Universidade Federal do Ceará Centro de Ciências Agrárias Departamento de Zootecnia Caracterização das pastagens naturais Magno José Duarte Cândido [email protected] Núcleo de Ensino e Estudos em ForragiculturaNEEF/DZ/CCA/UFC (www.neef.ufc.br) Fortaleza – Ceará 22 de outubro de 2012 CARACTERIZAÇÃO FÍSICA (Holechek et al., 2001) Caracterização Física das Pastagens Naturais de Modo Geral Incluem o clima o solo e a topografia Determinam o tipo de vegetação e sua produtividade numa dada área Tipo de vegetação e de terreno tipo de rebanho que suportará Precipitação (PPT) Isoladamente o fator determinante do tipo e produção da vegetação (Tab) Produção de forragem com da precipitação até 500 mm por ano Acima disso produção também f(características do solo) Caracterís. da PPT: total anual, distribuição dentro da época chuvosa, época da precipitação, forma (intensidade ao longo do dia) e variabilidade interanual Maior parte das pastagens naturais: baixa PPT (< 500 mm/ano) Influências orográficas Efeito que as grandes elevações exercem sobre os fatores climáticos Precipitação: é um dos mais influenciados Áreas a sotavento das serras menor PPT que áreas a barlavento (Fig) Ex: Cabaceiras-PB 2 3 Figura – À medida que as massas de ar movem-se para o interior do continente vindas do Oceano Pacífico, rapidamente perdem sua umidade devido ao resfriamento resultante de sua elevação para ultrapassar as Montanhas de Coast range e Sierra Nevada (Arte de John N. Smith, em Holechek et al. 2001). 4 Figura – Efeito orográfico, em Cabo Verde, África insular (Fonte: Googleearth, 2008). 5 Figura – Efeito orográfico, em Cabo Verde, África insular (Fonte: Googleearth, 2008). 6 Figura – Efeito orográfico na Ilha de Santo Antão, em Cabo Verde, África insular (Fonte: Googleearth, 2008). 7 Figura – Efeito orográfico na Ilha de Santo Antão, em Cabo Verde, África insular (Fonte: Googleearth, 2008). 8 Figura – Chã de Morte, no sotavento da Ilha de Santo Antão, em Cabo Verde, África insular (Fonte: Googleearth, 2008). 9 Figura – Ribeira das Pombas, no barlavento da Ilha de Santo Antão, em Cabo Verde, África insular (Fonte: Googleearth, 2008). 10 Figura – Efeito orográfico no Nordeste do Brasil (Fonte: Googleearth, 2008). CARACTERIZAÇÃO FÍSICA (Holechek et al., 2001) Variação interanual na precipitação Variabilidade interanual: regiões com PPT > 450 mm/ano Ár. PPT anual 300 mm: pequenas PPT severas na produtividade Ár. PPT anual > 800 mm: maiores PPT < influência na produtividade Distribuição no ano: mais importante: exemplo: Las Cruces, Novo México/EUA (pastagens naturais desérticas): 1980: PPT ~ média histórica, mas no outono e inverno prod. forragem 1979: PPT < média histórica, mas no verão > produção que 1980 Seca “Tempo seco prolongado, com PPT < 75% da média histórica” 2 anos consecutivos grande influência sobre a vegetação manejo do pastejo: pastejo moderado após uma seca benéfico pastejo intenso produtividade e a cobertura vegetal 11 CARACTERIZAÇÃO FÍSICA (Holechek et al., 2001) 12 Vento VV das perdas por evapor. e transpir. efetividade da PPT Solo abaixo de 20-30 cm: influência do vento Maior VV terrenos planos com poucas árvores Gr. planícies EUA: ventos quentes no verão e anos secos efeito da seca Gr. Bacia (NE dos EUA): ventos frios na primavera prod. de forragem Temperaturas Mais variáveis nas regiões temperadas que na região intertropical Região intertropical: não tão limitante quanto nas subtropic. e temperadas Regiões subtropicais e temperadas temp. ar < temp. basal das plantas Região intertrop.: > latit. (região SE) temp. ar < temp. basal das plantas Semi-árido: oscilação na temperatura ao longo do ano amplit. Térmica diária Umidade relativa do ar “% da máxima quantidade de água que o ar pode armazenar, que ele apresenta na temperatura