Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XIX Prêmio Expocom 2012 – Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação FOTONOVELA E SUAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS 1 Francisco José da Silva ROCHA Filho 2 Nathalia Aparecida Aires da SILVA3 Sebastião Faustino PEREIRA Filho4 Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN RESUMO Pretende-se apresentar a fotonovela realizada com foco no processo de construção de representações e significados, iluminando experiências subjetivas e hábitos pessoais. Desse modo, fez-se o uso da fotografia e do recurso textual como meios para externar a história e mensagem da fotonovela produzida. Diante da dinâmica de influência que se estabelece por meio de revistas, livretos ou de pequenos trechos editados em jornais e revistas, assim como as novelas televisionadas, a fotonovela pertence a um universo de significação midiática. PALAVRAS-CHAVE: Fotonovela; Ficção; Arte; Representação; Comunicação. 1 - INTRODUÇÃO A fotonovela é um gênero midiático composto de uma fusão de outros gêneros, especialmente a fotografia, ao mesmo tempo em que se baseia na história em quadrinhos, ainda que seja um meio marginalizado em uma sociedade muito mais apegada a outros meios de difusão, como a televisão e o rádio. A utilização do recurso da fotografia e do texto na fotonovela envolve o leitor de uma forma mais intensa, pois ao mesmo tempo em que a fotografia amplia o imaginário do leitor, o recurso textual direciona o enredo da história proposto pelo autor. Will Eisner (2010) trata da utilização desses dois recursos midiáticos afirmando que “quando palavra e 1 Trabalho submetido ao XIX Prêmio Expocom 2012, na Categoria Produção Editorial e Produção Transdisciplinar em Comunicação, modalidade Fotonovela (avulso). 2 Estudante do 3º. Semestre do Curso Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo, email: [email protected] 3 Aluno líder do grupo e estudante do 3º. Semestre do Curso Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo, email: [email protected] 4 Orientador do trabalho. Professor do Curso Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo, email: [email protected] 1 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XIX Prêmio Expocom 2012 – Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação imagem se „misturam‟, as palavras formam um amálgama com a imagem e já não servem para descrever, mas para fornecer som, diálogo e textos de ligação”. Assim como a telenovela, a fotonovela por meio das representações cria mediações entre realidade e ficção, produzindo interpretações da vida cotidiana. Em nosso trabalho escolhemos utilizar a novela Fina Estampa devido aos assuntos abordados (violência contra a mulher, luta de classes sociais, ética) bem como em decorrência da sua repercussão na mídia e proximidade com o público. De acordo com CHARTIER (2002) as representações são ferramentas para percepção e construção de diferentes realidades sociais. O propósito das representações não é reproduzir o real, mas construir significações para os acontecimentos do cotidiano. No primeiro sentido, a representação é instrumento de um conhecimento mediato que faz ver um objecto ausente através de sua substituição por uma “imagem” capaz de o reconstituir em memória e de o figurar tal como ele é. (CHARTIER, 2002, p.10). A sociedade brasileira passa por mudanças e uma das principais é a ascensão da classe C, que é percebida por causa do aumento do consumo, viagens e também da elaboração de produtos culturais, como a telenovela, que a traz como protagonista. As classes C e D cada vez mais vêm conquistando espaço. Isso se reflete em uma mudança na programação das emissoras, que passam cada vez mais a produzir programas para contemplar esta parte da sociedade, e estas representações produzidas pelos autores gera uma identificação do telespectador e a audiência. Sendo assim, escolhemos trabalhar a influência que a personagem da atriz Lilia Cabral – Griselda – tem em relação às pessoas. Griselda representa a ética, a dignidade e a mulher forte que cuida sozinha dos filhos. Quantas brasileiras não chefiam suas famílias? A personagem mostra que, mesmo com a ausência paterna, é possível criar e educar os filhos e ensiná-los valores que defendem como legítimos, e que não estão à venda. Lilia Cabral dá vida a um personagem que briga pelo seu espaço na sociedade, e luta duas vezes mais, por não ter origem em família mais abastada. As desavenças entre Griselda e Tereza Cristina, personagem interpretada pela atriz Christiane Torloni, representam um embate entre as classes sociais distintas. Portanto, a novela Fina Estampa reflete o conflito de classes representado na sociedade brasileira. 