FACULDADE BOA VIAGEM CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO EMPRESARIAL Francineide Maria de Lima Silva PERCEPÇÕES DE PROFISSIONAIS DE ORGANIZAÇÕES PRIVADAS E DE GRANDE PORTE NO BRASIL, SOBRE OS PAPÉIS DA ÁREA DE RECURSOS HUMANOS Recife 2011 Francineide Maria de Lima Silva PERCEPÇÕES DE PROFISSIONAIS DE ORGANIZAÇÕES PRIVADAS E DE GRANDE PORTE NO BRASIL, SOBRE OS PAPÉIS DA ÁREA DE RECURSOS HUMANOS Dissertação apresentada ao Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração da Faculdade Boa Viagem, como requisito complementar para obtenção do título de Mestre em Gestão Empresarial. Orientadora: Professora Lúcia Maria Barbosa de Oliveira, Ph.D. Recife 2011 Silva, Francineide Maria de Lima Percepções de profissionais de organizações privadas e de grande porte no Brasil, sobre os papéis da área de recursos humanos / Francineide Maria de Lima Silva – Recife: O Autor, 2011. 92 folhas : figuras : quadros : tabelas: gráficos Dissertação (mestrado) – Faculdade Boa Viagem. Administração, 2011. Inclui Bibliografia e Apêndices. 1. Recursos Humanos 2. Papéis da Área de RH 3. Modelo de GRH 4. Profissionais de Organizações Privadas de Grande Porte no Brasil I.Título CDU 658 S586p FBV Esta dissertação é dedicada especialmente à minha mãe. AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar a Jesus e a Maria Santíssima que iluminaram o meu caminho e me guiaram para concluir este curso. Aos meus pais, Francisco e Neuza Lima, pela dedicação em todos os momentos da minha vida. Ao meu marido, Esdras Silva, pelo apoio incondicional. A todos os meus familiares. À minha orientadora, Professora Lúcia Barbosa, pelo empenho, dedicação, apoio, paciência e compreensão ao me orientar neste estudo. À Professora Maria Auxiliadora Diniz de Sá, pela dedicação, apoio, compreensão e atenção durante o curso e na construção desta pesquisa. À Professora Mônica Gueiros, por suas valiosas sugestões e contribuições durante a avaliação do projeto. À Professora Sônia Calado, por sua atenção, disponibilidade e apoio para que fosse possível a realização da coleta dos dados desta pesquisa. Ao Colegiado do Mestrado da Faculdade Boa Viagem, pela atenção. A você Albina Simões, pelo apoio e carinho. A todos os meus amigos e amigas do mestrado, especialmente Fátima, Ilma, Rone, Marcelo, Eduardo, Tiago, Vaneska e Rilbany pelo incentivo e companheirismo durante o curso. À minha amiga e madrinha Ándria Lins pela amizade incondicional. Ao meu amigo João Manuel R. L. Aureliano, que me conduziu a este brilhante curso. Aos amigos Alcides Ferraz, Mônica Tavares, Jailson Alves, Gleydson Macedo, Rodrigo Lima e a todos os amigos e amigas pelas palavras de incentivo. E agradeço também a Springer Carrier Ltda, pelo investimento na minha formação educacional e profissional. “Grandes coisas fez o Senhor por nós; por isso, ficamos exultantes de alegria!” Salmo 125-3 RESUMO O objetivo deste estudo foi descrever e analisar como a área de recursos humanos é percebida por profissionais de organizações privadas e de grande porte no Brasil. Para tanto, utilizou-se o Modelo de Múltiplos Papéis para a Administração de RH, delineado por Ulrich (1998). Os dados foram coletados por meio de questionário, 101 no total sendo, 25 respondentes da área de RH e 76 respondentes de outras áreas organizacionais. Os dados encontrados foram tabulados através das técnicas de estatística descritiva e de análise de conteúdo. As pontuações médias dos papéis desenvolvidos pela área de RH ficaram em 138,96 pontos, segundo a percepção geral dos profissionais desta mesma área, e 109,87 pontos, com a visão global dos profissionais de outras áreas organizacionais, sendo consideradas avaliações com qualidade satisfatória e mediana, respectivamente. A maior pontuação, entre os quatro papéis delineados por Ulrich (1998) deu-se para o papel de administrador da infraestrutura organizacional, de acordo com as percepções dos profissionais de RH (38,24 pontos) e dos profissionais das demais áreas organizacionais (32,38 pontos). A menor pontuação foi para o papel de administrador da contribuição dos funcionários, de acordo com as percepções dos profissionais de RH (32,84 pontos) e de administrador da transformação e da mudança organizacional, segundo as visões dos profissionais das demais áreas organizacionais (25,41 pontos). Quanto aos achados da pesquisa, que foram colhidos através das questões abertas, eles deram apoio aos dados estatísticos encontrados, pois, foram identificados vínculos entre eles. Dessa forma, os resultados indicaram que a área de RH pode ser considerada com tendências de evolução no desenvolvimento dos seus papéis, conforme as percepções dos seus profissionais, mas, ainda encontra-se com foco de atuação voltado mais para o seu papel tradicional de administrador da infraestrutura organizacional do que para o foco de atuação para as práticas de RH, vinculadas às estratégias, transformações e mudanças organizacionais. Essa visão também é compartilhada pelos profissionais das outras áreas organizacionais. Palavras-chave: Recursos Humanos. Papéis da Área de RH. Modelo de GRH. Profissionais de Organizações Privadas e de Grande Porte no Brasil. ABSTRACT The objective of this study was to describe and analyze how the Human Resources area is perceived by the professionals of private and large organizations in Brazil. Therefore, we used the Model of Multiple Roles for HR Management, described by Ulrich (1998). The data were collected through questionnaires, 101 in total, being 25 answers in HR area and 76 answers from others organizational areas. The data was tabulated through the techniques of descriptive statistics and content analysis. The average score of the roles developed by the RH area was 138.96 points, according to the general perception of the professionals in this same area, and 109.87 points, to the overall vision of the professional from other organizational areas, which the assessments quality were considered as satisfactory and median, respectively. The highest score, among the four roles described by Ulrich (1998), was for the manager role of organizational infrastructure, according to the perceptions of HR professionals (38.24 points) and professional from other organizational areas (32.38 points). The lowest score was for administrator role of the employee contribution, according to the perceptions of HR professional (32.84 points) and the organizational transformation and change administrator, according to the views of professional from other organizational areas (25.41 points). Due the research findings, which were collected trough open questions, they gave support to the statistical data found, whereas identified links between them. Thus, the results indicated that the HR area can be considered with tendency in the role development evolution, according to the theirs professionals perception, but, also, meets the performance focus more toward to the traditional administrator role of the organizational infrastructure than the focus to the activity for HR practices, linked to the organizational strategies, transformations and changes. This view is also shared by professionals in other organizational areas. Keywords: Human Resources. Role of HR. Model of HRM. Professional of Private and Large Organizations in Brazil. LISTA DE QUADROS QUADRO 1 Integração da estratégia de RH na estratégia organizacional ............................. 25 QUADRO 2 Evolução da função de RH no Brasil .................................................................. 28 QUADRO 3 Transição dos papéis dos profissionais de RH ................................................... 30 QUADRO 4 Definição dos papéis de RH .............................................................................. 32 QUADRO 5 Modelos Normativos de GRH.............................................................................42 QUADRO 6 As Quatro Faces da GRH.....................................................................................44 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 Papéis de RH na construção de uma organização competitiva ............................ 31 FIGURA 2 Diagramação da pesquisa.......................................................................................50 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 - População da pesquisa por área de atuação profissional...................................52 GRÁFICO 2 – Sexo dos profissionais de RH e de outras áreas organizacionais.....................58 GRÁFICO 3 - Sexo dos profissionais de RH ..........................................................................59 GRÁFICO 4 - Sexo dos profissionais de outras áreas organizacionais....................................59 GRÁFICO 5 - Nível de escolaridade dos profissionais de RH................................................61 GRÁFICO 6 - Nível de escolaridade dos profissionais de outras áreas organizacionais.........62 GRÁFICO 7 - Área de atuação profissional da amostra da pesquisa.......................................63 GRÁFICO 8 - Nível hierárquico dos profissionais de RH.......................................................64 GRÁFICO 9 - Nível hierárquico dos profissionais de outras áreas organizacionais................65 GRÁFICO 10 - Pontuações obtidas para cada papel da área de RH de acordo com as percepções dos profissionais desta área organizacional...........................................................67 GRÁFICO 11 - Pontuações obtidas para cada papel de RH de acordo com as percepções dos profissionais das outras áreas organizacionais..........................................................................68 LISTA DE TABELAS TABELA 1 – Médias globais das pontuações atribuídas aos papéis dos profissionais de RH por grupo de respondentes...................................................................................................... 66 TABELA 2 - Síntese dos principais achados da pesquisa........................................................76 LISTA DE ABREVIATURAS POAO – Profissionais de outras áreas organizacionais CONARH – Congresso Nacional sobre Gestão de Pessoas AERH - Administração estratégica de recursos humanos ABRH – Associação Brasileira de Recursos Humanos SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 16 1.1 Formulação do Problema de Pesquisa..........................................................................16 1.2 Objetivos da Pesquisa .................................................................................................. 19 1.2.1 Objetivo Geral .......................................................................................................... 19 1.2.2 Objetivos Específicos............................................................................................... .19 1.3 Justificativas ............................................................................................................... 20 1.3.1 Justificativa Teórica..................................................................................................20 1.3.2 Justificativa Prática...................................................................................................21 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.................................................................................22 2.1 A Evolução Histórica da Área de RH..........................................................................22 2.2 A Evolução da Função de RH no Brasil ....................................................................27 2.3 Os Desafios para a Área de RH e o Modelo de Múltiplos Papéis para a Administração de Recursos Humanos de Ulrich (1998)......................................................................29 2.3.1 Administração de Estratégias de RH .......................................................................32 2.3.2 Administração da Infraestrutura da Organização.....................................................35 2.3.3 Administração da Contribuição dos Funcionários ...................................................36 2.3.4 Administração da Transformação e da Mudança Organizacional........................... 37 2.4 Atributos-chave referentes às Competências dos Profissionais de RH.....................39 2.5 Outros Modelos de GRH.............................................................................................41 2.5.1 Modelos Normativos de GRH..................................................................................41 2.5.2 As Quatro Faces da GRH..........................................................................................43 2.5.3 Modelo Weberiano de GRH.....................................................................................45 2.6 Percepção......................................................................................................................46 3. METODOLOGIA DA PESQUISA..............................................................................48 3.1 Delineamento da Pesquisa............................................................................................48 3.2 Locus da Pesquisa, População e Amostra.....................................................................51 3.3 Coleta dos Dados ..........................................................................................................53 3.4 Pré-teste.........................................................................................................................54 3.5 Análise e Interpretação dos Dados...............................................................................54 3.6 Limites e Limitações da Pesquisa ...............................................................................56 4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS.........................................................58 4.1 Dados Demográficos dos Respondentes .....................................................................58 4.2 Processamento dos Dados e Análises dos Resultados.................................................66 4.3 Análise do Primeiro Objetivo Específico.....................................................................68 4.4 Análise do Segundo Objetivo Específico.....................................................................70 4.5 Análise do Terceiro Objetivo Específico.....................................................................72 4.6 Análise do Quarto Objetivo Específico......................................................................74 4.7 Análise do Quinto Objetivo Específico......................................................................76 5 CONCLUSÕES...........................................................................................................78 5.1 Recomendações para trabalhos futuros........................................................................80 REFERÊNCIAS..........................................................................................................81 APÊNDICES..............................................................................................................88 1 INTRODUÇÃO A introdução apresenta o problema central, sobre o qual este estudo se desenvolveu, abrangendo a formulação do problema, a pergunta da pesquisa, o objetivo geral e os objetivos específicos, bem como as justificativas teóricas e práticas. 