UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI MÁRCIA REGINA FRANCO FRANZONI SÍNDROME DE BURNOUT: a confiabilidade da dimensão despersonalização (cinismo) no instrumento MBI. Itajaí 2009 MÁRCIA REGINA FRANCO FRANZONI SÍNDROME DE BURNOUT: a confiabilidade da dimensão despersonalização (cinismo) no instrumento MBI. Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Psicologia, na Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI - Centro de Ciências da Saúde. Orientador: Prof. Dr. Eduardo José Legal. Itajaí 2009 2 DEDICATÓRIA Dedico esta pesquisa ao meu marido Paulo e às minhas filhas Isabella e Andressa, que sempre estiveram comigo em todos os momentos e que apesar de todas as dificuldades encontradas, conseguiram compreender a minha necessidade de crescimento e de em alguns momentos eu não conseguir desfrutar de suas companhias. 3 AGRADECIMENTOS Agradeço profundamente aos professores: meu orientador Dr. Eduardo José Legal, que com sua paciência e bom humor me incentivou na realização da presente pesquisa e compartilhou comigo seu conhecimento; ao Prof. Dr. Jamir Sardá Jr. e a Profª. MSc. Heloísa Beatriz Machado, pela disponibilidade de participação no processo avaliativo da pesquisa e da banca, colaborando assim com meu enriquecimento acadêmico. Em especial, deixo meu agradecimento e minha gratidão a todos os professores que consentiram em participar da entrevista, colaborando assim para a realização da presente pesquisa científica. 4 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................08 2 EMBASAMENTO TEÓRICO...................................................................................10 3.2 Instrumento ......................................................................................................... 17 3.3 Coleta dos Dados ................................................................................................ 18 3.4 Análise dos Dados .............................................................................................. 18 4.1 Dados demográficos da amostra......................................................................... 20 4.2 Resultados do MBI .............................................................................................. 22 4.3 Relatos das entrevistas e sua análise: ................................................................ 23 4.3.1 Categoria1: Fontes de Estresse no Ambiente de Trabalho: ............................. 23 4.3.2 Categoria 2: Auto-Percepção da Despersonalização (cinismo) ....................... 39 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................58 7.1 ANEXO 01 – MBI-HSS ........................................................................................ 63 8 APÊNDICES............................................................................................................65 8.1 APÊNDICE 1: ...................................................................................................... 65 8.2 APÊNDICE 02 ..................................................................................................... 66 8.3 APÊNDICE 03 ..................................................................................................... 67 5 SÍNDROME DE BURNOUT: A confiabilidade da dimensão despersonalização (cinismo) no instrumento MBI. Orientador: Profº Dr. Eduardo José Legal Defesa: novembro de 2009. Resumo: A presente pesquisa se propôs investigar a confiabilidade da dimensão despersonalização mensurada pelo instrumento MBI-HSS (Maslach Burnout Inventory - Human Services Survey), em uma população de professores da área de saúde de uma instituição superior de ensino, a fim de se detectar possíveis incoerências na mensuração da referida dimensão. De acordo com várias pesquisas, é conhecido que os resultados são discordantes, quanto à confiabilidade da dimensão no referido instrumento, em termos culturais. O MBI avalia as três dimensões conceituais que caracterizam a Síndrome de burnout, a saber: Exaustão Emocional, Despersonalização (cinismo) e reduzida Realização profissional. Desta forma, objetivou-se levantar os sintomas relativos à Síndrome de Burnout; descrever os sintomas relativos à dimensão despersonalização, através dos relatos dos participantes, em relação às situações em que estas se apresentam e comparar com os resultados do MBI. Para alcançar os objetivos propostos, primeiramente foi aplicado o MBI- HSS entre os professores que consentiram em participar de uma entrevista semi-aberta, na qual foram privilegiadas as situações percebidas e experienciadas pelos mesmos no que se refere às fontes de estresse e aos relacionamentos interpessoais no cotidiano de trabalho. Para a análise das entrevistas, foram utilizados procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição de conteúdo, buscando indicadores que permitissem conhecer sintomas/sinais relativos à despersonalização nos professores investigados. A presente proposta de trabalho fez uso dos métodos de pesquisa quantitativo e qualitativo, definindo-se como empírica, de natureza exploratória. Os dados do MBI foram computados de acordo com a norma para sua correção e as entrevistas foram transcritas e analisadas por meio do método e análise de conteúdo. Os resultados desta pesquisa demonstraram que os escores do MBI-HSS não foram indicadores de sintomas de burnout no grupo, contudo, para alguns participantes, os índices em uma ou outra dimensão alcançaram valores maiores, indicando propensão ao desenvolvimento da síndrome. Na análise das entrevistas foram evidenciados alguns sintomas relativos à dimensão despersonalização em alguns professores. A comparação dos instrumentos utilizados demonstrou que o instrumento MBI não conseguiu captar com precisão alguns aspectos da despersonalização demonstrados através dos relatos de alguns participantes desta pesquisa, especificamente em relação aos colegas de trabalho. Este resultado vem a confirmar a deficiência do instrumento na mensuração desta dimensão específica, ocasionado, em tese, pela distorção da auto-percepção em relação ao tratamento dispensado às pessoas no ambiente de trabalho. Novas pesquisas devem refinar o instrumento a fim de ampliar seu foco (do cliente para os colegas de trabalho e organização) e modificar a forma (ou termos) de se avaliar a sintomatologia referente à dimensão despersonalização. Palavras-chave: 1.Burnout; 2. Despersonalização; 3. Modelo Triárquico; 4. MBI. Sub-Área de conhecimento: 7.07.09.04-1 - Fatores Humanos no Trabalho 6 MEMBROS DA BANCA ___________________________________ ______________________________________ Prof. Dr. Jamir João Sarda Jr. Profª. Heloísa Beatriz Machado, MSc. ________________________________________ Prof. Dr. Eduardo José Legal 7 1 INTRODUÇÃO É bem conhecida a problemática denominada "desgaste profissional" (Burnout) que ocorre em trabalhadores que se esgotam, depois de anos de trabalho em ocupações relacionadas a pessoas. “Este é o caso dos profissionais na área da saúde, nos quais se reconhece uma pressão psicológica superior a de outros profissionais de igual nível ocupacional e nos quais o desgaste profissional alcança cerca de 20 a 25% (REES; COOPER, 1992 apud GUIMARÃES; FREIRE, 2004, p.31)”. A síndrome de Burnout não aparece como resposta a um estressor determinado, mas é multifacetada, emergindo discretamente e comprometendo a qualidade do trabalho e dos relacionamentos interpessoais. Se manifesta através de três dimensões de sintomas: sentimentos de falta de energia (exaustão emocional); atitudes de distanciamento afetivo nos relacionamentos interpessoais – cinismo/ indiferença - (despersonalização); e insatisfação quanto ao trabalho exercido (reduzida realização profissional). Hoje, a incidência da síndrome é considerada entre os profissionais de ensino, superior à dos profissionais de saúde (FARBER, 1991 apud CARLOTTO, 2002). No caso da presente pesquisa que foi realizada com professores da área da saúde, unem-se as duas categorias profissionais mais apontadas para o desenvolvimento da síndrome. O instrumento mais utilizado para avaliar a síndrome de Burnout, é o Maslach Burnout Inventory (MBI)1, elaborado por Christina Maslach e Susan Jacson (GILMONTE; PEIRÓ, 1999 apud CARLOTTO; CÂMARA, 2007). Apesar de contar com traduções para várias línguas (incluindo o espanhol e português), o referido instrumento ainda possui alguns problemas psicométricos relacionados à sua validade (GIL-MONTE; PEIRÓ, 1999 apud GUIMARÃES; CARDOSO, 2004). Tecnicamente, os sintomas que fazem parte da síndrome de Burnout, são mensurados através do instrumento MBI. No que se referem à dimensão despersonalização, as questões são formuladas de modo direto, podendo coibir a 1 Este instrumento possui quatro versões: MBI-HSS (Human Services Survey), MBI-ES (Educational Survey), MBI- GS (General Survey) e MBI-SS (Student Survey) (LEGAL; THIEME, 2007). 8 respostas da pessoa. Respostas de nível alto “freqüentemente” ou “sempre”, denotam descuido com o trabalho e podem ser evitadas pelo respondente para evitar possíveis punições, ou minimizam sua percepção do desgaste envolvido em sua função. A sintomatologia da síndrome de Burnout é muitas vezes confundida com outras nomenclaturas conceituais de estresse ocupacionais existentes, gerando dúvidas quanto ao seu diagnóstico. A dimensão despersonalização (cinismo) é a que mais gera controvérsias (BENEVIDES-PEREIRA, 2002; MASLACH; LEITER, 1999). Sua mensuração, pelo MBI, tem gerado alguns problemas psicométricos relacionados à validade interna e externa (GIL-MONTE; PEIRÓ, 1999 apud GUIMARÃES; CARDOSO, 2004). Estes dados conflitantes com o modelo tridimensional, não aparecem apenas em versões do instrumento em português, mas também em espanhol e outras línguas (LEGAL; THIEME, 2007). Diante deste fato, sugeriu-se a investigação dos sintomas relativos à dimensão despersonalização também por meio de uma entrevista semi-aberta, incluindo a aplicação do MBI com o objetivo de verificar a confiabilidade do instrumento na respectiva dimensão. Diante de resultados contraditórios é importante estabelecer de que maneira as pessoas compreendem as características da dimensão despersonalização comparando-as cm os resultados do MBI, a fim de compreender se a mesma é uma característica apenas cultural ou se ela, de fato, deve ser interpretada como parte dos sintomas de Burnout. A análise da referida dimensão no instrumento MBI poderá vir a contribuir para os vários questionamentos levantados em relação à sua mensuração. Desse modo, este conhecimento é necessário para que haja um preciso diagnóstico diferencial, a fim de que uma intervenção mais efetiva possa ser desenvolvida nos casos em que for recomendada. 9 2 EMBASAMENTO TEÓRICO O Burnout é definido como uma síndrome psicológica, decorrente de tensão emocional crônica e desgaste de energia, que leva o profissional, a ter sentimentos de fracasso e atitudes negativas em relação ao trabalho que exerce. Faz referência a um tipo de estresse ocupacional e institucional gerado nos profissionais que mantém relação direta, contínua e altamente emocional com outras pessoas (MASLACH; LEITER, 1999; MUROFUSE; ABRANCHES; NAPOLEÃO, 2005; BENEVIDES-PEREIRA, 2002; HAHNMARY; CARLOTTO, 2008). A síndrome de Burnout se manifesta através de três dimensões: num esgotamento emocional (exaustão emocional), num sentimento de cinismo (despersonalização) e numa sensação de uma ineficácia profissional (baixa Realização Profissional). A definição predominante do modelo multidimensional da síndrome de burnout é que a mesma se desenvolve em resposta a uma prolongada exposição aos estressores interpessoais no trabalho (MASLACH, 2009). Segundo Benevides-Pereira (2002), o que diferencia o estresse do Burnout, é a mudança de perspectiva do plano individual no estresse, para o relacional no Burnout, devido à necessidade de estabelecimento de vínculo com as pessoas às quais o profissional se relaciona no trabalho. De acordo com Ezmann et al.(1998 apud SILVEIRA, 2005), o Burnout é distinto das reações clássicas de estresse porque está mais relacionado a uma fadiga psicológica e envolve atitudes negativas com relação aos usuários, clientes, à organização e ao trabalho. O psiquiatra Herbert Freudenberger descreveu o termo Burnout, na década de 70, como uma manifestação radical do estresse em sua fase mais aguda de esgotamento. Paralelamente, e de forma independente, Christina Maslach, adotou o termo Burnout, durante pesquisas com profissionais de serviços humanos e elaborou um modelo tridimensional da síndrome (BENEVIDES-PEREIRA, 2002; TAMAYO; TROCOLLI, 2001). Posteriormente, na mesma década (1978), Christina Maslach e Susan Jackson elaboraram o MBI (Maslach Burnout Inventory), para a mensuração da síndrome. Sua construção partiu inicialmente de duas primeiras dimensões, exaustão emocional e despersonalização, sendo que a terceira dimensão (realização profissional) surgiu após estudos desenvolvidos com pessoas de várias profissões (CARLOTTO; CÂMARA, 2007). 