CEFAC
Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica
Motricidade oral
DEGLUTIÇÃO:
PROCESSO NORMAL E PATOLÓGICO
Luciana Maria Menin Ribeiro
Londrina
2000
RESUMO
O objetivo desta pesquisa teórica é realizar um estudo mais detalhado
dos aspectos normais e patológicos do processo de deglutição, abrangendo as
etapas de desenvolvimento, fatores etiológicos e conseqüências no esqueleto
crânio-facial.
Segundo
autores
pesquisados,
a
deglutição
apresenta-se
diferentemente de acordo com as fases de dentição decídua, mista e
permanente, tendo características posturais e funcionais dos órgãos fonoarticulatórios esperadas à cada fase, sendo estes dados fundamentais para
uma avaliação e diagnóstico mais precisos.
As alterações no processo de deglutição podem ocorrer por etiologias
genéticas, neurológicas, morfológicas, funcionais e outras, estando adaptadas
à morfologia existente ou atípicas com favorável crescimento dento-facial.
Há variações quanto à forma e freqüência de deglutição, de acordo
com o tipo do alimento, formação do bolo alimentar, intensidade do sabor e
demais aspectos relatados.
Portanto, o estudo pôde contribuir aos fonoaudiólogos e profissionais
de áreas afins, facilitando o diagnóstico e posterior conduta, considerando as
etiologias associadas, suas características, possibilidades e limitações de
trabalho.
ABSTRACT
The purpose of this theoretical research is to develop a more detailed
study of normal and pathological aspects of the swalloowing process, taking the
development stage, etiologial factors and consequences in the cranial-facial
skeleton.
According to the authors, the swallowing shows differently, according to
the stages of the deciduous, mixed and permanent teething, having posture and
functional features of the phono-articulatory organs, expected in each stage,
making assessment and diagnosis.
The alterations in the swallowing process may occur, for genetic,
neurological, morphological, and other aetiologies, being adapted to existent or
non-typical morphology, with favourable dent-facial growing.
There are variations as for the swallowing form and frequency,
according to the type of food, food mass formation, flavour intensity, and other
reported aspects.
Therefore, the study may help the speech pathologists and other
professional of similar areas, making easier the diagnosis and subsequent
conduct, considering the related aetiologies, their features, possibilities and
limitation of work.
SUMÁRIO
PÁGINAS
INTRODUÇÃO
01
DISCUSSÃO TEÓRICA
Definição de deglutição
03
Funcão
07
Freqüência de repetições
08
Fisiologia da deglutição
10
Evolução ontogênica da deglutição
17
Deglutição atípica e adaptada: definições e quadro clínico
22
Fatores que alteram o processo normal da deglutição
26
Conseqüências
29
Correlação forma oclusal-função de deglutição
31
CONSIDERAÇÕES FINAIS
36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
38
INTRODUÇÃO
Sabe-se
que
a
deglutição,
função
integrante
do
sistema
estomatognático, está presente no organismo desde o período fetal,
equilibrando
o
volume
de
líquido
amniótico.
O
feto
necessita
do
funcionamento precoce do sistema estomatognático, sendo a deglutição ativa
nesta fase, para estimular o crescimento facial no seu terço médio garantindo
a sobrevivência ao recém-nascido, por propiciar a respiração logo após seu
nascimento.
O objetivo da pesquisa é realizar um estudo mais detalhado do que se
denomina Deglutição, ou seja, ato de engolir alimentos de variados tipos e
consistências. Abrangerá considerações quanto as etapas do processo de
deglutição, estruturas, músculos e nervos participantes e, suas funções no
sistema estomatognático.
Há inúmeras variantes que interferem na freqüência diária deste
mecanismo e o mesmo apresenta características distintas de acordo com o
desenvolvimento e estabelecimento dentário. Assim, descreveremos o padrão
normal de deglutição esperado nas fases decídua, mista e permanente, os
aspectos que interferem em seu processo, conseqüências crânio-faciais,
musculares e funcionais da face, propiciando melhores possibilidades de
diagnóstico,
contatos
com
profissionais
envolvidos
no
caso
e,
conseqüentemente a realização de condutas e encaminhamentos necessários
ao caso.
1
É
de fundamental importância conhecer-mos as alterações no
crescimento do crânio e os diversos padrões de oclusão dentária dos
indivíduos com queixa ou mesmo, encaminhados como sendo deglutidores
atípicos com seus sinais, sintomas e etiologias variadas, pois sabe-se que as
alterações no ato da deglutição podem ser causa ou adaptações ao padrão
facial apresentado. Assim, faz-se necessário, permanentemente, buscar
conhecimentos teóricos atuais sobre o tema visando melhor avaliação,
diagnóstico, condutas e resultados dos casos clínicos.
2
DEFINIÇÃO DE DEGLUTIÇÃO
Em primeiro momento, descreveremos o ato de deglutição que, como
função estomatognática, é definida por PADOVAN (1975), MULLER DE
ARAÚJO (1988), CANONGIA (1989), MOLINA (1989), OKESON (1992),
MARCHESAN (1993 – 1998) e RODRIGUES (1998), como sendo uma função
biológica complexa e coordenada integrada ao sistema nervoso central,
apresentando um mecanismo sinérgico e antagônico de ações musculares
regidas por arcos reflexos. Este mecanismo, segundo LINO (1994), estimula o
desenvolvimento e definição de formas e contornos e estabiliza as diversas
estruturas. Qualquer desvio funcional ocasionaria deformações morfológicas,
configurando maloclusões.
Completando a afirmação acima DOUGLAS (1998) refere que esta
função estomatognática se completa mediante a integração no sistema
nervoso central de impulsos aferentes e eferentes, organizadas no centro da
deglutição, ou em circuitos intramurais esofágicos locais, nas porções mais
inferiores do esôfago.
Aparece, de acordo com MARCHESAN (1998), como a primeira
função a manifestar-se no feto, iniciando-se por volta do 2º trimestre de vida
intra-uterina, que para ALTMANN et al., (1992), vêm contribuir no equilíbrio do
volume do fluído amniótico. Neste momento de vida, as áreas corticais do
cérebro são imaturas e, o tronco encefálico é essencial para a deglutição.
Ainda com referência ao período fetal, RODRIGUES (1998) menciona que a
3
deglutição encontra-se ativa, ou seja, o sistema estomatognático inicia seu
funcionamento precocemente para estimular o crescimento do terço médio da
face, propiciando a respiração em seguida ao nascimento. Se o feto deglute o
líquido amniótico, significa que o sistema neurológico, especialmente encéfalo
e mesencéfalo, estão íntegros.
