35 Interbio v.2 n.2 2008 - ISSN 1981-3775 PREVALÊNCIA DE RECÉM NASCIDOS PEQUENOS PARA A IDADE GESTACIONAL EM HOSPITAL PRIVADO CREDENCIADO AO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE DE DOURADOS – MS PREVALENCE OF SMALL NEWBORN FOR THE GESTACIONAL AGE IN PRIVATE HOSPITAL CONVENTIONED TO UNIQUE HEALTH SYSTEM OF A CITY NAMED DOURADOS – STATE OF MATO GROSSO DO SUL RIBEIRO, Joici Adriana Antoniazzo Batistão 1; FELICE, Thais Duarte2; SOUZA, Rosangela de3 Resumo O recém nascido pequeno para a idade gestacional (PIG) é todo aquele nascido cujo peso se encontra abaixo do percentil 10 para a sua idade gestacional, baseado na curva de crescimento intra-uterino de Bataglia e Lubhcenco. O peso e a idade gestacional ao nascer refletem a suficiência do desenvolvimento intra-uterino, facilitando prever as subseqüentes morbidades e mortalidades neonatais. Este estudo teve por objetivo verificar a prevalência de recém nascidos PIGs, os fatores maternos e as complicações neonatais presentes, e assim demonstrar a importância da intervenção fisioterapêutica no desenvolvimento sensório motor a curto e em longo prazo dessas crianças. Foi um estudo observacional transversal, retrospectivo, de levantamento de dados do Sistema de Prontuários de um hospital privado conveniado ao Sistema Único de Saúde (SUS) de Dourados – MS. Verificou-se a prevalência de PIGs, nascidos no período de Janeiro a Dezembro de 2005, com peso inferior a 2.500g e idade gestacional entre 37 e 42 semanas. A análise estatística foi realizada por meio de média, desvio-padrão, freqüências relativas e absolutas. O nascimento de PIG esteve presente em 56,57% das gestantes na faixa etária de 20 a 34 anos; 52,63% das mães eram multíparas e 42,01% da raça branca. Pode-se observar uma prevalência de 3,11% nascidos PIGs. Dentre as morbidades presentes foram encontradas crianças com presença de aspiração de mecônio e anóxia, fatores estes passiveis de complicações respiratórias e neurológicas. Palavras-Chave: Relações Materno-Fetal, Gravidez de Alto Risco, Desenvolvimento Infantil, Fisioterapia (Especialidade). Abstract The teeny for the gestational age are all those babies in which weight is found under the percentile 10 for its gestational age, based on a intra-uterine growing curve from Bataglia and Lubhcenco. The weight and gestational age at the birth time reflect the sufficiency from the intra-uterine development making it easy to foresee the subsequents morbidies and neonatal mortalities. The purpose of this was to verify the existence of Teeny for its Gestational Age (TGA) of new-borns, the maternal factors and the neonatal complications, beyond the importance of phisiotherapic intervention for accompaniment in the long run. This is a transversal observational study, retrospective, of datas researches rising from a System of Promptuary of a private hospital conventioned to Unique Health System (SUS) of a city named Dourados, in the state of Mato Grosso do Sul - MS. It has been verified the evidence of teeny new-borns for its gestational age, born between the period of January and December 2005 in the mentioned hospital, in which weight was below 2500 Kg and gestational age between 37 to 42 weeks. The statistic analysis has been done by the average pattern-deviation relative and absolute frequencies. The birth of TGA were related to 56,57% of pregnant women with an age variation from 20 to 34 years; 52,63% of these mothers were multiparous and 42,01% were white. It was also possible to observe a prevalence of 3,11% of TGA newly-born babies. Among the present morbidities were found children with presence of meconium and anoxia aspiration, and these factors may end up in passive of respiratory and neurological complications. Key-words: Maternal-Fetal Relations, High-Risk Pregnancy, Child Development, Physical Therapy (specific field). 