Integralismo, nacionalismos e conservadorismo no Rio de Janeiro Márcia Regina da Silva Ramos Carneiro Docente Adjunto I Universidade Federal Fluminense [email protected] Sandro Figuerêdo Silva: Universidade Federal Fluminense Estudante/Ciências Econômicas [email protected] Os estudos sobre os chamados movimentos de direita vêm ganhando importância na Historiografia Brasileira desde finais da década de 1990. As análises sobre o integralismo e outros movimentos nacionalistas e conservadores no Estado do Rio de Janeiro devem contribuir para o aprofundamento dos estudos regionalizados destas manifestações que se apresentam resistentes em certas regiões do Estado, exemplarmente nas regiões do Norte e Noroeste Fluminense. Esta pesquisa integra um conjunto de estudos sobre o Integralismo e outros movimentos nacionalistas que se desenvolvem em todos os Estados brasileiros e que privilegiam por tema as questões da intolerância, dos autoritarismos, da negação à democracia. Além do movimento integralista, que conta com importante referências e fontes nos municípios deste Estado, como nos arquivos municipais e estaduais das cidades de Campos dos Goytacazes e Rio de Janeiro, a pesquisa procurará mapear outros movimentos tipicamente conservadores, nacionalistas e autoritários, como o liderado pela Sociedade Tradição, Família e Propriedade, a TFP, os chamados movimentos nativistas, neo-nazistas, entre outros. Como metodologias a serem utilizadas, além das investigativas, será a História Oral, com o resgate das memórias locais, a base para a construção de um acervo sobre o tema neste Instituto. Para isto, contará também com o apoio do Laboratório de História Oral e Imagem do Curso de História do Instituto de Ciências Humanas e Filosofia (ICHF – UFF/Niterói). Trabalho apresentado no Seminário de pesquisa do Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional, da Universidade Federal Fluminense - UFF, realizado em Campos dos Goytacazes. Março 2011 1 Nos anos 1930, o modelo das organizações fascistas que ascendiam na Europa chegou ao Brasil por intermédio de grupos que se organizavam sob a orientação autoritária e por acreditarem nas ideologias que se expressavam através do nacionalismo exacerbado, pela luta anticomunista e antiliberal. A Ação Integralista Brasileira surgiria nesta ocasião, trazendo como suporte à sua Doutrina do Sigma, o modelo corporativo das Encíclicas Papais de fins do século XIX e início do século XX que tratavam as questões sociais e propunham, tal como o fascismo italiano, o controle do trabalho e da sociedade por um Estado forte. As “soluções” para conter a “desordem social” não se reduziam aos modelos católico ou fascista, na nova nação republicana que se instaurara no Brasil em 1889, pois entre os pensadores brasileiros circulava a ideia de que para se construir a Nação brasileira era preciso ordenar o povo, moldar-lhe uma identidade. O integralismo foi gestado neste período e a sua inclusão no conjunto do ideário autoritário brasileiro não pode ser negada. O integralismo absorveu em sua Doutrina os aspectos do pensamento universal e nacional que considerava convergentes na construção de uma nação mestiça, crente no Deus cristão, sobre a qual pairavam as manifestações “destrutivas” da ordem: o comunismo e o liberalismo. E, ainda, permanecem até a atualidade algumas das mesmas perspectivas das necessidades nacionais que se construíram na transição dos séculos XIX e XX: as de que para se ordenar a sociedade brasileira, é necessário o comando submetido à religião, sob a defesa do conservadorismo católico. Estas são questões que a pesquisa “Integralismo, nacionalismos e conservadorismo” se propõe relacionar a partir da análise de importantes movimentos com estas características que tiveram grande aceitação entre os fluminenses. Este estudo se une aos do Grupo de Pesquisa Integralismo e outros movimentos nacionalistas, liderado pela Profa. Márcia Regina da Silva Ramos Carneiro, inscrito no Diretório de Pesquisa do CNPq e conta com a contribuição do estudante do curso de Ciências Econômicas Sandro Figuerêdo Silva. Os estudos sobre o tema da pesquisa não se detêm ao início do século XX, mas buscam explicitar a continuidade destas percepções ao longo da história como permanências, resistências e conservações de visões de mundo, explicações sobre a realidade brasileira. Assim sendo, tomam-se as questões nacionalistas forjadas no interior do conjunto de formulações sobre a construção da nacionalidade brasileira como parâmetro para a elaboração de conexões de movimentos de cunho conservador que se estruturam como porta-vozes de alguns setores da sociedade. Como base teórica, entende-se que as contribuições de Antonio Gramsci1 podem servir de suporte às considerações acerca da organização do Estado brasileiro, visto como relação social no qual disputam espaços no âmbito do governo, setores da sociedade civil que se articulam como e com a sociedade política em intrínseca relação com a estrutura econômica em cada conjuntura