Na maturação normal, pré-natal, da neuromusculatura segundo
MOYERS & CARLSON (1993), ocorrem vários reflexos na região orofacial,
entre eles, a deglutição. Antes do nascimento, é preciso que a deglutição seja
ativa para que o recém nascido sobreviva.
Normalmente, de acordo com DUBRUL (1991), o ato de deglutição
move um bolo alimentar da região anterior da boca até o esôfago, seguindo
um rápido padrão de fluxo suave, interrompido por intervalos de hesitação
momentânea em certos pontos chaves do canal alimentar. É iniciado por
movimentos voluntários que manipulam o alimento em direção à entrada da
faringe nos pilares anteriores das fauces. O autor ainda constata que as
atividades de líquidos e sólidos apresentam diferenças e o comportamento de
deglutição do bolo e, a decisão de engolir, segundo OKESON (1992),
depende do grau de diluição do alimento, intensidade do sabor e o grau de
lubrificação do bolo alimentar.
Um fator importante na deglutição, conforme OKESON (1992), é a
estabilização mandibular, pois a mandíbula deve estar fixa de forma que haja
o controle do movimento do osso hióideo necessário para a deglutição. Este
controle é dado pela contração dos músculos suprahióideos e infra-hióideos.
A deglutição, conforme ROCHA (1998), exige controle neuro-motor
fino
com
a
participação
do
córtex
4
cerebral,
tronco
cerebral
e
aproximadamente 30 músculos e 06 pares de nervos encefálicos sendo:
trigêmeo (V), facial (VII), glossofaríngeo (IX), Vago (X), acessório espinhal
(XI) e hipoglosso (XII), que determinam impulsos sensoriais e motores.
Os impulsos sensoriais, de acordo com a mesma autora, fornecem a
sensação geral e o paladar. Os 2/3 anteriores da língua são inervados pelo
trigêmeo (V) e, o terço posterior tem inervação do glossofaríngeo (IX) que
inerva também as amígdalas, palato mole e faringe. O nervo vago (X) inerva
as porções posterior e inferior da faringe, laringe e vísceras. O paladar é dado
pelo facial (VII) nos 2/3 anteriores da língua e pelo glossofaríngeo (IX) no
terço posterior.
Os impulsos motores são vinculados pelo trigêmeo (V) para os
músculos miloióideo e digástrico na abertura bucal. O fechamento labial é
realizado pelo sétimo nervo
craniano e, o hipoglosso (XII) faz a
movimentação do alimento e sua propulsão posterior através da língua.
Ao descrever a Matriz Funcional Oronasofaringeana, ARAGÃO (1992)
informa que quando esta matriz está em equilíbrio, seu espaço apresenta-se
com uma pressão subatmosférica devido à deglutição. Após algum tempo
com a respiração nasal, a pressão atmosférica do meio ambiente invade o
espaço oronasofaringeano e reverte a pressão do seu interior, assim, faz-se
uma nova deglutição e restabelece-se a pressão subatmosférica na
oronasofaringe. Portanto, para este autor, a deglutição é um fenômeno que
mantêm a pressão subatmosférica do sistema estomatognático, pois essa
região oronasofaringeana
funciona como uma válvula de equilíbrio da
pressão subatmosférica entre o meio ambiente interno do corpo humano e o
meio ambiente externo.
5
O autor citado anteriormente considera que se houver vedamento
labial, inspiração e expiração nasal, válvulas velopalatina e glótica
funcionando harmonicamente, o ato de deglutição será automático, causado
pelo reflexo de estiramento da musculatura elevadora da mandíbula e da
diferença da pressão atmosférica no espaço oronasofaringeano. Esta pressão
após a deglutição, expandirá os seios maxilares, seios frontais, tuba auditiva,
orelha média e as células da mastóide.
6
FUNÇÃO
Após o conhecimento das várias definições apresentadas a
deglutição, segundo MOLINA (1989), MARCHESAN (1993) e DOUGLAS
(1998), apresenta a função fundamental de propulsão do alimento, líquido ou
sólido, já preparado no trato digestivo superior, para o estômago sendo
finalmente submetido ao processo digestivo.
Apresenta a função, conforme os autores, de servir como mecanismo
protetor para os tratos respiratório e digestivo, por apresentar condições de
aspirar partículas que tenham porventura entrado na laringe ou vias aéreas
superiores e retornado à faringe pela tosse ou outros mecanismos
respiratórios de retropulsão.
De acordo com os dois últimos autores citados,
deglutição
seria
como
mecanismo
protetor
ao
outra função da
remover
partículas
originariamente perdidas na nasofaringe ou retornando o material digestivo
que reflui do estômago para o esôfago ou faringe.
7
FREQÜÊNCIA DE REPETIÇÕES
Com o presente estudo, verificamos que o ato de deglutição ocorre
diferentemente, de acordo com os fatores variantes em questão. Assim,
alguns autores pesquisados como FERRAZ (1984), CANONGIA (1989),
MOLINA (1989) e MARCHESAN (1998), referem que o ato de deglutição
apresenta uma freqüência diária que varia de 2.000 à 2.600 vezes. No
entanto, OKESON (1992) e DOUGLAS (1998) constatam que no período de
24 horas ocorrem em média aproximadamente 590 deglutições e, BRAGA &
MACHADO (1992) fornecem dados referentes a 900 a 1.000 vezes durante o
decorrer do dia.
A freqüência em que ocorrem as deglutições pode variar conforme a
idade do indivíduo. Assim, MARCHESAN (1998) afirma que as crianças
apresentam uma média de deglutições de 600 a 1.000 vezes por dia, sendo
que no indivíduo adulto como foi descrito anteriormente, isto ocorre 2.000 à
2.600 vezes e, os indivíduos mais idosos, por terem menor quantidade de
saliva, deglutem menos vezes. Discordando desta afirmação, CANONGIA
(1989) apesar de não fornecer o número de freqüência, relata que as crianças
deglutem mais que os adultos.
A posição corporal do indivíduo é outro fator variante na freqüência,
que de acordo com o último autor citado, estando em supino ou sentado há
um aumento no número de deglutições.
Conforme MOLINA (1989) e MARCHESAN (1998), o período noturno
causa diminuição dos atos de freqüência da deglutição. Esta diminuição se
8
deve, de acordo com OKESON (1992) e DOUGLAS (1998), à queda no fluxo
de saliva à noite, atingindo uma média de 50 deglutições.
