos das práticas de saúde (AYRES, 2001). A partir de 1980, as conquistas da democracia política começaram a acontecer com o movimento pela Reforma Sanitária, que ganhou importância e ênfase na Constituição de 1988, na construção do SUS, entre outras lutas mais globais nas políticas sociais. Também a Participação Social ganhou espaço como princípio do SUS, a criação de Conselhos de Saúde e Conferências de Saúde e na ampliação da representação popular nas três esferas do governo; municipal, estadual, federal (WENDHAUSEN; SAUPE, 2003). Vale ressaltar que a concepção de saúde e a Educação em Saúde estavam na efervescência de debates e construções não só no âmbito nacional, mas também 46 internacional. Em 1978, a Conferência Mundial de Saúde-Alma Ata resultou no acordo da meta Saúde Para Todos no ano 2000 e, em 1986, com a I Conferência Mundial da Promoção à Saúde- Ottawa/Canadá se enfatizou novamente a assistência primária e a Promoção da Saúde (WENDHAUSEN; SAUPE, 2003). Nessa perspectiva, a Educação em Saúde é uma estratégia para se fazer a Promoção da Saúde de modo dialógico com a população, participativo e, por fim, emancipatório, valorizando sua autonomia e co-responsabilidade pelo processo saúde/doença. A Educação em Saúde adquiriu novas características, após muitas discussões nacionais e internacionais, como: a relação com o usuário; a comunicação horizontal entre profissional e população; privilegiamento do diálogo e os saberes diferentes; o respeito ao outro e sua alteridade concepção mais de saúde e a acentuação de recursos de pessoas e a participação e empoderamento do usuário e coletivo (WENDHAUSEN; SAUPE, 2003). Para Briceño-Léon (1996) há dois princípios básicos na orientação das ações de saúde: é necessário conhecer o ser humano, pois só conhecendo o sujeito e suas circunstâncias se tornam possível uma ação eficiente e permanente. Devem-se compreender suas crenças, hábitos, papéis, e as circunstâncias, condições objetivas em que vivem; e contar com ele, pois é preciso envolver os indivíduos nas ações, o que se contrapõe à sua imposição. O autor afirma que apenas com a participação comunitária é possível assegurar sustentabilidade e efetividade das ações de saúde. Dentre os modelos de Educação em Saúde, o modelo dialógico conforma-se à proposta da integralidade, uma vez que favorece o reconhecimento dos usuários enquanto sujeitos portadores de saberes sobre o processo saúde-doença-cuidado e de condições concretas de vida. Nesse aspecto, este modelo contribui para uma apreensão mais compreensiva das necessidades de saúde dos sujeitos e na humanização da ação educativa, tornando-as mais sensíveis a seus destinatários (BRICEÑO-LÉON, 1996). Este autor sugere sete teses para uma educação e participação em saúde: − Tese I: A educação não é só o que acontece nos programas educacionais, mas em toda a ação sanitária. Nesta tese, o autor ressalta a importância de estudar as formas de aplicação das políticas públicas em geral, ver o tipo de mensagem e qual o tipo de ação educativa que ali se desenvolve. Outro 47 fator importante é preparar “toda” a equipe envolvida nas campanhas para o ponto de vista educacional. − Tese II: A ignorância não é um vazio a ser preenchido, mas um cheio a ser transformado. Esta tese afirma que o objetivo da educação não é preencher o vazio da ignorância, mas transformar os cheios cognitivos e comportamentais que o sujeito possui previamente. Para isso, é muito importante conhecer os saberes e as práticas da população, identificar de forma clara o que vai ser trabalhado, tentar transformar os conceitos, os hábitos de forma crítica, porém respeitosa e solidariamente. − Tese III: Não há um que sabe e outro que não sabe, mas dois que sabem coisas distintas. Isto quer dizer que a educação é um processo bidirecional, já que os dois sabem, os dois devem dizer algo, assim, ambos geram um acordo de transformação de seus próprios saberes. Mas se alguém não quer fazer algo pela sua própria saúde, obviamente o outro não pode fazêlo. − Tese IV: A educação deve ser dialogada e participativa. Um processo de diálogo é participativo e a educação deve ser participativa em si mesma. Esse processo envolve confrontação de perspectivas e prioridades. O que deve acontecer é tentar confrontar os saberes sem dominação e sem submissão. − Tese V: A instrução deve reforçar a confiança das pessoas em si mesmas. A confiança é um fator fundamental no sucesso de uma ação. As crenças e expectativas sempre surgem de um aprendizado social, ou seja, da ação e das mensagens verbais dos outros sujeitos. − Tese VI: A educação deve procurar reforçar o modelo de conhecimento tipo esforço-recompensa: a ação educativa estará junto com as realizações que se consigam através de esforços. As realizações obtidas a partir de metas que o indivíduo possa cumprir, objetivos que signifiquem um estímulo à inteligência. Se o sujeito trabalha, participa e obtém realizações, reforça-se, assim, a ideia conectiva do esforço e realização. − Tese VII: A educação deve fomentar a responsabilidade individual e a cooperação coletiva. Uma boa política de estímulo à participação deve fomentar o interesse e o compromisso de cada indivíduo com as metas de 48 saúde. A educação deve enfatizar o sujeito e sua responsabilidade individual, ressaltar a relação que existe entre o que ele faz e o que pode obter para seu próprio benefício e, concomitantemente, desenvolver os mecanismos de cooperação e de construção da solidariedade que tornem possível a ação coletiva. Como vimos anteriormente, o modelo tradicional de educação, mais conhecido como “Educação Bancária” caracteriza-se como um modelo depositário, cuja marca é a unidirecionalidade e a verticalidade da relação educador-educando. Os homens eram vistos como seres de adaptação, do ajustamento. Um dos objetivos fundamentais da concepção bancária é dificultar, em tudo, o pensar autêntico, inibindo o poder de criar, de atuar. Indoutrinar os educandos no sentido de sua acomodação ao mundo da opressão, ou seja, transformar a mentalidade dos oprimidos e não a situação que os oprime. Portanto, ela nega a dialogicidade como essência da educação e se faz antidialógica (FREIRE, 2005). Em 2007 o Ministério da Saúde propõe, através dos Cadernos de Educação Popular em Saúde que se faça uma educação baseada nos preceitos de Paulo Freire, ou seja, uma educação capaz de transformar as tradicionais práticas de Educação em Saúde em práticas pedagógicas que levem à superação das situações que limitam o viver com o máximo de qualidade de vida que todos merecemos (BRASIL, 2007). Assim, a Educação em Saúde que proponho, como diz Campos et al. (2004), faz parte do processo de fortalecimento da participação comunitária politizada, recomendado pelas políticas de saúde, aspirando à gestão participativa das políticas públicas. Sendo assim, o processo de fortalecimento da co-responsabilização na produção da saúde se dá pelo estabelecimento de parcerias intersetoriais, interinstitucionais e com entidades não-governamentais e da sociedade civil. Briceño-Léon (1996, p. 12), inspirado nos critérios de Paulo Freire, lembra que, a dinâmica de educação para saúde, não tem um alguém que sabe e outro que não sabe, mas dois que sabem coisas diferentes; daí a afirmação de que “a ignorância não é um buraco a ser preenchido, mas um ‘cheio’ a ser transformado”. A Concepção problematizadora e libertadora vê no educador um humanista revolucionário, cuja ação deve estar infundida da profunda crença nos homens e no seu poder criador a serviço da libertação. A libertação autêntica é práxis que implica 49 a ação e a reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo. A educação libertadora e problematizadora é um ato cognoscente, que afirma a dialogicidade e se faz dialógica (FREIRE, 2005). A mudança de perspectiva no pensar e fazer no campo da Educação Popular em Saúde nos convida a (re) pensar propostas de ações que atendam aos interesses e necessidades da comunidade. Para tanto, a criação destas propostas deve emergir de uma prática dialógica, que contemple a autoconsciência como prática político-pedagógica, valorizando a pluralidade de saberes e rompendo os espaços formais na busca da aproximação entre os diferentes saberes e as diversas culturas. Vasconcelos (1999) entende o educador como um mediador entre os saberes acadêmicos e a construção local do conhecimento necessário à dinamização da assistência à saúde. Sendo assim, a educação em saúde passa a ser um instrumento de construção da participação popular. Nesse sentido, a Educação Popular em Saúde é também um instrumento de Promoção da Saúde. Como confirma Oliveira (2008, p. 101) [...] enquanto as atividades de Educação em Saúde apenas tiverem a finalidade de depositar conhecimento sobre riscos, normas, causas e efeitos, dificilmente conseguirão mobilizar e motivar as pessoas a terem atitudes e comportamentos saudáveis. Isso porque, mais uma vez o modelo tradicional será fortalecido, em detrimento do modelo alternativo, estando com isso, possivelmente fadadas ao fracasso da mobilização das pessoas para a transformação do modelo assistencial, bem como, da sua participação e responsabilização na promoção da saúde. Por outro lado, deve-se levar em conta que o SUS é construído em seu cotidiano por profissionais que têm por atribuição serem agentes de mudança, mas, no entanto, foram e em grande parte ainda são, formados no modelo tradicional. A falta de formação para consolidar na prática o avanço da legislação evidencia a lacuna existente entre o discurso de mudança e a prática que se efetiva nos serviços (ARIOLI, 2012). A proposta de educação problematizadora pode ser entendida como um movimento em espiral, em alguns momentos eles se cruzam e em outros eles podem se distanciar (ALVIN; FERREIRA, 2007). O método Paulo Freire, aplicado à saúde, através da educação problematizadora não provoca modificações 50 significativas de imediato. A mudança só é percebida quando o educando der sinais de transformação ao longo de contínuos processos de intermediação e construção de novos saberes. A Educação Popular tem como pressuposto a disponibilidade e a abertura para ouvir o outro, num encontro onde “quem educa é dialeticamente educado”. Assim, imbuída desta proposta da Educação Popular em Saúde como parte da Promoção da Saúde, proponho a discussão de suas práticas com Agentes Comunitários de Saúde através do pensamento de Paulo Freire, considerando-os como parte fundamental para a consecução das duas em seu cotidiano. 51 3 METODOLOGIA O presente estudo teve a intenção de descrever a vivência e a troca de experiências entre a pesquisadora e os Agentes Comunitários de Saúde, de uma UBS no município de Itajaí/SC, através da Educação Popular em Saúde que tem como alicerce a problematização de Paulo Freire. Tratou-se, portanto, de uma pesquisa qualitativa inspirada na pesquisa participante o que possibilitou a interpretação dos fenômenos observáveis, mediante a descrição e compreensão dos seus significados. O conceito de participação dentro da Pesquisa Participante não é unívoco no sentido de que pode ser concebido tanto com relação aos pesquisadores, quanto com relação à população pesquisada, ou envolvida no processo (HAGUETTE, 1987). A autora define participação como sendo “uma ação reflexionada em um processo orgânico de mudança, cujos protagonistas são os pesquisadores e a população interessada na mudança” (HAGUETTE, 1987, p. 141143). Na pesquisa qualitativa, a interação entre o pesquisador e os atores sociais envolvidos no trabalho é de suma importância. Nesse processo de interagir, partindo de planos desiguais, ambas as partes buscam uma compreensão mútua. O pesquisador tem como principal objetivo não ser considerado um “igual”, mas ser aceito na convivência (MINAYO et al., 1994). A interação entre o pesquisador e os atores sociais estudados, foi parte fundamental da investigação qualitativa, em que nada substituiu o olhar atento do pesquisador de campo à realidade das relações sociais. Neste capítulo apresento os aspectos metodológicos que nortearam a pesquisa. Inicio com uma síntese biográfica do educador e pensador Paulo Freire e o seu referencial metodológico utilizado para a coleta e análise dos dados. Na sequência discorro sobre o local da investigação, os sujeitos pesquisados, procedimentos de coleta e análise de dados e aspectos éticos. 