IBMEC SÃO PAULO Faculdade de Economia e Administração Luis Fernando Lucas Evolução do Capital Investido em Private Equity no Brasil e suas Implicações São Paulo 2008 1 Luis Fernando Lucas Evolução do Capital Investido em Private Equity no Brasil e suas Implicações Monografia apresentada ao curso de Ciências Econômicas, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel do Ibmec São Paulo. Orientador: Prof. Dr. Ricardo Humberto Rocha – Ibmec- SP São Paulo 2008 2 Lucas, Luis Fernando Evolução do Capital Investido em Private Equity e suas Implicações/ Luis Fernando Lucas. – São Paulo: Ibmec- São Paulo, 2008. 54 p. Monografia: Faculdade de Economia e Administração Ibmec- São Paulo. Orientador: Prof. Dr. Ricardo Humberto Rocha 1. Investimento 2. Private Equity 3. Mercado de Capitais. 3 Luis Fernando Lucas Evolução do Capital Investido em Private Equity e suas Implicações Monografia apresentada à Faculdade de Economia, do Ibmec- São Paulo como parte dos requisitos para conclusão do curso de graduação em Economia. Aprovado em Julho de 2008 EXAMINADORES ______________________________________________________________________ Prof. Dr. Ricardo Humberto Rocha Orientador ______________________________________________________________________ Prof. Dr. Paulo Beltrão Fraletti Examinador(a) Prof. Dr. Ricardo José de Almeida Examinador(a) 4 Dedicatória Aos meus amados pais, por terem acreditado que o investimento em educação seria o melhor legado. 5 Agradecimentos Ao Prof. Dr. Ricardo Humberto Rocha, amigo e orientador, pelo ensino teórico e prático da Economia Financeira e grande incentivador da pesquisa científica voltada para a expansão da fronteira do conhecimento. Aos demais professores do Departamento de Ciências Econômicas do IbmecSão Paulo, em especial ao Prof. Dr. Ricardo José de Almeida e Prof. Dr. Paulo Beltrão Fraletti. A todos os funcionários do Ibmec- São Paulo, especialmente aos do Serviço de Biblioteca. A todos os colegas do curso de Ciências Econômicas do Ibmec-São Paulo, especialmente ao Cássio Stuch. À minha família, em especial aos meus pais, irmãos e avô pela compreensão. À minha amada namorada Ana Paula Jordão, pelo amor, compreensão e paciência em todos os momentos. 6 Resumo LUCAS, Luis Fernando. Evolução do Capital Investido em Private Equity e suas Implicações. São Paulo, 2008. 54p. Monografia – Faculdade de Economia do IbmecSão Paulo. O sucesso presenciado pela indústria de Private Equity e Venture Capital (PE/VC) no fomento ao empreendedorismo e na dinamização do setor empresarial norte-americano estimulou diversos países como o Brasil a aportar capital para o referido mercado, com o intuito de auferir os retornos do setor. Algumas características foram consideradas importantes para o desenvolvimento do capital de risco no Brasil. Dentre elas encontra-se um ambiente institucional satisfatório, pois este tem como intuito proteger o capital do investidor, ou seja, com um ambiente institucional desenvolvido os agentes financeiros ficam mais dispostos a investir em setor que apresenta maior risco. Outro fator relevante são as variáveis macroeconômicas desenvolvidas. Como exemplo dessas tem-se o risco país, crédito disponível, inflação e PIB nacional. Essas são algumas das variáveis observadas pelos investidores no momento da decisão do investimento. Em se tratando do Brasil, este tem apresentado uma constante melhora nos aspectos anteriormente mencionados. Tal fato se comprova em 2007 quando o país apresentou uma taxa de crescimento do setor de capital de risco bastante significativa quando comparado com outros anos, período em que o setor macroeconômico brasileiro estava bastante instável. O objetivo do trabalho é estimar uma equação na qual seja possível relacionar as variáveis macroeconômicas do país com o investimento em PE/VC, considerando apenas as relações diretas entre elas. No entanto, a falta de dados históricos do mercado de capital de risco brasileiro é o principal fator para serem consideradas apenas as relações simples das variáveis. Palavras-chave: CAPITAL DE RISCO, MACROECONÔMICA E ESTIMAÇÃO. 7 Sumário Lista de Gráficos:______________________________________________________ 9 1. Introdução ________________________________________________________ 10 2. Instrumentos de Capitalização para as Empresas Brasileiras________________ 13 2.1 Emissão de Ações ______________________________________________________15 2.2 Emissão de Debêntures _________________________________________________16 2.3 Emissão de Bonds ______________________________________________________17 2.4 Estruturas de Securitização______________________________________________19 2.4.1 SPE ______________________________________________________________________ 20 2.4.2 FIDIC_____________________________________________________________________ 20 3. Barreiras de acesso aos investimentos de Risco ___________________________ 21 4. O que é um fundo de Private Equity ____________________________________ 23 4.1 Estratégia na Escolha do Investimento ____________________________________24 5. A Evolução do Private Equity no Mercado Internacional ___________________ 25 5.1 Principais Players Mundiais _____________________________________________28 5.2 Exemplos de Sucesso Mundial ___________________________________________30 6. A Evolução do Private Equity no Brasil _________________________________ 32 6.1 Principais Players Atuante no Mercado Nacional____________________________34 6.2 Exemplos de Sucesso no Cenário Nacional _________________________________37 6.3 Tendência do Private Equity no Brasil ____________________________________40 8. Considerações Finais________________________________________________ 49 9. Revisão Bibliográfica________________________________________________ 50 10. Referências Bibliográficas___________________________________________ 52 8 Lista de Gráficos: Gráfico 1: Eurobonds por moeda de denominação ___________________________19 Gráfico 2: Evolução do Capital Investido em Private Equity e Venture Capital no cenário Mundial _______________________________________________________27 Gráfico 3: Repartição dos Investimentos por Sector de Atividade (2006) __________28 Gráfico 4: Evolução do Índice IGPM (2002- 2007) ___________________________42 Gráfico 5: Evolução da Taxa Selic (2002- 2007) _____________________________43 Gráfico 6: Evolução das Médias Anuais da Taxa Ptax (2002-2007) ______________44 Gráfico 7: Evolução do Crédito Disponível no final de cada ano (2002- 2007) _____44 Gráfico 8: Evolução do PIB nacional, final de cada ano (2002- 2007) ____________45 Gráfico 9: Evolução das Transações em PE/VC (2002-2007) ___________________46 Gráfico 10: Evolução do Spread sobre o Global 40 (2002-2007) ________________46 9 1. Introdução Nos dez primeiros meses de 2007 o volume de I.P.O. totalizou US$ 25,4 bilhões, um salto de 300 % em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados da consultoria Thomson Financial. Um fato interessante que mais uma vez chamou a atenção é o número de empresas que participaram de um I.P.O. e receberam investimento de Private Equity ou Venture Capital (PE/VC). O volume capitado por essas empresas até julho de 2007 é da ordem de R$ 5.467 milhões (dados capturados na Gvcepe). Os dados sugerem uma indústria brasileira de PE/VC com experiência e tamanho suficientes para gerar impacto significativo no mercado acionário. Trata-se de um setor com pouco mais de 23 anos de idade. Private Equity ou Venture Capital (PE/VC) é uma atividade de intermediação financeira surgida nos EUA em 1946. As organizações que realizam esta atividade são responsáveis pela gestão de investimento que congregam recursos de um ou mais investidores para investimentos de longo-prazo. Em geral, tais recursos são direcionados para empresas não cotadas em bolsa de valores. Os recursos são feitos na forma de ações, quotas de participação, debêntures conversíveis, opções, bônus de subscrição ou warrants. Após um prazo médio de cinco anos, essas participações são liquidadas e os recursos são distribuídos entre os cotistas dos fundos que fizeram o investimento inicial e tem participação no empreendimento. A grande diferença entre PE/VC pode ser categorizada segundo o estágio de desenvolvimento da empresa. O termo Venture Capital (VC) é empregado como sinônimo de investimento em empresa que se encontra em fase anterior ao desenvolvimento, ou seja, empresas que estão em start-up (fase inicial). Em investimentos deste tipo, o gestor tende a investir mais tempo na fase de monitoramento e adição de valor para o negócio. Já o termo Private Equity é empregado como sinônimo do investimento em fase posterior do desenvolvimento, quando a empresa já está amadurecida. O mercado de PE/VC se apresenta como uma alternativa mais viável ao financiamento quando comparado com recursos obtido por meio de bancos. Mas esta modalidade de capitalização tem como conseqüência na grande maioria das vezes a inclusão de um administrador externo ao negócio.Gestores de PE/VC são agentes 10 melhores treinados para desenvolver a gestão das empresas com pouco histórico financeiro ou