Durante as funções de fala e mastigação ocorrem aumentos na
freqüência de deglutições, conforme relatam OKESON (1992), DOUGLAS
(1998) e MARCHESAN (1998), por serem funções que requerem maior
produção de saliva. Ocorrem 146 ciclos de deglutições de alimentos durante o
dia, de acordo com OKESON (1992) e, 296 vezes do ponto de vista de
DOUGLAS (1998), sendo as demais, deglutições de saliva.
O nível de irritabilidade e o uso do ciclo de deglutição como
liberadores de tensão, de acordo com FERRAZ (1984) e CANONGIA (1989),
podem acarretar aumento na freqüência de deglutição.
O tipo de bolo alimentar e a presença de qualquer material dentro da
faringe, laringe ou esôfago, segundo DOUGLAS (1998), também ocasionam
modificações na freqüência de repetições da deglutição.
9
FISIOLOGIA DA DEGLUTIÇÃO
Para melhor compreender o ato de deglutição, PADOVAN (1975),
FERRAZ (1984), GOMES et al., (1985), ARAÚJO (1988), CANONGIA (1989),
MOLINA (1989), ALTMANN (1992), OKESON (1992), BRAGA & MACHADO
(1992), MARCHESAN (1993), SÁ FILHO (1994), LINO (1994) E DOUGLAS
(1998), descrevem-no em três fases sendo oral, faríngea e esofágica. De
acordo com RODRIGUES (1998) e MARCHESAN (1998), há uma fase
antecedente denominada de fase preparatória.
Fase Preparatória:
Esta fase, de acordo com RODRIGUES (1998), corresponde ao início
do processo digestivo, através da salivação, movimentação de língua e
mastigação. O Sistema Nervoso Central participa com cerebelo, sistema
nervoso autônomo na sua porção parassimpática, nervo trigêmeo (V), facial
(VII), hipoglosso (XII) e córtex encefálico. Segundo, MARCHESAN (1998),
nesta etapa observam-se tanto a mordida como a mastigação.
Fase Bucal:
A fase bucal é voluntária e consciente, controlada por vários nervos
cranianos e acontece durante aproximadamente 01 segundo, conforme
RODRIGUES (1998) e MARCHESAN (1998). Sendo voluntária, PADOVAN
(1975), CANONGIA (1989) e RODRIGUES (1998) concordam que esta fase
pode ser acelerada, retardada e interrompida. Quando alguma partícula
10
estranha surge na boca, consegue-se selecionar esta partícula e tirá-la da
cavidade bucal.
De acordo com os autores estudados, após a mastigação eficiente e
já estando formado o bolo alimentar, este é posicionado no sulco longitudinal
da língua à altura do terço médio, segundo LINO (1994), através de uma ação
de sucessão desencadeada por uma leve depressão da mandíbula e da
língua em que participam os músculos longitudinal superior e o genioglosso.
Há a aproximação passiva dos lábios devido à ação da musculatura
perioral, em que o último autor destaca os músculos orbiculares, caninos,
triangulares e mentalis. Os músculos elevadores da mandíbula, sendo
masséter, temporal e pterigoideo medial, entram em ação e se contraem
permitindo uma oclusão cêntrica, porém, conforme ALTMANN et al. (1992), a
oclusão dos molares não é fator indispensável para a deglutição normal, mas
sim, são os movimentos corretos da língua.
A língua passa a fazer uma elevação rítmica, em que a ponta levantase apoiando-se na papila palatina e face palatina dos incisivos superiores.
Suas margens selam-se com o palato, tocando às superfícies linguais dos
dentes posteriores e, seu dorso se curva para conter o bolo alimentar. Ocorre,
conforme LINO (1994), uma ondulação progressiva da língua pela ação dos
músculos longitudinais inferiores e o transverso, glosso-palatino e estiloglosso. Há a contração do músculo milo-hióideo, segundo MARCHESAN
(1993), SÁ FILHO (1994) e DOUGLAS (1998), que dispara o processo de
deglutição, tendo como conseqüência a elevação da parte anterior da língua
contra o palato duro, deslizando o bolo alimentar para trás, através dos
movimentos ondulatórios da língua. Há o fechamento do istmo das fauces, de
11
acordo com DUBRUL (1991), para prevenir a penetração prematura do bolo
na faringe. A pressão exercida pelo bolo alimentar nos pilares anteriores da
faringe, na base lingual e palato mole, determinam a geração de impulsos
nervosos que, por via aferente iniciam o reflexo da deglutição.
Enquanto o bolo alimentar é empurrado para trás, há a elevação da
faringe por ação dos músculos faringo-palatino, estilo-faríngeo, e salpingofaríngeo conforme relata LINO (1994) e, há também o movimento ânterosuperior do osso hióide, favorecendo a passagem do bolo alimentar para a
faringe.
Fase Faríngea ou Faringo-Laríngea:
Esta fase, de passagem do bolo alimentar para a faringe caracterizase de acordo com FERRAZ (1984), BRAGA & MACHADO (1992) e
DOUGLAS (1998), como consciente, involuntária e dependente de vários
reflexos. Estes reflexos, segundo RODRIGUES (1998), são provenientes do
Tronco Encefálico, núcleos do IX e X pares cranianos e substância reticular
ascendente.
O anel orofaríngeo por onde passa o bolo alimentar tem a função,
conforme constatam MARCHESAN (1993) e DOUGLAS (1998), de regular a
passagem de partículas de grande tamanho mal trituradas na mastigação.
Os músculos supra-hióideos, faríngeos, laríngeos e linguais, segundo
DOUGLAS (1998), se contraem de forma complexa. Alonga-se a faringe ao
mesmo tempo em que há parada respiratória.
O trânsito do bolo alimentar pela faringe é muito rápido, durando de
0,6 a 1,2 segundos conforme MARCHESAN (1998) e, a elevação do palato
12
mole e úvula contra a parede posterior faringeana fechando a nasofaringe,
evita o refluxo do alimento para o nariz orientando-o para o esôfago. Os
músculos elevadores e tensores do véu palatino o mantêm elevado e
tensionado para vedar a cavidade nasal, de acordo com LINO (1994),
destacando também que este vedamento se completa pela ação dos
músculos faringo-palatinos, tensão dos músculos glossopalatinos e, pela
elevação da base da língua. Por outro lado, segundo OKESON (1992) e
DOUGLAS (1998), há uma contração do músculo constritor médio e inferior
como uma onda contrátil perfeitamente coordenada, conduzindo o bolo
alimentar no sentido do esôfago.
