CEFAC Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica Motricidade oral DEGLUTIÇÃO: PROCESSO NORMAL E PATOLÓGICO Luciana Maria Menin Ribeiro Londrina 2000 RESUMO O objetivo desta pesquisa teórica é realizar um estudo mais detalhado dos aspectos normais e patológicos do processo de deglutição, abrangendo as etapas de desenvolvimento, fatores etiológicos e conseqüências no esqueleto crânio-facial. Segundo autores pesquisados, a deglutição apresenta-se diferentemente de acordo com as fases de dentição decídua, mista e permanente, tendo características posturais e funcionais dos órgãos fonoarticulatórios esperadas à cada fase, sendo estes dados fundamentais para uma avaliação e diagnóstico mais precisos. As alterações no processo de deglutição podem ocorrer por etiologias genéticas, neurológicas, morfológicas, funcionais e outras, estando adaptadas à morfologia existente ou atípicas com favorável crescimento dento-facial. Há variações quanto à forma e freqüência de deglutição, de acordo com o tipo do alimento, formação do bolo alimentar, intensidade do sabor e demais aspectos relatados. Portanto, o estudo pôde contribuir aos fonoaudiólogos e profissionais de áreas afins, facilitando o diagnóstico e posterior conduta, considerando as etiologias associadas, suas características, possibilidades e limitações de trabalho. ABSTRACT The purpose of this theoretical research is to develop a more detailed study of normal and pathological aspects of the swalloowing process, taking the development stage, etiologial factors and consequences in the cranial-facial skeleton. According to the authors, the swallowing shows differently, according to the stages of the deciduous, mixed and permanent teething, having posture and functional features of the phono-articulatory organs, expected in each stage, making assessment and diagnosis. The alterations in the swallowing process may occur, for genetic, neurological, morphological, and other aetiologies, being adapted to existent or non-typical morphology, with favourable dent-facial growing. There are variations as for the swallowing form and frequency, according to the type of food, food mass formation, flavour intensity, and other reported aspects. Therefore, the study may help the speech pathologists and other professional of similar areas, making easier the diagnosis and subsequent conduct, considering the related aetiologies, their features, possibilities and limitation of work. SUMÁRIO PÁGINAS INTRODUÇÃO 01 DISCUSSÃO TEÓRICA Definição de deglutição 03 Funcão 07 Freqüência de repetições 08 Fisiologia da deglutição 10 Evolução ontogênica da deglutição 17 Deglutição atípica e adaptada: definições e quadro clínico 22 Fatores que alteram o processo normal da deglutição 26 Conseqüências 29 Correlação forma oclusal-função de deglutição 31 CONSIDERAÇÕES FINAIS 36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 38 INTRODUÇÃO Sabe-se que a deglutição, função integrante do sistema estomatognático, está presente no organismo desde o período fetal, equilibrando o volume de líquido amniótico. O feto necessita do funcionamento precoce do sistema estomatognático, sendo a deglutição ativa nesta fase, para estimular o crescimento facial no seu terço médio garantindo a sobrevivência ao recém-nascido, por propiciar a respiração logo após seu nascimento. O objetivo da pesquisa é realizar um estudo mais detalhado do que se denomina Deglutição, ou seja, ato de engolir alimentos de variados tipos e consistências. Abrangerá considerações quanto as etapas do processo de deglutição, estruturas, músculos e nervos participantes e, suas funções no sistema estomatognático. Há inúmeras variantes que interferem na freqüência diária deste mecanismo e o mesmo apresenta características distintas de acordo com o desenvolvimento e estabelecimento dentário. Assim, descreveremos o padrão normal de deglutição esperado nas fases decídua, mista e permanente, os aspectos que interferem em seu processo, conseqüências crânio-faciais, musculares e funcionais da face, propiciando melhores possibilidades de diagnóstico, contatos com profissionais envolvidos no caso e, conseqüentemente a realização de condutas e encaminhamentos necessários ao caso. 1 É de fundamental importância conhecer-mos as alterações no crescimento do crânio e os diversos padrões de oclusão dentária dos indivíduos com queixa ou mesmo, encaminhados como sendo deglutidores atípicos com seus sinais, sintomas e etiologias variadas, pois sabe-se que as alterações no ato da deglutição podem ser causa ou adaptações ao padrão facial apresentado. Assim, faz-se necessário, permanentemente, buscar conhecimentos teóricos atuais sobre o tema visando melhor avaliação, diagnóstico, condutas e resultados dos casos clínicos. 2 DEFINIÇÃO DE DEGLUTIÇÃO Em primeiro momento, descreveremos o ato de deglutição que, como função estomatognática, é definida por PADOVAN (1975), MULLER DE ARAÚJO (1988), CANONGIA (1989), MOLINA (1989), OKESON (1992), MARCHESAN (1993 – 1998) e RODRIGUES (1998), como sendo uma função biológica complexa e coordenada integrada ao sistema nervoso central, apresentando um mecanismo sinérgico e antagônico de ações musculares regidas por arcos reflexos. Este mecanismo, segundo LINO (1994), estimula o desenvolvimento e definição de formas e contornos e estabiliza as diversas estruturas. Qualquer desvio funcional ocasionaria deformações morfológicas, configurando maloclusões. Completando a afirmação acima DOUGLAS (1998) refere que esta função estomatognática se completa mediante a integração no sistema nervoso central de impulsos aferentes e eferentes, organizadas no centro da deglutição, ou em circuitos intramurais esofágicos locais, nas porções mais inferiores do esôfago. Aparece, de acordo com MARCHESAN (1998), como a primeira função a manifestar-se no feto, iniciando-se por volta do 2º trimestre de vida intra-uterina, que para ALTMANN et al., (1992), vêm contribuir no equilíbrio do volume do fluído amniótico. Neste momento de vida, as áreas corticais do cérebro são imaturas e, o tronco encefálico é essencial para a deglutição. Ainda com referência ao período fetal, RODRIGUES (1998) menciona que a 