2 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XIX Prêmio Expocom 2012 – Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação 2 - OBJETIVO Realizar uma fotonovela, como meio de demonstrar a influência que as representações criadas nas novelas exercem no cotidiano das pessoas. Por meio das fotografias pretende-se demonstrar de que forma estas representações criadas para as novelas não somente refletem a realidade, mas ajudam a construí-la na medida em que sugerem os assuntos a serem discutidos na sociedade, ditam moda e reforçam estereótipos. 3 - JUSTIFICATIVA As telenovelas por meio das representações criam mediações entre realidade e ficção. Entretanto a fotonovela, sendo uma representação gráfica desta, também produz interpretações da vida cotidiana. A relevância deste trabalho está em utilizar a novela Fina Estampa devido aos assuntos abordados (violência contra a mulher, luta de classes sociais, ética) bem como em decorrência da sua repercussão na mídia e proximidade com o público. Entendemos que ela, dentro das representações sociais, manipula os receptores de maneira poderosa e irresistível por trás das grandes produções midiáticas. A seleção específica da novela Fina Estampa está em demonstrar a influência que as representações criadas nas novelas exercem no cotidiano das pessoas, estendendo a fotonovela que também produz um universo de significação e introdução de hábitos e valores influenciando as pessoas. O motivo de se realizar este trabalho parte do ensejo dos alunos (estudantes do curso de Comunicação Social), em produzir uma fotonovela que possa de alguma forma, apresentar como a mídia intervém no cotidiano das pessoas. 4 - MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS A presente fotonovela foi realizada, entre 30 de novembro de 2011 e 12 de dezembro de 2011. As imagens foram capturadas pelos integrantes do grupo que também atuaram como atores e atrizes, além da participação de figurantes voluntários. Vários lugares foram usados para a locação como: casa de amigos, universidade, praia, shopping, casa lotéricas, parada de ônibus entre outros. Para a criação da fotonovela, foram realizadas capturas de imagens através de câmera digital fotográfica, marca Samsung, modelo ES17. Posteriormente, foram selecionadas para a edição da história em quadrinhos. Cada fotografia da sequência 3 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XIX Prêmio Expocom 2012 – Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação corresponde a uma cena da história, acompanhada de mensagem textual para melhor entendimento do enredo. Após a edição foi feita a impressão das fotografias, concluindo-se então o objetivo do trabalho. 5 - DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO A fotonovela foi feita pelos alunos da disciplina Sistemas de Comunicação5, ministrada pelo professor Sebastião Faustino Pereira Filho, para os alunos de Jornalismo e Radialismo da UFRN. Optamos por nomear a personagem principal como Maria na produção realizada. Tal escolha se deu pelo fato de o nome ser comum na sociedade brasileira e representar muitas cidadãs que nascem pobres e lutam pelos seus sonhos. Nosso objetivo foi fazer com que o leitor se enxergasse na história pelo realismo contido nela, e não criar a fotonovela como algo distante da representação da maioria dos brasileiros. Esses aspectos estão contidos no desenvolver da história retratada por um marido que maltrata sua esposa; uma brasileira que gosta de assistir novelas; uma pessoa com formação universitária, mas que não consegue ascensão no mercado de trabalho após a conclusão do curso; e acima de tudo, um personagem que tem o sonho de ganhar na Mega Sena – sonho este quase que generalizado em nosso país. Basicamente, a história se desenrola da seguinte forma: Maria é enfermeira, casada, seu marido trabalha o dia inteiro e, sempre que vê a mulher assistindo novela faz críticas. Maria entrou em depressão desde que perdeu