Título: ALUNO/A DE CURSO TÉCNICO-PROFISSIONAL “MASCULINO” OU
“FEMININO” : REFLEXÕES ACERCA DAS REPRESENTAÇÕES SOBRE
SEU FUTURO PROFISSIONAL
Área Temática: Educação e Trabalho
Autor: NANCI STANCKI SILVA
Instituição: Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná
Introdução
No Brasil, nas últimas décadas, tem ocorrido um aumento no índice de
escolarização feminina e, “beneficiando-se da expansão do ensino, as
mulheres participam do sistema educacional brasileiro na mesma proporção
(ou proporção ligeiramente superior) que os homens” (Rosemberg, 1994, p.37),
fazendo-se presentes em todos os níveis de ensino, chegando mesmo a
superar o índice de participação masculina no 2º e 3º graus.
Se fosse feita uma análise desses dados iniciais, os quais retratam
apenas uma das facetas da situação escolar feminina, poder-se-ia concluir que
a igualdade entre homens e mulheres já teria sido alcançada no ambiente
escolar brasileiro. Porém, mesmo que esses dados indiquem, de fato, uma
conquista feminina por maiores espaços na sociedade refletida no aumento da
escolaridade das mulheres, eles isolados não são suficientes para analisar as
desigualdades de gênero na educação brasileira, pois não expressam o que se
passa no interior da escola.
Dados que dizem respeito à distribuição de homens e mulheres nas
diversas áreas de conhecimento são de extrema relevância nessa análise.
Segundo o Relatório sobre o Desenvolvimento Humano no Brasil (IPEA, 1996),
“as mulheres encaminham-se predominantemente para as áreas de ciências
humanas e saúde (no curso normal, 96% de mulheres; nos cursos técnicoindustriais, só 20%). [...] Na universidade, em 1970, as mulheres eram 42%
dos alunos; passaram para 49% em 1980 e chegaram a 52% em 1990. Cursos
preferenciais: magistério, medicina - nesta área, preferencialmente pediatria e
ginecologia.”
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Apesar da presença feminina na escola ser superior à masculina,
continua sendo restrito o número de mulheres no ensino tecnológico brasileiro,
campo ainda predominantemente masculino. Dados de uma escola de ensino
tecnológico, o Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (CEFETPR), na sua modalidade de ensino técnico-profissional confirmam isso. Seu
corpo docente e discente é predominantemente masculino sendo o exemplo
mais significativo, o curso de Técnico em Mecânica no qual o percentual
feminino nos últimos anos não ultrapassa 10%. Porém, constitui uma exceção,
o curso Técnico em Desenho Industrial no qual aproximadamente 70% do
corpo discente é feminino.
Levando-se em consideração que esses dados quantitativos também
não expressam totalmente o que ocorre na escola, iniciou-se uma investigação
com o objetivo de levantar as expectativas de futuro profissional que têm
alunos e alunas em fase de conclusão desses dois cursos técnicoprofissionais: Desenho Industrial e Mecânica. Para essa investigação, optou-se
por uma pesquisa qualitativa interpretativista para que fosse possível
identificar, numa perspectiva de gênero, pontos de vistas diferenciados entre
os/as alunos/as a respeito de sua realidade, a forma como participam e como
se sentem no interior dela. Tal investigação encontra-se em andamento e este
trabalho apresenta uma interpretação preliminar dos dados já obtidos através
de 19 entrevistas.
Também foram objeto de investigação os motivos de escolha do curso
técnico-profissional, as representações que esses/as alunos/as têm do
mercado de trabalho, as dificuldades encontradas para se inserir nesse
mercado de trabalho os seus projetos de futuro profissional.
A Instituição de Ensino Tecnológico – um espaço masculino?
O Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (CEFET-PR),
desde sua fundação, sofreu inúmeras alterações. Fundado em 16 de janeiro
de 1910 como Escola de Aprendizes Artífices do Paraná, em 1942
transformou-se em Escola Técnica Federal do Paraná e, em 1978 passou a
ser o Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná - uma instituição de
ensino superior. Apesar das mudanças, com relação ao gênero, essa
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instituição ainda conserva uma característica inicial - continua sendo uma
escola predominantemente masculina.