10 As questões metodológicas utilizadas no desenvolvimento das pesquisas da síndrome de Burnout têm sido as mesmas qualificadas desde a sua fase pioneira, ou seja, através da aplicação do instrumento MBI (Maslach Burnout Inventory). Este tem sido o instrumento mais utilizado nos estudos culturais e nas investigações sobre o processo de desenvolvimento da síndrome, independentemente das características ocupacionais da amostra e de sua origem (CARLOTTO; CÂMARA, 2007). Segundo Maslach & Leiter (1999), as profissões mais vulneráveis ao desenvolvimento da síndrome de burnout são geralmente as que envolvem serviços, tratamento ou educação. Na definição de Farber (1991 apud CODO; VASQUESMENEZES, 1999, p.241): “burnout é uma síndrome do trabalho, que se origina da discrepância da percepção individual entre esforço e conseqüência, percepção esta influenciada por fatores individuais, organizacionais e sociais”. A síndrome de Burnout tem sido abordada sob quatro perspectivas: Clínica, Social-Psicológica, Organizacional e Social-Histórica. A concepção clínica tem cunho individualista; a concepção Sócio-Psicológica (perspectiva mais adotada pela grande disseminação do MBI) situa-se os fatores de trabalho e os institucionais como condicionantes e antecedentes da síndrome; na concepção Organizacional, as dimensões apresentadas na síndrome (EE, DE, RP) tratam-se de mecanismos de enfrentamento, evidenciando os agentes estressores organizacionais como desencadeantes do processo; e na concepção Sócio-Histórica, os valores comunitários poderiam estar incompatíveis com os valores predominantes na sociedade atual. A perspectiva social-psicológica de Maslach e colaboradores é a mais aceita atualmente (BENEVIDES-PEREIRA, 2002). Das dimensões avaliadas pelo MBI, a dimensão Exaustão Emocional se refere à sensação de perda progressiva de energia, seguida de esgotamento físico, mental e emocional. A dimensão Despersonalização (DE) expressa o contexto interpessoal e é definida como atitudes de frieza, insensibilidade emocional com as pessoas receptoras do serviço, chegando ao cinismo e atitudes negativas. Já a reduzida Realização Profissional (rRP) se evidencia pela falta de motivação e insatisfação com o trabalho, na qual o trabalhador se auto-avalia de forma negativa, se julga incapaz de cumprir demandas de sua função e tem um sentimento de inadequação no trabalho (MASLACH; JACKSON, 1981 apud CARLOTTO; CÂMARA, 2007). Dentre as três dimensões que compõem a síndrome, a dimensão 11 “despersonalização” é a que se apresenta como defesa da carga emocional derivada do contato direto com o outro (VOLPATO, 2003). Segundo Maslach, Schaufeli e Leiter (2001apud CARLOTTO; CÂMARA, 2007) em resposta aos estressores interpessoais ocorridos na situação do trabalho, a síndrome de Burnout, é definida como um fenômeno psicossocial. Neste modelo, a dimensão exaustão emocional é a responsável pelo inicio de desenvolvimento da síndrome, desencadeada por características pessoais e pela carga de trabalho. Ao fazer uso de mecanismos de defesa inadequados, o profissional desenvolve atitudes de despersonalização, levando-o à falta de realização profissional (CARLOTTO; CÂMARA, 2007). Alguns autores agrupam os aspectos de sintomas e conseqüências do Burnout, em: afetivos, cognitivos, físicos, comportamentais, sociais, atitudinais, organizacionais e do trabalho, relatando que as principais manifestações afetivas são humor depressivo, desesperança, falta de significado para suas ações e sentimentos de impotência no trabalho, acompanhados de baixa auto-estima. Em relação às manifestações cognitivas, são relatadas dificuldades de concentração e tomada de decisão, perda de memória, presença de tiques nervosos, agitação e incapacidade para relaxar (TAMAYO; TRÓCCOLI, 2001). Em relação aos sintomas físicos, Tamayo e Tróccoli (2001) citam Freudenberger (1974) e Arches (1991) como autores que identificam os sintomas como resfriados freqüentes, problemas gastrointestinais, dores de cabeça, ansiedade, falta de ar, insônia e sensação de exaustão, que parecem estar associados ao quadro. As manifestações organizacionais e do ambiente de trabalho referem-se à perda do entusiasmo e do idealismo, que podem desencadear no abandono do emprego e levar ao absenteísmo (TAMAYO; TRÓCCOLI, 2001). O MBI é utilizado exclusivamente para avaliar a Síndrome de burnout, não considerando os elementos antecedentes e as conseqüências do processo. Avalia como o trabalhador vivencia seu trabalho, de acordo com os escores de cada dimensão, sendo que altos escores em exaustão emocional e despersonalização e baixos escores em realização profissional (esta subescala é inversa) indicam alto nível de burnout (CARLOTTO, 2004). De acordo com Benevides-Pereira (2002), após revisão do instrumento do MBI, que passou a se destinar ao trabalhador de outras profissões e não apenas aos da saúde e educação, Maslach, Jackson e Leiter, passaram a denominar a 12 dimensão Despersonalização por Cinismo2, e a de Realização Profissional por Eficiência Profissional. Esta tendência tem dividido a opinião dos autores, na medida em que descaracteriza a síndrome e a assemelha ao estresse ocupacional, perdendo seu sentido inicial, que é o de vinculo com as pessoas às quais presta serviço. Gil-Monte e Peiró (1997 apud Carlotto, 2004, p.501) “reforçam a importância de avaliar o MBI como um construto tridimensional, ou seja, as três dimensões devem ser avaliadas e consideradas, a fim de manter sua perspectiva de síndrome”. De acordo com o estudo de Carlotto e Câmara (2007), as autoras levantaram a hipótese de que pode acontecer um afastamento no campo cognitivo, no momento de responder especificamente as questões que se referem à dimensão despersonalização no instrumento MBI. Devido à própria percepção do trabalho, podendo interferir, ainda que de forma latente, em seus níveis de auto-estima e auto-eficácia percebidas. Neste sentido, as autoras pensam em um efeito de desejabilidade social sobre as respostas específicas da referida dimensão. Carlotto (2004), em seu estudo da análise fatorial do MBI (em uma amostra de professores), cita autores como Gil-Monte (1997); Jimenez et al. (1997); Cadiz e colaboradores (1997), indicando algumas debilidades psicométricas no MBI, principalmente do fator de Despersonalização. Gil-Monte (2005 apud CARLOTTO; CÂMARA, 2007) adverte que a baixa consistência da subescala despersonalização, pode também refletir problemas conceituais, uma vez que existem algumas indicações de que ela poderia ser tratada como um construto multidimensional. Segundo Lautert (1995 apud Carlotto; Camara, 2007), diferentes resultados do MBI, são encontrados quando aplicado em norte-americanos, no idioma original em que a mesma foi elaborada. Nas palavras de Tamayo e Tróccoli (2001, p.53): “a dimensão despersonalização tem apresentado um baixo índice de confiabilidade tanto na literatura em geral quanto nas versões brasileiras do MBI”. Também a versão espanhola do MBI-GS (General Survey) apresentou problemas com a dimensão despersonalização quando se utilizou o método varimax para análise fatorial (GIL-MONTE, 2002). Ajustado para apenas três fatores, as questões se agruparam de modo semelhante ao modelo tridimensional (idem). A tradução do MBI-GS (General Survey), uma versão do MBI para profissionais de 2 Cinismo é um termo inadequado para este conjunto de sintomas. cognato (cynical – aquele que não acredita na bondade humana, desconfiado, indiferente – OXFORD DICTIONARY AND THESAURUS, 1996). O termo mais apropriado para o português seria Indiferença (LEGAL e THIEME, 2007). 13 outras áreas que não educação ou saúde, também demonstrou problemas em relação à dimensão despersonalização na análise fatorial (LEGAL; THIEME, 2007). Maslach e Leiter (1999) apresentam uma sistematização das principais causas da síndrome de burnout, destacando os seguintes aspectos: excesso de trabalho, falta de controle, remuneração insuficiente, colapso da união, ausência de equidade e valores conflitantes. As autoras apontam que os aspectos destacados na etiologia da síndrome, estão associados aos processos e estrutura de administração das organizações (definições da missão e objetivos, conduta da administração central, estilo de supervisão, processo de comunicação, avaliação de desempenho, políticas de saúde e de segurança). Maslach (2009), em seu artigo de revisão, ao compreender as situações que causam burnout, evidencia que pode haver alguns fatores individuais de risco, mas que a natureza do trabalho e as variáveis situacionais predispõem ao burnout mais do que características individuais, salientando a necessidade de equilíbrio entre estes dois aspectos. Carlotto (2002) em um estudo com profissionais de universidades reforça a implicação dos aspectos organizacionais, mais do que os individuais. Dejours (1992) destaca a importância representada pelo papel da organização do trabalho, salientando que quanto menor a autonomia do trabalhador na organização da suas atividades, maiores as possibilidades de que a atividade gere transtornos à saúde mental. Na investigação desenvolvida por Byrne (1991 apud CARLOTTO, 2002), que buscou verificar o nível de burnout em um grupo de professores universitários e sua associação com variáveis demográficas, profissionais e fatores de estresse percebidos no exercício profissional, foram identificados estressores comuns e diferentes. Independentemente do nível de ensino de atuação do professor, todos dividem frustrações similares: pressão do tempo, classes com grande número de alunos, excessivas demandas administrativas, falta de suporte administrativo e exercício de vários papéis (CARLOTTO, 2002). A educação também pode estar associada à burnout, devido ao alto nível de expectativa de seus profissionais quando esta não pode ser preenchida (MASLAH; JACKSON, 1984 apud CARLOTTO, 2002). “Professores são comprometidos com o trabalho e envolvem-se intensamente com suas atividades, sentindo-se 14 desapontados quando não recompensados por seus esforços (FABER, 1991, apud CARLOTTO, 2002, p.191)”. O modelo sociológico, proposto por Woods (1999 apud Carlotto, 2002) aborda o estresse e a eventual manifestação de burnout em professores, a partir de fatores situados em níveis micro, intermediários e macro (p.191): Fatores micro são os que se situam dentro da biografia pessoal e profissional do professor (comprometimento, valores, carreira e papéis desenvolvidos); os fatores intermediários são os institucionais (tipo de escola, aspectos culturais do professor e dos alunos) e os macro são todas as forças derivadas das tendências globais e políticas governamentais. Estes níveis, em interação, desencadeariam o processo de “desprofissionalização”, caracterizado pela proletarização do trabalho dos profissionais da educação. Faber (1999 apud CARLOTTO, 2002) compartilha em muitos aspectos da visão sociológica para explicar burnout, mas acredita que seu entendimento está na abordagem psicológica (p.191): Sem se preocupar de onde emanam os estressores, acredita que burnout ocorre quando o professor sente que seus esforços não são proporcionais às recompensas obtidas e futuros esforços não serão justificados ou suportados. Destaca também a ênfase negativa dada às questões ligadas ao ensino, tendo freqüentemente seu foco voltado para dificuldades. Este quadro tacitamente reforça o senso de vitimização do professor, tornando-o mais vulnerável à burnout. No campo de estudos da sociologia ocupacional e médica, há dois modelos teóricos que podem ter a vantagem de levantar os aspectos relevantes para a saúde e que caracterizam o mundo ocupacional do trabalho pessoal: o modelo americano Demanda-Controle (Demand-Control Model, D/C, de Karasek, 1979 e Karasek; Theorell, 1990) e o modelo alemão crise de gratificação no trabalho ou Desequilíbrio entre esforço e recompensa no trabalho (Effort-Reward Imbalance Model, ERI, de Siegrist, 1996) (apud GUIMARÃES; FREIRE, 2004). De acordo com o modelo demanda-controle (D/C), quando há baixo controle no processo ocupacional, também há uma diminuição na margem de decisão e autonomia pessoal, e conseqüentemente, um pouco aproveitamento da capacidade pessoal. Esta concepção foi ampliada por Karasek (1992 apud GUIMARÃES; FREIRE, 2004), evidenciando que a ausência de apoio social no ambiente de trabalho também pode intensificar a reação estressante. Este modelo registra as 15 situações estressantes vinculando a carga de trabalho, o mercado ocupacional e a complexidade das experiências individuais. Diante de uma situação crônica de estresse ocupacional, observa-se uma limitação de recursos de enfrentamento (coping crítico) (GUIMARÃES; FREIRE, 2004). O modelo “Crise de gratificação no trabalho" ou "Desequilíbrio entre esforçorecompensa no trabalho" (ERI) sugere uma relação de influência recíproca entre a função ocupacional e a reciprocidade social. Neste sentido, o trabalhador espera que sejam concedidas algumas gratificações (salário ou benefícios; estima e valorização no trabalho e promoção e segurança no emprego) mediante seus esforços. Este modelo tenta identificar as reações estressantes no trabalho em relação às situações consideradas por um alto custo-esforço e um baixo beneficio/recompensa (GUIMARÃES; FREIRE, 2004). O destaque na recompensa social parece se justificar, segundo Cosmides; Tooby (1992 apud GUIMARÃES; FREIRE, 2004, p.40): devido a que “Estas expectativas ficaram impressas, ao longo do processo evolutivo, nas estruturas cerebrais humanas como uma ‘regra’ básica do intercâmbio social, a ‘regra’ da reciprocidade e a justiça”. Os dois modelos permitem identificar os fatores psicossociais no trabalho e apresentam medidas de prevenção (GUIMARÃES; FREIRE, 2004). As propostas do modelo DIC se relacionam com medidas de replanejamento, enriquecimento, desenvolvimento de habilidades e incentivo a participação no trabalho. O modelo ERl centra-se na adequada relação entre esforço/recompensa. Exemplos destas medidas incluem o desenvolvimento de sistemas de compensação, construção de modelos de compartilhamento de necessidades e o reforço de gratificações não financeiras. Podem ainda ser exploradas formas de melhoria das oportunidades de ascensão e da estabilidade no emprego. Métodos complementares são o desenvolvimento da formação interpessoal e as habilidades sociais de relacionamento, em particular as do comportamento de liderança. Maslach e Leiter (1999) enfatizam dentre as intervenções preventivas, aquelas caracterizadas pela promoção dos valores humanos. 16 3 ASPECTOS METODOLÓGICOS 3.1 Amostra/ Sujeitos/ Participantes da pesquisa Participaram da pesquisa 13 professores que exercem funções em atividade de ensino, pesquisa e/ou extensão de um curso na área da saúde de uma instituição de ensino superior privada. Tal escolha da amostra se deu pela quantidade de dados disponíveis saúde/educação, na literatura apontando-os como especializada uma classe sobre na profissionais qual é comum de o desenvolvimento da síndrome de Burnout, pois unem as duas tarefas mais associadas à síndrome. A amostra foi formada pelos professores que concordaram em responder ao instrumento MBI; a um questionário referente a dados sóciodemográficos e organizacionais, bem como, aos que responderam à uma entrevista semi-aberta contendo questões referentes à dimensão despersonalização. 