histórica. Utiliza-se, também, esta pesquisa, das perspectivas de circularidade e de alteridade dialogizada de Mikhail Bakhtin que se articula ao enfoque processual histórico, com importância privilegiada das questões culturais dialeticamente 1 GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000, 6. vols. 2 imbricadas entre estrutura e superestrutura como as percebeu, da mesma forma, Antonio Gramsci. O ponto do qual se parte é a relação da história do integralismo com a de outros movimentos sociais, percebendo as convergências e distanciamentos entre estes. Sendo o integralismo, cronologicamente, anterior aos demais que serão estudados cabe analisar as fundamentações ideológicas que sustentam, até hoje o seu conjunto doutrinário. A Doutrina do Sigma que busca elementos filosóficos que lhe são anteriores e também coevos, absorve nas conjunturas pelas quais passa ao longo se sua história, outras características de fundo nacionalista e conservador e dialogando com outros movimentos deste tipo. Ao analisar a Ação Integralista Brasileira (1932 a 1937), utilizando a perspectiva analítica de Gramsci, pode-se examiná-la como aparelho privado de hegemonia, no âmbito da sociedade civil, e, posteriormente, como partido, em situação de disputa, na sociedade política, pelo controle dos aparelhos de Estado. A AIB, no contexto de crise de hegemonia que sucedeu a chamada “Revolução de 30”, significou a possibilidade de inserção no espaço de luta pelo controle da sociedade política de frações da pequena burguesia e classe média urbana e rural antiliberal que, em guerra de posição, organizavam-se e produziam idéias que ganhavam adesões, principalmente pelo apelo católico/fascista anticomunista e anti-semita. O controle do Estado, visto de modo ampliado, segundo a acepção gramsciana, como espaço de disputa no qual se interrelacionam no confronto dialético, sociedade civil, sociedade política e estrutura, era pretendido pelos integralistas. Pela via totalitária, a AIB buscaria anular uma das bases do tripé do Estado com a extinção da sociedade civil, obra amplamente planejada pelos seus intelectuais orgânicos que, ainda que se dissessem se colocar acima dos conflitos de classe, representavam interesses bem nítidos de caráter econômico que escondiam sob uma face doutrinária espiritual e nacionalista. Estendendo a analise da inserção do movimento integralista nos contextos históricos que sucedem a década de 1930 a pesquisa relaciona as redes de contatos, graus de participação no Estado, e envolvimento nos acontecimentos políticos de importância nacional, dos que permaneciam fieis aos ideais da AIB. Ao abordar os aspectos culturais da sociedade brasileira que levaram à assimilação por respeitável parte desta ao movimento integralista, com características fascistas comungadas com um catolicismo ultraconservador, podese considerar as percepções das necessidades de parte da sociedade brasileira em buscar a ordem social pela via autoritária. Voltando-se para os movimentos autoritários, nacionalistas, conservadores do Estado do Rio de Janeiro, cabe tornar nítida a importância da Ação Integralista Brasileira no território fluminense, levando em consideração que a atual capital deste Estado foi a Capital da República até o ano de 1960, quando foi transferida para Brasília. Para efeito desta pesquisa, toma-se, portanto, como espaço de referência a ser investigado, o atual Estado do Rio de Janeiro. Sob a Chefia Nacional de Plínio Salgado, a AIB foi fundada em outubro de 1932, como manifestação contrária aos rumos da chamada “Revolução de 1930”. Assim, a organização do integralismo brasileiro foi sendo construída durante os cinco anos de existência permitida da AIB, nos primeiros tempos do governo de Getúlio Vargas (1930-1937). Alcançando todos os Estados brasileiros, a AIB instalara no 3 Distrito Federal, a cidade do Rio de Janeiro, a sua sede nacional. O sentido de sede, no entanto, fluía-se pela significação que lhe dava o integralismo – a sede seria o próprio Chefe, ou seja, a pessoa física de Plínio Salgado2. A grande repercussão que teve o integralismo no Brasil e, particularmente, na extensão do atual Estado do Rio de Janeiro se deve a muitos fatores, principalmente os que o contexto histórico delineava. Denominados de Províncias pelo movimento, clara referência à divisão monárquica dos territórios brasileiros, o Distrito Federal, chamado de Província da Guanabara, e o Estado do Rio, a Província do Rio de Janeiro, sentiam repercutir os temores da insegurança interna, em um momento em que o mapa mundial era modificado entre guerras e reestruturações econômicas e políticas. Eram tempos em que o apelo à constituição de uma ordem segura para o país sensibilizava milhares de brasileiros que, num mundo conturbado, sentiam necessidade de segurança, de um projeto que consolidasse certezas para o futuro. A Revolução de 1930, para parte da “elite” política fluminense, não havia se comprometido com os anseios do então Estado do Rio, principalmente, o norte fluminense