1.1 Formulação do Problema de Pesquisa Outro cenário se encontra presente nas organizações em todo o mundo, desde a Revolução Industrial até os dias atuais, que seja ele de ordem política, social e econômica. Sobretudo a partir do final do século XX e início do século XXI, podem-se identificar várias e contínuas mudanças nas áreas tecnológicas, sociais e nas estruturas organizacionais, buscando atender as demandas de um mercado globalizado (TROSTER, 1999; LOHÓZ, 2000). O fenômeno da globalização, que fez imperativa a competitividade, chamou a atenção do mundo organizacional quanto ao modelo de condução dos negócios, às exigências do mercado e às estratégias empresariais, as quais provocaram um profundo impacto no ambiente empresarial interno, pressionando-o para a busca de novas estratégias de gestão, do pleno exercício da criatividade, da inovação tecnológica, da rapidez da tomada de decisão e da maximização da qualidade dos serviços, assim como da valorização dos recursos humanos (ORLICKAS, 1999; DESSLER, 2003; BARBOSA, 2010). Nesse cenário, as organizações estão cada vez mais presentes nas economias dos países, promovendo riquezas e status para as sociedades a que pertencem. O ambiente, em que elas se encontram, muda e a cada dia surgem novas máquinas e softwares mais inteligentes. As mudanças ambientais determinam o aprimoramento das máquinas, equipamentos e ferramentas das organizações e estabelece também a adoção de ações significativas em relação à gestão de recursos humanos (GIL, 2001). O desenvolvimento está mais focado na valorização das pessoas, na participação destas no processo de trabalho e na qualidade de vida, promovendo maior comprometimento com a organização, gerando, através do aumento da qualidade e produtividade, a lucratividade (GIL, 2001). Nesse contexto, o fator humano passa a ser visto como estratégia fundamental para o sucesso organizacional. Por isso, deve ser tratado como parceiro da organização e reconhecido como fornecedor de conhecimento, habilidade, atitude, capacidade e inteligência, constituindo-se, assim, em capital intelectual da organização (ULRICH, 1998; ORLICHAS,1999; GIL, 2001). Desse modo, autores como Drucker (1995), Ulrich (1998), Vergara (2006), Fleury (2004), Wood Jr. (2004), Dutra (2009), Demo (2010) e outros entendem que, nas organizações, as pessoas denotam a vantagem competitiva e enfatizam que o diferencial das empresas, em relação aos seus concorrentes, é a capacidade, o conhecimento e o comprometimento dos colaboradores, que nelas exercem as suas atividades. Coerente com essa visão, o objetivo da área de recursos humanos, de acordo com Ulrich (1998), é, não apenas, orientar os subsistemas de RH, mas ainda trabalhar qualidade de vida, comunicação, bem como o desenvolvimento de gestores, funcionários e diretoria. Então, para que o sistema de GRH possa contribuir para a vantagem competitiva da organização, os profissionais dessa área devem procurar desenvolver múltiplos papéis e se posicionar em parceria com os gerentes de linha, desenvolvendo, desse modo, o que chama Ulrich (1998), de Modelo de Múltiplos Papéis para a ARH. Nesse Modelo, Ulrich (1998) propõe uma análise que determina quatro papéis para identificar a efetividade das atividades de recursos humanos: parceiro estratégico (administrador de estratégias de RH); especialista administrativo (administrador da infraestrutura organizacional); defensor dos funcionários (administrador da contribuição dos funcionários) e agente de mudanças (administrador da transformação e da mudança organizacional). Para esse autor, o Modelo possibilita que se faça uma avaliação sobre os papéis desenvolvidos pelos profissionais da área de RH, em uma determinada organização. De acordo com Bosquetti e Albuquerque (2005); Albuquerque e Leite (2009) a administração de recursos humanos questiona a contribuição do papel tradicional de RH e sugere um novo perfil para a área, destacando uma gestão que contempla múltiplos papéis, tendo como pano de fundo o alinhamento das pessoas à estratégia organizacional. Corrobora com esta linha de raciocínio Fleury e Fleury (2004), quando afirmam que a área de recursos humanos deve assumir um papel relevante no desenvolvimento da estratégia organizacional, na medida em que administra com mais conhecimento a atração, o desenvolvimento e a retenção dos talentos necessários para a realização dos objetivos organizacionais. Esta visão é também compartilhada por Becker, Huselid e Ulrich (2001), quando consideram que os profissionais de RH estão preparados para exercer o papel de parceiro estratégico e agregar valor para a organização, à medida que entenderem o funcionamento do negócio, ao ponto de poderem ajustar as políticas e práticas de RH às mudanças nas condições empresariais. Logo, para estes autores, a implementação estratégica bem sucedida é iniciada pelo foco estratégico dos empregados, pelo alinhamento estratégico de RH com a estratégia empresarial e pelo sistema equilibrado de mensuração e avaliação de desempenho. Neste sentido, houve uma inquietação para se saber como se percebem os profissionais da área de RH de organizações privadas de grande porte no Brasil, em virtude da evolução histórica dos papéis desenvolvidos pelos profissionais desta área e porque as multinacionais, as organizações estatais e as grandes organizações privadas no Brasil emularam os modelos e práticas de GRH vindos do exterior os quais se caracterizam pela presença de valores relacionados ao sucesso e a excelência, ao prestígio dos líderes transformacionais e à promoção dos princípios de adaptabilidade, inovação e competitividade (WOOD Jr., TONELLI e COOKE, 2011). Embora o momento atual pense muito mais em um RH estratégico, será que há, ainda, uma visão do papel de assessoria, por terem esses profissionais à imagem de um departamento menor do que realmente o são, como, por exemplo, afirma Dessler (2003)? Ou essa questão está mais ligada a um fator cultural, levando-se em consideração o local onde a organização está inserida? Como, ainda, os profissionais de outras áreas da organização os percebem: administradores da infraestrutura organizacional, por exemplo? Para se responder a questões como essas é que se propõe este trabalho de pesquisa, considerando os papéis que devem ser desenvolvidos pelos profissionais de recursos humanos na gestão de pessoas nas organizações de acordo com o Modelo de Múltiplos Papéis para a Administração de RH de Ulrich (1998), pergunta-se: Como a área de recursos humanos é percebida por profissionais de organizações privadas de grande porte no Brasil, à luz do Modelo de Múltiplos Papéis para a Administração de RH de Ulrich (1998)? 1.2 Objetivos da Pesquisa A partir da elaboração da pergunta de pesquisa, através da qual o presente estudo se estrutura, são propostos o objetivo geral e os específicos. 1.2.1 Objetivo Geral Analisar como a área de recursos humanos é percebida por profissionais de organizações privadas de grande porte no Brasil, à luz do Modelo de Múltiplos Papéis para a Administração de RH de Ulrich (1998). 1.2.2 Objetivos Específicos 1º Identificar como os respondentes avaliam a administração de estratégias de RH, à luz do modelo para ARH de Ulrich (1998). 2º Verificar como os respondentes avaliam a administração da infraestrutra da organização, de acordo com o modelo para ARH delineado por Ulrich (1998). 3º Compreender como os respondentes avaliam a administração de RH, no que se refere à contribuição dos funcionários, segundo o modelo para ARH de Ulrich (1998). 4º Investigar como os respondentes avaliam a administração da transformação e da mudança organizacional, conforme o modelo para ARH de Ulrich (1998). 5º Comparar os principais achados da pesquisa entre os profissionais de RH e os profissionais das outras áreas organizacionais. 1.3 Justificativas 1.3.1 Justificativa Teórica Entende-se a importância de um trabalho como este para as organizações, uma vez que a área de recursos humanos pode ser considerada a base para o desenvolvimento e crescimento organizacional. Assim, esta pesquisa poderá contribuir com sugestões para que a GRH se desenvolva ainda mais, vinculando as suas atividades àquelas desenvolvidas nas demais áreas organizacionais, visando atender às demandas dos stakeholders (acionistas, clientes, fornecedores e funcionários), agregando valor ao negócio (ULRICH 1998, 2011; ALBUQUERQUE, 2002, 2009; FISCHER, 2002; FLEURY E FLEURY, 2004; DUTRA, 2009). Quanto à contribuição para a área acadêmica, o assunto tratado nesta investigação tem importância para os docentes que ministram as disciplinas sobre gestão de recursos humanos e para os discentes que estão na busca de novos conhecimentos e aprimoramento daqueles já existentes. Na dimensão teórico-conceitual, de acordo com a bibliografia consultada para esta pesquisa, não foi identificada outra investigação abrangendo de modo exclusivo as organizações privadas de grande porte no Brasil, referente à aplicação do Modelo de Múltiplos Papéis para a Administração de Recursos Humanos de Ulrich (1998). Diante desses argumentos, justificou-se este estudo. 1.3.2 Justificativa Prática Os resultados podem permitir uma avaliação sobre as atividades exercidas pela área de recursos humanos, de acordo com as percepções dos seus profissionais e dos profissionais das outras áreas funcionais das organizações privadas de grande porte no Brasil, foco deste estudo. Espera-se também que os dados encontrados possam contribuir com sugestões de melhorias para as atividades realizadas pelos gestores e demais profissionais da área de RH, que participaram desta pesquisa, assim como, para os gestores das outras áreas organizacionais, os quais informaram os seus endereços eletrônicos, para que fosse possível encaminhar o resultado da pesquisa. Igualmente, acredita-se que os resultados desta investigação possam ser úteis para os consultores organizacionais, profissional de quem se espera sugestões para a melhoria da dinâmica empresarial. Outrossim, a pesquisa de avaliação de papéis de RH delineados por Ulrich (1998) pode ser considerada uma ferramenta de diagnóstico organizacional que fornece um retrato da área de RH. Após a apresentação do problema e da pergunta de pesquisa, dos objetivos e das justificativas deste estudo, a próxima seção expõe a fundamentação teórica. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Este capítulo apresenta o arcabouço teórico que orientou a investigação, a saber: a evolução histórica da área de recursos humanos, a evolução da função de recursos humanos no Brasil, os desafios para a área de RH, o modelo de múltiplos papéis para a administração de recursos humanos de Ulrich (1998), os atributos-chave referentes às competências dos profissionais de RH, bem como outros modelos sobre GRH e o conceito sobre percepção. 2.1 A Evolução Histórica da Área de Recursos Humanos A história da área de RH teve início com a necessidade de se contabilizar os registros dos colaboradores, no tocante, das horas trabalhadas, faltas e atrasos, com a finalidade de pagamento ou de desconto. O responsável por esse setor, no início do século XIX, era chamado de chefe de pessoal e tinha em comum, tanto na Itália quanto nos Estados Unidos e no Brasil, o perfil profissional que o definiu por muito tempo, como uma pessoa inflexível e seguidora da legislação (MARRAS, 2000; GIL, 2001). Nesse sentido, para o empresário, o colaborador era algo a mais na busca dos resultados da organização e o mais relevante era que o trabalhador tivesse uma boa saúde e a maior dedicação possível (MARRAS, 2000). A administração de RH, dessa época, se dedicava aos procedimentos que gerassem efetividade para a linha de produção e para a redução de custos. Contratava-se a mão de obra do trabalhador e pagava-se por ela (FISCHER, 2002; TONELLI, LACOMBE; CALDAS, 2002). Ao longo do tempo, as organizações começaram a passar por mudanças e as multinacionais foram as principais responsáveis pelas primeiras mudanças na gestão das pessoas (MARRAS, 2000; WOOD JR., 2004). Nessa direção, a gestão deixou de se concentrar exclusivamente nas atividades, nos custos e no resultado imediato, para agir sobre o comportamento das pessoas. Isso ocorreu através de duas escolas de psicologia, em momentos diferentes. Nas décadas de 1930 e 40, prevaleceu a linha behaviorista do Instituto de Relações Humanas da Universidade Yale. Sua contribuição foi à elaboração dos instrumentos e métodos de avaliação e desenvolvimento das pessoas que, nas organizações, estabeleceram o arsenal da psicologia e da psicometria, voltadas aos procedimentos de gestão de RH (FISCHER, 2002). Em 1930, Abraham Maslow rompeu com a escola behaviorista, ao dar início ao período em que a psicologia humanista passou a interferir de modo decisivo na teoria organizacional. Outros autores da área, como McGregor (1960), Herzberg (1966) e Argyris (1973) estão vinculados a essa corrente (GIL, 2001; FISCHER, 2002). Por volta de 1945, apareceram os primeiros estudos sobre autocratismo, liderança, democracia e motivação de pessoas no trabalho e, assim, começava a ser valorizada a atenção às pessoas. A atividade gerencial foi concebida deixando de ser uma função exclusivamente operacional para se tornar tática (MARRAS, 2000; VISCAINO, ESTORK, 2004). Dessa forma, a função de pessoal passou a se identificar, no Brasil, como gerente de pessoal e o que se acresceu a função de contabilizar salários, horas trabalhadas, controlar faltas e atrasos e remunerar os trabalhadores foi o acompanhamento das questões legais e sindicais, que surgiram naquela época (MARRAS, 2000; GIL, 2001). Na década de 50, surgiu a denominação que vinculava essa área às de ciências humanas. Igualmente, nessa mesma época, em que a escola de relações humanas estava no auge, decidiu-se que seria pertinente denominar essa função de gerência de relações humanas ou gerência de recursos humanos, já utilizada nos Estados Unidos (MARRAS, 2000). Anos mais tarde, na década de 60, nos Estados Unidos, foi criada a denominação de gerência de relações industriais, para que as organizações pudessem definir quem cuidaria dos aspectos puramente administrativos, daquele que seria o especialista das questões humanas (VISCAINO, ESTORK, 2004). A escola de relações humanas predominou como matriz de conhecimento em gestão de pessoas. Portanto, uma das suas mais importantes contribuições foi descobrir que a relação entre a organização e as pessoas é mediada pelos gerentes de linha. Por isso, o foco de atuação dessa escola se concentrou no treinamento gerencial, nas relações interpessoais, nos processos de avaliação de desempenho e de estímulo ao desenvolvimento de perfis gerenciais, coerentes com o processo de gestão de pessoas almejados pelas organizações. Motivação e liderança formaram os conceitos-chave do modelo humanista. A GRH desenvolveu uma perspectiva integrada, o que requer uma visão ampla da organização e uma compreensão de todas as dimensões e conceitos do comportamento organizacional (TOSE, 1997; FISCHER, 2002; CABRAL-CARDOSO, 2004). Dessa forma, a administração de RH procurou integrar e comprometer os empregados, assim como utilizar a flexibilidade, a adaptabilidade e a qualidade organizacionais. As características dessa escola de gestão são: (1) o planejamento da alocação de pessoas no trabalho, de modo que aja um elo entre os negócios da empresa e as pessoas; (2) a comunicação com os empregados, cujo objetivo é ouvir e negociar com os trabalhadores; (3) maior atenção aos sentimentos dos funcionários, identificando o nível de satisfação dos mesmos; (4) a gestão dos empregados é estabelecida através dos processos de seleção, treinamento e recompensa; (5) a gestão de custos e benefícios, cuja meta é reduzir custos com o desligamento ou ausência dos funcionários; (6) e, a gestão do desenvolvimento, cujo foco é preparar talentos para o sucesso organizacional (FISCHER, 2002). Nas décadas 1970 e 80, uma nova maneira de efetividade foi introduzida na modelagem dos sistemas de gestão de RH: seu caráter estratégico. Ele tem como objetivo principal ir além da visão técnica, de modo que os mecanismos de gestão de pessoas, alinhados à estratégia de negócio da empresa, façam com que a visão de recursos humanos interfira na definição da estratégia do negócio (FISCHER, 1998). Nesta direção, a gestão estratégica é definida por um processo decisório que ocorrerá antes, durante e depois de sua construção e implementação na empresa. A estratégia de recursos humanos deve ser orientada pelas etapas do processo de elaboração e aplicação da estratégia organizacional, conforme ilustração do Quadro 1 (ALBUQUERQUE, 2002): Quadro 1 - Integração da estratégia de RH na estratégia organizacional Estratégia da Empresa Visão do negócio. Estratégia de RH Desenvolvimento da compreensão e do comprometimento com a visão do negócio. Missão da ARH. Análise do ambiente de RH. Análise dos recursos humanos. Definição dos objetivos de RH. Definição de políticas de RH. Elementos estratégicos críticos de RH. Estratégias de RH para inclusão no plano estratégico da empresa. Definição da missão. Análise do ambiente. Análise das capacidades. Definição dos objetivos organizacionais. Definição de macropolíticas. Elementos estratégicos críticos. Seleção e desenvolvimento da estratégia. Implementação. Fonte: Adapatado de ALBUQUERQUE, L. (2002, p.41). O quadro acima mostra que a operacionalização do alinhamento estratégico, entre a organização e a ARH, envolve uma sequência de processos para sua efetividade e, dessa forma, ressalta-se a relevância do feedback contínuo de informações entre as diversas etapas do processo, através de avaliações de resultados ao longo de seu desenvolvimento (ALBUQUERQUE, 2002). Seguindo essa linha de raciocínio, Teixeira, Silveira, Neto e Oliveira (2010) enfatizam