1 Fisioterapeuta; Especialista em Metodologia do Ensino Superior; Profa. do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN, Dourados - MS. 2 Fisioterapeuta; Especialista em Fisioterapia Neurofuncional; Profa. do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN, Dourados - MS. E-mail: [email protected] 3 Fisioterapeuta Graduada pela UNIGRAN – Dourados - MS RIBEIRO, Joici Adriana Antoniazzo Batistão; FELICE, Thais Duarte; SOUZA, Rosangela de 36 Interbio v.2 n.2 2008 - ISSN 1981-3775 Introdução O mecanismo exato do crescimento fetal ainda não está totalmente definido, sendo dependente de uma série de fatores: genéticos, placentários, nutricionais, hormonais e outros. A gravidez pode ser comprometida por diversas condições que prejudicam ou exacerbam o crescimento fetal, elevando a incidência de complicações perinatais. Nesta, o crescimento intra-uterino retardado é a segunda principal causa de morbidade perinatal, superado apenas pela prematuridade (MARCONDES et al., 2003). A estimativa da idade gestacional é de fundamental importância no acompanhamento da gestação de baixo ou médio risco, como também, na identificação das gestações de alto risco nas quais a exacerbação de processos patológicos existentes ou alterações no crescimento e desenvolvimento fetal podem culminar com o aumento da morbimortalidade materno-fetal e neonatal (COSTA, 2003). O estudo do crescimento fetal é um importante fator para averiguar a idade gestacional. Para isso são utilizadas curvas de crescimento intra-uterinos, que são gráficos construídos a partir da distribuição de freqüência de determinadas variáveis antropométricas de amostras populacionais representadas por linhas denominadas linhas de crescimento. São utilizados os percentis 10 e 90 para formarem os limites inferiores e superiores de peso normal (RAGONESI; BERTINI; CAMANO, 1997). Para Bataglia e Lubhcenco apud Marcondes et al.(2003), o recém nascido pequeno para a idade gestacional é definido como aquele cujo peso de nascimento situa-se abaixo do percentil 10 para a sua idade gestacional, baseado na curva de crescimento intra-uterino. O recém nascido pequeno para a idade gestacional pode ser apenas geneticamente pequeno para a sua idade gestacional por fatores etiológicos maternos como a estatura, a multiparidade, a idade, pequenos intervalos interpartais ou por fatores fetais como o crescimento maior do sexo masculino que no feminino. Por outro lado, o recém nascido que poderia estar na curva de crescimento adequado pode ter sofrido um retardo de crescimento e o seu peso ter tido restrições devido a fatores como a carência nutricional materna, fatores actínicos (irradiações) ou anóxicos pela função placentária deficiente, infecções, e também por efeitos de drogas teratogênicas (MARCONDES et al., 2003). O sistema nervoso central da criança é um sistema em constante evolução e transformação. Desde a vida intra-uterina, ele se desenvolve e amadurece processando-se até a vida adulta. A evolução estático-motora do neonato até a idade adulta dependerá na maturação do sistema nervoso central, sendo determinada por padrões geneticamente estabelecidos e estímulos ambientais. A interação entre estes padrões é que determina o desenvolvimento neuropsicomotor normal (SEGRE, 2002). A importância clínica de se diagnosticar a criança pequena para a idade gestacional está no fato de que os recém nascidos estão significativamente mais sujeitos a condições mórbidas como anóxia perinatal, aspiração de mecônio e distúrbios metabólicos. Os recém nascidos pequenos para a idade gestacional caracterizam-se em crianças de alto risco que poderão vir a sofrer complicações respiratórias e neurológicas no período pré, peri ou pósnatal e que em decorrência de tais complicações podem apresentar déficits ou atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor (UMPHERED, 2004). A fisioterapia tem por objetivo minimizar as seqüelas do atraso neurosensório-motor através de abordagens fisioterapeuticas precoces que enfatizam a integração de padrões posturais normais, com medidas de estimulação sensório motora e o acompanhamento do desenvolvimento RIBEIRO, Joici Adriana Antoniazzo Batistão; FELICE, Thais Duarte; SOUZA, Rosangela de 37 Interbio v.2 n.2 2008 - ISSN 1981-3775 neuropsicomotor a longo prazo (FLEMING, 2000). O objetivo deste estudo foi analisar, através do levantamento de prontuários de um hospital privado conveniado ao Sistema Único de