3.2 Instrumento Antes de iniciar a aplicação, os participantes foram informados sobre a pesquisa, formalizando sua participação através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, (apêndice 01) conforme normatiza as resoluções CNS 196/1996 e CFP 010/2000 que regulamentam a pesquisa em seres humanos na área de saúde e Psicologia, respectivamente. A presente proposta de trabalho fez uso dos métodos de pesquisa quantitativo e qualitativo, definindo-se como empírica, de natureza exploratória e descritiva, através da aplicação de três instrumentos: o MBI, um questionário e uma entrevista semi-aberta, a saber: Inventário da Síndrome de Burnout (MBI): (Maslach Burnout Inventory), adaptado e validado no Brasil por Tamayo (1997 apud TAMAYO; TRÓCCOLI, 2001). Este instrumento (anexo 01) é um auto-relatório (questionário preenchido pelo próprio indivíduo) respondido por meio de uma escala do tipo Likert de cinco pontos, variando de “1” = nunca a “5” = sempre. Contém 22 itens dos quais, dez são relativos à dimensão exaustão emocional (EE); cinco à despersonalização / cinismo (DE) e sete à realização profissional (RP). Considera-se o diagnóstico positivo para 17 Burnout, quando uma pessoa revele altas pontuações em EE e DE associados a baixos valores em RP (BENEVIDES-PEREIRA, 2002). Esses valores foram normatizados por Tamayo (1997 apud TAMAYO; TROCCOLI, 2001). Questionário: Consta de um conjunto de questões fechadas, relacionadas a dados sócio-demográficos e organizacionais (variáveis como sexo, idade, tempo de prática da profissão e grau de profissionalização, e que se encontra no final deste projeto (apêndice 01). Entrevista: Consta de questões semi-abertas, onde foram abordadas, a percepção das situações de estresse e dos relacionamentos interpessoais no contexto do trabalho e as estratégias de coping utilizadas pelos indivíduos cotidianamente (apêndice 02). 3.3 Coleta dos Dados Foi aplicado primeiramente o MBI e logo após, o questionário e a entrevista. Esta última foi gravada em áudio, como estabelecido no TCLE. A aplicação dos instrumentos utilizados na pesquisa foi agendada com cada participante, individualmente e de acordo com a disponibilidade de horário dos mesmos. Os dados foram coletados individualmente pelo pesquisador, fornecendo as instruções necessárias sobre como responder os instrumentos. 3.4 Análise dos Dados Os dados do MBI foram computados de acordo com a norma para sua correção, explicitada em Tamayo (1997). As entrevistas foram transcritas e analisadas por meio do método e análise de conteúdo sugerido por Cartwright (1974), visando obter, através de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição de conteúdo das entrevistas, indicadores que permitissem inferir conhecimentos relativos (nesta pesquisa) a sintomas/sinais de estresse ocupacional e despersonalização nos professores investigados. Para a composição das unidades 18 de análise das entrevistas, sugeriram-se as seguintes categorias, criadas em conseqüência dos próprios relatos dos entrevistados: Fatores estressantes no trabalho e auto-percepão dos relacionamentos interpessoais no ambiente de trabalho. Subcategorias foram acrescentadas à medida que se tornou necessário, mediante os resultados das entrevistas. Após a análise de conteúdo das entrevistas, os resultados do MBI foram comparados de modo qualitativo às entrevistas procurando pontos de intersecção e desconexão na dimensão “despersonalização”. Aos professores participantes será fornecida uma devolutiva dos resultados do próprio indivíduo e do trabalho (geral) assim que os dados forem analisados. Se possível, os dados gerais serão discutidos com o próprio grupo de participantes depois de serem apresentados à banca. Sugestões serão levantadas (individualmente e em grupo), bem como serão repassados ao grupo estratégias de enfrentamento para situações de estresse ocupacional e burnout. 19 4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A análise dos dados é apresentada de acordo com os objetivos propostos. Desta forma, os dados serão apresentados na seguinte ordem: 4.1 Dados demográficos da amostra; 4.2 Resultados do MBI; 4.3 Relatos das entrevistas e sua análise; e, 4.4 Comparações dos dados obtidos pelo MBI e na entrevista. 4.1 Dados demográficos da amostra A amostra deste estudo foi composta por 13 professores, com especialização no nível de mestrado, exercendo atividades em sala de aula e estágio. Para a realização da pesquisa, a autora do projeto entrou em contato com a grande maioria dos professores do curso específico da área da saúde, abordando-os individualmente e convidando-os a participarem da referente pesquisa. Os dados sócio-demográficos gerais da amostra são apresentados de forma resumida no quadro 01, a seguir. 20 Quadro 1. Demonstrativo dos dados demográficos da amostra. VARIÁVEIS CATEGORIAS Idade 28-38 anos 4 39-49 anos 7 50-54 anos 2 Feminino 11 Masculino 2 Casado 8 Solteiro 3 Separado 1 Viúvo 1 Nenhum filho 4 1 filho 5 2 -3 filhos 4 Especialização 2 Mestrado 10 Doutorado 1 Professor Extensão /Pesquisa 3 Professor em sala de aula/ 10 Sexo Estado Civil Números de Filhos Escolaridade Ocupação FREQÜÊNCIA campo/laboratório/hospital Número de horas em sala de aula Número de horas em estágio Tempo de Serviço Tempo na Instituição até 14 horas 6 15- 25 horas 3 26-35 horas 3 5-10 horas 2 15-20 horas 4 22-35 horas 3 Entre 5 - 10 anos 6 Entre 10 - 15 anos 2 Mais de 15 anos 5 Entre 5 - 10 anos 7 Entre 10 - 15 anos 2 Mais de 15 anos 4 21 A amostra foi composta em sua maioria, por professores na faixa etária de 39 a 49 anos, mulheres, casadas e com filhos. Observa-se que o tempo de trabalho da maioria dos entrevistados se dividiu entre os que trabalham na área da saúde e na instituição até 10 anos e há mais de 20 anos, constatando-se assim que os participantes se dividiram entre os mais novos e os mais antigos. 4.2 Resultados do MBI De modo geral, os escores do MBI-HSS não foram indicadores de sintomas de burnout no grupo, contudo, para alguns participantes, os índices em uma ou outra dimensão alcançaram valores maiores, indicando propensão ao desenvolvimento da síndrome. Tabela 1. Demonstrativo dos escores do MBI-HSS obtidos pelos professores entrevistados. PARTICIPANTE ESCORES NAS DIMENSÕES EE rRP DE Participante 1 1,56 1,75 1,2 Participante 2 1,78 1,88 1,4 Participante 3 3,33 1,75 1,4 Participante 4 2,78 2,50 1,4 Participante 5 1,89 2,13 1,2 Participante 6 2,44 2,50 2 Participante 7 1,56 1,88 1,6 Participante 8 3,33 2,63 2,8 Participante 9 1,67 1,63 1 Participante 10 3,22 3,00 1,6 Participante 11 2,33 2,13 1 Participante 12 1,56 1,38 1 Participante 13 3,11 2,13 2 22 Pode-se observar pelos resultados demonstrados na tabela 1, quatro escores mais elevados na dimensão EE, um para a dimensão DE e um para rRP. Em apenas um dos casos, a baixa realização profissional (rRP) e Exaustão emocional (EE) apareceram conjuntamente. Em outro caso, a EE alta apareceu em conjunto com Despersonalização (DE) elevada. Estes resultados são indicativos de prováveis casos em curso da síndrome de Burnout. De modo geral, no total de escores para DE, apenas um caso chama a atenção para uma elevação desta dimensão. Os demais casos apresentam uma variação de auto-percepção das questões relativas à DE, como inexistentes ou aparecendo raramente. Segundo Maslach e Leiter (1999), a primeira dimensão a surgir na Síndrome de Burnout é a Exaustão emocional, desencadeada geralmente pelas demandas provenientes do exercício do trabalho, podendo ser a EE um preditor de Despersonalização e esta por sua vez, um preditor do sentimento de baixa Realização no Trabalho. 4.3 Relatos das entrevistas e sua análise: Para uma melhor organização, optou-se por dividir os resultados em duas categorias. A primeira categoria apresenta e discorre sobre os relatos dos participantes ao avaliarem as fontes de estresse no ambiente de trabalho; a segunda categoria apresenta a percepção dos participantes avaliando seus relacionamentos interpessoais com os alunos/pacientes, colegas de trabalho e com a instituição. 4.3.1 Categoria1: Fontes de Estresse no Ambiente de Trabalho: Evidencia as situações experienciadas e percebidas pelos professores como fontes de estresse no cotidiano de trabalho. “Os estressores são exigências diante das quais a pessoa tem que confrontar-se e que provocam uma tentativa de superação ou resolução do problema (GUIMARÃES; FREIRE, 2004, p. 32)”. De acordo com as entrevistas realizadas com os professores, destacaram-se como fontes de estresse no ambiente de trabalho: • A Política Institucional e a sobrecarga no trabalho; • As dificuldades com a equipe de trabalho; 23 • As dificuldades com a mudança do perfil do aluno e suas repercussões no processo ensino-aprendizagem. As descrevemos a seguir: A Política Institucional e a Sobrecarga no trabalho: A sobrecarga no trabalho tem sido uma das variáveis mais apontadas como predisponentes ao burnout. “Diz respeito tanto à quantidade como à qualidade excessiva de demandas, que ultrapassam a capacidade de desempenho, por insuficiência técnica, de tempo ou da infra-estrutura organizacional (GIL-MONTE; PEIRÓ, 1997; KUROWSKI, 1999; MASLACH; SHAUFELI; LEITER, 2001; VEJA; URDÁNIZ, 1997 apud BENEVIDES PEREIRA, 2002, p.60)”. As políticas de administração determinam a carga de trabalho e especificam quanto controle os indivíduos exercem sobre o próprio trabalho. O grau em que uma pessoa pode controlar suas atividades, ou os acontecimentos em seu trabalho, interfere no seu bem-estar (MASLACH; JACKSON, 1999). Através das atribuições feitas por alguns professores entrevistados, em relação à Política Institucional e a Sobrecarga no trabalho, evidenciaram-se como fatores predisponentes ao estresse no ambiente de trabalho: • A pressão que a Instituição exerce sobre o professor através das mudanças administrativas; • O acúmulo de funções e atividades a serem cumpridas em um limitado espaço de tempo; • A auto-cobrança do professor no desempenho de seu papel de docente e com o desempenho do aluno; • A invasão que o trabalho exerce na vida pessoal do professor; • A insegurança do professor quanto ao número de horas/aula disponível semestralmente; • À falta de uma maior organização da infra-estrutura institucional, assim como no número de alunos e à necessidade de uma padronização de procedimentos de avaliação dos alunos; 24 De acordo com a fala de um entrevistado: Participante 11- “Em termos gerais, o que a gente encontra aqui é sobrecarga de trabalho mesmo... porque em função de todas as dificuldades que a Universidade tem enfrentado... tá havendo redução de pessoal, em todos os níveis... e aí, as funções que muitas pessoas executavam... agora, a gente tem que executar e tem que dar conta, porque a qualidade tem que ser mantida... o aluno não pode sofrer em função desses cortes... e a gente tem que suprir essa necessidade. Então assim, a demanda do trabalho está cada vez maior... muito grande. [...] mas não é uma coisa relacionada à profissão em si, é relacionada à Instituição, especificamente... e a gente consegue perceber que é uma coisa da Instituição”. Em relação à pressão que a Instituição tem exercido sobre o professor, foram destacadas as mudanças ocorridas na política institucional em decorrência da crise mundial nos últimos anos. De acordo com Carlotto (2002), as conseqüências decorridas do aumento de oferta de cursos e de instituições de ensino universitário e a concomitante necessidade de processos avaliativos desenvolvidos pelo Estado (como proposto na LDB aprovada em 1996), demandaram uma adequação na formação de uma nova estrutura organizacional e de uma nova dimensão pedagógica com conseqüente ampliação das atividades de ensino, pesquisa e extensão. Diante destas transformações, aumentou as responsabilidades e exigências sobre os educadores. De acordo com a fala de um entrevistado: Participante 10 – “Os principais problemas, no momento... Assim... bem atual, são... a pressão que a gente vive dentro da instituição, pelo reflexo da própria crise mundial, mas uma crise que a instituição já vivencia a um bom tempo... Isto, como a gente fala popularmente, espirra sobre o curso em si, como em todos os cursos, mas reflete também no nosso curso... Isto faz com que a coordenação cobre da gente resultados... faz com que a coordenação cobre produtividade e a gente tem que dar muito de si... e eu me sinto cobrada... muito cobrada a produzir, a dar conta dos resultados... A trabalhar com um público com muita dificuldade, a diminuir índice de reprovação com este público com muita dificuldade”. 25 Esta nova configuração do trabalho docente pode ocasionar ou incrementar determinados fatores de estresse de trabalho. Estes, quando persistentes, podem levar à Síndrome de Burnout, como o resultado do estresse crônico, típico do cotidiano do trabalho, principalmente quando neste existe excessiva pressão, conflitos, poucas recompensas emocionais e pouco reconhecimento (CARLOTTO, 2002). Em função do avanço da economia capitalista, há uma perspectiva em manter e promover à eficiência, assim, as tarefas de alto nível são transformadas em rotinas, existindo uma maior subserviência a um conjunto de burocracia. Esta nova realidade “supõe um profundo e exigente desafio pessoal para os professores que se propõem a responder às novas expectativas projetadas sobre eles (ESTEVE, 1999 apud CARLOTTO, 2002, p.188)”. Em relação ao acúmulo de funções e atividades a serem cumpridas em um limitado espaço de tempo, evidenciou através das falas de alguns entrevistados, a pressão e a dificuldade do professor em conciliar a realização de todas as atividades/horas/funções (pesquisador/ educador/enfermeiro) a que estão sujeitos pela exigência da categoria profissional e pela instituição. Devido à própria fragmentação da atividade profissional e das responsabilidades em que são exigidas do professor, há um aumento de tensão na atividade do trabalho. De acordo com Carlotto (2002) as conseqüências a este aumento de tensão é a consternação dos professores, pois em muitas situações, podem não possuírem meios e condições necessários para responder adequadamente. “[...] Assumir as novas funções que o contexto social exige dos professores supõe domínio de uma ampla série de habilidades pessoais que não podem ser reduzidas ao âmbito da acumulação do conhecimento (p. 188)”. Isto pode ser percebido no discurso de um entrevistado: Participante 8 – “Você tem inúmeras atividades pra desenvolver num curto espaço de tempo... Há uma cobrança muito grande... Tem momentos que você não sabe o que fazer primeiro de tanta coisa que tem pra fazer... aí você tem que parar e 26 estabelecer prioridades... e aí você fica ansioso, cansado, muitas vezes, a gente acorda cansado em relação a isso...” De acordo com Soratto e Pinto (1999) quando o professor sente dificuldades em não conseguir cumprir as exigências impostas pela amplitude do trabalho, sob condições objetivas, traz como conseqüências uma carga mental no seu cotidiano. Participante 3- [...] “Eu não posso dizer que eu tenho dificuldades... na realidade... são acumulo de funções, de trabalho que você tem... Então assim... eu não posso dizer que a instituição complica minha vida... não é isso, mas ao mesmo tempo... os prazos são mais curtos, as exigências são maiores... O que eu mais tenho... acho que é sobrecarga mesmo de trabalho, porque além das funções que você assume... você entra numa comissão disso, entra numa comissão daquilo... e são coisas extras. [...] Eles querem que a gente publique, mas não tem tempo... e ai você se cobra...”