Auxiliar de Desenvolvimento Infantil do sexo masculino: uma nova realidade em creches da Rede Pública Municipal do Recife Jacileide Lucena Cavalcanti1 Tarciana Cândido Sampaio2 Ana Carolina Perrusi A. Brandão3 RESUMO O objetivo desta pesquisa foi analisar as percepções dos ADIs do sexo masculino sobre a sua prática, suas expectativas profissionais e a receptividade dos pais e crianças em relação ao trabalho que desenvolvem. Para isso, foram entrevistados 15 ADIs, atuando em creches da Rede Pública Municipal do Recife. A análise dos dados indicou que os ADIs têm os mais diversos interesses profissionais e que apenas um pretende continuar na área de Educação Infantil. Apesar disso, os dados revelaram a grande importância da figura masculina no processo educativo da criança em uma profissão que tem sua imagem social fortemente associada às mulheres. Alertamos ainda para a necessidade de que esse profissional tenha a formação mínima em magistério. Palavras-chave: Auxiliar de Desenvolvimento Infantil, Creche, Gênero. 1. INTRODUÇÃO Historicamente a creche tem se constituído em um espaço de predomínio ou, até, de exclusividade do profissional do sexo feminino. Embora esse quadro venha se mantendo inalterado ao longo do tempo, atualmente é possível observar pequenas mudanças. Ou seja, profissionais do sexo masculino, pouco a pouco, vêm se inserindo no universo das creches e, pelo menos oficialmente, desempenham as mesmas funções que as mulheres. Essa nova realidade vem sendo observada em instituições de Educação Infantil de muitas cidades brasileiras e se constitui o foco da presente pesquisa. Dentre as cidades, cujas creches começam a receber homens em seu quadro de funcionários, destacamos o Recife, mais precisamente a Rede Pública Municipal, que vivencia esse fato desde outubro de 2006, a partir da realização, nesse mesmo ano, de concurso público para provimento de vagas para Auxiliares de Desenvolvimento Infantil (ADIs). Até essa data, conforme 1 Concluinte do curso de Pedagogia da UFPE ([email protected]) Concluinte do curso de Pedagogia da UFPE ([email protected]) 3 Professora Adjunta do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino do Centro de Educação/UFPE ([email protected]) 2 Arruda, Faria e Brandão (2006), a função de ADI era exercida por mulheres, alunas do curso Normal Médio ou do curso de Pedagogia, contratadas pela Prefeitura Municipal do Recife em regime de estágio não curricular, com duração prevista de 02 anos. Considerando, também, informações obtidas no site <http://www.upenet.com.br>, divulgadas em 21/09/2006 e relativas ao concurso acima mencionado, foram convocados, inicialmente, 500 ADIs, sendo 60 do sexo masculino. Porém, segundo informações mais recentes, obtidas na Gerência de Educação Infantil da Prefeitura do Recife, hoje os ADIs do sexo masculino constituem 10% do total de 461 ADIs que trabalham nas creches da cidade. A inserção do profissional do sexo masculino em uma profissão que demanda tarefas consideradas femininas, como cuidados com o repouso, higiene, alimentação e educação de crianças com até 04 anos de idade, teoricamente pressupõe uma transformação tanto na forma de se pensar os papéis atribuídos aos gêneros masculino e feminino como também na atual organização social. Percebemos, assim, a necessidade de investigações que possibilitem entender melhor o momento pelo qual passa a sociedade e que, por sua vez, favorece a entrada de novos atores num universo em que, reconhecidamente, o sexo feminino tem tido uma atuação predominante. Nesta perspectiva, o presente estudo buscou conhecer os ADIs do sexo masculino que atuam nas creches da Rede Pública Municipal do Recife com vistas a analisar como percebem a sua prática, suas expectativas profissionais e a receptividade dos pais e crianças em relação ao trabalho que desenvolvem. Com esse intuito procuramos, especificamente: • Identificar as motivações e expectativas desses ADIs ao optar por essa profissão; • Analisar como se deu o confronto dessas expectativas com a prática na creche; • Assinalar que tipos de problemas têm surgido no desempenho de suas funções e, em especial, se apresentam dificuldades pelo fato de serem homens; • Analisar como esses problemas têm sido enfrentados; 2 • Investigar como percebem a receptividade dos pais e a reação das crianças em relação ao seu trabalho e ao fato de serem do sexo masculino. Apresentamos, a seguir, alguns princípios teóricos que fundamentaram a presente pesquisa. 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 A ATIVIDADE DOCENTE COMO UMA OCUPAÇÃO FEMININA O início da educação escolar, situado nos tempos modernos, é marcado pela presença exclusiva da figura masculina no exercício do magistério. Com a Revolução Industrial, que estimulou o processo de urbanização e, conseqüentemente, novas formas de relações sociais, essa realidade vai se modificando e permitindo que a mulher, proveniente da classe média, ocupe, cada vez mais, a sala de aula, fato que passa a ser conhecido como feminização do magistério. A feminização do magistério é, pois, fruto das diversas transformações ocorridas no mundo ocidental após a consolidação do capitalismo. A nova sociedade, surgida neste contexto, reclamava uma escolarização que atendesse as suas expectativas frente às novas formas de trabalho e de relações sociais que passam a ocorrer. Para responder a demanda dessa população tornava-se necessária a ampliação da rede escolar que trouxe, de acordo com Hypolito (1997), um aumento no número de vagas para o magistério, possibilitando, assim, uma maior inserção da mulher no mercado de trabalho. Esse fato, por si só, porém, não explica a ocupação feminina na atividade docente. A associação entre as funções maternas e as atividades exercidas pelas professoras, principalmente quando estas se dirigiam às crianças menores, também contribuiu para tal expansão, como podemos perceber pelas palavras de Saffioti e Barreto, citados por Bruschini e Amado: Sob a influência de correntes de pensamento que consideravam a mulher, e somente ela, dotada biologicamente pela natureza com a capacidade de socializar as crianças, como parte de suas funções maternas, e, considerando que o ensino de crianças, na escola elementar, era visto como extensão dessas atividades, o magistério 3 primário, desde o século passado, começou a ser considerado profissão feminina por excelência (1988, p. 5) Outro fator que possibilitou a participação da mulher no magistério foi a procura, pelos homens, por uma atividade mais rentável, visto que a eles era atribuída a responsabilidade pela manutenção financeira da família, e os baixos salários pagos aos professores os desestimulavam a escolher essa profissão. Observa-se, ainda, que os homens, quando optavam pela docência, permaneciam menos tempo na sala de aula, já que eram escolhidos ou promovidos para outros cargos, como diretores de escola ou técnicos do sistema de ensino, enquanto as mulheres tendiam a continuar em sala de aula por todo o seu tempo de exercício profissional (Demartini e Antunes, 1993). Essa mudança de atores no corpo docente possibilitou a produção de diversas representações acerca do papel exercido, no magistério, por homens e mulheres: os professores tiveram sua imagem associada à erudição e racionalidade, aspectos que inspiravam respeito, disciplina, autoridade, bom senso, firmeza e saber profissional; enquanto a imagem das professoras, especialmente no caso da Educação Infantil, ficou vinculada à maternidade e feminilidade, cujas características mais marcantes são afeto, cuidado, sensibilidade, paciência e docilidade, ou seja, valores considerados pouco eruditos e racionais e mais associados à vocação, sendo reconhecidos como mais adequados à natureza da mulher (Bruschini e Amado, 1988). Essas representações resultaram e resultam, ainda hoje, numa associação entre educação de crianças pequenas e o trabalho das mulheres, que, por sua vez, se vincula ao cuidado e ao apoio “maternal” 4. Por outro lado, o trabalho dos homens se associa, em geral, com níveis mais elevados de escolarização por ter como principais características a autoridade e o conhecimento (Louro, 1997). Nos dias de hoje a sociedade está passando por transformações similares as do período da industrialização. As mudanças se inserem, novamente, nas formas de ver o mundo e de lidar com ele, o que, por sua vez, se reflete nas relações sociais e de trabalho. No Brasil, nota-se ainda um crescimento no número de mulheres exercendo atividades consideradas, até 4 Segundo, Bruschini e Amado (1988), em todas as etapas da Educação Básica a presença da mulher é sempre significativamente maior que a do homem. 