Saúde (SUS) da cidade de Dourados – MS, a prevalência de recém nascidos pequenos para a idade gestacional nascidos no período de Janeiro a Dezembro de 2005; verificar os fatores maternos e as complicações neonatais presentes ao nascimento do mesmo, além de evidenciar a importância da intervenção fisioterapeutica e o acompanhamento desta criança a curto e a longo prazo. Materiais e Métodos O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos - UNIGRAN (Centro Universitário da Grande Dourados) da cidade de Dourados – MS. Realizou-se um estudo observacional transversal, retrospectivo, de levantamento de dados do Sistema de Prontuários de um hospital privado conveniado ao Sistema Único de Saúde (SUS) de Dourados – MS. Foram incluídos na amostra todos os prontuários de crianças nascidas acima de 37 e até 42 semanas de gestação, ou seja, a termos, com peso inferior a 2.500g, nascidos no período de Janeiro a Dezembro de 2005 no referido hospital, e os respectivos prontuários maternos. Utilizou-se do livro de registro do paciente para análise dos nascimentos. Foram analisados os itens maternos e neonatais presentes. Nos itens maternos observou-se a idade materna, o número de gestações (normal / cesárea / aborto), problemas ocorridos durante a gestação, hábitos maternos (fumo, droga, etc), a raça, o número de consultas prénatais e tipo de parto atual. Na análise neonatal foi verificado o índice de Apgar, complicações neonatais, necessidade de reanimação, evolução, sexo, peso, comprimento, perímetro cefálico do recém nascido. Os dados absolutos e resultantes da pesquisa foram transformados em razões (freqüência relativa) e apresentados em tabelas e gráficos. Utilizaram-se também cálculos de média e desvio padrão. Resultados e Discussão Prevalência de recém nascidos PIGs Verificou-se através do livro de registro de pacientes o nascimento de 2.535 crianças. Destes foram analisados 76 prontuários de gestantes, sendo 3 gestações gemelares, totalizando 79 nascidos pequenos para a idade gestacional (PIGs). A prevalência de recém nascidos PIGs foi de 3,11%. As pesquisas sobre o nascimento de PIGs no Brasil demonstram taxas variáveis, sendo 4,3% em Santo André (SP) no ano de 1992 (ALMEIDA; JORGE, 1998) e 13,1% em Pelotas (RS) no ano de 1996 (ZAMBONATO et al., 2004) . Nas referidas pesquisas foram incluídos os recém nascidos pré-termos, a termos e pós-termos. No presente estudo, os resultados encontrados aproximam-se aos verificados na cidade de Santo André (SP), sendo inferiores aos de Pelotas (RS). Foram incluídos na amostra somente neonatos a termo com peso inferior a 2.500g. O recém nascido pequeno para a idade gestacional (RNPIG) pode estar em diferentes grupos de acordo com as variáveis: peso e idade gestacional. O baixo peso pode ser causado por curto período gestacional ou restrição de crescimento intra-uterino. A idade gestacional é um fator importante, uma vez que um RNPIG a termo pode diferir muito de um pré-termo, principalmente se a prematuridade for extrema. Neste caso as características da imaturidade seriam mais marcantes que as dependentes do crescimento intra-uterino (MARCONDES et al., 2003; SEGRE, 2002). A estimativa do peso e da idade gestacional, a curva intra-uterina adotada, a população estudada, bem como os fatores maternos como raça, idade e estatura devem ser levadas em conta, pois podem influenciar na pesquisa. RIBEIRO, Joici Adriana Antoniazzo Batistão; FELICE, Thais Duarte; SOUZA, Rosangela de 38 Interbio v.2 n.2 2008 - ISSN 1981-3775 Idade Materna Pode-se constatar que a média de idade materna em gestantes com idade inferior a 20 anos, de 20 a 34 anos e acima de 35 anos foram 16,3; 25,6 e 39,71 anos, respectivamente. As mães dos RNPIGs com idade entre 20 a 24 anos representaram 56,58% (Tabela 1). Tabela 1: Distribuição dos PIGs segundo a idade materna. Idade Materna n° % Menos de 20 anos 24 31,58 20 a 34 anos 43 56,58 35 anos e acima 09 11,84 Total 76 100 Há uma relação entre idade materna precoce e o nascimento de crianças pequenas para a idade gestacional (MARCONDES et al., 2003). Na gestação durante a adolescência, o organismo em crescimento da mãe compete