Várias foram as explicações entre os/as alunos/as para um número tão
reduzido de mulheres no ensino tecnológico, em particular no curso de
Mecânica, assim como as razões da concentração feminina no curso de
Desenho Industrial.
Para Joaquim (Mecânica), por exemplo, “pelo fato das mulheres serem
mais sensíveis e, também, quererem uma coisa assim não tão calculada, não
uma coisa que envolve muito cálculo, muita Matemática, as mulheres procuram
uma coisa que mexe mais com o interior da pessoa, com o lado criativo”. Este
pensamento é complementado por Joana (Mecânica) quando diz que “a área
de engenharia em si, é mais para homens”.
Estas duas falas demarcam espaços diferenciados de atuação para
homens e mulheres e também corrobora a idéia de que “apesar da
participação cada vez maior das mulheres na esfera dita produtiva, o senso
comum lhes atribui uma certa incompetência na área científica e tecnológica.
Estes domínios, e em particular a tecnologia, são considerados coisa de
homem” (RAPKIEWICZ, 1998, p. 171).
Porém não se deve esquecer que “o estereótipo da inaptidão
tecnológica feminina é construído pelo condicionamento do papel de homens e
mulheres produzido e reproduzido em cada um dos momentos de socialização
dos indivíduos” (RAPKIEWICZ, 1998, p. 172).
Um processo de socialização diferenciado para mulheres e homens tem
contribuído para o desenvolvimento de características também diferenciadas
em cada um dos gêneros, as quais podem estar aproximando homens e
afastando mulheres da tecnologia e com isso contribuindo para distanciar as
mulheres da educação tecnológica. Sobre esta questão diz RAPKIEWICZ
(1998, p. 172-173):
Os estereótipos masculinos e femininos que conduzem a aceitação dos
papéis sociais e profissionais são forjados desde a infância através da
socialização familiar. As práticas no seio da família de origem permitem
a construção de habilidades diferenciadas por sexo: os jogos e
brincadeiras masculinas encorajam a independência, a resolução de
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problemas, a experimentação e a construção, enquanto que as
femininas são mais associadas à interação social. Tendo contato desde
a infância com objetos tecnológicos, os meninos desenvolveriam as
habilidades de base para a aprendizagem científica.
O “modelo” de educação de mulheres e homens também tem
influenciado a distribuição dos/as alunos/as numa escola de ensino
tecnológico. A educação feminina ao desenvolver características como
paciência, sensibilidade, capricho, delicadeza contribui para aproximar as
mulheres do curso de Desenho Industrial, no entanto, pode ser o que as têm
afastado do curso de Mecânica:
a idéia que a gente tem de Desenho Industrial é que é uma coisa coisa
que tem que ser feita com calma, paciência e capricho. Geralmente os
meninos não tem muita paciência de fazer as coisas delicadas, [...] o
menino tem que ser mais relaxadão e aquele que é mais ajeitadinho
acaba sendo isso ou aquilo (Marta - Desenho Industrial).
Bom, eu acho que para o curso de mecânica, você não pode ter nojo,
você não pode ser uma pessoa sensível, não pode ter medo de estragar
a unha, digamos assim (Joaquim - Mecânica).
A área de Desenho Industrial foi associada à beleza, delicadeza,
sensibilidade e criatividade, ou seja, ao feminino. Por outro lado, Mecânica foi
associada à força física e a ambiente mais grosseiro, não adequado às
mulheres: “tem muita poeira e muita sujeira” (Silviano - Mecânica), e a trabalho
“pesado”: “você faz força para trabalhar” (Silviano - Mecânica), relacionando
dessa forma ao masculino.
A tecnologia poderia contribuir no processo de aproximação das
mulheres na área de mecânica, pois pode reduzir o uso da força física em suas
atividades. Neste sentido Bernadete (Mecânica) comentou que “com o controle
numérico computadorizado, são tornos e frezadores que você faz um código,
um programa e ele executa o trabalho, você não faz esforço, talvez para por a
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peça bruta lá. [...] Com o CNC (controle numérico computadorizado) não sei
qual seria a diferença trabalhar homem ou mulher”.