a importância de se conhecer os elementos básicos da gestão estratégica de RH: Missão: assegurar uma gestão de pessoas que valorize as competências e o desempenho estratégico e crie um ambiente organizacional propício ao comprometimento dos colaboradores com a missão da organização. Visão: ser uma gestão de pessoas vinculada ao negócio da empresa e voltada para o crescimento e a realização profissional dos colaboradores. Objetivo estratégico: formular e implantar um sistema de gestão de RH, que desenvolvido e gerenciado numa abordagem estratégica, oriente-se para atender às demandas dos stakeholders. Estratégia: manter a flexibilidade organizacional, mantendo consultoria interna, participação efetiva das gerências, equipes interdisciplinares e descentralização. Implementação estratégica: implantar projetos, planos e programas, tais como capacitação dos gerentes e dos consultores internos, planejamento estratégico de RH, remuneração estratégica, gestão por competências e outros. Desse modo, entende-se que um sistema de gestão de recursos humanos, integrado e estratégico, gera maior sinergia entre suas partes e faz com que os vários processos de gestão do sistema se reforcem de maneira mútua, o que garante maior efetividade, coerência e consistência (DUTRA, 2002; BOHLANDER, SNELL, SHERMAN, 2005). Na década de 90, com o advento da era da competitividade, até os dias atuais, surge uma nova denominação, classificada de gestão de recursos humanos articulada por competências, caracterizada por alinhar a estratégia de RH com a estratégia organizacional, e as competências dos seus colaboradores são consideradas determinantes para se atingir os objetivos traçados (FISCHER, 2002). Neste sentido, Prahalad e Hamel (1990) definem competência como o conjunto de conhecimentos, habilidades, tecnologias, sistemas físicos, gerenciais e de valores, que geram diferencial competitivo para a organização. Corrobora com esse entendimento Fleury e Fleury (2004) quando afirmam que competência é um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo. O tema é assim também entendido por Campion et al. (2011), como um conjunto de conhecimentos, atitudes e habilidades necessárias para um desempenho efetivo de determinadas atividades. Para esses autores, um modelo baseado em competências é uma importante inovação, no sentido de possibilitar que a organização esteja atenta à relação entre as tarefas e as habilidades dos colaboradores. Dessa forma, poder-se-á medir o alto e o baixo desempenho das pessoas. Portanto, o trabalho deixa de ser um conjunto de tarefas associadas descritivamente ao cargo e se torna o prolongamento direto da competência que o indivíduo mobiliza, face à situação profissional cada vez mais mutável e complexa. Esta complexidade de situações torna o imprevisto cada vez mais cotidiano, rotineiro (FISCHER, 2002). Corroborando com essa idéia Almeida (2007, p.43) afirma que: “De um lado a estratégia determina as competências que serão requeridas da organização, equipes e pessoas e, de outro as competências influenciam o alcance dos objetivos estratégicos da mesma forma que esses trazem consigo os conceitos de organização, de desempenho e por consequência por que não falar também em Gestão de Pessoas por Competência.” Além dos princípios de Gestão de RH, que ajudam os gestores dessa área a se adaptarem a nova realidade organizacional, identifica-se na literatura sobre GRH estudos empíricos realizados por Mossholder, Richardson e Setton (2011), relacionando o sistema de recursos humanos com o clima organizacional e o comportamento dos empregados. No que se refere à cooperação e à ajuda, esses autores identificaram que o RH promove um clima relacional responsável pela motivação e sustentabilidade da dinâmica organizacional. Diante desse contexto, é possível se identificar mais de uma maneira de gestão, sendo praticada em harmonia dentro de uma mesma organização. Afinal, ao longo do tempo, elas foram aprimoradas e complementadas entre si, em virtude das demandas organizacionais (FISCHER, 2002). Na próxima subseção, apresenta-se a evolução da função de RH no Brasil. 2.2 A Evolução da Função de Recursos Humanos no Brasil Historicamente, no Brasil, a gestão de recursos humanos passou por diversas fases evolutivas até chegar às práticas atuais. Alguns autores propõem uma divisão em períodos e fases distintas. Um resumo com as principais características dos distintos períodos da evolução da função de RH no Brasil é apresentado por Tose (1997), Sarsur (1997), Fischer (2002); Wood Jr. (2004); Wood Jr., Tonelli, Cooke (2011), conforme Quadro 2. Quadro 2 – Evolução da função de recursos humanos no Brasil Período Antes de 1930 Décadas de 1930 a 1950 Fase Características Pré-jurídico-trabalhista Inexistência de uma legislação específica voltada às questões trabalhistas; Os trabalhadores eram vistos à luz do enfoque contábil: comprava-se a sua mão-de-obra e se contabilizava os custos. Legal / burocrática Criação da CLT (Consolidação da Legislação do Trabalho), do Ministério do Trabalho e surgimento do departamento pessoal com um chefe que cuidava das questões legais. Décadas de 1950 a 1960 Tecnicista Novas demandas industriais com a implantação da indústria automobilística e com a abertura ao capital estrangeiro; Nesse fase foi implantado no Brasil, o modelo americano de gestão de pessoal que levou a função de RH ao status de gerência; Nessa fase o RH começou a desenvolver os serviços de recrutamento e seleção, treinamento, cargos e salários, higiene e segurança no trabalho e outros. Meados das décadas de 1960 a 1980 Sistêmica Surgimento dos movimentos populares e greves; Fim da pseudoliderança sindical pela Revolução de 1964; Novos investimentos das empresas gerados pelo governo do general Médici; Transferências de processos exclusivamente burocráticos para responsabilidades mais humanísticas em relação ao trabalhador. Década de 1980 a 1990 Estratégica Globalização econômica; Crescimento da competitividade; Novos processos organizacionais como, reengeharia e reduções de níveis hierárquicos; Avanço da tecnologia; Novas relações de trabalho; Flexibilização; Necessidade de vincular a gestão de RH às estratégias organizacionais, com o objetivo de agregar valor aos negócios. Década de 1990 aos dias atuais Vantagem Competitiva Pessoas vistas como recursos para competitividade; Estratégia competitiva, focada na mudança e no comprometimento dos colaboradores; Necessidade de criar instrumentos de gestão de pessoas para medir os impactos e manter os talentos da organização; Presença de valores individuais relacionados ao sucesso e a excelência; Líderes transformacionais; Promoção dos princípios de adaptabilidade, inovação e competitividade. Foco para um desenvolvimento integrado. Fonte: Adaptado de TOSE, M. (1997) SARSUR, A. (1997); FISCHER, A. ( 2002); WOOD Jr. (2004); WOOD Jr., TONELLI, COOKE (2011). Analisando o Quadro 2, identifica-se que a gestão de recursos humanos tem passado por diversas transformações nestes últimos anos, em virtude da necessidade das organizações de aprimorar a sua capacidade e competitividade, para enfrentar a concorrência dos mercados globalizados. Com esse objetivo, a GRH deve assumir um posicionamento estratégico nas organizações e seus papéis devem estar vinculados com o negócio da empresa, de modo que as atividades desenvolvidas agreguem valor para a organização (LACOMBE, TONELLI, 2001; CANÇADO, MORAES, SILVA, 2006; GODOY, 2008). Na próxima subseção, abordam-se os desafios para a área de RH e o Modelo de Múltiplos Papéis para a Administração de RH de Ulrich (1998), o qual foi escolhido como modelo norteador deste estudo, em virtude de se encontrar como modelo de referência em pesquisas nacionais e internacionais sobre GRH (COUTINHO, 2004; CANÇADO, MORAES, SILVA, 2006; FISCHER, DUTRA, AMORIM, 2010; ULRICH et al., 2008). 2.3 Os Desafios para a Área de RH e o Modelo de Múltiplos Papéis para Administração de Recursos Humanos de Ulrich (1998) O panorama da competitividade está cada vez mais acelerado e, por esse motivo, são necessários novos modelos de gestão para administrar os desafios do mercado. Entende-se que essa realidade exija capacidades organizacionais que viabilizem as empresas atenderem, da melhor maneira o possível, a seus clientes e se destacarem de seus concorrentes (ULRICH, 1998). Sendo a capacidade organizacional fonte de vantagem competitiva, é imprescindível que os gerentes e os profissionais de RH identifiquem novas propostas quanto ao método de trabalho, de modo que, juntos, contribuam para a obtenção dos objetivos da empresa. Pois, o mercado globalizado prescreve novas competências e novos modos de pensar a respeito dos negócios. Então, para atender a essas demandas, a área de recursos humanos e as demais gerências devem gerar modelos e processos de gestão para conquistar agilidade, eficiência e competitividade globais (ULRICH, 1998; 2000; ULRICH et al., 2011). Neste sentido e considerando que as estratégias pertinentes ao capital humano, para a criação de valor organizacional, devem vir da área de recursos humanos, novos papéis deverão ser definidos para a mesma, em termos de transição do foco das atividades (ULRICH, 1998). O Quadro 3 apresenta a transição dos papéis dos profissionais de RH. Quadro 3 - Transição dos papéis dos profissionais de RH Para De Operacional Qualitativo Policiamento Curto prazo Administrativo Voltado para a função Foco interno Reativo Foco na atividade Estratégico Quantitativo Parceria Longo prazo Consultivo Voltado para o negócio Foco externo e no consumidor Preventivo Foco nas soluções Fonte: Adpatado de ULRICH, D. (1998, p.39) De acordo com o quadro acima, Ulrich (1998) afirma que as atividades desenvolvidas pelos profissionais de recursos humanos, no dia a dia, possuem caráter múltiplo e não singular, por isso, eles devem desenvolver, ao mesmo tempo, atividades operacionais e estratégicas, considerando a transição de papéis uma atualização das suas atribuições, de acordo com as demandas organizacionais. Neste cenário, o modelo de múltiplos papéis para a administração de RH de Ulrich (1998) apresenta, em sua teoria, as atividades que devem ser desempenhadas pelos profissionais de recursos humanos. A Figura 1 e o Quadro 4 ilustram nas páginas a seguir, a descrição desse modelo. Figura 1 - Papéis de RH na construção de uma organização competitiva FUTURO/ESTRATÉGICO FOCO Administração de Estratégias de Recursos Humanos Administração da Transformação e Mudança PROCESSOS PESSOAL Administração da Infraestrutura da Organização Administração da Contribuição dos Funcionários COTIDIANO OPERACIONAL FOCO Fonte: ULRICH, D. (1998, p.40) Quadro 4 - Definição dos papéis de RH Papel / Função Resultado Metáfora Atividade Administração de Estratégias de Recursos Humanos. Execução da Estratégia. Parceiro Estratégico. Administração da Infraestrutura da Empresa. Construção de uma infraestrutura eficiente. Especialista Administrativo. Administração da Contribuição dos Funcionários. Aumento do envolvimento e capacidade dos funcionários. Criação de uma organização renovada Defensor dos Funcionários. Ajuste das estratégias de RH à estratégia empresarial: “Diagnóstico Organizacional.” Reengenharia dos Processos da Organização: “Serviços em comum.” Ouvir e responder aos funcionários: “Prover recursos aos funcionários.” Gerir a transformação e a mudança: “Assegurar capacidade para mudança.” Administração da Transformação e da Mudança Agente de Mudança Fonte: ULRICH, D. (1998, p.41) A Figura 1 e o Quadro 4 apresentam, sumariamente, os papéis que devem ser realizados pelos profissionais de RH, os quais encontram-se definidos a seguir. 2.3.1 Administração de Estratégias de Recursos Humanos O papel do RH deve se fundamentar no ajuste das suas estratégias e práticas à estratégia empresarial. Dessa forma, o profissional de RH se torna um parceiro estratégico, porque o seu trabalho contribui para que a organização atinja as suas metas e garanta sucesso no mercado (ULRICH, 1998; ULRICH, BROCKBANK, 2005). Este mesmo autor escreve que verter as estratégias empresariais em práticas de RH ajuda a empresa em três sentidos: adaptar-se à mudança, devido à redução do tempo que vai da concepção à execução das estratégias; acatar da melhor forma possível às exigências do consumidor, pois suas estratégias de atendimento foram transformadas em políticas e práticas específicas; e, alcançar melhor desempenho financeiro, em razão da realização eficaz da sua estratégia. Desse modo, a metáfora de parceiros estratégicos para os profissionais RH, é segundo Ulrich (1998, p.43): “Os profissionais da área tornam-se parceiros estratégicos quando participam do processo de definição da estratégia empresarial, quando fazem perguntas que convertem à estratégia em ação e quando concebem práticas de RH que se ajustam a estratégia empresarial.” Nesta direção, o papel de RH aparece com uma visão mais clara sobre a sua atuação e com uma proposta renovada e fundamental para as organizações, assumindo novas responsabilidades junto às demais áreas. Assim, a literatura sobre GRH sugere que profissional de recursos humanos possua esse perfil e exerça um trabalho que acompanhe as tendências do mercado competitivo, do desenvolvimento humano e das necessidades organizacionais. Neste cenário, Ulrich (1998) descreve os desafios que o profissional de RH deve superar, para se transformar em um parceiro estratégico: A aplicação de planos estratégicos, a qual exige que os profissionais de RH levem à discussão estratégica, questões organizacionais antes da decisão sobre as estratégias. Portanto, o diagnóstico organizacional contribui para que a empresa converta sua estratégia em práticas concretas de RH. Evitando que as missões, visões, aspirações, metas ou objetivos empresariais fiquem esquecidos, sem gerar ações práticas. Um placar equilibrado se concentra no atendimento aos stakeholders internos e externos e pode ser um indicador de desempenho na avaliação do desempenho dos executivos, pois, eles são avaliados pela medida em que adicionam valor para cada stakeholder. O desafio do planejamento de RH, o qual deve integrar as suas práticas à estratégia organizacional. Dessa forma, o planejamento de RH se torna parte integrante de um processo de planejamento empresarial. Dessa forma, os profissionais de recursos humanos trabalham em parceria com os gerentes das outras áreas, para identificar práticas que realizem a estratégia empresarial. Criar na empresa um foco de capacitação, que são os processos e as práticas que concedem às empresas maneiras singulares de adicionar valor para os clientes, como por exemplo: ajustar as medidas de desempenho às prioridades estratégicas; aprender mais depressa que os concorrentes; assumir riscos; atrair e reter pessoal de alto gabarito; avaliar as capacidades dos concorrentes; criar capacidade para mudança; criar e difundir a visão estratégica para o futuro; e, outros. Além disso, enfatiza-se que a maior responsabilidade das organizações, que desenvolvem um planejamento estratégico, é a de gerar e envolver toda a empresa para a capacidade de aprendizado e crescimento (ALLANI, ARCAND, BAYAD, 2003; TAVARES, 2005). Corrobora com essa linha de raciocínio Demo (2010), afirmando que as políticas de gestão de RH devem estar vinculadas a estratégia organizacional e ser utilizadas para fortalecer a cultura organizacional, pois as pessoas são importantes e representam um diferencial competitivo no mercado. Desse modo, os resultados dessa dinâmica de trabalho são concretizados a partir do cumprimento das metas da organização pelos funcionários, cuja responsabilidade é dos gestores de pessoas, ou seja, gerentes de linha e RH (DESSLER, 2003). Para este mesmo autor, os gerentes de staff são autorizados a assessorar e a orientar os gerentes de linha na realização das metas organizacionais. Gestores de RH, geralmente, são assessores de staff, e possuem entre os seus papéis o de orientar os gerentes de linha, como, por exemplo, os de produção e vendas em áreas como recrutamento, seleção, contratação e remuneração afinal, o RH também é um consultor interno. Seguindo essa linha de raciocínio, Ulrich et al. (2011) afirmam que a “transformação dos profissionais de RH em parceiros não é um fim em si mesmo, mas é o meio para um final estratégico, orientado ao negócio.” Por esse motivo, o RH deve começar as suas atividades de fora para dentro da organização, iniciando com a compreensão do negócio, pois o ambiente em que a organização está inserida oferece a lógica para a dinâmica do RH. Sabe-se que a estratégia tradicional é como um espelho no qual o RH pode refletir seu investimento. No entanto, sugere-se olhar para os clientes externos e investidores, pelo espelho (estratégia), para se entender bem os antecedentes da mesma (ULRICH et al., 2011). Desse modo, a administração estratégica de recursos humanos, de acordo com Ulrich et al. (2011), busca o diferencial competitivo, mudanças de paradigmas para agregar valor ao negócio e obter resultados. A AERH procura também redesenhar o perfil da cultura organizacional, de acordo com um conjunto de valores e crenças compartilhados entre colaboradores e organização, gerando, dessa forma, um ambiente de participação e comprometimento rumo ao sucesso empresarial. 