por nutrientes com se feto, além de os fatores biológicos como a imaturidade do baixo peso, aumentam a chance do nascimento de PIGs (KASSAR et al., 2005; BAKKETEIG, 1998). Na idade avançada, lesões escleróticas nas artérias miometriais pode ser um dos fatores de risco para o nascimento do mesmo (ANDRADE et al., 2004). Como o presente estudo foi realizado em um hospital que oferece atendimento pelo SUS, considera-se, também, que as condições sócio-econômicas podem refletir a falta de um pré-natal adequado. O risco biológico pode não estar relacionado somente à idade. A precária assistência, o número de consultas, a qualidade do atendimento e a falta de informações sobre a importância do pré-natal são fatores importantes durante a gestação. Paridade Com relação à paridade, 43,37% e 52,63% das gestantes eram primíparas e multíparas, respectivamente. A paridade e o intervalo interpartal podem implicar no nascimento de crianças Média de Idade 16,30 ±2,16 25,60 ±4,01 39,71 ±3,81 27,20 ±3,32 pequenas para a idade gestacional. As primíparas têm normalmente crianças com média de peso ao nascer inferior às multíparas (MARCONDES et al., 2003). Na multiparidade, a freqüência dos ciclos reprodutivos sobre as reservas nutricionais maternas pode determinar uma maior depleção materna (FRANCESCHINI et al., 2003). A multiparidade foi um fator predominante no estudo. No entanto, somente as grandes multíparas, ou seja, mulheres que apresentam mais de 3 gestações, teriam maior tendência a intervalos interpartais mais curtos, representando 10,53% dos resultados. Patologia e hábitos maternos Dentre as patologias e hábitos maternos que sugere risco para o nascimento de PIGs, a hipertensão arterial representou 6,58%, o fumo 5,26% e o diabetes 1,31%, respectivamente. A gemelaridade representou 3,8%, correspondendo a 6 PIGs. Relacionado ao tabagismo, observa-se uma redução do fluxo uterino para placenta após o fumo de 1 cigarro. Este hábito, quando prolongado, produz lesões escleróticas nas pequenas artérias uterinas. Isso pode reduzir o fluxo sanguíneo para o feto (KENNER, 2001). Mães diabéticas, sem insuficiência placentária, têm fetos de peso grande para a idade gestacional. O grau de macrossomia está RIBEIRO, Joici Adriana Antoniazzo Batistão; FELICE, Thais Duarte; SOUZA, Rosangela de 39 Interbio v.2 n.2 2008 - ISSN 1981-3775 relacionado ao hiperinsulinismo fetal e a concentração sérica materna de hemoglobina glicosalada do terceiro trimestre (PACHI, 2003). O diabetes melitus de longa duração e a hipertensão arterial estão relacionados ao comprometimento vascular, ou seja, com a queda do fluxo útero-placentário, podendo causar possíveis disfunções do desenvolvimento fetal pelo déficit de nutrientes para o feto (MARCONDES et al., 2003; MORAIS, 2000). A gestação múltipla apresenta maior risco do recém nascido desenvolver restrição do crescimento intra-uterino até a 33ª semana. A unidade útero-placentária promove um ambiente suficiente para nutrir os fetos e a partir dessa idade gestacional ocorre um período de maturação, porém persiste com crescimento desproporcional entre os fetos (STAPE; TROSTER; DEUTSCH, 2005). A prevenção e a detecção prévia de patologias maternas, bem como a conscientização dos problemas causados pelo fumo durante o período gestacional são de extrema importância para o desenvolvimento saudável do feto e uma gestação sem risco. O correto preenchimento do cartão gestante torna possível a detecção dos possíveis fatores de risco para o nascimento de PIGs entre outros hábitos e patologias maternas. Raça nascimento de crianças negras com peso abaixo do percentil 10, podendo o mesmo ser atribuído ao menor potencial genético para o desenvolvimento. Leal, Gama e Cunha (2005) verificaram uma persistente situação desfavorável das mulheres negras em relação às pardas e destas em relação às brancas, quanto às condições sociais, hábitos e estilos de vida saudáveis e acesso aos serviços de saúde durante a gestação e o parto. Em Pelotas-RS, Barros, Victora e Horta (2001) analisando uma amostra de nascimentos de um estudo longitudinal, encontraram maior prevalência de indicadores desfavoráveis ao