o emprego em um grande hospital. Joana é sua colega de faculdade, trabalha e ajuda a amiga a procurar um emprego. Também fica horrorizada com o que ouve de Maria sobre o seu casamento, considera o esposo da amiga machista e sugere a separação, pois quer vê-la feliz. Inspirada em “Pereirão”, personagem encenado pela atriz Lilian Cabral, na telenovela Fina Estampa (Rede Globo, 2011/2012), Maria passa a jogar na Mega Sena, até que algum tempo depois ganha e vai viver sua vida longe do marido que a maltratava. O roteiro foi dividido nas seguintes imagens, acompanhadas de recurso textual, que complementa a narrativa ajudando o leitor a entender o contexto em que a personagem se situa: 5 Componente curricular obrigatório para o 2º período de Jornalismo e 4º período de Radialismo. 4 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XIX Prêmio Expocom 2012 – Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação Fotografias 1ª página: Apresentação da fotonovela Uma Quase Fina Estampa com a protagonista na primeira fotografia. A segunda imagem mostra a personagem em ambiente acadêmico. Fotografias 2ª página: Insere a personagem na situação de estar prestes a se casar, fazendo por esse motivo o convite à amiga. A próxima imagem retrata Maria à época da conclusão de sua formação acadêmica e seu casamento. Fotografias 3ª página: Retratam a realidade vivida pós-casamento por Maria. Seus sonhos de ser uma mulher feliz ao lado do esposo se materializam em uma vida monótona e sem expectativas, além de agressões verbais. Maria então relata sua situação à amiga Joana, que tenta animá-la e sugerir opções de mudança. Fotografias 4ª página: A protagonista está deprimida e de repente, ao assistir a novela Fina Estampa, resolve se inspirar na personagem Griselda e apostar na Mega Sena. Ela faz isso durante alguns anos. Fotografias 5ª página: Finalmente a personagem Maria consegue êxito em uma de suas apostas e fica milionária. Começa a viver um novo estilo de vida, compra casa nova, encontra outro amor e casa outra vez. Fotografias 6ª página: Apresentam Maria totalmente recuperada de suas antigas tristezas. A personagem arruma novos amigos, visita lugares diferentes e muda de visual esbanjando felicidade e dinheiro. Fotografias 7ª página: Concluem o que sugere ao leitor ser sua vida daqui para frente: uma mulher independente, livre e acima de tudo feliz para construir e viver intensamente sua futura história. 6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Observamos que a fotonovela além de atuar como um meio de demonstrar a influência da novela no cotidiano das pessoas, também funciona como um recurso midiático na medida em que influencia no cotidiano de seus leitores pela apropriação que estes fazem das mensagens emitidas pelo meio. Partindo do pressuposto da relevância de uma fotonovela como um universo de significação e introdução de hábitos e valores que tem influência sobre as pessoas, entendemos que ela, dentro das representações sociais, condiciona os receptores de maneira poderosa e irresistível por trás das grandes produções midiáticas. Esse processo ocorre com total domínio dos meios hegemônicos, que direcionam o pensamento de alguns interlocutores de forma irrepreensível. 5 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XIX Prêmio Expocom 2012 – Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação Enfim, a fotonovela ao aproveitar a capacidade criativa dos alunos, motiva uma espécie de restauração da ação humana no processo de construção de significados, iluminando experiências subjetivas e hábitos pessoais. 7 - BIBLIOGRAFIA CHARTIER, Roger. A história cultural entre práticas e representações. 2. ed. Lisboa: Difel, 2002. EISNER, Will. Quadrinhos e arte sequencial: princípios e práticas do lendário cartunista. 4. ed. Tradução de Luís Carlos Borges e Alexandre Boide. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010. FOTONOVELA. Disponível em:<http://pt.wikipedia.org/wiki/Fotonovela>. Acesso em 4 de dez. de 2011. HABERT, Angeluccia Bernardes. Fotonovela e Industria cultural: Petropólis, Vozes, 1974. MEIER, Bruno. A heroína dos novos tempos. Revista Veja. 2243 ed. São Paulo: Abril, v. 1, n. 46, p. 146-153, nov. 2011. VILLON, Helena Von. As Fotonovelas. Disponível em: <pseudocine.blogspot.com/2009/10/as-fotonovelas.html>. Acesso em 4 de dez. de 2011. 6