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MANUTENÇÃO PREDIAL
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Tito Lívio Ferreira Gomide
Engenharia
sustentável
Ao identificar fatores de desperdício, peritos podem propor, dentro
do prognóstico de manutenções, mudanças que favoreçam o
desempenho dos sistemas que utilizam recursos naturais e energia
ARQUIVO
A
relevância da questão ambiental é uma das poucas unanimidades mundiais da atualidade a
merecer especial atenção de todos, principalmente
dos profissionais da área tecnológica, dentre eles os
peritos de engenharia e avaliações.
Sabendo-se que a questão energética é absolutamente estratégica para o meio ambiente, principalmente devido ao gás carbônico emitido na
queima de combustíveis fósseis e florestas, fica
evidente que as obras da Engenharia estão diretamente relacionadas com a problemática do efeito
estufa, merecendo estudo para minimizar seu
caráter poluidor.
O impacto da construção civil no meio ambiente
é significativo, pois as edificações consomem aproximadamente 50% da energia mundial (construção
e manutenção), de acordo com dados da Associação
de Estudos Geobiológicos da Espanha, na Jornada
de Bioconstruccion (Madrid 1996) em trabalho de
Sofia Bealing & Stefan e Philip Steadman, que indica outros 25% para a indústria e os demais 25% para
o transporte.
Outros dados importantes sobre o impacto da
construção civil no meio ambiente foram destacados, recentemente, pelo engenheiro Luiz Henrique
Ceotto na série de artigos publicados na revista
"Notícias da Construção" do SindusCon-SP (Sindi-
Para a civilização no seu todo, a fé, que é tão
essencial para restaurar o equilíbrio que agora
falta no nosso relacionamento com a Terra, é a fé
que temos na existência de um futuro. Podemos
acreditar nesse futuro e trabalhar para alcançar e
preservar ou podemos continuar a guiar
cegamente, comportando-nos como se um dia não
houvesse crianças para herdar o nosso legado. A
escolha é nossa; é a Terra que está em jogo.
Al Gore
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cato da Indústria da Construção Civil do Estado de
São Paulo), a partir de novembro de 2006, podendo-se destacar:
Geração de 35 a 40% de todo resíduo produzido na
atividade humana
A construção e reforma dos edifícios produzem anualmente perto de 400 kg por habitante, volume
quase igual ao do lixo urbano
A produção de cimento gera de 8 a 9% de todo o
CO2 emitido no Brasil, sendo 6% somente na descarbonatação do calcário
Dessa forma, o engenheiro Luiz Henrique Ceotto
sugere, com absoluto acerto, que se adotem medidas
para minimizar os nefastos impactos da construção
civil no meio ambiente, cabendo destacar:
1) Redução do consumo de energia
2) Redução do consumo de água
3) Aumento da absorção da água da chuva
4) Redução do volume de lixo e maior facilidade de
reciclagem
5) Facilidade de limpeza e manutenção
6) Utilização de material reciclado
7) Aumento da durabilidade do edifício
Pode-se acrescentar também a facilidade de condições de uso e preservação ambiental das edificações, inclusive com o treinamento dos funcionários
e usuários, como outro fator para evitar desperdício
e poluição.
Nas demais áreas da Engenharia ocorre o mesmo,
pois são diversas as possibilidades de minimizar o
impacto ambiental das criações, construções, destruições e reciclagens das obras.
Evidentemente, tais melhoramentos ambientais
são bastante conhecidos aos peritos de engenharia e
inspetores prediais, porém, sem haver qualquer enfoque obrigatório da inserção dessas recomendações de
sustentabilidade nos laudos.
O que se propõe, portanto, é justamente tal obrigatoriedade, pois há responsabilidade ambiental no trabalho pericial. Além disso, peritos e avaliadores podem
colaborar, e muito, com o desenvolvimento sustentável,
pois as experiências decorrentes das inúmeras vistorias,
além dos conhecimentos das boas tecnologias, propi-
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ciam facilidades na análise da sustentabilidade e conseqüentes orientações de melhoramentos.
As auditorias preconizadas pela Engenharia
Diagnóstica não podem prescindir de recomendações quanto à sustentabilidade, principalmente nas
fases do planejamento, projeto e execução, pois nessas etapas ocorrem as maiores possibilidades (aproximadamente 80%, segundo Ceotto) de intervenções
na vida útil futura de uma edificação. É recomendável, nessa fase inicial, se preocupar com a melhoria
do desempenho quanto ao consumo de energia,
emissão de CO2 e resíduos, em vez de se fixar exclusivamente na redução de custos dos empreendimentos, como ocorre normalmente.
No decorrer da construção e manutenção restam,
portanto, apenas 20% de possibilidades de intervenções que favoreçam a sustentabilidade, mas, nessas
fases, ocorrem os principais gastos da vida útil da edificação (aproximadamente 80%, segundo Ceotto),
motivo de atenções quanto à economia de energia e
preservação do ambiente, destacando-se a relevância
do enfoque da sustentabilidade nas inspeções prediais.
Os problemas técnicos apurados nas perícias
também podem merecer o enfoque da sustentabilidade, pois os reparos ou correções técnicas das ano-
malias devem ser executados em condições e oportunidades adequadas, inclusive com vistas ao aproveitamento máximo da vida útil do sistema. Além
disso, também é recomendável sugerir melhoramentos que favoreçam a economia de energia, água, e
demais fatores que colaborem para o meio ambiente, tais como a modernização dos programas dos
elevadores, a substituição de luminárias e demais
intervenções possíveis.
As avaliações também devem enfocar as condições ambientais do bem em análise, para implantar
objetivamente o valor ambiental e aprimorar a cultura do imóvel sustentável.
Conclusão
É viável o desenvolvimento sustentável e, acredita-se, muito provável a reversão do quadro de desequilíbrio ecológico que se apresenta, desde que haja
a conscientização e colaboração de todos.
Assim, entende-se absolutamente recomendável a
implantação do tópico "Sustentabilidade" nos trabalhos de Engenharia Legal, como requisito técnico
genérico, em atendimento às necessidades atuais e
futuras do meio ambiente e, principalmente, como
postura ética adequada.
Tito Lívio Ferreira
Gomide
diretor do Gabinete
Gomide e atual
presidente do Ibape/SP
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