Funcionalmente, ocorre ainda o fechamento da laringofaringe pela
inclinação posterior da epiglote, a glote se fecha por contração dos músculos
tireoaritenóideos e a laringe é puxada para cima e para frente pela contração
dos músculos infra-híoideos, conforme DOUGLAS (1998). O orifício superior
da laringe aplica-se contra a base da língua, fechando-se as vias aéreas e
suspendendo a respiração momentaneamente, o que vai evitar, segundo
CANONGIA (1989) e BRAGA & MACHADO (1992), a ocorrência de asfixia
por aspiração de algum alimento. Há a aproximação das pregas vocais de
acordo com SÁ FILHO (1994), chegando a se ocluírem na afirmação de
RODRIGUES (1998).
Fecham-se as trompas de Eustáquio como mecanismo de defesa
para o ouvido médio, de acordo com PADOVAN (1985), FERRAZ (1984),
MÜLLER de ARAÚJO (1988), BRAGA & MACHADO (1992) e RODRIGUES
(1998).
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Nesta fase laringo-faríngea, o último autor citado anteriormente
menciona um rebaixamento do músculo cricofaríngeo que relaxa o esfíncter
esofágico superior permitindo a passagem do bolo para sua luz. Concordando
com essa afirmação, DOUGLAS (1998) relata que este relaxamento gera uma
redução da pressão nesta região, orientando o fluxo faríngeo para demais
pontos do esôfago.
É importante lembrar, segundo PADOVAN (1975), que a cavidade
oral encontra-se vedada pelo fechamento labial e sucção de língua contra o
palato. Este vedamento tornará a pressão nos espaços nasais praticamente a
pressão da atmosfera e, a pressão intra-oral será menor que a nasal
resultando numa pressão negativa. Esta pressão negativa, conforme
RODRIGUES (1998), é que traciona o palato para baixo, aplainando-o, pois a
tendência é o deslocamento do palato para o lado de menor pressão.
Ocorre a reiniciação da respiração de acordo com PADOVAN (1975),
CANONGIA (1989), MOLINA (1989), BRAGA & MACHADO (1992), LINO
(1994), RODRIGUES (1998) e DOUGLAS (1998), associado à elevação do
osso híoideo pela ação dos músculos supra-hióideos e relaxamento dos
músculos constritores da faringe, acomodando o bolo alimentar. Em seguida,
há a contração do esfíncter faringo - esofágico e o bolo alimentar é
impulsionado para o esôfago.
Fase Esofágica:
Refere-se à passagem do bolo alimentar através do esôfago para o
estômago, conforme PADOVAN (1975) MÜLLER DE ARAÚJO (1988),
CANONGIA (1989), MOLINA (1989), BRAGA & MACHADO (1992), LINO
14
(1994), RODRIGUES (1998), MARCHESAN (1998), sob a ação dos
movimentos peristálticos como resultado de impulsos nervosos do nervo vago
segundo FERRAZ (1984).
É uma fase inconsciente e involuntária, de acordo com BRAGA &
MACHADO (1992), que apresenta uma duração média de 0,8 segundos na
afirmação de OKESON (1992) e MARCHESAN (1998), podendo atingir 20
segundos conforme RODRIGUES (1998). Este último autor afirma que assim
que o bolo alimentar passa pelo esfíncter esofágico superior, relaxado pela
ação dos músculos cricofaríngeos, a laringe retoma a sua posição normal e o
tônus muscular do esfíncter aumenta. Associado a isto, FERRAZ (1984),
CANONGIA (1989), MARCHESAN (1998) e DOUGLAS (1998) referem que há
o relaxamento do músculo milo-híoideo. Abre-se a glote, há a descida do véu
palatino, a mandíbula volta à sua posição natural, a língua retorna à posição
de repouso e inicia-se a respiração normal, que foi interrompida, de acordo
com MARCHESAN (1998), durante 0,1 segundo, ou menos, na fase anterior.
A etapa esofágica está bastante ligada à fase faringo-laríngea,
segundo DOUGLAS (1998), mas pode separar-se quando ocorrem uma
seqüência de rápidas respostas faríngeas. Este autor cita o exemplo de
quando se bebe em um copo, sendo que cada gole inicia a fase bucal e
faríngea, porém, os movimentos peristálticos do esôfago inibem-se até que se
haja produzido o último ato de deglutição em seqüência.
Existem variações na motilidade esofágica, ainda conforme o último
autor, em decorrência dos impulsos aferentes existentes no esôfago. Assim, a
deglutição de alimentos quentes aumenta a velocidade e amplitude do
movimento peristáltico do esôfago e o contrário ocorre em substâncias frias.
15
Este peristaltismo esofágico pode ser retardado e descoordenado
quando ocorre a deglutição de substâncias ácidas.
Figura retirada de FERRAZ (1984).
16
EVOLUÇÃO ONTOGÊNICA DA DEGLUTIÇÃO:
Sabe-se, conforme BRAGA & MACHADO (1992), que a deglutição é
um processo que se verifica desde a vida fetal e se produz diferentemente
antes e após o aparecimento dos dentes. De acordo com DOUGLAS (1998),
na segunda metade do 1º ano de vida produzem-se modificações importantes
no sistema estomatognático, alterando o funcionamento dos músculos
orofaciais. A faringe se alonga, há mudanças no esqueleto facial e erupção
dentária. Consequentemente, a deglutição infantil vai se transformando num
padrão de deglutição adulta.
Ao descrever o desenvolvimento da deglutição, MOYERS (1984)
destaca que é essencial o conhecimento do processo normal e da ordem
natural em que ocorrem as fases da deglutição, como base para o tratamento
de qualquer parte do sistema oclusal ou facial.
A evolução ontogênica da deglutição é dividida em: deglutição infantil
ou visceral, período transicional e deglutição madura.
Deglutição infantil ou visceral:
De acordo com o último autor citado, esta fase é vista no recémnascido e desaparece gradualmente com a irrupção dos dentes posteriores
na
dentição
mista.
Ocorre,
segundo
MOLINA
(1989),
antes
do
estabelecimento definitivo da oclusão decídua.
Em relação às características que definem esta fase, FERRAZ (1984),
MOYERS (1984) CANONGIA (1989), MOLINA (1989), VANDER LINDEN
(1990), OKESON (1992), BRAGA & MACHADO (1992), MOYERS &
17
CARLSON (1993), SÁ FILHO (1994) e DOUGLAS (1998) consideram que a
língua encontra-se posicionada entre os coxins gengivas ou superfícies
incisais dos dentes, mantendo separados a maxila e a mandíbula. A
estabilização mandibular ocorre mediante a contração dos músculos do
sétimo par de nervos cranianos e, interposição lingual.