que vira perder espaço na política nacional desde a morte do filho ilustre de Campos dos Goytacazes, o presidente Nilo Peçanha. Na verdade, um vice alçado à presidência na vaga deixada pela morte de Afonso Pena em junho de 1909. Peçanha governara até novembro de 1910. Seus seguidores eram chamados de “nilistas”. As mudanças que se sucederam a partir de 1930 não foram suficientes para aplacar as questões internas que afetavam mais especificamente a classe média que surgia com uma ainda incipiente industrialização. Entre os interesses em disputa, radicais antagonismos que afloraram diante das expectativas frustradas. Entre comunistas, republicanos, setores conservadores, em comum, a tendência autoritária. Esta geração antiliberal, da qual fazia parte a parcela da sociedade que alçara o poder, estaria sofrendo, segundo Hélgio Trindade, o impacto da Revolução Soviética e da fraqueza das democracias liberais frente à ascensão fascista, dois fenômenos considerados como sinais de decadência do liberalismo diante do impacto, também, da Primeira Guerra e da Grande Depressão. Por outro lado, esse antiliberalismo se apoiaria na tendência à centralização do poder político após 1930. A partir das confluências de interesses, a ordenação da Nação ante a necessidade de ordenar o mundo e as disputas por espaços no âmbito do Estado, as nuances ideológicas eram impactadas pelas divergências radicais entre as ideologias. Os antagonismos confundiam-se no modelo autoritário de exercício de poder, como no caso das propostas dos intelectuais ligados a Getúlio Vargas, que participavam de seu Governo e as dos intelectuais integralistas que encontraram espaços para a organização do movimento em todo o decorrer do período 1932 a 1937. Mesmo ressaltando as divergências, o integralismo pode se expandir neste período que, como Juan Linz assinalou em prefácio escrito para obra de Hélgio Trindade, abria2 Segundo o estatuto da AIB a sede da Chefia nacional seria materializada pelo próprio Chefe, corpo e alma do movimento. Somente ao Chefe caberia a saudação de três “Anauês”, cumprimento entre os integralistas que significaria “você é meu parente” em tupi-guarani, segundo Câmara Cascudo. 4 se aos embates por conta da necessidade “democrática” das demonstrações públicas de opiniões. Assim, entende-se que o aparecimento de propostas de associações político-sociais antagônicas ao liberalismo encontra-se no próprio processo de permissões de liberdade que o Estado, dito como tradicional ou liberal, aceita como uma das suas características, as de expressão e de organização política. Isto em tese, pois na medida de sua preservação não permite àqueles que reivindicam a sua derrocada o espaço para a discussão, como aos comunistas e anarquistas. E, esses antagonismos que se geram no “espaço de liberdade” permitido pelo liberalismo é que tem lugar, também, as perspectivas autoritárias. Tal como percebe Juan Linz sobre o surgimento dos fascismos: “Sem a política organizada de seus tradicionais inimigos, o fascismo não tinha razão de ser”. (LINZ in TRINDADE, 1979, p. XII ). Assim sendo, Estado liberal, permitindo a liberdade aos que colaboram com a sua manutenção, abriria portas às iniciativas mais radicais para a contenção de alternativas à sua própria existência. O integralismo chegara ao Rio de Janeiro, principalmente através de intelectuais que, na cidade do Rio de Janeiro, exerciam atividades de estudo e trabalho. Entre os intelectuais integralistas que trouxeram de São Paulo para a Capital Federal a Ação Integralista Brasileira estavam Gustavo Barroso, futuro Chefe das Milícias, um cearense que viera estudar Direito na cidade; o médico Madeira de Freitas; o então bancário Raymundo Padilha; o poeta e editor Augusto Frederico Schmidt; o jornalista e advogado San Tiago Dantas, entre outros. Na Editora de Schmidt ocorreram as primeiras reuniões da então futura cúpula integralista da cidade do Rio de Janeiro. Entre os primeiros participantes que compareceram à reunião convocatória na qual estava presente o Chefe Nacional Salgado, estavam também os estudantes de Direito ligados ao Centro Acadêmico de Estudos Jurídicos e Sociais, o CAJU. Deste grupo, além de San Tiago Dantas, participavam Thiers Martins Moreira, Antônio Galotti, Gilson Amado, Hélio Viana, Américo Jacobina Lacombe, Chermont de Miranda, Almir de Andrade, Plínio Doyle, Otávio de Faria e Vinícius de Morais. Alguns desses jovens acadêmicos se filiaram ao integralismo, contribuindo, como intelectuais do movimento, para sua organização e composição doutrinária. Gerardo de Mello Mourão, poeta cearense e um dos ícones da poesia integralista e que entrara no movimento por indicação de Alceu Amoroso Lima, um católico conservador então, conta como observou as primeiras reuniões na Capital do Brasil. Ao relatar ao Laboratório de História Oral e Iconografia da Universidade Federal Fluminense3 a ode da fundação da AIB na então capital da República, nos disse que o Chefe fez 14 viagens ao Rio de Janeiro sem muito triunfo para tentar fundar a AIB. Segundo Mourão, até 1935, a AIB não saíra de São Paulo: “Ele [Salgado] chegava e ia para a livraria Schmidt na Travessa do Ouvidor. Às 5 horas, Schmidt fechava as portas de aço e tinha certos convidados e Plínio discorria. Ficava num balcãozinho da livraria, num balcãozinho da loja 3 Entrevista dada ao Laboratório de História Oral e Iconografia da UFF em 2006. Os depoimentos dos entrevistados, ao longo do texto, encontram-se depositados LABHOI – acervo Integralismo. Os trechos das entrevistas dos depoentes constam na Tese de Doutorado da autora deste artigo. 