atual” UR perdas por evaporação e transpiração Áreas com elevada umidade TCC/unidade de PPT CARACTERIZAÇÃO FÍSICA (Holechek et al., 2001) 13 Topografia Lei Bioclimática de Hopkins: “um aumento de 305 m na altitude de qualquer local resultará nas mesmas mudanças fenológicas que o distanciamento de 107 km da Linha do Equador, numa região plana” declivid. infiltração e escoamento superficial produtividade Tipo de rebanho: declividade caprinos e ovinos (exploram bem até 45%, bovino 10%) Influência das características físicas da pastagem sobre os herbívoros Clima x solo x topografia potencial da pastagem em suportar um rebanho Past. nat. áreas úmid. prod. forragem e probl. c/ parasitas, doenças Escolha tipo de animal = f(clima, topografia...) Gado europeu e ovinos lanados condições de frio e de vento Gado zebu, caprinos e ovinos deslan. past. nat. trop. (parasitas, calor...) PASTAGENS NOS ECOSSISTEMAS BRASILEIROS Figura - Os biomas brasileiros 14 Caracterização do Semi-árido Brasileiro 15 Nordeste brasileiro: Zonas: Maranhão Zona Úmida/ Subúmida Ceará Piauí Litorânea R. G. do Norte Paraíba Pernambuco Agreste Região Semi-árida: Sertão 70% da área do Nordeste Alagoas Zona Semi-árida Bahia Sergipe 13% da área do Brasil 63% população nordestina 18% população brasileira Minas Gerais Sá et al. (2004) 16 CARACTERIZAÇÃO DO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO Clima Quente e seco Duas estações uma seca (inverno) e outra chuvosa (verão) Pluviosidade 800 mm Estação chuvosa dura de 3 a 4 meses na maior parte do Semi-árido Eventos chuvosos distribuídos irregularmente dentro da estação chuvosa Balanço hídrico negativo na maior parte dos meses do ano 17 CARACTERIZAÇÃO DO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO Clima (Pereira Filho et al., 2007) 18 CARACTERIZAÇÃO DO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO Clima Normais de precipitação pluviométrica de municípios de vários semi-áridos PETROLINA SAN FRANCISO FRANCISCO SAN BADAJOZ PHOENIX 160 140 120 100 80 60 40 20 0 JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Fonte: Queiroz (1997) 19 (Cortesia de Luis Iniguez, 2004) 20 (Cortesia de Luis Iniguez, 2004) Marsah Matruh (costa mediterrânea do Egito): alimentação das ovelhas Barky com concentrados ocupa 9-12 meses do ano (cortesia de Luis Iniguez, 2004) 21 22 CARACTERIZAÇÃO DO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO Fisiografia Altitudes 100 até 500m Ocorrência de serras Relevo Plano nos tabuleiros sertanejos Ondulado na maior parte do sertão Acidentado nas proximidades das serras 23 CARACTERIZAÇÃO DO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO Solos Quimicamente adequados Problemas só com Baixo teor de P Baixo teor de MO Limitações físicas Rasos Pedregosos Declivosos Baixa capacidade de armazenamento de água 24 CARACTERIZAÇÃO DO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO Vegetação Compartimentação ambiental do Semi-árido Brasileiro Vegetação Hiperxerófila Vegetação Hipoxerófila Ilhas úmidas Agreste e área de transição Total 317.608 399.777 83.234 124.424 925.043 % Nordeste 19,09 24,04 5,00 7,48 56,61 % Semi -árido 34,33 43,21 9,00 13,46 100,00 Área em Km 2 Fonte: Sá et al. (2004) 25 CARACTERIZAÇÃO DO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO Vegetação Estrato Lenhoso (A) Árvores caducifólias Dois tipos Arbustivo-arbóreo: próximo às serras “Scrub”: sertão atividade pastoril leguminosas, euforbiáceas... Estrato herbáceo (B) Espécies herbáceas anuais, em grande parte efêmeras (milhãs, Ex:Panicum molle) Muitas leguminosas no estrato herbáceo. Ex. Erva-de-ovelha (Stylosanthes humilis) Ausência quase total de gramíneas perenes (Araújo Filho et al., 1995) A + B grande redução na capacidade de suporte na época da seca CARACTERIZAÇÃO