A deglutição é iniciada e controlada pelas sensações que partem de
receptores labiais e linguais e, conforme
MOLINA (1989), há pouca ou
nenhuma participação do masséter e ocorre a contração aumentada do
músculo mentalis.
Figura retirada de PETRELLI (1992).
Período Transicional:
A transição da deglutição infantil para a madura demora de 12 a 15
meses, de acordo com DOUGLAS (1998), resultando numa mescla dos
elementos das duas deglutições, segundo MOYERS (1984), durante a primeira
dentição e algumas vezes no início da dentição mista.
18
Neste período, conforme afirmam CANONGIA (1989) e DOUGLAS
(1998), colaboram a maturação dos principais eventos do desenvolvimento
neuromuscular orofacial, o posicionamento ereto da cabeça e a mudança na
direção
das
forças
gravitacionais
sobre
a
cabeça
e
a
mandíbula.
Complementando a afirmação, MOYERS & CARLSON (1993) referem que
também colaboram neste período o desejo instintivo de mastigar, a habilidade
necessária para manusear alimentos sólidos, o desenvolvimento da dentição, e
outros. Todos estes aspectos, ocasionam a modificação da deglutição infantil
para a adulta. Nesta fase de transição, MOYERS (1984) constata que há o
aparecimento de contrações dos elevadores da mandíbula durante a deglutição
e, pode haver uma pequena contração labial para manter a vedação.
Algumas vezes, a transição normal não ocorre mantendo-se o padrão
infantil que de acordo com VANDER LINDEN (1990) provavelmente relacionase à necessidade instintiva de manter a desobstrução das vias aéreas
enquanto não está ocorrendo a deglutição. As crianças de 03 a 10 anos,
segundo o mesmo autor, mostram modelos intermediários de padrões de
deglutição entre a infantil e a adulta. A manutenção da deglutição infantil
ocorre, conforme OKESON (1992), devido à falta de suporte dentário ou
posição não propícia dos dentes ou do arco. Pode haver também desconforto
durante o contato dental devido a cáries ou dentes sensíveis, podendo resultar
em deslocamento labial dos dentes anteriores pelos fortes músculos da língua.
Deglutição Madura ou adulta:
Começa geralmente a aparecer na metade do 1º ano de vida, segundo
MOYERS & CARLSON (1993). A chegada dos incisivos induz movimentos e
posições mandibulares mais precisas, impõe uma postura mais retraída da
19
língua e inicia-se o aprendizado da mastigação. Ocorre freqüentemente, ainda
conforme o autor, entre 1 e 2 anos de idade, mais precisamente aos 18 meses
segundo FERRAZ (1984), CANONGIA (1989) e BRAGA & MACHADO (1992).
Assim que a oclusão bilateral posterior é estabelecida, com a erupção
do primeiros molares decíduos, MOYERS & CARLSON (1993) afirmam que
começam a surgir movimentos reais de mastigação e inicia-se o aprendizado
da deglutição madura. Gradualmente, segundo FERRAZ (1984), CANONGIA
(1989), MOLINA (1989), BRAGA & MACHADO (1992), MOYERS & CARLSON
(1993) e DOUGLAS (1998), os músculos do 5º nervo craniano (trigêmeo)
assumem o papel de estabilização mandibular, enquanto que os músculos
faciais deixam de agir na sucção e deglutição infantil, para assumir, de acordo
com o último autor relatado, funções como a articulação e a expressão facial.
A deglutição madura envolve a oclusão de todos os dentes conforme
VANDER LINDEN (1990), com a língua tocando a parte anterior do palato,
acima e atrás dos incisivos. Há contrações mínimas dos lábios e músculos
faciais.
O posicionamento normal da língua durante a deglutição, segundo
MOLINA (1989), depende do seu próprio tamanho em relação à largura e
comprimento do osso maxilar, da anatomia do palato duro, da sobressaliência,
inclinação ou torque dos incisivos superiores no sentido vestibulolingual.
O grau de atividade labial durante a deglutição madura normal,
depende conforme
MOYERS (1984), da habilidade da língua para vedar
completamente contra os dentes e o processo alveolar.
A deglutição madura, de acordo com VANDER LINDEN (1990), não
ocorre de maneira uniforme. A deglutição de sólidos necessita de oclusão
20
dentária, porém, a deglutição de saliva ou alimentos pastosos nem sempre
ocorre com os dentes em oclusão.
Figura retirada de PETRELLI (1992)
Deglutição infantil persistente:
Caracteriza-se, segundo MOYERS (1984) pelo padrão de deglutição
infantil após a erupção dos dentes permanentes. Felizmente são casos raros.
Nestes casos, os indivíduos apresentam fortes contrações labiais e de
musculatura
facial. Há interposição frontal e lateral da língua, muitas
dificuldades na mastigação que ocorrem entre a ponta da língua e palato
devido à alterações nos contatos oclusais. O alimento freqüentemente é
colocado sobre o dorso da língua.
21
DEGLUTIÇÃO ATÍPICA E ADAPTADA: DEFINIÇÕES E QUADRO CLÍNICO
A Deglutição Atípica é definida, de acordo com PADOVAN (1975),
FERRAZ (1984) e MÜLLER DE ARAÚJO (1988), como sendo o rompimento
do mecanismo harmônico da deglutição, ocasionando anomalias. Ocorre
aproximadamente em 60% do indivíduos portadores de maloclusão.
RODRIGUES (1998) relata que o termo “Deglutinação Atípica” é
deficiente por não referir a posição da língua que, estará alterada não
somente no ato de deglutir, mas também nas funções de respiração, fonação,
articulação fonêmica, mastigação, mímica facial, postura de cabeça e
pescoço, propriocepção, olfato e degustação. Portanto, o autor dá preferência
ao termo “Pressões Atípicas da Língua” relacionando as suas possíveis
etiologias e manifestações no sistema estomatognático.
O termo Deglutição Atípica, conforme constata MARCHESAN (1998),
constitui-se na movimentação inadequada da língua e/ou demais estruturas
participantes do ato da deglutição, sem associação à alterações de forma na
cavidade oral. Há alteração somente na função de engolir, durante o
processamento da Fase Oral (MARCHESAN & JUNQUEIRA – 1998).