Se, por um lado, a inserção da tecnologia no ambiente de trabalho,
poderia ser o momento de eliminar a discriminação com o trabalho da mulher e
superar a divisão sexual do trabalho, por outro, a tecnologia e a forma como
ela é utilizada são resultados de opções humanas e essas opções podem não
ser no sentido de facilitar o acesso da mulher em algumas áreas:
Muitas qualificações de ofício masculinas têm se tornado bastante
redundantes
devido
à
nova
tecnologia
que
tem
transformado
radicalmente a natureza do trabalho. Mas a tecnologia não é uma força
independente; a maneira pela qual ela afeta a natureza do trabalho é
condicionada pelas relações existentes. Há conflitos e negociações
quanto à mudança tecnológica e as oportunidades para mudar a divisão
sexual do trabalho em benefício da mulher são freqüentemente
impedidas pelo poder do homem (WAJCMAN, 1998, p.220).
O domínio masculino da tecnologia certamente beneficia o homem, pois
o mercado de trabalho valoriza sobremaneira as carreiras tecnológicas, e
conseqüentemente o trabalho “masculino” que se utiliza desse domínio.
Garantir espaços de trabalho num mundo onde cada vez mais diminui a oferta
de empregos pode ser uma razão pela qual as mulheres não são incentivadas
a ingressar nesse mundo tecnológico.
Mercado de trabalho - lugar só para competentes?
Com a reestruturação produtiva e o desemprego estrutural surgem
novas exigências para a ocupação de um posto de trabalho. Novas
competências são requisitadas para o ingresso no mercado formal de trabalho
exatamente num momento em que não há postos de trabalho para todos, fato
que facilita a aceitação na sociedade do discurso da necessidade de ser
competente para se conseguir um emprego.
Essa necessidade se faz presente tanto nas falas femininas quanto nas
masculinas. Para Cintia (Desenho Industrial): “no mercado de trabalho, acho
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que não tem discriminação nenhuma. Acho que se a pessoa é competente no
que faz, não tem diferença”. Porém, algumas falas contradizem essa
argumentação apresentando um outro elemento que pode interferir na relação
desses/as alunos/as com o mercado de trabalho: a discriminação do trabalho
da mulher. Silas (Desenho Industrial) ao comentar que “a principal dificuldade é
arrumar emprego” acrescenta ainda que o fato de ser mulher poderá dificultar
ainda mais a busca de um emprego:
Eu acho que as mulheres teriam mais dificuldade, mesmo a gente
fazendo Desenho, um curso que tem mais mulheres. Acho que até a
discriminação é por outro lado. Às vezes pode ser porque o nosso curso,
vários estágios se lida com o computador. E acho que na teoria, os que
idealizam, os que vão dar a vaga, acham que os meninos devem
aprender, gostar de vídeo-game, deve ter mais facilidade. Eu acho que é
basicamente por causa do computador, porque raramente os empregos
pedem desenho à mão livre.
Os/as alunos/as percebem a existência da discriminação do trabalho da
mulher. O que se confirma com o relato de que “a mulher tem que mostrar que
ela é tão boa quanto o homem, já que é essa idéia. Talvez por cobrarem mais
da gente, daí a gente tem que mostrar, tem que se especializar, tem que
enfrentar de cabeça erguida e partir para a frente, não pode ter medo não. Daí
o sucesso profissional até pode vir (Lourdes - Desenho Industrial).
Outro argumento interessante foi o de que “na empresa para você se
sair melhor que uma outra pessoa, acho que é esforço mesmo, não teria
diferença ser homem ou mulher” (Bernadete - mecânica).
Essa palavra - esforço - apareceu algumas vezes nas falas das
entrevistadas, mas sempre relacionada ao sexo feminino. Uma pessoa
esforçada, em geral de inteligência curta, mas que se empenha vivamente para
bem realizar suas tarefas (FERREIRA, 1995, p. 265), não precisaria então ser
competente no mercado de trabalho? Parece que esse esforço, essa
dedicação exacerbada viria somente contribuir para melhorar a opinião das
pessoas sobre o desempenho feminino no trabalho onde “a mulher tem que
fazer em dobro para conseguir a mesma coisa que o homem” (Ana- Mecânica).