3 deglutição encontra-se ativa, ou seja, o sistema estomatognático inicia seu funcionamento precocemente para estimular o crescimento do terço médio da face, propiciando a respiração em seguida ao nascimento. Se o feto deglute o líquido amniótico, significa que o sistema neurológico, especialmente encéfalo e mesencéfalo, estão íntegros. Na maturação normal, pré-natal, da neuromusculatura segundo MOYERS & CARLSON (1993), ocorrem vários reflexos na região orofacial, entre eles, a deglutição. Antes do nascimento, é preciso que a deglutição seja ativa para que o recém nascido sobreviva. Normalmente, de acordo com DUBRUL (1991), o ato de deglutição move um bolo alimentar da região anterior da boca até o esôfago, seguindo um rápido padrão de fluxo suave, interrompido por intervalos de hesitação momentânea em certos pontos chaves do canal alimentar. É iniciado por movimentos voluntários que manipulam o alimento em direção à entrada da faringe nos pilares anteriores das fauces. O autor ainda constata que as atividades de líquidos e sólidos apresentam diferenças e o comportamento de deglutição do bolo e, a decisão de engolir, segundo OKESON (1992), depende do grau de diluição do alimento, intensidade do sabor e o grau de lubrificação do bolo alimentar. Um fator importante na deglutição, conforme OKESON (1992), é a estabilização mandibular, pois a mandíbula deve estar fixa de forma que haja o controle do movimento do osso hióideo necessário para a deglutição. Este controle é dado pela contração dos músculos suprahióideos e infra-hióideos. A deglutição, conforme ROCHA (1998), exige controle neuro-motor fino com a participação do córtex 4 cerebral, tronco cerebral e aproximadamente 30 músculos e 06 pares de nervos encefálicos sendo: trigêmeo (V), facial (VII), glossofaríngeo (IX), Vago (X), acessório espinhal (XI) e hipoglosso (XII), que determinam impulsos sensoriais e motores. Os impulsos sensoriais, de acordo com a mesma autora, fornecem a sensação geral e o paladar. Os 2/3 anteriores da língua são inervados pelo trigêmeo (V) e, o terço posterior tem inervação do glossofaríngeo (IX) que inerva também as amígdalas, palato mole e faringe. O nervo vago (X) inerva as porções posterior e inferior da faringe, laringe e vísceras. O paladar é dado pelo facial (VII) nos 2/3 anteriores da língua e pelo glossofaríngeo (IX) no terço posterior. Os impulsos motores são vinculados pelo trigêmeo (V) para os músculos miloióideo e digástrico na abertura bucal. O fechamento labial é realizado pelo sétimo nervo craniano e, o hipoglosso (XII) faz a movimentação do alimento e sua propulsão posterior através da língua. Ao descrever a Matriz Funcional Oronasofaringeana, ARAGÃO (1992) informa que quando esta matriz está em equilíbrio, seu espaço apresenta-se com uma pressão subatmosférica devido à deglutição. Após algum tempo com a respiração nasal, a pressão atmosférica do meio ambiente invade o espaço oronasofaringeano e reverte a pressão do seu interior, assim, faz-se uma nova deglutição e restabelece-se a pressão subatmosférica na oronasofaringe. Portanto, para este autor, a deglutição é um fenômeno que mantêm a pressão subatmosférica do sistema estomatognático, pois essa região oronasofaringeana funciona como uma válvula de equilíbrio da pressão subatmosférica entre o meio ambiente interno do corpo humano e o meio ambiente externo. 5 O autor citado anteriormente considera que se houver vedamento labial, inspiração e expiração nasal, válvulas velopalatina e glótica funcionando harmonicamente, o ato de deglutição será automático, causado pelo reflexo de estiramento da musculatura elevadora da mandíbula e da diferença da pressão atmosférica no espaço oronasofaringeano. Esta pressão após a deglutição, expandirá os seios maxilares, seios frontais, tuba auditiva, orelha média e as células da mastóide. 6 FUNÇÃO Após o conhecimento das várias definições apresentadas a deglutição, segundo MOLINA (1989), MARCHESAN (1993) e DOUGLAS (1998), apresenta a função fundamental de propulsão do alimento, líquido ou sólido, já preparado no trato digestivo superior, para o estômago sendo finalmente submetido ao processo digestivo. Apresenta a função, conforme os autores, de servir como mecanismo protetor para os tratos respiratório e digestivo, por apresentar condições de aspirar partículas que tenham porventura entrado na laringe ou vias aéreas superiores e retornado à faringe pela tosse ou outros mecanismos respiratórios de retropulsão. De acordo com os dois últimos autores citados, deglutição seria como mecanismo protetor ao outra função da remover partículas originariamente perdidas na nasofaringe ou retornando o material digestivo que reflui do estômago para o esôfago ou faringe. 7 FREQÜÊNCIA DE REPETIÇÕES Com o presente estudo, verificamos que o ato de deglutição ocorre diferentemente, de acordo com os fatores variantes em questão. Assim, alguns autores pesquisados como FERRAZ (1984), CANONGIA (1989), MOLINA (1989) e MARCHESAN (1998), referem que o ato de deglutição apresenta uma freqüência diária que varia de 2.000 à 2.600 vezes. No entanto, OKESON (1992) e DOUGLAS (1998) constatam que no período de 24 horas ocorrem em média aproximadamente 590 deglutições e, BRAGA & MACHADO (1992) fornecem dados referentes a 900 a 1.000 vezes durante o decorrer do dia. A freqüência em que ocorrem as deglutições pode variar conforme a idade do indivíduo. Assim, MARCHESAN (1998) afirma que as crianças apresentam uma média de deglutições de 600 a 1.000 vezes por dia, sendo que no indivíduo adulto como foi descrito anteriormente, isto ocorre 2.000 à 2.600 vezes e, os indivíduos mais idosos, por terem menor quantidade de saliva, deglutem menos vezes. Discordando desta afirmação, CANONGIA (1989) apesar de não fornecer o número de freqüência, relata que as crianças deglutem mais que os adultos. A posição corporal do indivíduo é outro fator variante na freqüência, que de acordo com o último autor citado, estando em supino ou sentado há um aumento no número de deglutições. Conforme MOLINA (1989) e MARCHESAN (1998), o período noturno causa diminuição dos atos de freqüência da deglutição. Esta diminuição se 8 deve, de acordo com OKESON (1992) e DOUGLAS (1998), à queda no fluxo de saliva à noite, atingindo uma média de 50 deglutições. Durante as funções de fala e mastigação ocorrem aumentos na freqüência de deglutições, conforme relatam OKESON (1992), DOUGLAS (1998) e MARCHESAN (1998), por serem funções que requerem maior produção de saliva. Ocorrem 146 ciclos de deglutições de alimentos durante o dia, de acordo com OKESON (1992) e, 296 vezes do ponto de vista de DOUGLAS (1998), sendo as demais, deglutições de saliva. O nível de irritabilidade e o uso do ciclo de deglutição como liberadores de tensão, de acordo com FERRAZ (1984) e CANONGIA (1989), podem acarretar aumento na freqüência de deglutição. O tipo de bolo alimentar e a presença de qualquer material dentro da faringe, laringe ou esôfago, segundo DOUGLAS (1998), também ocasionam modificações na freqüência de repetições da deglutição. 