Quando o processo de deglutição encontra-se alterado, existem
caraterísticas que o identifica, conforme mencionam PADOVAN (1975),
FERRAZ (1984), MÜLLER DE ARAÚJO (1988), BRAGA & MACHADO (1992)
e MARCHESAN (1998). Há interposição e pressionamento atípico da língua,
contração da musculatura perioral, ausência de contração dos masséteres
durante a mastigação de alimentos sólidos, contração do mentalis,
interposição de lábio inferior visando facilitar o vedamento anterior. Ocorrem,
22
ainda, movimentos de cabeça normalmente em decorrência da
má
mastigação e para facilitar a acomodação do bolo alimentar na faringe. Com
exceção do último autor citado os demais ainda relatam a presença de sopro
ao invés de sucção, desvios na fonação de /t, d, n, l, s, z/, cuspe ou acúmulo
de saliva na cavidade oral, sialorréia noturna e má ingestão de pílulas.
Indivíduos com atipias na deglutição, segundo MOLINA (1989),
apresentam contração nos músculos do mento e dos lábios, posição anormal
da língua induzindo uma separação entre os dentes anteriores. A posição
anteriorizada da língua evita um padrão normal de deglutição.
O mesmo autor refere que os hábitos de deglutição disfuncionais
quando associados à problemas respiratórios, podem acarretar alterações
irreversíveis no padrão de crescimento craniofacial e perpetuar um
mecanismo de deglutição atípico e respiração bucal já existentes.
Entre as deglutições atípicas mais comuns, conforme GOMES et al.
(1985), LINO (1994) e DOUGLAS (1998), estão as formadas de interposição
ou pressão atípica de lábios ou língua.
Em relação à deglutição com interposição do lábio inferior entre os
dentes anteriores superiores pode-se observar, segundo LINO (1994),
apinhamentos dentários anteriores com inclinação lingual principalmente dos
dentes superiores. Se o lábio superior estiver hipotônico, pode haver também
uma inclinação vestibular dos incisivos superiores. Ocorre, de acordo com
GOMES et al. (1985), em casos extremos de sobressaliência, tentando vedar
a cavidade bucal no momento da deglutição. No início do ato de deglutição, a
mandíbula desliza para atrás para conseguir a oclusão e o lábio inferior
coloca-se atrás dos incisivos superiores.
23
Na deglutição com interposição lingual ocorrem desequilíbrios
musculares, pois a língua se aloja entre os incisivos, molares ou pré-molares
e segundo GOMES et al. (1985), esta apresenta uma influência dental e
alveolar capaz de produzir protrusão dos dentes incisivos e/ou laterais. Assim,
de acordo com LINO (1994), a pressão anterior da língua conduz à mordida
aberta anterior, mordida aberta com severa inclinação anterior dos incisivos
superiores, associada ou não à mordida cruzada. Pode haver ainda, pressão
lateral de língua ocasionando mordida aberta lateral, ligado ou não à mordida
cruzada posterior do lado oposto. Há casos, de acordo com os dois últimos
autores, em que ocorre tanto pressão lingual anterior como lateral.
Ainda com relação à deglutição com interposição de língua, MOLINA
(1989) refere que esta pode ocorrer por requisitos funcionais, como,
crescimento diminuído da maxila seja lateral ou anterior, associado com o
tamanho aumentado da língua. A posição da língua entre os dentes, para este
autor, pode ser em decorrência de adaptação à necessidades respiratórias do
indivíduo, ocasionando um padrão de deglutição atípica. Em caso de mordida
aberta, relata que a língua tende a se adaptar ao espaço disponível.
A deglutição com interposição lingual, conforme VANDER LINDEN
(1990), não é causa de mordida aberta, mas uma modificação adaptadora da
função e resulta da forma anormal dos dentes pela posição anormal da língua
e dos lábios. Refere que a posição lingual e labial, principalmente em
repouso, está relacionada com a forma dos arcos dentários e morfologia
facial.
De acordo com MARCHESAN & JUNQUEIRA (1998), é muito
importante observar nas atipias da deglutição, se a oclusão permite uma
24
posição correta e confortável da língua. O padrão de deglutição, segundo as
autoras, parece adaptar-se à morfologia local existente de acordo com o tipo
oclusal. A língua adapta-se à forma, à alterações em outras funções
estomatognáticas e à idade do indivíduo, principalmente na fase de dentição
decídua ou mista. As mesmas autoras ainda mencionam que é de
fundamental importância pesquisar-se as possíveis razões das alterações da
deglutição, para que se possa agir sobre as causas e não somente nos sinais
e sintomas, como a projeção lingual.
Confirmando o relato acima MARCHESAN (1998) considera que
quando pré-existe algum problema, como má oclusão ou respiração bucal,
haverá movimento inadequado de língua ou demais estruturas que participam
da deglutição, por adaptação à forma da cavidade oral, tipo facial, ou à
características das funções estomatognáticas.
25
FATORES QUE ALTERAM O PROCESSO NORMAL DA DEGLUTIÇÃO:
Durante o estudo em questão, vários autores relatam as possíveis
causas do rompimento do mecanismo sinérgico da deglutição, relacionadas à
fatores anatômicos, genéticos, funcionais e neurológicos.
De acordo com MOLINA (1989), as etiologias seriam originadas por
mal oclusões, posicionamento lingual anterior, hipertrofia de amígdalas e
adenóides,
rinites,
doenças
crônicas
da
garganta
predispondo
um
abaixamento e anteriorização da língua, presença de hábitos orais e
contração dos músculos da expressão facial, mento e lábios.
Segundo MARCHESAN (1993), também são causas de alterações na
deglutição a hipotonia de língua e de bochechas, palato duro estreito ou alto,
má formação do bolo alimentar, permanência do padrão infantil, trocas
dentárias, mal oclusões como classe II devido a interposição de lábio inferior
ou arcada estreita não permitindo o acoplamento lingual, alterações
anatômicas e contração da musculatura perioral.
Outro autor que faz referências às causas da deglutição atípica, diz
respeito a LINO (1994), relatando que podem ocorrer alterações nos centros
nervosos superiores, principalmente em crianças nervosas excitáveis e que
apresentam contração exagerada da musculatura facial no período de
sucção. Considera também o enfartamento das tonsilas, macroglossia ou
anquiloglossia em que há perda dos movimentos linguais, freio lingual com
inserção ampla, perdas precoces de dentes, diastemas anteriores, estado
nutricional, respiração bucal, hábitos de sucção e, permanência de hábitos
alimentares na primeira infância.
26
Conforme o relato de SÁ FILHO (1994), existem causas neurológicas
como a hipossensibilidade do palato mole e a imprecisão da função oral.
Pode haver um padrão genético determinante, hábitos de chupeta ou
mamadeira,
comprometimento
na
maturação
do
Sistema
Nervoso.
Concordando com os autores citados anteriormente, constata a hipertrofia de
amígdalas e constrição das arcadas dentárias.