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O esforço seria um elemento a mais necessário às mulheres no mercado de
trabalho, o qual complementaria a competência necessária a todos.
Essa competência, segundo os/as entrevistados/as se associa ao fato
de estar atualizado, buscar constantemente novos aprendizados e fazer muitos
cursos:
Uma empresa, para você ter chance de entrar, você precisa ter um bom
currículo, não é qualquer um que entra. Precisa ter muitos cursos, tem
que estar buscando atualização numa área e a oferta e o número de
vagas não é muito, tem que ir atrás, deixar currículo em várias
empresas. Tem que ter muitos cursos de informática, cursos na área de
mecânica, ter uma boa formação de técnico, notas boas, eles também
avaliam esse lado e uma língua estrangeira no mínimo que eles exigem
(Rosa - Mecânica).
A competência que “relaciona-se com a capacidade de mobilizar
conhecimentos/saberes junto aos postos de trabalho, os quais são adquiridos
através da formação, da qualificação e da experiência social” (DESAULNIRES,
1997, p.54) tem sido, de fato, exigida no mercado de trabalho. BRYAN (1996,
p. 44) apresenta algumas dessas competências apontadas por vários analistas
como relevantes no mercado de trabalho: a) iniciativa e autonomia; b)
cooperação - interação construtiva com outros trabalhadores visando atingir o
mesmo objetivo; c) trabalhar em grupo - capacidade de interagir no seio de
grupos de trabalho; d) formação mútua - disposição para aprender de seus
pares e de ensiná-los continuamente; e) avaliação do produto do trabalho
durante o processo produtivo; f) comunicação - boa utilização da comunicação
oral, escrita, cinética e gráfica; g) capacidade de abstração a partir dos dados
da realidade; h) prontidão para tomada de decisão; i) disposição ao
multiculturalismo; j) competência para obter informações; l) domínio de
técnicas e disposição para planejar.
Um/a novo/a trabalhador/a está sendo procurado/a pelas empresas.
KUENZER (1999, p.96) o/a apresenta:
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O novo discurso refere-se a um trabalhador de novo tipo, para todos os
setores da economia, com capacidades intelectuais que lhe permitam
adaptar-se à produção flexível. Dentre elas, algumas merecem
destaque: a capacidade de comunicar-se adequadamente, através do
domínio dos códigos e linguagens incorporando, além da língua
portuguesa, a língua estrangeira e as novas formas trazidas pela
semiótica; a autonomia intelectual, para resolver problemas práticos
utilizando os conhecimentos científicos, buscando aperfeiçoar-se
continuamente; a autonomia moral, através da capacidade de enfrentar
as novas situações que exigem posicionamento ético; finalmente, a
capacidade de comprometer-se com o trabalho, entendido em sua forma
mais ampla de construção do homem e da sociedade, através da
responsabilidade, da crítica, da criatividade.
Esse discurso sobre o “novo” trabalhador foi percebido no contexto
escolar no CEFET-PR, através da fala de Joaquim (Desenho Industrial) que
relata sobre a importância da comunicação para a obtenção de um emprego:
... a competitividade é grande mesmo e acho que o cara tem que ser
bom, se o cara for bom na entrevista, o cara da empresa que entrevistou
já vai saber com quem está lidando, se o cara é bom, se ele se formou e
sabe o que está fazendo, ele vai ter muitas chances [...] Não adianta de
repente o cara saber bastante coisa, mas chega na entrevista, o cara é
uma pessoa fechada que não sabe falar direito, às vezes, a pessoa já é
excluída (Joaquim - Mecânica)
O mercado de trabalho, considerado pelos/as entrevistados/as como
sendo extremamente competitivo e com número muito pequeno de vagas, faz
com
que
esses/as
alunos/as
-
futuros/as
trabalhadores/as
busquem
constantemente o aperfeiçoamento pessoal, na tentativa de garantir um posto
de trabalho, como ainda apresenta Joaquim (mecânica): “A galera de
mecânica procura sempre estar atualizado, que todo mundo sabe que o
mercado é competitivo e quem fica para trás vai levar a pior, então a galera
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está sempre ali, um faz Autocad, outro pensa: Ah! tenho que fazer também, vai
atrás. O pessoal está sempre correndo”.