9 FISIOLOGIA DA DEGLUTIÇÃO Para melhor compreender o ato de deglutição, PADOVAN (1975), FERRAZ (1984), GOMES et al., (1985), ARAÚJO (1988), CANONGIA (1989), MOLINA (1989), ALTMANN (1992), OKESON (1992), BRAGA & MACHADO (1992), MARCHESAN (1993), SÁ FILHO (1994), LINO (1994) E DOUGLAS (1998), descrevem-no em três fases sendo oral, faríngea e esofágica. De acordo com RODRIGUES (1998) e MARCHESAN (1998), há uma fase antecedente denominada de fase preparatória. Fase Preparatória: Esta fase, de acordo com RODRIGUES (1998), corresponde ao início do processo digestivo, através da salivação, movimentação de língua e mastigação. O Sistema Nervoso Central participa com cerebelo, sistema nervoso autônomo na sua porção parassimpática, nervo trigêmeo (V), facial (VII), hipoglosso (XII) e córtex encefálico. Segundo, MARCHESAN (1998), nesta etapa observam-se tanto a mordida como a mastigação. Fase Bucal: A fase bucal é voluntária e consciente, controlada por vários nervos cranianos e acontece durante aproximadamente 01 segundo, conforme RODRIGUES (1998) e MARCHESAN (1998). Sendo voluntária, PADOVAN (1975), CANONGIA (1989) e RODRIGUES (1998) concordam que esta fase pode ser acelerada, retardada e interrompida. Quando alguma partícula 10 estranha surge na boca, consegue-se selecionar esta partícula e tirá-la da cavidade bucal. De acordo com os autores estudados, após a mastigação eficiente e já estando formado o bolo alimentar, este é posicionado no sulco longitudinal da língua à altura do terço médio, segundo LINO (1994), através de uma ação de sucessão desencadeada por uma leve depressão da mandíbula e da língua em que participam os músculos longitudinal superior e o genioglosso. Há a aproximação passiva dos lábios devido à ação da musculatura perioral, em que o último autor destaca os músculos orbiculares, caninos, triangulares e mentalis. Os músculos elevadores da mandíbula, sendo masséter, temporal e pterigoideo medial, entram em ação e se contraem permitindo uma oclusão cêntrica, porém, conforme ALTMANN et al. (1992), a oclusão dos molares não é fator indispensável para a deglutição normal, mas sim, são os movimentos corretos da língua. A língua passa a fazer uma elevação rítmica, em que a ponta levantase apoiando-se na papila palatina e face palatina dos incisivos superiores. Suas margens selam-se com o palato, tocando às superfícies linguais dos dentes posteriores e, seu dorso se curva para conter o bolo alimentar. Ocorre, conforme LINO (1994), uma ondulação progressiva da língua pela ação dos músculos longitudinais inferiores e o transverso, glosso-palatino e estiloglosso. Há a contração do músculo milo-hióideo, segundo MARCHESAN (1993), SÁ FILHO (1994) e DOUGLAS (1998), que dispara o processo de deglutição, tendo como conseqüência a elevação da parte anterior da língua contra o palato duro, deslizando o bolo alimentar para trás, através dos movimentos ondulatórios da língua. Há o fechamento do istmo das fauces, de 11 acordo com DUBRUL (1991), para prevenir a penetração prematura do bolo na faringe. A pressão exercida pelo bolo alimentar nos pilares anteriores da faringe, na base lingual e palato mole, determinam a geração de impulsos nervosos que, por via aferente iniciam o reflexo da deglutição. Enquanto o bolo alimentar é empurrado para trás, há a elevação da faringe por ação dos músculos faringo-palatino, estilo-faríngeo, e salpingofaríngeo conforme relata LINO (1994) e, há também o movimento ânterosuperior do osso hióide, favorecendo a passagem do bolo alimentar para a faringe. Fase Faríngea ou Faringo-Laríngea: Esta fase, de passagem do bolo alimentar para a faringe caracterizase de acordo com FERRAZ (1984), BRAGA & MACHADO (1992) e DOUGLAS (1998), como consciente, involuntária e dependente de vários reflexos. Estes reflexos, segundo RODRIGUES (1998), são provenientes do Tronco Encefálico, núcleos do IX e X pares cranianos e substância reticular ascendente. O anel orofaríngeo por onde passa o bolo alimentar tem a função, conforme constatam MARCHESAN (1993) e DOUGLAS (1998), de regular a passagem de partículas de grande tamanho mal trituradas na mastigação. Os músculos supra-hióideos, faríngeos, laríngeos e linguais, segundo DOUGLAS (1998), se contraem de forma complexa. Alonga-se a faringe ao mesmo tempo em que há parada respiratória. O trânsito do bolo alimentar pela faringe é muito rápido, durando de 0,6 a 1,2 segundos conforme MARCHESAN (1998) e, a elevação do palato 12 mole e úvula contra a parede posterior faringeana fechando a nasofaringe, evita o refluxo do alimento para o nariz orientando-o para o esôfago. Os músculos elevadores e tensores do véu palatino o mantêm elevado e tensionado para vedar a cavidade nasal, de acordo com LINO (1994), destacando também que este vedamento se completa pela ação dos músculos faringo-palatinos, tensão dos músculos glossopalatinos e, pela elevação da base da língua. Por outro lado, segundo OKESON (1992) e DOUGLAS (1998), há uma contração do músculo constritor médio e inferior como uma onda contrátil perfeitamente coordenada, conduzindo o bolo alimentar no sentido do esôfago. Funcionalmente, ocorre ainda o fechamento da laringofaringe pela inclinação posterior da epiglote, a glote se fecha por contração dos músculos tireoaritenóideos e a laringe é puxada para cima e para frente pela contração dos músculos infra-híoideos, conforme DOUGLAS (1998). O orifício superior da laringe aplica-se contra a base da língua, fechando-se as vias aéreas e suspendendo a respiração momentaneamente, o que vai evitar, segundo CANONGIA (1989) e BRAGA & MACHADO (1992), a ocorrência de asfixia por aspiração de algum alimento. Há a aproximação das pregas vocais de acordo com SÁ FILHO (1994), chegando a se ocluírem na afirmação de RODRIGUES (1998). Fecham-se as trompas de Eustáquio como mecanismo de defesa para o ouvido médio, de acordo com PADOVAN (1985), FERRAZ (1984), MÜLLER de ARAÚJO (1988), BRAGA & MACHADO (1992) e RODRIGUES (1998). 