nascimento entre filhos de negros ou pardos em relação aos filhos de brancos. Já em nossa pesquisa, a raça predominante foi branca, num total de 42,01%. Vale ressaltar que miscigenação racial é um fator importante a ser considerado, pois o município de Dourados (MS) localiza-se próximo à divisa com o estado do Paraná e fronteira com o Paraguai. Desta forma, há presença, além de indígenas, sulistas e paulistas na região, bem como imigrantes japoneses (PASSOS; FERNANDES, 2007). Freqüência de consultas pré-natais A presente pesquisa pode observar que 47,37% das gestantes apresentavam o pré-natal incompleto (Tabela 2). Leal, Gama e Cunha (2006) e Cecatti et al (2000) relata uma maior predisposição ao Tabela 2: Distribuição segundo assistência pré-natal materna. Pré Natal n° Completo (mais de 6 consulta) 40 Incompleto (menos de 6 consultas) 36 Total 76 A Organização Mundial de Saúde recomenda no mínimo 6 consultas gestacionais com início no primeiro trimestre e relata a % 52,63 47,37 100 importância da freqüência pré-natal associada ao menor crescimento intra-uterino e menores RIBEIRO, Joici Adriana Antoniazzo Batistão; FELICE, Thais Duarte; SOUZA, Rosangela de 40 Interbio v.2 n.2 2008 - ISSN 1981-3775 taxas de morbimortalidade neonatal (BRASIL, 2000). Segundo Kesner e Kotelchuck apud Almeida e Barros (2005), o índice de adequação da utilização do cuidado pré-natal utiliza como parâmetros de 11 a 14 consultas pré-natais. Kilsztajn et al (2003) a partir da análise de dados coletados em relação ao pré-natal pode concluir que o aumento da assistência pré-natal pode permitir o diagnóstico e tratamento de inúmeras complicações durante a gestação e a redução de fatores de risco para o mesmo. Não há medidas terapêuticas que alterem as condições intra-uterinas e promovam o desenvolvimento fetal normal (SEGRE, 2002). No entanto, a identificação pré-natal na gestação de alto risco pode promover intervenções obstétricas levando a redução de morbidade fetal e neonatal. Tipo de parto Os resultados presentes mostram que o tipo de parto predominante foi o parto normal com 78,94% e os 21,06% restante parto cesário, sendo este resultado compatível com as políticas empregadas no sistema único de saúde (SUS) na assistência materno infantil, preconizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (CAMPOS; LANA, 2007). A via preferencial de parto depende do grau de comprometimento do feto, havendo indicação para 8% de todos os partos cesáreos quando ocorre sofrimento fetal. Os fetos PIGs podem apresentar hipóxia crônica durante as últimas semanas de gestação, não resistindo ao estresse que acompanha o parto normal. Muitas vezes este tipo de parto exige medidas de reanimação (KELNAR; HARVEY; SIMPSON, 2001). O parto normal requer um acompanhamento atento, pois o sofrimento intra-uterino crônico pode levar à eliminação de mecônio para o líquido amniótico e à aspiração intra-uterina de mecônio, o qual obstrui a luz dos bronquíolos terminais e dos alvéolos, levando à presença de complicações na hora do nascimento (BRADEN, 2000). Os nascidos pequenos para a idade gestacional podem apresentar complicações durante o trabalho de parto, podendo comprometer o seu desenvolvimento. O parto consiste de altas freqüências de complicações anóxicas, síndrome de aspiração de mecônio, hipotermia, policitemia e hipoglicemia. Na ausência de problemas hipóxicos ou metabólicos graves, o recém nascido pequeno para a idade gestacional tem um curso neonatal melhor que o recém nascido prétermo de peso compatível, devido à maturidade dos órgãos (MARCONDES et al., 2003). Complicações Neonatais Verificou-se que, dentre as complicações neonatais que sugere risco aos neonatos PIGs, 52,94% apresentaram circular de cordão umbilical e 23,53% aspiração de mecônio e anóxia, respectivamente (Tabela 3). Tabela 3: Complicações neonatais. Complicações Circular de Cordão Aspiração de mecônio Anóxia Total n° 09 04 04 15 % 52,94 23,53 23,53 100 Anomalias do cordão umbilical não costumam ser detectados antes do nascimento do feto devido à inserção no centro da placenta. A gemelaridade e fetos pequenos denotam maior prevalência desta ocorrência (BRADEN, 2000). Os neonatos pequenos para a idade gestacional que sofreram insuficiência placentária correm risco de anóxia durante o trabalho de parto e o parto à medida que o fluxo de oxigênio e de nutrientes diminui e as contrações uterinas reduzem a perfusão placentária. Do mesmo modo, o recém nascido RIBEIRO, Joici Adriana Antoniazzo Batistão; FELICE, Thais Duarte; SOUZA, Rosangela de 41 Interbio v.2 n.2 2008 - ISSN 1981-3775 pode aspirar mecônio que tenha entrado no saco placentário resultando em desconforto respiratório e asfixia grave (KENNER, 2001). A presença de mecônio no líquido amniótico ocorre em 10% a 15% de todos os nascimentos, enquanto que a síndrome da aspiração de mecônio (SAM) ocorre em, aproximadamente, 2% a 3%, sendo mais freqüente em RNPIGs, nascidos a termo ou pós-termo. Os recém nascidos com maior risco de desenvolver a forma grave – sintomática da SAM são os que apresentam, ao nascimento, menores índices de Apgar, mecônio na traquéia em quantidade maior ou igual a 1 ml ou superior a 2 ml na boca (STAPE; TROSTER; DEUTSCH, 2005; SEGRE, 2002). Necessidade de Reanimação A pesquisa pode constatar que 15 RNPIGs necessitaram de medidas de reanimação, representando 18,99%. Os primeiros minutos de vida de um recém nascido são críticos, caracterizados por períodos de transição abrupta do útero materno para o meio extra-uterino. Os RNPIGs necessitam de cuidados extremos. Realizar essa transição de forma bem sucedida é um grande desafio, pois o recém nascido tem uma probabilidade muito maior de necessitar de reanimação do que um paciente em qualquer outra faixa etária. A identificação prévia por meio dos dados da história materna, evolução do trabalho de parto e parto pode auxiliar na preparação para a reanimação dos mesmos (STAPE; TROSTER; DEUTSCH, 2005). A assistência ao RN exige permanente supervisão e preparo da equipe na abordagem de fatores de risco e reanimação do neonato. A avaliação consiste na detecção de distúrbios que ameaçam a vida. É importante estabelecer prioridades, corrigir distúrbios respiratórios e metabólicos em tempo hábil, garantindo a manutenção das funções vitais e prevenindo complicações futuras. Os riscos para asfixia perinatal incluem ausência de pré-natal, gestação múltipla e retardo de crescimento intra-uterino. Durante as medidas de reanimação, em caso de aspiração de mecônio, faz-se necessária a aspiração das vias aéreas e oferta de oxigênio a 100% durante todo o procedimento. A ventilação suave deve ser usada para proporcionar expansibilidade torácica adequada, minimizando efeitos adversos atingindo e mantendo o nível de oxigenação aceitável – saturação a 90%. A administração de drogas, bem como a ressuscitação cardiopulmonar, compreende o suporte básico. A avaliação neonatal inicial e as medidas de reanimação subseqüentes baseiam-se nas respirações, na freqüência cardíaca e na cor da pele, e não no Apgar de 1 min. A reanimação deve começar antes do 1° minuto, o que implica no risco de lesão cerebral e morte (STAPE; TROSTER; DEUTSCH, 2005; KELNAR; HARVEY; SIMPSON, 2001). Evolução do recém nascido Dos recém nascidos, 84,81% recebeu alta, sendo que 11,39% ficaram em observação e 3,8% foram para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) (Tabela 4). Tabela 4: Evolução do concepto. Evolução do concepto Alta Observação UTI Óbito Total n° 67 09 03 00 79 % 84,81 11,39 3,80 0 100 Observa-se que dentre as complicações hospitalares, a alta prevaleceu numa maior porcentagem, tornando os resultados favoráveis. No entanto, os índices de circular de cordão, aspiração de mecônio, anóxia e as necessidades de reanimação foram fatores fundamentais para que os neonatos permanecessem em observação e / ou fossem RIBEIRO, Joici Adriana Antoniazzo Batistão; FELICE, Thais Duarte; SOUZA, Rosangela de 42 Interbio v.2 n.2 2008 - ISSN 1981-3775 levados para a UTI. A presente pesquisa não encontrou óbito neonatal, no entanto não pode relatar se houve ou não a ocorrência de óbitos nos neonatos que ficaram em observação, pois se tornava necessário inicio de uma nova pesquisa uma vez que estas informações estão contidas em prontuário específico do