Esse relato de Joaquim é significativo, pois mostra a percepção de uma
realidade difícil na qual nem todos terão oportunidades. SHIROMA (1999, p.
59) ao referir-se ao mercado de trabalho também alerta para esse problema:
“Um neodarwinismo se instala para lembrar a todos que na “selva” do mercado
de trabalho sobreviverão apenas os mais aptos, mais qualificados, mais
educados, mais competentes”.
As pessoas entrevistadas demonstraram que têm conhecimento das
inúmeras dificuldades que enfrentarão nesse mercado de trabalho. Diante de
tudo isso, que expectativas de futuro profissional apresentam esses/as jovens?
Mercado de trabalho – o que se espera dele?
Atualmente terminar um curso técnico profissionalizante, nível médio,
apesar de ser considerada como uma etapa importante na formação desses/as
alunos/as, diante da realidade do mundo do trabalho por eles/as percebido,
esse fato constitui apenas uma etapa que não é a final. Cintia (Desenho
Industrial) comenta sobre essa demanda de continuidade nos estudos:
enquanto técnica, não espero muita coisa. Eu acho que o que vai ajudar
mesmo é a faculdade. [...] Só o técnico, hoje não dá não, o mercado tá
muito competitivo [...] Acho que só o técnico não é suficiente, mesmo
pela aceitação no mercado de trabalho, eles pensam que um técnico
não faz um serviço tão bem quanto uma pessoa que é formada.
A necessidade de prosseguir os estudos fazendo um curso superior foi
compartilhada por todas as pessoas entrevistadas, pois “essa coisa de que eu
tenho segundo grau técnico é suficiente, não dá. Tem que continuar” (Patrine Desenho Industrial). Essa idéia de Patrine foi reforçada ainda mais no
momento em que ela buscou um emprego: “no começo eu achava que só com
o que a gente aprendesse aqui iria achar alguma coisa, mas desde o sexto
período você começa ir atrás e não acha nada. [...] Está terrível. As vagas que
aparecem eles exigem além do que é dado aqui no CEFET”. Ela também
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acredita que o fato de ser mulher pode diminuir as expectativas de um futuro
profissional promissor: “eu acho que para a mulher ainda é mais difícil de
conseguir o sucesso profissional. Você pega uma revista feminina, ali tem o
nome de uma mulher que faz sucesso - ela abriu a empresa, ela fez aquilo.
Não que ela tenha chegado na empresa, se especializou e deram o cargo para
ela e ela fez sucesso”.
Sobre o futuro profissional, prevalece entre os alunos uma visão um
pouco pessimista. Contrariando os próprios discursos da necessidade de
formação constante, do aperfeiçoamento profissional e da competência para o
sucesso profissional, algumas pessoas entrevistadas atribuem o fato de hoje
se conseguir um bom emprego ao fator sorte ou influência pois, “sorte eu acho
que é importante em tudo” (Amadeu - Desenho Industrial) e “vai depender
muito da sorte, de alguma influência, de repente algum parente que trabalhe
lá” (Joaquim - Desenho Industrial).
Poucas pessoas se apresentaram otimistas em relação ao seu futuro
profissional enquanto técnico/a de nível médio. Uma delas foi Catarina
(Desenho Industrial) que disse:
As minhas expectativas são boas, porque você não precisa ter emprego,
você pode ter emprego, você pode trabalhar com o que você aprendeu
aqui, mesmo sem ter emprego fixo, você pode fazer ele. Porque você é
a mão de obra, não precisa ninguém dando emprego para você, se você
quiser, você vai e você consegue. O meu sonho é montar um estúdio.