13 Nesta fase laringo-faríngea, o último autor citado anteriormente menciona um rebaixamento do músculo cricofaríngeo que relaxa o esfíncter esofágico superior permitindo a passagem do bolo para sua luz. Concordando com essa afirmação, DOUGLAS (1998) relata que este relaxamento gera uma redução da pressão nesta região, orientando o fluxo faríngeo para demais pontos do esôfago. É importante lembrar, segundo PADOVAN (1975), que a cavidade oral encontra-se vedada pelo fechamento labial e sucção de língua contra o palato. Este vedamento tornará a pressão nos espaços nasais praticamente a pressão da atmosfera e, a pressão intra-oral será menor que a nasal resultando numa pressão negativa. Esta pressão negativa, conforme RODRIGUES (1998), é que traciona o palato para baixo, aplainando-o, pois a tendência é o deslocamento do palato para o lado de menor pressão. Ocorre a reiniciação da respiração de acordo com PADOVAN (1975), CANONGIA (1989), MOLINA (1989), BRAGA & MACHADO (1992), LINO (1994), RODRIGUES (1998) e DOUGLAS (1998), associado à elevação do osso híoideo pela ação dos músculos supra-hióideos e relaxamento dos músculos constritores da faringe, acomodando o bolo alimentar. Em seguida, há a contração do esfíncter faringo - esofágico e o bolo alimentar é impulsionado para o esôfago. Fase Esofágica: Refere-se à passagem do bolo alimentar através do esôfago para o estômago, conforme PADOVAN (1975) MÜLLER DE ARAÚJO (1988), CANONGIA (1989), MOLINA (1989), BRAGA & MACHADO (1992), LINO 14 (1994), RODRIGUES (1998), MARCHESAN (1998), sob a ação dos movimentos peristálticos como resultado de impulsos nervosos do nervo vago segundo FERRAZ (1984). É uma fase inconsciente e involuntária, de acordo com BRAGA & MACHADO (1992), que apresenta uma duração média de 0,8 segundos na afirmação de OKESON (1992) e MARCHESAN (1998), podendo atingir 20 segundos conforme RODRIGUES (1998). Este último autor afirma que assim que o bolo alimentar passa pelo esfíncter esofágico superior, relaxado pela ação dos músculos cricofaríngeos, a laringe retoma a sua posição normal e o tônus muscular do esfíncter aumenta. Associado a isto, FERRAZ (1984), CANONGIA (1989), MARCHESAN (1998) e DOUGLAS (1998) referem que há o relaxamento do músculo milo-híoideo. Abre-se a glote, há a descida do véu palatino, a mandíbula volta à sua posição natural, a língua retorna à posição de repouso e inicia-se a respiração normal, que foi interrompida, de acordo com MARCHESAN (1998), durante 0,1 segundo, ou menos, na fase anterior. A etapa esofágica está bastante ligada à fase faringo-laríngea, segundo DOUGLAS (1998), mas pode separar-se quando ocorrem uma seqüência de rápidas respostas faríngeas. Este autor cita o exemplo de quando se bebe em um copo, sendo que cada gole inicia a fase bucal e faríngea, porém, os movimentos peristálticos do esôfago inibem-se até que se haja produzido o último ato de deglutição em seqüência. Existem variações na motilidade esofágica, ainda conforme o último autor, em decorrência dos impulsos aferentes existentes no esôfago. Assim, a deglutição de alimentos quentes aumenta a velocidade e amplitude do movimento peristáltico do esôfago e o contrário ocorre em substâncias frias. 15 Este peristaltismo esofágico pode ser retardado e descoordenado quando ocorre a deglutição de substâncias ácidas. Figura retirada de FERRAZ (1984). 16 EVOLUÇÃO ONTOGÊNICA DA DEGLUTIÇÃO: Sabe-se, conforme BRAGA & MACHADO (1992), que a deglutição é um processo que se verifica desde a vida fetal e se produz diferentemente antes e após o aparecimento dos dentes. De acordo com DOUGLAS (1998), na segunda metade do 1º ano de vida produzem-se modificações importantes no sistema estomatognático, alterando o funcionamento dos músculos orofaciais. A faringe se alonga, há mudanças no esqueleto facial e erupção dentária. Consequentemente, a deglutição infantil vai se transformando num padrão de deglutição adulta. Ao descrever o desenvolvimento da deglutição, MOYERS (1984) destaca que é essencial o conhecimento do processo normal e da ordem natural em que ocorrem as fases da deglutição, como base para o tratamento de qualquer parte do sistema oclusal ou facial. A evolução ontogênica da deglutição é dividida em: deglutição infantil ou visceral, período transicional e deglutição madura. Deglutição infantil ou visceral: De acordo com o último autor citado, esta fase é vista no recémnascido e desaparece gradualmente com a irrupção dos dentes posteriores na dentição mista. Ocorre, segundo MOLINA (1989), antes do estabelecimento definitivo da oclusão decídua. Em relação às características que definem esta fase, FERRAZ (1984), MOYERS (1984) CANONGIA (1989), MOLINA (1989), VANDER LINDEN (1990), OKESON (1992), BRAGA & MACHADO (1992), MOYERS & 17 CARLSON (1993), SÁ FILHO (1994) e DOUGLAS (1998) consideram que a língua encontra-se posicionada entre os coxins gengivas ou superfícies incisais dos dentes, mantendo separados a maxila e a mandíbula. A estabilização mandibular ocorre mediante a contração dos músculos do sétimo par de nervos cranianos e, interposição lingual. A deglutição é iniciada e controlada pelas sensações que partem de receptores labiais e linguais e, conforme MOLINA (1989), há pouca ou nenhuma participação do masséter e ocorre a contração aumentada do músculo mentalis. Figura retirada de PETRELLI (1992). Período Transicional: A transição da deglutição infantil para a madura demora de 12 a 15 meses, de acordo com DOUGLAS (1998), resultando numa mescla dos elementos das duas deglutições, segundo MOYERS (1984), durante a primeira dentição e algumas vezes no início da dentição mista. 