. Segundo o estudo de Byrne (1991apud CARLOTTO, 2002, p.195): “no que diz respeito ao professor universitário, a pressão para o desenvolvimento de pesquisas e a publicação científica foi apontada como o principal fator gerador de burnout”. Participante 6 - “[...] eu acho que a gente tem uma carga horária extensa para dentro da sala de aula e pouca pra publicar os trabalhos, então todo professor sonha em ter o trabalho feito com os alunos, publicados com certeza. [...] mas você tem que se dedicar isso no teu horário livre [...] isto é uma das coisas que me chateia um pouquinho...” Do ponto de vista institucional, o plano de trabalho do professor universitário tem que ser disposto de horas de pesquisa, mas também de muitas horas de ensino, o que pode não lhe sobrar tempo para investigações, nem para a preparação das aulas (FRANCO, 2001 apud CARLOTTO, 2002). Isto também pode ser também percebido nos conteúdos do discurso de vários entrevistados, ilustrando: 27 Participante 4 -“Os problemas que eu acho que todos professores estão enfrentando, na realidade... é a sobrecarga de trabalho... com relação à carga horária disponível para o trabalho... então a gente tá assumindo com a mesma carga horária, outras atividades que não são somente da extensão, não são somente do ensino e nem da pesquisa. São outras atividades que nos exigem a participação, por exemplo, dentro da comunidade. A gente tem reuniões fora da universidade, participa de outros fóruns, de outros colegiados, de outros conselhos, que isto não está computado em carga horária, então você sobrecarrega... e a carga horária que você tem... são carga horária de atividade diretamente... e a carga horária que você teria para corrigir prova, pra corrigir trabalho, para elaborar prova, para elaborar até mesmo a aula, você não tem essa carga horária... você faz isto nos teus espaços de lazer, durante os teus momentos de folga, então eu acho que isso é algo que sobrecarrega demais, então a gente tem que ter um bom jogo de cintura...uma boa possibilidade assim de organização, porque senão realmente complica o lado da saúde do indivíduo”. Segundo Carlotto (2002), o professor dispondo de mais tempo para a realização do trabalho, tem menos tempo para o convívio social, menos oportunidades de trabalho criativo e menos tempo para a atualização profissional. Soratto e Pinto (1999) também salientam de que o trabalho do professor para ser realizado a contento, implica em atualizações constantes, portanto, o professor necessita de mais tempo para preparar as aulas e para se atualizar. Participante 11- “Essas coisas acontecem, sobrecarga de trabalho... de repente você ta dando conta de uma demanda... Não deu tempo de acabar aquilo, já vem outra... e quando eu não vou conseguir eu digo: não vou conseguir... quando eu conseguir eu entrego... vou fazer o mais rápido possível... não vou morrer por causa disso...eu tenho que dormir, eu tenho que comer, eu tenho filhos... [...] Eu trabalho bem, trabalho bastante... minha capacidade de trabalho é bem grande, que além das coisas normais, eu invento um monte de coisa... Eu tenho um grupo de voluntários que trabalha uma vez por mês. [...] mas assim... são várias coisas que a gente tem que fazer [...] Eu sinto cansaço... tem hora que eu quero me aposentar mesmo... são 26 anos aqui na universidade... mas eu gosto do que eu faço”. 28 “O acumulo de exigências, a premência de tempo e o alto nível de responsabilidade associado levam freqüentemente a sobre- esforços mentais e a situações estressantes (GUIMARÃES; FREIRE, 2004, p.32)”. De acordo com a fala de dois entrevistados: Participante 3 - “To em casa às vezes... vendo um filme, lendo um livro... pô... mas tem isto pra fazer... tem aquilo pra fazer... Meu filho perguntou: ‘porque tua professora pede tanta coisa, mamãe?’. A mamãe é a professora e a mamãe está fazendo isto pros alunos... ‘mas você trabalha tanto mamãe! ’... e era domingo... Isto cansa sabe, assim... Tem horas que você cansa... não vive... prejudica tua qualidade de vida... mas assim... o cansaço é mais físico”. Em relação à invasão do trabalho na vida pessoal de alguns entrevistados, fica evidente, pela fala dos mesmos, o quanto as tarefas do cotidiano de trabalho são transportadas para o seio familiar, tomando parte da rotina fora do local de trabalho. No estudo de Vasques-Menezes, Codo e Medeiros (1999), foi evidenciado que em torno de 6% dos profissionais de educação pesquisados, relataram que a invasão do trabalho no ambiente familiar é fonte de sofrimento. “A relação trabalho x família é uma relação biunívoca onde o trabalho afeta a família e a família afeta o trabalho (VASQUES-MENEZES; CODO; MEDEIROS, 1999, p.256)”. De acordo com a fala de dois entrevistados: Participante 3 - “To em casa às vezes... vendo um filme, lendo um livro... pô... mas tem isto pra fazer... tem aquilo pra fazer... Meu filho perguntou: ‘porque tua professora pede tanta coisa, mamãe?’. A mamãe é a professora e a mamãe está fazendo isto pros alunos... ‘mas você trabalha tanto mamãe! ’... e era domingo... Isto cansa sabe, assim... Tem horas que você cansa... não vive... prejudica tua qualidade de vida... mas assim... o cansaço é mais físico”. Participante 13 – [...] “É o cansaço um pouco... às vezes ele bate o cansaço... quando a gente vê que já não ta mais produzindo... não tem mais produção, tem um momento que tem que parar... parar porque não tem mais... condições de seguir. [...] 29 O tempo curto que eu tenho... às vezes eu vejo que eu não tenho tempo pra mim, não consigo ter tempo pra mim... tempo pra mim é irrisório, mas que eu consigo cumprir estas tarefas... eu consigo”. “No caso da existência do conflito entre trabalho e família, onde o trabalhador sente-se roubado de um tempo que poderia estar se dedicando à família, percebese um aumento significativo dos fatores exaustão emocional e despersonalização (VASQUES-MENEZES; CODO; MEDEIROS, 1999, p.256)”. Segundo Maslach e Leiter (1999), o desgaste físico e emocional é uma conseqüência de um desequilíbrio entre as necessidades do individuo e as exigências do trabalho. Ainda, segundo as mesmas autoras, o desgaste, é um problema da estrutura e do funcionamento do local de trabalho, que moldam a forma de interação das pessoas e a forma como elas realizam seu trabalho. Evidente, também, foram as questões relacionadas à auto-cobrança do professor no desempenho de seu papel de docente e de sua preocupação com o desempenho do aluno: De acordo com Benevides-Pereira (2002), o conjunto de funções, expectativas e condutas que uma pessoa desempenha em seu trabalho constitui-se em seu papel específico como profissional. “O papel do professor tem se modificado na tentativa de atender às expectativas e necessidades da sociedade atual, que se encontra em constante processo de mudança (CARLOTTO, 2002, p. 188)”. De acordo com a fala de um entrevistado: Participante 10 – “Tive um problema poucos dias com um aluno, colando. Quando eu o abordei ele me acusou de está-lo constrangendo... [...] eu acho que as pessoas me consideraram como culpada neste episódio... Eu agi de acordo com minha consciência, me senti péssima... horrível. Senti decepcionada... [...] eu me senti desmotivada, desestimulada... eu não vou desistir... mas sabe quando tu pensas em desistir? Fiquei com vontade de não continuar mais. Tu questionas seus valores. Não é nada agradável. [...] Você sonha assim, por exemplo... Que eu quero na minha profissão? Destes 40, 50 que se formam em cada semestre, dois, três talvez sejam ótimos profissionais... os outros serão enfermeiros e alguns nunca chegarão a 30 ser. Só que você, enquanto educador... você se empenha... você idealiza o aluno ideal... e você quer que todos sejam... e não existe isso”. Quando há um embate entre as informações e as expectativas do trabalhador sobre seu desempenho, pode ocorrer um conflito em não conseguir corresponder ao que os colegas, supervisores, etc. esperam dele. [...] “Quanto maior o conflito de papéis, maior a probabilidade do desencadeamento do Burnout (BENEVIDESPEREIRA, 2002, p.62)”. Este conflito pode levar o professor a se avaliar negativamente, particularmente a respeito do próprio trabalho com os alunos. “Não conseguir atingir os objetivos aos quais se propõe traz ao professor um sentimento de impotência, de incapacidade pessoal para realizar algo que tanto sonhou (CODO; VASQUESMENEZES, 2002, p. 242)”. Em relação à falta de estabilidade quanto ao número de horas/aula disponível semestralmente aos professores, evidenciou-se a insegurança gerada na fala de alguns entrevistados: Participante 4 - “Eu era de uma época que a gente sabia a carga horária que tinha, a gente era período integral sem se preocupar se tinha 40, 2, 30 ou 20... E as coisas aconteciam e tudo era feito dentro daquela carga horária”. Participante 10 - “Você se sente assim... puxa!... não adiantou nada... todo semestre é a mesma coisa... você nunca sabe se semestre que vem vai ter a carga horária garantida. A gente sente uma insegurança muito grande... Todo semestre é uma redistribuição da carga horária... a gente se encontra assim com outros professores... até de outros cursos e eles perguntam ‘como é que ficou tua carga horária? ’ Então isto já é uma coisa que já paira no ar... Lógico... Eu digo assim, a profissão docência, independente do curso. Eu só exerço a docência...”. Participante 12: [...] “Às vezes tu ta chateada... você sai de casa por alguma coisa mesmo... você se chateia, porque não tem dinheiro pra pagar a luz... diminuiu reduziu a hora de trabalho...coisas assim...”. 31 O professor, como qualquer trabalhador, vende sua força de trabalho para suprir suas necessidades materiais e afetivas, devendo receber, do ponto de vista material, o suficiente para lhe garantir segurança e estabilidade; e do ponto de vista afetivo, satisfação, reconhecimento e respeito. Neste sentido, o trabalhador aspira ter condições de levar a sua vida de modo satisfatório (VASQUES-MENEZES; CODO; MEDEIROS, 1999). A instabilidade quanto ao número de horas também foi observada na fala de um entrevistado, como um gerador de conflito nos relacionamentos interpessoais. Participante 8 – “Há uma dificuldade muito grande... uma disputa de poder muito grande entre os professores. Disputa por carga horária... disputa por... ‘tatos’... ‘eu sou mais que você’... ‘eu sou mais importante’... e tem muitas pessoas que são capazes de fazer muita coisa por isso... [...] Este negócio da ganância, de carga horária... são pessoas que conversam comigo, são pessoas extremamente simpáticas, que demonstram simpatia, que conversam... e quando você não está próximo manipulam de uma forma... e isto é que me chateia bastante... Neste semestre... o grande problema é a disputa pela carga horária... que algumas pessoas têm uma ambição tão grande que são capazes de excluir você pra não precisar dividir a carga horária daquela disciplina com você... [...] e o que eu to fazendo hoje... é como fazer de conta que isto não aconteceu... e continuar trabalhando junto... com a pessoa, sem que a pessoa perceba... de que eu to ali, que eu tenho competência pra isso... tentando buscar meu espaço aos poucos...” Nas entrevistas, destacaram-se também nas falas de dois entrevistados, a falta de organização na infra-estrutura da instituição, o número excessivo nas turmas de alunos e à necessidade de uma padronização nos procedimentos de avaliação: Participante 2 - “A gente tem turmas muito grandes, isso eu acho que é um fator complicador na realidade de trabalho. Claro que se a gente olhar pro atual contexto da universidade... quanto mais aluno melhor, mas no sentido do ensino... é o numero de alunos... Em principio é isso... tem algumas coisas de estrutura de sala de aula... que eu acho que isto também prejudica um pouco... os quadros colocados em locais inadequados... coisas deste tipo, mas basicamente é isso, fora isto eu não vejo outros problemas... [...] As dificuldades maiores que eu sinto na parte 32 profissional, é uma questão muito mais institucional de alguns problemas que tem acontecido... de fluxo de algumas coisas, tipo reserva de auditório... é um trabalho imenso. [...] É uma questão muito mais... como é que eu vou dizer... uma questão de organização da instituição em si, do que especificamente outras coisas... é neste sentido assim... Eles deviam tomar algumas medidas pra facilitar o trabalho... eles fizeram algumas mudanças que só se tornou isto mais complicado ainda. Um exemplo, os outdoors. Pra reservar os auditórios é uma novela e tanto. Aí geralmente eles nunca vêm abrir no horário programado... então isso é muito chato, por que muitas vezes a gente acaba meio que passando por ‘incompetente’, ou mesmo por irresponsável por este tipo de coisa que não tem nada a ver.” De acordo com Sorattto e Pinto (1999), turmas muito grandes são inadequadas, tanto para professor que tem que empreender um esforço extra para garantir a qualidade de suas aulas, quanto para os alunos que tem as condições de aprendizagem prejudicadas. Assim conforme aumenta o número de alunos por turmas, aumenta também o nível de carga mental exigido do docente. Também se evidenciou a necessidade de uma padronização na instituição quanto aos procedimentos de avaliação dos alunos. De acordo com a fala de um entrevistado: Participante 5- “[...] Então assim... o que é ser enfermeiro, por exemplo?... Ser enfermeiro pra mim, por exemplo, é ter um conhecimento da área e este conhecimento não precisa ser total, porque isto não existe, e ao mesmo tempo... que essa pessoa saiba se relacionar... tenha uma boa comunicação e ele tenha ao longo da academia pra desenvolver isso... Entretanto, esta academia... ela acontece em etapas, então se estou na terceira etapa... entende que o aluno ao estar nela... para sair dela, ele teria que completar esta etapa, senão ele não estaria apto ‘para’. E às vezes o que se percebe, é que assim... ‘não’, a academia ela ta um pouco confusa assim hoje... Sabe... o que é mercado e o que o mercado vai exigir do aluno? O mercado não vai exigir isso, ou não... o mercado vai ensinar pra ele. [...] Então assim... não existe no curso isso: Ah! até onde você vai ensinar e até onde você vai cobrar?... [...] Será que o que eu cobro é a mesma coisa que outros professores? E aí assim... é aquilo que eu te disse antes, não tem um padrão... então quando não existe um padrão de cobrança...