2.3.2 Administração da Infraestrutura da Organização O arcabouço teórico sobre GRH descreve que administrar a infraestrutura organizacional é um papel tradicional dos profissionais dessa área, cujo objetivo é gerar e desenvolver processos eficientes para recrutar, selecionar, contratar, treinar, avaliar, premiar, promover e gerenciar o fluxo de funcionários nas organizações. Desse modo, a realização bem-sucedida desse processo de gestão agrega valor para a empresa, quando, por exemplo, retém os melhores talentos em seu quadro de colaboradores (ULRICH, 1998). Portanto, para que um profissional seja um especialista administrativo em recursos humanos, é necessário mais do que reduzir custos e simplificar o trabalho. É preciso executar bem a reengenharia dos processos, criando valor para a organização, através da terceirização de serviços, que não fazem parte da competência essencial da empresa. Muitas organizações têm adotado a terceirização setorizada e reconhecem que o processamento de alguns trabalhos, como o da folha de pagamento, segurança patrimonial, transportes dos colaboradores e outros podem ser realizados a um custo médio para o setor. Dessa maneira, os especialistas administrativos de RH controlam os elementos da terceirização dos serviços, no tocante as questões legais para manutenção de contratos e dedicam mais tempo para a realização de outras atividades pertinentes ao seu papel organizacional (ULRICH, 1998; 2000; 2008). Assim, a área de recursos humanos se torna responsável pela efetividade técnica e de realização dos serviços em termos de custos e busca estar preparada para as melhores práticas do seu departamento ( COSTA, 2000; DESSLER, 2003; CASTRO, 2005). Igualmente, o papel de administrador da infraestrutura organizacional demanda conhecimento do negócio, além das práticas tradicionais de RH como, recrutamento seleção, treinamento, desenvolvimento e outras, conforme descreve Ulrich (1998). A este respeito, Milkovich, Boudreau (2000, p. 27) afirma que: “Esses especialistas emprestam sua habilidade para fornecer serviços aos executivos e empregados das áreas operacionais. A prestação de serviços é o mais visível dos papéis de RH na maioria das organizações. Se a área de RH será vista como um auxílio ou um obstáculo pelo restante da organização dependerá do serviço prestado.” Neste sentido, as atribuições do especialista administrativo estão relacionadas à habilidade desse profissional de melhorar a eficiência do trabalho que executa. A prudência na realização de políticas e práticas de gestão gera confiança no cliente interno e abrem as portas para contribuições estratégicas (ULRICH, 1998; ULRICH et al., 2008; JABBOUR, SANTOS, 2008; DAHL, 2009). 2.3.3 Administração da Contribuição dos Funcionários Gerenciar a contribuição dos funcionários exige que os profissionais de RH compreendam os problemas, preocupações e necessidades cotidianas de seus colaboradores (ULRICH, 1998). Para esse mesmo autor, a contribuição dos funcionários se torna uma questão empresarial muito importante, porque, ao tentar produzir mais com menos funcionários, as empresas não têm alternativa, senão tentar envolver ao máximo cada um deles. Essa contribuição é elevada, quando eles sentem que são respeitados e prestigiados. Isso fortalece o contrato psicológico entre o funcionário e a organização. De acordo com Gil (2001), há um conjunto de cinco processos dinâmicos e interativos da função de RH para com os colaboradores: processo de agregar, recompensar, desenvolver, manter e monitorar pessoas – os quais criam condições ambientais e psicológicas satisfatórias para as atividades das pessoas. Para tanto, Ulrich (1998) descreve que os profissionais de RH, que garantem a contribuição dos funcionários, devem ser os observadores, defensores e patrocinadores de demandas e recursos equilibrados, cujo objetivo é alcançar o melhor desempenho possível dos colaboradores. Seguindo essa linha de raciocínio, Milkovich, Boudreau (2000) afirma que os profissionais de RH que trabalham como defensores dos funcionários devem procurar identificar o equilíbrio entre as demandas e os recursos, ser confiáveis, sensíveis como psicólogos, prudentes e inovadores, com o objetivo de gerar a contribuição. Recomenda-se que trabalhem com os gestores e com os colaboradores, para garantir a satisfação das expectativas dos mesmos. Nesta direção, o RH deve ser capaz de prover condições adequadas, que levem as pessoas a se dedicar ao máximo para o sucesso da organização. Desse modo, procura-se melhorar a competência, o desempenho e o compromisso dos funcionários. Portanto, os profissionais de recursos humanos devem gerar e desenvolver atividades e mecanismos para ouvir, responder e identificar maneiras de atender as mais variadas demandas das pessoas, de acordo com os objetivos da organização, capacitando-as de recursos e meios para que sejam capazes de executar seu trabalho da maneira requerida e com os resultados esperados (MATHIS, JACKSON, 2003; CANÇADO, MEDEIROS, JEUNON, 2008). 2.3.4. Administração da Transformação e da Mudança Organizacional De acordo com Ulrich (1998, p.231) “A mudança acontece. Sempre aconteceu e acontecerá.” Há três tipos de mudanças que se identificam de maneira mais usual, nas organizações: mudanças de iniciativas, mudanças de processos e mudanças culturais. Mudanças de iniciativa são aquelas que ocorrem na implementação de novos programas, projetos ou procedimentos, tais como, novas alternativas de atendimento ao cliente, programas de redução de custos e outros. Mudanças de processo são aquelas cujo objetivo é modificar e melhorar a maneira como o trabalho é executado. Mudanças culturais ocorrem quando se reconceituam as maneiras fundamentais de negociar. A identidade da organização é transformada tanto para os funcionários quanto para os clientes. Na função de administrador da transformação e da mudança, de acordo com Ulrich (1998), os profissionais de RH devem ser os agentes de mudança, procurando a transformação e a mudança cultural da organização e das pessoas. Neste papel, o RH trabalha tomando as medidas necessárias para o processo, investigando, implementando e dirigindo os processos imprescindíveis de mudanças no interior das organizações. Dessa maneira, a área de recursos humanos deve buscar, como resultados, melhorar e ampliar a capacidade de mudança da organização. O conhecimento, a habilidade e a atitude são fatores-chave para a administração das ações necessárias ao processo. Valorizar a história da empresa e, ao mesmo tempo, focar e levar as pessoas ao futuro organizacional desejado é um desafio que exige dedicação do RH, para garantir a efetividade da mudança organizacional (CANÇADO, MEDEIROS, JEUNON, 2008). Para tanto, os principais fluxos ou processos para o sucesso da organização, de acordo com Ulrich et al. (2011), são: Fluxo de pessoas: a devida atenção a este processo assegura a disponibilidade e o desenvolvimento dos talentos, que a organização precisa para executar a sua estratégia. Fluxo de gestão de desempenho: o que vincula as pessoas ao trabalho – a qualidade de vida que elas possuem na organização, a remuneração, o sentimento de pertença, os padrões organizacionais. Estar atento a este processo desenvolve a responsabilidade pelo desempenho efetivo. Fluxo de informação: que informação os colaboradores precisam para realizar o seu trabalho e como se obtêm as informações necessárias. A atenção ao fluxo de informação garante que as pessoas saibam o que estão realizando e por que, e, assim, possam contribuir com a organização, agregando valor à mesma. Fluxo de trabalho: quem realiza o trabalho, como é feito, onde ele é feito e como é confirmado por meio de negócios e processos operacionais, para vincular dedicação individual em resultados organizacionais. Nesta direção, os líderes de RH devem gerar o diferencial organizacional, identificando as competências necessárias ao futuro e sucesso organizacional (ULRICH, 1998; 2000). 2.4. Atributos-chave referentes às Competências dos Profissionais de RH Na obra de Ulrich et al. (2011) se identificam seis atributos-chave, referentes às competências que constituem o perfil dos profissionais de RH, os quais estão contidos no modelo de múltiplos papéis para a administração de recursos humanos, elaborado por este mesmo autor: 1. Ativista confiável São os profissionais de RH que denotam crédito (respeitados e admirados) e ativos (fornecem opiniões e defendem a sua posição, sobre os processos organizacionais). É um RH considerado com atitude. Já, os profissionais dessa área que possuem credibilidade, mas não são ativistas, são admirados, porém têm pouco impacto. Os ativistas que não possuem credibilidade tem idéias que não são implementadas. Na perspectiva de ativistas confiáveis, os profissionais de RH criam resultados de negócios sustentáveis, enquanto unem as dimensões das pessoas e do negócio com impacto positivo. 2. Organizador de cultura e mudança Como organizadores da cultura e da mudança empresarial, os profissionais de RH analisam, articulam e contribuem para moldar a cultura de uma organização. Em condições ideais, essa cultura começa de modo claro em relação às expectativas externas (identidade ou marca da organização) e depois traduz essas expectativas para os colaboradores internos e para os comportamentos organizacionais. Como organizadores da cultura, os profissionais de RH respeitam a cultura antiga e contribuem para moldar uma nova. Eles orientam os gestores na maneira como suas ações refletem e formam cultura, criam padrões culturais em políticas e práticas de RH e tornam a cultura real para os colaboradores. 3. Gestor de talento e projetista organizacional Os profissionais de RH, como gestores de talentos e projetistas organizacionais, conhecem a teoria, a pesquisa e a prática, tanto na gestão de talentos quanto nos processos organizacionais. A gestão de talentos se concentra nas demandas da competência e no modo como as pessoas entram e se movem para cima, através e para fora da organização. A ARH deve assegurar que os recursos de gestão de talento e de capacitação organizacional estejam alinhados com a estratégia, integrados entre si e trabalhando de maneira eficiente e eficaz. 4. Arquiteto da estratégia Como arquiteto da estratégia, os funcionários de RH devem entender a estratégia do negócio e alinhar suas práticas a ela. Isto inclui ser capaz de identificar o problema central para a estratégia do negócio, reconhecer as tendências do mercado e seu impacto e traduzir a direção da estratégia em um plano e iniciativas de RH. Entendendo a estratégia e os principais obstáculos que precisam ser enfrentados para se ter sucesso, o profissional de RH é capaz de manter a agilidade da organização e, com alto desempenho, esses profissionais asseguram a viabilidade dos recursos (dinheiro, informações e pessoas), possuem uma visão do futuro do negócio e são proativos para contribuir com o processo de tomada de decisão. 5. Executor operacional Os profissionais de RH, como executores operacionais, realizam os aspectos operacionais da gestão de pessoas e da organização. Tais atividades como desenhar, adaptar e implementar políticas são seu papel central. Além disso, os funcionários precisam ser admitidos, remunerados em dia, treinados etc., e a área de recursos humanos deve assegurar que essas necessidades básicas sejam efetivamente realizadas. Igualmente, o gerenciamento das políticas e dos procedimentos, entendimento da legislação trabalhista, administração do espaço físico e do ambiente organizacional, formatação dos horários de trabalho, que atendam as demandas do negócio, assegura credibilidade quando executado da melhor maneira para a organização e para os funcionários. 6. Aliado do negócio O profissional de RH ajuda a alcançar o sucesso do negócio conhecendo o contexto social e as amplas circunstâncias na qual o negócio atua. Além disso, esse profissional deve entender a cadeia de valor do negócio: quem são os clientes, por que eles compram os produtos ou serviços da organização e como a organização se prepara para atender às demandas dos clientes. Tornar-se aliado do negócio é muito mais que entender do negócio. É usar este conhecimento, para conseguir antecipar questões e oferecer soluções para o sucesso organizacional. Após a apresentação sobre modelo de múltiplos papéis para a administração de RH de Ulrich (1998), a próxima subseção abordará outros modelos de GRH, cujos autores possuem uma linha de raciocínio sobre administração de recursos humanos com características semelhantes aos princípios da GRH delineados por Ulrich (1998), o que fortaleceu ainda mais a escolha deste modelo de gestão como norteador deste estudo. 2.5 Outros Modelos de Gestão de Recursos Humanos 2.5.1 Modelos Normativos de Gestão de Recursos Humanos De acordo com Storey (1995), a elaboração de um modelo de gestão de recursos humanos deve estar fundamentada em quatro elementos-chave: 1. Crenças e pressupostos, o RH deve ser visto como um departamento que gera vantagem competitiva e não como um centro de custos, pois são as competências e o comprometimento dos colaboradores que fazem o diferencial competitivo. Por isso, é imprescindível se elaborar bem os processos de recrutamento, seleção e formação de pessoal, visando aumentar as competências organizacionais. 2. Qualidades estratégicas, o gestor de RH deve participar do planejamento organizacional. Logo, as políticas de RH devem estar alinhadas às estratégias organizacionais, ao negócio como um todo. 3. Os gestores de linha devem participar na gestão de RH, assim como os gestores de RH devem participar na elaboração e definição das estratégias do negócio da organização. 4. Mecanismos-chave, a administração da cultura é mais importante do que o gerenciamento dos processos e dos sistemas, o que denota desenvolver a gestão integrada dos processos de seleção, comunicação, formação, recompensas e desenvolvimento e aumentar a responsabilidade e o empowerment. A otimização da GRH prescreve o consenso sobre os valores, as metas e as prioridades da organização. Partindo destes elementos, que visam à definição dos processos para a GRH, Storey (1995) define dois modelos para a gestão de recursos humanos: o modelo Hard e o modelo Soft. A denominação dos modelos é metafórica e procura relacionar o conceito hard à idéia de recurso (que possui um custo), enquanto o conceito soft significa humano (que sugere investimento). O Quadro 5 apresenta, resumidamente, as características dos modelos hard e soft. Quadro 5 - Modelos Normativos de GRH Modelo HARD Instrumentalismo utilitarista. Integração das políticas de RH com a estratégia de negócio da empresa. Os sistemas de RH são necessários para atingir os objetivos estratégicos da organização (FOMBRUN et al, 1984). Consistência entre as políticas, os sistemas e as práticas de pessoal com os objetivos do negócio da empresa. A coerência interna da GRH é uma condição essencial à obtenção de tais objetivos (HENDRY E PETTIGREW, 1986). Planejamento formal do RH, considerado um “fator de produção, conjuntamente com a propriedade e o capital” (LEGGE, 1995:35). As pessoas são despesas necessárias à realização do negócio ao menor custo (TORRINGTON e HALL, 1987). A GRH é dominada pelos aspectos estratégicos, quantitativos e de negócio. O RH é gerido como outro fator econômico qualquer, ou seja, de modo racional (STOREY, 1987). Modelo SOFT Humanismo desenvolvimentista (HENDRY e PETTIGREW, 1990). Integração das políticas de RH com a estratégia de negócio da empresa. O RH é uma fonte de vantagem competitiva através do seu empenho, adaptação e elevada qualidade (competências, desempenho, e outros) (GUEST, 1987). A GRH tem como missão conseguir a implicação dos trabalhadores através dos processos de comunicação, motivação e liderança (STOREY, 1987). O RH é proativo e capaz de se desenvolver, merece a confiança da gestão e a sua colaboração consegue-se através da participação e da escolha informada (BEER e SPECTOR, 1985) A GRH é um meio de tornar os trabalhadores em fonte de recursos para a organização. As políticas de RH devem direcionar-se para a maximização do potencial humano, através do uso de técnicas distintas e diferenciadas. Fonte: SERRANO, M (2010, p.28). Comparando as características dos modelos Hard e Soft de GRH, expostas no quadro acima, identificam-se mais semelhanças do que diferenças. De acordo com Legge (1995), as idéias que aproximam os modelos são: 1. A necessidade de integrar as políticas e práticas de GRH aos objetivos organizacionais. 