4 então, predominantemente masculinas, como Engenharia, Arquitetura, Medicina e Direito, ainda que recebam salários inferiores aos pagos a seus colegas do sexo masculino da mesma profissão e que encontrem maiores dificuldades para galgar funções de chefia. Essa nova configuração, entretanto, não modificou o fato de que a grande maioria das mulheres esteja vinculada à profissões cujas características estão associadas ao trabalho doméstico, como Magistério e Enfermagem (Bruschini, 1979). Por outro lado, embora a presença masculina no trabalho doméstico já seja digna de nota (Bruschini, 2007), pesquisas mostram que os homens não estão presentes em atividades manuais como limpar a casa, lavar a roupa ou cuidar da higiene das crianças (Sorj, 2004). Ou seja, em geral, sua contribuição nas tarefas domésticas se limita a fazer compras, levar os filhos ao médico ou ajudar nos deveres escolares É inegável, portanto, que a atuação dos ADIs envolve atividades que foram, e ainda são, comumente atribuídas às mulheres no âmbito familiar, tais como a higienização, o acalanto do sono e o cuidado com a alimentação. Além disso, sabemos que as profissões consideradas “femininas” são as de menor prestígio, recebendo baixos salários; tornando-se, portanto, pouco atraentes para os homens (Bruschini, 1978). Diante de tais considerações, procuramos investigar as motivações que têm conduzido homens a prestar concurso público para ADI, bem como conhecer de que forma tais profissionais têm exercido as funções de cuidado e educação de crianças pequenas, funções com uma história fortemente associada à figura feminina. Dando continuidade às nossas reflexões, no próximo tópico abordaremos, brevemente, a história do surgimento da creche e qual o papel social atribuído a essa instituição. 2.2 O SURGIMENTO DAS CRECHES E SEU PAPEL SOCIAL A história do surgimento da creche, nos países europeus, do mesmo modo que a feminização do magistério, está intimamente relacionada à expansão do capitalismo: o aumento da população nas cidades, associado ao desenvolvimento industrial e à necessidade crescente de mão-de-obra, levaram 5 a mulher da classe social menos favorecida a entrar no mercado de trabalho, sendo preciso, dessa forma, encontrar um lugar onde deixar seus filhos. No Brasil, no início do Século XX, com a instalação das primeiras indústrias, surgem, assim, algumas creches para atender aos filhos de mães operárias. Segundo Kuhlmann Jr. (2000), essas instituições eram improvisadas, ficando as crianças sob a guarda de mulheres das classes populares, de baixa escolaridade, que se ocupavam exclusivamente de sua alimentação e higiene. Ainda conforme o autor, a partir de 1920, devido ao alto índice de mortalidade infantil decorrente das precárias condições de vida de grande parte da população, entidades assistencialistas, muitas das quais ligadas à igreja, resolveram criar creches com o objetivo de proteger, amparar e guardar crianças filhas de mães trabalhadoras domésticas. O quadro de profissionais dessas entidades era formado por mulheres, muitas voluntárias e com algumas noções de cuidados em enfermagem. Somente a partir de 1940, o Estado passa a intervir, com alguma intensidade, na implantação e regulamentação de creches em território brasileiro, criando, por exemplo, dispositivos legais para a sua instalação nos locais de trabalho das mães, sob a responsabilidade do empregador. Nesse momento, as creches integravam uma política de proteção à maternidade e à infância, fazendo parte, portanto, da área de saúde e assistência social (Vieira, 1988), já que, até então, a preocupação maior era com o alto índice de mortalidade infantil, o que fez prevalecer o objetivo higienista em detrimento do educacional. A creche surgiu, portanto, como uma iniciativa privada de caráter assistencialista, destinada às camadas menos favorecidas da população, com a finalidade de substituir a família, mais especificamente a mãe, nos cuidados referentes às crianças. Percebe-se, assim, que, desde o seu surgimento, a creche é um espaço feminino onde predominam características domésticas e maternas, o que, de acordo com Cerisara (2002), provoca uma contaminação das práticas femininas domésticas na prática profissional das mulheres. Nesse universo, povoado por profissionais do sexo feminino, a participação masculina se restringe aos cargos de diretor, vigia e zelador, ocorrendo alguns poucos casos em que essas instituições são dirigidas por homens (Campos, 1991). 6 No Brasil do final da década de 1970 a intensa urbanização, a participação crescente das mulheres no mercado de trabalho, a queda dos índices de mortalidade e fecundidade, levam o movimento de mulheres a reivindicar a expansão do número de creches. Para atender a essa reivindicação foi sugerido, pelo Estado, um modelo de Educação Infantil de baixo custo onde a comunidade é convidada a participar de sua implantação. Dessa forma, buscase, nas “aptidões inatas” das mulheres para cuidar de crianças pequenas, o apoio doméstico e familiar que reforça a idéia de que a Educação Infantil é uma atividade ligada à “produção humana” e, portanto, considerada do gênero feminino (Rosemberg, 1999). Permanece, assim, a idéia de Educação Infantil associada à maternagem e, por conseqüência, à não profissionalização. Em 1988 a nova Constituição brasileira, além de reconhecer a igualdade jurídica entre homens e mulheres, possibilitando uma maior autonomia da mulher para o exercício pleno de sua cidadania, também inclui a creche no sistema escolar5. O Estatuto da Criança e do Adolescente, no seu artigo 54, parágrafo IV, e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, no capítulo 5, artigo 30, parágrafos I e II, reforçam o que diz a Constituição Federal, assegurando atendimento escolar a crianças de até 6 anos de idade. Dessa forma, a creche passa a fazer parte da área de educação e não mais da assistência social, como ocorria até o momento. Essa nova realidade permite que a criança seja vista de forma integral e não só com necessidade de cuidados físicos. Porém, mesmo com todas as mudanças ocorridas no fim do Século XX em relação à concepção de Educação Infantil, permanece a crença de que a mulher possui “habilidades naturais” para o exercício da função de educadora de crianças pequenas (Rosemberg, 1999). De fato, embora se perceba, hoje, uma maior inserção de homens no espaço da educação de crianças pequenas, de acordo com estudo realizado por Saparolli (1997), a atuação de homens nas creches não parece “desfeminizar” essa ocupação, uma vez que as atividades de cuidar, higienizar e acalentar o sono ainda são amplamente consideradas como próprias do gênero feminino. Nesse sentido, a profissão de ADI estaria socialmente estereotipada como profissão 5 Com isso, teoricamente, a mulher conquista uma maior independência. Na prática, porém, sabemos que a grande maioria das mulheres que trabalha fora de casa recebe um salário inferior ao dos homens, e, ainda cumpre uma dupla jornada, pois o trabalho doméstico e o cuidado com as crianças ainda são vistos como tarefas de natureza feminina. 