52 3.1 Paulo Freire: uma síntese biográfica e suas idéias Devido à sua importância literária e reconhecimento internacional de sua práxis educativa, não poderia deixar de mencionar uma pequena biografia deste estudioso, ativista social e trabalhador cultural chamado Paulo Freire. As informações desta biografia foram retiradas do Instituto Paulo Freire (FREIRE, 2012). Paulo Reglus Neves Freire nasceu no dia 19 de setembro de 1921 em Recife, no nordeste do Brasil, uma das regiões mais pobres do país, onde logo cedo pôde experimentar as dificuldades de sobrevivência das classes populares. Trabalhou inicialmente no Colégio Oswaldo Cruz como professor de Língua Portuguesa e diretor do Setor de Educação e Cultura do Serviço Social da Indústria – SESI, onde posteriormente foi superintendente. Paulo Freire foi quase tudo o que deve ser um educador, de professor de escola à criador de ideias e “métodos”. Sua filosofia educacional expressou-se primeiramente em 1958 na sua tese de concurso para a Universidade do Recife, e, mais tarde, como professor de História e Filosofia da Educação daquela Universidade, bem como em suas primeiras experiências de alfabetização como a de Angicos, Rio Grande do Norte, em 1963. A coragem de pôr em prática um autêntico trabalho de educação que identifica a alfabetização com um processo de conscientização, capacitando o oprimido tanto para a aquisição dos instrumentos de leitura e escrita quanto para a sua libertação fez dele um dos primeiros brasileiros a serem exilados. Em 1969, trabalhou como professor na Universidade de Harvard, em estreita colaboração com numerosos grupos engajados em novas experiências educacionais tanto em zonas rurais quanto urbanas. Durante os dez anos seguintes, foi Consultor Especial do departamento de Educação do Conselho Mundial das Igrejas, em Genebra (Suíça). Nesse período, deu consultoria educacional junto a vários governos do Terceiro Mundo, principalmente na África. Em 1980, depois de 16 anos de exílio, retornou ao Brasil para “reaprender” seu país. Lecionou na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Em 1989, tornou-se Secretário de Educação no município de São Paulo, onde durante o seu mandato, fez um grande esforço na implementação de movimentos de 53 alfabetização, de revisão curricular e empenhou-se na recuperação salarial dos professores. A metodologia por ele desenvolvida foi muito utilizada no Brasil em campanhas de alfabetização e, por isso, ele foi acusado de subverter a ordem instituída, sendo preso após o Golpe Militar de 1964. Depois de 72 dias de reclusão, foi convencido a deixar o país. Exilou-se primeiro no Chile, onde, encontrando um clima social e político favorável ao desenvolvimento de suas teses. Durante cinco anos desenvolveu trabalhos em programas de educação de adultos no Instituto Chileno para a Reforma Agrária (ICIRA). Neste período Paulo Freire escreveu a sua principal obra: Pedagogia do Oprimido. O senso de humor esteve sempre presente na vida e obra deste pensador e a não menos constante indignação contra todo tipo de injustiça. Casou-se, em 1944, com a professora primária Elza Maia Costa Oliveira, com quem teve cinco filhos. Após a morte de sua primeira esposa, casou-se com Ana Maria Araújo Freire, uma ex-aluna. Entre as muitas obras que Paulo Freire escreveu temos: Educação: prática da liberdade (1967), Pedagogia do oprimido (1968), Cartas à Guiné-Bissau (1975), Pedagogia da esperança (1992) e À sombra desta mangueira (1995). Sua prática educativa lhe rendeu reconhecimento mundial através de numerosas homenagens. Além de ter seu nome adotado por muitas instituições, é cidadão honorário de várias cidades no Brasil e no exterior. A Paulo Freire foi outorgado o título de doutor Honoris Causa por 27 universidades. Por seus trabalhos na área educacional recebeu entre outros, os seguintes prêmios: “Prêmio Rei Balduíno para o Desenvolvimento” (Bélgica, 1980); “Prêmio UNESCO da Educação para a Paz” (1986) e “Prêmio Andrés Bello” da Organização dos Estados Americanos, como Educador do Continente (1992). No dia 10 de abril de 1997, lançou seu último livro, intitulado “Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa”. Paulo Freire faleceu no dia 2 de maio de 1997 em São Paulo, vítima de um infarto agudo do miocárdio. Sua elaboração pedagógica teve como ponto de partida o estudo da linguagem do povo, tendo desenvolvido mais do que uma prática de alfabetização, uma pedagogia crítico libertadora. A educação como prática da liberdade dá-se através da relação dialógica. A educação problematizadora, cuidadosamente pensada e elaborada por Freire, trata de uma pergunta que requer diretividade. É a 54 partir do questionamento, da provocação, do fazer pensar que se constrói o novo. A apresentação de uma proposta que centraliza a dimensão do conhecimento, o sentimento de aceitação do outro, a interação e a subjetividade é um verdadeiro exercício de cidadania. É nessa proposta de dialogicidade que o ato de conhecimento tem como pressuposto fundamental a cultura do educando, compreendida como ponto de partida no seu processo de ler e entender o mundo percebendo-se como sujeito histórico. Sua proposta político pedagógica considera educador e educando como sujeitos do processo de construção do conhecimento. Nesse sentido, pretende despertar a consciência das pessoas para reinventar uma sociedade mais justa e igualitária, rompendo com a relação cristalizadora de dominação, com a verticalidade do mando, com a exclusão social e a interdição da leitura do mundo àqueles menos favorecidos. A educação libertadora de Paulo Freire é um instrumento de transformação do homem e da sociedade no mundo, com o mundo e para o mundo. Sua contribuição intelectual apresentou uma síntese inovadora das mais importantes correntes do pensamento filosófico de sua época (o existencialismo, a fenomenologia e o marxismo – sem conotação ortodoxa). O método de alfabetização criado por Paulo Freire nasceu no interior do Movimento de Cultura Popular (MCP) do Recife, no final da década de 50. O então chamado Círculo de Cultura viabiliza, através do diálogo, que seus participantes respondam às provocações feitas pelo coordenador/pesquisador sobre o objeto de estudo e a representação da realidade a ser decodificada. As perguntas mais frequentemente utilizadas no Círculo de Cultura são: Quê? Por quê? Como? Para quê? Por quem? Para quem? Contra quê? Contra quem? A favor de quem? A favor de quê? Essa dialogicidade aprofunda a leitura de mundo dos participantes, viabiliza um olhar crítico e diferenciado a cerca da realidade de forma a suscitar em seus partícipes um sentimento de comprometimento com vista à transformação desta realidade. 3.2 Local da investigação O município de Itajaí localiza-se no Litoral Centro-Norte Catarinense nos paralelos 26º 54’ de latitude Sul e 48º 39’ de longitude Oeste, junto a foz do rio Itajaí- 55 Açú, com uma área de 303,6 km2, e uma população de 183.388 habitantes (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010). Encontra-se distante 91 km da capital Florianópolis ao Sul e a 84 km da cidade mais populosa do estado, Joinville, ao Norte. Itajaí foi criada pela Lei nº 164, de 04/04/1859, mas sua instalação somente se deu em 15 de Junho de 1860. A comarca de Itajaí foi criada pela lei nº 603 de 13/04/1968. Em 01/05/1876, a Vila do Santíssimo Sacramento de Itajaí foi transformada em cidade. O município concilia o ar sossegado ao ritmo cosmopolita das atividades portuárias, petrolífera, comercial e universitária, sendo considerado o maior centro pesqueiro e principal exportador de produtos congelados do Brasil. Imigrantes açorianos e alemães moldaram a cidade-porto, tendo deixado sua influência nos costumes, sotaques, na carpintaria naval, na culinária, no casario histórico e no cotidiano da vida dos Itajaienses. Já o comércio, a prestação de serviços, o turismo e as indústrias fazem com que Itajaí se destaque como uma das cidades com as mais variadas fontes de renda. Itajaí possui o 2º maior PIB (Produto Interno Bruto) do Estado e proporciona uma alta qualidade de vida a seus moradores. Itajaí possui belezas naturais como: a Praia do Atalaia, Praia de Cabeçudas, Praia de Jeremias e Praia Brava. Oferece uma diversificada gastronomia que pode ser apreciada na Marejada – Festa Portuguesa e do Pescado e Festa do Colono. Conta também com o Festival de Música Cidade de Itajaí, Porto, Píer Turístico, Parques Aquáticos, praças e a beleza singular do voo da garça sobre o Saco da Fazenda. O município conta com o quantitativo de 36 postos de atendimento ambulatorial e médico, distribuídos pelas regiões administrativas da cidade e ainda dispõe de 291 ACS dispostos em 33 equipes de Estratégia Saúde da Família e 4 equipes de Estratégia Agentes Comunitários de Saúde. O local selecionado para a realização do trabalho de campo é uma Unidade Básica de Saúde (UBS) do município de Itajaí/SC, atualmente composta por quatro ESF, totalizando um quantitativo de 35 ACS. É importante lembrar que o Bairro onde a Unidade está inserida, é o segundo mais populoso de Itajaí e tem como característica a ausência de um Conselho Local de Saúde e a pouca atuação da Associação de Moradores. Esta Unidade faz parte das 33 equipes de ESF do 56 município de Itajaí e atualmente acompanha 4.787 famílias cadastradas no Sistema de Informação da Atenção Básica - SIAB (ITAJAI, 2012), totalizando 16.958 pessoas. O que chama à atenção para a necessidade, em curto prazo, de uma 5ª equipe de Saúde da Família, levando-se em consideração o aumento populacional e a existência de área de invasão, bem como a construção de mais uma UBS que viabilize a divisão do trabalho das equipes de Saúde da Família, a readequação do fluxo de pessoas e proporcione espaço físico e infraestrutura adequada para o atendimento à população. 3.3 Sujeitos pesquisados Estabeleceu-se uma amostra de conveniência pela possibilidade de acesso e execução da pesquisa na instituição selecionada, uma vez que atuo na mesma como Enfermeira da Estratégia Saúde da Família. O alvo desta pesquisa foram os 35 Agentes Comunitários de Saúde (ACS) das quatro Equipes de Saúde da Família (ESF) de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) no município de Itajaí/SC. O estudo foi realizado de novembro de 2011 a Janeiro de 2012. O critério de seleção da população do estudo incluiu todos os ACS da referida unidade, desde que não estivessem em período de férias e/ou afastamento para tratamento de saúde e que aceitassem participar da pesquisa e assinassem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndices A e B). Respeitado o referido critério de seleção participaram da pesquisa 16 ACS, das 35 efetivamente ligadas à unidade. 3.4 Procedimentos de coleta dos dados Primeiramente foi realizado um convite a todos os ACS da UBS do Rio Bonito para participarem da pesquisa. A coleta de dados se deu através do desenvolvimento de quatro oficinas, com duração média de 1h30min com os 16 ACS que manifestaram interesse. A data de realização das mesmas foi pactuada com o 57 grupo. A realização das oficinas teve por objetivo fomentar a discussão em torno da prática dos ACS em relação à Promoção e Educação em Saúde de forma a possibilitar uma reflexão crítica sobre o seu papel enquanto profissional da ESF. Para a realização das mesmas foram utilizadas oficinas, utilizando o referencial proposto por Freire, a partir das seguintes categorias: levantamento dos temas geradores, codificação, descodificação e desvelamento crítico citado por Brandão (2005), acrescidas dos cinco princípios epistemológicos de Freire, adotados pelo Caderno de Educação Popular em Saúde (BRASIL, 2007). Para Brandão (2005), o levantamento dos temas geradores são falas que desvelam o mundo em que se vive; um momento comum de descoberta. Convertese numa luta comum por uma consciência da realidade e consciência de si, que fazem desta procura o ponto de partida do processo de educação e da ação cultural do tipo libertador (FREIRE, 2001). Segundo Freire (2005) na codificação os participantes integram a significação das palavras ou temas geradores em seu contexto existencial, eles as redescobrem num mundo expresso em seu comportamento. Decodificar é sinônimo de decifrar, ou seja, dentro de um Círculo de Cultura é a decomposição de um todo nos elementos que o constituem. A decodificação é a análise crítica de situações vivenciadas que permite o despertar de uma conscientização. Desvelar significa tirar o véu, descobrir, revelar. O desvelamento crítico é a última etapa da metodologia problematizadora de Paulo Freire. É quando se revela uma nova realidade, ou seja, outra forma de ver e entender o mundo (ROCHA, 2005). Freire (2001) refere que a conscientização é mais que uma simples tomada de consciência. Supõe, por sua vez, o superar falsa consciência e uma melhor inserção crítica da pessoa conscientizada numa realidade desmistificada. Essa consciência, advinda de um processo dialógico e reflexivo, transforma a vida das pessoas e as ajuda a reorganizar o seu modo de vida. Tais modificações não acontecem apenas no nível das ações, mas também nas percepções de cada indivíduo, nas suas atividades e na sua interação com o mundo do qual faz parte. As oficinas foram feitas da seguinte forma: a) 1ª OFICINA: Inicialmente foi realizado o acolhimento dos participantes, com breve explanação da pesquisadora sobre os objetivos do trabalho e explicado de que 58 forma aconteceriam as oficinas, baseadas na problematização de Paulo Freire. Mediante a concordância das participantes foi dado início as oficinas, com a realização de uma dinâmica de grupo, como forma de aquecimento, sensibilização e aproximação do grupo. Para tanto, foi utilizada uma dinâmica reflexiva baseada na técnica de apresentação do sujeito, através da “História do Nome”. b) 2ª OFICINA: Foi dado um “feedback” do que foi visto na primeira oficina. Na sequência, iniciamos à discussão do tema proposto, partindo de uma dramatização sobre a seguinte problemática: “como as ACS abordam a questão da Promoção da Saúde e Educação Popular em Saúde no cotidiano de seu trabalho?”. A partir daí foi discutido o conceito ampliado de saúde para então trabalhar as concepções sobre Promoção da Saúde e como se dá sua aplicabilidade na prática, no decorrer do trabalho dos ACS. Os temas geradores que nortearam a problemática das dramatizações foram posteriormente codificados e descodificados pelo grupo. Todo o processo de discussão e posterior desvelamento crítico foi gravado e transcrito pela pesquisadora. c) 3ª OFICINA: Iniciamos relembrando o que fora discutido nas duas primeiras oficinas. Baseado nas falas da segunda oficina foi discutido e refletido com o grupo a importância da escuta, de forma a problematizar a prática dos agentes comunitários de saúde, na tentativa de identificar suas dificuldades e potencialidades. Sendo assim, iniciamos a oficina com a dinâmica do “telefone sem fio” e a seguir a leitura do texto “as sete atitudes de um bom ouvinte”. Retomei a questão do “saber ouvir” trazendo para o círculo algumas das falas dos participantes que foram gravadas e transcritas para que fizessem um exercício de “ouvir o que foi falado”, como um instrumento de releitura coletiva da realidade social onde se vive e se trabalha. O tema gerador que norteou as dinâmicas foi codificado, descodificado e desvelado pelo grupo. Todo o processo de discussão foi gravado e transcrito pela pesquisadora. d) 4ª OFICINA: Iniciamos fazendo uma retomada de tudo o que foi discutido nas oficinas. Na 59 sequência, foi mostrado slides com figuras relacionadas ao tema da pesquisa. Logo após o grupo novamente foi dividido para que através da técnica de colagem pudessem montar um conceito sobre Promoção e outro sobre Educação Popular em Saúde. Na sequência foi realizado a apresentação dos grupos e posterior fechamento das discussões, tendo por objetivo o incentivo a propostas de ações em saúde por parte dos ACS para a realização de atividades de Promoção de Saúde na comunidade, levando-se em consideração os recursos materiais e humanos disponíveis, bem como a realidade local. Será dado o retorno do trabalho desenvolvido para as quatro Equipes de Saúde da Família na Unidade Básica de Saúde do Rio Bonito e Secretaria Municipal de Saúde de Itajaí/SC. 3.5 Análise dos dados Tomando por base a metodologia de Paulo Freire, a análise dos dados se deu através da observação e escrita realizada por mim levando em consideração as quatro categorias propostas por Freire: o levantamento dos temas geradores em Promoção e Educação Popular em Saúde, codificação, descodificação e finalmente desvelamento crítico. Procurei nos escritos e no que foi observado ressaltar o processo de reflexão que foi gerado no grupo a partir da temática proposta, os entraves e pontos críticos gerados na prática. A eficácia e a validade do método consistem em partir da problematização da prática do ACS, de que forma ele percebe e aplica a Promoção da Saúde e a Educação Popular em Saúde, do valor pragmático das suas ações e da realidade local em que está inserido. Respeitando o senso comum e dele partindo, o conhecimento se constrói e a partir dele se propõe a sua superação. A partir da leitura do conteúdo das transcrições das oficinas, tentei captar as categorias propostas por Freire, frente aos objetivos propostos neste estudo. Neste sentido auxiliou-me o referencial de Minayo (2007) sobre análise de um conteúdo, quando propõe que se captem os núcleos de sentido que compõem a comunicação, cuja presença ou frequência signifiquem alguma coisa para o objeto analítico visado; 60 no meu caso as categorias de Freire e concepções e práticas de Promoção e Educação. 