[...] e aí isso vai gerar conflito, porque o aluno em 33 algum momento vai dizer ‘não, ela cobra mais que fulano’. Então volto a falar, a instituição precisa colocar um padrão de avaliação... existem critérios de avaliação e até estes critérios de avaliação cada vez mais vem sendo assim, fragmentado pra que se chegue neste padrão”. Dificuldades com a equipe de trabalho: Evidenciou-se a divergência de opiniões entre os professores, no que se refere ao que a instituição preconiza e suas repercussões no comprometimento da equipe, acarretando em dificuldades de relacionamento interpessoal entre os mesmos e minando o suporte social. Segundo Vasques-Menezes e Soratto (1999), suporte social se refere à rede social que se estabelece naturalmente entre colegas de trabalho, vizinhos e conhecidos e que no contexto específico do trabalho, se torna um forte aliado na proteção da saúde mental. O suporte ou apoio organizacional tem a ver com o sentimento de união entre colegas e superiores, a percepção de que as pessoas, no ambiente de trabalho, estão disponíveis para ajudar e orientar, em um clima de respeito e consideração. Quanto menor o suporte sentido por um profissional, maior a probabilidade de desenvolver Burnout (GIL-MONTE; PEIRÓ, 1997; KUROWSKI, 1999; MASLACH; SHAUFELI; LEITER, 2001 apud BENEVIDES-PEREIRA, 2002). “A segunda função da rede social é de auxiliar objetivamente a resolver problemas, quer no sentido de que compartilha soluções, quer no sentido que permite a descarga de uma carga afetiva (VASQUES-MENEZES; SORATTO, 1999, p. 267)”. Ainda segundo os mesmos autores, quanto melhor for o suporte social, mais o indivíduo tem condições de desenvolver estratégias para lidar com os problemas do cotidiano. De acordo com a fala de alguns entrevistados: Participante 5 – “Bom... na verdade, os problemas existentes... Na grande maioria deles, são todos relacionados ao comprometimento da equipe que a gente trabalha. [...] Uma vez que uns se comprometem mais, uns menos, então... acho que a maior dificuldade é a visão que se tem de ensino... na questão do ‘ser enfermeiro’, que é diferente entre os professores... e isto, em algum momento vai trazer algumas dificuldades... Até o momento todas bem solucionadas assim, mas claro... isto em algum momento, traz a frustração pra gente... [...] Eu acho que isto é o mais 34 complicado né... São vários profissionais com formações completamente distintas e com visões de ‘ser enfermeiro’ diferentes... Então isso às vezes incomoda... influencia no relacionamento... o relacionamento passa a ser mais estressante até na visão de cobrança ‘desse ser enfermeiro”. Neste sentido, Maslach e Jackson (1999), pontuam que o conflito mal resolvido destrói o sentimento de união, causando frustração, ansiedade, desrespeito e suspeita no local de trabalho, fazendo com que com seja menos provável que as pessoas se ajudem em momentos difíceis. Participante 8 - “A dificuldade que eu encontro pra trabalhar aqui na docência... estão relacionadas principalmente com o relacionamento entre os colegas. Há uma dificuldade muito grande... uma disputa de poder muito grande entre os professores... [...] e tem muitas pessoas que são capazes de fazer muita coisa por isso... de burlar normas, de privilegiar pessoas... Então há uma dificuldade muito grande em se estabelecer no curso [...] As reuniões de grupos de professores... são muito importantes... por que se eu estou trabalhando com 5 pessoas que são bem tranqüilas, eu trabalho bem tranqüilo, mas se um ficar ‘ruminando’ aquele problema... o outro também vai ‘ruminar’... quando eu vejo também estou ‘ruminando’...Às vezes eu me percebo fazendo coro àquela turma que ta verbalizando tanto a sua ansiedade, que fico mais ansioso ainda que as vezes eu tenho que sair da sala. Nós temos um grupo de professores muito ansiosos, muito estressados.” A qualidade dos relacionamentos e o sentimento efetivo da existência ou não de suporte social pode variar de acordo com as características pessoais ou em função dos problemas vivenciados em algumas condições situacionais. Outro aspecto observado, é que a falta de suporte social pode não ser real, podendo decorrer de uma percepção distorcida da realidade ou de um nível de exigência do indivíduo em razão de uma necessidade pessoal (VASQUES-MENEZES; SORATTO, 1999). A ausência de suporte social (real ou imaginária) pode desencadear uma série de comprometimentos pessoais ou profissionais. “A nível pessoal, na falta de alternativa para extravasar tensões diárias [...]. Para a vida profissional essa tensão 35 acumulada exacerba e é exacerbada pelos desgastes da própria atividade (VASQUES-MENEZES; SORATTO, 1999, p.269)”. O sentimento de não integração social pode interferir na relação do trabalhador com o seu trabalho no aspecto mais funcional, ou seja, no sentido de motivação e dedicação a ele. Participante 6 - “Acho que a maior dificuldade... é... trabalhar dentro de um grupo grande... vários professores... tendo uma política institucional que nem sempre... agrada a todos os membros, mas... é fazer com que todas estas pessoas envolvidas tenham um objetivo comum ainda assim dentro do ensino... Trabalhar com esta diversidade de opiniões, que às vezes conflita até mesmo com a política da instituição e você... numa situação como de coordenação, por exemplo, de apoio à coordenação, que todos ainda pensem num objetivo comum, que é o ensino, que é o aluno... eu acho que esta é uma das maiores dificuldades pra mim hoje, com relação ao trabalho. [...] Algumas pessoas acreditam mais em alguns objetivos e outras que acreditam em outros... e não necessariamente estes dois grupos conseguem ver que os objetivos deveriam ser os mesmos. E aí... às vezes a gente entra em conflito interno, nos dois grupos... defendendo uma idéia que não necessariamente é igual, mas por traz dela tem uma boa intenção... e a gente acaba desgastando numa discussão pessoal de que talvez o meu método é melhor, qual método é pior e assim vai. Então este relacionamento com o grupo é bastante complexo ...e é bastante difícil...” Participante 7- “Assim, o que me incomoda é quando eu vejo assim... brigas desnecessárias, porque a grande parte dos conflitos são relacionais, sabe... um professor falando mal do outro... coisas que às vezes não envolve diretamente a coordenação. Então eu fico um ‘pouquinho’ chateada... quando eu vejo que é uma bobagem... que não precisaria provocar o transtorno que provocou...” Segundo Maslach e Leiter (1999), mesmo com a tendência crescente em se trabalhar em equipe, as organizações dão pouca atenção ao treinamento com habilidades interpessoais, enfocando mais habilidades técnicas ou econômicas, transformando assim, o ambiente de trabalho num terreno fértil para o desenvolvimento do desgaste físico e emocional, o que num primeiro momento, 36 pode fragmentar as relações pessoais e num segundo nível, minar o trabalho de equipe. A mudança do perfil do aluno e suas repercussões no processo ensinoaprendizagem: De acordo com as falas de alguns entrevistados, evidenciou-se a dificuldade que alguns professores encontram em lidar com a mudança de perfil do aluno, o que conseqüentemente reflete no processo ensino- aprendizagem: Participante 8 – “O professor se esmera, prepara aula, dá aula, ministra e a contrapartida não acontece. Reclamam as vezes que não aprendem, mas eles não estavam em sala de aula pra aprender... eles saem... não se interessam... e isso me deixa bem chateado. [...] e eles querem nota, eles não querem aprender. Eu posso dizer com certeza que isto é mais de 80 % dos alunos. Criou-se uma cultura da estratégia, é uma palavra que eu já não posso mais nem ouvir direito... é estratégia. Os alunos... a partir da primeira prova que fazem... uma semana depois já vem... ‘vai ter uma estratégia de recuperação de nota?’ [...] eles não se preocupam que eles não aprenderam aquele conteúdo ou que eles não conseguiram mostrar o conhecimento. [...] a gente quer que eles aprendam e eles querem nota pra passar. Isto é uma dificuldade bem grande que eu encontro aqui”. Participante 3 -“Hoje o nosso aluno exige mais... o aluno mudou completamente, antes... você dizia ‘faz isso tal dia... tal hora’... era um tratamento até mais autoritário em alguns momentos. E hoje não, hoje ele tem um monte de recurso, ele tem um monte de instrumentos... às vezes ele vem pra aula já sabendo todo o tema... porque ele já estudou na internet, já buscou... então assim, você luta hoje contra todo um conhecimento que já está posto... né. Então assim... O professor hoje, ou ele se atualiza em todos os aspectos, assim no trato com aluno... entra em blog ou sei lá o que, ou ele entra no ostracismo. Então... as mudanças mundiais é que fizeram com que também o nosso papel mudasse”. Participante 1 – “A relação com os alunos, nos dias de hoje é um pouco mais difícil assim... no sentido do perfil que a gente lida, um aluno mais inquieto... um aluno que 37 não para mais em sala... então assim, é um estresse voltado pra isso, digo, o perfil do aluno que nós temos hoje, nada que não dê pra lidar de forma tranqüila... [...] é um aluno muito imediatista... que tem acesso a tudo... então você tem que hoje... criar muitas estratégias pra dar conta de atingir este aluno... então isto mobiliza muito mais coisa, não a dificuldade de ser ‘a dificuldade de relacionamento não’... Você tem que se movimentar mais pra dar conta do que você dava conta antes com menos. Isto movimenta o professor de uma certa forma... faz também com que ele vá atrás de outras coisas também pra um aluno de hoje...Estimula... um aluno virtual...antenado o tempo inteiro... É outro aluno neste sentido. [...] Pode ser por um aspecto mais cansativo...até, mas também estimulante...[...] Na verdade em alguns momentos, por conta desta mudança...o professor também fica desmotivado. Às vezes você espera mais de um aluno e de um aluno hoje que é muito desinteressado em sala de aula. Um aluno que não tem mais paciência com o professor... um aluno que não valoriza, desmotiva por um lado, acho que isto é o maior problema, você sai da aula hoje não mais com aquela sensação de que conseguiu atingir o aluno...Hoje a gente sai da aula e vê que eles não captaram a mensagem...não porque você não buscou formas, mas porque hoje ele tá preocupado com outras coisas. Ele ta ali de corpo presente, mas não leva a sério, uma hora ta preocupado com a internet, celular, eu acho que se afeta de alguma forma até sim......o professor sente-se desmotivado. Desmotiva o professor que se prepara... que se organiza, que lê, que vai, que procura e que chega ali as vezes vê que tudo o que tu buscou para esse nosso aluno de hoje é vazio”. Participante 10-. “[...] A gente tem um público... que é o nosso público alvo, e que são pessoas com um grau bastante importante de dificuldade cognitiva, de dificuldade de aprendizado e isto faz com que a gente se sobrecarrege muito, porque você tem que voltar... fazer uma nova estratégia, repetir estratégia... até que este aluno alcance o objetivo a que as disciplinas se propõem, a que o curso se propõe. Isto... gera pressão, porque você tem que mostrar, você tem que fazer o aluno atingir o objetivo... às vezes à custa de várias estratégias... além do que a carga horária disponibiliza... então me sinto sobrecarregada... pelo que eu tenho que dar de resposta como empregado. [...] aluno de escola particular acha que pode comprar tudo, então eles tem um tratamento com a gente diferente... Eles são mais intempestivos... eles não têm disciplina, eles querem tudo a qualquer custo... visto 38 desta forma também gera uma pressão sobre o educador... são as dificuldades que eu posso apontar assim.” Participante 6 - “Acho que com relação aos alunos... Eu não tenho dificuldade de trabalhar com eles... tenho dificuldade de trabalhar com... o conjunto que tem vindo... que tem entrando na faculdade, que são pessoas que tem o segundo grau deficiente e acabam chegando na faculdade com muita coisa faltando... e aí você tem que puxar assuntos mais básicos, anteriores... então você não consegue trabalhar com eles como de fato eles teriam que estar trabalhando na universidade...se não tivesse que resgatar tantos assuntos...”. Participante 5: “[...] acho que assim, trabalhar com aluno hoje é muito complicado, no sentido assim... que às vezes parece um negócio. A academia está se tornando um negócio. Então assim, não posso dizer que numa sala todos estão interessados em aprender... porque isto seria muito gratificante”. Participante 4: “Com relação ao relacionamento com os alunos... a gente tenta dar a maior ‘harmoniosidade’ possível... nem sempre é possível, porque a gente tem mudanças de perfil de alunos. Nós temos nossos alunos no curso de enfermagem especialmente, são alunos que trabalham, são alunos que tem tripla jornada... não só na casa, mas trabalham, então já chegam na sala de aula muito cansado... com dificuldade até de raciocínio, dificuldade de desenvolver o pensamento...e até de prestar atenção, porque muitas vezes estão dormindo, porque fizeram plantão, amanheceu de plantão. [...] então é muito puxado pro professor neste sentido”. Neste sentido, observa-se a grande dificuldade do professor em se “adequar” a este novo perfil de aluno. Em decorrência do próprio avanço da tecnologia, isto faz com que este “novo perfil de aluno” esteja exposto a uma quantidade maior de estímulos e tenha acesso aos mais variados conteúdos, o que conseqüentemente gera uma maior expectativa no professor ao tentar responder às suas demandas. 