18 Neste período, conforme afirmam CANONGIA (1989) e DOUGLAS (1998), colaboram a maturação dos principais eventos do desenvolvimento neuromuscular orofacial, o posicionamento ereto da cabeça e a mudança na direção das forças gravitacionais sobre a cabeça e a mandíbula. Complementando a afirmação, MOYERS & CARLSON (1993) referem que também colaboram neste período o desejo instintivo de mastigar, a habilidade necessária para manusear alimentos sólidos, o desenvolvimento da dentição, e outros. Todos estes aspectos, ocasionam a modificação da deglutição infantil para a adulta. Nesta fase de transição, MOYERS (1984) constata que há o aparecimento de contrações dos elevadores da mandíbula durante a deglutição e, pode haver uma pequena contração labial para manter a vedação. Algumas vezes, a transição normal não ocorre mantendo-se o padrão infantil que de acordo com VANDER LINDEN (1990) provavelmente relacionase à necessidade instintiva de manter a desobstrução das vias aéreas enquanto não está ocorrendo a deglutição. As crianças de 03 a 10 anos, segundo o mesmo autor, mostram modelos intermediários de padrões de deglutição entre a infantil e a adulta. A manutenção da deglutição infantil ocorre, conforme OKESON (1992), devido à falta de suporte dentário ou posição não propícia dos dentes ou do arco. Pode haver também desconforto durante o contato dental devido a cáries ou dentes sensíveis, podendo resultar em deslocamento labial dos dentes anteriores pelos fortes músculos da língua. Deglutição Madura ou adulta: Começa geralmente a aparecer na metade do 1º ano de vida, segundo MOYERS & CARLSON (1993). A chegada dos incisivos induz movimentos e posições mandibulares mais precisas, impõe uma postura mais retraída da 19 língua e inicia-se o aprendizado da mastigação. Ocorre freqüentemente, ainda conforme o autor, entre 1 e 2 anos de idade, mais precisamente aos 18 meses segundo FERRAZ (1984), CANONGIA (1989) e BRAGA & MACHADO (1992). Assim que a oclusão bilateral posterior é estabelecida, com a erupção do primeiros molares decíduos, MOYERS & CARLSON (1993) afirmam que começam a surgir movimentos reais de mastigação e inicia-se o aprendizado da deglutição madura. Gradualmente, segundo FERRAZ (1984), CANONGIA (1989), MOLINA (1989), BRAGA & MACHADO (1992), MOYERS & CARLSON (1993) e DOUGLAS (1998), os músculos do 5º nervo craniano (trigêmeo) assumem o papel de estabilização mandibular, enquanto que os músculos faciais deixam de agir na sucção e deglutição infantil, para assumir, de acordo com o último autor relatado, funções como a articulação e a expressão facial. A deglutição madura envolve a oclusão de todos os dentes conforme VANDER LINDEN (1990), com a língua tocando a parte anterior do palato, acima e atrás dos incisivos. Há contrações mínimas dos lábios e músculos faciais. O posicionamento normal da língua durante a deglutição, segundo MOLINA (1989), depende do seu próprio tamanho em relação à largura e comprimento do osso maxilar, da anatomia do palato duro, da sobressaliência, inclinação ou torque dos incisivos superiores no sentido vestibulolingual. O grau de atividade labial durante a deglutição madura normal, depende conforme MOYERS (1984), da habilidade da língua para vedar completamente contra os dentes e o processo alveolar. A deglutição madura, de acordo com VANDER LINDEN (1990), não ocorre de maneira uniforme. A deglutição de sólidos necessita de oclusão 20 dentária, porém, a deglutição de saliva ou alimentos pastosos nem sempre ocorre com os dentes em oclusão. Figura retirada de PETRELLI (1992) Deglutição infantil persistente: Caracteriza-se, segundo MOYERS (1984) pelo padrão de deglutição infantil após a erupção dos dentes permanentes. Felizmente são casos raros. Nestes casos, os indivíduos apresentam fortes contrações labiais e de musculatura facial. Há interposição frontal e lateral da língua, muitas dificuldades na mastigação que ocorrem entre a ponta da língua e palato devido à alterações nos contatos oclusais. O alimento freqüentemente é colocado sobre o dorso da língua. 21 DEGLUTIÇÃO ATÍPICA E ADAPTADA: DEFINIÇÕES E QUADRO CLÍNICO A Deglutição Atípica é definida, de acordo com PADOVAN (1975), FERRAZ (1984) e MÜLLER DE ARAÚJO (1988), como sendo o rompimento do mecanismo harmônico da deglutição, ocasionando anomalias. Ocorre aproximadamente em 60% do indivíduos portadores de maloclusão. RODRIGUES (1998) relata que o termo “Deglutinação Atípica” é deficiente por não referir a posição da língua que, estará alterada não somente no ato de deglutir, mas também nas funções de respiração, fonação, articulação fonêmica, mastigação, mímica facial, postura de cabeça e pescoço, propriocepção, olfato e degustação. Portanto, o autor dá preferência ao termo “Pressões Atípicas da Língua” relacionando as suas possíveis etiologias e manifestações no sistema estomatognático. O termo Deglutição Atípica, conforme constata MARCHESAN (1998), constitui-se na movimentação inadequada da língua e/ou demais estruturas participantes do ato da deglutição, sem associação à alterações de forma na cavidade oral. Há alteração somente na função de engolir, durante o processamento da Fase Oral (MARCHESAN & JUNQUEIRA – 1998). Quando o processo de deglutição encontra-se alterado, existem caraterísticas que o identifica, conforme mencionam PADOVAN (1975), FERRAZ (1984), MÜLLER DE ARAÚJO (1988), BRAGA & MACHADO (1992) e MARCHESAN (1998). Há interposição e pressionamento atípico da língua, contração da musculatura perioral, ausência de contração dos masséteres durante a mastigação de alimentos sólidos, contração do mentalis, interposição de lábio inferior visando facilitar o vedamento anterior. Ocorrem, 22 ainda, movimentos de cabeça normalmente em decorrência da má mastigação e para facilitar a acomodação do bolo alimentar na faringe. Com exceção do último autor citado os demais ainda relatam a presença de sopro ao invés de sucção, desvios na fonação de /t, d, n, l, s, z/, cuspe ou acúmulo de saliva na cavidade oral, sialorréia noturna e má ingestão de pílulas. Indivíduos com atipias na