OR Melhoramento de Sementes Ltda. Comunicado Técnico CT-01 - Fevereiro de 1999 Uso de Adubação Nitrogenada no Espigamento Para Melhorar a Qualidade Industrial do Trigo. Ottoni Rosa Filho* O triticultor brasileiro aprendeu muito nos últimos anos em termos de qualidade industrial de trigo, já que este aspecto passou a ter elevada importância na comercialização de seu produto. Expressões como “estabilidade”, “Força de Glúten” e até “P/L” passaram ao vocabulário do triticultor. Este hoje somente usa uma ferramenta para controlar a qualidade do produto final: escolhe cultivares ditas “superiores” ou “melhoradoras”, o que não garante uma boa classificação para o produto final. grãos, peso hectolítrico, peso de mil sementes, porcentagem de proteína no grão e a alveografia (Força de Glúten (W), Tenacidade (P), Extensibilidade (L) e a relação P/L). A porcentagem de proteína foi realizada pelo laboratório da CIENTEC, em Porto Alegre, RS, e a alveografia foi realizada pela Granotec, em Curitiba, PR. Resultados 1- Porcentagem de Proteína no Grão Amostragem realizada em 10 empresas (7 cooperativas e 3 produtores particulares) na safra de 1998, com colaboração da Universidade de Passo Fundo, permitiu a identificação do problema principal: baixos teores de proteína no grão, conforme Figura 1. O teor de proteína médio de 50 amostras da cultivar OR-1 colhidas na região Norte do Paraná foi de 11,6%, bastante baixo para trigos produzidos para panificação. Acredita-se que a causa disto seja a ocorrência de chuvas bem acima da normal para a região, aumentando substancialmente os rendimentos de trigo nas lavouras (muitos rendimentos entre 4 e 5 toneladas por hectare) e paralelamente baixando a concentração de proteína no grão, fenômeno conhecido em outros países. Na Figura 2 pode-se observar claramente o crescente aumento da porcentagem de proteína nos grãos em função das diferentes doses de ANE usadas. Este é o objetivo principal da ANE: incrementar a disponibilidade de N dentro da planta no período do enchimento de grãos para gerar um aumento na concentração de N nos grãos. 15 14 13 % de Proteína 12 16 11 14 10 12 10 Nº de Amostras 9 8 8 6 Controle 4 10 20 30 40 Doses de N ( kg de N/ha) 2 0 10 10,5 11 11,5 12 12,5 13 13,5 Mais % de Proteína Figura 1- Distribuição da % de Proteína na cv. OR-1 na safra 98 no Norte do Paraná. Considerando-se que a porcentagem de proteína no grão está diretamente relacionada com a disponibilidade de nitrogênio na planta durante o enchimento de grãos, estudamos o uso da Adubação Nitrogenada no Espigamento (ANE), com 25% de espigamento, como forma de suprir o nitrogênio necessário para a formação de grãos com bons teores de proteína (13 a 15%) e alto valor comercial. Material e Métodos O experimento foi realizado em uma lavoura de trigo da cultivar Rubi, na Sementes Butiá, Coxilha, RS, na safra de 1998. O ensaio contou com cinco tratamentos: controle, 10, 20, 30 e 40 kg de N/ha aplicados com 25% de espigamento, na forma de uréia. No plantio foi usada uma adubação de 250 kg/ha de 10-20-20 e 100 kg de uréia como cobertura antecipada, aplicada antes do plantio, em resteva de milho, que utiliza bastante N para decomposição da palha. Usou-se um delineamento de blocos casualizados com 4 repetições e parcelas de 30 m2 (10mx3m) e área útil de 20m2. Foram realizadas as seguintes determinações: rendimento de Figura 2- Variação da porcentagem de proteína do grão nas diferentes ANEs na cv. Rubi, 1998. Os pontos vermelhos indicam a média de cada tratamento e a linha vermelha a tendência destas médias. Considerando-se que (1) as proteínas são compostos ricos em N e necessitam boa disponibilidade deste elemento para serem sintetizadas e (2) o amido é um composto muito pobre em N, pode-se concluir que na falta de N a planta diminui a síntese de proteínas no grão e aumenta a síntese de amido, gerando grãos com baixa concentração de proteína. A ANE aumenta a disponibilidade de N justamente antes do enchimento de grãos, permitindo que maiores quantidades de proteína sejam sintetizadas. 