2. A participação dos gestores de linha na GRH. 3. A importância atribuída ao desenvolvimento das pessoas como pressuposto para a satisfação pessoal e garantia do sucesso organizacional. 4. As exigências dos processos de recrutamento e seleção, para que sejam escolhidas as pessoas certas para os lugares certos, de modo que as práticas de RH contribuam efetivamente para o sucesso da organização e do indivíduo. No tocante às diferenças entre os modelos Legge (1995) afirma que a principal diferença é o fato de o modelo Soft considerar a gestão de recursos humanos como uma atividade de gestão estratégica mais central e, dessa forma, o RH é visto pelos gestores como o recurso mais valioso da organização, para se alcançar as metas organizacionais. Ainda, referente às diferenças entre os modelos, verifica-se que o modelo Hard permanece com uma visão tradicional dos colaboradores, considerando-os um fator de produção ou uma despesa necessária para se atingir as metas organizacionais. Enquanto que o modelo Soft concebe o RH como fonte de vantagem competitiva. 2.5.2 As Quatro Faces da Gestão de Recursos Humanos Tanure, Evans, Pucik (2007) apresentam um modelo de GRH denominado de Modelo das Quatro Faces da Gestão de Recursos Humanos: face da execução, da construção, do realinhamento e da direção das políticas e práticas de recursos humanos. O Quadro 6 apresenta na página a seguir as características desse modelo: Quadro 6 - As Quatro Faces da Gestão de Recursos Humanos Faces de RH Atividade Execução Atividades desconectadas da estratégia, mesmo usando-se ferramentas sofisticadas. Fundamentos – acertando os elementos básicos Adaptação às mudanças do ambiente; implementação de estratégias; reconfiguração. Capacidade de gerenciar contextos paradoxais Construção Realinhamento Direção Foco de Atenção Ação Perspectiva Teórica Fazer Função Consistência interna Mudanças Ajuste interno Adequação Ajuste externo CONSTRUTOR Tensão construtiva entre opostos Dualidade / paradoxo NAVEGADOR EXECUTOR PARCEIRO DE MUDANÇAS Fonte: TANURE, B., EVANS, P., PUCIK,V. (2007, p. 20) De acordo com o quadro acima, os autores Tanure, Evans e Cançado (2010) descrevem que: A Face de Executor se refere à realização das tradicionais atividades operacionais de recursos humanos, como recrutamento, seleção, treinamento e desenvolvimento, avaliação de desempenho, cargos e salários e relações trabalhistas. O papel do executor é centrado na ação; o foco é no processo. Essa face é semelhante ao papel de administrador da infraestrutura organizacional do modelo de Ulrich (1998). Já na Face de Construtor, a área de RH procura ajustar os fundamentos da gestão de recursos humanos ao planejamento organizacional. Nessa perspectiva, há um ajuste interno, centrado na coerência interna das políticas e práticas de RH junto a outros componentes do sistema de trabalho, visando apoiar a estratégia da organização. Aqui, a semelhança se encontra em relação ao papel de administrador da estratégia de RH, vinculada à estratégia organizacional do modelo de Ulrich (1998). Na Face de Realinhamento, a gestão de RH procura atuar de maneira compatível com as mudanças do ambiente externo, o que é definido como gestão estratégica. O foco de trabalho de RH é desenvolvido em parceria com os gerentes de outras áreas, para adquirir a reconfiguração e a mudança necessárias, de modo a implementar, de modo efetivo, cada nova estratégia. Esta face é semelhante ao papel de administrador da mudança e transformação organizacional, de acordo com o modelo de Ulrich (1998). A Face de Direção é caracterizada pelo vínculo entre a estratégia organizacional e a estratégia de recursos humanos. O foco das atividades está no desenvolvimento das capacidades da organização e das pessoas para a obtenção de sucesso em um mundo de constantes mudanças. Esse papel desenvolvido pelo RH é definido como o de um navegador que caminha entre paradoxos. Esta face procura contemplar o modelo de Ulrich (1998) como um todo. Consideram-se paradoxos ou forças opostas, que o RH precisa capacitar, os gestores para administrar “curto prazo x longo praz, operacional x estratégico, cooperação x competição, descentralização x centralização, processos x estrutura x pessoas, e outros” (TANURE, EVANS, PUCIK, 2007). Portanto, o foco dessa face é criar um ambiente organizacional com capacidade para lidar com a tensão entre opostos, de modo a impulsionar ao sucesso e ao desenvolvimento das competências da organização e das pessoas, no sentido de produzir resultados positivos em um ambiente de constantes mudanças. 2.5.3 Modelo Weberiano de GRH Weber (1947, apud SERRANO, 2010) descreveu que a modernização das organizações privadas e, consequentemente, dos seus modelos de gestão de recursos humanos seria realizada de acordo com a inspiração teórica e a observação das práticas de GRH dos serviços públicos alemães, regidos pelos princípios e valores da cultura germânica. Os princípios norteadores desta cultura (confiança/individualidade, formação permanente/coletiva e cidadania/tratamento dos conflitos) geraram o conceito dos atributos da burocracia weberiana. Para este mesmo autor a burocracia traz consigo diversas vantagens, como, por exemplo, a sua racionalidade, o que significa dizer que procura os meios mais eficientes para atingir as metas da organização. A precisão com que cada cargo é definido proporciona o conhecimento exato de cada responsabilidade. Como as atividades são organizadas em rotinas e realizadas metodicamente e, consequentemente, tornam-se previsíveis, acaba por conduzir a confiabilidade entre as pessoas, evitando, assim, o conflito entre elas. A rapidez nas decisões, obtida pela tramitação de ordens e papéis e pela uniformidade de rotinas e regulamentos que colaboram para a redução de erros e custos. A facilidade de substituição daquele que é afastado e os critérios de seleção apenas por competência técnica garantem a continuidade do sistema burocrático, e este último evita o nepotismo. O trabalho é profissionalizado, assim os funcionários são treinados e especializados pelo seu mérito, trazendo benefícios para a organização.Os elementos que compõem a burocracia weberiana são: Tarefas (determinadas por normas e técnicas); Hierarquia; Propriedade (poder político); A entrada em uma organização pressupõe o êxito determinado através de avaliações e a celebração de um contrato livremente firmado (seleção baseada na impessoalidade); Não apropriação dos cargos por seus ocupantes (o processo de avaliação de desempenho ocorre com transparência); Formação profissional especializada; Cargos e salários fundamentados na meritocracia; Recrutamento e seleção (é realizado de forma impessoal); Avaliação de desempenho (compreendida como uma prestação de contas); Formação profissional contínua (procura fazer de cada profissional um especialista na sua área de atuação); Remuneração (a partir do êxito identificado através da avaliação de desempenho, considerando também a relação entre este e o desempenho global da organização). De acordo com Serrano (2010), o modelo weberiano é um modelo adaptativo de GRH, à medida que os princípios visam assegurar o equilíbrio entre as práticas, estratégias e táticas organizacionais. Identifica-se então que vários conceitos prescritos por este modelo de gestão encontram-se contemplados no modelo para ARH de Ulrich (1998). Após a apresentação sobre os modelos de gestão de recursos humanos, a próxima subseção abordará o conceito de percepção em virtude da necessidade de se compreender os processos que a compõem, pois, a mesma faz parte deste estudo. 2.6 Percepção De acordo com Sternberg (2000, p.110) “A percepção é um conjunto de processos pelos quais reconhecemos, organizamos e entendemos as sensações recebidas dos estímulos ambientais.” Esse mesmo autor apresenta duas teorias da percepção social, as quais ele classifica como principais: a percepção construtiva e a percepção direta. Na primeira o indivíduo cria uma percepção a partir de um estímulo, usando as informações sensoriais para fundamentar a estrutura e acresce outras fontes de informações. Trata-se de uma percepção racional, também chamada de inteligente, a qual vincula o que se sabe, com o que se sente e com as inferências, que são as deduções com base no conhecimento. Quanto à percepção direta, a mesma se restringe às informações dos receptores sensoriais, incluindo o ambiente (STERNBERG, 2000). Igualmente, outras quatro teorias são apresentadas por esse autor, são elas: Teoria do Modelo – nossas mentes guardam uma grande base de modelos, que são consultados para reconhecimento de padrões; Teoria do Protótipo – não é um modelo rígido e concreto, porém muito representativo de um padrão; Teoria da Característica – relaciona as características de um padrão com padrões armazenados na memória; Teoria da Descrição Estrutural – que trata das referências e padrões de forma tridimensional. Corrobora com os conceitos apresentados Robbins (2005), ao definir a percepção como um processo onde os indivíduos realizam uma interpretação própria, dando sentido ao seu ambiente. Esse fenômeno é importante para o cenário organizacional, pois o comportamento das pessoas que nele atuam sofre influência dessa dinâmica. A interpretação que cada indivíduo atribui a uma determinada situação sofre a influência do contexto e de suas características pessoais, tais como suas experiências anteriores, atitudes, motivações e expectativas geradas por relacionamentos estabelecidos (ROBBINS, 2005). Com esta abordagem sobre percepção conclui-se a fundamentação teórica deste estudo. Na próxima seção, será apresentada a metodologia utilizada para o desenvolvimento da pesquisa. 3 METODOLOGIA DA PESQUISA Este capítulo tem por objetivo apresentar os aspectos metodológicos que orientaram a pesquisa, a saber: delineamento da pesquisa, locus da pesquisa, população e amostra, coleta dos dados, pré-teste, análise e interpretação dos dados, bem como limites e limitações da pesquisa. 3.1 Delineamento da Pesquisa De acordo com Vergara (2000), a classificação da pesquisa pode ocorrer através de dois aspectos: quanto aos fins e quanto aos meios da investigação. Quanto aos fins, esta pesquisa consiste em um estudo descritivo, que, de acordo com Gil (2002), tem como objetivo descrever as características de determinada população ou fenômeno ou, ainda, o estabelecimento de relações entre variáveis. São incluídas, nessas pesquisas, aquelas que procuram levantar opiniões, atitudes e crenças de uma população. Uma de suas características relevantes está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário. Quanto aos meios, o método de pesquisa escolhido foi o survey, por ser um método de investigação empírica, o qual dá ao pesquisador as condições de descrever os fenômenos e explicar as razões, características e correlações observadas. Surveys são muito semelhantes a censos. A diferença principal é que no primeiro se investiga uma amostra da população e, no segundo, a população toda (BABBIE, 1999). Esta pesquisa também se enquadra nas abordagens quantitativa e qualitativa, em virtude da aplicação de métodos de coleta e análise de dados pertinentes a estas perspectivas. A abordagem quantitativa, de acordo com Richardson et al. (2009, p. 70), “caracteriza-se pelo emprego da quantificação, tanto nas modalidades de coleta de informações quanto no tratamento delas por meio de técnicas estatísticas, desde as mais simples como percentual, média, às mais complexas, como coeficiente de correlação, análise de regressão etc.” Já a abordagem qualitativa se preocupa em analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo com detalhes as características do comportamento humano. Fornece análise mais detalhada sobre as investigações, hábitos, atitudes, percepções, tendências de comportamento etc. (MARCONI, LAKATOS, 2010). A Figura 2 apresenta a diagramação da pesquisa na página a seguir, considerando as etapas deste estudo. Figura 2 – Diagramação da pesquisa O PROBLEMA DE PESQUISA Identificou-se através da literatura quais os papéis que devem ser realizados pelos profissionais de RH. Então, surgiu o desejo de investigar a percepção dos profissionais de empresas privadas de grande porte no Brasil, sobre as atividades realizadas pela área RH, em virtude dessas organizações serem consideradas como uma das que emulou modelos e práticas de GRH vindos do exterior. CONSTRUÇÃO DOS OBJETIVOS Procurou-se elaborar objetivos que atendessem as expectativas da pesquisa. DETERMINAÇÃO DO TIPO DE PESQUISA Survey autoadministrado pois, procura identificar a percepção de um grande número de respondentes, sobre o assunto estudado. ELABORAÇÃO DO INSTRUMENTO E DAS ESTRATÉGIAS DE COLETA DE DADOS Questionário autoadministrado (APÊNDICE I) PRÉ-TESTE DO INSTRUMENTO Verificação do entendimento das perguntas por parte dos respondentes. COLETA DE DADOS Os respondentes foram convidados via e-mail, para participar da pesquisa através de um link onde se hospedou na internet, o questionário autoadminsitrado. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS Os resultados quantitativos foram analisados através de estatística descritiva e os resultados qualitativos foram tratados através da análise de conteúdo. REDAÇÃO DA DISSERTAÇÃO Fonte: Adaptado de Gil (2002, p.21) 3.2 Locus da Pesquisa, População e Amostra O local escolhido para análise foi à área de recursos humanos de organizações privadas de grande porte no Brasil, em virtude da evolução histórica dos papéis desenvolvidos pelos profissionais desta área e porque as multinacionais, as organizações estatais e as grandes organizações privadas no Brasil emularam os modelos e práticas de GRH vindos do exterior os quais se caracterizam pela presença de valores relacionados ao sucesso e a excelência, ao prestígio dos líderes transformacionais e à promoção dos princípios de adaptabilidade, inovação e competitividade (WOOD Jr., TONELLI e COOKE, 2011). Refletindo sobre esses dados criou-se a pesquisa. Para tanto, foi encaminhando o convite para participação da pesquisa via e-mail para os seguintes locais: secretarias dos cursos de pós-graduações das universidades públicas e privadas, que se teve acesso em todas as regiões do Brasil, assim como para as secretarias da associação brasileira de RH, do conselho federal de administração e de psicologia, com o objetivo de acessar os profissionais que compõem o banco de dados destas organizações. Quanto ao critério de classificação do porte de empresas, adotou-se o do SEBRAE Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (2011), o qual considera como empresas de grande porte as indústrias que possuem mais de 500 empregados e as empresas de comércio e serviços, que possuem mais de 100 empregados (Cf. site da empresa acessado em 01 de agosto de 2011). Compõem a população deste estudo os profissionais que trabalham em organizações privadas de grande porte no Brasil. A amostra deste estudo foi selecionada por conveniência, levando-se em consideração a acessibilidade às pessoas foco deste estudo (VERGARA, 2000). Na oportunidade, foi solicitado aos respondentes que encaminhassem o convite da pesquisa à sua rede de relacionamentos que trabalhassem em organizações com essas características. A amostra deste estudo contempla 101 profissionais das áreas de RH, finanças, operações, marketing, saúde e segurança e outras. Entretanto, houve uma grande dificuldade em aumentar o número de respondentes para a pesquisa, pois, mesmo solicitando a ajuda das secretarias das instituições de ensino superior e das associações de classes, para as quais se encaminhou três vezes o convite, via correio eletrônico, não se obteve o retorno almejado, principalmente, dos profissionais da área de RH. Mas, mesmo com estas dificuldades este estudo pode contribuir com a sociedade acadêmica, ou seja, com os docentes que ministram as disciplinas de gestão de pessoas e outras disciplinas afins, com os discentes que estão em busca de aperfeiçoar conhecimentos e com as organizações que buscam a melhoria do processo de gestão de RH. O Gráfico 1 apresenta a população desta pesquisa, a qual é composta por 25 profissionais da área de RH, 11 de finanças, 20 de operações, 6 de marketing, 4 de saúde e segurança e 35 de outras áreas, a saber: jurídica, engenharia, comercial, comunicação, tecnologia da informação e qualidade e processos. Gráfico 1 – População da pesquisa por área de atuação profissional __________________________________________________________ Fonte: Dados da Pesquisa, 2011. 