deglutição, segundo MOLINA (1989), apresentam contração nos músculos do mento e dos lábios, posição anormal da língua induzindo uma separação entre os dentes anteriores. A posição anteriorizada da língua evita um padrão normal de deglutição. O mesmo autor refere que os hábitos de deglutição disfuncionais quando associados à problemas respiratórios, podem acarretar alterações irreversíveis no padrão de crescimento craniofacial e perpetuar um mecanismo de deglutição atípico e respiração bucal já existentes. Entre as deglutições atípicas mais comuns, conforme GOMES et al. (1985), LINO (1994) e DOUGLAS (1998), estão as formadas de interposição ou pressão atípica de lábios ou língua. Em relação à deglutição com interposição do lábio inferior entre os dentes anteriores superiores pode-se observar, segundo LINO (1994), apinhamentos dentários anteriores com inclinação lingual principalmente dos dentes superiores. Se o lábio superior estiver hipotônico, pode haver também uma inclinação vestibular dos incisivos superiores. Ocorre, de acordo com GOMES et al. (1985), em casos extremos de sobressaliência, tentando vedar a cavidade bucal no momento da deglutição. No início do ato de deglutição, a mandíbula desliza para atrás para conseguir a oclusão e o lábio inferior coloca-se atrás dos incisivos superiores. 23 Na deglutição com interposição lingual ocorrem desequilíbrios musculares, pois a língua se aloja entre os incisivos, molares ou pré-molares e segundo GOMES et al. (1985), esta apresenta uma influência dental e alveolar capaz de produzir protrusão dos dentes incisivos e/ou laterais. Assim, de acordo com LINO (1994), a pressão anterior da língua conduz à mordida aberta anterior, mordida aberta com severa inclinação anterior dos incisivos superiores, associada ou não à mordida cruzada. Pode haver ainda, pressão lateral de língua ocasionando mordida aberta lateral, ligado ou não à mordida cruzada posterior do lado oposto. Há casos, de acordo com os dois últimos autores, em que ocorre tanto pressão lingual anterior como lateral. Ainda com relação à deglutição com interposição de língua, MOLINA (1989) refere que esta pode ocorrer por requisitos funcionais, como, crescimento diminuído da maxila seja lateral ou anterior, associado com o tamanho aumentado da língua. A posição da língua entre os dentes, para este autor, pode ser em decorrência de adaptação à necessidades respiratórias do indivíduo, ocasionando um padrão de deglutição atípica. Em caso de mordida aberta, relata que a língua tende a se adaptar ao espaço disponível. A deglutição com interposição lingual, conforme VANDER LINDEN (1990), não é causa de mordida aberta, mas uma modificação adaptadora da função e resulta da forma anormal dos dentes pela posição anormal da língua e dos lábios. Refere que a posição lingual e labial, principalmente em repouso, está relacionada com a forma dos arcos dentários e morfologia facial. De acordo com MARCHESAN & JUNQUEIRA (1998), é muito importante observar nas atipias da deglutição, se a oclusão permite uma 24 posição correta e confortável da língua. O padrão de deglutição, segundo as autoras, parece adaptar-se à morfologia local existente de acordo com o tipo oclusal. A língua adapta-se à forma, à alterações em outras funções estomatognáticas e à idade do indivíduo, principalmente na fase de dentição decídua ou mista. As mesmas autoras ainda mencionam que é de fundamental importância pesquisar-se as possíveis razões das alterações da deglutição, para que se possa agir sobre as causas e não somente nos sinais e sintomas, como a projeção lingual. Confirmando o relato acima MARCHESAN (1998) considera que quando pré-existe algum problema, como má oclusão ou respiração bucal, haverá movimento inadequado de língua ou demais estruturas que participam da deglutição, por adaptação à forma da cavidade oral, tipo facial, ou à características das funções estomatognáticas. 25 FATORES QUE ALTERAM O PROCESSO NORMAL DA DEGLUTIÇÃO: Durante o estudo em questão, vários autores relatam as possíveis causas do rompimento do mecanismo sinérgico da deglutição, relacionadas à fatores anatômicos, genéticos, funcionais e neurológicos. De acordo com MOLINA (1989), as etiologias seriam originadas por mal oclusões, posicionamento lingual anterior, hipertrofia de amígdalas e adenóides, rinites, doenças crônicas da garganta predispondo um abaixamento e anteriorização da língua, presença de hábitos orais e contração dos músculos da expressão facial, mento e lábios. Segundo MARCHESAN (1993), também são causas de alterações na deglutição a hipotonia de língua e de bochechas, palato duro estreito ou alto, má formação do bolo alimentar, permanência do padrão infantil, trocas dentárias, mal oclusões como classe II devido a interposição de lábio inferior ou arcada estreita não permitindo o acoplamento lingual, alterações anatômicas e contração da musculatura perioral. Outro autor que faz referências às causas da deglutição atípica, diz respeito a LINO (1994), relatando que podem ocorrer alterações nos centros nervosos superiores, principalmente em crianças nervosas excitáveis e que apresentam contração exagerada da musculatura facial no período de sucção. Considera também o enfartamento das tonsilas, macroglossia ou anquiloglossia em que há perda dos movimentos linguais, freio lingual com inserção ampla, perdas precoces de dentes, diastemas anteriores, estado nutricional, respiração bucal, hábitos de sucção e, permanência de hábitos alimentares na primeira infância. 