3.6 Aspectos éticos Este projeto de pesquisa foi enviado inicialmente ao SISNEP (Sistema Nacional de Informação sobre Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos) para ser cadastrado. No preenchimento da folha de rosto do SISNEP providenciamos a assinatura de aquiescência da Instituição participante, no caso Prefeitura Municipal de Itajaí/Secretaria de Saúde do Município. Para obter o aceite da instituição foi feito contato com a administração, pela pesquisadora, para agendamento de um momento, objetivando expor o tema da pesquisa e obter a aquiescência para realizar o estudo. Para a realização da pesquisa foi entregue e assinado um termo de solicitação à instituição. Imediatamente foi enviado e submetido ao parecer da Comissão de Ética em Pesquisa da UNIVALI, para que sua execução fosse aprovada pelos padrões da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) através do Parecer nº. 581/2000. Obtido o deferimento da instituição e a aprovação da Comissão de Ética e Pesquisa, deu-se início a coleta dos dados propriamente dita. Foram fornecidas duas vias, sendo uma pertencente ao entrevistado e outra ao pesquisador. Justificando a necessidade premente de estabelecer uma relação ética na execução da pesquisa, o propósito do presente estudo foi elucidado às pessoas envolvidas para que conhecessem a lógica do processo, bem como sua contribuição iminente como membros integrantes. Foi garantido o anonimato aos participantes da pesquisa, podendo estes desistirem a qualquer tempo da mesma, sem que haja transtornos ou necessidade de esclarecimento de seus motivos. Ressaltou-se que os resultados obtidos no estudo serão manuseados somente pela pesquisadora envolvida e que poderão ser divulgados e publicados por meio de artigos ou em eventos científicos (Apêndice A). 61 Foi entregue uma cópia do trabalho à instituição e feito o convite para a apresentação pública, deste estudo, no Curso de Mestrado de Saúde e Gestão do Trabalho. Para garantir o anonimato dos participantes, na transcrição de suas falas, foi estabelecida uma denominação fictícia para cada integrante. Optou-se por identificálos pela letra P (participante) seguida de um número correspondente. Por exemplo: (P1) = participante número hum. 62 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise e discussão dos dados se deram a partir do referencial teórico de Paulo Freire para o qual são propostas quatro categorias: levantamento dos temas geradores, codificação, descodificação e desvelamento crítico. Os materiais produzidos nas quatro oficinas foram analisados e discutidos dentro desta categorização, sendo que as etapas foram acontecendo ao mesmo tempo no decorrer das últimas três oficinas. Brandão (2005) pondera que, embora o método aponte as regras de como fazer sempre é possível criar sobre o método, inovar instrumentos e procedimentos de trabalho. Sendo assim, da forma como ocorreram as oficinas, as etapas do método não serão discutidas individualmente e sim num conjunto. A realização das oficinas teve início no dia 17 de novembro de 2011, perfazendo um total de quatro oficinas, com o término em 11/01/2012. As mesmas foram desenvolvidas na UBS do Rio Bonito, na Sala das ACS. 4.1 Identificações do trabalho e das participantes O primeiro encontro aconteceu no dia 17 de dezembro de 2011 e contou com a participação de 18 pessoas, sendo 16 ACS, a facilitadora (pesquisadora) e uma enfermeira que se propôs a ajudar a pesquisadora. Num primeiro momento houve a apresentação da pesquisadora, o objetivo do trabalho, o cuidado com o anonimato dos participantes, além da importância da contribuição individual e coletiva para o desenvolvimento da pesquisa. Foi esclarecido que a participação era de cunho voluntário e que a aceitação não implicaria em obrigatoriedade, podendo interromper a participação em qualquer momento, mediante comunicado à pesquisadora. A seguir foram distribuídos para cada Agente Comunitário de Saúde o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (Apêndices A e B) para que todas pudessem ler e preencher os dados solicitantes. Após o preenchimento do mesmo, foi recolhido o referido documento 63 pela pesquisadora. Em seguida, foi solicitado para que as ACS fizessem um círculo com cadeiras para que pudéssemos dar início à primeira oficina. Mas, por que trabalhar em círculo? Porque na figura do círculo, todos se olham, se vêem e estão numa relação de igualdade. Neste círculo, não há um detentor do saber, mas um animador das discussões que, de forma solidária, participa de uma atividade comum em que todos ensinam e aprendem. Sendo assim, “o que o círculo produz são modos próprios e novos, solidários, coletivos, de pensar” (BRANDÃO, 2005, p. 44-45). O Círculo trás na sua essência uma proposta fecunda e uma prática de ensino-aprendizagem dialógica valorizando a pluralidade de saberes e partilhando os saberes construídos. Optei por fazer uma reapresentação das participantes como forma de quebrar o gelo, trabalhar a apropriação, iniciar a sensibilização e estabelecer uma maior aproximação e inclusão. Para tanto foi utilizada uma dinâmica reflexiva baseada na técnica de apresentação através da “História do Nome”. Esta dinâmica consistia no seguinte: foram distribuídas folhas em branco (A4) e solicitado para que construíssem seu nome e figura ou imagens relacionada a si, usando de toda a sua criatividade. Para tanto foram dados lápis de cor, canetinhas e giz de cera. Também foi solicitado que procurassem se lembrar de quem lhes escolheu o nome e qual o significado de seu nome. A dinâmica transcorreu calmamente, numa interação bastante harmoniosa entre as participantes, com muitos risos e clima de descontração. Um dos fatores para tal entrosamento deu-se pelo fato de todas serem colegas de trabalho e já conviverem a algum tempo juntas, inclusive comigo que sou enfermeira de uma das quatro equipes de Saúde da Família. Como era um grupo grande, houve a necessidade que se acomodassem em duas mesas, havendo troca permanente entre ambas do material disponibilizado para a dinâmica. Após o término da tarefa foi solicitado para que todas retornassem a seus lugares no círculo. Tão logo o círculo foi formado, solicitei para que todas virassem as folhas A4, de forma que todas as demais pudessem observar o que as colegas produziram. Foi então que solicitei para que alguém se disponibilizasse a iniciar a apresentação, como não houve um consenso num primeiro momento, foi-me solicitado para que eu desse início a mesma. Pude observar durante a apresentação de cada participante o quanto essa dinâmica suscitou lembranças e sentimentos que extravasaram durante a explanação, bem como a escrita criativa do nome através de acrósticos e desenhos traduzindo a identidade de cada um. Essa reflexão sobre a identidade de 64 cada sujeito permite que se percebam como tendo um maior controle sobre suas vidas, o que possibilitou a identificação do eu como sujeito. Segundo Gonzáles-Rey (2003) compreender a questão subjetiva do sujeito, significa considerar a suja trajetória histórica, sua singularidade, a sua diversidade e a forma que ele se expressa e protagoniza seu espaço na sociedade. Foi possível observar através da fala das participantes o significado contido em seus nomes, e as características individuais que as distinguem ou o momento presente pelo qual estão passando. Grifo algumas características que nas suas falas foram mais enfatizadas: [...] sou conhecida como esquentada, motivo pelo qual sou chamada de pimentinha, conforme escrevi e pintei em minha folha (P1). [...] reservada, sincera e o que é meu, é meu! (P2). [...] hoje eu estou aqui por obrigação, no sentido de responsabilidade e vontade de contribuir, mas se pudesse estaria escondidinha numa caixinha [...] me sinto renovada a cada dia, sou uma pessoa paciente e prestativa (P9). [...] quem escolheu (meu nome) foi minha mãe em homenagem a Nossa Senhora quando ela veio de Portugal para o Brasil (P10). [...] no Livro dos Nomes (meu nome) significa a escolhida. Considero-me uma pessoa prestativa. Meu nome foi escolhido por meu pai (P13). [...] meu nome é de origem indígena, mas não sei o seu significado. Minha característica principal é ser sincera (P16). As metodologias participativas, que utilizam recursos lúdicos, nada mais são do que estratégias que possibilitam e facilitam a vivência de sentimentos e percepções sobre determinados fatos ou informações. Refletir sobre eles, ressignificar seus conhecimentos e valores possibilita ao grupo visualizar possibilidades de mudanças a partir da construção de novas práticas e conhecimentos. Em observância a prática aqui desenvolvida, Lane e Codo (1982) afirmam que uma das funções do grupo é definir papéis e a identidade dos indivíduos, de forma a garantir sua produtividade e mudança social. Na sequencia foi apresentado as participantes o livro “um nome para o seu bebê” de Nelson Oliver e Daniele Alvim, e realizado a leitura do significado dos nomes de todos os presentes, o que foi muito bem recebido pelo grupo, com 65 demonstrações de risos, gargalhadas, brincadeiras e sinais de concordância e discordância. Apenas o nome de uma das participantes não foi encontrado no livro, tendo me comprometido a tentar descobri-lo. Um ponto positivo foi o respeito dos demais colegas da Unidade Básica de Saúde em não interromper as atividades durante o período de execução da oficina. Houve, por parte dos participantes, boa aceitação e acolhimento do tema proposto. Ao final foi sugerida, por um dos participantes, a confecção de um mural onde foram colados todos os trabalhos, conforme se pode observar na figura 1: Figura 1 - Mural “História do Nome” Fonte: A autora (2011). O mesmo foi apreciado pelo grupo que tirou fotos com ele juntamente à pesquisadora conforme figura 2. 66 Figura 2 - “Resgatando a nossa História” Fonte: A autora (2011) Para encerrar as atividades foi lido por mim um texto intitulado “Amigo”, onde ao término da leitura todos aplaudiram e houve manifestações de satisfação com o trabalho desenvolvido. Para o fechamento do encontro foi oferecido um lanche onde, em meio a conversas informais, muitas ACS disseram sentir “falta de momentos como esse”, para sentar, conviver, trocar e aprender. Pude observar nesse primeiro momento que a experiência teve um impacto positivo, tendo propiciado uma maior aproximação do grupo e que a mesma atingiu o objetivo proposto. 4.2 Dando início às discussões O segundo encontro ocorreu no dia 30 de novembro de 2011 às 13h e 30 min., na sala de Reuniões da UBS. Antes de dar início ao tema proposto procurei resgatar o que havia sido desenvolvido no primeiro encontro. A seguir solicitei que o grupo se dividisse em dois para uma dramatização sobre a seguinte problemática: “como as ACS abordam a questão da Promoção da Saúde e Educação Popular em Saúde no cotidiano de seu trabalho?”. Foram dados 15 minutos para que os grupos se organizassem e fornecidas roupas e acessórios para que fizessem uso. Após o tempo estipulado deu-se início as apresentações, tendo sido orientados para que o segundo grupo observasse o primeiro e vice-versa para posterior discussão do tema abordado. Durante a fase de ensaio ambos os grupos demonstraram bom entrosamento, não havendo nenhum participante que se declarou contrário à 67 dinâmica sugerida. Foi observado um clima de muita descontração, risos e muita criatividade. Após os ensaios foi dada sequencia a apresentação dos grupos. O primeiro grupo de dramatização trouxe a história de Dona Fulana, uma moradora da área, poliqueixosa, que vive com sua filha adolescente e mais quatro crianças. A mesma relata não ter tempo de ir até a unidade, porque dorme até tarde. Solicita para que a ACS marque uma consulta no período da tarde para que ela possa fazer o almoço e cuidar dos afazeres domésticos. Pede para ser agendada com o médico de sua preferência e é orientada pela mesma que isso não é possível, pois o médico responsável pela sua área é outro. A ACS oferece um agendamento de Consulta de Enfermagem o que não é aceito pela moradora que solicita visita de um profissional médico. O mesmo pedido é feito por sua vizinha que nesse momento chega até sua casa, pois havia visto a Técnica de Enfermagem e a ACS entrando na casa de Dona Fulana. A moradora aproveita e pede para que a ACS lhe traga medicamento para a dor no estômago e é informada pela mesma que não está autorizada a entregar medicação. Dona Fulana insiste: “pode me dar só o remédio, ficha é para outra coisa. Ficha é para o oculista”! No mesmo instante a vizinha interrompe a conversa e diz para a ACS que está com 80 anos e necessita que ela marque uma consulta para ela na unidade. A ACS combina de repassar o caso a Enfermeira e solicita para a dona da casa assinar a folha de visita domiciliar. Ao retornar para a unidade a ACS encontra a Enfermeira sobrecarregada e atarefada com a parte burocrática. Após aguardar um tempo, consegue pedir ajuda a Enfermeira da equipe que prontamente vai com ela até a casa de Dona Fulana. Ao chegar lá a Enfermeira é muito direta e objetiva, dizendo que Dona Alzira necessita “pegar ficha como todo mundo” para consultar com o médico de sua área e que a mesma deverá levar sua filha junto para pegar o pedido de exame. A enfermeira evita responder a certos questionamentos da moradora sobre a função da ACS e limita-se a dizer: “a obrigação dela não é ficar marcando ficha para a senhora. A senhora pode ir de manhã como todo mundo vai”. No caso da vizinha idosa ela autoriza a Agente Comunitária de Saúde a agendar uma consulta médica e reforça que Dona Fulana deverá procurar a unidade pela manhã. Em seguida despede-se e retorna a unidade. O segundo grupo retrata a história de Dona Beltrana que mora com uma filha adolescente que sumiu de casa por dois meses e retorna grávida, com um problema na perna após um acidente de moto e referindo problemas ginecológicos. 