2- Força de Glúten Na Figura 3 observa-se o aumento da Força de Glúten (W) em função das diferentes doses de ANE. Pode-se observar que a lavoura apresentou W médio de 210 e mesmo na dose de 10 kg de N/ha houve considerável resposta. Na ANE de 20 kg de N/ha foi obtida uma média de W=250, melhorando bastante a classificação e aproximando-se do valor de 300 necessário para obtenção de Trigo Melhorador. Estes resultados preliminares indicam que existem muitas formas de manejar qualidade industrial no campo: tanto pode ser uréia como poderia ser outro fertilizante nitrogenado, tanto em forma sólida como líquida (adubação OR Melhoramento de Sementes Ltda foliar). O essencial é aumentar a concentração de N nos tecidos da planta previamente ao enchimento de grãos, proporcionando que este seja translocado para os grãos e muita proteína possa ser sintetizada. lotes de trigo em silos de alta proteína (alto W) e silos de baixa proteína (baixo W), como é feito nos Estados Unidos, Austrália e Canadá, principais exportadores deste cereal. Hoje existem equipamentos que permitem medir porcentagem de proteína com a mesma facilidade que medese % de umidade. 310 290 4- Peso de Mil Sementes e Rendimento 270 250 W Houve uma resposta clara da ANE em termos de aumento do Peso de Mil Sementes (PMS), passando de 30,6 gramas para valores acima de 34 gramas, como se observa na Figura 5. Este aumento de PMS gerou um aumento no rendimento de grãos, onde o tratamento de ANE de 20 kg/ha aumentou o rendimento de 2.940 kg (controle) para 3.140 kg/ha (aumento de 7,5%). Isto demonstra que a ANE pode aumentar o valor comercial do produto e também aumentar o rendimento de lavouras comerciais. 230 210 190 170 150 Controle 10 20 30 40 Doses de N (kg de N /ha) Figura 3- Variação da Força de Glúten (W) com as diferentes doses de N aplicadas no início de espigamento na cv. Rubi, 1998. 37 35 33 3- Relação W e % de Proteína PMS (g) 31 Na Figura 4 é apresentada graficamente a relação entre Força de Glúten e Porcentagem de Proteína. Observa-se que amostras com baixos teores de proteína (de 10 a 11%) apresentam os menores valores de W, enquanto que as amostras de alta proteína (de 13 a 14%) apresentam os maiores valores de W, chegando ao valor de 290. Isto tem uma simples explicação biológica: são as proteínas existentes no grão do trigo que conferem as propriedades viscoelásticas de uma massa de farinha de trigo e água. Portanto, quanto maior a concentração (%) de proteína, mais Força uma farinha poderá desenvolver. 310 290 270 250 W 230 210 29 27 25 Controle 10 20 30 40 Doses de N (kg/ha) Figura 5- Variação do PMS com as crescentes ANEs na cv. Rubi, 1998 5- Conclusão Este trabalho demonstra o potencial da ANE como forma de manejar qualidade industrial de trigo a campo, onde as crescentes doses de N no início do espigamento proporcionaram crescentes aumentos da porcentagem de proteína no grão e conseqüentemente aumento da Força de Glúten. Em termos de rendimento de grãos, demonstrou-se que a disponibilidade de N na planta no enchimento de grãos é fator limitante do rendimento final, onde a ANE aumentou o PMS (importante componente do rendimento de grãos) 6- Perspectivas Futuras 190 170 150 10 11 12 13 14 15 Proteína % Figura 4- Relação Força de Glúten e Porcentagem de Proteína no grão na cv. Rubi, 1998 Esta relação somente é válida para amostras dentro de uma única cultivar, já que as cultivares diferem quanto ao tipo de proteína que sintetizam no grão. Neste caso usou-se a cultivar Rubi, de glúten forte. Uma cultivar de glúten fraco apresentaria valores de W ao redor de 200 nos níveis mais altos de proteína (14-15%), apresentando valores inferiores a 100 com baixas porcentagens de proteína (10-11%), já que o tipo de proteína destas cultivares forma ligações mais fracas entre proteínas, gerando menor Força de Glúten. Uma importante implicação da relação W / % de Proteína é que quando a cultivar é conhecida pode-se medir a % de proteína e estimar-se a Força de Glúten, assim separando O presente trabalho será repetido na safra 1999 e outras linhas de pesquisa poderão ser implementadas, isoladamente ou em conjunto com outras instituições interessadas: a) uso de ANE na forma líquida (adubação foliar); b) uso de sulfato de amônio na ANE, já que o enxofre pode contribuir bastante para o aumento da extensibilidade (L), baixando a relação P/L; c) experimentar diferentes épocas de aplicação, como o final do emborrachamento; d) repetir o presente trabalho com as cultivares de trigo OR1, Tauro, entre outras. *- Engo Agro, Ph.D., Pesquisador da OR Melhoramento de Sementes Ltda. Endereço: Rua João Battisti, 71 Passo Fundo, RS. CEP 99050-380. Tel./Fax:(054) 311-7499 Email – [email protected] OR Melhoramento de Sementes Ltda