7 feminina, independente de estar sendo atualmente acessível aos homens. No próximo tópico discutiremos sobre a formação profissional dos principais responsáveis pela educação e pelos cuidados de crianças na creche. 2.3 O ATUAL PERFIL DO EDUCADOR INFANTIL Como se poderia esperar, a formação do profissional de Educação Infantil traz, em toda sua trajetória, fortes reflexos do caráter doméstico e assistencialista que marcou a história da creche. Este fato pode ser percebido com bastante clareza na seleção dos profissionais que farão o papel de cuidador, uma vez que, sendo a creche uma instituição responsável pelos cuidados às crianças, admite-se, ainda hoje, a ausência de formação específica em magistério para esses profissionais6. Além disso, de acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI, 1998), não existe, inclusive, uma denominação única para esse profissional, podendo ser chamado de berçarista, auxiliar de desenvolvimento infantil, babá, pajem recreacionista, entre outras possibilidades. Neste contexto, concordamos com Lanter (1999), quando a autora aponta a contradição entre a proposta do MEC, de um currículo de Educação Infantil com objetivos verdadeiramente educativos, e a formação exigida para os profissionais dessa área. Na verdade, evidenciamos que a Educação Infantil continua sendo foco de propostas assistencialistas e paliativas, já que, sendo esses profissionais sujeitos ativos na implementação desse novo currículo, a não exigência de escolarização e de formação específica compromete, quando não inviabiliza, a concretização de tais objetivos. Assim, é importante registrar o fato de que diferentes redes municipais de ensino sequer colocam a formação em magistério como pré-requisito para a ocupação de vagas em creches, em cargos de Auxiliares de Desenvolvimento Infantil. No caso da cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, o edital de 24/07/2007, obtido através do site http://www.rio.rj.gov.br, para preenchimento de vagas para “Agente Auxiliar de Creche” exigia o nível fundamental completo. Na prefeitura de Poços de Caldas (MG), por sua vez, registra-se a indicação de 6 Vale lembrar que dados recentes do Censo Escolar de 2005 (MEC/INEP), revelam que apenas 29% dos professores das creches e 40% dos de pré-escola possuem nível superior. 8 distintos graus de instrução para os candidatos. Segundo informações encontradas no site <http:/hojeemdia.com.br>, publicadas em 28/08/2003, para “Berçaristas e Auxiliares de Desenvolvimento Infantil I” exigia-se o Ensino Fundamental completo; para “Auxiliares de Desenvolvimento Infantil II”, era exigido o Ensino Médio. É interessante notar, neste último caso, a concepção de que a atuação com bebês seria um trabalho supostamente mais fácil, uma vez que é requerido um menor grau de escolarização do que para a atuação com as crianças mais velhas. Em Recife, observa-se uma alteração na lei nº 17.161/2005 (Anexo I), responsável pela criação do cargo de Auxiliar de Desenvolvimento Infantil, que, inicialmente solicitava a formação em magistério como pré-requisito para o ingresso no cargo, passando-se, após a ementa da lei nº 17.203/2006, a ser exigido apenas o Ensino Médio. Outro aspecto verificado na ementa refere-se à inserção do cargo no âmbito administrativo, o que não condiz com as atribuições para a função de ADI, também descritas na lei, que são de cunho pedagógico. Outro ponto relevante, apontado por Cruz (1996), diz respeito à cisão entre o cuidar e o educar, que sempre foi bastante marcante no Brasil. Tal cisão tem implicado na separação entre as atividades das creches e pré-escolas, sendo as primeiras atreladas aos cuidados quanto à saúde e higiene das crianças, e, as segundas, a atividades tipicamente escolares, supostamente dignas de maior prestígio. Tal segmentação das atividades está, certamente, relacionada a uma concepção de criança em que se acredita que as menores ainda não são capazes de se desenvolver cognitivamente, afetivamente e socialmente, ficando essa etapa para quando estiverem com idade de ingressar na pré-escola. Com isso, adota-se o critério de que “quanto menor é a criança, menos se exige da formação e mais se confia no ‘jeito’ de quem vai lidar diretamente com ela” (Cruz, 1996, p. 81). Cruz (1996) ressalta, portanto, a pouca ou nenhuma formação e as más condições de trabalho dos profissionais de Educação Infantil que comprometem, em muito, o atendimento às crianças, pois os laços afetivos são interrompidos pela grande rotatividade desses profissionais. De acordo com a autora “além dos baixos salários, a alta rotatividade pode ser explicada também pelo desprestígio da profissão, falta de perspectiva em termos de carreira e más condições de 9 trabalho, tais como longas jornadas e proporção adulto criança inadequada, que provocam stress físico e emocional” (p.83). Todas essas inquietações acerca da formação do educador infantil resultam da relevância por nós atribuída à educação da criança nesses anos iniciais, quando ela vai se descobrindo enquanto sujeito social, psicológico e cognitivo. Destacamos, também, a importância da qualidade do vínculo afetivo estabelecido entre o adulto e a criança, aspecto que possibilita segurança na sua mediação com o mundo, levando-a a construção de sua identidade e autonomia, sempre respeitando sua subjetividade. Nesse sentido, conforme apontado por Cruz (1996), espera-se de um educador infantil que este valorize os jogos e brincadeiras e considere em sua prática as características do “pensamento infantil (como a sua concretude, o egocentrismo, as rudimentares noções de espaço e tempo, a moralidade heterônoma, etc) e as suas necessidades afetivas e sociais” (p. 84). Para que isso ocorra, porém, é preciso que esse profissional de educação tenha subsídios teóricos que sustentem a sua prática, incluindo-se, é claro, os ADIs. Estes passam a maior parte do tempo com as crianças, estando presentes em sua rotina diária: quando as crianças chegam à creche, nas refeições, na higienização, no sono, quando acordam, na recreação, nas atividades pedagógicas junto ou não à professora e na saída. É preciso que a creche seja um ambiente em que as crianças gostem de estar, tendo esse profissional, que constitui o principal elo entre a criança e a creche, um papel fundamental nesse processo. Na seqüência, descreveremos a metodologia adotada na presente pesquisa. 3. METODOLOGIA Para atingir os objetivos expostos na introdução deste estudo, utilizamos entrevistas semi-estruturadas (ver roteiro no Anexo II), por se tratar de instrumento de investigação que, de acordo com Chizzotti (2001), proporciona uma maior interação entre entrevistado e entrevistador, possibilitando a exploração de questões no intuito de alcançar o entendimento das singularidades dos atores pesquisados. 10 A pesquisa baseia-se, portanto, numa abordagem qualitativa, embora tenhamos utilizado, em alguns momentos, a quantificação para uma melhor visualização dos dados coletados. 3.1 SUJEITOS Foram entrevistados 15 ADIs do sexo masculino lotados em 12 instituições da Rede Pública Municipal do Recife, distribuídas nas seis RPAs (Regiões Político-Administrativas), atuando nos Grupos I, II e III (ou seja, com crianças entre 1 e 4 anos de idade). A jornada de trabalho desses profissionais é de oito horas diárias (7:00 às 16:00 ou 10:00 às 19:00 horas). Entre nossos entrevistados, nove trabalham no primeiro turno e seis, no segundo. 