68 A família recebe a visita da ACS que escuta as queixas da adolescente que confessa estar com depressão. No meio da conversa a agente de saúde percebe o clima tenso entre mãe e filha que não conseguem conversar civilizadamente. A adolescente pede para que a ACS lhe entregue uma pomada ginecológica e esta nega o pedido explicando que necessita de receita médica. Imediatamente a adolescente repreende a ACS dizendo que sempre pegou o medicamento na unidade. A ACS oferta a visita da médica da equipe e imediatamente entra em contato pelo celular com a enfermeira para expor a situação. A enfermeira diz que o carro da visita acaba de chegar à unidade e que irá incluir essa família para visitação. Logo após entra no consultório da médica e antes mesmo de começar a falar é questionada sobre a inclusão de mais um paciente para consulta clínica: “Não, o negócio é o seguinte, já colocaram um a mais para eu atender e eu não gosto disso”! A enfermeira diz não saber o motivo, pede para que a médica questione a coordenadora da unidade e critica as colegas de trabalho por sobrecarregam a agenda médica. Quando novamente tenta falar sobre o assunto que a trouxe ali, toca o celular da médica que atende a uma ligação particular. Quando a ligação termina a enfermeira expõe o caso da família e alega tê-lo incluído nas visitas do dia, pois não foram preenchidas todas as vagas. A médica reclama do sol e pergunta se o motorista já chegou. A Enfermeira responde que sim e que ele só foi tomar água. A médica então ironiza: “o motorista pode tomar água, eu tenho que atender paciente a mais...”. Nisso a enfermeira a convida para ir e a médica pergunta: “ela não pode vir aqui”? A enfermeira faz sinal que não e ambas vão até o carro. Ao chegar à casa de Dona Beltrana, a Enfermeira apresenta a médica que vai conversar com a adolescente. A filha de Dona Beltrana queixa-se da perna e de corrimento. A médica ironiza: “e a barriga é o quê? É gordura mesmo”? A adolescente diz ter dado umas voltas, que não usou preservativo e que tem medo de estar com um problema sério. A médica enquanto isso prescreve e depois se volta para a adolescente e diz: “aqui é o Beta, aqui a pomadinha, aqui é o encaminhamento para o ortopedista. E isso aqui é uso de preservativo contínuo. É bom, previne a gravidez. Podes ir fazer”! A adolescente questiona sobre o problema da perna e a médica a interrompe dizendo: “o problema da perna é com o Ortopedista! Eu sou Clínico Geral, eu já fiz a minha parte. Passar bem”! Dona Beltrana agradece a visita e todos se retiram. 69 O que chamou a atenção foi que embora as dramatizações tenham sido criativas, perdura o modelo biomédico, prescritivo que se evidencia no atendimento queixa-conduta. Para Kawamoto (1995 apud SANT’ANA; TAIA; MEDEIROS, 2001), a visita domiciliar visa prestar assistência educativa no domicílio, e também através dela pode-se fazer uma avaliação sócio-econômica do indivíduo e sua família, prestando uma assistência específica a cada caso. Mediante essa constatação, solicitei aos participantes para que fizessem seus comentários a respeito que foram os seguintes: A falta de um preparo dos profissionais da Estratégia Saúde da Família para trabalhar questões relativas à Promoção de Saúde: desde o entendimento do que é Promoção, passando por formas de abordagem da comunidade e o estabelecimento de estratégias e parcerias de forma a socializar e instrumentalizar a comunidade para que a mesma possa ter uma qualidade de vida melhor. [...] na verdade a gente não tem esse treinamento pra essa abordagem, porque o próprio paciente não deixa a gente chegar a foco nenhum. [...] tem uns lugares que a gente sabe que pode chegar e falar, ver se a pessoa está cuidando da hipertensão, dos problemas, se tem gestante, se está prevenindo a gravidez. A gente chega nesse foco, mas a grande maioria é só essa pressão de atendimento. Eles confundem o atendimento do postinho com a exclusividade da gente cuidar da vida deles, entendeu? Uma dor de estômago é um exagero. E não pode pegar ficha! Então tu não parte da promoção. A grande maioria, na verdade, não dão essa liberdade de você promover a saúde (P9). Fica evidenciado que a comunidade não relaciona saúde com ações de Promoção da Saúde. Existe uma alienação por parte da mesma que só consegue vislumbrar um atendimento imediato, que sane suas queixas, sem haver a preocupação se tornar mais hábeis em reverter seu quadro. Isso pode ter haver com a intensa medicalização que se instaurou na sociedade. Por medicalização entende-se a introjeção gradual de padrões sociais, culturais e políticos a partir de parâmetros instituídos pela ciência médica, cuja subjetividade resultante é uma necessidade (demanda) crescente de atos médicos normalizadores e interventivos sobre a vida e a saúde. A medicalização seria, na área da saúde, um dos efeitos daquilo que o discurso sociológico chama de “controle social”. Não estamos falando aqui do sentido de controle social proposto pelo Movimento da Reforma Sanitária, que seria o controle público (da população) sobre as políticas e ações de saúde, mas no sentido que lhe é dado tradicionalmente pelas ciências sociais, isto é, 70 “que uma pessoa e sua ação está de fato condicionada e limitada pelos grupos, pelas instituições e pela sociedade inteira, da qual é membro”. Neste sentido os indivíduos estariam condicionados a mecanismos mais ou menos ajustados, instituídos socialmente e a partir dos quais agiriam (BOBBIO; MATTEUCCI, 1981, p. 426 apud WENDHAUSEN, 2002). A “medicalização da sociedade” tem sido muito discutida atualmente, em virtude do incessante aumento da produção e do consumo de cuidados profissionais. A medicalização não se refere somente ao uso abusivo de medicação, mas a falta de autonomia do sujeito que depende da opinião de um especialista. Tomar muita medicação é um sintoma! Tesser (2006, p. 61) ao se referir sobre o assunto diz que: A medicalização transforma culturalmente as populações com um declínio da capacidade de enfrentamento autônomo da maior parte dos adoecimentos e das dores cotidianas. Isso desemboca num consumo abusivo e contraprodutivo dos serviços biomédicos, gerando dependência excessiva e alienação. Conforme a medicina foi se inserindo socialmente, as práticas e os discursos foram se apropriando da racionalidade médica. Ou seja, uma vez que o cidadão comum passa a ter acesso às informações amplamente difundidas pelos meios de comunicação, que concebem saúde como um valor primordial, a vida torna-se medicalizada. Por exemplo, a publicidade investe maciçamente na venda de medicamentos que prometem milagres de efeitos imediatos. A saúde numa sociedade capitalista é entendida como sinônimo de força de trabalho e produtividade. Medicalização, segundo Wendhausen (2002), é a visão que leva as pessoas a buscar de forma abusiva e descontrolada, na área da saúde, atos médicos para obter saúde. Fazer do normal uma coisa rara é hoje um fenômeno coletivo. Assim eles esperam que o serviço de saúde resolva seu problema, e, no caso principalmente o médico que é a figura a quem se atribui este papel. Mas todos os profissionais de saúde, a enfermeira, o fisioterapeuta, etc., sofremos desse mesmo mal, porque também somos produto dessa medicalização, ou seja, introjetamos historicamente que saúde depende somente de atos médicos. Consequentemente há uma banalização do uso de fármacos, e o desenvolvimento da crença de que saúde se obtém nas prateleiras das farmácias. Nascimento (2003) denomina este 71 fenômeno de o mito da saúde em pílulas. De acordo com esta autora as dificuldades da vida passam a ser consideradas como problemas médicos solucionáveis através de fármacos. Para cada dor, seja ela física ou emocional, existe um tratamento, um medicamento. Como se não bastasse, convivemos ainda com a mensagem de alerta “ao persistirem os sintomas o médico deverá ser consultado” invertendo a lógica como se primeiro o usuário tivesse que ter o problema para só então buscar ajuda. A racionalidade moderna está em crise. Na realidade, o que se tem feito não é outra coisa senão medicalizar o sofrimento. Outro aspecto discutido pelo grupo é o entendimento de que a promoção não se concentra somente na figura do médico, mas que toda a equipe tem essa responsabilidade. E que todos estão deixando a desejar, cada um, preocupado com os seus afazeres e com a parte burocrática, esquecendo-se de olhar e ouvir adequadamente. [...] É o que eu falei. Não é só o atendimento do médico, são todos. Na grande maioria atende assim. Não tem um olhar no paciente, ele tem um atendimento rápido [...] Não tem um envolvimento para que o médico também tenha a paciência de fazer a promoção (P9). Uma situação muito comum relatada pelas ACS foi a divergência de interesses entre o que se quer falar para a comunidade e o que ela realmente necessita. Isso fez com que o grupo refletisse a forma como estamos trabalhando e que o resultado tem sido insatisfatório, não correspondendo às expectativas da comunidade assistida. [...] é complicado ficar todo o dia na mesma casa. Vou lá naquela casa falar sobre HIV, amanhã vou lá falar sobre Diabetes. Nunca consegue falar, por quê? [...] se tu chegar a falar de diabetes: ”Meu Deus! Como doem as minhas costas!”, aí já vem com a história [...] Eles falam outra coisa e já “vão em cima” de ti pedindo consulta, não te dão espaço para promover, para fazer o teu trabalho, então é complicado (P4). Foi discutido também o fato de que, embora a ESF tenha surgido como uma estratégia para a mudança do modelo de atenção, ainda persiste, muito forte, na cultura popular aquele modelo biomédico centrado na figura do médico. [...] eles querem assistencialismo e não promoção de saúde. [...] Eles querem o médico, o remédio e a consulta. Só isso! (P8). 72 Refletindo sobre as dificuldades no cotidiano da unidade de saúde as ACS referiram se sentir desamparadas no atendimento à comunidade. Que gostariam de um suporte mais eficaz por parte do restante da equipe e que os profissionais estão muito presos atendendo demanda dentro da unidade e deixam de realizar ações importantes na comunidade. [...] a ESF não é só o agente de saúde, [...] o agente de saúde precisa do enfermeiro e precisa do médico e ESF é na rua. O médico tem que sair na rua com o agente de saúde (P15). O trabalho em equipe é essencial para a obtenção de resultados, mas para que isso ocorra não há espaço para individualismos, é preciso um esforço conjunto onde glórias e fracassos devem ser entendidos como de responsabilidade de todos os membros da equipe. O sentido de equipe nasce da integração individuo/organização, evidenciada pela adesão espontânea aos compromissos e metas, sem a imposição de valores ou procedimentos. O trabalho em equipe só atinge os seus objetivos quando há cooperação e envolvimento de todos. No entanto, a complexidade do atendimento das necessiddes de saúde exige uma flexibilidade nos limites das competências de cada profissional da equipe. O trabalho multiprofissional refere-se à recomposição de diferentes processos de trabalho que, concomitantemente devem flexibilizar a divisão do trabalho; preservar as diferenças técnicas entre os trabalhadores especializados; arguir a desigualdade na valoração dos distintos trabalhos e respectivos agentes, bem como nos processos decisórios e tornarem consideração a interdependência dos trabalhos especializados no exercício da autonomia técnica, dada a necessidade de autonomia profissional para a qualidade da intervenção em saúde (PEDUZZI, 2000, p. 6). É importante que a equipe esteja disposta a compartilhar objetivos, decisões, responsabilidades e resultados. É preciso ter clareza dos objetivos, discutir um plano de trabalho em que todos possam estar inseridos, aprimorar as relações interpessoais e a escuta qualificada. Não menos importante seria o responsabilizarse democrática e solidariamente pelos resultados, quer sejam positivos ou negativos. Segundo Robbins (2002, p. 267), isso é possível de ser alcançado pelo “[...] aumento da motivação e satisfação do funcionário, níveis mais altos de 73 produtividade, comprometimento comum com as metas, expansão das habilidades no trabalho e flexibilidade organizacional [...]”