26 Conforme o relato de SÁ FILHO (1994), existem causas neurológicas como a hipossensibilidade do palato mole e a imprecisão da função oral. Pode haver um padrão genético determinante, hábitos de chupeta ou mamadeira, comprometimento na maturação do Sistema Nervoso. Concordando com os autores citados anteriormente, constata a hipertrofia de amígdalas e constrição das arcadas dentárias. Complementando as referências etiológicas, RODRIGUES (1998) afirma que podem haver síndromes congênitas afetando o esqueleto crâniofacial, tumores, traumas com lesões ósseas dentárias, musculares e de nervo periférico. Menciona ainda, as obstruções nasais, hábitos de sucção de chupeta ou dedo, ausência ou tempo reduzido de amamentação materna, manutenção dos padrões infantis e, lesões de tronco encefálico e mesencéfalo. De acordo com MAGISTRIS & DOUGLAS (1998), a causa mais importante é a respiração bucal devido à sua má eficiência fisiológica. Relata também as hipertrofias das adenóides, rinites alérgicas - vasomotoras ou não, desvios anatômicos ou sequelas de acidentes nasais, hábitos infantis como sucção de chupeta e/ou dedo. Estes fatores que alteram a passagem aérea pelas fossas nasais, segundo MAGISTRIS & DOUGLAS (1998), ocasionam uma utilização exagerada da cavidade oral, com o aumento de pressão e elevação do palato para um ponto muito mais elevado. A deglutição está associada, segundo MARCHESAN (1980), à características craniofaciais, postura inadequada de cabeça, alterações de tônus, mobilidade e propriocepção de língua, lábios, bochechas e palato 27 mole, tipo de oclusão dentária e mordida, idade do indivíduo, tipo e consistência alimentar. Fatores relacionados à idade são favoráveis à atipias da deglutição, segundo MARCHESAN & JUNQUEIRA (1998), informando que a fase de dentição mista e suas condições anatômicas, principalmente da faringe e, fisiológicas, até a idade de 08 e 12 anos proporcionam o seu aparecimento, como algo transitório e não patológico. Para as autoras acima, a diferença de crescimento entre a língua e a cavidade oral na fase de dentição decídua, também favorecem à uma posição anteriorizada de língua na deglutição. O crescimento da língua atinge o máximo de seu aproximadamente tamanho aos entre 08 08 anos e 28 12 já, a mandíbula anos de cresce idade. CONSEQÜÊNCIAS: Na deglutição atípica, conforme BRAGA & MACHADO (1982), a ponta da língua é pressionada entre os dentes incisivos e seus bordos laterais ou, pode projetar-se entre os dentes pré-molares e molares ocasionando mordida aberta e /ou anterior. Indivíduos com padrão atípico de deglutição, de acordo com MOLINA (1989), apresentarão estreitamento da região palatal mediana da maxila, protrusão dos dentes anteriores superiores e inferiores, posicionamento dos dentes anteriores inferiores, para lingual, devido à super contração dos músculos do mento e lábios. Estes dentes podem ficar mais verticalizados e, com apinhamentos. A deglutição atípica, segundo MAGISTRIS & DOUGLAS (1998), traz conseqüências odontológicas sérias, depois, digestiva e até disfunção da articulação têmporo-mandibular. Estes autores constatam que fatores causais da respiração bucal, ocasionam aumento da respiração bucal elevando o palato e, conseqüentemente exigem uma ondulação de língua com muito esforço. Os mesmo autores relatam que a arcada dentária superior, principalmente da região molar para posterior, tende a dirigir-se para a porção mediana do palato, inclinando-o para dentro resultando uma mordida “cruzada” com conseqüências na eficiência mastigatória. Para estes autores, o mais importante na deglutição atípica é a ocorrência de pequena elevação na dimensão vertical, pelos desarranjos dentários. Os dentes superiores anteriores por falta de espaço tendem a 29 migrar anteriormente desocluindo-se, projetando a arcada associado a papila incisiva. MAGISTRIS & DOUGLAS (1998) afirmam ainda que, a projeção da ponta e da região dorsal da língua influenciará na pronúncia dos fonemas línguo-dentais (t, d, n, l, s, z), contribuindo na deformação e criando desconforto fonoarticulatório e mastigatório. Isto é evidente na mordida aberta. Em repouso, alteram-se os músculos da mímica gerando hipotonia labial. Os últimos autores citados referem-se à ocorrência de aumento da distância entre a ponta da língua e o esfíncter esofágico superior, gerando um aumento no tempo de transporte da deglutição e sua freqüência. Isto ocasiona dor intensa no decorrer da passagem do bolo alimentar até o estômago, desvios do alimento atingindo a traquéia ou glote provocando engasgos ou tosses. 30 CORRELAÇÃO FORMA OCLUSAL-FUNÇÃO DE DEGLUTIÇÃO Discorremos neste momento, sobre a alteração na função de deglutição em diversas má oclusões visando facilitar a compreensão dos casos. De acordo com PETRELLI (1992), a classificação de má oclusão é a divisão em classes de anomalias semelhantes em tipo e forma do desvio, grau e natureza comparado ao que se considera de oclusão normal. Classificação de Angle: Esta classificação baseia-se nas relações ântero-posteriores dos maxilares entre si. Na classe I, de acordo com MÜLLER DE ARAÚJO (1988) e PETRELLI (1992), a relação mesio-distal entre os primeiros molares permanentes está adequada, ou seja, a cúspide mesio-vestibular do primeiro molar superior permanente oclui no sulco mesio-vestibular do primeiro molar inferior permanente. Segundo MOYERS (1984), o problema é freqüentemente de origem dentária, acarretando mordidas abertas, mordidas profundas, biprotusões e mordidas cruzadas (PETRELLI, 1992). Observam-se ainda, nesta classificação, conforme relatam MÜLLER DE ARAÚJO (1988) e MARCHESAN (1993), apinhamentos dentários na região anterior tanto superiores como inferiores e, principalmente de caninos e incisivos. Classe II: Nesta má oclusão, MOYERS (1984) e MÜLLER DE ARAÚJO (1988) destacam que a posição distal da mandíbula com a maxila, de tal forma que a 31 cúspide mesio-vestibular do primeiro molar permanente superior oclui com a vertente distal do segundo pré-molar inferior. Há anteriorização dos dentes superiores frontais. Pode ser dividida em classe II divisão 1 e, classe II divisão 2. Na classe II superiores divisão 1, conforme o último autor citado, os quatro incisivos encontram-se sobressaliência à frente dos inferiores ocasionando um e há, segundo PETRELLI (1992), labioversão dos incisivos superiores. A língua não encosta no palato durante o repouso devido à atresia do mesmo. Na classe II divisão 2, de acordo com MÜLLER DE ARAÚJO (1988), os incisivos laterais encontram-se à frente dos inferiores e os incisivos centrais superiores estão numa posição bem vertical em relação aos inferiores. A arcada superior dificilmente é atrésica conforme PETRELLI (1992) e, freqüentemente há mordida profunda. Classe III: A classe III é definida por MOYERS (1984) e MÜLLER DE ARAÚJO (1988), como a relação mesial do primeiro molar inferior com o superior, estando toda a arcada inferior colocada mesialmente em relação aos dentes superiores. Há prognatismo mandibular e, de acordo com PETRELLI (1992), é comum ocorrer mordida cruzada anterior e incisivos inferiores em linguoversão. 