3.2 PROCEDIMENTO Para saber onde estavam lotados os ADIs do sexo masculino fizemos, na segunda semana de junho de 2008, uma visita à Gerência de Educação Infantil da Prefeitura Municipal do Recife. Com base nos dados obtidos e de posse de documento assinado por essa gerência, autorizando o nosso acesso às creches, as diretoras e coordenadoras dessas instituições foram contactadas para agendar as entrevistas com os ADIs. A escolha das instituições obedeceu a um único critério: o de duas creches por RPA. Consideramos que, dessa forma, seria possível abranger uma maior diversidade dos contextos em que esses profissionais estão inseridos. Quase todas as entrevistas foram realizadas entre 13:00 e 14:00 horas, já que este é o horário do sono das crianças. Durante as entrevistas ocorreram algumas interrupções, mas nada que comprometesse o trabalho. Pelo contrário, demonstraram o vínculo afetivo estabelecido entre esses profissionais e as crianças que, ao acordarem e perceberem a ausência do ADI, vinham ao seu encontro. Todas as entrevistas foram gravadas em áudio e literalmente transcritas para posterior análise. As entrevistas ocorreram de forma a proporcionar uma boa interação entre entrevistador e entrevistado, o que é perceptível, quando, 11 em alguns casos, nota-se que o ADI começa com respostas curtas e, à medida que a entrevista avança, vai ampliando as suas respostas e ficando, visivelmente, mais à vontade em seu discurso. Para identificar os entrevistados, utilizamos um código alfanumérico. Por exemplo: “E1T2G3”, onde E1 significa entrevistado número 1, T2 indica que o ADI trabalha no segundo turno e G3, que atua no Grupo III. No próximo tópico, discutiremos os dados coletados nas entrevistas realizadas. 4. ANÁLISE DOS DADOS Com o objetivo de conhecer os ADIs do sexo masculino que atualmente trabalham nas creches da Rede Pública Municipal do Recife, procuramos identificar diferenças e semelhanças nas suas falas, buscando apreender seus significados. Para auxiliar na discussão dos dados, dividimos as perguntas da entrevista em três blocos de análise, apresentados a seguir: quem são os ADIs do sexo masculino, suas motivações e expectativas (perguntas de 1 a 9); a vivência da prática profissional e suas implicações em relação aos gêneros (perguntas de 10 a 13 e de 17 a 18); o confronto entre a formação do ADI e sua prática (perguntas de 14 a 16). 4.1 QUEM SÃO OS ADIS DO SEXO MASCULINO, SUAS MOTIVAÇÕES E EXPECTATIVAS De acordo com os dados coletados, a faixa-etária dos ADIs entrevistados estava entre 21 e 52 anos, com 47% deles com idade entre 21 e 30 anos. A maior parte (87%) tinha 1 ano e 10 meses na creche e 13% tinha 1 ano de trabalho. Com relação à formação/escolaridade, nove dos 15 ADIs apresentavam nível superior completo nas áreas de: Administração de Empresas (1), Odontologia (1), Filosofia (1), História (1), Teologia (2), Educação Física (1) e Pedagogia (2). Entre esses, um é especialista em História das Artes e Religiões e outro está fazendo um curso de especialização na área de 12 Informática Aplicada à Educação. Entre os demais ADIs, dois estão fazendo curso superior (Turismo e Ciências Biológicas) e quatro têm o Nível Médio. As experiências anteriores dos ADIs abrangem desde trabalhos informais como motoboy e vendedor de coxinha, até policial militar, professor de educação física, pastor, promotor de vendas, agente administrativo, operador de telemarketing, agente de pesquisa, trabalho em gráfica e em instituições que atuam com crianças em situação de risco. Dois ADIs não tinham qualquer tipo de experiência profissional anterior à creche e dois estavam desempregados na época do concurso. Apenas dois dos ADIs (13%) afirmaram ter trabalhado com crianças pequenas, cinco (33%) se referiram apenas à experiências familiares (filhos e sobrinhos) e quatro (27%) declararam nunca ter tido esse tipo de experiência. Os demais ADIs mencionaram ter tido experiências profissionais com crianças acima de 7 anos (professores de História e de Educação Física, educador de crianças em situação de risco e professor particular). Entre os ADIs entrevistados oito trabalham no Grupo III (crianças de 3 a 4 anos), cinco, no Grupo II (de 2 a 3 anos), um no Grupo I (de 1 a 2 anos) e um faz revezamento nos Grupos II e III. Na entrevista, observou-se uma preferência dos ADIs pelo Grupo II. Assim, sete ADIs afirmaram que preferem atuar neste grupo, justificando da seguinte forma: “(...) o grupo II... eles são mais obedientes, você... é fácil de lidar porque... estão começando a desenvolver o seu... vamos dizer assim, o seu cognitivo, né? Já os do grupo III, estão desenvolvendo também, mas são mais levados por conta de alguns meninos que são mais agitados e dão muito trabalho.” (E3T2G2) “Porque eles (GII) são mais.... são mais fáceis da gente lidar, eu acho. São mais fáceis de lidar... não sei... acho que... são mais bem... mais comportados.” (E9T1G2) Registra-se, porém, um caso que foge a essa tendência. Um ADI que manifestou vontade de trabalhar com o berçário7: “(...) existe uma possibilidade de no próximo ano trabalhar no berçário. A creche está tentando fazer essa experiência. 7 Este ADI tem Nível Médio e, antes de trabalhar na creche, foi educador em instituições como Fundac e Casa de Carolina, atuando com crianças de 4 a 11 anos. 13 Vamos conversar com os pais, avisar aos pais. Hoje, a creche já percebe que, de alguma forma, não tem nenhuma impossibilidade de se fazer esse tipo de trabalho. (...) acho que já dá para perceber que eu não sou nenhum serial killer, alguma coisa assim...” (E12T2G3) Segundo 87% dos entrevistados (13 ADIs), o principal motivo que os levou a escolha da profissão de ADI foi a estabilidade que o emprego público oferece ou, simplesmente, a oportunidade de um trabalho: “O que me levou, assim... com sinceridade, foi... como todo concurso público, a estabilidade financeira. No momento tava até desempregado, e... pelo fato que... eu gosto de criança, mas, sendo que eu nunca... estudei pra chegar... nunca fiz Magistério, nem Pedagogia.” (E4T1G2/3) “Assim... em primeiro lugar foi a necessidade de um emprego, né? Porque, como esse é meu primeiro emprego, eu nunca tinha trabalhado antes, então... primeiramente foi a necessidade de um emprego (...).” (E6T1G3) Apenas dois ADIs (13% dos entrevistados), justamente os ADIs formados em Pedagogia, declararam que o motivo da escolha da profissão se deu pela experiência que teriam: (...) por eu ser pedagogo, ser... da área... de Educação Infantil, eu achei que era interessante a experiência.” (E5T2G3) Ao serem questionados sobre as expectativas que tinham acerca do trabalho a ser realizado na creche, apenas três ADIs (20%), novamente os dois graduados em Pedagogia e o outro ADI que manifestou interesse por trabalhar no Berçário, declararam que sabiam, exatamente, o que fariam na creche: “Eu esperava, exatamente, o que tinha de... proposta, porque as atribuições foram muito claras. Na... no edital do concurso já tava muito claro quais seriam as atribuições. Então, o que eu faço hoje tá dentro, exatamente, da proposta, então, não foi surpresa, não. Não teve muita diferença, não.” (E5T2G3) A grande maioria, porém, informou que não tinha muita clareza sobre qual seria o seu trabalho ou esperava que fosse um trabalho diferente. Vejamos algumas falas em que isto ficou evidente: 14 “(...) não entendia como era a realidade de uma creche, não imaginava o trabalho... então, mesmo tendo lido (o edital)... lá dizia: mas você vai auxiliar o professor nas atividades pedagógicas, cuidar da higiene... Então, assim, eu tinha uma vaga idéia, não é que eu não tinha nada, mas eu tinha uma idéia vaga de que eu ia ajudar na manutenção, na higiene, tudo... mas, assim... o trabalho como um todo, eu não tinha a dimensão dele.” (E6T1G3) “Eu achava... Eu não imaginava que teria, assim, é... o contato, assim... com higiene. Não imaginava porque... é... não fica muito bem explícito nas funções, né? Não fica muito bem explícito. Eu não imaginava que tinha essa coisa de dar o banho, de... escovar, de... ter todos os cuidados, né? De higiene corporal, né?” (E9T1G2) “Olhe, inicialmente eu fui fazer esse concurso... eu não sabia que era para trabalhar com crianças, eu pensava que era pra trabalhar na área administrativa. Só que quando a gente fez o concurso e... fomos lá pra o encontro com o prefeito, aí a secretária da educação disse como era o trabalho, o que a gente ia fazer e... depois de algum tempo eu me identifiquei, né?” (E3T2G2) Em síntese, as respostas deste bloco de perguntas revelam que a atual realidade dos ADIs nas creches da Prefeitura do Recife parece ser bem diferente do que foi relatado por Arruda et al. (2006). Neste estudo, realizado antes do concurso público em 2006 e que se constitui em um dos raros trabalhos conhecidos nesta área, foram entrevistadas 23 ADIs, todas do sexo feminino, e em sua grande maioria (87%) fazendo o curso Normal Médio e 13% cursando Pedagogia. Além disso, 61% das ADIs tinham experiência profissional prévia na área de educação. Na presente pesquisa, como vimos acima, 73% dos ADIs do sexo masculino entrevistados tinham nível superior de escolaridade ou em andamento. Porém, apenas quatro (27%) tinham experiência prévia na área de educação, e dois deles haviam concluído o curso de Pedagogia. A ausência de experiência anterior com educação nos remete à questão da motivação para a escolha da profissão de ADI. Como foi visto, o presente estudo mostra que a grande maioria dos ADIs não tinha noção de como seria o trabalho na creche e, ao que parece, a estabilidade de um emprego público se constituiu no maior atrativo para realizar o concurso promovido pela rede municipal. 