4.3.2 Categoria 2: Auto-Percepção da Despersonalização (cinismo) - Esta categoria apresenta e discorre sobre como os professores entrevistados percebem 39 suas relações com seus clientes (alunos e pacientes), colegas de trabalho e instituição. Relações com Alunos e/ou pacientes: De acordo com o resultado das entrevistas, foi destacado, através do discurso de dois participantes, o distanciamento no relacionamento do professor com a pessoa do aluno: Participante 4 - “Eu nestes anos que eu tenho de docência, eu nunca tive assim... problemas sérios de relacionamento que não possa ser resolvido entre o aluno e professor. [...] Relacionamento tem que ter, mas relacionamento profissional... você não precisa ter relacionamento pessoal... Eu nunca tive relacionamento pessoal com meus alunos e minha vida pessoal e a vida pessoal deles eu não quero nem saber, às vezes eles vem... comenta alguma coisa, por alguma dificuldade, a gente tenta ajudar no que for possível... mas eu não procuro investigar como é que é esse aluno, como é que é a vida pessoal dele. A gente sabe das situações, a gente procura manter um relacionamento profissional, porque na hora que você começa misturar profissão com pessoal, você começa a perder o foco que é de ensinar... [...] Ter que ensinar é obrigação de qualquer docente, sendo aluno ou não... aonde você tá trabalhando você tem determinadas obrigações... e uma das obrigações do docente é ter que ensinar o aluno... é ter que se relacionar com este aluno e saber trabalhar com as diferenças desse aluno... Eu acho isso uma grande virtude do professor, quando ele consegue trabalhar com estas diferenças... Nem todos os alunos respondem esse respaldo da mesma forma, uns tem temperamento mais difícil, outros tem temperamento mais fácil, outros são mais impulsivos, sei lá... assim é a vida, assim é o ser humano... E a gente tem que tentar trabalhar da melhor forma possível... Aquele que realmente se interessar e querer aprender, a gente vai realmente trabalhar e insistir. Agora aquele que você tenta, tenta, tenta... e se desinteressa... Cada um é responsável, nós estamos no meio acadêmico, meio universitário, trabalho com adulto, então quer dizer, cada um tem que saber o que faz. Agora dizer que é uma obrigação [...] se eu sentisse isso, eu já estava fora da docência há muito tempo... Eu já to na docência há 23 anos... entendeu... a gente acaba adquirindo algumas resiliências na vida... que acaba trabalhando estes conflitos....Conflitos existem e existem em qualquer lugar e em qualquer posição...a gente é que tem que saber a trabalhar com eles”. 40 Devido às próprias características de personalidade, algumas pessoas, irão se valer de um enfrentamento mais afetivo do conflito, enquanto as outras, de um enfrentamento em nível mais racionalizado. Desta forma, o sofrimento vai se manifestar através de uma ansiedade vivenciada ou da evitação total desta, com o conseqüente endurecimento emocional (CODO; VASQUES-MENEZES, 1999). Desta forma pode ocorrer a despersonalização quando o vínculo afetivo é substituído por um racional, onde predomina o cinismo ou a dissimulação afetiva ou a crítica de tudo e dos demais. Especificamente na relação com o aluno, o professor pode desenvolver atitudes negativas, tratando-o de forma fria. “O trabalho passa a ser lido pelo seu valor de troca; é a coisificação do outro da relação (CODO; VASQUES-MENEZES, 2002, p. 242)”. Participante 10 - “Eu acho assim... que relacionamento é uma coisa difícil... nos tempos de hoje, mais difícil ainda... Os jovens, os adolescentes, a gente trata como uma geração sem limite, então tu tem que tomar cuidado quando tu te relacionas com os alunos... conforme você se expõe demais, você fica muito vulnerável ao aluno e isto é um mecanismo de proteção também... que a gente usa. [...] Relação professor-aluno não há problema significativo... Que me incomode não”. Na continuidade da entrevista, a entrevistadora questiona: Você acha que pode ser considerado como certa frieza ou menos sensível em relação aos alunos? Participante 10 - “Pode, eu acho que pode... um distanciamento né... pode até como um mecanismo protetor... pode... com certeza”. O distanciamento referido nesta e em outras entrevistas pode estar relacionado ao desgaste do vínculo afetivo, característico da exaustão emocional. Como apontam Codo e Vasques-Menezes (2002), os profissionais, neste estado, ficam impedidos de se relacionarem afetivamente e percebem esta dificuldade em si mesmos. Em relação às dificuldades na relação aluno-professor no campo de estágio, também se evidenciou na fala de um entrevistado pela a sobrecarga de atividades, quando o aluno, às vezes, não consegue dar conta do trabalho assumido. 41 Participante 8 - “É uma angustia muito grande... a gente vai pra campo de prática, depois de toda a teoria dada... então a gente vê... o que o aluno pensa de ser enfermeiro não é o que nós acreditamos que seja ser enfermeiro. Eles querem fazer a parte prática, [...] mas que eles fazem e que alguns deles fazem muito bem... mas no momento em fazer discussões, de que possa ter levado esta internação falta muito... que conduta a equipe deve tomar, que requer a base de conhecimento... falta muito. E aí por falta desta base... o aluno não consegue observar, alguns deles, a necessidade de intervenção... E aí o professor tem que ficar: ‘agora você faz isso, agora você faz aquilo outro’... e nós temos um tempo. Na minha área, quando a gente assume paciente... então tenho que dar conta, dentro da norma da instituição e fazer com que os alunos cuidem deste paciente... e que ao final do plantão esteja tudo organizado... [...] E o aluno que demora mais, ele tem mais dificuldade e isso acaba atropelando muitas vezes o horário das coisas... e aí chega ao final do plantão, ou a coisa não ficou bem feita ou você tem que acabar fazendo. Ao final do turno... estou atarefado, às vezes eu tenho que fazer alguns procedimentos. e é uma responsabilidade muito grande... Pela falta de conhecimento às vezes eles não tem esse click, esse insight. [...] Eu fico muito ansioso com as dificuldades que eles apresentam, mas eu não sinto problema nenhum em falar com aluno, em dizer onde foi que ele errou... Eu não sinto dificuldade nenhuma. [...] Eu não vejo problema de relacionamento”. De acordo com Carlotto (2002), quando o professor apresenta frustração nos aspectos profissionais, devido à falta de progresso de seus alunos, pode acabar desenvolvendo um grande distanciamento com relação a eles. Costuma, segundo Edelwich e Brodsky (1980 apud CARLOTTO, 2002), denegrir os alunos, reclamar da administração e arrepender-se de sua escolha profissional. De acordo com a fala de outros entrevistados, evidenciou-se pontos divergentes quanto à atuação no campo de estágio: Participante 7- “[...] é muito mais estressante você ta com aluno no campo de prática... porque ele não pode errar. Por que você... tem que, ficar ao lado dele, sem que ele se sinta vigiado... pra que ele não erre e não cause um problema pra um paciente. Então... isso eu acho que para o professor é mais estressante, porque às 42 vezes, se a gente fica muito em cima, o aluno acha que ta ‘pegando no pé’ e às vezes a intenção do professor é outra... e o aluno não consegue compreender. Eu acho que a prática deve ser mais estressante do que estar em bloco teórico”. Participante 5 - “Sempre gostei muito da assistência, minha relação com o paciente é uma das coisas que eu gosto de fazer... é uma relação completamente diferente né, paciente e aluno. [...] o paciente ta ali numa condição de que necessita de cuidados, então você acaba gerenciando esse cuidado e acaba sendo mais valorizada por isto... dentro da sala de aula, não... [...] Quando eu comecei aqui na docência eu fazia duas coisas, eu trabalhava na instituição com uma carga horária menor... então eu era mais feliz, sem sombra de duvida, se eu pudesse voltar... e acho que até a relação de docência fica melhor... eu sinto saudade... [...] Em relação aos alunos... exige... certa... habilidade para lidar com a variabilidade com relação aos alunos. É claro que às vezes, isto é muito estressante, cansativo né, porque assim... você tem que encontrar maneiras diferentes de lidar com aqueles alunos. No começo, era muito mais estressante do que hoje pra mim... hoje eu já consigo separar bem né, sem levar isto pra minha casa, pra que isto não se torne uma coisa emocional, pessoal pra mim... mas exige bastante do professor... que você tenha maneiras de ver este aluno, ou de ouvir, ouvir, ouvir... e como resolver o problema dele”. Na continuidade da entrevista, a entrevistadora questiona: Mas isto chega a te afetar ou influenciar a atividade? Participante 5 - “Não, de forma nenhuma, não interfere... não percebo... que isto interfere assim...”. Em relação aos outros participantes, é importante salientar que, de modo geral, relataram um bom relacionamento com os alunos. As cobranças e discussões, quando ocorrem, são encaradas como parte do processo normal de ensino e aprendizagem e não como potentes fontes de estresse. Isto pode ser verificado nos relatos descritos abaixo: Participante 9 - “Meu relacionamento com os alunos é muito bom. Também tenho isto com eles... não gosto de tratar mal os alunos. Acho que nós temos um grupo muito... (esta coisa ta ultrapassada)... o professor não tem que fazer terrorismo, que 43 os alunos têm que tirar nota se não vai reprovar. Acho que a relação aluno professor tem que ser mesmo na parte da humanização... de amigo. Lógico com limite, com disciplina, cobro na hora que tem que cobrar. Se tiver dificuldade de fazer uma medicação também gosto de pegar na mão. Alguns são muito frágeis também e eles são nossos clientes. Não tenho problema nenhum... Graças a Deus... com ninguém”. Participante 3 - “Normalmente, eu me sinto muito bem assim com aluno, independente da idade... Independente de eles serem sempre jovens. Eu acho que eu, em alguns momentos... é como se eu vibrasse com a energia deles assim... [...] Raramente tem um aluno ou outro que eu não me sintonize assim... [...] o hábito faz você lidar com diferentes pessoas, então você releva, você lida praticamente com qualquer tipo de pessoa, então... com aluno eu não tenho problema [...] Teve um momento que assim, quando eu era mais jovem que eu não tinha filhos, às vezes eu não entendia o problema dos alunos... era muito rígida. Era um outro momento da escola, era um outro momento do ensino... daí quando eu tive meus filhos, eu entendi...[...] A vinda das crianças me modificou enquanto pessoa. Talvez se eles não estivessem vindo... pode ser que eu estaria perdida assim no processo, porque eu estava chateada, desanimada, daí eles vieram e modificaram a minha vida. [...] Com relação ao paciente... eu acho que posso dizer que é a mesma coisa, assim... eu na maior parte das vezes, eu acho que eu aprendo mais, tanto com os alunos como com os pacientes... A vivência deles me ensina mais coisas do que necessariamente eu faço por eles... Assim então... o nosso paciente é nosso feedback, o paciente é fundamental para o meu dia a dia. Se eu não tiver o paciente como é que eu vou saber o que ta acontecendo? [...] E eu sempre digo ainda hoje pros alunos... do momento que eu ficar assim... se eu ficar insensível pro outro... então eu tenho que sair da enfermagem... e eu tenho que sair da profissão... eu não posso ser mais ser professora, não posso mais ser enfermeira... Eu falo isto em quase todas as minhas aulas assim... por que você não pode ser assim com o ser humano. Não vou dizer que você vai chorar com eles, mas você tem que se sensibilizar pelas questões do outro, mesmo que você interfira ou não no processo. Mas como enfermeiro você não pode ser... eu vejo muitos por aí”. 44 Participante 13 - “Quando eu vou pra prática com aluno eu acho o trabalho mais gostoso, mais gratificante, super prazeroso [...] ‘aluno é muito bom’. Até é um relacionamento assim... eu me dou muito bem com os alunos. [...] então a gente acaba se envolvendo com eles [...] eu criei um vínculo muito grande na comunidade que eu trabalhei... até hoje eu mantenho esse vínculo com eles... É uma unidade de saúde aonde eu vou freqüentemente ao estágio com meus alunos e em que toda vez este vinculo é fortalecido, tanto com os funcionários mais antigos quanto com a comunidade [...] até eu tenho um vínculo muito grande com os alunos. [...] Acho que vai muito do prazer de fazer... acho que eu não gostasse, não sei se eu faria tanto... Se eu me sentisse frustrada procuraria outra coisa que me agradasse mais...”