dificuldades operacionais. Os gestores de PE/VC costumam participar ativamente na gestão das empresas em que investem, influenciando nas decisões estratégicas e na própria governança corporativa (os níveis de influência foram previamente determinados no ato da entrada dos recursos oriundos de PE/VC).Esses investidores são considerados ativos conforme a definição cunhada por Jensen (1991) Em países onde a atividade de PE/VC existe há mais tempo, seu impacto na economia é muito significativo sob todos os aspectos. Nos EUA, onde a atividade é mais desenvolvida, a influência dessas organizações é marcante. Grande parte do total de empregos gerados é oriunda dessas organizações, o PIB é em grande parte influenciado pelo desenvolvimento das empresas em que receberam investimentos de PE/VC. Dados que foram apresentados em (GLOBAL INSIGHT, 2004). Quando comparadas às demais empresas, aquelas financiadas por PE/VC apresentavam o dobro da receita, pagam três vezes mais impostos, exportavam o dobro e investiam o triplo em pesquisa e desenvolvimento (P&D) em relação ao ativo total. (TAYLOR e al 2002). Neste contexto, a indústria de PE/VC oferece uma alternativa viável ao financiamento empresarial (BOTAZZI; DA RIN, 2002). O Brasil possui um ambiente institucional peculiar, onde a volatilidade de mercado, custo de oportunidade, grau de informalidade dos negócios, eficiência do poder judiciário, cultura empreendedora, tradição de governança corporativa, entre outros, diferem de países onde a indústria de PE/VC se originou e se desenvolveu. Em ambientes institucionais tão diferentes, podem surgir características peculiares no desenvolvimento deste mercado no Brasil quando comparado com outros países precursores do investimento de risco. Com o tempo, a indústria se molda ao ambiente, criando um novo modelo de PE/VC especifico. Este fenômeno é evidenciado por Leeds e Sunderland (2003) para a América Latina. 11 Objetivo O objetivo deste trabalho é descrever as mudanças ocorridas no mercado de capital de risco no Brasil, entendendo as principais variáveis que incidem na tomada de decisão do investidor e consequentemente do mercado. Após um entendimento prévio do mercado, o trabalho tem como um segundo objetivo a determinação de uma tendência para o setor nos próximos anos. Justificativa O Brasil vive hoje uma grande euforia a cerca do mercado de capitais que é visto como uma estratégia de saída para o investidor de Private Equity. Entender os mecanismos e as estruturas de incentivos do mercado de capital de risco, o investidor poderia fazer previsões em relação ao mercado de capitais e a macroeconomia do país de uma maneira mais adequada e com uma probabilidade de erro menor. 12 2. Instrumentos de Capitalização para as Empresas Brasileiras Genericamente existem dois tipos de fontes de financiamento que as empresas brasileiras podem dispor: internas e externas. Dentre os financiamentos internos encontra-se o autofinanciamento através da retenção dos lucros anteriormente obtidos, resultado da gestão mais eficiente dos ativos. Quanto aos financiamentos externo merecem destaque os financiamentos através do crédito de fornecedores, empréstimos bancários, linhas de crédito, leasing ou através de capitais próprios (aumento de capital, capital de risco e recurso ao mercado de capitais). O crédito consiste em uma dívida financeira contraída junto a um credor, normalmente um banco, durante um período de tempo pré-determinado. Quando contrai uma dívida, a empresa está não só obrigada à restituição do capital emprestado, como também ao pagamento de juros, fixados com base numa taxa que é aplicada ao valor do empréstimo. Os empréstimos bancários podem ser de curto prazo ou de longo prazo. A linha de crédito é uma forma de empréstimo bancário flexível, em que a instituição credora confere à empresa recursos para fomentar as suas necessidades de tesouraria. Essas situações são fruto de uma insuficiência temporária e muitas vezes previsível pelas tesourarias. Outra forma de financiamento, o leasing, na qual a empresa pode recorrer quando pretende adquirir um determinado bem, mas não quer dispor de uma grande quantidade de recursos para obter o mesmo. Num contrato leasing, o proprietário do equipamento (o locador), autoriza o utilizador (o locatário) a utilizar o equipamento em troca de pagamentos periódicos, que inclui capital e juros. Com o prazo de vigência do contrato definido, o locador pode adquirir o equipamento objeto do contrato, mediante o pagamento de um valor residual pré-estabelecido. Ao diferir os pagamentos, a empresa consegue garantir uma melhor liquidez. No entanto, tem a desvantagem de não ser proprietária do equipamento, tendo por isso que indenizar a locadora no caso de surgir algum acidente com o equipamento da sua responsabilidade. O financiamento por capital consiste na troca de recursos financeiros por uma parcela do capital de uma empresa. Existem duas maneiras de uma empresa receber este tipo de investimento: abertura de capital e investimento direto. A abertura de capital como forma de capitalização para empresas brasileiras é uma realidade presente no Brasil de hoje, visto que o volume financeiro negociado por 13 empresas que decidiram pela capitalização via oferta pública de ações é muito maior quando comparado com os anos anteriores. A empresa que optar por esta modalidade de investimento terá que incluir no custo de captação todos os custos decorrentes dessa modalidade de financiamento, fato que pode inviabilizar a operação em alguns casos. Quando o mercado se encontra mais avesso ao investimento de risco, a empresa pode não conseguir investidores que aceitem correr o nível de risco implícito pela companhia que esta abrindo o capital. Ainda em termos de financiamento de capital, temos o investimento direto. As sociedades ou fundos de capital de risco tomam participações normalmente majoritárias ou o suficiente para interferir na gestão do negócio e o tempo para realização dos investimentos circunda entre 3 a 7 anos. Trata-se de uma forma de financiamento em que o empreendedor não só assegura os fundos necessários, como garante um parceiro de capital que irá partilhar o risco com o empresário. Visto que o retorno do investidor de capital de risco é a saída do negócio, cabe ao empreendedor explicar como irá garantir uma saída em condições vantajosas. 14 2.1 Emissão de Ações As vantagens e desvantagens da abertura do capital (IPO) foram discutidas na literatura nacional por Rocca et al. (1998). Entre as principais vantagens estão o custo de capital mais baixo e o maior acesso a financiamentos, ou seja, menor custo de capitalização para realização de seus projetos de investimentos. Entre as desvantagens é em relação ao custo de se manter uma empresa com o capital aberto e os custos de emissão, tanto diretos quanto indiretos. No Brasil, Rocca (2001) descreve que as comissões para os bancos de investimentos que estruturam o processo de I.P.O. estariam entre 3% a 4% sobre o volume captado, no caso de uma emissão de maior porte. Para emissões menores este valor poderia chegar até 10%. O deságio inicial das emissões de ações, ou seja, a diferença percentual entre o preço de oferta e cotações posteriores no mercado secundário é elevada no Brasil. Este deságio, conhecido como underpricing na literatura internacional sobre emissões de ações. Leal (1998) analisou o deságio no Brasil para amostras iniciadas após o início de funcionamento da CVM em 1978 até 1992. O preço de fechamento no primeiro dia de negócios em bolsa é em média 74% maior do que o preço de oferta ou, segundo a mediana, 32% maior que o preço de oferta. Rocca et al. (1998) apresentou um levantamento dos custos para manter uma empresa com o capital aberto que indica que o custo médio é de US$ 435 mil e cujo principal gasto é a publicação de informações e a manutenção de uma área na empresa destinada ao relacionamento com os investidores, com custo médio de US$ 143 mil. 15 2.2 Emissão de Debêntures Debêntures são valores mobiliários representativos de dívida de médio e longo prazo. A captação no mercado de capitais pode ser feita por sociedades anônimas de capital fechado ou de capital aberto. Por outro lado, para efetuar emissões públicas de debêntures é necessário ter registro como companhia aberta na Comissão de Valores Mobiliários. Existem debêntures com diversas características, as quais se adeqüam às demandas dos investidores e as necessidade de financiamento das empresas. A emissora do título mobiliário pode determinar o fluxo de amortizações e as formas de remuneração dos títulos, o que permite que essas condições se adaptem ao fluxo de caixa da companhia. O emissor de uma debênture deve optar pela emissão de debênture subordinada ou conversível em ações. Em se tratando das subordinadas, quem investir neste segmento não terá qualquer garantia ou preferência no caso de falência da emissora. Considerando as conversíveis em ações, o investidor poderá converter a debênture em ações da própria empresa emissora. No entanto, a quantidade de ações adquiridas pelo investidor fica a critério do