15 Levando-se em consideração o exposto nesta seção, cabe perguntar: que implicações traz para a prática dos ADIs a ausência de formação específica na área de educação? Ainda que esta questão não seja o foco da presente pesquisa, consideramos a importância de desenvolvimento de estudos direcionados a esse campo. Além disso, se os concursos públicos não têm exigido a formação em magistério, espera-se um investimento em formação continuada dos novos profissionais contratados como ADIs, uma vez que, de acordo com Rosemberg (1994, p. 52), existe “uma intensa associação entre formação educacional e a qualidade do atendimento oferecido à criança pequena.” No item seguinte discutiremos as vivências dos ADIs no cotidiano das creches. 4.2 A VIVÊNCIA DA PRÁTICA PROFISSIONAL DOS ADIs E SUAS IMPLICAÇÕES EM RELAÇÃO AOS GÊNEROS Para analisar este tópico, fundamental na nossa pesquisa, extraímos das entrevistas quatro itens que nos pareceram indicar, de forma mais evidente, as possibilidades ou limitações dos ADIs no exercício de suas atribuições, devido ao fato de serem homens. São eles: • O primeiro impacto: “homem na creche!” Durante as entrevistas, muitos ADIs expressaram a sensação dos primeiros dias de trabalho na creche: a quebra de modelos, a ansiedade, o enfrentamento das dificuldades e o processo de adaptação. Vejamos alguns desses depoimentos: “É... primeiro assim, a gente teve um choque: homem na creche, o primeiro paradigma que se quebra, assim. Então teve toda uma adaptação, tanto para mim, para as crianças se adaptarem, para eles construírem uma figura masculina... Então teve essa construção, uma construção com os funcionários, uma construção com as mães, com os pais, por isso foi uma luta. Hoje a gente já tá num período mais ou menos de equilíbrio, de estabilidade, mas que tem suas intermitências assim, mas já tá mais tranqüilo. (...) no início você vira um espetáculo, um show, porque é uma coisa estranha e ainda há uma troca de nome, tio, tia, tio, tia, tio, mas é normal.” (E12T2G3) 16 “(...) A dificuldade foi no início, com relação a... ao preconceito, à falta de conhecimento da comunidade, das mães, né? Um homem trabalhando na creche. Mas a... a minha qualificação, a minha formação foi mostrando que isso é apenas um... um mito, um folclore, não é?” (E7T1G1) • “Eu não posso dar banho, né?” De acordo com os depoimentos dos ADIs homens, a maioria (80%) não dá banho ou evita exercer essa atividade. Vejamos: “(...) A única coisa que eu não faço é dar banho nas crianças, isso até por ter sido um acordo feito entre as mães e nós ADIs, e a diretoria da creche. Porque tem algumas mães que por ouvir que existem pedófilos, existem pessoas que não têm respeito por crianças, e essas coisas. Então elas pediram para que os ADIs homens não dessem banho. A gente até faz, de vez em quando, se for necessário, se tiver faltando ADI e tal...” (E15T1G3) “Aí, depois, é a hora do banho. Aí eu não posso dar banho, né? Também eu acho até bom, não ficar manipulando, é até um serviço a menos, é um serviço a menos... Acho até melhor.” (E1T2G3) “(...) É... e as mães não sabem que eu ajudo no banho porque existe um certo receio e desde o início... no primeiro dia que eu entrei uma das mães, inclusive, perguntou... (...) ‘E eles vão dar banho nos meninos, é?’ Aí a coordenadora segurou que a gente não ia dar banho, que a gente não ia ter esse contato com limpeza porque aí as meninas seguravam, né?(...).” (E9T1G2) “Eu chego e faço a recepção das crianças... as crianças trocam de roupa. Tiram a roupa de casa e colocam a roupa da creche, os shorts e as camisetinhas. Nós não fazemos isso, os homens, né? A gestora preferiu que nós não façamos isso, quem faz sempre é uma estagiária, até mesmo outra ADI... Depois tem o banho, que nós também não damos. Segundo a diretora, os pais, as mães, não gostariam de saber que seus filhos tavam tomando banho com homens, que não ficariam tranqüilas, nós concordamos, sem problema. Quem dá o banho são sempre as moças, as estagiárias e ADIs.” (E2T1G2) Esse dado reforça a opinião de Cruz (1998), quando afirma que: “(...) o medo manifestado pela presença de homens na creche e também no cuidado de crianças na família parece estar relacionado a uma concepção da sexualidade masculina como algo incontrolável.” (p. 244). Segundo a autora, existe uma 17 representação social de que a natureza masculina não tem controle dos seus impulsos sexuais. Em decorrência disso, há desconfiança e a crença na vulnerabilidade da criança submetida aos cuidados de um homem. Porém, como poderia ser esperado, alguns ADIs mencionam que não dar banho nas crianças gera certos problemas com as demais ADIs do sexo feminino, que podem se ver sobrecarregadas. “(...) (As ADIs) acharam ruim, falam até hoje: ‘Ele não dá banho, ele não dá banho’. Aí, sim, mas é porque é imposição da própria comunidade, da diretoria, ‘não, é melhor não’... E eu acho até melhor, não ficar pegando na criança, não ficar manipulando... tem muita menina. Chato, né? Pra tá evitando comentários... Eu acho até melhor...” (E1T2G3) Um dado interessante, revelado nas entrevistas, foi perceber que há movimentos de ruptura em relação a essa questão do banho. Ou seja, para três ADIs (20%), o banho é, ao contrário do que se viu até aqui, incorporado como uma de suas atribuições, demonstrando a possibilidade de adaptação da comunidade em relação a esse tema: “Olhe, desde o começo eu tento driblar isso, essa questão de homem não dá o banho, pelo menos na minha sala, eu dou, eu dou o banho. É... por exemplo, no horário do banho da tarde são 3 funcionários, eu e mais 2 estagiárias, e a gente reveza, eu sempre pergunto quem é que vai dar o banho hoje? Quer que eu dê o banho? Pra oxigenar a rotina mesmo, né? Eu sempre vou vestir, as meninas sempre vão dar o banho, não... fica legal assim, faz uma dinamização pra ficar melhor. Por exemplo, hoje eu pretendo dar o banho, porque as meninas deram o banho ontem e segunda, entendeu? Eu vou driblando isso, nunca me deparei quando... se vier eu vou entender porque vem de fora, que algumas mães não estejam gostando, mas, eu já comentei inclusive com as mães que dou o banho, não houve problema.” (E13T2G2) “Hoje eu já consigo participar de uma atividade como o banho, eu já posso cuidar das meninas, sobretudo com mais proximidade, sem que levante algum tipo de suspeita porque a suspeita surge da realidade lamentável que a sociedade tá tendo.” (E12T2G3) Os depoimentos acima mostram, portanto, que é possível romper com certos tabus. Também é possível concluir, com base nas entrevistas, que diversos fatores podem favorecer ou não essa ruptura. Por exemplo, a 18 comunidade em que a creche está inserida, pois algumas apresentam contexto de maior violência, com casos de abusos de crianças, bem como a postura adotada pela diretora, coordenação e demais funcionários da creche na mediação dos conflitos junto a esta comunidade e na sensibilização em relação ao papel profissional dos ADIs do sexo masculino. Percebemos, claramente, pela fala dos ADIs, que a forma como a direção da escola se posiciona diante a indagação dos pais em relação às atividades como o banho tem um impacto direto na forma como eles se comportam em relação à atividade em questão. • “E pode, tio, homem pentear o cabelo?”: As questões de gênero com as crianças, demais profissionais da creche e comunidade As relações de gênero ficam bastante evidentes em algumas passagens das entrevistas com os ADIs, quando se referem a sua interação com as crianças. Vejamos: “Aí eu faço tudo, cuidar de cabelos... isso tudo foi vencido, cuidado e cabelos. A criança mesmo rejeitava: ‘E pode, tio, homem pentear o cabelo?’ Aí a outra criança chegava: ‘Pode, o meu pai é que cuida do meu cabelo’ Então, que problema tem?” (E12T2G3) Nota-se nesta fala que as tarefas supostamente “próprias” do homem e da mulher em nossa sociedade já aparecem refletidas nas observações das crianças. Assim, de acordo com Argüelo (2008, p.72), mostra-se “o quanto elas são subjetivadas pelos discursos que circulam nas diferentes instâncias culturais”. Um dos ADIs alerta que muito dessas diferenças são, inclusive, cultivadas pelas próprias mulheres: “(...) às vezes a gente fica chateado porque a gente quer ter direito igual, todo mundo, se as mulheres têm direito de trabalhar porque nós não temos, os pais lamentavelmente, os pais, os homens, perderam esse direito, ou por maternalismo, ou por uma questão cultural. Sem querer culpar as mulheres, mas as mulheres às vezes puxam muito os filhos para si, não dividem a tarefa com o pai, então, é importante dividir essa responsabilidade com o pai, com o homem, com o companheiro, com os irmãos, com o homem em geral.” (E12T2G3) Além disso, observa-se que a relação ADI homem e as crianças do sexo feminino é alvo de maior tensão, como evidenciamos nos trechos abaixo: 19 “(...) principalmente com relação... acho com relação as meninas, né? Eu acho que as mães, os pais ficam meio cismados. Eu não dou banho neles já faz tempo. Esse ano várias mães, pais chegavam na sala e perguntavam assim, não a mim, mas as outras tias: “Olha, o ADI, ele dá banho nas crianças? Sempre perguntavam, entendeu? Quer dizer, os pais se incomodam sim, isso é verdade, eles se incomodam.” (E8T1G3) “Teve uma ocasião numa reunião de pais e mestres, um pai de uma menina, disse assim, porque eu tava trocando a filha dele de manhã, porque eu sou homem e eu estava trocando a roupa da filha dele de manhã (...)” (E10T1G2) Ainda em relação a este tópico, é interessante notar que a ruptura com as representações hegemônicas é também observada no discurso dos ADIs, que começam, a partir de sua própria realidade profissional, a questionar esses modelos e apresentar mudanças de postura: “(...) porque antigamente eu achava que ser cabeleireiro era pra mulher, tem trabalho pra homem e trabalho pra mulher, isso acaba até... dando pra criança, transmitindo isso pra criança, tipo, menino quer brincar com a boneca, não vou deixar, a menina quer um carrinho, não vou deixar, a criança ela ainda não tem esse discernimento social, ela não tem essa roupagem social que a gente tem... o menino tá com a boneca, tá, não vai influir na sexualidade dele ele brincar com essa boneca, ele simplesmente ta brincando com algo que reproduz o corpo humano, ele tá lá, ele tá com essa boneca, deixa o menino lá, ponto final, a menina tá com a bola, deixa (...)” (E13T2G2) • A recorrência à imagem paterna: Um mecanismo de defesa ou a busca de uma identidade profissional? Diante das questões expostas acima, verificamos que alguns ADIs parecem se apoiar na idéia de ver as crianças como filhos, talvez como estratégia para conquistar o respeito e confiança dos pais, comunidade e demais profissionais da creche. Desta forma, parecem querer demonstrar idoneidade moral no trato com as crianças ou mesmo legitimar uma identidade profissional perante as pessoas. Vejamos alguns depoimentos nesta direção: “(...) eu tenho idade para ser avô de tudinho, então eu considero tudo como meus netos, meus filhos... Eu chego, eles até acham graça que quando às vezes eu chego aqui, faço: meus filhos, venham! Eles: papai, venha cá. Eles ficam 20 até gozando comigo. Eles fazem: Papai! Têm outros aqui no Grupo II que me chamam de papai...” (E15T1G3) “(...) Você tá ali, você está representando sem querer, você representa o pai, você representa uma figura de autoridade, você é um professor por mais que tenham lá: Você é ADI, ADI é auxiliar de desenvolvimento infantil, ponha-se no seu lugar! (...)” (E12T2G3) “(...) No início foi complicado, não é? Por questões... já o costume na questão do gênero mulher, na questão materna, eu fui uma novidade, não é? Não ficou muito... muito difícil porque existe o papel do pai, né verdade? Eu apenas estimulei o papel do pai na creche, eu fui o homem como existe o pai em casa, fui... sou o educador como existe o pai em casa. Eu, no papel de educador, fui desenvolver as funções de um educador.” (E7T1G1) “(...) Alguns é... quando chegam... me chamam de pai, aí depois eu vou procurar saber porque e então a gente percebe que houve uma separação dentro de casa, o pai tá fora e, por falta de uma identidade masculina dentro de casa, a criança se identifica mais com o homem. Isso daí trouxe também alegria pras crianças porque no parque a gente joga bola, a gente conversa, corre junto. Então eles se identificam.” (E3T2G2) Na verdade, a presença do ADI do sexo masculino como um dos educadores da creche, pela própria natureza da sua atividade, parece contribuir para o rompimento com o modelo hegemônico do que é “adequado como profissão dita masculina8” Segundo Miranda (2003), ter ADIs do sexo masculino no espaço da educação infantil parece, portanto, ressignificar este campo de trabalho. Agora temos não apenas as professoras como mães espirituais, mas também os educadores do sexo masculino como pais morais no trato com as crianças. Dessa forma, acrescenta-se a dimensão masculina ao que anteriormente era, predominantemente, feminino, e a interação educador-educando no contexto do homem adulto-criança parece se naturalizar como uma relação de parentesco. 4.3 O CONFRONTO ENTRE A FORMAÇÃO DOS ADIs E SUA PRÁTICA 8 Tal presença rompe, também, com as expectativas do próprio contexto familiar em que, em geral, o pai tem o papel de provedor financeiro e moral das crianças, enquanto a mãe é responsável pelo afeto e cuidado dos filhos. 21 Buscamos, neste tópico, compreender como os ADIs estão vendo as reuniões internas nas creches e os cursos de formação continuada oferecidos pela Prefeitura do Recife e quais suas expectativas em relação ao seu futuro profissional. Percebemos, pelas falas de todos os ADIs, a ocorrência de reuniões sistemáticas nas instituições em que trabalham e que essas reuniões não se limitam às que constam do calendário da Gerência de Educação Infantil. “Nós temos reuniões sistemáticas. Temos planejamento interno, que essa semana nós tivemos dois dias de planejamento. As crianças não vieram à creche, nós só planejamos. No início do ano fazemos essa reunião. De dois em dois meses temos reuniões para discutir a evolução das crianças.” (E2T1G2) Com relação aos cursos de formação oferecidos pela Prefeitura, a maioria dos ADIs entrevistados consideram, porém, que são em número insuficiente para o que eles precisam: “Sim, poucas ao meu ver. Tinha de ser mais, a gente precisa de muito mais respaldo, subsídio.” (E10T1G2) “As capacitações são pouquíssimas. Não sei se a prefeitura se baseia na questão de que a maioria das pessoas que estão fazendo estão cursando alguma coisa na educação e fazendo Pedagogia. (...)”