5 falando pra baixo. Plínio era um orador prodigioso. Aquilo me escandalizava porque eu passei sete anos estudando para ser orador sacro. „Esse homem não sabe nada! Sabe, domina tudo, com aquelas mãos.‟ Então, expunha com uma clareza que era uma coisa aos convidados: Otávio [de Faria], o Américo Jacobina Lacombe, o Thiers [Martins Moreira], enfim, aquele grupo pioneiro. Tinha um engenheiro da Light, chamado Everardo Leite. Então, quatorze vezes e não conseguiu que ninguém se inscrevesse. Cumprir aquele negócio lá: „Juro por Deus e pela minha honra trabalhar pela Ação Integralista Brasileira, obedecendo sem discutir as ordens do Chefe Nacional.‟ Só depois desta décima quarta viagem que entraram os primeiros.” O Chefe Nacional, em artigo, conta outra versão para a arregimentação dos intelectuais: “No Rio, arregimentei, depois de uma conferência na Faculdade de Direito e uma reunião no Palace Hotel, seguida de outra em casa do Oswaldo Aranha, um grupo brilhante de jovens: Américo Jacobina Lacombe, Antônio Gallotti, Thiers Martins Moreira, Augusto Frederico Schmidt, San Tiago Dantas (este que já trabalhava comigo no jornal "A Razão"), posteriormente Cotrin Neto, Álvaro Sardinha, Garrido Torres, Helio Viana, Ernani Lomba Ferraz, Nilza Peres.” Disperso, de início, o integralismo na capital passou a reunir sua direção na Rua Sachet, 32, atual Travessa do Ouvidor, no centro da cidade, onde Schmidt tinha a sua editora. Esse endereço passou a ser a sede da Chefia Nacional da Ação Integralista Brasileira. Na capital do país, o primeiro núcleo teria sido fundado em abril de 1933. Para divulgação do movimento, a partir da Guanabara, que tinha como Chefe Provincial Madeira de Freitas, foram lançados, além do Monitor Integralista, o “diário oficial” do movimento, O Estado Forte, A Offensiva, o Doutrina e a revista Anauê. Na Província do Rio de Janeiro, chefiada por Raymundo Padilha, espalharam-se publicações entre os municípios. Em Barra do Piraí, era editado o Bandeira Integralista; em Sapucaia, distrito de Cachoeira de Macacu, havia o A Sapucaia; em Rezende publicavam o Anauê; em Nova Friburgo, o Alvorada; O jornal O Sigma e a Revista A Flâmula eram publicados em Valença. Em Petrópolis, o famoso, A Marcha. A Gazeta de Nova Iguaçu era o periódico integralista de Nova Iguaçu; em Teresópolis, O Theresópolis. Em Estrela, na região da atual cidade de Duque de Caxias, era editado O Aço Verde. Na capital do Estado, Niterói, eram publicados A Ordem e O Acadêmico Integralista. (CAVALARI, 1999). Com a ampla divulgação dos periódicos, a Doutrina chegava ao interior fluminense, principalmente através do jornal editado por Madeira de Freitas, A Offensiva, o mais importante informativo de alcance nacional do movimento. O integralismo encontrava eco nos setores médios urbanos e rurais que presenciavam e participavam das discussões políticas locais. Os núcleos municipais e distritais, apoiados pelas Chefias Regionais, cuidavam de expandir as “novas” integralistas. Esses núcleos surgiram em várias cidades de todo Estado do Rio, principalmente, em 1934, como assinalou Trindade (1979). Desde 6 Campos, a mais importante cidade do Norte do Estado do Rio até Niterói, a capital, “bandeiras integralistas”4 avançavam em caravanas tentando conquistar militantes. Como medida para divulgação da luta contra o “perigo comunista”, que era representado em 1935 pela Aliança Nacional Libertadora, as “bandeiras integralistas” desfraldaram-se nos sertões brasileiros onde, segundo Salgado, estaria a ”verdadeira alma da nacionalidade” (SALGADO, 1933). E a ocupação do espaço público urbano e mesmo rural também fazia parte das estratégias da AIB para propagandear as doutrinas e os ideais integralistas: o nacionalismo, o anticomunismo, o antiliberalismo e a construção do Estado Integral, com bases espiritualistas do catolicismo. Desde 1933, Salgado já contava com a adesão de uma militância significativa que já o reconhecia como liderança e já considerava a “idéia integralista” como base de seus projetos de vida – entre a família e a Pátria, abençoada por Deus. Como escreve Pedro Fagundes, em sua tese A Ofensiva Verde: a Ação Integralista Brasileira no estado do Rio de Janeiro 1932-1937, com a fundação do núcleo de Niterói, em junho de 1933, no Liceu Nilo Peçanha, com a participação do Chefe, os avanços pela “província” fluminense já se tornavam significativos. Fagundes delineia o avanço integralista pelo