. Houve uma crítica quanto à forma como os profissionais de nível superior prestam o atendimento à comunidade. A falta de envolvimento e de compromisso por parte de alguns tem prejudicado a imagem do SUS e suscitado reclamações por parte da comunidade, que são manifestadas durante a visita domiciliar das ACS. Muitas relatam ser mal recebidas e que por vezes as famílias sequer abrem as portas para recebê-las. Algumas relataram que ao chegar às famílias os moradores perguntam: “o que elas estão fazendo ali”? Referindo desconhecer o seu real papel dentro da ESF. O que também é um consenso é o fato de estar “perdendo o seu espaço” ou que talvez não o tenham conquistado. [...] o médico prescreve e não olha o paciente, ele não tem aquele olhar [...] não tem envolvimento! Então, se o médico não tem, passa para o enfermeiro que também tá cheio de problemas [...] e a gente vai ter qual atendimento? (P9). [...] eu acho que na verdade ACS, médicos, enfermeiros deveriam dar mais ouvidos à comunidade. Às vezes as pessoas chegam aqui com dor de cabeça e na verdade elas não querem o remédio para a dor de cabeça, elas querem conversar! (P4). [...] E é dessa conversa que vai sair à promoção. É essa conversa que está faltando [...] a gente precisa do enfermeiro e do médico para tanta gente. É a atenção que eles querem. Que a gente poderia dar e que não tem. [...] da ESF mesmo, não é só nossa. É de todos, de toda a equipe! (P9). [...] o médico, ao invés de analisar o problema, o histórico do paciente, ele empurra encaminhamento, ele empurra encaminhamento... Aí enche o nosso sistema de consultas com um monte de encaminhamentos que poderiam ser resolvidos. [...] Mas há uma necessidade de aprimorar o atendimento para essas pessoas. Quando nós, enquanto agentes de saúde, vamos às casas para levar a promoção, nós não conseguimos levar essa promoção porque eles saem correndo atrás, literalmente correndo: Hei! Eu preciso de você, eu queria... Vem cá! Eu preciso de uma consulta, eu preciso disso, daquilo... Eles querem somente a consulta! Porque para eles é esse o nosso papel, agendar uma consulta para eles. Eles acham que nós somos as meninas de agendamento de consultas ou de entrega de consulta. Esse é o nosso papel (P11). [...] eles querem que a gente verifique a pressão, mas nós não verificamos a pressão. Quem verifica é a técnica. Então, quando a gente faz aquela visita com a técnica, que às vezes eu vou à área com as nossas técnicas, aí é gostoso! Porque daí a gente também faz essa visita de verificação de pressão, de como a pessoa tá. Porque parece que aquilo dá um... O paciente vê com outros olhos, né? Nós somos somente as meninas que entregam consulta e encaminhamentos (P11). 74 Quando questionadas sobre a forma de abordagem utilizada para orientação à comunidade as ACS pontuaram as facilidades e dificuldades no cotidiano de seu trabalho. Reforçando se sentirem gratificadas e importantes quando conseguem ajudar alguém. [...] Eu sempre observo, aí eu puxo alguma coisa que seja relacionada àquilo, até eu conseguir chegar ao assunto que eu realmente quero. Principalmente para essa meninada grávida aí (P8). [...] Tem um ou outro paciente que é comprometido, presta atenção e realmente faz as coisas que você explicou. [...] Tem um ou dois pacientes que seguem as orientações (P8). [...] O seu Fulano! Ele estava bem doente, ele estava tendo ataque assim, que vinha até o SAMU. Eles davam aquela injeção mais forte para ele, ataque mesmo, do sistema nervoso. Porque aí eu comecei a observar porque que ele estava daquele jeito: a esposa tinha falecido, ele trabalhando à noite, um monte de filhos, de noras e crianças. O dia inteiro dentro de casa correndo. Crianças chorando, as filhas brigando, conversando [...] Trabalhava de noite e dormia de dia. Ele não estava mais conseguindo dormir e outra coisa, ele perdeu a esposa. Então, querendo ou não essas pessoas mais idosas são bem companheiras, onde ele estava ficando ruim. Aí veio um e queria internar ele aqui, queria internar ele ali. Aí eu em conversa [...] disse para ele: por que o senhor não vai ao Centro de Múltiplo Uso? [...] expliquei os horários, o que fazia e o que não fazia. Desde então, nunca mais deu aquelas coisas nele, e ele participa ali direto, o seu Fulano, mas são poucos o que você consegue... (P8). [...] quando a gente consegue avançar com um paciente desse, que aceita, que consegue entender o que a gente fala, pelo menos eu acredito que é pelo menos gratificante, eu acho que é gostoso assim, saber que alguém entendeu, enfim qual é o teu papel aí (P4). Dessa discussão surgiu a reflexão acerca das propostas educativas realizadas pela ESF, que têm ficado mais no âmbito das intenções, sem que de fato haja um impacto positivo na vida das pessoas. Por outro lado, quando colocadas em prática, são desenvolvidas de modo intuitivo sem a preocupação de criar espaços para o diálogo com os atores envolvidos, desmerecendo-os como sujeitos de sua própria história. No que se refere ao processo saúde/doença ficou muito claro o entendimento do grupo de que a promoção é algo muito maior do que um mero conceito. Que ela é feita de sujeitos comprometidos com as questões sociais, que ela depende de uma rede de suporte que permita acionar vários setores em prol do bem estar comum. É fundamental um olhar crítico e diferenciado sobre a dinâmica social, política e 75 cultural de cada comunidade para que a abordagem dos profissionais da Estratégia Saúde da Família seja eficiente e eficaz. [...] Eu volto a repetir a mesma coisa, pela encenação que a gente fez, tanto o nosso grupo, como o segundo grupo, porque a maioria das doenças e das coisas que acontecem também envolve muito o social (P8). [...] Não é só o posto, precisamos ter pracinha para as crianças, nós precisamos de cursos para essa meninada, a gente tem que ter estrutura para poder ajudar a saúde. Quantos na rua [...] tem depressão? Nós estávamos conversando [...] a maioria na rua [...] tomam antidepressivo, na minha área tem um monte [...] (P8). [...] Cada vez vai aumentando, né? Então a gente não tem aqui um psicólogo, né? Que podia ser uma vez por semana, ali na Capela. Um psiquiatra uma ou duas vezes por semana, alguma coisa diferente aonde pudesse [...] fazer este tratamento junto com a pessoa (P8). Aprofundando-nos um pouco mais na discussão, foi solicitado para que as ACS levantassem as principais deficiências no atendimento à comunidade. “Que tipo de população estaria de fora das ações, hoje colocadas em prática, pela unidade de saúde?”. Foram citados os adolescentes, a população masculina em idade produtiva e a mulher vítima de violência. [...] O adolescente não tem uma política voltada para ele [...] (P4). [...] O homem não tem projeto, o pai de família não tem projeto, ele trabalha, ele sai... (P9). [...] a mulher que sofre violência ela não tem um curso pra fazer pra ela poder sair do domínio do marido. Ela não tem! Ela é obrigada às vezes a ficar apanhando ali, porque ela apanha e os filhos comem, [...] vai fazer o quê? Precisa muita coisa! (P8). Retomando as discussões anteriores, e fazendo um “feedback” de tudo o que foi falado até então, voltei a questionar: o que seria a Promoção de Saúde? De todas as respostas a que mais chamou a atenção foi à fala de uma das participantes que reforça a importância de uma rede estruturada, de recursos humanos e financeiros que possibilitem sanar as necessidades da comunidade. Mesmo tendo um entendimento de que Promoção da Saúde é interdisciplinar e advêm de vários fatores, atribuem-na a outras pessoas e não aos usuários e a si mesma como parte deste processo. É como se as condições para realizá-la só viessem de fora e não 76 dependesse também de nosso entendimento e reivindicação para que se realize. Não conseguem perceber os recursos de que já dispõem. Conseguem perceber as faltas, mas não as relacionam com sua produção social e de que envolvem os direitos que não sabemos ou buscamos. Assim, sentem-se somente impotentes diante das faltas, como expressa a seguinte fala: [...] Você ter o que oferecer não só quando você vai numa família. Que nem teve o caso da Cicrana. Que ali envolve tudo! [...] vamos falar da alimentação: como é que ela ia amamentar a criança se ela não tinha o que comer? Como é que ela ia ter uma boa higiene nela e na criança se ela não tinha nem um sabonete para tomar um banho, para dar um banho na criança? (P8). Outro momento importante foi o debate onde as Agentes Comunitárias de Saúde mencionam a dificuldade e a necessidade de se estabelecer parcerias, por entender que a ESF não tem a “fórmula mágica” para resolver todos os problemas condizentes à comunidade. Todas concordam que a teoria diz uma coisa, mas na prática não funciona como deveria. Ou seja, que a intersetorialidade ainda é um nó crítico quando o assunto é promoção. Ficou evidenciado a necessidade de se discutir sobre essas deficiências e que esse momento deveria ser partilhado com a comunidade. Não sob forma de palestras, consideradas ineficazes, mas sim de forma problematizadora, estabelecendo prioridades e acionando os setores envolvidos. Outra questão levantada foi que a comunidade pouco responde ao chamado para participar dos grupos. Qual o motivo? Desmotivação? Descrédito? Será que em algum momento foi dada a oportunidade dos usuários manifestarem-se? Será que suas reais necessidades estão sendo sanadas? Isso nos remeteu a pensar a forma com que a comunidade vinha sendo vista e trabalhada pelos profissionais da ESF. Será que não continuamos a olhá-la como um objeto a quem nós profissionais devemos modelar porque está errada? Outro foco do trabalho das ACS são os grupos. E quando se fala em grupos a primeira coisa que veio à cabeça das ACS foi “palestra”. Mas, ao mesmo tempo, existe uma consciência de que essa forma de trabalhar não surte efeito. Segundo foi falado, às vezes, na opinião delas, é preciso lançar mão de alguns artifícios, mesmo que de forma “impositiva” ou “punitiva” para que a comunidade entenda e colabore. Chama a atenção nessa fala o caráter prescritivo do modelo biomédico enraizado no fazer cotidiano das equipes. Ficou claro que ainda persiste a forma equivocada de 77 se trabalhar com palestras, construídas a partir do interesse dos profissionais o que não condiz com as necessidades da comunidade assistida, motivo pelo qual pode ser que a adesão seja muito pequena e os grupos esvaziem-se com facilidade. [...] Esta aí o problema, só que ninguém quer participar! É aí que a comunidade não participa (P8). [...] Ela não participa porque ela não vê resultados (P1). [...] eles estão cansados da gente só fazer palestra, palestra e não agir. Eles não estão vendo a gente [...] está faltando ajuda da secretaria, está faltando ajuda de todos para a gente plantar essa ação para população (P15). A idéia que algumas pessoas possuem é de que primeiro se deve ensinar para que o povo aja em conformidade com o que pensamos e isso deve se fazer a qualquer preço, até mesmo oferecendo-lhe algum benefício como o bolsa-família ou um medicamento que no final das contas é apenas seu direito. Essa Educação em Saúde tem a ver com a que estamos criticando. Se ao final quisermos um usuário crítico e emancipado, temos que admitir que o nosso poder sobre sua saúde pode ser compartilhado. Ou seja, o saber popular pode ser considerado e em contraste com o saber técnico pode gerar um novo saber. Para que isto aconteça é preciso uma nova forma de educar, que considere o usuário como um sujeito pensante que também pode e deve decidir sobre sua vida e saúde. Os depoimentos a seguir ilustram esta maneira de conceber Educação em Saúde: [...] o que resolve mesmo, é aquele paciente [...] que é mais fácil. Aquele que é comprometido, aquele resolve. Agora tem paciente que você pode fazer 10 palestras da mesma coisa e não vai mudar (P8). [...] A gente tem que educar primeiro o paciente para depois deixar o povo falar, não é? (P1). [...] uma das maneiras que a gente faz para tentar educar o povo, [...] eu vou dar um exemplo: “Bolsa Família”. [...] para eles virem pesar, que é um dever dos pais trazerem os seus filhos [...] a gente acaba falando [...] vocês tem que pesar aquela criança porque se não vocês vão perder o benefício da “Bolsa Família”. Já para eles compreenderem que [...] “para eu não perder o meu beneficio eu preciso ir pesar o meu filho” (P5). 78 Quando questionadas sobre em que situações encontram maior dificuldade em fazer orientação, as respostam foram: medicação e vacinação do idoso. A dificuldade quanto à medicação é referida a situações em que as pessoas são analfabetas, o que dificulta a administração dos medicamentos, mesmo que sejam separados em caixas ou pacotinhos coloridos. Também foram citados casos de pessoas com problemas de visão, outros em que a medicação controlada ou de uso contínuo é administrada só quando acham necessidade, sem falar nas que dividem a medicação com familiares e amigos. Também foi discutido o uso abusivo e indiscriminado da automedicação, o que chama a atenção para a cultura da medicalização. A dificuldade quanto à vacinação dos idosos, segundo eles mesmos, pode ser pelo fato de causar reações adversas. Demonstram dificuldades de aceitação quanto ao local para aplicação o que causa algum tipo de constrangimento e dificulta a adesão durante as campanhas. Os ACS referem dificuldade na argumentação para convencer a comunidade a tomar a medicação nos horários prescritos, bem como “persuadir” os idosos a tomar a vacina e fazê-los perder o medo de alguma complicação. Sendo assim, novamente reivindicam capacitações que as tornem preparadas para a abordagem das famílias nos diferentes ciclos de vida. [...] a gente explica, mostra horário, pega receita, explica como é que faz, como é que não faz, eles teimam que o médico falou que é para fazer assim, ou que a vizinha faz assim. Ai você explica de novo que cada pessoa é uma pessoa, [...] cada pessoa reage de uma forma, [...] o que dá para aquela pessoa não dá para essa. Só que a gente nota muita dificuldade principalmente nos idosos. Aqueles que os filhos abandonaram [...]. Aí é bem complicado. A gente separa, pode separar todo o dia a medicação... Todo dia ele toma? Ele não toma! Ele toma do jeito que ele acha que tem que ser (P8). [...] A gente está no limite, no século 21, mas essas pessoas ainda têm a mente muito voltada às coisas antigas. Não tem aquele pensamento: “não agora as coisas estão evoluindo, as coisas estão melhores”. Por quê? Porque ficam atreladas somente em novelas, não assistem jornais, não se desenvolvem assim, na forma de pensar [...] (P11). [...] Nós não estamos preparadas para fazer prevenção, infelizmente é isso. Por que a gente é contratada e não oferecem um curso [...] (P15). 