. (E12T2G3) Como principais deficiências dos cursos oferecidos, os seguintes aspectos foram elencados: o não direcionamento para a faixa-etária das crianças atendidas pelas creches; o fato de haver uma limitação no número de ADIs que podem ir aos encontros de formação; e, finalmente, a dificuldade de colocar em prática os conhecimentos adquiridos por conta de condições de trabalho pouco adequadas. Quanto ao futuro profissional um dado chama muito a atenção: apenas um entre os 15 entrevistados, um ADI com graduação em Teologia, expressou o desejo de continuar na área de Educação Infantil. Esse fato difere bastante do que foi constatado na pesquisa realizada por Arruda et al. (2006), quando 70% das ADIs entrevistadas afirmaram pretender permanecer nessa área. 22 Os dois ADIs formados em Pedagogia, planejam continuar trabalhando na área de educação. Um deles tem planos de fazer Mestrado e atuar como professor de Nível Superior e o outro pensa em fazer outros concursos públicos para professor do Ensino Fundamental. Quanto aos demais ADIs entrevistados, estes pretendem fazer concurso público para suas áreas de formação ou atuar nelas de alguma forma: “Concurso público. Eu vou fazer concurso público na minha área, na área da saúde e... isso de Auxiliar de Desenvolvimento Infantil vai ficar como uma experiência e uma lembrança boa. Tudo tem sua aprendizagem, né? Daqui eu aprendi muita coisa que vou levar comigo, mas se está encaminhando pra... breve eu sair, pedir exoneração desse cargo, por conta de eu ter outra formação e... expectativa melhor de trabalho.” (E14T2G2) “Eu acho um trabalho muito digno, é bom que você saiba, eu acho muito digno, muito necessário, mas... que... não compensa pelo salário, que é muito baixo, e pela função. A gente tem uma formação, né? Eu pretendo trabalhar com isso, né? Com o que eu estudei.” (E2T1G2). Reforçamos que, considerando que a maioria dos ADIs não tem formação específica na área de Educação, muito menos em Educação Infantil, a formação em serviço se faz imprescindível para a qualidade do atendimento às crianças. O próprio RCNEI (1998) destaca a importância de um espaço para a formação continuada nas instituições, com a participação de todos os profissionais em reuniões, apresentação de vídeos, visitas, ou seja, alternativas que promovam a atualização desses profissionais, a troca de idéias e experiências. A necessidade de tempo para planejamento, registro e avaliação também é enfatizada neste documento. Porém, concordamos com Cruz (1996), ao afirmar que apenas a boa formação do profissional não é suficiente. Ou seja, boas condições de trabalho, bons salários e boas perspectivas profissionais são também elementos essenciais para a melhoria da qualidade do trabalho nas creches. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A escassez de empregos traz fortes repercussões na vida das pessoas e, como vimos, os sujeitos da nossa pesquisa foram levados, em sua maioria, a 23 fazer o concurso para a função de ADI pela estabilidade do emprego público ou, simplesmente, porque estavam desempregados. Apesar disso, é evidente que a maioria deles reconhece a importância dessa profissão e o quanto está sendo enriquecedora a experiência, apesar de todos os contratempos referentes às condições de trabalho precárias, bem como à discriminação que sofrem, determinando os limites e abrangências de suas funções. Percebemos que a cisão entre as tarefas pedagógicas e os cuidados ainda se faz presente na visão de quem trabalha com crianças pequenas. A própria falta de exigências quanto à formação específica para o trabalho como ADI, legitima, de certa forma, a idéia de que para “cuidar” de crianças pequenas não se faz necessário ter o magistério, a graduação em Pedagogia ou mesmo alguma experiência de trabalho ligada a crianças. Vimos, ainda, que a falta de uma exigência de formação ou experiência específica para o exercício da profissão de ADI parece ter dificultado, inclusive, o entendimento do próprio edital do concurso. Além disso, o despreparo dos ADIs, certamente gera ansiedade por parte deles e a necessidade evidente de formação em serviço. Nota-se, neste sentido, o esforço da Prefeitura em atender essa demanda ainda que, aos olhos dos ADIs, esta esteja longe de ser plenamente satisfeita. Um fato que nos parece bastante preocupante é a falta de interesse dos ADIs em continuar na profissão, o que certamente acarreta grande rotatividade de profissionais nas creches, comprometendo a qualidade do trabalho com as crianças. Considerando que até os dois ADIs formados em Pedagogia não têm pretensão de continuar atuando com crianças pequenas, nos questionamos sobre o que deve ser feito para que ADIs concursados se interessem por permanecer em suas funções. Neste sentido, alguns impasses se colocam: será que profissionais com nível superior, seja em Pedagogia, seja em outras áreas, se sentiriam satisfeitos em cuidar de e educar crianças com status, salário e carga horária diferentes em relação aos professores? Neste caso, a solução seria restringir os concursos para concluintes de magistério? Mas, ao fazer isso, não estaríamos contribuindo para sedimentar a noção de que ao educar crianças, o “trabalho braçal” ficaria com os ADIs e o “trabalho intelectual” ficaria com os mais instruídos, as professoras? Sendo assim, o mais indicado seria ter profissionais da área da educação, todos com nível de escolaridade superior em horário integral nas creches? 24 Na verdade, qualquer uma das opções possíveis parece-nos inviável se, como sugere Campos (1994, p. 37) esses profissionais não receberem “um novo tipo de formação, baseada numa concepção integrada de desenvolvimento e Educação Infantil, que não hierarquize atividades de cuidado e educação e não as segmente em espaços, horários e responsabilidades profissionais diferentes”. Porém, a realidade de grande parte das creches da Rede Pública Municipal do Recife, nos coloca mais um impasse: nas atuais condições precárias de espaço físico e de organização da rotina dessas instituições, a proposta de 8 horas de trabalho, certamente, comprometeria o rendimento desse profissional, o que se refletiria diretamente na qualidade do atendimento à criança. Quanto às questões de gênero, consideramos que o acesso dos ADIs do sexo masculino às creches é importante para a desconstrução do modelo hegemônico de masculinidade que tanto prejuízo tem trazido para a nossa sociedade. Porém, não basta garantir-lhes o acesso, mas condições para que todos, ADIs homens ou mulheres, não sofram discriminação no exercício de suas atribuições. Não estamos, desta forma, desconsiderando as dificuldades que envolvem tais questões. No entanto, a presente pesquisa demonstrou que movimentos de ruptura com o modelo vigente são possíveis, como sintetiza o depoimento abaixo: “(...) Hoje nós fazemos tudo o que é necessário, o que é preciso para ajudar a criança no seu desenvolvimento, não é apenas dar banho e limpar, é... é orientar a criança para que no futuro ela possa ter uma autonomia e se cuidar sozinha, ela possa se limpar, se enxugar e tomar um banho. Essa é a nossa visão, não é apenas limpar, enxugar e dar banho. (...) eu fui mostrando, com minha formação, com minha capacidade de trabalhar, não é? De lidar com as crianças... As pessoas foram percebendo naturalmente que não tem sentido... Como eu lhe falei, eu sou um profissional que fiz Magistério, fiz Pedagogia e teria que colocar essa questão técnica e prática como um profissional da educação, né? Fomos, através de reuniões.... Fomos aos poucos quebrando esses tabus. Existe ainda, poucos, mas aos poucos a gente... Nós nos reunimos, discutimos sobre essa realidade com a comunidade, com as pessoas da comunidade, nós conversamos. Foi uma coisa conquistada, foi uma conquista, em conjunto, com todos da creche.” (E7T1G1) 25 6. REFERÊNCIAS ARGÜELO, Zandra E. Representações de gênero nos discursos de crianças pré-escolares: Problematizando as questões de gênero com crianças através da literatura infantil. Revista Ártemis. João Pessoa, jun 2008, vol.8, p. 68-83. ARRUDA, Fabíola D.; FARIA, Rogério S. de; BRANDÃO, Ana Carolina P. 