32 Mordida Aberta: Há, na afirmação de MOYERS (1984), ausência de oclusão normalmente na região anterior da boca e, algumas vezes, na região posterior. Os incisivos centrais superiores devem encobrir em 1/3 os incisivos centrais inferiores, se isto não ocorrer, MARCHESAN (1993) considera que haverá mordida aberta anterior. Mordida Cruzada: Nesta má oclusão MOYERS (1984) destaca que as cúspides vestibulares de alguns dentes póstero-superiores ocluem lingualmente às cúspides vestibulares dos dentes inferiores. A face humana compõe-se de múltiplos aspectos que diferem de um indivíduo para outro, com relação ântero-posterior e vertical da fronte, nariz, maxila, madíbula e mento conforme VANDER LINDEN (1990). Em relação ao plano vertical, encontramos indivíduos dólico-faciais ou face longa e estreita e, braquiofaciais ou face curta e larga. Deglutição X Classe II: De acordo com KRAKAUER (1995) e MARCHESAN (1998), observam-se interposição do lábio inferior atrás dos incisivos superiores ocasionando contração anormal do mentalis. Há tendência de anteriorizar a mandíbula para aumentar o espaço intra-oral. O lábio superior encontra-se hipotônico e há interposição lingual conforme FERRAZ (1984). O palato duro estreito, segundo MARCHESAN (1993) altera o posicionamento de língua na papila e há alteração articulatória em /k, g, p, b, m/. 33 Deglutição X Classe III: Há mau posicionamento de língua e dificuldade na oclusão labial, segundo MARCHESAN (1993). O lábio inferior é hipotônico e, o inferior é hipertônico. KRAKAUER (1995) informa que a deglutição ocorre com pressão atípica de dorso de língua e participação da musculatura perioral, anteriorizando a língua. Ainda constata a movimentação associada de cabeça ao deglutir. Deglutição X Mordida Aberta: Neste tipo de má oclusão ocorre a protrusão lingual, segundo FERRAZ (1984), MARCHESAN (1993) e KRAKAUER (1995). A língua, de acordo com VANDER LINDEN (1990), tende a permanecer entre os dentes anteriores ou laterais por adaptação habitual da função devido à má oclusão dentária. Mesmo que ela não seja a causadora da mordida aberta, MARCHESAN (1998) afirma que ela poderá agravar ou manter a mordida aberta. Deglutição X Mordida Cruzada: Na mordida cruzada unilateral, MARCHESAN (1993) informa a ocorrência de diminuição vertical deste mesmo lado com masséter encurtado do lado cruzado e, hipotônico do lado oposto. A deglutição, de acordo com FERRAZ (1984) acontece com protrusão lingual anterior ou lateral. 34 Deglutição no indivíduo dolicocéfalo: Neste padrão facial, segundo KRAKAUER (1995), há deglutição com interposição de língua e participação ativa da musculatura perioral. Pelo fato de existir maior espaço vertical intra-oral, observa-se grande esforço no ato de deglutição. Deglutição no indivíduo braquicefálico: A autora anterior considera que a deglutição neste tipo facial, estará facilitada pela diminuição vertical do espaço intra-oral. 35 CONSIDERAÇÕES FINAIS A deglutição é uma função biológica que ocorre de maneira rápida e coordenada, integrada ao Sistema Nervoso Central. É a primeira função do sistema estomatognático a manifestar-se no feto indicando que o sistema neurológico está íntegro. Em nossa prática clínica, podemos afirmar que aproximadamente 50% dos casos nos procuram ou são encaminhados com queixa de deglutição atípica e, o estudo em questão, mostrou que o ato de deglutir ocorre diferentemente conforme o tamanho e consistência do alimento, intensidade do sabor, idade oclusal, e outros. Na deglutição infantil, presente até o aparecimento dos dentes posteriores, é considerado normal o alojamento da língua entre os dentes separando a maxila e a mandíbula. Com a erupção dos primeiros molares decíduos, em torno de 18 meses, estabelece-se a deglutição madura com posição mandibular definida e língua mais retraída. Entre 3 a 10 anos, ocorre o desenvolvimento neuromuscular orofacial, o aprimoramento da posição de cabeça e o uso de alimentos mais sólidos, observando-se, assim, a transição da deglutição infantil para madura. Existem inúmeras etiologias de falhas no mecanismo sinérgico da deglutição, englobando os fatores anatômicos, genéticos, funcionais, neurológicos e outros; ocasionando conseqüências odontológicas, digestivas e disfunção na articulação têmporo - mandibular. Na análise das atipias da deglutição, verificamos que alguns autores consideram a posição anormal da língua responsável por diastemas 36 anteriores, protrusão dos dentes incisivos e/ou laterais e, mordida cruzada. Em contrapartida, outros autores pesquisados relatam que a língua não é causa, mas conseqüência da forma dos arcos dentários e morfologia facial, em que a língua tende a se adaptar da maneira mais confortável no espaço oral existente. Assim, as atipias seriam consideradas transitórias e não patológicas. A pesquisa realizada esclareceu, aos profissionais envolvidos no trabalho de adequação, dento-cranial-facial, o ato de deglutição, suas variantes, causas, sinais e sintomas, Permitiu conhecer o mecanismo da deglutição nas fases de dentição mista, decídua e permanente bem como, suas atipias caracteristicamente normais em cada fase e padrão facial, facilitando assim, o diagnóstico e condutas, respeitando as possibilidades e limitações do trabalho. 37 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS - ALTMANN, E. B de C.; VAZ, A. C. N.; FARIA DE PAULA, M. B S; KHOURY, R. B. F. Tratamento precoce. In: ALTMANN, E. B. C. Fissuras labiopalatinas. Barueri, Pró-fono divisão editorial, 1992. p. 281 - 312. - ARAGÃO, W. Ortopedia dos maxilares. São Paulo, Pancast, 1992. p. 33 - 5. - BRAGA, G. C. & MACHADO, C. P. Deglutição atípica. In: PETRELLI, E. Ortodontia para fonoaudiologia. Curitiba, Lovise, 1992. p. 147-52. - CANONGIA, M. B. Reabilitando a deglutição. Rio de Janeiro, 1989. p. 13260. - DOUGLAS, C. R. 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