interior fluminense5, a partir da capital Niterói, apontando como marcos as várias visitas que fez o Chefe e os principais nomes da AIB ao interior do Estado. Fagundes aponta já, em inícios de 1934, a grande participação da militância no trajeto da comitiva integralista que seguia no que o autor chamou de “trem-verde” que saíra da Estação Barão de Mauá na capital republicana para o I Congresso Nacional Integralista em Vitória pelos trilhos da velha Estrada de Ferro Leopoldina. Por onde passava a comitiva, esta era saudada pelos camisas-verdes dos locais que atravessava. Em março de 1935, foi realizado o II Congresso Nacional Integralista, que reuniu mais de mil delegados de todo o país vestindo suas camisas verdes em Petrópolis. Divulgava-se a organização deste Estado que deveria ser comandada pelo Chefe Salgado. O lema do movimento “Deus, Pátria e Família” era um chamariz poderoso. Em um país de maioria católica, principalmente dos inícios do século XX, as pregações nas missas dominicais, carregadas de teor antirevolucionário, imputavam às revoluções francesa e russa os males da modernidade e do materialismo e davam vazão à crença na fé ordenadora das atitudes determinadas pela Igreja. Durante todos os comícios, mesmo antes que chegassem os oradores principais do movimento, as festas nas praças e nas ruas se desenvolviam. Eram preparatórias para o espetáculo das retóricas de competentes oradores. Geralmente, estes eram militantes locais, ou representantes das Chefias Regionais e mesmo Provinciais da AIB e, até mesmo, nas grandes e não raras ocasiões, podia-se contar com a presença do Chefe Nacional, a incorporação humana e espiritual do próprio integralismo, o próprio Plínio Salgado. 4 As “bandeiras” eram grupos de militantes que se dedicaram a levar pelo interior do Brasil as idéias integralistas, ostentando o uniforme verde em cujas mangas estavam bordadas o sigma (). 5 A “Província Fluminense” era dividida em nove regiões com 104 núcleos municipais e distritais (FAGUNDES, 2009). 7 Com essas manifestações públicas, os confrontos começaram a ocorrer em várias partes do Brasil a partir de 1933. Os embates com os comunistas e anarquistas, tornavam ruas e praças, locais de batalhas em Niterói, Campos, Barra do Piraí e na cidade do Rio de Janeiro. As brigas entre as correntes antagônicas desencadeavam sempre combates que resultavam, frequentemente, em ferimentos e mesmo em mortes. Estes conflitos constantes marcaram, também, profundamente, a história dos anarquistas e comunistas. Para relatarmos apenas alguns desses confrontos no Estado do Rio, em 9 de junho de 1935, o comício da ANL em Petrópolis provocou a morte de um operário em frente a sede da AIB, que seria fechada pela polícia6. Em setembro, uma reunião integralista em Bonsucesso, Rio de Janeiro, foi dissolvida à bala. No dia 15 de agosto de 1937, um comício integralista em Campos dos Goytacazes (RJ), terminaria com treze mortos e vários feridos (SILVA, 1971). Outro acontecimento importante que uniu os integralistas contra os comunistas foi uma manifestação da AIB que teve lugar na Capital Federal. Os integralistas, em um ato no Instituto Nacional de Música7, comemoraram a resistência dos antirepublicanos espanhóis no episódio de Alcázar de Toledo. Este acontecimento da Guerra Civil espanhola, no ano de 1936, era comemorado e relembrado como ato heróico dos falangistas que resistiram ao ataque republicano. O fato causou comoção aos simpatizantes do General Francisco Franco e serviu de exemplo de luta contra as forças liberais, comunistas e anarquistas que defendiam o governo legalmente eleito e empossado da Espanha. Neste episódio, o interesse compartilhado entre integralistas e participantes da Ação Católica por Maritain8 sofreu um baque após este se colocar em apoio aos republicanos da Frente Popular, durante a Guerra Civil espanhola. Os integralistas se colocaram a favor do General Franco, que liderava os católicos, monarquistas e fascistas na Frente Nacional. O presidente da Ação Católica, Alceu Amoroso Lima, apoiou a decisão de Maritain pelos democratas e o cisma consumou-se entre integralistas e católicos. Os dois lados exprimiam publicamente as suas escolhas. No ato integralista de apoio às tropas de Franco no Rio de Janeiro, em 1936, entre os oradores estavam, além de Gerardo Mourão, Schmidt e Miguel Reale. Para Mourão, até a Guerra Civil espanhola estava tudo bem entre integralistas e Ação Católica. A Guerra foi o limite. Lamentou: “Eu não sei o que que deu nestes católicos, em Tristão9, sessenta mil religiosos foram massacrados na Espanha.” Diante das investidas comunistas, principalmente após a famosa “Intentona Comunista” de novembro de 1935, o apelo anticomunista integralista ganharia fôlego entre aqueles que temiam o “perigo vermelho”. O ano de 1936 reflete este temor no importante aumento do número de participantes no movimento, principalmente entre os meses de junho a setembro. Para Marilena Chauí, 1936 foi o “Ano Verde” (1978). Multiplicaram–se os núcleos integralistas locais. Em 6 Conflito integralista no RJ em “O Povo” de Fortaleza – Ceará – recordação dos acontecimentos de 75 anos atrás – 06/ 2010. 