DO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO Estrato arbóreo: Pau-branco (Auxema oncocalix) 26 CARACTERIZAÇÃO DO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO Estrato arbóreo: Jucazeiro (Caesalpinia ferrea) 27 28 29 30 31 CARACTERIZAÇÃO DO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO Estrato arbustivo na Caatinga, marmeleiro (foto do autor) 32 CARACTERIZAÇÃO DO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO Estrato herbáceo na Caatinga (foto do autor) 33 CARACTERIZAÇÃO DO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO Cactáceas presentes na caatinga (Xique-xique) 34 CARACTERIZAÇÃO DO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO Caatinga nativa durante a época chuvosa (cortesia de Araújo Filho, 1998) 35 CARACTERIZAÇÃO DO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO Caatinga nativa dormente na época seca (cortesia de Araújo Filho, 1998) 36 37 POTENCIAL FORRAGEIRO NO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO Composição bromatológica de espécies lenhosas em diferentes fases fenológicas Vegetativo Floração Frutificação Dormência Componente Catingueira (Caesalpinia microphyla) Proteína bruta (%) Lignina (%) Tanino (%) DIVMS (%) 16,9 15,6 14,4 6,6 11,2 12,7 20,6 19,1 16,2 58,4 52,5 50,4 Mororó (Bauhinia cheilantha) 11,2 11,7 9,5 30,9 Proteína bruta (%) Lignina (%) Tanino (%) DIVMS (%) 20,7 9,1 5,7 59,7 9,7 25,3 3,9 35,5 18,1 7,5 6,4 58,9 Fonte: adaptado de Araújo Filho et al. (1998) 13,3 17,6 12,2 55,9 38 POTENCIAL FORRAGEIRO NO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO Flutuações mensais nos teores de matéria seca (MS) e proteína bruta (PB) e na massa de forragem (kg MS/ha) em pasto nativo no município de Quixadá, média de 3 anos %PB Massa de Forragem 100 4.000 80 3.000 60 2.000 40 1.000 20 11,6 4,0 0 0 JAN FEV MAR ABR MAI JUN Fonte: (Adaptado de Araújo Filho, 1980). JUL AGO SET OUT NOV NO DEZ Massa de forragem (kg MS/ha) Teor de matéria seca e proteína bruta (%) %MS 39 PASTAGENS NO ECOSSISTEMA DOS CERRADOS Segunda maior formação vegetal brasileira Área de 2 milhões de km², abrangendo dez estados do Brasil Central (Fig) Hoje: restam apenas 20% desse total Duas estações bem marcadas: inverno seco e verão chuvoso Solo de savana tropical, deficiente em nutrientes e rico em ferro e alumínio Plantas de aparência seca, entre arbustos esparsos e gramíneas Cerradão, um tipo mais denso de vegetação, de formação florestal Presença de 3 das maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Tocantins-Araguaia, São Francisco e Prata) biodiversidade PASTAGENS NO ECOSSISTEMA DOS CERRADOS Figura - Área do Brasil ocupada pelo ecossistema dos Cerrados: Área total: 2.100.000 km2. Com ação antrópica : 700.000 km2 40 41 PASTAGENS NO ECOSSISTEMA DOS CERRADOS Localização: Região CO e oeste BA, sul PI, MA, PA, oeste MG e parte de TO Potencial: 60 milhões de hectares para pastagens cultivadas; 60 milhões de hectares para culturas de sequeiro; 10 milhões de hectares para culturas irrigadas; 66 milhões de hectares para preservação ambiental; 6 milhões de hectares para culturas perenes. Past. cultivadas: crescimento vertiginoso década de 70: 11 29 milhões ha Tx. expansão área de pastagens cultivadas: 600.000-800.000 ha/ano Sistemas de produção: predominantemente extensivos Índices de produtividade: < outras regiões de condições climáticas Limitante da produção animal: a escassez de forragem na seca 42 PASTAGENS NO ECOSSISTEMA DOS CERRADOS PASTAGENS NO ECOSSISTEMA DOS CERRADOS 43 PASTAGENS NO ECOSSISTEMA DOS CERRADOS 44 45 PASTAGENS NO ECOSSISTEMA DOS CERRADOS O Cerrado guarda ainda uma fantástica biodiversidade, porém, 57% do Cerrado já foram totalmente devastados e a metade do que resta já está muito danificada. Sua devastação é muito veloz, chegando a três milhões de hectares