subscritor, com um juro fixo e outro variável, e com participação no lucro – calculada como se a debênture fosse uma ação. Um ponto relevante da debênture é o vencimento, o qual pode não ter data nem época determinada. Muitas empresas emitem estes títulos com prazo indeterminado, ou seja, sem prazo de vencimento especificado no prospecto. Outro ponto relevante de uma debênture refere-se à vantagem quanto à taxa de juro fixa baixa, ou uma taxa indexada a uma variável referenciada às operações da empresa. Um exemplo desta variável é o aumento do preço de um produto ou de uma participação nos lucros vinculada à sua rentabilidade. Com isso a companhia pode adequar a estrutura da debênture a sua estrutura financeira. Em relação ao investidor, há a possibilidade de ter uma remuneração de renda fixa com determinada rentabilidade. Isso gera ao investidor uma maior diversidade de ativos no mercado de renda fixa. 16 2.3 Emissão de Bonds Nos últimos anos, as operações de empréstimos bancários no mercado financeiro internacional perderam força, possibilitando a ascensão do financiamento por algum tipo de título negociável no mercado de capitais, como os bonds, títulos de dividas de longo prazo, Valle (2000). Os títulos de dividas de longo prazo, bonds, podem ser emitidos no mercado nacional ou no mercado internacional. Em se tratando do mercado estrangeiro, segundo Roberts (2000), o mercado de bonds é dividido em dois diferentes segmentos. O primeiro deles é o mercado de bonds estrangeiros e o segundo o mercado de Eurobonds. Os Bonds emitidos no mercado nacional, os Bonds Domésticos, são títulos de dívida emitidos em um determinado país e por uma instituição local. Esses títulos são negociados nas bolsas locais e por investidores locais, seguindo as regras legais e jurídicas de emissão e negociação do país em questão. Os bonds Estrangeiros (foreing bonds) são títulos de dívida de longo prazo emitidos no mercado de capitais de um único país estrangeiro (national bond market), ou seja, além das fronteiras do Brasil, e sob as jurisdições do país em questão. Em geral, as emissões são firmadas por bancos localizados no determinado país e os títulos são denominados na moeda local da emissão. Um exemplo do explicitado é uma empresa brasileira que emite títulos no mercado norte-americano. Esta empresa terá seus títulos negociados somente nas bolsas norte-americanas, entre investidores norte-americanos e terá que, obrigatoriamente, obedecer às regras de emissão do país. Além disso, a moeda de emissão será o dólar norte-americano. Segundo Clarke (2003), no Brasil os bonds (domestic bonds) seriam semelhantes às debêntures emitidas no mercado doméstico. Em se tratando dos Eurobonds, esses são títulos emitidos em diversos mercados e para investidores de vários países. Os Eurobonds são uma emissão internacional (offshores) no mercado de bonds internacional. Esses títulos são geralmente subscritos por um consorcio de bancos de investimento, negociados em diversos mercados simultaneamente e emitidos sem a jurisdição de um país específico. Com isso, os eurobonds são designados em uma moeda diferente daquela do país ou mercado em que são emitidos. Um eurobond é um contrato de dívida entre o emissor e o investidor. Nesse contrato, fica acordado a obrigação de o emissor pagar os juros e o principal em datas 17 previamente acordadas. Muitos eurobonds são títulos ao portador e os juros são pagos sem retenção de impostos. Uma importante característica dos Bonds, a qual merece ser mencionada, é a possibilidade de transferência (tradebility) do título de um investidor para outros investidores a qualquer momento, ou seja, a existência de um mercado líquido e organizado para negociar os títulos. Isso faz com que as operações com Bonds ganhem grande diferencial em relação às operações comuns de empréstimos bancários. É importante mencionar que a denominação “euro” não significa que necessariamente os títulos sejam emitidos ou negociados no mercado europeu. Esses títulos também podem ser negociados no mercado internacional, também chamados de “euromercado”. Historicamente sempre houve predominância da nomeação dos eurobonds em dólar-americano. No entanto, depois da criação da Comunidade Européia, a União Européia, e da unificação das moedas para uma única, o euro, cada vez mais as emissões dos títulos estão sendo feitas em euro. Isso pode ser comprovado pelo gráfico abaixo (Gráfico 1): Gráfico 1: Eurobonds por moeda de denominação 18 2.4 Estruturas de Securitização Segundo Gaggini (2003, p.19), a operação de securitização consiste em uma movimentação financeira, na qual a empresa que origina o crédito ao consumidor transfere o mesmo para uma empresa securitizadora de crédito que revende ao investidor em diversos formatos. Após a aquisição dos créditos via cessão dos direitos creditórios, a empresa emite um título lastreado nos fluxos futuros destes recebíveis que será ofertado publicamente no mercado de capitais. Com os recursos obtidos por meio da venda direta ao investidor, a securizadora de crédito pagará a emissora pelos créditos a ela cedidos. No Brasil, as primeiras operações de securitização foram realizadas na década de 1970, quando a empresa emitia um título pela mesma empresa emissora do crédito. Neste caso, não se tinha a figura da empresa que compra os recebíveis para posteriormente comercializá-los como lastro em outras operações. Nessa modalidade, conhecida como securitização parcial, a empresa emitia títulos no mercado de capitais com o penhor de algum recebível da mesma, ou seja, o investidor ainda estaria assumindo o risco de crédito da empresa emissora do título. Na década de 1990, surgiu o conceito da segregação de ativos originados, por meio de cessão de crédito. Com isso, originaram-se as empresas especializadas na estruturação dos ativos lastreados aos recebíeis que foram obtidos de alguma outra instituição. Outro fator relevante é que a securitização parcial, utilizada nas primeiras operações do setor, não utilizava a SPE- Sociedade de propósito específico como veículo de eliminação de risco de crédito da empresa emissora do título mobiliário, ou seja,o investidor que adquiria ativos advindos dos títulos emitidos por uma sociedade estava correndo o risco de crédito da mesma. No entanto, com a implementação da SPE o investidor conseguiu segregar este risco pois os fluxos são administrado pela SPE que não tem vínculos com a fonte pagadora dos recursos. 19 2.4.1 SPE A SPE, Sociedade de Propósito Específico, é o instrumento pelo qual, segundo legislação específica, deve-se concretizar uma parceria público-privada. Dessa forma, constituir a formação de uma nova pessoa jurídica, entre o ente privado e o Estado para a execução do seu propósito. A SPE tem por objetivo ser incumbida de implantar e gerir o objeto da parceria segundo lei 11.079/04: “Art. 9 2.4.2 FIDIC Os Fundos de Investimento em Direito Creditórios (FIDCs) foram autorizados a funcionar no Brasil pela resolução 2.907 do Banco Central do Brasil, de 29 de novembro de 2001. Esses fundos baseiam-se na securitização de créditos advindos de empréstimos, financiamentos, operações de arrendamento mercantil (leasing), entre outros. Segundo Almeida (2005), a securitização permite a distribuição de risco para um grande grupo de investidores e tomadores, uma vez que a operação não esta concentrada em um único agente financeiro ou um pequeno grupo financeiro, como no caso do empréstimo bancário. Além do efeito citado anteriormente, a securitização juntamente com a distribuição dos recebíveis via FIDIC permite a não intermediação financeira e o aumento do crédito disponível no mercado. Os direitos creditórios são definidos, pela legislação, como direito ao título representativo de créditos originados de operações realizadas em diversos setores da economia. Esses direitos ao crédito podem ser entendidos como cotas que um investidor detém do fundo de investimento. As cotas dos fundos de investimento podem ser divididas em duas classes: seniores e subordinadas. Entende-se como cota de classe sênior aquela que não se subordina as demais para fins de amortização e resgate. Já as cotas subordinadas são aquelas em que não existem preferências nas amortizações. 