7 Atual Faculdade de Música pertencente à Universidade Federal do Rio de Janeiro. 8 Jacques Maritain, filósofo francês de orientação católica (tomista). 9 Tristão de Athayde, pseudônimo utilizado por Alceu Amoroso Lima em suas crônicas para os jornais cariocas. 8 novembro de 1936, o movimento contabilizava 3.000 centros espalhados pelo Brasil. Em torno de 123 semanários integralistas foram publicados neste ano. Se em 1932, a AIB contava com 200 escolas primárias, no ano de 1936, este número passaria para 1.285. As escolas primárias e os cursos de alfabetização de adultos serviam ao movimento com produtores de eleitores. Além disso, foi criado o Departamento de Assistência Social, com clínicas dentárias, centros de puericultura e lactários. No Estado do Rio, especificamente, foram mais de vinte “Escolas de Alfabetização” que foram implantadas na capital do Estado e no interior. No Distrito Federal, foram instaladas essas escolas nos núcleos da Gamboa, do Engenho Novo (duas escolas, ou seja, em dois núcleos), de Olaria, da Glória, da Ilha do Governador, da Gávea, São Cristóvão, na Tijuca (pelo menos, três dessas escolas ou em três núcleos). A importância da Província da Guanabara e da do Rio de Janeiro para a cúpula integralista é demonstrada pelo fato do próprio Chefe Nacional, Plínio Salgado se dispor a viajar ao interior fluminense para participar dos comícios. Alguns chefes regionais e provinciais também acorriam para esses grandes encontros. As idéias integralistas chegavam à grande parte da população brasileira, além dos jornais e revistas publicados pelo movimento, através das caravanas, marchas e comícios. uniformizados de camisas-verdes. Estes constituíam estratégias para a ocupação do espaço público com vistas à divulgação do movimento. Em inícios do século XX em que o acesso à informação, às novidades, era conseguido nas ruas, nas praças e nas igrejas, o integralismo se apropriou competentemente desses espaços compartilhados coletivamente. Embora também houvesse muita rejeição ao integralismo, os números de adesão ao movimento demonstram a sua importância. No ano de 1935, a AIB, renegando as determinações que lhe deram formato como movimento político antiliberal, decidira entrar no jogo democrático republicano e torna-se partido político. Deste modo, encaminhou-se a candidatura de Plínio Salgado à Presidência da República para o pleito de 1938. Porém, antes das eleições, houve o golpe que instalou o Estado Novo, não sem antes acontecerem negociações entre Plínio Salgado e a cúpula do Governo Vargas. Gerardo Mello Mourão relata os bastidores que antecederam o golpe do estado Novo, desde o logro do Plano Cohen, que fora montado pelo seu primo, o então capitão Olympio Mourão Filho10, Chefe do Serviço Secreto da AIB, até os planos integralistas de chegarem, como participantes do golpe, finalmente ao poder. O “Plano Cohen” é conhecido na historiografia como uma farsa montada por Mourão Filho, com apoio de Plínio Salgado. O Governo Vargas teria utilizado o “Plano” para justificar o fechamento das instituições democráticas e instituir o Estado Novo. O relato de Gerardo Mourão permite-nos adentrar nas brechas das intenções dos que montaram o “golpe”. Mourão nos falou que o pretenso Plano Cohen fora feito a pedido de Plínio Salgado que queria um projeto sobre um possível plano do comunismo internacional para tomar a América Latina e para o Brasil. Ao deixar sobre sua mesa o plano, este foi encontrado por um General do qual não lembrou o nome, que teria levado o “documento” para os generais Dutra 10 Para Gerardo Mello Mourão, o já General Olympio Mourão Filho foi a “alma da Revolução”, ou seja, do golpe militar de 1964. 9 e Góis Monteiro com o intuito de acusar o capitão de conspiração comunista. O Capitão Mourão Filho, chamado frente aos superiores teria confessado que fizera o falso plano a pedido de Salgado. Assim, com apoio também do Presidente da República, o Plano Cohen teria surgido das mãos e idéias de integralistas para servir de apoio ao golpe e da imposição do estado de sítio, enquanto defesa da soberania nacional. Como contam as histórias integralistas, Salgado havia sido convocado por Vargas a demonstrar sua força e, o Chefe, em resposta teria organizado aquela que ficou sendo conhecida como a “Marcha dos 50 mil”, que atravessou o centro da capital da República, o Rio de Janeiro até o Palácio do Catete, sede do governo no dia 1º de novembro de 1937, com o Chefe à frente. Segundo Mourão, as negociações entre Salgado e o governo atendiam às expectativas que historicamente estavam sendo delineadas na Europa com a inclusão, ou subida ao poder, de lideranças fascistas. Esperava-se, segundo ele, como acontecera, na Itália, onde o Rei Vitor Emanuel havia passado a Mussolini a chefia do Estado Italiano, que aqui se formalizasse pelo menos uma coalizão entre o integralismo e Vargas, até