recém nascido. Índice de Apgar O índice de Apgar no 5° minuto mostra que 96,2% nos RNs apresentaram uma boa pontuação, sendo que 3,8% ainda permaneceram deprimidos, o que confirma a necessidade de intervenção na UTI neonatal (Tabela 5). Tabela 5: Apgar no 5° minuto. Apgar Maior que 7 no 5° minuto Menor que 7 no 5° minuto Total n° 76 03 79 % 96,20 3,80 100 A avaliação imediata das condições cardiopulmonares e neurológicas do lactente realizado pelo pediatra, através do exame de freqüência cardíaca, esforço respiratório, tônus muscular, irritabilidade reflexa e coloração da pele do nascituro, ou seja, o índice de Apgar, serve para classificar o grau de hipóxia (diminuição de oxigênio) do recém nascido (SEGRE, 2002). Os recém nascidos pequenos para a idade gestacional apresentam baixas reservas calóricas, podendo apresentar, na sala de parto, problemas graves associados a baixos índices de Apgar (MORAIS, 2000). Sexo, peso, comprimento cefálico do recém nascido e perímetro Dos recém nascidos PIGs, 50,63% eram do sexo feminino e a média de peso, comprimento e perímetro cefálico foram 2.338g; 45,68cm e 31,98cm, respectivamente. O feto masculino cresce mais que o feminino especialmente após 32 – 34 semanas. O feto de termo é, em geral, 0,9cm mais longo, 150g mais pesado e possui perímetro cefálio maior. Fatores macrossomiais têm influencia sobre o peso do nascimento (MARCONDES et al., 2003). Em relação à média de peso, o sexo feminino foi mais pesado 20g e mais longo 0,55cm, sendo o perímetro cefálico masculino maior em 0,05cm. Conclusão A análise dos resultados pode evidenciar a prevalência de 3,11% de nascidos pequenos para a idade gestacional no hospital da cidade de Dourados – MS, constatando presença de níveis de morbidades neonatais, como aspiração de mecônio e anóxia, fatores estes passíveis de complicações respiratórias e neurológicas. Os resultados encontrados são significativos, uma vez que o feto PIG pode apresentar hipóxia transitória já nas últimas semanas de gestação. As complicações durante o trabalho de parto normal aumentam ainda mais os riscos de lesões no sistema nervoso central. A presente pesquisa encontrou patologias e hábitos maternos, como a hipertensão arterial e o fumo, que podem levar a restrição do crescimento intra-uterino pela diminuição do fluxo útero-placentário. Apesar de não haver medidas terapêuticas que alterem as condições intrauterinas e que promovam um desenvolvimento fetal normal, é importante enfatizar a necessidade de um pré-natal adequado. A identificação de gestantes de alto risco pode prever possíveis intervenções obstétricas e complicações durante o parto, além de que a orientação e conscientização materna podem minimizar os fatores de risco, reduzindo as complicações mórbidas. RIBEIRO, Joici Adriana Antoniazzo Batistão; FELICE, Thais Duarte; SOUZA, Rosangela de 43 Interbio v.2 n.2 2008 - ISSN 1981-3775 O pré-natal é de extrema importância para o acompanhamento das gestantes, no entanto, o mesmo não deve estar associado somente ao número de consultas pré-natais, mas na qualidade de atendimento às gestantes. Pôde-se observar um inadequado preenchimento do cartão gestante. A necessidade desta deve-se não só ao controle das consultas pré-natais, mas no fornecimento de dados relevantes ao atendimento materno, principalmente nas gestantes de risco, em qualquer rede hospitalar, além de possibilitar acesso às informações para fonte de pesquisa no âmbito da saúde. O nascimento de crianças a termo com peso adequado e sem qualquer complicação prevê o crescimento e desenvolvimento motor normal. Os resultados evidenciam que a inadequação de peso ao nascimento, quando relacionada à idade gestacional, foi fator essencial para necessidade de intercorrências perinatais e assistência neonatal intensiva, predispondo os RNPIGs a alterações em seu desenvolvimento neuromotor. Sugere-se a realização de um trabalho a fim de averiguar o desenvolvimento dessas crianças, visto que há predisposição das mesmas a comprometimento do sistema neuropsicomotor. Referências Bibliográficas ALMEIDA, M.F.; JORGE, M.H.P.M. 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