Complementando as referências
etiológicas, RODRIGUES (1998)
afirma que podem haver síndromes congênitas afetando o esqueleto crâniofacial, tumores, traumas com lesões ósseas dentárias, musculares e de nervo
periférico. Menciona ainda, as obstruções nasais, hábitos de sucção de
chupeta ou dedo, ausência ou tempo reduzido de amamentação materna,
manutenção dos padrões infantis e, lesões de tronco encefálico e
mesencéfalo.
De acordo com MAGISTRIS & DOUGLAS (1998), a causa mais
importante é a respiração bucal devido à sua má eficiência fisiológica. Relata
também as hipertrofias das adenóides, rinites alérgicas - vasomotoras ou não,
desvios anatômicos ou sequelas de acidentes nasais, hábitos infantis como
sucção de chupeta e/ou dedo. Estes fatores que alteram a passagem aérea
pelas fossas nasais, segundo MAGISTRIS & DOUGLAS (1998), ocasionam
uma utilização exagerada da cavidade oral, com o aumento de pressão e
elevação do palato para um ponto muito mais elevado.
A deglutição está associada, segundo MARCHESAN (1980), à
características craniofaciais, postura inadequada de cabeça, alterações de
tônus, mobilidade e propriocepção de língua, lábios, bochechas e palato
27
mole, tipo de oclusão dentária e mordida, idade do indivíduo, tipo e
consistência alimentar.
Fatores relacionados à idade são favoráveis à atipias da deglutição,
segundo MARCHESAN & JUNQUEIRA (1998), informando que a fase de
dentição mista e suas condições anatômicas, principalmente da faringe e,
fisiológicas, até a idade de 08 e 12 anos proporcionam o seu aparecimento,
como algo transitório e não patológico.
Para as autoras acima, a diferença de crescimento entre a língua e a
cavidade oral na fase de dentição decídua, também favorecem à uma posição
anteriorizada de língua na deglutição. O crescimento da língua atinge o
máximo
de
seu
aproximadamente
tamanho
aos
entre
08
08
anos
e
28
12
já,
a
mandíbula
anos
de
cresce
idade.
CONSEQÜÊNCIAS:
Na deglutição atípica, conforme BRAGA & MACHADO (1982), a ponta
da língua é pressionada entre os dentes incisivos e seus bordos laterais ou,
pode projetar-se entre os dentes pré-molares e molares ocasionando mordida
aberta e /ou anterior.
Indivíduos com padrão atípico de deglutição, de acordo com MOLINA
(1989), apresentarão estreitamento da região palatal mediana da maxila,
protrusão dos dentes anteriores superiores e inferiores, posicionamento dos
dentes anteriores inferiores, para lingual, devido à super contração dos
músculos do mento e lábios. Estes dentes podem ficar mais verticalizados e,
com apinhamentos.
A deglutição atípica, segundo MAGISTRIS & DOUGLAS (1998), traz
conseqüências odontológicas sérias, depois, digestiva e até disfunção da
articulação têmporo-mandibular.
Estes autores constatam que fatores causais da respiração bucal,
ocasionam
aumento
da
respiração
bucal
elevando
o
palato
e,
conseqüentemente exigem uma ondulação de língua com muito esforço.
Os mesmo autores relatam que a arcada dentária superior,
principalmente da região molar para posterior, tende a dirigir-se para a porção
mediana do palato, inclinando-o para dentro resultando uma mordida
“cruzada” com conseqüências na eficiência mastigatória.
Para estes autores, o mais importante na deglutição atípica é a
ocorrência de pequena elevação na dimensão vertical, pelos desarranjos
dentários. Os dentes superiores anteriores por falta de espaço tendem a
29
migrar anteriormente desocluindo-se, projetando a arcada associado a papila
incisiva.
MAGISTRIS & DOUGLAS (1998) afirmam ainda que, a projeção da
ponta e da região dorsal da língua influenciará na pronúncia dos fonemas
línguo-dentais (t, d, n, l, s, z), contribuindo na deformação e criando
desconforto fonoarticulatório e mastigatório. Isto é evidente na mordida
aberta. Em repouso, alteram-se os músculos da mímica gerando hipotonia
labial.
Os últimos autores citados referem-se à ocorrência de aumento da
distância entre a ponta da língua e o esfíncter esofágico superior, gerando um
aumento no tempo de transporte da deglutição e sua freqüência. Isto
ocasiona dor intensa no decorrer da passagem do bolo alimentar até o
estômago, desvios do alimento atingindo a traquéia ou glote provocando
engasgos ou tosses.
30
CORRELAÇÃO FORMA OCLUSAL-FUNÇÃO DE DEGLUTIÇÃO
Discorremos neste momento, sobre a alteração na função de
deglutição em diversas má oclusões visando facilitar a compreensão dos
casos.
De acordo com PETRELLI (1992), a classificação de má oclusão é a
divisão em classes de anomalias semelhantes em tipo e forma do desvio,
grau e natureza comparado ao que se considera de oclusão normal.
Classificação de Angle:
Esta classificação baseia-se nas relações ântero-posteriores dos
maxilares entre si.
Na classe I, de acordo com MÜLLER DE ARAÚJO (1988) e
PETRELLI (1992), a relação mesio-distal entre os primeiros molares
permanentes está adequada, ou seja, a cúspide mesio-vestibular do primeiro
molar superior permanente oclui no sulco mesio-vestibular do primeiro molar
inferior permanente. Segundo MOYERS (1984), o problema é freqüentemente
de origem dentária, acarretando mordidas abertas, mordidas profundas,
biprotusões e mordidas cruzadas (PETRELLI, 1992). Observam-se ainda,
nesta classificação, conforme relatam MÜLLER DE ARAÚJO (1988) e
MARCHESAN (1993), apinhamentos dentários na região anterior tanto
superiores como inferiores e, principalmente de caninos e incisivos.
Classe II:
Nesta má oclusão, MOYERS (1984) e MÜLLER DE ARAÚJO (1988)
destacam que a posição distal da mandíbula com a maxila, de tal forma que a
31
cúspide mesio-vestibular do primeiro molar permanente superior oclui com a
vertente distal do segundo pré-molar inferior. Há anteriorização dos dentes
superiores frontais.
Pode ser dividida em classe II divisão 1 e, classe II divisão 2. Na
classe II
superiores
divisão 1, conforme o último autor citado, os quatro incisivos
encontram-se
sobressaliência
à
frente
dos
inferiores
ocasionando
um
e há, segundo PETRELLI (1992), labioversão dos incisivos
superiores. A língua não encosta no palato durante o repouso devido à atresia
do mesmo.