por ano. Nesse ritmo, estima-se que em 30 anos já não existirá. (www.cenargen.embrapa.br) 46 PASTAGENS NO ECOSSISTEMA PANTANAL Pantanal planície sedimentar com predominância de campos inundáveis 99% ocupado por fazendas clima tropical sub-úmido, média em torno de 1100 mm/ano de chuvas 1 estação chuvosa (out./mar.) e 1 relativamente seca (abr./set.) Temp. média anual de 26º C, podendo haver geadas esporádicas Sucesso e sustentabil. da criação de bovinos = f(abundância de gramíneas) Rendimento forrageiro das pastagens naturais do Pantanal Planície do Pantanal: sistema extensivo fases de cria e recria Índices produtivos baixos: natalidade em torno de 60% mortalidade de bezerros durante o aleitamento de 20% idade ao primeiro parto de 44-46 meses venda de bois para engorda aos 3-4 anos de idade Necessidade de oferta forragem de boa qualidade utilização áreas de "cordilheiras" (paleodiques, não alagáveis) com forrageiras exóticas (Tab) 47 PASTAGENS NO ECOSSISTEMA PANTANAL Tabela - Produção média de MS (t/ha/corte) e teor de PB (% na MS) de sete gramíneas, no estádio de préflorescimento, cultivadas no período de out/80 a abr/83, em área de "cordilheira" baixa, susceptível a inundação, da sub-região dos Paiaguás, do Pantanal Sul-Mato-Grossense. Corumbá-MS. Fonte: COMASTRI FILHO (1994) 48 PASTAGENS NO ECOSSISTEMA PANTANAL Limitações nutricionais das pastagens naturais do Pantanal Grande variabilidade do teor de PB (Tab) Dominância de espécies com PB Gramíneas de VN áreas - alagáveis ou secas e em solos arenosos Plantas VN aquáticas, áreas + alagáveis e as de solos argilosos VN pastagens: influenciado pelo local onde a espécie está inserida (Tab) Carência de elem. minerais: P, S e N, além de K e Ca sal comum é insufic. PASTAGENS NO ECOSSISTEMA PANTANAL Tabela - Teores de PB (% na MS) das principais gramíneas nativas, nas estações seca (meses 5 a 9) e chuvosa (meses 11 e 12), nas subregiões de Nhecolândia, Paiaguás, Piquiri e Aquidauana) Fonte: COMASTRI FILHO (1984) 49 50 PASTAGENS NO ECOSSISTEMA PANTANAL A real capacidade de suporte do Pantanal ainda é desconhecida. Conforme Cadavid Garcia (1986), em áreas com médias superiores a 4000 ha, as taxas de lotações ficam por volta de 3,4 a 4,2 ha/cabeça. Silva et al. (2001): taxas de lotação média de 3,29; 3,82 e 3,93 ha/cabeça (1975, 1980 e 1985). Santos et al. (2001) avaliando o uso das diferentes fitofisionomias (unidades de paisagem) do Pantanal da Nhecolândia por bovinos em pastejo, observaram que os animais usaram especialmente sítios de pastejo localizados nas áreas de campo limpo e baixadas (borda de baía permanente, baía temporária , baixadas e vazantes) distribuição dos animais e capacidade de suporte = f(proporção dessas fitofisionomias) PASTAGENS NO ECOSSISTEMA DO SUBTRÓPICO BRASILEIRO 51 Extremo sul até trópico capricórnio: N do PR e S de SP (24º Lat S) Campos naturais: suporte para o desenvolvimento da atividade pecuária Campos Naturais: 200 espécies de leguminosas 800 espécies de gramíneas Fato raro: associação C4 (crescimento estival) + C3 (crescimento hibernal) Limitações Nutricionais das Pastagens Naturais do Subtróprico Brasileiro Pastagens estão entre as melhores do mundo em termos qualitativos Gêneros Paspalum e Axonopus: regular a bom VN Produção e qualidade variam muito nas diferentes épocas do ano Paspalum almum prod. forragem de qualidade no início do outono (Tab) PASTAGENS NO ECOSSISTEMA DO SUBTRÓPICO BRASILEIRO Tabela - Percentual de PB e digestibilidade in vitro da MO de espécies e ecotipos do gênero Paspalum em 3 cortes na Estação Experimental de São Gabriel. Fonte: OLIVEIRA e MORAES (1998) 52 Muito Obrigado! Visite o site do Núcleo de Ensino e Estudos em Forragicultura: www.neef.ufc.br Magno José Duarte Cândido [email protected] TEL: (85) 3366-9711 53