20 3. Barreiras de acesso aos investimentos de Risco No Brasil existem algumas barreiras que impedem ou pelo menos dificultam o desenvolvimento da atividade econômica e consequentemente aos investimentos. A dificuldade de acesso ao financiamento para os projetos de investimentos é uma realidade no Brasil hoje, conforme International Institute for management Development o elevado custo de captação diminui a atratividade do setor público e privado no momento de realizar os projetos com horizonte de longo-prazo. Outra dificuldade na obtenção de recursos é derivado da oferta de crédito no Brasil, o setor que disponibiliza os recursos aos empresários argumenta que as leis Brasileiras têm o interesse de proteger o tomador. O estado muitas vezes utiliza o setor jurídico como um repassador de verbas, ou seja, uma forma de realizar obras sociais em processos judiciais. Em contrapartida o setor demandante de crédito argumenta que os empréstimos apresentam altíssimos spreads, fato que inviabiliza algumas operações. A falta de garantias a cerca dos empréstimos concedido faz com que os credores contraiam a oferta de crédito estimulado pela incerteza do recebimento dos recursos, fato que compromete ainda mais a disponibilidade de recursos na economia nacional. A carga tributária elevada é outro fator que desestimula o setor produtivo, o governo brasileiro arrecada mais de 40% do PIB (IPEA 2007) com isso as empresas precisam aumentar a sua geração de caixa para sobreviver em um ambiente com elevada carga tributária. A complexidade dos tributos no Brasil é um outro fator que interfere nas operações da empresas, o dispêndio no pagamento e no entendimento dos tributos brasileiro é uma realidade que prejudica o processo produtivo e assim inviabiliza muitos projetos de investimentos. Outro ponto desfavorável para o investimento no Brasil é a infra-estrutura inadequada, um país com uma grande extensão geográfica é fundamental que assegure o fluxo de mercadoria. Apenas 5% das rodovias brasileiras são pavimentadas sendo que cerca de 70% delas apresentam problemas de conservação. Para as empresas que tem o comercio exterior como fonte de receita é fundamental que a infra-estrutura portuária seja adequada para escoar a produção, mas existem relatos de filas de até 120 quilômetros para embarque dos produtos na época da colheita da soja. Com o crescimento econômico, o custo de transação elevado pode ser um grande entrave ao desenvolvimento, pois o mesmo é fundamental na confecção da 21 produtividade das empresas nacionais. Companhias dependentes da malha portuária seriam menos competitiva no cenário mundial, pois teriam suas margens operacionais prejudicadas. Por fim, a instabilidade das políticas públicas é um grande gerador de desconfiança para os empreendedores brasileiros. Quando o governo decide implementar uma ação que incentive o investimento, os agentes econômicos têm expectativas incertas sobre o futuro e a permanência de uma lei que incentive o investimento. Um dos problemas da instabilidade política é que um setor que foi beneficiado por uma ação governamental hoje recebe um volume de investimento muito grande no início, mas logo após a troca das bases políticas este mesmo setor não tem a certeza da permanência do incentivo. Caso a política não seja mantida o setor inicialmente beneficiado pode perder todo o investimento feito no passado. 22 4. O que é um fundo de Private Equity Os fundos de Private Equity representam uma forma de financiamento para empresas que envolvem a aquisição de ações ou outros instrumentos com características semelhantes a essas (tais como debêntures conversíveis ou opções de compra de ações). As empresas adquiridas possuem alto potencial de crescimento, visando à revenda dessa participação a médio e longo prazo e a conseqüente realização de ganhos de capital. Apesar de os fundos de Private Equity obterem seus rendimentos através da valorização de ações de empresas, o fundo de PE/VC possui algumas características distintas de modalidades convencionais de investimento em ações. Os investidores dos fundos de Private Equity são agentes que buscam um retorno acima da média do mercado acionário. No entanto, para tal estão dispostos a correr um nível de risco maior e ter uma liquides menor quando comparado a outros investimentos do mercado de capitais. Outra característica dos fundos de PE/VC é o prazo médio de investimento, geralmente maiores que os dos fundos de ações tradicionais. Isto ocorre basicamente em função da natureza do investimento. Os fundos de Private Equity geralmente procuram altas taxas de retorno e, desta forma, adquirem participações em empresas com alto potencial de crescimento. Somente após a maturação dos investimentos, o fundo venderá sua participação. O período desde a aquisição de uma participação acionária até a realização do investimento raramente será inferior a três anos. 23 4.1 Estratégia na Escolha do Investimento Quando os fundos de PE/VC procuram por novas oportunidades de investimentos, os gestores buscam por rentabilidades que compense a falta de liquidez dos mesmos. Os fundos buscam oportunidades que proporcionem retornos acima da média. Os gestores dos fundos geralmente procuram identificar oportunidades em empresas de pequeno e médio porte, de capital fechado e com grande potencial de crescimento. A menor disponibilidade de informações operacionais e financeiras das empresas e o fato de que a maioria dos investidores tradicionais focarem suas atenções para empresas de grande porte possibilita a existência e identificação de oportunidades com retorno acima da média do mercado acionário. Outra estratégia dos gestores é a participação que o fundo terá na empresa. Os fundos de Private Equity geralmente investem somente em empresas nas quais a sua participação relativa lhes proporcione o direito de participar ativamente da administração da empresa. Desta forma, os fundos geralmente buscam a aquisição do controle ou de uma participação significativa, que lhes proporcione ao menos um assento no Conselho de Administração da empresa. 24 5. A Evolução do Private Equity no Mercado Internacional O capital de risco (PE/VC) nasceu nos Estados Unidos, logo após a segunda guerra mundial. A primeira sociedade de capital de risco surge assim, em 1946, devido à existência de uma quantidade de recursos disponíveis inativos, que com isso foram canalizados para fomentar investimentos produtivos. A idéia obteve sucesso e rapidamente outras sociedades lhe seguiram, e atualmente pode-se assistir ao grande desenvolvimento do capital de risco nos Estados Unidos. Esse se deve à existência de um mercado nacional abrangente, uma elevada procura de capital de risco e à existência de um mercado de capitais dinâmico, que se traduz num mercado financeiro adaptado às necessidades, e principalmente uma política governamental estimulante. A indústria de Private Equity e Venture Capital mundial atual está crescendo a um ritmo impressionante, transformando a estrutura deste mercado em um equilíbrio de poder no negócio global. Empresas de Private Equity têm grandes somas financeiras comprometidas e outras disponíveis para as suas novas operações alem das vastas quantidades de crédito de custo baixo, fruto do investimento feito por diversos agentes financeiros que buscam altos retornos dos seus investimentos mesmo com um risco implícito elevado dos mesmos. Outro fator aditivo para essas empresas é que como os custos de capitação são mais baixos, a indústria de PE/VC pode oferecer um preço mais alto pelas empresas alvo dos fundos mesmo comparando com o valor pago pelo mercado em uma possível abertura de capital. Após a compra de uma empresa pelo fundo de PE/VC, o mesmo não tem de se preocupar em gerar resultado no curto-prazo, pois a estratégia do fundo é gerar resultado em períodos de três a quatro anos, ou seja, o gestor terá mais incentivos em tomar decisões que gerem retorno sustentável. Os gestores podem passar alguns anos apenas melhorando os fundamentos das empresas adquiridas e após esse período podem vender esses ativos com um lucro maior. O investimento em capital de risco mundial atingiu o volume recorde de US $ 737,4 bilhões em 2006, mais do que duplicando o ano anterior recorde também de US $ 352,3 bilhões, segundo a pesquisa de mercado da Dealogic (2007). No primeiro semestre de 2007, havia US $ 631 bilhões comprometidos na indústria de capital de risco, 133% maior comparando com igual período de 2006. 25 Segue abaixo (Gráfico 2), o histograma com a evolução do capital investido em Private Equity e Venture Capital no cenário mundial: Gráfico 2: Evolução do Capital Investido em Private Equity e Venture Capital no cenário Mundial: Fonte: Thomson Financial Observando o gráfico acima se pode concluir que houve um crescimento de mais de 2000% da indústria de capital de risco mundial, Ribeiro (2005) afirma que o crescimento foi devido ao forte aspecto institucional, vasta oferta de crédito dentre outros fatores. O próximo gráfico (Gráfico 3) representa a repartição dos investimentos por sector de atividade em 2006. 26 Gráfico 3: Repartição dos Investimentos por Sector de Atividade (2006) Fonte: Thomson Financial A partir do gráfico pode-se observar que o setor de energia é o segundo setor mais investido perdendo apenas para o grupo outros. Fato que pode ser explicado pela exigência de grandes somas de recursos na fase inicial do projeto de investimento e a crescente demanda mundial por energia, visto que este é um insumo básico para o crescimento mundial. Outro setor bastante investido é o de serviços que foi responsável por 16% dos investimentos, indicando uma tendência mundial de terceirização de serviços. 