Montar a própria empresa é uma opção que agrada algumas pessoas,
em especial algumas mulheres que com isso acreditam ser mais fácil
conquistar o sucesso profissional: “na minha área muitos chefes são mulheres,
por causa da micro empresa. Ela acaba abrindo uma empresa, abre um
escritório de decoração entre amigas” (Regina - Desenho Industrial).
A partir dessa análise inicial, constatou-se que as expectativas
desses/as alunos/as em relação ao seu futuro profissional centra-se na
possibilidade de receber uma chance para “mostrarem o que sabem” e através
da competência (obtida também através da continuidade nos estudos) possam
ter reconhecimento profissional ou, conseguir um emprego que contribua
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financeiramente na continuidade de seus estudos pois, seu futuro profissional
está no curso superior e não no curso técnico.
Percebe-se também que as mulheres procuram negar que as
conseqüências da discriminação do trabalho feminino - fato que elas admitem
existir - possam afetá-las diretamente, pois acreditam que a competência
individual é um fator muito mais forte que o preconceito.
Para garantir um futuro melhor, os/as alunos/as apostam numa melhor
formação. Alguns/mas já estão fazendo curso superior paralelamente ao curso
técnico e os/as demais pretendem ingressar no ensino superior. Além de
estarem fazendo, constantemente, cursos tanto para se especializarem quanto
para se manterem atualizados.
Considerações Finais
Os resultados iniciais dessa investigação sugerem que ainda existe uma
resistência à presença da mulher no curso de Mecânica, defendido ainda como
mais adequado aos homens. No entanto, os meninos que buscam o curso de
Desenho Industrial têm uma melhor receptividade no curso, chegando inclusive
a ter um alto status entre os/as alunos/as e, na opinião de vários/as deles/as,
com melhores perspectivas de futuro profissional na área que suas colegas
mulheres. Na opinião deles/as, o mercado de trabalho, ainda oferece maiores
dificuldades às mulheres que aos homens. Foi possível também constatar a
existência da discriminação da mulher no ambiente escolar e de trabalho,
mostrando que essa discriminação que tem sobrevivido na sociedade através
dos tempos e nas diversas culturas embora latente, ainda se faz presente.
Fato que sugere que talvez se tenha avançado pouco em relação à eliminação
das discriminações com o trabalho feminino na sociedade.
O discurso sobre as competências foi bastante “forte” nas entrevistas
efetivadas, embora uma análise mais cuidadosa dos dados obtidos na
investigação possa fornecer mais elementos, os quais não foram relatados
neste trabalho, como por exemplo, a questão da empregabilidade.
Mesmo que este trabalho constitua uma interpretação preliminar de
dados de uma pesquisa, pretendendo simplesmente apresentar resultados
parciais, a reflexão sobre esses primeiros resultados, sobre o posicionamento
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dos/as alunos/as em relação à presença de meninos e meninas nas áreas de
Desenho Industrial e Mecânica, pode ajudar a entender como a escola tem
tratado essa questão. Assim como a visão que eles/as têm sobre o mercado
de trabalho, sobre a necessidade de ser competitivo, de “não ficar para trás”,
também contribui para a compreensão de como a escola tem preparado
seus/suas alunos/as. A escola estaria formando somente para o mercado de
trabalho, para a competição e para o individualismo?
Estes primeiros resultados constituem apenas pistas para uma melhor
compreensão do que está ocorrendo no interior da escola pois, sobre isso,
sabe-se que apesar das inúmeras perguntas que existem, as respostas não
são únicas e nem sempre é fácil encontrar uma. Porém, a busca de uma
melhor compreensão da realidade escolar, certamente será útil na busca de
novos caminhos para a educação. Essa busca é arriscada mas, “ensinar exige
risco, aceitação do novo e rejeição de qualquer forma de discriminação”(Paulo
Freire, 1997).
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SHIROMA, Eneida Oto. Da competitividade para a empregabilidade: razões
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CADERNOS PAGU. Gênero, tecnologia e ciência. Núcleo de Estudos de
Gênero/UNICAMP, Campinas, 1998.
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