3.3 Coleta dos Dados A coleta de dados ocorreu no período compreendido entre os dias 2 de junho e 3 de outubro de 2011. A técnica para a coleta de dados foi composta por um questionário autoadministrado, constante no (APÊNDICE A). Esse instrumento é definido por Cooper e Shindler (2003) como uma maneira de questionar o respondente através de várias perguntas, porém sem a intervenção do pesquisador. Igualmente, o mesmo é composto por quarenta questões objetivas, cinco subjetivas e os dados demográficos. As questões objetivas foram extraídas na íntegra da obra de Ulrich (1998) e compostas por uma escala do tipo Likert, com variação de 1 até 5 pontos, a qual foi adaptada para a coleta dos dados desta pesquisa, a saber: 1 (nada); 2 (pouco); 3 (razoavelmente); 4 (muito); e, 5 (extremamente). Considerando-se a nota 1 para baixa qualidade dos serviços prestados pelos profissionais de recursos humanos e 5 para a alta qualidade (ULRICH, 1998). Quanto às questões abertas, as mesmas foram elaboradas com o objetivo de identificar mais detalhes a respeito das percepções dos respondentes sobre os papéis da área de RH. O questionário possui também perguntas sobre os dados demográficos dos respondentes, tais como, sexo, idade, nacionalidade e naturalidade, nível de escolaridade, tipo e tamanho da organização em que o profissional trabalha, tempo de serviço, área de atuação profissional e nível hierárquico, para se identificar o perfil dos participantes deste estudo. No que se refere às questões fechadas do questionário, a literatura sobre GRH mostra que as mesmas já foram aplicadas em outras pesquisas, como por exemplo, em um grupo empresarial de matriz européia, abrangendo os colaboradores da organização no Brasil, nos países do Mercosul e da Europa, em que o Grupo possui unidades. Na ocasião, foram objetos de estudo dois grupos diferentes: o primeiro composto por todos os funcionários que trabalham no RH, independentemente do nível ou localidade no Mercosul e na Europa; e, o segundo composto por gerentes e supervisores das diferentes áreas e setores dos estabelecimentos no Mercosul. O questionário, reproduzido ipsis literis nas línguas inglesa e portuguesa foi enviado para 60 pessoas (JÚNIOR, FUJITA, BRANDÃO, RHINOW, 2010). Quanto à folha de pontuação para a pesquisa dos papéis desempenhados pelos profissionais de RH (APÊNDICE B) é um instrumento que mede o resultado quantitativo e oferece dois tipos de informações. A primeira, a nota total para os quatro papéis (que vai de 50 a 200 pontos) constitui uma avaliação geral da qualidade global dos serviços de RH nas organizações. De modo que, notas globais acima de 160 pontos indicam uma percepção de alta qualidade dos serviços prestados pelo RH e as notas globais abaixo de 90 pontos, serviços percebidos como de baixa qualidade. Quanto à segunda informação, esta apresenta a distribuição dos pontos entre os quatro papéis, mostrando a percepção da qualidade dos serviços do RH para cada um, possibilitando um retrato da função. Para isso, atribui-se a cada papel no máximo 50 pontos, totalizando 200 pontos para os quatro papéis (ULRICH, 1998). 3.4 Pré-teste O pré-teste centrou-se na avaliação do instrumento de coleta de dados, procurando garantir que identifique exatamente o que pretende identificar. Qualquer que seja o instrumento, o primeiro procedimento nessa etapa é escolher indivíduos pertencentes ao grupo que se pretende estudar. Seu número pode ser bastante reduzido, independentemente da quantidade de pessoas que compõem a população a ser pesquisada (GIL, 2002). O pré-teste foi realizado com cinco profissionais de áreas organizacionais distintas. Não se identificou dificuldades no entendimento do questionário e o mesmo foi encaminhando via e-mail para os respondentes que exercem as suas atividades profissionais em duas empresas de grande porte no Brasil, as quais possuem fábricas nas regiões norte e sul e filiais nas regiões nordeste e sudeste. 3.5 Análise e Interpretação dos Dados As técnicas escolhidas para a análise dos dados foram: estatística descritiva e análise de conteúdo. O conceito sobre estatística descritiva é abordado por Freund e Simon (2000), com o manejo dos dados para resumi-los ou descrevê-los, sem ir além. Isto é, sem procurar inferir qualquer coisa que ultrapasse os próprios dados. Para tanto, os dados provenientes das questões fechadas da pesquisa foram submetidos à análise através de parâmetros como média e freqüência e, para isso, utilizou-se o Microsolt Excel. Em seguida, procurou-se resumir os dados estatísticos através de tabelas e gráficos, por ser essa a maneira mais utilizada (DIEHL; SOUZA; DOMINGOS, 2007). Quanto à análise das respostas abertas, utilizou-se a análise de conteúdo, a qual é definida por Bardin (2010, p. 44), como: “ Um conjunto de técnicas de análises das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.” As fases da análise de conteúdo segundo Bardin (2010) são constituídas em torno de três pólos cronológicos: 1. Pré-análise; 2. Exploração do material; 3. O tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação. A fase de pré-análise tem por finalidade a organização dos documentos. Para tanto, as seguintes atividades foram realizadas: a) Leitura flutuante, a qual procura estabelecer contato com os documentos, que serão analisados com o objetivo de conhecer o texto; b) Escolha dos documentos, de acordo com a proposta de análise; c) Referenciação dos índices e a elaboração de indicadores. Os índices podem ser as menções apresentadas em uma mesma mensagem. Então, se parte do princípio de que este tema é mais relevante para o respondente, em virtude do mesmo ter sido repetido com mais frequência. Selecionando os índices, segue-se à elaboração dos indicadores precisos e seguros. d) Preparação do material para análises, ou edição, dos textos. Já a fase de exploração do material consiste em codificá-lo. A codificação é o processo pelo qual os dados brutos são transformados sistematicamente e agregados em unidades, as quais viabilizam uma descrição precisa das características pertinentes ao conteúdo. A fase de tratamento dos resultados obtidos e interpretação levam o analista a propor inferências e adiantar interpretações a respeito dos objetivos propostos, ou que digam respeito a outras descobertas inesperadas. Desse modo, a análise de conteúdo procura entender o pensamento do sujeito através do conteúdo expresso no texto (CAREGNATO e MUTTI, 2006). 3.6 Limites e Limitações da Pesquisa Como limite deste estudo, determinou-se a necessidade de cada respondente trabalhar em organizações privadas de grande porte no Brasil. Algumas limitações desta pesquisa devem ser consideradas, em virtude de não se ter o controle de possíveis variáveis intervenientes: a) Tempo de serviço dos respondentes nas organizações. Não foi possível colher esse dado, pois ao lançar esta pergunta do questionário ocorreu erro no programa do sistema de informação, impossibilitando a coleta das respostas. b) Experiência anterior em RH, tanto dos profissionais dessa área quanto dos profissionais das outras áreas, pode influenciar os resultados. c) Segmento de atuação da organização como, indústria, comércio ou serviço pode influenciar nos papéis de RH. d) Dificuldade em aumentar o número de respondentes para a pesquisa, pois, mesmo solicitando a ajuda das secretarias das instituições de ensino superior e das associações de classes, para as quais se encaminhou os convites, não se obteve o retorno almejado, principalmente, dos profissionais da área de RH. e) Quatro questionários foram respondidos de maneira incompleta, inviabilizando o aproveitamento das respostas. Mas, apesar das limitações esse estudo pode contribuir junto aos docentes e discentes desta área de ensino e pesquisa, assim como para as organizações que buscam a melhoria contínua dos seus processos de gestão. Com essas informações, conclui-se a apresentação da metodologia utilizada e na próxima seção será apresentada a análise e discussão dos dados encontrados. 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS A exposição dos resultados desta pesquisa se dá em dois momentos: no primeiro, aborda-se os dados demográficos dos respondentes do questionário e, no segundo, apresentada-se a avaliação global dos papéis realizados pelos profissionais de RH e os cinco objetivos específicos que apóiam a avaliação geral. 4.1 Dados Demográficos dos Respondentes Os participantes dessa pesquisa totalizaram 101 indivíduos, sendo 46% do sexo feminino e 54% do sexo masculino. Já no grupo pesquisado, referente área de RH, o percentual de indivíduos do sexo feminino é de 68%, em relação ao sexo masculino, 32%, demonstrando que a área de recursos humanos, na amostra, é composta principalmente por profissionais do sexo feminino. Quanto ao grupo de profissionais das outras áreas organizacionais, predominam indivíduos do sexo masculino 62,7%, em relação a 37,3% do sexo feminino. Os Gráficos 2, 3 e 4 ilustram os detalhes destes dados. Gráfico 2 – Sexo dos profissionais de RH e de outras áreas organizacionais ______________________________________________________________ Fonte: Dados da Pesquisa, 2011. Gráfico 3 – Sexo dos profissionais de RH _____________________________________________________________________ Fonte: Dados da Pesquisa, 2011 Gráfico 4 – Sexo dos profissionais de outras áreas organizacionais __________________________________________________________________________ Fonte: Dados da Pesquisa, 2011 Analisando os resultados, identificou-se uma predominância das mulheres na área RH. Esse fenômeno chamou atenção. Então, buscaram-se explicações para isso e se identificou no site da Associação Brasileira de Recursos Humanos Regional de Blumenau – SC, hospedado na internet e visitado em 21.10.2011, uma entrevista, realizada em 05.03.2010, junto à presidente desta associação, a Sra. Leyla Nascimento e a vice-presidente Sra. Elaine Saad, na qual as mesmas deram as seguintes declarações sobre a predominância feminina na área de RH: “Socialmente, a mulher é cobrada para dar atenção em primeiro lugar à família e só depois a ela mesma. E a área de RH é basicamente voltada ao atendimento das pessoas em suas necessidades e seu desenvolvimento, o que envolve temas como qualidade de vida, dinâmica de grupo, processos de recrutamento, seleção, avaliação e feedbacks, com os quais o público feminino, a partir da vivência em sociedade, tem mais habilidades para lidar.” [LN] “... há competências que são intrínsecas a cada ser humano, mas existe um conjunto delas que, normalmente, aparece mais em mulheres, como a intuição, a visão emocional dos fatos, o acolhimento das pessoas, a sensibilidade para compreender o outro e se colocar no lugar dele. Como RH lida com gente, pode haver correlação com essas competências.” [ES] “ A área de RH é sempre aberta a diversos tipos de profissionais. Nos últimos anos, tivemos o ingresso de muitos homens, mas, também, a ascensão de muitas mulheres a cargos de comando...”[ES] Outro dado que ratifica estas informações foi o que ocorreu no CONARH, evento promovido pela ABRH-Nacional. Este evento registrou que, dos seus mais de doze mil participantes, 60% são do sexo feminino. Diante destes dados, verificou-se que a predominância feminina nesta área pode refletir questões culturais. Quanto ao nível de escolaridade dos profissionais da área de RH o mesmo encontra-se distribuído conforme Gráfico 5, na página seguinte. Gráfico 5 - Nível de escolaridade dos profissionais de RH ______________________________________________________________ Fonte: Dados da Pesquisa, 2011. Os dados mostram que 24% dos profissionais de RH, que participaram da pesquisa, possui o nível de escolaridade concentrado em especialização concluída. Os demais profissionais encontram-se distribuidos entre os seguintes níveis de escolaridade: 40% mestrado não concluído, 12% ensino superior concluído, 8% mestrado concluído e doutorado não concluído, respectivamente, 4% especialização não concluída e 4% ensino superior não concluído. Quanto ao nível de escolaridade dos profissionais das outras áreas organizacionais desta amostra, ele se encontra concentrado na formação de mestrado concluído 27,6%. Os demais profissionais se encontram distribuidos nos níveis de: 21,1% mestrado não concluido, 19,7% especialização concluída, 14,5% doutorado não concluído, 7,9% ensino superior concluido, 3,9% especialização não concluida, 2,6% doutorado concluído e curso superior não concluído respectivamente, conforme aborda o Gráfico 6, na página a seguir. Gráfico 6 - Nível de escolaridade dos profissionais de outras áreas organizacionais ________________________________________________________________ Fonte: Dados da Pesquisa, 2011. Os dados do gráfico acima mostram que 47,3% dos profissionais das outras áreas organizacionais possuem o nível de escolaridade compreendido entre especialização concluída e mestrado concluído, denotando bom nível acadêmico do grupo. Inclusive, quando comparado ao grupo de RH identifica-se que os mesmos encontram-se em melhores situações de escolaridade, o que mostra que esses profissionais acumulam maior conhecimento acadêmico que os profissionais de RH. Diante desses dados, considera-se que os colaboradores da área de recursos humanos devem aprimorar o nível de escolaridade, ou seja, de conhecimento acadêmico. Quanto à área de atuação profissional da amostra desta pesquisa, ela é formada por profissionais da área de RH 24,8%, finanças 10,9%, operações 19,8%, marketing 5,9%, saúde e segurança 4,0% e 34,7% outras áreas organizacionais, tais como, jurídica, engenharia, comercial, comunicação, tecnologia da informação e qualidade e processos, conforme apresentação no Gráfico 7 na página seguinte. Gráfico 7 - Área de atuação profissional da amostra da pesquisa ______________________________________________________________ Fonte: Dados da Pesquisa O nível hierárquico dos profissionais de RH, que compõe a amostra desta pesquisa, concentra-se no cargo de gerência intermediária 36% e nível técnico 28%. Os demais níveis estão distribuídos com os seguintes percentuais: 16% outros, ou seja, coordenação, 12% gerência superior, 4% direção estratégica e assessoria respectivamente. O Gráfico 8 ilustra esses dados. Gráfico 8 - Nível hierárquico dos profissionais de RH ______________________________________________________________ Fonte: Dados da Pesquisa O Gráfico 8 mostra que a maioria dos profissionais de RH (64%) ocupa cargos de nível compreendido entre gerência intermediária e nível técnico, o que pode refletir que a área de RH ainda não concentra os seus profissionais no nível estratégico das organizações e sim nas áreas mais voltadas para as questões de especialista administrativo, responsável pelos processos de recrutamento, seleção, treinamento, desempenho, qualidade de vida e outros, do que de administrador de estratégias de RH, vinculdas às estratégias da organização. O nível hierárquico dos profissionais de outras áreas organizacionais, que compõe a amostra desta pesquisa, concentra-se no cargo de gerência intermediária 31,2%. Os demais níveis estão distribuídos com os seguintes percentuais: 20,8% outros, ou seja, coordenação e consultoria, 18,2% nível técnico, 14,3% gerência superior, 11,7% direção estratégica e 3,9% assessoria. O Gráfico 9 ilustra os dados apresentados. Gráfico 9 - Nível hierárquico dos profissionais de outras áreas organizacionais __________________________________________________________ Fonte: Dados da Pesquisa, 2011. Os dados do Gráfico 9 mostram que a maioria dos profissionais das outras áreas organizacionais 70,2% ocupam cargos de nível compreendido entre gerência intermediária, nível técnico e outros (coordenação e consultoria). Porém, mesmo esta amostra não se concentrando hierárquicamente no nível estratégico, há 7,7% a mais de profissionais nesse nível em relação aos profissionais de RH. Após a apresentação dos dados demográficos dos participantes