mesmo com a assunção de Salgado ao posto mais alto do governo como ditador. Conta que essa esperança foi acalentada por Salgado: “Estávamos todos esperando o Catete. Estávamos esperando a tomada do poder A tomada do poder com palmas. (...) Então estávamos convencidos de que o Plínio estava feito com esta gente. E Plínio tinha se reunido diariamente com esse pessoal do Estado Novo, inclusive que estavam fazendo o golpe do Estado Novo, Chico Campos e os ministros militares conversando com ele. Então, no dia fomos avisados todos que o golpe ia ser amanhã, tantas horas da tarde. Então fomos ouvir o rádio na casa do Plínio que já era na época na Rua Voluntários da Pátria. No discurso, nenhuma palavra sobre o integralismo, só a dissolução dos partidos políticos, dos clubes organizados, tudo. Plínio pegou o telefone ligou para o General Góis Monteiro. „General Góis, eu estou ouvindo aqui o presidente com muita apreensão porque não é isso o que nós tínhamos conversado. Não há uma referência ao integralismo‟. Góis negou, e tal. „O senhor espera aí, Chefe que aquilo vai....‟ E não deu em nada. Foi um golpe mesmo.” A implantação do Estado Novo em 10 de novembro de 1937 sem a participação integralista abalou a cúpula da AIB. Segundo o que nos contou Mourão, já no dia seguinte, Salgado teria dado uma espécie de contra-golpe, dissolvendo oficialmente o integralismo. O jurista Alcebíades Delamare teria sido encarregado de escrever o recurso e incumbido de levá-lo a Francisco Campos. O entrevistado disse-nos que o convite a Plínio Salgado para Ministro da Educação foi reiterado, como antes do Estado Novo havia sido feito. Porém, o Chefe teria recusado e se colocado pela resistência à ditadura instalada. Toda esta articulação anterior envolvendo Salgado e a cúpula do governo varguista é também relatada por Hélio Silva (1971). O jornalista-historiador conta que numa carta não publicada de Salgado a Vargas em 28/01/1938, o Chefe rememora os antecedentes da situação integralista antes e pós-golpe, demonstrando sua insatisfação com o desenrolar dos acontecimentos, a implantação do Estado Novo sem a participação integralista. Este episódio marca 10 a memória da militância como demonstração da “traição de Vargas”. Esta “traição” levaria à articulação da resistência integralista à Ditadura Vargas. Plínio Salgado teria sido procurado por Alceu Amoroso Lima neste momento, mas não teria havido fechamento de questão quanto às atitudes a tomar. A direção da agora extinta AIB procurava manter contatos com setores militares para organizarem um contra-golpe. Segundo Mourão, as conversações eram feitas, enquanto o médico integralista Belmiro Valverde, Secretário Nacional de Finanças de março de 1934 até a dissolução da AIB em 1937, que mantinha numa chácara na Gávea, bairro da Zona Sul da cidade por volta de trezentos homens. Valverde e seus homens teriam passado um mês lá concentrados. Seguindo as recordações de Mourão, poderia ser fevereiro de 1938 e teriam decidido, sem o apoio efetivo dos militares para uma revolução, fazerem um protesto armado. Valverde teria dito na véspera da primeira tentativa, no dia 10 de março de 1938: “Vamos levantar? Isso tudo na véspera. Vamos levantar amanhã? Não vamos fazer uma revolução porque não temos condições, mas vamos fazer um protesto de sangue, um protesto armado para que os meus netos não ouçam contar que houve um golpe no país, que um ditador revogou a Constituição com um discurso pelo rádio e que não houve uma briga de soco na galeria Cruzeiro por causa dessa violação. Então eu vou fazer essa briga de soco. E levantou, realmente.” A montagem da tentativa de tomada do poder no dia 11 de março de 1938 teria repercutido em São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul e teria tido apoio de Otávio Mangabeira, Flores da Cunha e Euclides Figueiredo. Como relatado anteriormente, a tentativa de levante de 11 de março provocou prisões, tanto de integralistas como de políticos de outras tendências que se opunham à Ditadura Vargas estabelecida em novembro do ano anterior. Os líderes integralistas Valverde, Barroso e Salgado mantiveram-se escondidos. Após a tentativa de golpe, foram presos os principais articuladores e muitas perseguições e prisões de integralistas aconteceram em todo o Brasil. Alguns, como o Chefe, seu genro Loureiro Júnior e Miguel Reale permaneceram foragidos. Salgado foi preso em 1939 na Fortaleza de Santa Cruz, de onde partiu para o exilo em Portugal, voltando somente em 1946. Na clandestinidade ou na prisão, muitos integralistas procuraram resistir ao Governo Vargas. Mas a perseguição da polícia política se acirrou. A militância de base escondeu, ou queimou livros, jornais e as camisas-verdes. Alguns, até a morte, continuaram integralistas. Daí, apenas um breve intervalo na história dessas idéias e modos de viver a vida, que ainda permanecem e ressuscitam hoje os mortos. Nos anos 1940, o integralismo foi revitalizado como movimento político no partido de Representação Popular, o PRP, pelo