Na classe II divisão 2, de acordo com MÜLLER DE ARAÚJO (1988),
os incisivos laterais encontram-se à frente dos inferiores e os incisivos
centrais superiores estão numa posição bem vertical em relação aos
inferiores. A arcada superior dificilmente é atrésica conforme
PETRELLI
(1992) e, freqüentemente há mordida profunda.
Classe III:
A classe III é definida por MOYERS (1984) e MÜLLER DE ARAÚJO
(1988), como a relação mesial do primeiro molar inferior com o superior,
estando toda a arcada inferior colocada mesialmente em relação aos dentes
superiores. Há prognatismo mandibular e, de acordo com PETRELLI (1992), é
comum ocorrer mordida cruzada anterior e incisivos inferiores em
linguoversão.
32
Mordida Aberta:
Há, na afirmação de MOYERS (1984), ausência de oclusão
normalmente na região anterior da boca e, algumas vezes, na região
posterior. Os incisivos centrais superiores devem encobrir em 1/3 os incisivos
centrais inferiores, se isto não ocorrer, MARCHESAN (1993) considera que
haverá mordida aberta anterior.
Mordida Cruzada:
Nesta má oclusão MOYERS (1984) destaca que as cúspides
vestibulares de alguns dentes póstero-superiores ocluem lingualmente às
cúspides vestibulares dos dentes inferiores.
A face humana compõe-se de múltiplos aspectos que diferem de um
indivíduo para outro, com relação ântero-posterior e vertical da fronte, nariz,
maxila, madíbula e mento conforme VANDER LINDEN (1990). Em relação ao
plano vertical, encontramos indivíduos dólico-faciais ou face longa e estreita
e, braquiofaciais ou face curta e larga.
Deglutição X Classe II:
De acordo com KRAKAUER (1995) e MARCHESAN (1998),
observam-se interposição do lábio inferior atrás dos incisivos superiores
ocasionando contração anormal do mentalis. Há tendência de anteriorizar a
mandíbula para aumentar o espaço intra-oral. O lábio superior encontra-se
hipotônico e há interposição lingual conforme FERRAZ (1984). O palato duro
estreito, segundo MARCHESAN (1993) altera o posicionamento de língua na
papila e há alteração articulatória em /k, g, p, b, m/.
33
Deglutição X Classe III:
Há mau posicionamento de língua e dificuldade na oclusão labial,
segundo MARCHESAN (1993). O lábio inferior é hipotônico e, o inferior é
hipertônico.
KRAKAUER (1995) informa que a deglutição ocorre com pressão
atípica de dorso de língua e participação da musculatura perioral,
anteriorizando a língua. Ainda constata a movimentação associada de cabeça
ao deglutir.
Deglutição X Mordida Aberta:
Neste tipo de má oclusão ocorre a protrusão lingual, segundo
FERRAZ (1984), MARCHESAN (1993) e KRAKAUER (1995). A língua, de
acordo com VANDER LINDEN (1990), tende a permanecer entre os dentes
anteriores ou laterais por adaptação habitual da função devido à má oclusão
dentária. Mesmo que ela não seja a causadora da mordida aberta,
MARCHESAN (1998) afirma que ela poderá agravar ou manter a mordida
aberta.
Deglutição X Mordida Cruzada:
Na mordida cruzada unilateral, MARCHESAN (1993) informa a
ocorrência de diminuição vertical deste mesmo lado com masséter encurtado
do lado cruzado e, hipotônico do lado oposto.
A deglutição, de acordo com FERRAZ (1984) acontece com protrusão
lingual anterior ou lateral.
34
Deglutição no indivíduo dolicocéfalo:
Neste padrão facial, segundo KRAKAUER (1995), há deglutição com
interposição de língua e participação ativa da musculatura perioral. Pelo fato
de existir maior espaço vertical intra-oral, observa-se grande esforço no ato
de deglutição.
Deglutição no indivíduo braquicefálico:
A autora anterior considera que a deglutição neste tipo facial, estará
facilitada pela diminuição vertical do espaço intra-oral.
35
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A deglutição é uma função biológica que ocorre de maneira rápida e
coordenada, integrada ao Sistema Nervoso Central. É a primeira função do
sistema estomatognático a manifestar-se no feto indicando que o sistema
neurológico está íntegro.
Em nossa prática clínica, podemos afirmar que aproximadamente
50% dos casos nos procuram ou são encaminhados com queixa de
deglutição atípica e, o estudo em questão, mostrou que o ato de deglutir
ocorre diferentemente conforme o tamanho e consistência do alimento,
intensidade do sabor, idade oclusal, e outros. Na deglutição infantil, presente
até o aparecimento dos dentes posteriores, é considerado normal o
alojamento da língua entre os dentes separando a maxila e a mandíbula. Com
a erupção dos primeiros molares decíduos, em torno de 18 meses,
estabelece-se a deglutição madura com posição mandibular definida e língua
mais retraída. Entre 3 a 10 anos, ocorre o desenvolvimento neuromuscular
orofacial, o aprimoramento da posição de cabeça e o uso de alimentos mais
sólidos, observando-se, assim, a transição da deglutição infantil para madura.
Existem inúmeras etiologias de falhas no mecanismo sinérgico da
deglutição, englobando os fatores anatômicos, genéticos, funcionais,
neurológicos e outros; ocasionando conseqüências odontológicas, digestivas
e disfunção na articulação têmporo - mandibular.
Na análise das atipias da deglutição, verificamos que alguns autores
consideram a posição anormal da língua responsável por diastemas
36
anteriores, protrusão dos dentes incisivos e/ou laterais e, mordida cruzada.
Em contrapartida, outros autores pesquisados relatam que a língua não é
causa, mas conseqüência da forma dos arcos dentários e morfologia facial,
em que a língua tende a se adaptar da maneira mais confortável no espaço
oral existente. Assim, as atipias seriam consideradas transitórias e não
patológicas.
A pesquisa realizada esclareceu, aos profissionais envolvidos
no
trabalho de adequação, dento-cranial-facial, o ato de deglutição, suas
variantes, causas, sinais e sintomas, Permitiu conhecer o mecanismo da
deglutição nas fases de dentição mista, decídua e permanente bem como,
suas atipias caracteristicamente normais em cada fase e padrão facial,
facilitando assim, o diagnóstico e condutas, respeitando as possibilidades e
limitações do trabalho.
37
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41
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DEGLUTIÇÃO: PROCESSO NORMAL E PATOLÓGICO