da pesquisa, segue-se ao processamento dos dados e às análises dos resultados. a. Processamento dos Dados e Análises dos Resultados O objetivo do estudo foi identificar como a área de recursos humanos é percebida por profissionais de organizações privadas de grande porte no Brasil, à luz do Modelo de Múltiplos Papéis para a Administração de RH de Ulrich (1998). Em relação à avaliação global, os resultados se encontram resumidos na Tabela 1. Tabela 1 - Médias globais das pontuações atribuídas aos papéis dos profissionais de RH por grupo de respondentes Papéis de RH Médias (RH) Médias (Outras Áreas) Administração de Estratégias de RH 34,88 26,16 Administração da Infraestrutra da Organização 38,24 32,38 Administração da Contribuição dos Funcionários 32,84 25,92 Administração da Transformação e da Mudança 33,00 25,41 Resultados Globais 138,96 109,87 Fonte: Dados da Pesquisa, 2011. A Tabela 1 apresenta as pontuações obtidas através do questionário desta pesquisa. De acordo com Ulrich (1998), organizações cuja pontuação global se encontra acima de 160 pontos, indicam uma percepção de alta qualidade dos serviços realizados pelo RH. Por outro lado, notas globais abaixo de 90 pontos indicam serviços percebidos como de baixa qualidade. Para tanto, cada papel da área de RH recebe no máximo 50 pontos, perfazendo um total de 200 pontos para os quatro papéis. Prosseguindo com a análise, para atender ao objetivo geral desta pesquisa, identificase com os resultados globais que a percepção sobre a qualidade dos serviços realizados pelos profissionais de recursos humanos pode ser considerada satisfatória, de acordo com a percepção dos respondentes desta área e mediana conforme a visão dos profissionais das outras áreas organizacionais. Esses resultados se encontram ancorados na pontuação apresentada pela área de RH 138,96 pontos e pelos profissionais das outras áreas organizacionais 109,87 pontos. A comparação entre os resultados encontrados mostra que os profissionais de RH percebem os seus serviços com qualidade superior à percepção dos profissionais das outras áreas. Dessa forma, verifica-se que as expectativas são desiguais entre os grupos de respondentes, e os profissionais de RH se autoavaliam como melhores do que são percebidos por seus clientes – os profissionais das outras áreas organizacionais. Essa autoavaliação positiva pode significar que os profissionais de RH estejam julgando seus serviços por suas próprias boas intenções, enquanto os seus clientes os estejam julgando pelo impacto e resultados dos serviços recebidos. Então, para que as expectativas de ambos os grupos possam ser discutidas e compartilhadas e os papéis de RH esclarecidos e divulgados, a pesquisa de avaliação de papéis de RH pode ser considerada uma ferramenta de diagnóstico que viabilize esse entendimento (ULRICH, 1998). Segue-se com a análise dos resultados obtidos referente aos quatro papéis de RH delineados por Ulrich (1998), de acordo com as percepções dos profissionais de recursos humanos e dos profissionais das outras áreas organizacionais, para que se possa atender aos objetivos específicos desta pesquisa e seja possível compreender as razões das pontuações globais, através das pontuações de cada papel e das respostas abertas colhidas no questionário. Assim como, prossegue-se com a análise do quinto objetivo específico visando comparar os principais achados da pesquisa entre os grupos de respondentes. As percepções dos profissionais da área de RH e das outras áreas organizacionais, sobre cada um dos papéis de RH definidos por Ulrich (1998), encontram-se resumidas nos Gráficos 10 e 11. Estes papéis foram analisados um a um, conforme cada objetivo específico deste estudo. Gráfico 10 – Pontuações obtidas para cada papel da área de RH de acordo com as percepções dos profissionais desta área organizacional 39,00 38,00 37,00 36,00 35,00 34,00 33,00 32,00 31,00 30,00 AERH AERH AIO ACF ATMO AIO - ACF ATMO Administração de Estratégias de RH Administração da Infraestrutura Organizacional Administração da Contribuição dos Funcionários Administração da Transformação e da Mudança Organizacional Fonte: Dados da Pesquisa, 2011. Gráfico 11 – Pontuações obtidas para cada papel de RH de acordo com as percepções dos profissionais das outras áreas organizacionais 35,00 30,00 25,00 20,00 15,00 10,00 5,00 0,00 AERH AERH AIO ACF ATMO AIO ACF ATMO - Administração de Estratégias de RH - Administração da Infraestrutura Organizacional - Administração da Contribuição dos Funcionários - Administração da Transformação e da Mudança Organizacional Fonte: Dados da Pesquisa, 2011. 4.3 Análise do Primeiro Objetivo Específico Identificar como os respondentes avaliam a administração de estratégias de RH, à luz do modelo para ARH de Ulrich (1998). A avaliação dos profissionais de RH 34,88 pontos, como administradores das estratégias de recursos humanos, é superior a percepção dos profissionais das outras áreas organizacionais 26,16 pontos. Seguem os exemplos extraídos dos relatos dos profissionais da área RH: “O RH dá suporte ao negócio, alinhando seus processos e práticas às demandas organizacionais.” [RHR2] “O RH é ativamente envolvido na elaboração das estratégias, participando junto com os Diretores e Executivos de todos os assuntos que possam ter impacto no quadro de pessoal e na satisfação dos colaboradores.” [RHR4] “A participação é grande, porém muitas vezes não há um bom alinhamento entre as estratégias organizacionais e as estratégias de RH.” [RHR15] “A cultura da organização não permite uma atuação estratégica efetiva do RH.” [RH24] Analisando estas respostas, identifica-se que as mesmas apóiam os resultados obtidos através das pontuações atribuídas ao papel de administrador de estratégias de RH, pois, segundo as informações colhidas através dos profissionais de recursos humanos, a participação destes na elaboração das estratégias organizacionais vinculadas às estratégias de recursos humanos, pode ser considerada em processo de desenvolvimento, satisfatória. Em algumas organizações, com evolução mais aguçada e em outras em construção, levando em consideração que a cultura organizacional é um dos pilares para que esse processo ocorra juntamente com as iniciativas do próprio RH. No encontro com a teoria, Ulrich (1998) afirma que os profissionais de RH se tornam parceiros estratégicos quando participam do processo de elaboração das estratégias organizacionais e vinculam estas às estratégias de RH. Para tanto, é preciso que a cultura da organização favoreça essa participação, a qual contribuirá para o alcance das metas e o sucesso empresarial e que os gestores de RH conquistem este espaço. Além disso, a maior responsabilidade das organizações, que desenvolvem um planejamento estratégico, é a de gerar e envolver toda a organização para a capacidade de aprendizado e crescimento. Os resultados dessa dinâmica de trabalho são concretizados a partir do cumprimento das metas da organização pelos funcionários, os quais são imprescindíveis ao processo e representam o diferencial competitivo no mercado (DESSLER, 2003; TAVARES, 2005; DEMO, 2010). Seguem os exemplos extraídos dos relatos dos profissionais das outras áreas organizacionais: “Toda atitude do RH vem a pedido da Gerência ou Diretoria, ele só executa.” [POAOR2] “O nosso RH não participa ativamente, as decisões são tomadas pela diretoria.” [POAOR3] “Eu vejo o RH como coadjuvante na elaboração de estratégias sendo muito mais um agente operacional na divulgação das estratégias e um consultor para questões que possam afetar a legislação trabalhista.” [POAOR4] “O RH é um agente executor de tarefas/atividades solicitadas pela alta diretoria, que possui o veto de gerenciamento e estabelecimento das diretrizes das estratégias empresariais. Ou, em outras palavras, um agente facilitador. No entanto fica à margem destas decisões estratégicas.” [POAOR15] “O RH é visto como suporte e a cultura da organização não favorece seu envolvimento nas questões estratégicas.” [POAOR26] As respostas concedidas pelos profissionais das outras áreas organizacionais ao papel da área de RH em administrar suas estratégias vinculadas às estratégias da organização apóiam as pontuações atribuídas, podendo ser considerada uma avaliação mediana, pois, para esse grupo de profissionais o RH executa o que é determinado pela diretoria. Dessa maneira, esses profissionais podem ser considerados como executores das estratégias organizacionais e não como construtores das mesmas. Verifica-se, assim, que há divergências entre as percepções dos grupos de respondentes e isso pode ocorrer, por exemplo, em virtude da falta de divulgação e/ou comunicação sobre a atuação da área de RH. Todavia, em casos de percepções desiguais, quanto à avaliação da qualidade dos serviços realizados pelos profissionais da área RH, Ulrich (1998) sugere que o assunto seja discutido entre os grupos (RH e as outras áreas), para que as expectativas sejam definidas e partilhadas e os papéis esclarecidos e comunicados. 4.4 Análise do Segundo Objetivo Específico Verificar como os respondentes avaliam a administração da infraestrutra da organização, de acordo com o modelo para ARH delineado por Ulrich (1998). A avaliação dos profissionais de recursos humanos 38,24 pontos, como administradores da infraestrutura da organização, é superior a dos profissionais das outras áreas organizacionais 32,38 pontos, porém, para ambos os grupos de respondentes, esse foi o papel de RH que alcançou a maior pontuação. Dessa forma, verifica-se que as expectativas sobre o desenvolvimento dessa atividade são semelhantes entre os profissionais de RH e das outras áreas organizacionais. Seguem os exemplos extraídos dos relatos dos profissionais da área RH: “Possui foco na melhoria dos processos e no atendimento às necessidades dos colaboradores.” [RHR2] “Somos muito focados nos aspectos que dizem respeito ao conforto e satisfação dos colaboradores.” [RHR3] “Como na empresa temos dentro do setor profissionais formados na área de RH, eles tem a visão de pensar e agir pensando no melhor para os funcionários e para a empresa.” [RHR5] “Busca ouvir e compreender as necessidades, ouvindo as contribuições dos indivíduos no processo de formação das políticas e práticas.” [RHR11] Prossegue-se com os relatos dos profissionais de outras áreas organizacionais, a saber: “Desenvolve com competência e em parceria com lideranças.” [POAOR13] “Excelente atuação, reconhecida pelos colaboradores.” [POAOR53] “O RH faz com muita competência, os funcionários são muito bem selecionados e é nosso diferencial.” [POAOR55] “É um dos pilares da atuação e tbm atua ativamente.” [POAOR69] “Nesse segmento o RH é bastante ativo.” [POAOR76] Analisando as respostas dos profissionais de RH e dos profissionais das outras áreas organizacionais, identifica-se que as pontuações colhidas através da estatística descritiva se encontram apoiadas pelos dados colhidos através dos relatos de ambos os grupos, denotando uma avaliação satisfatória quanto ao desempenho do RH no seu papel de administrador da infraestrutura organizacional. Outrossim, conforme o modelo de múltiplos papéis para a ARH, esse é um papel tradicional dos profissionais de RH, cujo objetivo é gerar e desenvolver processos eficientes para recrutar, selecionar, contratar, treinar, avaliar, premiar, promover e gerenciar o fluxo de funcionários nas organizações. A realização bem-sucedida desse processo de gestão agrega valor para o negócio (ULRICH, 1998). Nesta direção, a área de RH se torna responsável pela efetividade técnica e de realização dos serviços e deve estar preparada para as melhores práticas do seu departamento, pois são especialistas que emprestam a sua habilidade para fornecer serviços a toda à organização (MILKOVICH, BOUDREAU, 2000; DESSLER, 2003). 4.5 Análise do Terceiro Objetivo Específico Compreender como os respondentes avaliam a administração de RH, no que se refere à contribuição dos funcionários, de acordo com o modelo para ARH de Ulrich (1998). A avaliação dos profissionais de RH 32,84 pontos a respeito deste papel é superior à dos profissionais das outras áreas organizacionais 25,92 pontos. Nesta função, como na função de administrador de estratégias de RH, há divergências de expectativas e esse, dentre os quatro papéis delineados por Ulrich (1998), foi aquele que recebeu a menor pontuação segundo a avaliação do RH. Seguem os exemplos extraídos dos relatos dos profissionais da área RH: “O RH dá suporte ao negócio.” [RHR2] “Podemos melhorar neste item, mas incentivamos a todos a se apropriar da sua carreira independente do auxílio da empresa.” [RHR4] “O RH analisa cada profissional de forma individual, analisando todos os seus limites.” [RHR10] “Oferece plano de carreiras, incentivo educacional, cursos e treinamentos.” [RHR21] Prossegue-se com os relatos dos profissionais de outras áreas organizacionais, a saber: “Não se preocupa com necessidades pessoais. mas se preocupa com condições de segurança dos funcionários no trabalho (condições adequadas).” [POAOR15] “O atendimento se dá, porém de forma reativa e pouco preventiva.” [POAOR28] “O RH não atende às necessidades dos funcionários, detendo-se às exigências legais.” [POAOR49] “Vejo o RH preocupado com as condições de trabalho, mas sinto que esta preocupação é muito em função das exigências legais e trabalhistas.” [POAOR54] Analisando as respostas dos profissionais de RH e dos profissionais das outras áreas organizacionais, identifica-se que as avaliações oriundas dos dados estatísticos descritivos se encontram apoiadas pelos dados colhidos, através dos relatos de ambos os grupos, denotando uma avaliação satisfatória, de acordo com as percepções do grupo de RH, e mediana para os respondentes das outras áreas. Identifica-se também, através dos relatos, que o RH considera ser um bom administrador das contribuições dos funcionários aquele profissional que procura atender às necessidades do negócio. Já para os profissionais das outras áreas, eles visualizam a área de RH executando esse papel, como cumpridor das exigências legais e trabalhistas. Porém, de acordo com o modelo de ARH de Ulrich (1998), gerenciar as contribuições dos funcionários significa atender às demandas do negócio e necessidades dos funcionários, visando maior comprometimento deles com a organização. Ulrich (1998, p.45 e 46) descreve que gerenciar as contribuições dos funcionários significa: “Se envolver nos problemas, preocupações e necessidades cotidianas. Com ativos defensores dos funcionários, que compreendem suas necessidades e garantem que elas sejam atendidas, eleva-se a contribuição global dos funcionários. Os resultados da administração da contribuição dos funcionários são representados pelo maior envolvimento e competência dos mesmos.” Corrobora com essa linha de raciocínio Cançado, Medeiros e Jeunon (2008), ao afirmar que o RH deve ser capaz de promover condições adequadas, que levem as pessoas a se dedicarem ao máximo para o sucesso da organização. Para tanto, os profissionais de RH devem gerar e desenvolver atividades e mecanismos para ouvir, responder e identificar maneiras de atender às mais variadas demandas das pessoas, de acordo com os objetivos da organização, capacitando-as de recursos e meios para que sejam capazes de executar seu trabalho de maneira requerida e com os resultados esperados. 