ex-Chefe Provincial do Rio de Janeiro, Raymundo Padilha. Neste período O Chefe Salgado criou a Confederação dos Centros Culturais da Juventude que gerou entre os jovens seguidores do integralismo o Movimento Águia Branca. O PRP existiu até o ano de 1965, quando o Ato Institucional no. 2 da Ditadura Militar cassou o pluripartidarismo, permitindo somente a existência de dois 11 Partidos Políticos: a Aliança Renovadora Nacional (ARENA) e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Embora não existindo oficialmente como movimento político ou social, o integralismo manteve-se como ideologia para os “velhos” militantes e para os “águias brancas” que passaram adiante suas convicções doutrinárias e a intenção de manter vivo o integralismo, mesmo após a morte de Salgado em 1975. Atualmente, alguns grupos erguem a bandeira do integralismo considerando-se herdeiros do movimento e os verdadeiros guardiões da Doutrina do Sigma. Um dos grupos mais significativos da retomada do integralismo pós-Salgado é a Frente Integralista Brasileira que se organiza, principalmente nos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo, mas mantém ligações virtuais com núcleos de outros Estados brasileiros. A FIB do Rio de Janeiro se organiza através dos Núcleos Integralistas do Estado do Rio de Janeiro (NIERJ) que, segundo afirmam: “constituem um grupo nacionalista formado por jovens de todas as idades, dispostos a alertar e mobilizar os brasileiros de todas as classes sociais sobre o mal que assola nosso país, um sistema falido e incompetente que vem desiludindo milhões de brasileiros e enterrando o grande sonho brasileiro, de nos tornarmos um dia talvez, uma pátria forte, soberana e livre para seguir o próprio destino.”11 Em 25 de janeiro de 2009 a FIB lançou o Manifesto da Guanabara no qual se propõe, sob novo contexto, a realização das velhas utopias integralistas. A FIB entende que o “novo” integralismo, assim como o dos tempos da AIB, deve se organizar por Centros Culturais e ou Núcleos e não buscar inserção no sistema representativo da democracia liberal. Defendem, como os antigos militantes, a chamada “Democracia Orgânica” que integra ao Estado as organizações dos trabalhadores, os sindicatos, no molde do corporativismo. Em Juiz de Fora, Minas Gerais e em Campinas, Estado de São Paulo está mais forte o Movimento Integralista Linearista do Brasil, o MIL-B. Também divulgando o integralismo pela internet, este grupo se diferencia da FIB por acrescentar uma leitura mais abrangente da Doutrina do Sigma incorporando elementos que os intelectuais do movimento da década de 1930 consideravam estranhos ao catolicismo, como a aceitação da Maçonaria. Ainda há a Ação Integralista Revolucionária, a AIR que, embora menos ativa, aparece como outra alternativa ao movimento atual, tecendo críticas às estratégias anteriores da AIB e do PRP e defendendo a organização por núcleos. Esta “recuperação” atual de um movimento como o integralista permite a reconstituição de trajetórias do pensamento autoritário que permanecem como visões de mundo arraigadas como verdades incontestáveis acerca da formação do povo brasileiro, como pacífico, ordeiro e, acima de tudo, cristão. Nesta perspectiva, juntam-se ao integralismo, outras correntes de pensamento que, ao resgatarem fundamentos conservadores, se organizam com as mesmas motivações que levaram às ruas centenas de pessoas no início do século XX: o apelo à imposição da moral cristã, a proteção da família, o combate ao comunismo e a defesa da propriedade. 11 Conferir no site: http://www.integralismorio.org/institucional/index.html 12 Um destes movimentos é a Sociedade Tradição, Família e Propriedade, a TFP, que, fundada em 1960, proclamava-se como “entidade de caráter cultural e cívico, de inspiração católica”.12 A TFP encontrou ressonância no Norte e Noroeste fluminense pela grande adesão que recebeu o Bispo da Diocese de Campos dos Goytacazes, Dom Antonio de Castro Mayer ao movimento de resistência às mudanças empreendidas pelo Concílio Vaticano II, de 1961. Dom Castro Mayer tornou-se bispo diocesano de Campos em 1948 e destacou-se pela defesa do catolicismo conservador da Coetus Internationalis Patrum que pregava a permanência do latim nos rituais católicos, o Ordo Missae Gregoriano, o que para a “nova” Igreja católica afastava o povo das missas. Embora falecido, desde 1981, o Bispo de Campos ainda tem seguidores da tradição católica no campo da ortodoxia e da ortopraxis nesta região do Estado do Rio de Janeiro. Considerando a existência de outros grupos de cunho conservador, autoritário e nacionalista, como os chamados movimentos nativistas, neonazistas, entre outros, a pesquisa também dedicar-se-á a investigar outros movimentos que se apresentam como representativos dessas perspectivas ideológicas no Brasil na atualidade, levando em consideração seus ecos na capital, nas periferias e no interior fluminense. Referências Bibliográficas: CARNEIRO, Márcia R. da S. R. 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