. Participante 07- “É buscando uma forma de fazer eles aprenderem, que a gente aprende junto também a lidar com as situações... e assim... Eu não me estresso. O que me incomoda de sala de aula é aquelas coisas burocráticas que a gente tem que fazer de diário, de prazo né, reconciliar tudo assim com a coordenação, mas preparar aula, dar aula, relação com aluno, pra mim é muito prazeroso, eu adoro”. Participante 11 – “Meu relacionamento com os alunos é muito bom... Eu sou só docente, mas eu faço supervisão direta... então eu atendo paciente também. Minha relação com os pacientes também é muito tranqüila assim [...] eu não tenho problema, é bem tranqüilo. Eu faço uma vinculação bem boa, tanto com os alunos quanto com os pacientes. [...] eu sou bem vinculada assim com eles... é bem tranqüilo, eu ando lá pelo bairro, todo mundo me conhece..... é bem gostoso assim... a relação com eles e com os alunos também, me dou super bem com eles. Eu acho que apesar da sobrecarga de trabalho, isso é uma coisa, minha relação com o aluno é outra coisa. [...] eu acho que os alunos também gostam de mim, eles sempre vem... Eu ando no corredor... eles vem, ‘oi professora’, abraça e beija, a gente tem uma relação afetiva bem boa assim...” Participante 12 - “Eu não sinto dificuldade. Eu trabalho na saúde já há 34 anos... Então a minha especialidade realmente... a minha função maior é com a criança... e a vida inteira eu trabalhei com a criança, então a gente traz uma coisa... aquela coisa com a criança, de saber lidar, de ter paciência, de entender a mãe. [...] De repente se eu trabalhasse em outra área não seria assim, eu acho. Agora como eu 45 gosto muito disso, então eu me empenho... eu amo... [...] eu gosto, e eu gosto da criança porque eu vejo que a criança ela é muito inocente, ela é muito pura... não é falso... [...] A criança te renova a cada dia. Que bom que a gente faz o vínculo com a criança e a família... pra mim é muito gratificante [...] Às vezes acontece um aluno ou outro... alguma coisa de relacionamento mesmo né, assim... mas não é aquela coisa grave. Sempre tem aquele que reclama... mas tudo a gente consegue contornar, vai lá... conversa com aluno... e isso não me incomoda, porque eu acho que eu sou a favor que as pessoas realmente questionem quando elas não estão satisfeitas com alguma coisa... isto engrandece meu trabalho, faz parte, não fico incomodada não”. Neste sentido observa-se que 06 participantes percebem seu relacionamento com os alunos permeados pelo vínculo e pela troca afetiva, gerando um relacionamento sem maiores problemas. Relações com colegas de trabalho: De acordo com a fala de alguns entrevistados evidenciou-se as dificuldades nos relacionamentos entre os colegas de trabalho. Os relacionamentos interpessoais estão entre os principais determinantes de como o ambiente do trabalho afeta o estado subjetivo do individuo. Quando o foco se desloca para o trabalho do educador, assume dimensões potencializadas, pelo fato da escola se situar numa rede social, da qual depende a qualidade do trabalho e que por sua vez, determina a qualidade do processo educacional (SORATTO; RAMOS, 1999). Todas as atividades humanas estão inseridas num contexto social, quer na vida privada, quer no trabalho, e são marcadas pelas relações que se estabelecem com as outras pessoas. Esta rede de relacionamentos funciona como uma fonte constante de atenção, integração social, reafirmação de valores, provisão de ajuda significativa, informações, mas também de conflitos (VASQUES-MENEZES; SORATTO, 1999). Alguns autores enfatizam que o tipo de relacionamento mantido nos locais de trabalho, pode ser passível de dar início ao burnout (FIRTH, 1984 apud BENEVIDES-PEREIRA, 2002). Segundo Folkman (1982 apud BENEVIDESPEREIRA, 2002, p. 61), 60% dos eventos identificados como estressores em um grupo estudado foram atribuídos a esta variável, evidenciando a importância deste aspecto. 46 De acordo com os relatos que apareceram na entrevista, estes apontam para dificuldades nos relacionamentos interpessoais entre alguns dos entrevistados, em função da percepção de déficit de suporte social e afetivo e de divergências de pontos de vista em relação às diferentes visões profissionais. De acordo com a fala de alguns entrevistados: Participante 8 – “A dificuldade que eu encontro pra trabalhar aqui na docência... estão relacionadas principalmente com relacionamento entre os colegas... Há uma dificuldade muito grande... [...] Eu me sinto incomodado com a ironia... com o cinismo de algumas pessoas... de você saber que elas falam quando você não está próximo... e quando você está próximo elas te tratam muito bem... isto é o que mais me incomoda. [...] Eu posso dizer com certeza, que até ano passado, a minha atitude era me isolar... era evitar contato com esta pessoa... [...] Então assim, estou tentando ao máximo... mostrar pra aquela pessoa que eu tenho condições... [...] O que eu to fazendo hoje é não demonstrar que isto me incomoda... é mostrar que isto não vai me atingir, que eu sou mais do que esta discussão, essa picuinha... Algumas pessoas eu tenho de me relacionar e aí eu respiro fundo... e vou... e tento fazer... sem criar nenhuma inimizade, tentando ser o mais ameno e harmonioso possível...” Dado a necessidade de esclarecimento, a pesquisadora questiona: Você acha cansativo manter estas relações com estes professores? Participante 8- “Com alguns professores eu acho cansativo... eu canso bastante, porque eu saio daqui esgotado. [...] Eu preciso me ocupar com outras coisas pra extravasar... No curso tem aquelas pessoas que eu preciso me relacionar porque estão em cargos de chefia, porque são meus superiores que eu preciso me relacionar que eu sei que pela verbalização destes... eu não sou muito bem quisto, mas que eu tenho que ir... constantemente a estas pessoas pra... discutir, decidir algumas coisas. Então assim... quando eu tenho que ir à sala destas pessoas, eu fico um bom tempo antes pensando exatamente no que eu vou falar, quais são as possíveis ‘patadas’ que podem voltar... [...] que isso me desestabiliza... Se eu consigo me preparar primeiro, daí eu vou tranqüilo. E tem pessoas que se você chegar pra falar com ele numa postura defensiva, automaticamente você vai levar ‘patada’ de volta. Então são pessoas que eu quando chego... vou cumprimentando e 47 dizendo pra esta pessoa exatamente o que eu quero... não tentar florear... porque eu já percebi que tem pessoas que se perceber que você tem medo aí que ela te pisa. Tem pessoas que tem necessidade de pisar nas pessoas...”. O sentimento de um déficit afetivo pode ter sua origem na dificuldade efetiva da pessoa de oferecer este suporte ou; na dificuldade da pessoa receber o suporte que está sendo oferecido ou, ainda; na demanda excessiva em função de um determinado momento, que pode tornar o suporte recebido ineficiente (VASQUESMENEZES; GAZZOTTI, 1999). “O professor, apesar de sofrer com o desamparo por falta de suporte afetivo e de ver sua atividade permeada da relação trabalho-afeto, continua atuando empenhado em seu trabalho, desgastando-se ainda mais nos vínculos afetivos (VASQUES-MENEZES; CODO E MEDEIROS, 1999, p.266)”. Neste sentido, Maslach (2009) alerta para que “as pessoas que estão experimentando burnout podem ter um impacto negativo com seus colegas, ocasionando em maiores conflitos interpessoal e alterar as tarefas no trabalho. Deste modo, burnout pode ser ‘contagioso’ se perpetuar através das interações informais no trabalho (p.38)”. Participante 03 - “Tem colegas que a gente passa, uma pelo lado da outra no corredor e não se olha... Infelizmente. Hoje nós estamos mais sozinhos, nós trabalhamos sós... já teve momentos que a gente era um grupo de trabalho... fazíamos comemorações juntos [...]...era um grupo de amigos que trabalhavam juntos... Hoje nós somos só... um grupo de pessoas... que trabalham juntos. Você trabalha com todo mundo porque você é profissional, você é educada, é necessário... Todo mundo trabalha com todo mundo... com uns melhor, com outros... se puder evitar atividade, evita, se não puder, conversa, trabalha junto sem problemas... todos tem esta capacidade assim, mas a maior parte, algumas coisa são veladas...outras nem tanto assim. Hoje... e agora eu vejo uma coisa interessante assim também...por estar na instituição há muito tempo ...eu vejo que as pessoas todas estão assim...você tem tantas atividades pra fazer em tantos cenários diferentes que não dá mais tempo pra você conviver. Então nós já fomos uma grande família aqui na instituição e...aí ficamos um grupo... O grupo foi destruído... esta é a palavra... exatamente naquela época que eu te falei... e aí as pessoas nunca mais conseguiram... as cicatrizes nunca mais se fecharam, pra você ver como 48 a coisa foi séria. [...] Oito anos de... sofrimento...foi muito sério. E aí assim, a coisa tava quase explodindo, quando daí mudou, mas a pessoa continua... atrás das cortinas. Com as pessoas, naquele momento... com os colegas de trabalho, eu fiz isto assim...eu fiquei totalmente indiferente”. As pessoas se distinguem de acordo com os recursos que possuem para superar uma circunstância estressante. “Os recursos abarcam força física, habilidades, conhecimentos e experiências, energia e resistência, mas também apoio material e interpessoal (GUIMARÃES; FREIRE, 2004, p.33)”. Participante 4 - “A gente já tá muito tempo vivendo com os colegas de trabalho... é a mesma coisa... a mesma atitude que eu tenho com os alunos eu tenho com os colegas de trabalho. A gente tem uma boa relação, procura ter uma boa relação, mas dentro do lado profissional. Foram bem poucos os colegas de trabalho que eu tive aqui dentro que se tornaram relações de afeto, pessoal, entendeu. Então quer dizer... a gente se mantém dentro do lado profissional, nos respeitamos dentro do ambiente profissional, mas não se traz isso para o meio privado... então é dessa forma que a gente procura se revezar”. Segundo Soratto e Ramos (1999), burnout oferece barreiras às boas relações interpessoais, devido aos seus próprios sintomas. A falta de cooperação entre os companheiros, decorrentes da síndrome, interferem nas condições de trabalho e nas atitudes do trabalhador. “Estamos falando de uma relação circular e por esta razão sem saída a não ser que haja uma intervenção em algum ponto do circuito” (p.276). Participante 2 - “Eu acho que é assim... às vezes, como em todo lugar que tem muitas pessoas... que sempre tem assim... às vezes alguns choques de idéias. No sentido de que as pessoas acabam meio que não se respeitando em algumas questões, mas eu acho que nada assim que pudesse comprometer o trabalho... ou de como é que eu vou dizer... prejudicar o trabalho [...] Eu até porque eu sou uma pessoa assim, que eu acho que quando atrapalha um pouco o serviço... eu acabo não tendo muito lá muito contato com elas... Evito este tipo de pessoa, então... acabo passando por cima disso... incomoda, mas nada que não possa superar...”. 49 Participante 5 - “Assim... Eu trabalho em dois períodos, isto é bem nítido... existe um grupo de professores num período que eu trabalho, que funciona direitinho... pessoas que a gente senta, discute, reconhece as fragilidades, as potencialidades do outro... e no outro não..., cada um conduz a sua, isso de uma maneira acaba interferindo [...] eu aprendi a lidar com algumas situações... Então por exemplo, antigamente, eu tinha uma grande dificuldade de chegar muito perto desse profissional e de conversar com ele, eu evitava. Hoje, pra mim passa a ser uma relação profissional...então assim, não vou dizer que isso é perfeito [...] eu acho que as pessoas pensam diferentes... Então... eu aprendi a tolerar mais...[...] Talvez eu não tenha tanta afinidade, mas na hora que eu tenha que negociar alguma coisa, discutir alguma coisa, vai ser uma relação profissional, vou expor a minha e vou ouvir a dele... ‘Este lidar bem’... não é a perfeição né, mas eu acho que eu consigo aceitar bem...claro que às vezes me frustra... não é o que eu queria, mas assim, se é uma determinação, se é uma tomada de decisão em grupo do qual a minha opinião não prevalece... pra mim não é um problema [...] Me incomoda claro, mas não a ponto de interferir no meu trabalho... pelo menos não percebo isto”. De acordo com o estudo de Soratto e Ramos (1999), o burnout afeta as relações sociais no trabalho, tão essenciais para o educador. As dificuldades nas relações sociais interferem na falta de controle, que por sua vez, são prejudicadas pela falta de recolhimento de feedback. Os autores ainda concluem que os que sofrem de falta de suporte social estão também aqueles com maiores problemas na relação com o produto do trabalho e com relação à rotina, além de estarem menos satisfeitos. Participante 6 - “Acho muito mais difícil trabalhar com o colega professor do que com o aluno... No curso, a gente vive como em qualquer instituição, eu acho que vive com alguns segmentos assim... [...] eu trabalho numa situação de apoio à coordenação, então... tem algumas coisas institucionais que tem que ser cumpridas e às vezes, isto tem uma certa resistência de algumas pessoas...ta trabalhando, pedindo, explicando, e ainda assim cobrando... é chato, é ruim, mas a partir do momento que eu tenho uma função a cumprir, então...[...] no começo era muito mais negociadora, muito mais participativa... de ouvir muito mais... Hoje tem algumas pessoas que eu identifiquei que não adianta você ter este tipo de postura. Então é 50 melhor chegar, pedir ‘olha eu preciso tal coisa ponto’ e sem grandes explicações. A partir do momento que ela me pede, claro eu dô,... e tem outras pessoas que não... que você só explicando porque, elas já sabem o que fazer, vai lá e faz. Então acabei criando pra mim, uma certa identificação de algumas pessoas....e com algumas eu lido de um jeito, com algumas eu lido de outra.[...] têm momentos mais cansativos, outros menos..., mas com certeza tem. Tem momentos que eu falo... tudo de novo”. Neste sentido, observa-se a importância indiscutível do suporte afetivo e social na vida das pessoas como forma delas enfrentarem suas dificuldades. O que fica na conclusão da análise de Vasques-Menezes; Codo e Medeiros (1999) é a necessidade de preservação dos vínculos afetivos e sociais no trabalho no seu aspecto mais funcional. Participante 07 - [...] Eu consigo separar assim, o pessoal do profissional e dá a volta por cima... [...] o que é de crítica legal, eu vou assimilar e vou procurar melhorar e o que eu sei que não sou assim... eu ignoro e sigo tranqüila. Eu não posso me abater a ponto de contaminar os outros professores do trabalho da coordenação, enfim... eu procuro separar. E depois assim... eu gosto de todos os professores do curso. Eu não tenho nada contra nenhum. Eu acho que eles são legais, são comprometidos, trabalham muito... muito.... Um trabalho árduo, pesado, e vejo que é muito comprometido, então eu consigo entender algumas coisinhas... porque eu coloco no lugar, até porque eu já tive no lugar deles, mas eu consigo compreender. [...] Eu tenho uns dois, três assim que me preocupa bastante no curso... [...] assim... que realmente tem que se preocupar antes de ir falar com elas. [...] Às vezes, a avaliação do professor... eu sempre dou o retorno quando o aluno faz a avaliação, principalmente nos campos de estágio. Eu chamo e dou o retorno... a tua avaliação foi boa e quando foi ruim a mesma coisa. Tem professores que ele não consegue ouvir... tu terminar a frase que o aluno falou...Ele já vem com mil desculpas..’não, não mas eu não sou assim, isso não foi comigo’...não ouve pra crescer... assim... o objetivo que a gente leva não é pra punir, é pra oportunizar...