4.6 Análise do Quarto Objetivo Específico Investigar como os respondentes avaliam a administração da transformação e da mudança organizacional, conforme o modelo para ARH de Ulrich (1998). A avaliação dos profissionais de RH 33,00 pontos, como administradores da transformação e da mudança organizacional, é superior a dos profissionais das outras áreas organizacionais 25,41 pontos. Nesta função, assim como na função de administrador de estratégias de RH e da contribuição dos funcionários, há divergências de expectativas e esse, dentre os quatro papéis delineados por Ulrich (1998), foi aquele que recebeu a menor pontuação, segundo a avaliação dos colaboradores das outras áreas organizacionais. Seguem os exemplos extraídos dos relatos dos profissionais da área RH: “As empresas devem cada vez mais, pensar em seu capital intelectual, pois se este não estiver centrado e definido, a empresa pode ir a falência, as empresas são feitas de pessoas e pessoas fazem as empresas crescerem... [RHR12] “O RH precisa ser o maior parceiro da organização, se envolver totalmente nas suas estratégias, desenvolver, aplicar e gerenciar de modo competente seus processos e garantir que o futuro da organização esteja assegurado. [RHR20] Continuam-se os relatos dos profissionais de outras áreas organizacionais, a saber: “Em minha opinião o RH é refém do que a cultura do poder da empresa quer. Não sendo, portanto, o RH o agente da mudança e sim um operador da mudança a serviço do poder da empresa. [POAOR3] “Não percebo o RH no papel de condutor das mudanças organizacionais. Quando essas ocorrem, há o envolvimento da área de RH, mas ela não é, em princípio, a unidade desencadeadora do processo.” [POAOR54] “É o processo em que atua menos, porque a empresa se apóia mais no corpo gerencial para conduzir esse tipo de mudanças.” [POAOR76] Analisando as respostas dos profissionais de RH e dos profissionais das outras áreas organizacionais, identifica-se que as pontuações atribuídas se encontram apoiadas pelos dados colhidos através dos relatos de ambos os grupos, denotando uma avaliação satisfatória, de acordo com as percepções do grupo de RH, e mediana para os respondentes das outras áreas. Verifica-se ainda, através dos relatos, que o RH se avalia como um bom administrador da transformação e da mudança organizacional, procurando garantir o sucesso das organizações. Por outro lado, os profissionais das outras áreas veem a área de RH como executora desse papel a serviço da diretoria. De acordo com a teoria de GRH de Ulrich (1998), este papel possui três enfoques distintos: iniciativas, processos e cultura. As mudanças de iniciativas determinam novos procedimentos. As mudanças de processos têm como objetivo melhorar o desempenho das operações e/ou resultados alcançados, através das mudanças na realização do trabalho. E a mudança cultural da organização ocorre quando a sua identidade é modificada. Seguem essa linha de raciocínio Cançado, Medeiros e Jeunon (2008), descrevendo que a área de recursos humanos deve buscar como resultados, melhorar e ampliar a capacidade de mudança das organizações. O conhecimento, a habilidade e a atitude são fatores-chaves para a administração das ações necessárias ao processo. Valorizar a história da empresa e, ao mesmo tempo, focar e levar as pessoas ao futuro organizacional desejado é um desafio que exige dedicação do RH, para garantir a efetividade da mudança organizacional. Diante desses achados, considera-se que há muito a ser feito para que o RH alcance aquilo que é proposto pelo Modelo de Múltiplos Papéis para a Administração de RH de Ulrich (1998). Existem divergências consideráveis entre as percepções dos grupos de respondentes, que podem sugerir, por exemplo, falta de divulgação das atividades realizadas pelo RH, para que sejam identificadas e esclarecidas as expectativas. Igualmente, os dados colhidos através dos relatos, sugerem traços de uma cultura organizacional mais favorável à participação da área de RH nos processos operacionais que nos processos estratégicos, e essa percepção é ainda mais aguçada pelos clientes de RH que para os profissionais da área de RH. 4.7 Análise do Quinto Objetivo Específico Comparar os principais achados da pesquisa entre os profissionais de RH e os profissionais das outras áreas organizacionais. Inicialmente apresenta-se na Tabela 2 a síntese dos principais achados da pesquisa. Tabela 2 – Síntese dos principais achados da pesquisa Profissionais de RH Sexo: Feminino 68% Escolaridade: Especialização 24% Cargo: Gerência Intermediária + Nível Técnico= 64% Papel de RH de Maior Pontuação: Administrador da Infraestrutura Organizacional Profissionais de Outras Áreas Organizacionais Sexo: Masculino 62,7% Escolaridade: Especialização e Mestrado 47,3% Cargo: Gerência Intermediária + Nível Técnico + Coordenação e Consultoria= 70,2% Papel de RH de Maior Pontuação: Administrador da Infraestrutura Organizacional Fonte: Dados da Pesquisa, 2011. A Tabela acima mostra que a área de RH é predominantemente ocupada por profissionais do sexo feminino e as outras áreas por profissionais do sexo masculino. Quanto o nível de escolaridade, considera-se que os colaboradores que formam a área de RH devem procurar ampliar os conhecimentos acadêmicos, para elevar o perfil atual, e esses novos conhecimentos auxiliarão no desenvolvimento dos seus papéis nas organizações. Já os profissionais das outras áreas se encontram com o nível de escolaridade mais avançado denotando que do ponto de vista acadêmico estes acumulam mais conhecimentos que os profissionais da área de RH. Igualmente, o nível hierárquico dos profissionais de RH concentra maior número de colaboradores nos cargos de gerência intermediária e nível técnico, apresentando menor concentração no nível estratégico, o que pode sugerir, por exemplo, que o RH mesmo tendo passado por processo de evolução, ainda, não conta com um maior número de colaboradores no nível estratégico. Por outro lado, os profissionais das outras áreas se concentram nos cargos de gerência intermediária, nível técnico, coordenação e consultoria, o que pode apontar que os mesmos ocupam mais cargos de liderança que a área de RH. Quanto ao papel de recursos humanos que recebeu maior pontuação, identificou-se o papel de administrador da infraestrutura organizacional para ambos os grupos de respondentes. Esse resultado sugere que os profissionais de RH possuem maior foco de atuação às atividades de especialista administrativo, ou seja, ao papel tradicional de recrutar, selecionar, treinar, desenvolver, avaliar e outros, que ao papel de administrador das estratégias de RH alinhadas às estratégias da organização (ULRICH, 1998; ULRICH et al., 2011). Após a análise e discussão dos resultados, serão apresentadas as conclusões do trabalho na seção a seguir. 5 CONCLUSÕES A pesquisa sobre os papéis desempenhados pelos profissionais da área de recursos humanos das organizações privadas de grande porte no Brasil partiu da evolução histórica sobre GRH, abrangendo conceitos e modelos de gestão. Para este estudo aplicou-se o Modelo de Múltiplos Papéis para a Administração de RH de Ulrich (1998). Esse modelo define que para uma adequada contribuição do profissional de recursos humanos às organizações, é necessário que ele entenda e exerça seus múltiplos papéis, a saber: administrador de estratégias de RH, administrador da infraestrutura da organização, administrador da contribuição dos funcionários e administrador da transformação e da mudança organizacional (ULRICH, 1998). A adoção desse modelo teve como objetivo geral identificar como os papéis desenvolvidos pelos profissionais de RH são percebidos por eles mesmos e por seus clientes – os profissionais das outras áreas organizacionais. Outro intento do modelo foi verificar a visão de cada grupo de respondente, RH e outras áreas, sobre cada um dos papéis delineados por Ulrich (1998) e por fim comparar os principais achados da pesquisa. Com base nessa teoria, verificou-se que os serviços de recursos humanos são percebidos com qualidade satisfatória pelos profissionais de RH 138,96 pontos e qualidade mediana pelos profissionais das outras áreas organizacionais 109,87 pontos. Da análise comparativa, entre os resultados da pesquisa, de acordo com as avaliações dos profissionais da área de RH e os profissionais das outras áreas, quanto ao papel de administrador da infraestrutura organizacional segundo o modelo de Ulrich (1998), identificou-se que as percepções destes profissionais são semelhantes e possuem uma pontuação favorável 38,24 e 32,38 pontos, respectivamente, quanto à qualidade destes serviços. No entanto, no que diz respeito aos papéis de administrador de estratégias de RH, administrador da contribuição dos funcionários e da transformação e mudança organizacional, os resultados encontrados apresentaram expectativas diferentes. Os profissionais de RH atribuíram-se elevadas pontuações nestes papéis 34,88; 32,84 e 33,00 pontos, respectivamente. Já os profissionais das outras áreas lhes atribuíram baixas pontuações 26,16; 25,92 e 25,41 pontos, em relação à pontuação atribuída ao papel de administrador da infraestrutura organizacional. Essa conclusão se encontra apoiada pelos resultados colhidos através das análises de conteúdos, as quais indicaram que os profissionais de RH se veem desenvolvendo um trabalho com focos operacional e estratégico equalizados e com tendências às melhorias. O mesmo não ocorreu com a percepção dos profissionais das outras áreas organizacionais, que veem a área de recursos humanos como executora das decisões da alta gerência e cumpridora das obrigações legais. No Brasil, historicamente, a Gestão de Recursos Humanos passou por diversas mudanças, as quais contribuíram para o desenvolvimento de novos papéis para os profissionais desta área (GIL, 2001; FISCHER, 2002, DUTRA, 2009). Neste sentido, no contexto atual de transformações que as organizações enfrentam, diante de uma economia globalizada e com grande concorrência, o papel da gestão de recursos humanos pode ser considerado relevante na construção da vantagem competitiva. Por isso, as organizações devem demandar políticas de GRH vinculadas às estratégias empresariais e que sejam capazes de gerar maior comprometimento dos colaboradores, de modo que seja possível alcançar as metas estabelecidas, agregando valor aos negócios. Para tanto, o apoio da cultura organizacional e a liderança dos profissionais de RH são fatores relevantes. Os achados desta pesquisa mostraram que o papel melhor avaliado nesse estudo foi o de administrador da infraestrutura da organização, de acordo com as percepções dos profissionais da área de RH e de outras áreas organizacionais. Esse resultado aponta que, mesmo diante da evolução histórica ocorrida com a área de RH, a mesma possui maior foco de trabalho voltado para as questões operacionais de recrutamento, seleção, treinamento, desenvolvimento, avaliação de desempenho e outros que para as questões estratégicas. Igualmente, este foco de trabalho da área de RH se assemelha ao identificado por Ulrich et al. (2008), quando da pesquisa realizada em vários países, e foi constatado que na América Latina, estes profissionais estão fortemente enquadrados como executores operacionais, ou seja, com foco para as atividades tradicionais de RH. A partir dos dados apresentados sobre a administração de recursos humanos em organizações privadas de grande porte no Brasil, pode-se concluir que as práticas de RH enquadram-se no papel de administração da infraestrutura organizacional, tendendo em algumas organizações ao papel de administrador de estratégias de RH, conforme análise de conteúdo realizada neste estudo. Todavia, considera-se que os profissionais de recursos devem participar do planejamento estratégico organizacional, procurando conhecer o negócio e entender as mudanças de mercado, de modo que possam contribuir com as organizações nas mudanças que se façam necessárias, visando o sucesso empresarial. 5.1. Recomendações para trabalhos futuros Sugere-se um estudo longitudinal que procure acompanhar a evolução das atividades realizadas pela área de recursos humanos. Recomenda-se também uma nova pesquisa, que possa investigar separadamente cada uma das regiões do Brasil, buscando identificar as principais semelhanças e diferenças entre elas. Igualmente, sugere-se que esta pesquisa seja realizada em estudos de casos, para que se possa analisar uma determinada organização e para ela contribuir com os achados da pesquisa. Aponta-se a aplicação de questionários com o pesquisador presente. Replicar o estudo. REFERÊNCIAS ALLANI, N; ARCAND, M.; BAYAD, M. 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N P R M E 3. Cuidar das necessidades pessoais dos funcionários. N P R M E 4. Adaptar-se à mudança. N P R M E N P R M E O RH participa no (a)... 5. Processo de definição das estratégias empresariais. N P R M E 6. Desenvolvimento dos processos de RH. N P R M E 7. Aumento da dedicação dos funcionários. N P R M E 8. Modelagem de mudança de cultura para renovação e transformação. N P R M E N P R M E N P R M E 10. Os processos de RH sejam administrados com eficiência. N P R M E 11. As políticas e programas de RH respondam às necessidades pessoais dos funcionários. N P R M E 12. Os processos e programas de RH aumentem a capacidade de mudança da organização. N P R M E A eficácia da área de RH é medida por sua capacidade de... N P R M E 13. Ajudar a fazer com que a estratégia aconteça. N P R M E 14. Liderar com eficiência os processos de RH. N P R M E 15. Ajudar os funcionários a satisfazer necessidades pessoais. N P R M E 16. Ajudar uma organização a antecipar-se e adaptar-se a questões futuras. N P R M E N P R M E 17. Parceiro estratégico N P R M E 18. Especialista administrativo. N P R M E 19. Defensor dos funcionários. N P R M E O RH garante que... 9. As estratégias de RH estejam ajustadas à estratégia empresarial. O RH é visto como... 20. Agente da mudança. N P R M E N P R M E 21. Questões estratégicas. N P R M E 22. Questões operacionais. N P R M E 23. Ouvir e responder aos funcionários. N P R M E 24. Apoiar novos comportamentos para manter a empresa competitiva. N P R M E N P R M E 25. Planejamento empresarial. N P R M E 26. Conceber e facilitar a execução dos processos do setor de RH. N P R M E 27. Ouvir e responder aos funcionários. N P R M E 28. Renovação, mudança, ou transformação da organização. N P R M E O RH trabalha para... N P R M E 29. Ajustar as estratégias de RH à estratégia empresarial. N P R M E 30. Monitorar processos administrativos. N P R M E 31. Oferecer assistência para ajudar os funcionários a satisfazer necessidades familiares e pessoais. N P R M E 32. Remodelar comportamento para a mudança organizacional. N P R M E O RH desenvolve processos e programas para... N P R M E 33. Encadear estratégias de RH para realizar a estratégia empresarial. N P R M E 34. Processar eficientemente documentos e transações. N P R M E 35. Cuidar das necessidades pessoais dos funcionários. N P R M E 36. Ajudar a organização a se transformar. N P R M E N P R M E 37. Ajudar a cumprir metas estratégicas. N P R M E 38. Aumentar a produtividade. N P R M E 39. Ajudar os funcionários a atender suas necessidades pessoais. N P R M E 40. Fazer com que a mudança aconteça. N P R M E O RH dedica tempo a ... O RH participa ativamente em... A credibilidade da área de RH provém de... Como você percebe a atuação da área de RH da sua organização quanto aos seguintes aspectos: 41. Participação na elaboração das estratégias empresariais, no sentido de construir e/ou consolidar estratégias baseadas em vantagens competitivas para a organização. 42. Desenvolvimento das funções técnicas de recrutar, selecionar, treinar, planejar carreira, avaliar o desempenho e cuidar da saúde e segurança do trabalho dos seus colaboradores. 43. Atendimento às demandas, preocupações e anseios dos funcionários, bem como promoção das condições adequadas de trabalho. 44. Administração das mudanças organizacionais, no sentido de conduzir as pessoas ao futuro organizacional planejado. 45. Por gentileza, acrescente quaisquer outras informações que julgue importante para a atuação da área de RH da sua organização. APÊNDICE B – FOLHA DE PONTUAÇÃO PARA A AVALIAÇÃO DOS PAPÉIS DESEMPENHADOS PELOS PROFISSIONAIS DE RH Parceiro Estratégico Questão Nota Especialista Administrativo Questão Nota Defensor dos Funcionários Questão Nota Agente da Mudança Questão 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 TOTAL TOTAL TOTAL TOTAL Fonte: ULRICH, D. (1998, p.73) Nota APÊNDICE C – PERGUNTAS SOBRE OS DADOS DEMOGRÁFICOS DOS RESPONDENTES Por gentileza, informe alguns dos seus dados demográficos, para uma melhor análise dos resultados. 1 – Sexo: a. b. 6 – Tamanho da organização em que trabalha: ( ) Masculino ( ) Feminino a. b. c. ( ) Grande porte ( ) Médio porte ( ) Pequeno porte Número de empregados: 2 – Idade: Anos 7 – Tempo de Serviço: Anos: 3 – Nacionalidade e Naturalidade: 8 - Área de atuação profissional: 4 – Maior nível de escolaridade: a. b. c. d. e. f. g. h. i. j. ( ) Ensino médio não concluído ( ) Ensino médio concluído ( ) Ensino superior não concluído ( ) Ensino superior concluído ( ) Especialização não concluída ( ) Especialização concluída ( ) Mestrado não concluído ( ) Mestrado concluído ( ) Doutorado não concluído ( ) Doutorado concluído 5 - Tipo de organização em que trabalha: a. b. c. ( ) Pública ( ) Privada ( ) Outra Se “outra”, por favor especifique. a. b. c. d. e. f. ( ) RH ( ) Finanças ( ) Operações ( ) Marketing ( ) Saúde e segurança ( ) Outra Se “outra”, por favor especifique. 9 - Nível hierárquico: a. b. c. d. e. f. ( ) Direção estratégica ( ) Gerência superior ( ) Gerência Intermediária ( ) Nível Técnico ( ) Assessoria ( ) Outro Se “outro”, por favor especifique.