27 5.1 Principais Players Mundiais Essa etapa da dissertação consiste em ranquear os principais players mundiais. Serão mencionados os quinze principais atuantes no mercado de Private Equity do ano de 2007, publicada pela revista BusinessWeek e realizada pelo grupo Private Equity Intelligence, um grupo de pesquisa baseado em Londres. Para mensurar a colocação foi considerado o valor de Private Equity acumulado gerido pela companhia. Na primeira posição está o Blackstone Group, com sede em Nova York. Essa empresa possui um total de ativos sob gestão de $49.4 bilhões e um fundo de leverage buyout de $20 bilhões, sendo o maior do mundo. Em segundo lugar encontra-se o Carlyle Group, com sede em Washington. Esse grupo possui um total de $39,8 bilhões de ativos sob gestão. O valor de seu fundo atual é de $7,9 bilhões. Na terceira posição encontra-se o Goldman Sachs Private Equity Group, com sede em Nova York. Seus ativos sob gestão correspondem a $39 bilhões. Atualmente seu leverage buyout é de $8,5 bilhões, sendo o sexto maior do mundo. Em quarto lugar encontra-se o Credit Suisse Customized Fund Investment Group, com sede em Nova York. Possui um montante de $34.1 bilhões de ativos sob gestão e um fundo no valor de $2 bilhões. Na quinta posição encontra-se Kohlberg Kravis Roberts, com sede em Nova York. Seu total de ativos sob gestão é de $32.9 bilhões. O valor de seu último fundo é de $14,8 bilhões, o qual pretende investir $700 milhões na Sun Microsystems. Na sexta posição encontra-se o Texas Pacific Group, localizado em Fort Worth. Seu total de ativos sob gestão é de $31,2 bilhões. O último valor do fundo da companhia foi de $15 bilhões. Em sétimo lugar encontra-se a Permira, com sede em Londres. O valor de seus ativos sob gestão é de $28.2 bilhões, num conjunto de dezoite fundos separados. Em oitavo lugar encontra-se o Warburg Pincus, com sede em Nova York. O total de ativos sob gestão é de $26,2 bilhões. Na nona colocação está a HarbourVest Partners, com sede em Boston. Seus ativos sob gestão são na ordem de $22,2 bilhões. Na décima colocação está a Apollo Management, com sede em Nova York.Seu total de ativos sob gestão é de $21,9 bilhões. Seu mais recente fundo tem o valor de $10,1 bilhões. Em décimo primeiro lugar encontra-se a Bain Capital Partners, com sede em Boston. O total de ativos sob controle da companhia é da ordem de $21,1 bilhões. Seu último leverage buyout foi de $33 bilhões para a companhia de Hospital HCA. 28 Na décima segunda colocação encontra-se o Oaktree Capital Management, com sede em Los Angeles. Seu total de ativos sob gestão é de 19,8 bilhões. Em décimo terceiro está a Apax Partners, com sede em Londres. Seu total de ativos sob gestão é de $19,2 bilhões. Na décima quarta posição está a CVC Capital Partners, com sede em Londres. Seu total de ativos sob gestão é de $18.1 bilhões. O último da classificação, em décimo quinto lugar, é o Lehman Brothers Holdings, com sede em Nova York. Seu total de ativos sob gestão é de $17 bilhões. Em setembro o grupo liderado pelo CEO Richard Fuld fechou o último fundo de Private Equity da companhia, até então, com um total de $1,6 bilhões, em dinheiro. Com a observação dos dados é possível concluir que a grande maioria dos players mundiais que se destacam, ou seja, que estão entre os maiores gestores de ativos, encontra-se nos Estados Unidos. Com um pouco mais de minuciosidade é possível concluir que uma parcela considerável deles encontra-se em Nova York, sendo esse o Estado que possui o maior número de players de Private Equity de sucesso. 29 5.2 Exemplos de Sucesso Mundial O fundo Blackstone, maior fundo do setor, obteve uma grande rentabilidade do seu investimento com a oferta pública inicial da Celanese. A empresa do setor químico foi ofertada publicamente em 2005. O lucro obtido com esse investimento foi cinco vezes maior que o valor investido em 2004. Este foi um exemplo atípico do setor, grande parte dos investimentos do setor tem prazo de maturação por volta de três a cinco anos, segundo Ribeiro (2005). O setor de Private Equity da Goldman obteve alta rentabilidade ao longo de 2007, com retorno sobre o capital investido foi de 64%. Um exemplo que corroborou com o sucesso do PE/VC do banco de investimento foi a aquisição da Alltel, empresa de telecomunicação americana, onde a Goldman co-liderou a compra da mesma por 27,9 bilhões de dólares. Em 2006, o banco liderou outra aquisição no mercado financeiro. Um consórcio com algumas empresas de PE/VC foi responsável por mais uma aquisição no mercado, com o intuito de aumentar a rentabilidade dos fundos de capital de risco, a empresa de energia Kinder Morgan foi adquirida em 2006 por 21,6 bilhões de dólares pelo conglomerado de fundos referido. Outro grande player mundial é o Fundo de Investimento Credit Suisse Group que tem o DLJ Merchant Banking como a área responsável pelos investimentos em PE/VC. No ano de 2006 o fundo conseguiu levantar junto ao mercado uma soma de 2 bilhões de dólares. Um grande investimento feito pelo grupo onde os investidores foram recompensados por uma rentabilidade acima do mercado foi na aquisição da CIVC partners por uma quantia não divulgada em 2005 e no ano subseqüente, o fundo vendeu para o grupo Wastequip Odyssey Investment Partners em 2006 por uma quantia também não divulgada. O fundo European Private Equity Permira comprou em 2006 a empresa de proteção de dados, Aereo Technologies, e a produtora de televisão, All3media. Os valores das negociação não foram revelados uma vez que esta é uma estratégia comum do setor, essas empresas preferem divulgar os dados das suas aquisições apenas quando os investimentos forem liquidados e assim usarem esses dados como forma de atrair novos investidores para os próximos fundos. 30 Em dezembro de 2006 a Permira vendeu sua companhia, Rodenstock Eyeglass de capital privado para a outra empresa de capital de risco. Neste caso o valor da negociação também não foi divulgado uma vez que o retorno do investimento feito nesta empresa não deve ter sido agradável para os investidores. Outra empresa do setor é a HarbourVest Partners, em janeiro de 2006 afirmou ter encerrado dois fundos de investimentos em capital privado. Seu fundo europeu levantou mais de dois bilhões de dólares e o seu fundo asiático levantou quase quinhentos milhões de dólares, ambos dos fundos ultrapassaram as expectativas. A empresa Oaktree Capital Management ganhou aprovação no ano passado para comprar 33% de participação no cassino Cannery Casino Resorts em Las Vegas, o valor da negociação não foi divulgado. Outro fato relevante da empresa é que o fundo de capital de risco esta analisando a possibilidade de vender a empresa Pegasus Aircraft leasing business, segundo a agencia de notícias Bloomberg News o negócio poderia chegar a 1,5 bilhões de dólares. 31 6. A Evolução do Private Equity no Brasil Os fundos de private equity e venture capital estão num momento muito promissor no País. A Comissão de Valores Mobiliários – CVM informa a criação de 28 fundos ao longo de 2006, que somam um patrimônio de R$ 8 bilhões. Por outro lado, as recentes aberturas de capital (2007) no Brasil contribuíram para o vigor atual dos private equity, que adotam esta como estratégia de para saída para os seus investimentos. Considerando apenas as ofertas sujeitas a registro na CVM, o ano de 2006 totalizou o dobro do verificado em 2005 ou três vezes mais do que em 2004. A participação dos private equity nas ofertas secundárias de ações, nas quais os fundos desempenham um papel de destaque, foi substancial em 2006. Do total de 30 ofertas secundárias registradas, os fundos tiveram participação em sete delas, contribuindo para o levantamento de R$ 4,138 bilhões. Há de se considerar nesse contexto, que o Ibovespa, índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), teve um desempenho muito melhor do que os índices Dow Jones e Nasdaq ao longo do último ano (2007). Esse cenário que reflete o desenvolvimento da economia, o ambiente externo favorável e a consistente queda do Risco - Brasil nos últimos quatro anos compõe um círculo virtuoso para a atuação dos fundos no País, onde o investido observa maior segurança dos investimentos. O panorama regulatório é outro fator a estimular o desenvolvimento do setor no Brasil. A regulamentação própria dos private equity no país ocorreu em 2003, com a Instrução Normativa nº. 391, da CVM. Outra mudança encorajadora de novos investimentos foi à aprovação, em 2005, da Lei nº. 11.101, também chamada de nova “Lei de Recuperação de Empresas e Falências”. A nova lei segue padrões modernizadores equivalentes aos capítulos 7 e 11 da legislação Americana, que tratam respectivamente da liquidação e da reorganização das empresas. A legislação concede mais poder aos credores e tende a impulsionar novos investimentos para as companhias em recuperação judicial, considerando a possibilidade de se evitar a herança de encargos contingências na aquisição de ativos de companhias que se encontra em reestruturação. Contudo, há muitos desafios a serem superados. Ainda faltam a algumas organizações a adoção de práticas de governança corporativa, a elaboração de um plano de negócios e o aprimoramento das suas demonstrações financeiras e dos seus relatórios gerenciais, ou seja, melhoria nos índices de governança corporativa. 