Aridez mental, problema maior Contextualizar a educação para construir o ‘dia depois do desenvolvimento’ no Semi-Árido Brasileiro Campina Grande-PB; 31 de Maio de 2010 José de Souza Silva [email protected] Embrapa Algodão Instituto Nacional do Semi-Árido (INSA) O poder da Pergunta Não se pode educar nem transformar a realidade com respostas, mas sim com perguntas O poder da Pergunta Não se podem superar situações complexas com os mesmos modos de interpretação e intervenção que as geraram Se a educação contextualizada é mais relevante, por que prevaleceu historicamente a educação descontextulizada que ainda persiste entre nós? Perguntas relevantes Que visão de mundo e pensamento dominantes instituiram a ‘idéia de semi-árido’ distorcida, preconceituosa e injusta que ainda prevalece sobre o Semi-Árido Brasileiro? Tese central-1 (caráter diagnóstico) A educação descontextualizada e a ‘idéia de semi-árido’ que prevalecem entre nós têm sua origem vinculada à: Emergência do capitalismo ocidental Gênese da ciência moderna Invenção da dicotomia “superior-inferior” Criação da idéia de progresso / desenvolvimento Tese-1 Algumas carácterísticas da educação descontextualizada e, portanto, da ‘idéia de semi-árido’ refletem algumas carácterísticas do capitalismo (indiferente à história e ao contexto) que viola o humano, o social, o cultural, o ecológico e o ético, em busca de acesso inescrupuloso a mercados cativos, matéria prima abundante, mão de obra barata, mentes dóceis e corpos disciplinados, já que, sob o capitalismo, “tudo que é sólido se desvanece no ar, e tudo que é sagrado é profanado”: Objetivo (do capitalismo): acumular Lógica (do capitalismo): expansionista Estratégia (do capitalismo): crescimento Critério (do capitalismo): lucro máximo Para o capitalismo, o que não contribui ao lucro e à acumulação não existe, não é verdade ou não é relevante Tese-2 Algumas carácterísticas da educação descontextualizada e, portanto, da ‘idéia de semi-árido’ refletem algumas carácterísticas da ciência moderna que viabilizou a expansão e consolidação do capitalismo, e cuja concepção se inspirou: Numa visão mecânica do universo/mundo/realidade Na matematização da existência Em um método indiferente ao humano e ao contexto Para a ciência moderna, o que não pode ser medido, pesado ou contado não existe, não é verdade ou não é relevante Tese-3 A ‘dicotomia superior-inferior”, que classificou a humanidade em ‘civilizados-primitivos’ no passado, e hoje nos divide em desenvolvidos-subdesenvolvidos, foi inventada com a intenção de dominação para a exploração, a partir dos critérios: A noção de raça O direito do mais forte A ‘idéia de progresso’ durante o colonialismo imperial A ‘idéia de desenvolvimento’ no atual imperialismo sem colônias Para os candidatos a império (como o Brasil, que quer ser a quinta potência do mundo), o mais forte tem o direito à dominação e o mais débil a obrigação da obediência Tese-4 A ‘idéia de progreso’ e a ‘idéia de desenvolvimento’, como metas universais, invisibilizam ou violam as histórias, experiências, saberes, paixões, desejos, desafios, portencialidades, e sonhos locais, porque sua concepção assume: Um modelo único de sociedade perfeita a que todos devem aspirar e podem alcançar Uma perspectiva evolucionista que implica sempre em ‘etapas’ ou ‘fases’ que todos devem atravessar para atingir a perfeição A premissa de que já existem sociedades perfeitas (civilizadas no passado, desenvolvidas no presente) a que todos devem emular para atingir seu estado de progresso / desenvolvimento Os “superiores” são ‘poderosos generosos’ impelidos pelo imperativo moral de ‘ajudar’ aos “inferiores”, compartindo os segredos de seu sucesso, cujo preço é pensar como Eles…para ser como Eles Tese central-2 (caráter propositivo) Se, depois de cinco séculos da ‘idéia de progresso / desenvolvimento’ como meta a ser alcançada por todas as sociedades, a humanidade nunca esteve tão desigual e o planeta tão vulnerável, e se, neste contexto, a América Latina é hoje a região mais desigual do mundo, ... …chegou a hora da educação contextualizada preparar o ‘dia depois do desenvolvimento’, livre de conceitos, categorias e indicadores vinculados à ‘idéia de progresso / desenvolvimento’, para construir o ‘bom viver’ Conclusão No contexto da atual mudança de época histórica, os educadores estão convocados à inovação da inovação: Do universal, mecânico e neutro ao contextual, interativo e ético Da pedagogia da resposta à pedagogía da pergunta Da filosofia de inovação de “mudar as coisas” à filosofia de ‘mudar as pessoas’ que mudam as coisas Do desenvolvimento como meta ao ‘bom viver’ como fim Da educação descontextualizada à educação contextualizada Profissionais da educação contextualizada devem cultivar a mente crítica dos filósofos, o coração sensível dos poetas, a coragem ética dos justos e o espírito solidário dos interdependentes (anjos de uma asa) que só voam se o fazem abraçados Obrigado!