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Trabalho e gênero no Brasil nos últimos dez anos. Caderno de Pesquisa. São Paulo, 2007, n. 132. 26 CAMPOS, Maria M. M.; GROSBAUM, Marta; PAHIM, Regina e ROSEMBERG, Fúlvia. Profissionais de creche. Cadernos CEDES. São Paulo, 1991, n. 9, p. 3966. ___________________. “Questões sobre o perfil do profissional de Educação Infantil”. In: Por uma Política de Formação do Profissional de Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF/Coedi, 1994. CERISARA, Ana B.; ROCHA, Eloísa; SILVA, Filho, João J. “Educação Infantil: uma trajetória de pesquisa e indicações para a avaliação de contextos educativos”. In: FORMOSINHO, Júlia; KISHIMOTO, Tizuko. Formação em contexto: uma estratégia de integração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. p. 207–230. CHIZZOTTI, Antônio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001. CRUZ, Elizabete Franco. “Quem leva o nenê e a bolsa?”: O masculino na creche. In: ARILHA, Margareth; UNBEHAUM, Sandra G.; MEDRADO, Benedito. Homens e masculinidades: outras palavras. 2 ed. São Paulo: ECOS/Editora34, 1998. p.235-255. CRUZ, Sílvia Helena V. Reflexões acerca da formação do educador infantil. Caderno de Pesquisa. São Paulo, 1996, nº 97, p. 79-89. DEMARTINI, Zélia de B. F.; ANTUNES, Fátima F. Magistério Primário: profissão feminina, carreira masculina. Caderno de Pesquisa. São Paulo, 1993, n° 86, p. 5-14. HYPOLITO, Álvaro Moreira. Trabalho docente, classe social e relações de gênero. Campinas, São Paulo: Papirus, 1997. KUHLMANN Jr., Moisés. Histórias da educação infantil brasileira. Revista Brasileira de Educação. São Paulo, mai/jun/jul/ago 2000, n° 14, p. 5-17. 27 LANTER, Ana Paula. “A política de formação do profissional da educação infantil: os anos 90 e as diretrizes do MEC diante da questão”. In: KRAMER, S.; LEITE, M. I.; NUNES, M. F.; GUIMARÃES, D. (orgs.). Infância e educação infantil. Campinas, SP: Papirus, 1999. p. 131-155. LOURO, Guacira Lopes. 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O POVO DA CIDADE DO RECIFE, POR SEUS REPRESENTANTES, DECRETOU, E EU EM SEU NOME, SANCIONO A SEGUINTE LEI: Art. 1º - Ficam criados os seguintes cargos efetivos, para atuarem junto ao Grupo Ocupacional de Magistério: I - 895 (oitocentos e noventa e cinco), de AGENTE ADMINISTRATIVO ESCOLAR, com remuneração R$ 400,00 (quatrocentos reais); II - 1.545 (mil quinhentos e quarenta e cinco) de AUXILIAR DE DESENVOLVIMENTO INFANTIL, com remuneração R$ 400,00 (quatrocentos reais). Art. 2o - Os cargos criados na forma do artigo 1o desta Lei cumprirão carga horária de 40 (quarenta) horas semanais e serão providos por concurso público. Art. 3o - As atribuições dos cargos e os requisitos necessários para o provimento são os constantes no Anexo Único desta Lei. Art. 4º - As despesas decorrentes da presente Lei ficam por conta de dotações orçamentária próprias do tesouro municipal, destinada ao pagamento de pessoal. Art. 5º Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação. Recife, 28 de dezembro de 2005. João Paulo Lima e Silva Prefeito Projeto de Lei de Autoria do Chefe do Poder Executivo. ANEXO ÚNICO À LEI Nº 17.161/2005. AUXILIAR DE DESENVOLVIMENTO INFANTIL PRÉ-REQUISITOS Magistério Completo. ATRIBUIÇÕES Atuar junto às crianças nas diversas fases de Educação Infantil, auxiliando o 29 professor no processo ensino-aprendizagem; Auxiliar as crianças na execução de atividades pedagógicas e recreativas diárias; Cuidar da higiene, alimentação, repouso e bem estar das crianças; Auxiliar o professor na construção de atitudes e valores significativos para o processo educativo das crianças; Planejar junto com o professor regente, atividades pedagógicas próprias para cada grupo infantil; Auxiliar o professor no processo de observação e registro das aprendizagens e desenvolvimento das crianças; Auxiliar o professor na construção de material didático, bem como na organização e manutenção deste material; Responsabilizar-se pela recepção e entrega das crianças junto às famílias, mantendo um diálogo constante entre família e creche; Acompanhar as crianças, junto às professoras e demais funcionários em aulas passeio programados pela creche; Participar de capacitações de formação continuada. AGENTE ADMINISTRATIVO ESCOLAR PRÉ-REQUISITOS Ensino Médio Completo. ATRIBUIÇÕES Atender ao público, prestando informações solicitadas; Receber, protocolar, carimbar, distribuir, encaminhar e arquivar processos e documentos diversos; Organizar e manusear arquivos e fichários (ordem alfabética / numérica etc) primando pela racionalidade do trabalho e de tempo; Registrar e manter atualizado o cadastro de pessoal, de bens patrimoniais e materiais, permanentes e de consumo; Preparar guias, recibos e aquisições em geral para assinatura da chefia imediata; Assistir a chefia imediata prestando informações para despacho de processos e documentos diversos; Realizar levantamentos em geral para subsidiar a elaboração e/ou atualização de mapas demonstrativos; Conduzir documentos protocolados; Consultar e atualizar programas informatizados; Realizar tarefas correlatas; Participar das capacitações de formação continuadas. LEI Nº 17.162/05 EMENTA: Estabelece normas de finanças públicas para o exercício de 2006. O POVO DA CIDADE DO RECIFE, POR SEUS REPRESENTANTES, DECRETOU, E EU, EM SEU NOME, SANCIONO A SEGUINTE LEI: Art 1º Para o exercício de 2006, a despesa com serviços de terceiros, no âmbito municipal, não poderá ultrapassar em percentual da receita corrente liquida, o que foi estabelecido no art. 72, da Lei Complementar nº 101, de 04 de maio de 2000. Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. 30 Recife, 28 de dezembro de 2005. João Paulo Lima e Silva Prefeito ANEXO II ROTEIRO DE ENTREVISTA Identificação Nome: _____________________________________________ Tempo de Serviço: ___________________________________________ Formação/Escolaridade: ______________________________________ Idade: ________ Quem são os ADIs do sexo masculino, suas motivações e expectativas 1) Você exercia alguma atividade antes de vir trabalhar na creche? Qual? 2) Já teve alguma experiência com crianças? Qual? 3) O que o levou a fazer o concurso para ADI? 4) Quais as suas expectativas em relação a esse trabalho? 5) Essas expectativas têm se confirmado durante esses primeiros meses de trabalho? 6) Em que grupo de crianças você atua? Já trabalhou com crianças de outra faixa etária dentro da creche? Qual? Você tem alguma preferência? 7) Poderia fazer um breve resumo das suas atividades diárias? 31 8) Que dificuldades você tem enfrentado nesta função? 9) Como você tem buscado superá-las? A vivência da prática profissional dos ADIs e suas implicações em relação aos gêneros 10) Como você se percebe nessa profissão? Você percebe limitações na abrangência de suas funções como ADI, devido ao fato de você ser homem? Quais? Como você tem enfrentado essa questão? 11) Qual a importância que você atribui a seu trabalho? 12) Existe um regimento em relação às atribuições do ADI? O que você nos diz a respeito? 13) Como é seu relacionamento com a equipe de trabalho, crianças e pais na creche? 17) Você percebe alguma influência (mudança) no seu comportamento ou na sua visão em relação aos gêneros masculino e feminino depois que passou a exercer o trabalho como ADI na creche? 18) Existe algum problema em comentar em espaços extra-classe sobre suas atribuições profissionais? Por quê? O confronto entre a formação dos ADIs e sua prática 14) Você tem reuniões sistemáticas com outros profissionais na creche? Quem participa dessas reuniões e qual a sua freqüência? 32 15) São oferecidas capacitações? Se sim, você já participou de alguma? Que contribuições trouxe para o seu trabalho? 16) Em relação a sua formação, que direcionamento pretende dar no futuro próximo? 33