79 A partir das discussões realizadas ao longo da segunda oficina, verificou-se a necessidade de se refletir as práticas e planejar as ações de acordo com cada realidade. Para tanto, esse planejamento deve ser amplamente discutido entre os profissionais da ESF que prestam a assistência e a comunidade organizada, por entender que discutir questões relativas à coletividade é exercer o controle social. Isso já está de acordo com a nova visão da Promoção e Educação em Saúde, já que trata as pessoas como sujeitos que participam das ações de saúde da comunidade. Em conversa com a coordenadora da unidade, em virtude das festas de final de ano, ficou definido a inviabilidade da continuidade das oficinas, uma vez que havia uma programação de folgas na semana do Natal e na semana do Ano Novo, e as equipes de Saúde da Família estariam se revezando no atendimento à comunidade. Sendo assim, as duas últimas oficinas foram retomadas no mês de janeiro de 2012, no período de férias da pesquisadora. O terceiro encontro foi agendado para o dia 03 de janeiro de 2012 no mesmo local e horário dos anteriores. Compareceram as ACS que haviam vindo anteriormente. Ao analisar a fala das participantes em oficina anterior, ficou evidenciada a dificuldade em ouvir, de fato, o outro. Tentei problematizar a prática dos agentes comunitários de saúde em suas relações com a comunidade, na tentativa de identificar suas dificuldades e potencialidades. Decidi iniciar os trabalhos propondo a dinâmica do “telefone sem fio”. Após duas tentativas e muitas risadas o grupo chegou à conclusão de que não ouvir direito o outro é uma falha de comunicação grave, e alguns se perderam por não estarem prestando a atenção no que deviam, o que ficou evidenciado na fala de uma das participantes. [...] Não prestei a atenção na minha amiga. Eu fiquei escutando a conversa da outra querendo passar para ela (P1). Após o fechamento da dinâmica foi distribuído aos participantes um texto intitulado “as sete atitudes de um bom ouvinte” para ser lido em dupla. Nesse momento alguns participantes demonstram alívio pela leitura não ser individual. Foi solicitado para que as duplas lessem e discutissem o conteúdo, sublinhando aquilo que fosse importante, procurando relacionar no que cada um se encaixa no texto, levando em consideração suas dificuldades e potencialidades. Enquanto eram dadas as orientações, algumas ACS estavam distraídas com seus celulares. Solicitei para que mantivessem seus aparelhos desligados ou no vibra call para que não 80 atrapalhassem as demais colegas. Após o tempo estipulado deu-se início ao debate. Foram muito interessantes e surpreendentes as reflexões que surgiram em torno do tema proposto. Cito aqui algumas delas: [...] eu acho que é mais difícil ouvir porque geralmente a gente sempre quer dar a opinião da gente antes da pessoa falar realmente o que está acontecendo. Eu acho que já é um instinto de a gente querer falar e não ouvir (P8). [...] não tenho paciência de escutar, já saio fora! (P1). [...] tenho momentos que eu não sou de muito falar [...] Eu prefiro mais ouvir. Porque no ouvir eu escuto e no ouvir eu aprendo. [...]. Também eu gosto de falar, mas depende da situação e da ocasião. Mas eu prefiro mais ouvir, é mais importante (P12). [...] Eu até escuto, só que o problema é a minha mente. [...]. A minha mente fica viajando. [...]. A gente escuta sim, mas a mente... (P5). [...] acho que a pessoa tem que prestar mais a atenção no conteúdo e não na pessoa que está falando. [...]. Primeiro eu ouço e depois eu dou minha resposta. [...] Nem sempre a gente concorda com a pessoa que está falando [...] (P6). [...] A qualidade de ouvir é importante [...]. Não somente saber ouvir, mas saber guardar o que a pessoa está falando [...] porque o falar é prata e o ouvir é ouro [...] quando nós ouvimos com atenção, com interesse, pretendendo ajudar aquela pessoa aí tornamo-nos bons ouvintes (P11). [...] o mais difícil é você não julgar a pessoa que está falando [...]. Como eu julgo primeiro se é coordenador, enfermeira ou o técnico [...] na situação de ouvinte é não julgar a pessoa que está falando (P9). Como observamos nas falas dos ACS escutar pode ter diferentes conotações para cada um e é um dos mais importantes fatores na relação com as pessoas que contatam, como por exemplo, a ACS que julga as pessoas antes de ouvi-las: pelo seu cargo, seus trajes, seu saber, etc. Tomando por base o pressuposto que ensinar não é transmitir conhecimento e sim criar espaços de discussão onde o mesmo possa ser compartilhado, isso só é possível quando o “escutar” se torna mais importante do que o “falar”, como destaca Freire: 81 Escutar significa a disponibilidade permanente por parte do sujeito que escuta para a abertura à fala do outro, ou gesto do outro, às diferenças do outro [...] é escutando bem que me preparo para melhor me colocar ou melhor me situar do ponto de vista das ideias. Como sujeito que se dá ao discurso do outro, sem preconceitos, o bom escutador fala e diz sua posição com desenvoltura (FREIRE, 2000, p. 135). Conforme o debate foi esquentando, surgiram exemplos de situações vividas, por algumas das participantes, que traduzem o papel do Agente Comunitário de Saúde. Exemplos em que a escuta foi essencial para o estabelecimento do vínculo e de uma relação de confiança mútua, bem como algumas falas que refletem a satisfação com o seu trabalho ao sentirem-se úteis na vida de alguém. [...]. Eu tenho outra senhora, a primeira vez que eu fui à área aqui, eu fui lá embaixo, no final da rua [...] na casa 15 tinha uma senhora na porta, uma senhora bem de idade, 76 anos. E eu fui lá falar com ela [...] ela estava debruçada e eu cheguei até ela e disse: Bom dia senhora! Ela falou assim: “Bom dia! Ué, gente nova no pedaço”? Eu digo: É, eu estou no lugar da Beltrana. Aí ela pegou e falou assim: Quer entrar? Eu digo: Não senhora! Eu só vim lhe conhecer [...]. Aí ela pegou e falou assim: Entra! Sentamos na escada da casa dela, estava o tempo meio “chuviscoso”. A primeira pergunta que aquela mulher me fez foi a seguinte. Ela disse assim pra mim: Como é seu nome? Eu digo: O meu nome é “Fulana”. “Fulana” eu vou lhe fazer uma pergunta: Eu tenho 76 anos, eu estou no final da minha vida, eu quero perguntar para você o que é que a gente encontra do outro lado da vida, quando a gente morre? Eu disse: Misericórdia! Eu cá comigo, aqui dentro. Eu digo: Meu Deus! O que eu vou responder para ela? Eu digo: Olha dona Fulana é o seguinte [...] nesse momento eu não vou lhe responder. A senhora tem bíblia? Ela falou assim: tenho! Então a senhora vai pegar a sua bíblia, a senhora vai começar a ler a sua bíblia desde o primeiro capítulo de gênesis e daqui a 15 dias eu vou me preparar e vou vir lhe trazer esta resposta [...] porque, realmente, a senhora me pegou de surpresa! Quinze dias depois eu voltei. Eu fiquei lá na casa daquela mulher das 09h15min da manhã ao meio dia e meio, conversando com ela. Essa mulher chorava igual criança pequena. Hoje, eu tenho aquela senhora, meu Deus! Como minha avó! Foi uma pessoa assim que eu aprendi a amar, aprendi a gostar. E é uma pessoa totalmente carente! Eu, de verdade, eu gostaria que quando eu estivesse nessa situação, nessa idade, que alguém falasse, conversasse comigo, me desse uma atenção. Que Deus está me dando sabedoria para dar para esse povo, com certeza! Porque tem muita gente aí fora, nas nossas áreas... Tem pessoas chatas! Tem pessoas que dá vontade de você pegar e... Muitas coisas nós temos que engolir, mas tem pessoas que realmente precisam de uma palavra amiga, de um abraço, de um carinho, de um beijo. Vale muito mais do que uma consulta e um medicamento, é a atenção! (P12). Neste exemplo fica bem clara a atenção com que a ACS dispensou à pessoa e o fato de voltar, pela segunda vez consecutiva, no mesmo mês, demonstrou a 82 atenção e importância que deu a conversa da senhora, fatores fundamentais na escuta qualificada. Durante os debates procurei me deter no papel de mediadora, o que exigiu um esforço particular no sentido de não interferir nas “verdades” do grupo, uma vez que essa foi minha primeira experiência com a metodologia problematizadora. O exercício de mediação possibilita ao pesquisador-educador aprender enquanto educa o que contribui para a elaboração de uma nova forma de ver o mundo e suas infinitas possibilidades. De acordo com Andaló (2006) mediações são processos facilitadores, que possibilitam ao indivíduo apreender o mundo que o cerca em seus significados. Na sequencia foi oferecido um lanche, enquanto eu preparava o retroprojetor para dar sequência aos trabalhos. Decorrido o intervalo, retomei a questão do “saber ouvir” trazendo para o círculo algumas das falas dos participantes que foram gravadas e transcritas para que fizessem um exercício de “ouvir o que foi falado”, como um instrumento de releitura coletiva da realidade social onde se vive e se trabalha. Através desse exercício foi possível resgatar nas falas: as concepções do grupo sobre saúde/doença, que foi relacionada com fatores sociais; foi observado que o conceito de Promoção confunde-se ainda ao de Prevenção; a percepção das ACS sobre Educação Popular em Saúde ainda é entendida como palestra, “uma receita de bolo”, algo que já se leva pronto; no bairro onde vivem e trabalham o Controle Social não é efetivo e que a comunidade não está organizada e preparada para exercê-lo; foi possível discutir que, apesar das ACS não se sentirem valorizadas na sua função e que seu papel nem sempre é entendido pela comunidade, muito tem sido feito, apesar de todas as dificuldades encontradas no dia a dia; muitas situações puderam ser resolvidas ou amenizadas quando a escuta foi qualificada e houve um maior comprometimento da equipe, inclusive para acionar parcerias; quando a escuta é inadequada muito pouco ou quase nada é feito, não trazendo nenhum benefício às famílias atendidas; a falta de comprometimento e de preparo dos profissionais da ESF interfere na qualidade do atendimento prestado; falta de planejamento das equipes para prestar um atendimento de melhor qualidade; considerando que a assistência pressupõe uma ação educativa, faz-se necessário a criação de ambientes favoráveis que possibilitem a reflexão, a 83 ressignificação do cotidiano e a tentativa de construir novas práticas e conhecimentos. O último encontro ocorreu dia 11 de janeiro de 2012 quando iniciei os trabalhos fazendo uma retomada de tudo o que foi discutido ao longo das três primeiras oficinas. Foram relembrados os conceitos de Saúde, Promoção e Educação Popular em Saúde. Ao final foram exibidos alguns slides com um agrupamento de figuras mostrando a diversidade cultural do povo brasileiro, fazendo menção às crenças, às origens, às práticas esportivas, o cuidado com a natureza e com o planeta, as festas típicas de cada região, o incentivo à alimentação saudável e as diferenças raciais. Nesse momento houve algumas intervenções por parte dos participantes, pois alguns desconheciam algumas das festas típicas que foram mostradas, como o Festival de Parintins na Amazônia, onde o Boi Garantido e o Boi Caprichoso foram confundidos com o Bumba meu Boi. Tão logo se encerraram as discussões solicitei para que o grande grupo se dividisse em dois pequenos grupos e com o auxílio de revistas cada grupo recortasse figuras e procurasse montar um conceito do que ficou entendido como Promoção e Educação Popular em Saúde. Para tanto solicitei que cada grupo elegesse uma ou duas relatoras para explanar sobre o tema proposto. Para a respectiva dinâmica foi determinado 30 minutos para a execução. A referida dinâmica transcorreu num clima descontraído, todas buscavam figuras relativas ao tema proposto, faziam sugestões para as colegas e trocavam entre si as revistas e demais materiais ofertados. A pesquisadora esteve sempre presente em ambos os grupos, acompanhando de perto o trabalho de construção dos cartazes e as discussões de cada grupo. Depois de decorrido o tempo estipulado deu-se início a apresentação dos grupos. No momento da apresentação houve certo nervosismo por parte das relatoras, o que foi logo superado com o apoio e o incentivo da pesquisadora e o restante do grupo. Trago aqui algumas falas que considero importantes: Grupo 1: [...] promoção seria: ter saúde, amor, dinheiro, harmonia em casa, equilíbrio emocional, trabalho coletivo, esporte, moradia, alimentação, lazer, religião, lutar por melhorias na assistência à saúde (em busca de soluções) e a comunidade unida (a luta é do povo). [...] segundo o que discutimos no grupo sobre educação popular o que chegou mais próximo do nosso entendimento seria [...] Saber que pode fazer a 84 diferença, cada um com as suas ideias, seus limites. Religião, felicidade, cultura, isso faz parte da Educação Popular em Saúde (P9). Figura 3 - Grupo 1 – “O que entendemos por Promoção/Educação Popular em Saúde” Fonte: A autora (2012) Grupo 2: [...] a Promoção em Saúde ela não é só médico, remédio e consulta. Precisa ter alguma coisa a mais. Como é que a pessoa vai melhorar, vai ter saúde se ela tem uma condição financeira “zero”, se ela não tem uma boa alimentação, se ela não tem condições de praticar um exercício, seja porque só tem academia paga. Agora a gente tem aqui (se referindo à Academia Popular). Tem outros lugares que não tem. [...] a pessoa sem lazer também não tem saúde. Tudo isso que está aqui engloba Promoção à Saúde: o lazer, uma boa casa que propicie boas condições para ela viver. Aqui, tem uma mulher com uma criança pedindo esmola. Não adianta você tirar uma pessoa dessas daqui da rua e trazer na Unidade pra consultar, dar um remédio, dar uma receita e ela voltar para a mesma situação. Amanhã ela vai estar com o mesmo problema (P8). [...] Ela precisa ter toda uma estrutura voltada para ela! [...] Acesso também ao transporte, ao trabalho [...] Aqui eu tenho um autoexame de mama, que sempre está na mídia. Isso aqui é uma Promoção à Saúde também. O acesso a preservativo é 85 uma Promoção à Saúde. A gente escreveu aqui que também Promoção à Saúde quer dizer acesso ao atendimento, consultas, exames, escuta e resolutividade (P8). Figura 4 - Grupo 2 – “O que entendemos por Promoção/Educação Popular em Saúde” Fonte: A autora (2012) Após a apresentação dos grupos (Figuras 3 e 4) foi feito um breve intervalo para um café. Na sequencia foi solicitado para os presentes que sugerissem propostas de ações voltadas à Promoção tendo como eixo estruturante a Educação Popular em Saúde. Foram elencados os seguintes temas: gravidez na adolescência, saúde do homem, violência contra a mulher, criação de um Conselho Local de 86 Saúde, a necessidade de otimizar o espaço das escolas municipais oferecendo cursos técnicos à noite para a comunidade, escola aberta nos finais de semana para oferecer cursos e atividades esportivas aos jovens, estabelecer parcerias com os setores públicos e privados que viabilizassem o desenvolvimento de todas essas atividades. Uma grande dificuldade que as ACS referem diz respeito ao espaço físico para a realização de atividades com a comunidade, fora da unidade básica. Embora se tenha a Igreja ao lado da unidade, seu salão é reservado para atividades de artesanato e aulas de eucaristia o que reduz a disponibilidade de dias e horários. O mesmo ocorre com o Centro de Múltiplo Uso, que atende a população idosa. Como são quatro equipes e todas necessitam desses espaços os momentos para desenvolver tais atividades acabam sendo insuficientes. O espaço das escolas e creches é de melhor acesso, já que as atividades são realizadas em horários de funcionamento das mesmas. 