32 Outro fator importante é que quase a totalidade dos próprios fundos de PE/VC brasileiros se queixam do cenário tributário do País e da América Latina, vendo nesse fator como inibidor de investimentos. Os custos relacionados à regulamentação do uso do meio ambiente são outros pontos problemáticos aos investimentos na região. 33 6.1 Principais Players Atuante no Mercado Nacional Dois grandes exemplos de empresa bem sucedidas no mercado de Private Equity no Brasil é o fundo Gávea e a GP investimentos. Ambos ganharam notoriedade no cenário nacional a partir dos seus gestores e sócios de qualidade impar e após aquisições feitas envolvendo empresas de diversos seguimentos e tamanhos. A empresa Gávea Investimentos é um fundo de investimento privado onde parte dos investimentos realizados pela companhia é sob a modalidade de private equity. A companhia foi fundada 2003 pelo Armínio Fraga e Luiz Fernando Figueiredo, amigos da época em que trabalharam juntos no Banco Central. Sediado no Rio de Janeiro a gávea é uma dos controladores da rede de comidas rápidas McDonalds no Brasil. O fundo de investimento em questão administra quatro bilhões de reais onde a exigência mínima de investimento é de quinhentos mil reais, essa exigência se faz necessário uma vez que o custo de relacionamento com os clientes do fundo aumentaria consideravelmente caso o investimento mínimo fosse menores dos atualmente exigidos. O investimento em capital de risco feito pelo fundo do Armínio Fraga é da ordem de 1,6 bilhões de reais, ou seja, 40% do total de investimento realizados pela companhia estão ligados ao private equity. Ao contrario de grandes empresas do setor o fundo Gávea não exige o controle da empresa para o qual esta adquirindo, aceitando ficar com participações menores. O último grande feito da Gávea investimentos foi a Associação da empresa ao colombiano Woods Staton, participando da compra dos 1,6 mil restaurantes McDonald’s no país, um negócio de US$ 700 milhões, deixando para trás concorrentes como UBS Pactual e GP. Antes disso, a Gávea já havia investido em portos, café, etanol e shoppings. Outro fato que comprova a qualidade dos fundos desenvolvidos pela Gávea Investimentos é o fato que rapidez que a empresa consegue capitalizar os seus fundos. Em fevereiro de 2008 o fundo Gávea II foi criado e já captou mais de US$ 1,1 bilhão de investidores de diversas regiões. Para realizar tantas operações, a Gávea conta com excelentes profissionais. Hoje, são 14 sócios e o mais graduado é Luiz Fraga oriundo da Latinvest e primo de Armínio Fraga, administra o fundo hedge funds da Gávea onde apresenta US$ 2,2 bilhões de ativos sob gestão. Além disso, a Gávea criou uma área de asset management, que 34 captou US$ 1 bilhão e foi confiado a Amaury Bier, ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda. Ao lado dele, atua um outro técnico da equipe de Pedro Malan. Outros grandes gestores da Gávea são os executivos Piero Minardi e Christopher Meyn. O primeiro que veio da Darby Overseas, participou da fusão Vale do Rosário/Santa Elisa. O segundo trouxe o negócio com a Multiterminais à Gávea. Outra empresa em questão é a GP investimentos, uma sociedade com sede nas Bermudas com a finalidade de consolidar certas atividades do Grupo GP, que é geralmente considerado o líder em private equity na América Latina. A companhia foi fundada em 1993, por grandes personalidades do mercado financeiro, Beto Sucupira, Marcel Telles, Jorge Paulo Lemann e Roberto Thompson. Em 2007 a companhia fechou o ano com patrimônio de R$ 1,17 bilhão em fundos. Desse total, R$ 900 milhões foram captados em apenas quatro meses. Somada a carteira de private equity onde administra R$ 3 bilhões. As atividades da Companhia compreendem seu negócio principal de private equity. Sua missão é gerar um retorno financeiro excepcional no longo prazo para os seus acionistas e investidores, atuando ativamente na gestão de companhias. O negócio de private equity da GP Investments é conduzido diretamente pelos fundos por ela administrados. A GP Investments busca adquirir por meio de negociações privadas o controle isolado ou compartilhado de algumas empresas local, diferentemente do fundo Gávea que não busca o controle da empresa alvo do seu fundo de capital de risco. A Companhia adquire participações em empresas por meio do GPCP3, um fundo de private equity administrado pela sua subsidiária integral GP3. A administração da Companhia é composta por profissionais experientes, dentre os quais os Srs. Antonio Carlos Augusto Ribeiro Bonchristiano, Fersen Lamas Lambranho, Carlos Medeiros, Octavio Pereira Lopes, Eduardo Alcalay e Márcio Tabatchnik Trigueiro, Danilo Gamboa (Sócios da GP), e Allan Hadid. Os Sócios da GP já integram o Grupo GP por um período combinado de 58 anos e contam com mais de 100 anos de experiência em private equity, operações de mercado de capital e finanças corporativas. Os Sócios da GP possuem uma filosofia de investimento disciplinada, um conjunto de habilidades e conhecimentos complementares e uma profunda compreensão do mercado brasileiro. Além de seu negócio principal de private equity, a GP Investments também conduz atividades de asset management, com foco no mercado brasileiro, por intermédio de sua subsidiária GP Asset. Esta é dirigida por Nelson Rozental, que possui mais de 30 anos de experiência em investimentos nos setores público e privado no 35 Brasil e que é sócio do Grupo GP desde 1999, e Marcus Martino, que está com o Grupo GP desde 1997. 36 6.2 Exemplos de Sucesso no Cenário Nacional A indústria de Private Equity no Brasil foi palco de diversos casos de sucessos, onde os investidores puderam obter uma rentabilidade acima do esperado. Com o sucesso dos primeiros investimentos feitos em capital de risco outros investidores começaram a olhar o mercado brasileiro e perceber o potencial existente neste mercado. Uma maneira de medir o sucesso de um empreendimento deste segmento é comparar o investimento feito inicialmente na empresa com o volume captado no momento da oferta pública inicial de ações. A América Latina Logística (ALL) foi um exemplo do sucesso desta indústria. A ALL, maior operadora logística com base ferroviária da América Latina, após receber investimentos de fundos de private equity de empresas como a GP Investimentos, CSFB, Electra, e GEF, a empresa pôde se expandir. Atualmente, são mais de 70 unidades de serviços localizadas nas principais cidades do Brasil, Argentina, Chile e Uruguai, além de centros de distribuição e 185 mil metros quadrados de áreas de armazenamento. A ALL administra uma malha férrea de 20.495 quilômetros de extensão, cobrindo o Sul de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, além da região central da Argentina. A Companhia cruza as fronteiras do Paraguai e Uruguai e serve o Chile por rodovia a partir da base logística intermodal de Mendoza, na Argentina. Seis dos mais importantes portos do Brasil e Argentina são atendidos pela ALL. A empresa fez a sua primeira oferta pública de ações em 25 de junho de 2004 e arrecadou R$ 588 milhões. Outro grande sucesso da indústria aconteceu na empresa Gol linhas Aéreas, considerada uma das empresas que obteve crescimento mais rápido do mundo, começou as suas atividades em 2001, e hoje oferece vôos a 49 cidades no Brasil, e a países como Argentina, Uruguai, Bolívia, e Paraguai. A empresa tem participação de 29% do mercado aéreo brasileiro e tem potencial para crescer ainda mais. Em 2005, a GOL obteve rendimentos líquidos de R$ 2.669 bilhões e lucros líquidos de R$513 milhões. O grande responsável pelo crescimento da empresa foi a entrada AIG Capital em abril de 2002 com aporte de vinte e seis milhões de dólares. Com os recursos, a GOL ampliou os seus serviços ao mercado internacional e instituiu a prática de boa governança. A empresa continuou a crescer rapidamente e, em junho 2004, ingressou na BOVESPA, arrecadando mais de US$280 milhões. A Natura, líder do setor de cosmético e produtos de higiene e perfumaria, 37 também foi alvo das empresas de Private Equity que tiveram o intuito de introduzir uma reestruturação na empresa e assim auferir os retornos desejados do setor. No fim da década de 80, a empresa promoveu uma ampla reorganização. Novas empresas, que entre 1979 e 1981 tinham agregaram ao grupo, fundiram-se em 1989. Em seguida, no início da década de 90, a Natura preparava-se para a abertura do mercado brasileiro às importações. A expansão prosseguiu aceleradamente e, em 1994, a Natura dava início à internacionalização, com presença na Argentina, no Chile e no Peru, países nos quais estabeleceu centros de distribuição e trabalhou na formação de Consultorias. Em 2005, a empresa teve o rendimento acima de R$ 3.2 bilhões e renda líquida de R$ 1.5 bilhões. A empresa tem recebido financiamento em private equity pelos investidores Janos Participações e BNDESPar. A empresa é bem conhecida em responsabilidade corporativa e transparência. Em maio de 2004, a empresa ingressou na BOVESPA, com o volume de R$ 768 milhões. Outras duas empresas brasileiras que são reconhecidas como exemplo de sucesso no Brasil e que servem de inspiração para outras sociedades são a Submarino e a Universo