87 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A ESF é uma proposta voltada para o desenvolvimento local uma vez que prioriza as capacidades endógenas da população, incentiva a participação popular, facilita o acesso ao conhecimento, auxilia na mobilização e no fortalecimento da comunidade em prol da melhoria de sua qualidade de vida. Dentro deste contexto, o ACS pode ser uma peça chave que auxilia a comunidade a se organizar e a tomar para si a responsabilidade pelo seu desenvolvimento. No entanto, para que isso ocorra depende de como os ACS se apropriam de sua identidade, da forma como ocorre a prática na realidade, bem como a forma com que foram capacitados. O presente trabalho, através da Metodologia Problematizadora de Paulo Freire buscou discutir e refletir as concepções e práticas de Promoção da Saúde desenvolvidas pelos ACS e sua ligação com a Educação Popular em Saúde. Durante as oficinas o debate em torno do tema proposto foi muito interessante e recheado de exemplos oriundos de experiências vivenciadas no cotidiano do trabalho das ACS. Entretanto, os resultados ora apresentados não pretendem ser exaustivos e tem como objetivo principal estimular debates semelhantes por parte daqueles que venham a utilizar a referida metodologia. Percebi que as ACS se sentiram acolhidas na primeira oficina, onde o entrosamento foi excelente possibilitando a inclusão de todas no grupo, que permaneceu coeso até o final dos trabalhos. Considero este um aspecto fundamental ao se trabalhar em educação, ou seja, o sujeito com quem me relaciono deve sentir-se confiante e incluído no que vou propor para que efetivamente aja como sujeito capaz de tornar-se melhor. Foi possível observar nas falas conflitos, contradições, despreparo e desconhecimento quando o assunto é Promoção e Educação Popular em Saúde. Promoção que segue sendo confundida com a Prevenção ou mesmo com a concepção de saúde/doença. Ao final, embora tenha sido discutido o conceito de Promoção, não ficou muito claro para alguns participantes que a Promoção da Saúde não concerne exclusivamente ao setor sanitário, que saúde é um direito a ser conquistado e não se dá de igual forma para todos, dependo do estrato que pertencem. 88 A definição de Promoção da Saúde expressa na Carta de Ottawa (BRASIL, 2002a) chama atenção para o almejado protagonismo das pessoas e a necessidade de que desenvolvam a habilidade e o poder de atuar em benefício da própria qualidade de vida, enquanto sujeitos e/ou comunidades ativas. Ou seja, ela exige que profissionais e comunidade se tornem protagonistas de um processo de mudança que visa o bem comum. Para tanto, as ações sobre a determinação da saúde demandam uma composição inter e intra-setorial, de forma a ampliar a consciência sanitária. Sendo assim, há de se mudar drasticamente os padrões econômicos no interior da sociedade e intensificar as políticas sociais para que haja um impacto positivo na qualidade de vida das pessoas. Promoção tem a ver com a atitude em todo o cuidado de saúde, com toda a assistência desde a forma como acolho este usuário até a sua passagem por outros serviços de saúde e finalmente a resolução de seu problema de forma efetiva e o mais rápido possível. Em suas práticas as ACS demonstram a importância que dão ao acolhimento do usuário. Porém suas práticas de escuta precisam ser repensadas. Pude observar que o conceito de Educação Popular foi ainda mais difícil de discutir, uma vez que a Educação Popular em Saúde é ainda entendida e confundida com palestras prontas, sem nenhum enfoque crítico que permita a reflexão sobre o conteúdo a ser falado. O modelo de educação bancária ainda persiste, perpetuando a alienação nos modos de entender e fazer saúde, servindo como um instrumento de dominação da população por sua característica autoritária e coercitiva, o que foi verificado nas falas de algumas ACS. Isto se torna mais forte na medida que observamos que são os próprios profissionais de saúde que mantêem e acreditam em tais práticas. Em contraponto a Educação Popular tem como mote formar sujeitos com conhecimento e consciência cidadã e organizar o trabalho político para a afirmação do sujeito. “A conscientização é uma das fundamentais tarefas de uma educação realmente libertadora e por isso respeitadora do homem como pessoa” (FREIRE; NOGUEIRA, 2002, p. 45). Desta discussão surgiu a reflexão acerca das propostas educativas realizadas pela ESF, onde muitas têm ficado no âmbito das intenções, sem que de fato haja um impacto positivo na vida das pessoas. Por outro lado, quando colocadas em prática, são desenvolvidas de modo intuitivo sem a preocupação de criar espaços para o diálogo com os atores envolvidos, desmerecendo-os como sujeitos de sua própria história. Há ainda muita confusão entre o modelo de saúde tradicional e o modelo 89 atual, o que ficou evidenciado na conduta prescritiva dos profissionais de saúde durante as dramatizações. A consequente especialização desnecessária foi verificada nos debates que seguiram as dramatizações, quando alguns participantes do grupo sugerem a existência de especialistas na área de Saúde Mental para o atendimento da população nas Unidades Básicas de Saúde. Uma das dificuldades encontradas é a questão da medicalização e a consequente culpabilização da vítima. São consequências autoritárias do modelo biomédico que se chocam com uma Educação em Saúde e a Promoção da Saúde emancipatórias. Outro ponto fraco encontrado é o trabalho em equipe que se encontra fragilizado pela falta de estímulo/compromisso de seus integrantes. É importante que a equipe esteja disposta a compartilhar objetivos, decisões, responsabilidades e resultados. É preciso ter clareza dos objetivos, discutir um plano de trabalho em que todos possam estar incluídos, aprimorar as relações interpessoais e a escuta. Não menos importante seria o responsabilizar-se democrática e solidariamente pelos resultados, quer sejam positivos ou negativos. No entanto, o que ficou evidenciado nas dramatizações e nas falas das ACS foi a falta de uma programação durante as visitas domiciliares. Como potencialidades verificaram-se: a possibilidade de se trabalhar com os adolescentes, buscando alternativas para que tenham uma ocupação; a escuta das ACS que apesar de não se apropriarem dela, ainda sim existe e deve ser trabalhada. Ao final aponto que a reflexão ou os fez perceber ou os fez confirmar de que a situação social interfere na saúde-doença. Aplicar o método da problematização proposto por Freire pode oferecer um caminho diferente de educar, pois considera o outro no seu fazer e pensar e tem relação com a Educação permanente proposta pelo Ministério da Saúde. A proposta de Freire tem a ver com nossa própria vivência: a de profissionais que durante toda a sua vida estão e estiveram expostos a uma atitude autoritária e não experimentaram a participação. Foi complicado separar as etapas propostas por Freire, ainda que na discussão. Na prática as etapas, principalmente a codificação e decodificação se interpenetravam de tal maneira que ficaria difícil descrevê-las em separado. Assim é que em vários momentos da prática proposta me encontrei com meus próprios fantasmas autoritários e tive que reaprender outra forma de me colocar frente aos ACS. 90 Quando questionados quanto à prática em Promoção e Educação surgiram os seguintes temas geradores: relação com o usuário, o trabalho do ACS não é valorizado, o ACS tem uma escuta, mas não a reconhece, a medicalização, a culpabilização da vítima, falta de um trabalho em equipe, os ACS não são ouvidos pela equipe. Como codificação, vimos que não é possível fazer promoção nas atuais práticas de saúde, a relação de controle com o usuário e a escuta que se evidencia de formas diferentes entre os ACS. Quanto às decodificações foi possível fazê-las no momento em que problematizei as práticas e concepções das participantes, outras, quando como pesquisadora, tomei contato com o que as ACS trouxeram, como: práticas muito medicalizadas que denotam uma saúde somente ligada ao biológico; trabalho não é em equipe, pouca valorização dos espaços de troca, pouca valorização do ouvir (ouvir relacionado a não julgar, não falar tanto deixando o outro se colocar, valorizar o que o outro traz e deixá-lo falar mais). Nos desvelamentos pude perceber que para os ACS saúde tem a ver com o modo de andar a vida, que eles possuem uma escuta, mas que é preciso valorizar e qualificar mais o que já fazem e por fim, trouxeram ideias de como trabalhar Promoção e Educação para além da área da saúde. O próprio fato de possibilitar aos ACS se expressarem, trocar opiniões, ter alguém que escutasse suas falas, pode ter valorizado suas práticas. Sugere-se que o estudo seja ampliado para as demais equipes de Saúde da Família, contribuindo desenvolvimento para de atividades ações mais para melhoria eficazes do no serviço, planejamento e respeitando as características individuais de cada realidade social e principalmente proporcionando aos trabalhadores a oportunidade de experimentarem uma metodologia participativa. Assim como um estudo que possibilite criar uma tecnologia a partir dessa prática. 91 REFERÊNCIAS ALVES, V. S. Um modelo de educação em saúde para o Programa Saúde da Família: pela integralidade da atenção e reorientação do modelo assistencial. Comunicação, Saúde, Educação, v. 9, n. 16, p. 39-52, set./2004 - /fev./2005. ALVIN, N. A. T.; FERREIRA, M. A. Perspectiva problematizadora de educação popular em saúde e a enfermagem. Texto & Contexto Enfermagem, Florianópolis, v. 16, n. 2, p. 315-319. abr./jun. 2007. ANDALÓ, C. Mediação grupal: uma leitura histórico-cultural. São Paulo: Agora, 2006. ARIOLI, I. G. S. 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São Paulo/Rio de Janeiro: Hucitec-Fiocruz, 2006. p. 635-67. 99 WHO. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Bangkok Charter for Health Promotion. Thailand, 2005. ______. ______. 7 th Global Conference on Health Promotion. Nairobi, Kenya, 2010. REFERÊNCIAS CONSULTADAS BRANDÃO, C. R. Lutar com a palavra: escritos sobre o trabalho do educador. Rio de Janeiro: Graal, 1982. CARVALHO, A. I. Da saúde pública às políticas saudáveis: saúde e cidadania na pós-modernidade. Ciência e Saúde Coletiva, v. 1, n. 1, p. 104-121, 1996. CZERESNIA, D.; FREITAS, C. M. Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendência. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003. FERRAZ, S. T. Bases conceituais de promoção da saúde. Brasília, DF: OPS, 1993. (mimeo). MINAYO, M. C. S. A saúde em estado de choque. Rio de Janeiro: FASE, 1992. OLIVEIRA, R. D. Reengenharia do tempo. Rio de Janeiro: Rocco, 2003. SCLIAR, M. História do conceito de saúde. PHYSIS: Rev.Saúde Coletiva, v. 17, n. 1, p. 29-41, 2007. VASCONCELOS, E. M. Educação popular e a atenção à saúde da família. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 2006. 100 APÊNDICES 101 APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Gostaria de convidá-lo para participar em um trabalho acadêmico intitulado “PROMOÇÃO DA SAÚDE: Problematizando a prática do Agente Comunitário de Saúde”. Este tem por objetivo discutir e refletir as concepções e práticas de Promoção da Saúde desenvolvidas pelos ACS, da UBS do Rio Bonito, e sua ligação com a Educação Popular em Saúde, com vistas à elaboração de propostas de ações para a comunidade assistida. Para isto, serão realizados cinco encontros com os ACS que aceitarem participar da pesquisa, utilizando a metodologia problematizadora de Paulo Freire. Os dados obtidos serão sigilosos, assegurando o anonimato dos participantes e utilizados somente para os devidos fins da pesquisa. Quanto aos aspectos éticos, gostaria de informar que: a) Seus dados pessoais serão mantidos em sigilo, sendo garantido o seu anonimato. b) Os resultados deste trabalho serão utilizados somente com finalidade acadêmica, podendo ser divulgado em publicações científicas. c) A aceitação não implica que estará obrigado(a) a participar, podendo interromper sua participação em qualquer momento mesmo que já tenha iniciado, bastando, para tanto, comunicar aos responsáveis pela pesquisa. d) Você não terá direito à remuneração pela sua participação, ela é voluntária. e) Este trabalho é de cunho acadêmico e não visa intervenção imediata. f) Será realizada a devolutiva dos resultados em uma data marcada na instituição para a discussão dos achados nesta pesquisa. g) Durante a participação, se tiver alguma reclamação, do ponto de vista ético, você poderá contatar o responsável por este trabalho. 102 APÊNDICE B - Consentimento de Participação do Sujeito CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DO SUJEITO Eu, ______________________________________________,RG_________________CPF ___________________ abaixo assinado, concordo em participar do presente estudo como sujeito. Fui devidamente informado e esclarecido sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento. Local e data: __________________________________________________ Nome: _______________________________________________________ Assinatura do Sujeito ou Responsável: _____________________________________________________________ Telefone para contato:___________________________________________ Pesquisador Responsável: Profa. Dra. Águeda Wendhausen E-mail: [email protected] Telefone (s): 47 3341 7932 Assinatura: _______________________________________ Acadêmico: Silvana Corrêa de Barros Lampert E-mail: [email protected] Telefone (s): 47 9650 5150 Assinatura:________________________________________ 103 ANEXOS 104 ANEXO A – Atribuições do Comitê Gestor da PMPS Atribuições do Comitê Gestor da Política Nacional de Promoção da Saúde: • Consolidar a proposta da PNPS e de sua Agenda Nacional. • Coordenar a implantação da PNPS e articulação com demais setores governamentais e não-governamentais. • Incentivar Estados e Municípios para elaborar Planos de PS; articular e integrar ações de PS no SUS. • Monitorar e avaliar as estratégias de implementação da PNPS e seu impacto. 105 ANEXO B - Objetivos e Estratégias da Agenda Nacional OBJETIVO 1 Estimular e contribuir na elaboração de políticas, estratégias e ações integradas e intersetoriais que ampliem o acesso aos modos de viver mais favoráveis à saúde e à qualidade de vida e fortaleçam as ações de prevenção e controle de doenças e agravos não transmissíveis (DANT) e transmissíveis (DT). ESTRATÉGIA 1 ESTRATÉGIA 2 ESTRATÉGIA 3 ESTRATÉGIA 4 ESTRATÉGIA 5 ESTRATÉGIA 6 Implantação das recomendações da Estratégia Global de Alimentação Saudável e Atividade Física no país. Estimular a alimentação saudável na perspectiva da segurança alimentar e nutricional contribuindo com as Metas do Milênio para garantir o direito humano à alimentação adequada e com a implementação da Estratégia Global. Estimular a prática de atividade física e de lazer em consonância com a implementação da Estratégia Global. Controlar e reduzir o consumo do tabaco, álcool e outras drogas. Reduzir a carga de morbimortalidade decorrente dos agravos por causas externas – acidentes de trânsito e violências. Ampliar e fortalecer as ações de prevenção e controle das doenças de notificação compulsória e outras de interesse de saúde pública, conforme o perfil epidemiológico loco-regional. OBJETIVO 2 Definir mecanismos e instrumentos para o monitoramento, acompanhamento e avaliação das estratégias de promoção da saúde e a vigilância de doenças e agravos não transmissíveis (DANT) no Brasil. ESTRATÉGIA 1 Fomentar e realizar ações de monitoramento, acompanhamento e avaliação das estratégias de promoção da saúde e a vigilância da DANT. 106 OBJETIVO 3 Fomentar e desenvolver estudos e pesquisas para a produção de conhecimentos, evidências e práticas no campo da promoção da saúde e doenças e agravos não transmissíveis. ESTRATÉGIA 1 Contribuir para a produção de conhecimentos, evidências e práticas na área de promoção da saúde e doenças e agravos não transmissíveis (DANT). OBJETIVO 4 Sensibilizar e qualificar gestores, profissionais e usuários de saúde quanto à promoção da saúde, vigilância e prevenção de DANT. ESTRATÉGIA 1 ESTRATÉGIA 2 Promover a educação permanente em saúde quanto à promoção da saúde, vigilância e prevenção de DANT. Estimular e implantar práticas de co-gestão dos processos de trabalho em saúde, qualificando gestores, profissionais e usuários do SUS para o trabalho intersetorial e interdisciplinar no cotidiano da gestão, da atenção e do controle social dos serviços. OBJETIVO 5 Favorecer a preservação do meio ambiente e a promoção de entornos e ambientes mais seguros e saudáveis. ESTRATÉGIA 1 ESTRATÉGIA 2 Fortalecer a área de vigilância ambiental em saúde no SUS. Implementar projetos nas esferas federal, estadual e municipal que visem à criação de entornos e ambientes saudáveis. OBJETIVO 6 Superar a fragmentação das ações e aumentar a efetividade e eficiência das políticas específicas do setor sanitário mediante o fortalecimento da promoção da 107 saúde como eixo integrador/articulador das agendas dos serviços de saúde e a formulação de políticas públicas saudáveis. ESTRATÉGIA 1 ESTRATÉGIA 2 ESTRATÉGIA 3 Estimular e constituir espaços de planejamento e tomada de decisão colegiada (intra e intersetorial) visando à formulação de políticas públicas saudáveis. Sensibilizar e pactuar estratégias de promoção da saúde nas várias instâncias do SUS. Ampliar a relação dos serviços de saúde com os territórios em que se localizam e os demais equipamentos públicos nele existentes. 108 APÊNDICE C – Normas da Revista Trabalho, Educação e Saúde Pública para preparo de manuscritos Trabalho, Educação e Saúde publica contribuições originais com o intuito de desenvolver o estudo sobre temas relacionados à educação profissional em saúde. A política editorial da revista consiste em discutir esta área sob a ótica da organização do mundo do trabalho, de uma perspectiva crítica, sistemática e interdisciplinar. Antes de fazer a submissão de um manuscrito, recomenda-se a leitura e o atendimento das normas para publicação. A revista aceita contribuições inéditas dos seguintes tipos: Ensaios - Produção textual de amplo alcance teórico-analítico, não conclusivo e não exaustivo. Tamanho: 6.000 a 10.000 palavras, incluindo referências bibliográficas, figuras e notas. Artigos - Apresentação de resultado de pesquisa de natureza empírica ou conceitual em consonância com a linha editorial da revista. Tamanho: 4.000 a 8.000 palavras, incluindo referências bibliográficas, figuras e notas. Debates - Discussão sobre temas específicos, tanto encomendados pelos editores a dois ou mais autores, quanto advindos de colaboradores. Tamanho: até 5.000 palavras, incluindo referências bibliográficas, figuras e notas. Relatos - Descrição de experiências que apresentem inovações relativas aos campos temáticos da revista. Tamanho: 3.000 a 5.000 palavras, incluindo referências bibliográficas e figuras. Entrevistas - Opinião ou posição de entrevistado qualificado nas áreas de conhecimento da revista. Resenhas - Crítica de livro relacionado aos campos de confluência da revista, publicado ou traduzido nos últimos três anos. Tamanho: até 1.500 palavras. Apresentação do manuscrito Colaborações devem ser digitadas no Word, na fonte Times New Roman, em corpo 12, em espaço duplo, e enviadas para o endereço da revista, em duas cópias impressas numeradas e uma cópia em CD ou DVD. O manuscrito deve ser enviado com uma folha de rosto, onde constarão as seguintes informações: título com até 100 caracteres, incluindo espaços; nome(s) do(s) autor(es) e da(s) respectiva(s) instituição(ões) por extenso; endereço para correspondência e telefones do primeiro autor; nota biográfica com dados profissionais (cargo, filiação institucional, titulação, cidade e país) e e-mail do(s) autor(es). Artigos, ensaios, debates e relatos devem 109 ainda conter um resumo em português e em inglês (abstract) de, no máximo, 200 palavras, e título em inglês, além do título na língua original. Os manuscritos podem ser apresentados em português, espanhol, inglês e francês. O título deve ser conciso e representativo do conteúdo do texto. O(s) autor(es) deve(m) indicar se a pesquisa é financiada, se é resultado de dissertação de mestrado ou tese de doutorado, se foi aprovada por Comitê de Ética da área e se há conflitos de interesse. Em texto com dois ou mais autores, logo após as notas de fim, devem vir especificadas, de forma sucinta, as responsabilidades de cada autor na preparação do manuscrito. Palavras-chave - Mínimo de três e máximo de cinco palavras-chave descritoras do conteúdo do trabalho, apresentadas na língua original e em inglês (keywords). Figuras - Tabelas, quadros, diagramas, fotografias, gráficos e ilustrações devem ser apresentados em arquivos separados, com instruções sobre o local em que devem aparecer no texto. As referências devem ser feitas através de números (ex. Gráfico 3) e não por expressões como “a figura abaixo”. O número de figuras não deve ultrapassar o máximo de seis por artigo, salvo exceções específicas ao campo temático do manuscrito, caso em que o autor deverá manter uma comunicação prévia com os editores. Todas as figuras, com exceção de fotografias, devem ser numeradas e ter título, estando apenas as iniciais do título em maiúsculas. Notas - As notas devem vir ao fim do texto, sucintas e numeradas de forma consecutiva. Não devem ser utilizadas para referências bibliográficas. Grifos - Solicita-se a não utilização de sublinhados e negritos. As aspas simples podem ser usadas para chamar a atenção para um item particular do texto. Palavras de outras línguas, que não o português, devem ser italicizadas, assim como títulos de obras mencionadas. Citações - Citação no corpo do texto deve vir marcada com aspas duplas, com sobrenome do autor, ano e página, como no exemplo (Bourdieu, 1983, p. 126); citação com autor incluído no texto deve vir Gramsci (1982); citação com autor não incluído no texto será (Frigotto e Ciavatta, 2001). No caso de citação com mais de três autores, somente o sobrenome do primeiro deverá aparecer no texto, como em Spink et al. (2001). Se a citação exceder três linhas, deverá vir com recuo à esquerda equivalente a um parágrafo, em corpo 11. Referências - Para elaboração das referências, Trabalho, Educação e Saúde adota a norma NBR 6023, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Todas as referências citadas, inclusive nas notas, nos quadros e nas figuras, deverão compor as referências bibliográficas ao fim do texto, em ordem alfabética, sem numeração de entrada, e um espaço entre elas. Nas referências serão citados, no máximo, até três autores com todos os nomes. No caso de mais de três autores, citar apenas o 110 primeiro, seguido da expressão et al. Diferentes títulos de um mesmo autor, publicados no mesmo ano, deverão ser distinguidos, adicionando-se uma letra em minúscula após a data (ex. 2010a, 2010b), tanto nas citações no corpo do texto quanto na lista de referências bibliográficas. Observem-se os exemplos a seguir: Artigo AROUCA, Antônio Sergio. Quanto vale a saúde dos trabalhadores. Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v. 8, n. 3, p. 243-265, dez. 1995-mar. 1996. SPINK, Mary J. P. et al. A construção da Aids-notícia. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 17, n. 4, p. 851-862, 2001. Livro e tese GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. 4. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982. MENDES-GONÇALVES, Ricardo Bruno. Medicina e história: raízes sociais do trabalho do médico. Dissertação (Mestrado) - São Paulo, Faculdade de Medicina, USP, 1979. Capítulo de livro BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In: ORTIZ, Renato (Org.). Pierre Bourdieu: sociologia. São Paulo:Ática, 1983. p. 122-155. Resumo de congressos LAURELL, Asa Cristina. O Estado e a garantia do direito à saúde. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE SAÚDE COLETIVA, 8., 2006, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: Abrasco, 2006. 1 CD-ROM. Dados fornecidos por agências governamentais (Secretarias, Ministérios, IBGE etc.) RIO DE JANEIRO. Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS-RJ). Dados sobre acidentes ocupacionais com material biológico. Rio de Janeiro: Programa de DST-Aids/Coordenação de Doenças Transmissíveis/Superintendência de Saúde Coletiva - SMS-RJ, 2000. Leis, decretos, portarias etc. BRASIL. Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Seção I, p. 27.839. Relatórios técnicos BRASIL. Ministério da Saúde. Ministério da Educação. Referencial curricular para curso técnico de agente comunitário de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. 64 p. (Série A. Normas e manuais técnicos) 111 Relatórios de atividades ou finais de reuniões BRASIL. Ministério da Saúde. Relatório final das atividades. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 1999. Jornal a. Sem indicação de autoria: O GLOBO. Fórum de debates discute o projeto Educando o Cidadão do Futuro. O Globo, Rio de Janeiro, 6 jul. 2001. Caderno 1, p. 18. b. Com autoria: TOURAINE, Alan. Uma resistência possível. Folha de S. Paulo, São Paulo, 3 jul. 2001. Mais, Caderno 7, p. 18-20. Internet a. Texto em periódico eletrônico: SANTOS, Milton. Entrevista por José C. Leite. São Paulo, 1999. Teoria e Debate, 40. Disponível em: . Acesso em: 12 jul. 2001. b. Texto em jornal eletrônico: NAHMIAS, Michèle. Dans le pays en développement, l’évaluation des risques laisse à désirer. Le Monde, Paris, 2 jul. 2002. Disponível em: http://www.lemonde.fr/recherche - resultts/1.9687,0.html. Acesso em: 21 jul. 2002. c. Texto disponível (fora de revista ou jornal): BRASIL. Ministério da Educação. Educação profissional: referenciais curriculares nacionais da educação profissional de ensino técnico - área Saúde, 2000. Disponível em: . Acesso em: 4 mar. 2002. CD-ROM BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema de informação sobre mortalidade - 1979 a 1996. Brasília, 1997. 1 CD-ROM. Revisão A revista se reserva o direito de sugerir alterações em usos informais da língua e de corrigir variantes não padrão do português. Avaliação As contribuições encaminhadas à revista são, primeiramente, avaliadas pelos editores, que julgam a adequação temática do texto à linha editorial da publicação e, posteriormente, por até três pareceristas ad hoc. Nomes dos autores e avaliadores de cada original são de conhecimento exclusivo dos editores. Os originais apresentados à Trabalho, Educação e Saúde não devem ter sido publicados e não devem ser submetidos simultaneamente a outra revista. Originais submetidos à revista não devem, sob hipótese alguma, ser retirados depois de iniciado o processo de avaliação. Direitos autorais Exceto nos casos em que está indicado o contrário, ficam concedidos à revista os direitos autorais referentes aos trabalhos publicados, que não podem ser reproduzidos, sem a autorização expressa dos editores, em forma idêntica, resumida ou modificada, em português ou qualquer outro idioma. Os colaboradores manterão o direito de reutilizar o material publicado em futuras coletâneas de sua obra sem o pagamento de taxas à revista. A permissão para reedição ou tradução por terceiros do material publicado não será feita sem o consentimento do autor. A revista não se 112 obriga a devolver os originais das colaborações enviadas. Os textos assinados são de responsabilidade dos autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores e dos membros do Conselho Editorial da revista. Benefício dos autores Após a publicação, os autores recebem dois exemplares do número da revista no qual o texto foi publicado. Endereço para envio Os manuscritos devem ser enviados para os editores da revista: Revista Trabalho, Educação e Saúde Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio/Fiocruz Avenida Brasil, 4.365 – Manguinhos CEP 21040-360 – Rio de Janeiro – RJ - Brasil Para maiores informações, consultar os editores: [email protected]