Online-UOL. O Submarino, empresa líder do setor de varejo eletrônico (considerando empresas que atuam apenas no varejo eletrônico), oferece mais de 700.000 itens, 20 categorias de produtos, mais de 950 fornecedores, além de oferecer serviços de comércio eletrônico terceirizado para algumas empresas líderes na área de bens de consumo, como a Natura, Nokia e Motorola. A empresa vem crescendo significativamente desde o início de suas operações, em 1999, quando recebeu investimento de fundos private equity das companhias GP Investimentos, Warburg Dillion, THLee, Santander, JPMorgan, e Flatiron. No exercício social encerrado em 31 de dezembro de 2004, a empresa registrou uma receita bruta de aproximadamente R$ 361 milhões, representando uma taxa de crescimento anual de aproximadamente 68%, durante os últimos três exercícios sociais encerrados em 31 de dezembro de 2004. O UOL é o principal portal de mídia on-line e empresa de Internet no Brasil com base em páginas vistas por mês, tempo de permanência on-line por mês e número de assinantes pagantes. A Companhia é pioneira no desenvolvimento da Internet no Brasil. Desde a sua fundação em 1996, o UOL tem sido bem sucedido na manutenção de sua liderança em audiência. Desde setembro de 1999, atua também como portal e provedor de acesso na Argentina. Segundo o IBOPE e a NetRatings, o UOL teve média 38 de 7,1 milhões de visitantes únicos domiciliares mensais no Brasil em 2004, número que lhe dá a primeira posição no ranking dos maiores portais de conteúdo do país. Em 1999, Morgan Stanley comprou a posição minoritária na empresa por US$100 milhões, obtendo 12.5% da companhia. Através desse financiamento, o UOL pôde realizar com sucesso o seu IPO, em dezembro de 2005, com um volume de R$ 555 milhões. 39 6.3 Tendência do Private Equity no Brasil Os dados utilizados para a estimação do número de transações em PE/VC são o IGP-M, Selic, Ptax, volume de crédito no setor privado, PIB nacional e Spread sobre o título público do governo brasileiro quando comparado com o título público americano. O índice IGP-M reflete a evolução dos preços captada pelo Índice de Preços por Atacado (IPA), Índice de Preços ao Consumidor (IPC-FGV) e Índice Nacional de Preços da Construção Civil (INCC). O intuito da utilização desta variável é mediar à sensibilidade do investido a cerca da volatilidade da moeda nacional. Segue abaixo gráfico (Gráfico 4) com a evolução da média do índice de cada ano desde 2002 até 2007: Gráfico 4: Evolução do Índice IGPM (2002- 2007) IGPM 30 25 20 15 10 5 0 2002 2003 2004 2005 2006 2007 A média do referido índice permaneceu em um nível alto em 2002, fato que foi colaborado pela instabilidade política vivida no Brasil nesse período. No ano subseqüente se observa uma quede bastante acentuada devido ao reflexo positivo da política econômica e a estabilidade política vivida durante o ano de 2003. Em 2007 o índice obteve média de 7,75, valor muito abaixo do observado em 2002 quando o índice estava em média com valor igual a 25,3. Outra variável utilizada foi média das taxas Selic observadas em cada ano. Segue abaixo (Gráfico 5) a evolução da taxa: Gráfico 5: Evolução da Taxa Selic (2002- 2007) 40 Selic 25 20 15 10 5 0 2002 2003 2004 2005 2006 2007 A evolução da média da taxa Selic observada desde 2002 foi uma tendência de queda para a taxa básica de juros da economia, mesmo considerando a alta que a taxa obteve em 2003. Considerando o período entre 2002 até 2007 a taxa de juros caiu aproximadamente 40%. O intuito da utilização da Ptax,, índice que mede as taxas negociadas do dólar em um determinado dia e divulgadas no dia seguinte às dezoito horas, é uma tentativa de capturar o valor real do investimento estrangeiro no mercado nacional (dado que grande parte dos investimentos é realizada sob a forma de moeda estrangeira). Segue abaixo (Gráfico 6) a evolução das médias anuais da taxa Ptax: Gráfico 6: Evolução das Médias Anuais da Taxa Ptax (2002-2007) Ptax 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 2002 2003 2004 2005 2006 2007 A evolução das médias das Ptax de cada ano indicou que a mesma esta em uma tendência de queda mesmo considerando o leve aumento obtido no ano de 2003. Esse 41 fato pode ser explicado pela queda de confiabilidade do investidor estrangeiro no Brasil neste período político. O volume de crédito disponível ao setor privado foi outra variável utilizada na estimação, com essa métrica tentou-se observar se a disponibilidade de crédito no cenário nacional é relevante na decisão de investimento em capital de risco no Brasil. Segue abaixo (Gráfico 7) evolução do crédito disponível no final de cada ano: Gráfico 7: Evolução do Crédito Disponível no final de cada ano (2002- 2007) Crédito 1.000.000,00 900.000,00 800.000,00 700.000,00 600.000,00 500.000,00 400.000,00 300.000,00 200.000,00 100.000,00 0,00 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Observou-se um aumento ininterrupto do crédito no Brasil. A evolução o capital disponível ao setor privado pode ser comparado a uma função exponencial. O Produto interno bruto nacional, PIB, foi uma variável utilizada na estimação, com o intuito de capturar o ambiente econômico nacional. Segue abaixo (Gráfico 8) a evolução do PIB nacional, considerando apenas o final de cada ano: Gráfico 8: Evolução do PIB nacional, final de cada ano (2002- 2007) 42 PIB 3.000.000,00 2.500.000,00 2.000.000,00 1.500.000,00 PIB 1.000.000,00 500.000,00 0,00 2002 2003 2004 2005 2006 2007 O PIB obteve uma tendência de crescimento de 2002 até 2007 de 73%. A variável explicativa do modelo é o número de transações no mercado de capital de risco, dados disponíveis a partir de 2002. A seguir, o gráfico (Gráfico 9) com evolução da variável em questão: Gráfico 9: Evolução das Transações em PE/VC (2002-2007) Transações em PE/VC 120 100 80 60 40 20 0 2002 2003 2004 2005 2006 2007 O mercado de PE/VC apresentou um crescimento linear no período de 2002 até 2004, mas a partir deste período o crescimento poderia ser comparado com a função exponencial. Fato que pode ser explicado pela melhora nos fundamentos da economia nacional. 43 A última variável analisada é o spread do título da dívida nacional (global 40) de quarenta anos em relação ao da dívida americana de mesmo prazo. A seguir, o gráfico (Gráfico 10) com evolução do spread sobre o Global 40: Gráfico 10: Evolução do Spread sobre o Global 40 (2002-2007) Spread sobre Global 40 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Segundo o gráfico acima se constatou que o spread do referido título apresentou uma queda vertiginosa, podendo ser comparada a um decréscimo exponencial. A seguir utilizaram-se as variáveis anteriormente citadas para estimar o número de transações no mercado de private equity e venture capital. Primeiramente estimou-se o número de transações em capital de risco tendo como variável dependente o crédito disponível ao setor privado (CREDITO), o IGP-M anual (IGPM), PIB nacional (PIB), média das Ptax durante o ano (PTAX), spread sobre o título global 40(RISCO) e a média das taxas Selic durante o ano (SELIC). Com as variáveis descritas estimou-se o modelo. O resultado obtido encontra-se abaixo: 44 Dependent Variable: PE Method: Least Squares Date: 05/01/08 Time: 20:20 Sample: 2002 2007 Included observations: 6 Variable Coefficient Std. Error t-Statistic Prob. CREDITO 0.000286 NA NA NA IGPM 6.901701 NA NA NA PIB -9.98E-05 NA NA NA PTAX -36.34273 NA NA NA RISCO -0.186496 NA NA NA SELIC 11.97532 NA NA NA R-squared 1.000000 Mean dependent var 38.50000 S.D. dependent var 40.86441 Sum squared resid 6.02E-24 Durbin-Watson stat 2.263589 O resultado obtido foi aquém do esperado uma vez que a limitação no número de observação comprometeu a estimação, fato que foi solucionado com a retirada de uma variável explicativa. A variável escolhida para ser retirada foi o crédito, pois a maior parte dos investimentos dessa natureza tem origem fora do país e com isso o capital para implementação do projeto não seria nacional. Com a retirada da variável descrita acima, estimou-se novamente o modelo. O resultado obtido segue abaixo: Dependent Variable: PE Method: Least Squares Date: 05/01/08 Time: 20:27 Sample: 2002 2007 Included observations: 6 Variable Coefficient Std. Error t-Statistic Prob. IGPM 16.64796 7.637812 2.179677 0.2738 PIB -1.96E-05 4.58E-05 -0.429040 0.7420 PTAX -133.1967 47.96355 -2.777041 0.2200 RISCO -0.394970 0.200852 -1.966472 0.2995 SELIC 27.85365 13.88403 2.006164 0.2944 R-squared 0.983021 Mean dependent var 38.50000 45 Adjusted R-squared 0.915103 S.D. dependent var 40.86441 S.E. of regression 11.90673 Akaike info criterion 7.666993 Sum squared resid 141.7703 Schwarz criterion 7.493459 Durbin-Watson stat 2.786171 Log likelihood -18.00098 O resultado mostra a presença de todas as variáveis com p-valor maior que 5% (nível de significância estipulado), o critério para escolha da eliminação das variáveis foi excluir primeiramente a que apresenta o maior p-valor, ou seja, a variável PIB (74,20 %). Após a retirada da variável mencionada estimou-se o modelo na ausência da mesma. O resultado encontra-se abaixo: Dependent Variable: PE Method: Least Squares Date: 05/01/08 Time: 20:29 Sample: 2002 2007 Included observations: 6 Variable Coefficient Std. Error t-Statistic Prob. IGPM 13.51210 1.705680 7.921822 0.0156 PTAX -117.4727 23.80688 -4.934399 0.0387 RISCO -0.310477 0.030368 -10.22372 0.0094 SELIC 22.22658 3.504956 6.341472 0.0240 R-squared 0.979895 Mean dependent var 38.50000 Adjusted R-squared 0.949738 S.D. dependent var 40.86441 S.E. of regression 9.161514 Akaike info criterion 7.502621 Sum squared resid 167.8667 Schwarz criterion 7.363794 Durbin-Watson stat 2.345802 Log likelihood -18.50786 O resultado obtido foi um modelo com as variáveis explicativas IGPM, PTAX, RISCO, SELIC. O p-valor de todas as variáveis é menor que o nível de significância escolhida de 5%. Com isso pode-se concluir que todas as variáveis são importantes para o modelo, desconsiderando o fato negativo que a presença de poucos dados pode gerar. Segue abaixo o modelo final obtido: PE=13,51210*IGPM - 117,4727*PTAX - 0,310477*RISCO + 22,22658*SELIC 46 O modelo final obtido indica que o efeito da inflação exerce uma ação positiva sobre o número de transação no mercado de capital de risco. Tal resultado mostra-se contra-intuitivo, pois se esperava que um índice IGPM maior resulta-se em um PE menor, ou seja, coeficiente negativo para esta variável. Quando a inflação em um determinado país é maior sem nenhum impacto sobre a taxa de rentabilidade do investimento realizado, espera-se que os investidores diminuam o número de transações neste seguimento. O coeficiente negativo para a PTAX era esperado, uma vez que a tendência de apreciação do câmbio faz com que os investidores estrangeiros tenham uma quantidade disponível de recursos maior em sua moeda local no momento da liquidação dos investimentos feitos e assim auferirem uma rentabilidade maior, ou seja, além da rentabilidade do investimento existe o ganho em relação ao câmbio. Em contrapartida, a PTAX pode-se ser entendida como uma medida de valor do investimento estrangeiro em moeda nacional no momento do aporte do capital. Com uma PTAX elevada o investidor teria uma maior quantidade de recursos para investimento no país alvo e assim ficaria mais motivado a realizar o investimento no país com maior índice PTAX, ou seja, neste caso o coeficiente esperado para a variável em questão seria positivo e não negativo como obtido. A medida de risco utilizada, o spread dos títulos públicos (Americanos e Brasileiros) indica que quanto menor o spread, maior o número de transações em PE/VC. Resultado intuitivo ao modelo econômico, pois quanto menor o risco nacional maior o influxo de investimento para o Brasil, o mesmo irá apresentar menor risco ao investidor. Por fim, o coeficiente para a taxa SELIC positivo indica que a taxa básica de juros da economia implica em um aumento positivo para o número de transações no setor de capital de risco. Este resultado não era esperado, pois uma análise econômica indicaria que a elevação da SELIC implicaria em uma queda do influxo de capital para o setor com maior risco. O aumento da rentabilidade do título público poderia fazer com que alguns investidores migrassem do investimento de risco para o investimento em títulos públicos e assim gerar um coeficiente negativo para a taxa SELIC em relação ao PE. 47 7. Resultados Esperados O resultado esperado é o aumento ainda mais significativo do capital comprometido com o investimento de alto risco. Com um ambiente institucional mais desenvolvido, ou seja, menor grau de informalidade dos negócios, maior eficiência do poder judiciário dentre outros fatores os investidores ficarão mais dispostos a realizar esses tipos de investimentos. Outro fator relevante para o desenvolvimento do setor é a queda da taxa de juros de longo prazo, este fato faz com que a taxa de retorno dos projetos atrelados a taxa de juros de longo prazo caiam e assim viabilize o investimento em PE/VC. O risco intrínseco de um projeto de PE/VC terá uma forte tendência de queda, investidores que não estavam dispostos a contrair a antiga quantidade de risco agora poderão realizar esse investimento e assim desenvolver o setor e conseqüentemente melhorar os níveis de emprego e PIB. O lado da demanda por esse tipo de investimento tende a aumentar, assim como no mercado de capitais os investimento de alto risco irão demandar mais recursos. Com a finalidade de não impactar nos fluxos de caixa as empresa irão aderir a esse tipo de financiamento em detrimento de outros junto a instituições de crédito. A melhoria no mercado de capitais no Brasil é um forte indício de que os investidores que aplicarem os seus recursos no país irão dispor do recurso acionário para reaver o capital investido. Com isso milhares de empresas de PE/VC irão eleger o Brasil como uma oportunidade de investimento e com um risco condizente com o retorno esperado. 48 8. Considerações Finais Este trabalho consiste na análise da tendência do private equity no Brasil, para tanto foi utilizado alguns dados macroeconômicos e microeconômicos com o intuito de desenvolver alguma relação de causa e conseqüência entre as variáveis selecionadas e o número de transações no setor de private equity. Após algumas estimações utilizando o programa Eviews 5.0, obtive uma função que relacionava as variáveis desejadas com outra que visava capturar o volume de investimento do setor de capital de risco. Algumas falhas do modelo em questão foram observadas pela dificuldade de encontrar dados sobre o setor de private equity no Brasil. Para um próximo trabalho pretende-se alterar os dados anuais para mensais com o intuito de aumentar a amostra de dados e assim tornar o modelo mais eficiente e consistente visando aumentar a intuição econômica no modelo de previsão de investimento em PE/VC. 49 9. Revisão Bibliográfica Segundo o Instituto Gvcepe (2007), órgão especializado no estudo do capital de risco no Brasil, o volume comprometido em Private Equity tem aumentado vertiginosamente. A busca por altas rentabilidades mesmo com a ponderação do risco ao retorno tem guiado as políticas de investimento de inúmeras instituições financeiras que vêem os países emergentes como oportunidades atrativas para comprometer o capital. Dados encontrados na Bovespa revelam que o volume de I.P.O. (oferta pública de ações) no Brasil tem crescido de forma acentuada nos últimos anos, este pode ser mais um indício do aquecimento vivido pela indústria de Private Equity. Do total das empresas que abriram o capital em 2007 mais de 30 % foram instituições que tinham como acionista os investidores em capital de risco, estes valores ressaltam o crescimento do setor quando comparado com os anos anteriores. Na tentativa de explicar o crescimento da indústria e fazer previsões a cerca do mesmo, Gompers e Lerner (1998), Jeng e Wells (2000), Romain e Van Pottelsberghe (2004) estudaram o impacto de variáveis como desenvolvimento do mercado financeiro, atividade empreendedora e inovação e o mercado de trabalho. Nestes trabalhos, os autores dividiram os fatores causadores do aumento do capital investido em Private Equity em duas vertentes. A primeira é a demanda por capital que influencia o número e na qualidade dos empreendedores dispostos a captar recursos em seus empreendimentos. O outro fator é a oferta que levam os investidores a investirem nesse tipo de empreendimento. Para Gompers e Lerner (1998) os fatores de demanda são mais significativos no modelo de private equity, a redução da alíquota de imposto sobre os ganhos de capital é uma variável que influencia diretamente no aumento do empreendedorismo no setor, pois o retorno de cada projeto de investimento seria maior com os custos com impostos menores. Segundo Jeng e Wells (2000), o crescimento do PIB não tem efeito significativo para identificar o tamanho da indústria de private equity. A variável importante nessa análise é a modalidade de mão-de-obra e mesmo esta, tem um efeito significativo em alguns estágios do negócio. Em empresas maduras a falta de mobilidade de mão-deobra não compromete o desempenho do aumento do capital investido, mas em empresas 50 Start-up a livre circulação da mão-de-obra é importante para explicar o desenvolvimento do capital investido nesse tipo de empresa. Diferentemente dos outros pesquisadores, Romain e Van Pottelsberghe (2004) mostraram que a taxa de juros e complementarmente o diferencial de taxa de juros de longo e curto praza são os responsáveis para identificar o grau de desenvolvimento da indústria de capital de risco. Com a taxa de juros mais elevada, a capitalizarão de um empreendimento via torna-se uma alternativa bastante viável e mais atrativa que o financiamento que utiliza como indexador a taxa de juros. Em contrapartida, se existir um diferencial muito expressivo entre as taxas de curto e longo prazo o apetite dos investidores diminua em relação aos ativos de Private Equity. 51 10. Referências Bibliográficas Associação Brasileira de Venture Capital< http://www.abvcap.com.br >Diversos Acessos. Acesso no 1º semestre de 2008. ALMEIDA, M.P.A. 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