às vezes não consegue ouvir...”. Relação com a Instituição- Demonstra como os professores avaliam sua relação com a instituição: 51 Os valores que mantém a satisfação no trabalho do professor abrangem o sentimento de missão, de ser um agente transformador da história de um povo (VASQUES-MENEZES; CODO; MEDEIROS, 1999). Portanto, a forma como uma instituição recompensa seus membros e seu senso de justiça, sua tolerância para com pontos de vista diversos entre seus membros, são valores a serem observados (MASLASCH; LEITER, 1999). Segundo Guimarães e Freire (2004), a percepção discrepante entre esforços realizados e recompensas recebidas no trabalho é um determinante importante das reações estressantes e de seus efeitos adversos sobre a saúde. Codo, VasquesMenezes (1999) acrescentam que burnout é atribuído ao resultado desta desconexão entre o que o professor investe no trabalho e aquilo que ele recebe de reconhecimento dos superiores e colegas ou dos resultados nos desempenhos dos alunos. De acordo com a fala de um entrevistado: Participante 10 - “Sempre que você vive sob pressão isto se reflete no teu desempenho, no teu trato. De alguma forma... isto nos afeta... nos angustia... nos sobrecarrega... A gente freqüentemente se sente muito cansado... irritado, desmotivado... porque é sempre muita cobrança, cobrança, cobrança, cobrança... não vem nada em troca... o ser humano... ele vive de troca. Você é um bom filho, porque você vai receber algo em troca... você é um bom aluno, em troca você vai alcançar o aprendizado... você é uma boa mãe, porque você vai ter o carinho do teu filho...E na vida profissional também é assim... a vida da gente é sempre assim... Então é lógico que se você se sente pressionado... a tua motivação diminui muito e com certeza tua produtividade também. A gente se sente cansado... irritado, desmotivado... que mais que eu posso te dizer...Até meio deprimido às vezes. [...] Eu acho que a gente tende a ficar mais intolerante pelo nível de estresse...a gente tende às vezes a se fechar mais... a evitar assim um relacionamento mais ameno...Você vai adotar uma postura... [...] se fechar dentro de si própria... [...] Aqui é um comércio...aqui na verdade a gente vende o conhecimento... não deixa de ser comércio”. 52 Codo, Vasques-Menezes (1999), ressaltam a importância do reconhecimento social do trabalho, que tem valor para a auto-estima do trabalhador e que está fortemente relacionado ao burnout. Desta forma, o trabalhador pode sentir que seu trabalho não tem mais importância, quer como forma de defesa, quer como parte dos próprios sintomas desencadeados pela síndrome. A importância do reconhecimento social da profissão, as formas de recompensa, a justiça e o respeito são caminhos que podem levar o indivíduo e organização a um maior equilíbrio (CARLOTTO, 2002). “Professores como todas as pessoas precisam sentir-se importantes, amados e de alguma forma especiais. Eles devem ter estas necessidades afirmadas por quem eles vivem e trabalham (Faber, 1999 apud CARLOTTO, 2002, p.191)”. Segundo Maslach e Leiter (1999), quando não há recompensa pelo trabalho, o trabalhador sente-se desvalorizado. É importante salientar também o papel que as emoções exercem na motivação para o trabalho e nas relações com os colegas, pois as organizações definem o trabalho em termos de habilidade e resultados, subestimando as emoções. Participante 07 - “Assim tem momentos que a gente fica com raiva... coisas gerais da universidade... reclama... chora... fica uma manhã toda lá... e tal. Daqui a pouco já passou... a gente sabe que as outras universidades estão passando também por isso. A gente vai levando assim, claro que a gente fica triste um dia ou outro. [...] então o que já ta decidido, o que não tem mais jeito, que é uma decisão, que é acima da coordenação e a coordenação tem que executar, então eu executo e procuro sofrer o mínimo possível assim com isso, mas acho que faz parte do trabalho”. Segundo Carlotto e Gobi (2000 apud CARLOTTO, 2002), as propostas de intervenção vinculadas à realidade brasileira devem contemplar ações conjuntas entre indivíduo e organização, mas também devem ser ampliadas aos fatores macro-organizacionais, que são os determinantes dos aspectos constituintes da cultura organizacional e social. Soratto e Ramos (1999) lembram Paulo Freire, que a educação necessita de liberdade para poder ocorrer, e que isto só é possível através da conquista coletiva de um corpo social organizado. 53 4.4 Comparação dos dados obtidos pelo MBI e na entrevista. Observa-se na presente pesquisa, que dentre as fontes de estresse, mencionadas pelos participantes na entrevista, as que mais se destacaram foram: a sobrecarga de atividades a serem cumpridas no trabalho, em função da política institucional; bem como às dificuldades de relacionamentos entre os colegas de trabalho, devido à carência de suporte social entre os membros da equipe; e as dificuldades para lidar com um novo perfil de aluno. Em menor freqüência também se destacaram como fontes de estresse, a insegurança de alguns participantes quanto às horas-aulas disponíveis semestralmente e a interferências do trabalho na vida pessoal, bem como, à autocobrança do papel de docente; a uma maior organização institucional (número de alunos e reserva de auditório) e à necessidade de uma padronização institucional avaliativa dos alunos. Em relação à auto-percepção dos participantes quanto aos relacionamentos interpessoais com os alunos/pacientes, colegas de trabalho e instituição, foram observados o quanto que o insuficiente suporte social dificulta os relacionamentos interpessoais entre os colegas de trabalho, e, por conseguinte, influencia na satisfação do trabalho e no resultado do produto. Quanto ao relacionamento com os alunos, foi observada uma adequação na maioria dos entrevistados, salvo as dificuldades que encontram em lidar com o novo perfil do aluno. De modo geral, os resultados do MBI, indicaram prováveis casos em curso da síndrome de Burnout, chamando a atenção para quatro casos em que houve uma elevação na dimensão EE (exaustão emocional). Dentre estes casos, um caso específico, demonstrou também uma elevação na dimensão DE (despersonalização) e em outro, evidenciou uma elevação nas dimensões rRP (baixa Realização Profissional). Os demais casos apresentaram uma variação de auto-percepção das questões relativas à DE e à rRP, como inexistentes ou aparecendo raramente. Observou-se, mediante os resultados do MBI, que no caso específico de elevação nas dimensões EE e DE, comparando-se com a análise da entrevista do participante em questão, foram confirmados os sintomas relativos à despersonalização e exaustão emocional. Neste caso específico em que apareceu a dimensão DE no MBI, o discurso apresentado pelo participante foi coerente com seus sintomas, no que se refere às atitudes negativas com relação aos colegas e 54 alunos. Em sua fala, relatou ter cansado de tentar resolver os problemas do dia-adia, se sentindo exausto para novas iniciativas. Entretanto, não se confirmou na fala do participante a insensibilidade emocional ou mesmo o cinismo, característico dos sintomas da despersonalização, pois o mesmo demonstrou através de sua fala, sofrimento pela situação vivenciada. Isto demonstra a necessidade de adaptação dos termos utilizados para a avaliação desta classe de sintomas. A dimensão Despersonalização (DE) expressa o contexto interpessoal e é descrita pela presença de atitudes de frieza, insensibilidade emocional com as pessoas receptoras do serviço, chegando ao cinismo e atitudes negativas. Maslach e Leiter (1999) denominam de despersonalização, quando o profissional manifesta atitudes negativas como tratamento depreciativo, reações distantes e frias em relação ao trabalho e aos colegas. Os autores enfatizam que os profissionais em burnout, evitam contatos sociais e correm o risco de se isolar, pois o envolvimento com as pessoas está reduzido. Profissionais que não se importam mais com as relações interpessoais e que manifestam atitudes negativas com relação aos colegas e alunos, tornam-se pessoas que ficam isoladas para as tentativas de ajuda e solução dos problemas do dia a dia, sentindo-se exauridas, apáticas e incapazes de darem mais de si mesmas, porém, esta forma de agir é inconsciente, por não perceberem que afastam as possibilidades de ajuda (SORATTO; RAMOS, 1999). Foram observadas em várias situações narradas durante a entrevista, atitudes negativas dos participantes em relação aos colegas no trabalho No caso específico de elevação na dimensão EE e rRP, comparando-se com a entrevista, confirmaram-se os sintomas relativos às dimensões Exaustão emocional e reduzida Realização no Trabalho. Porém, em relação à dimensão despersonalização, observaram escores baixos, foi evidenciado, que nem sempre o desenvolvimento da síndrome obedece a uma seqüência de sintomas, divergindo do proposto por Maslach e Leiter (1999), para quem a predição de rRP segue a predição de DE e esta EE. Neste caso apareceu a dimensão rRP , sem que a dimensão DE estivesse elevada. Ainda observa-se neste caso específico, que a não elevação da dimensão DE nos resultados do MBI, contrastam com a fala da participante: 55 Participante 10 - “Eu acho assim... que relacionamento é uma coisa difícil... nos tempos de hoje, mais difícil ainda... Os jovens, os adolescentes, a gente trata como uma geração sem limite, então tu tem que tomar cuidado quando tu te relacionas com os alunos... conforme você se expõe demais, você fica muito vulnerável ao aluno e isto é um mecanismo de proteção também... que a gente usa. Importante observar que num outro caso específico, em que não foi evidenciada nenhuma das dimensões elevadas para burnout através do resultado do MBI, os escores contrastaram com a fala da participante na análise da entrevista, na qual se observou um distanciamento do professor com a pessoa do aluno e com os colegas de trabalho: Participante 4 - [...] “Relacionamento tem que ter, mas relacionamento profissional... Você não precisa ter relacionamento pessoal... Eu nunca tive relacionamento pessoal com meus alunos e minha vida pessoal e a vida pessoal deles eu não quero nem saber, às vezes eles vem... comenta alguma coisa, por alguma dificuldade, a gente tenta ajudar no que for possível... mas eu não procuro investigar como é que é esse aluno, como é que é a vida pessoal dele...” Observa-se nestes dois últimos casos descritos, que de acordo com os resultados do MBI, relacionados com a dimensão DE, os mesmos não demonstraram um resultado elevado na referida dimensão, contudo, foram observadas, através das falas dos entrevistados mencionados acima, atitudes de distanciamento da pessoa do aluno, evidenciando uma possível falha na confiabilidade da dimensão despersonalização no MBI. Importante salientar que as questões relativas à dimensão despersonalização, segundo Carlotto e Câmara (2007), também podem interferir, ainda que de forma latente, nos níveis de auto-estima e auto-eficácia percebidas pelos participantes. No referido estudo de Carlotto e Câmara (2007), as autoras observaram que a dimensão despersonalização mensurada no MBI, é medida apenas por cinco itens, o que pode influenciar nos resultados do inventário. Os itens do construto na referida dimensão, são compostos de mais aspectos do que aqueles levantados pelo MBI, a saber: "tornar-se mais duro com as pessoas", "preocupar-se por tornar-se mais rígido emocionalmente", "não importar-se pelas pessoas que atende profissionalmente", 56 "sentir-se tratando as pessoas como se fossem objetos impessoais" e "perceber que as pessoas atendidas no trabalho culpam o sujeito por alguns de seus problemas". Considerações estas importantes, para que se compreenda o processo psicológico subjacente à Síndrome de Burnout e que pode se manifestar nas respostas dos trabalhadores ao inventário. A presente pesquisa vai ao encontro das conclusões do trabalho de Carlotto e Câmara (2007), nos quais os índices de confiabilidade do instrumento MBI apresentaram boa consistência interna para as subescalas exaustão emocional e baixa realização profissional no trabalho, enquanto que, a subescala despersonalização, apresentou índice de confiabilidade um pouco menor. 57 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os objetivos propostos inicialmente para a realização desta pesquisa foram realizados mediante a aplicação do MBI-HSS e de uma entrevista com professores de um curso da área de saúde de uma instituição de ensino superior. Neste sentido, foi avaliada a confiabilidade da dimensão despersonalização, através da comparação dos resultados do MBI e da análise dos relatos dos participantes que descreveram as situações estressantes cotidianas no trabalho, às quais foram cuidadosamente analisadas e comparadas com os sintomas relativos à Síndrome de burnout, e com os resultados do MBI. Desta análise concluiu-se que o instrumento MBI consegue responder adequadamente à sintomatologia das dimensões EE e rRP, não conseguindo captar os sintomas relativos à dimensão despersonalização com precisão. Isto também aponta para outras considerações importantes nas questões relativas à dimensão “despersonalização” especificamente, mostrando que outras facetas (ou variáveis) constantes nas suas características não são satisfatoriamente atendidas no instrumento MBI. Neste sentido, foi observado que as questões relativas à dimensão “despersonalização” presentes no MBI, abordam especificamente o relacionamento com os clientes, não abrangendo os relacionamentos com os colegas de trabalho nem com a instituição, visto que, de acordo com a literatura consultada, as maiores fontes de estresse dos participantes, derivam das políticas administrativas e dos relacionamentos interpessoais também entre os profissionais. Essas relações se mostraram, em alguns casos, despersonalizadas, nas entrevistas. Outro aspecto a ser observado durante a entrevista é que, em várias situações narradas pelos participantes, foram evidenciadas as dificuldades nos relacionamentos interpessoais entre os integrantes da equipe de trabalho, levando a um déficit na retroalimentação assertiva (feedback) de se estar fazendo um bom trabalho ou não. Estes problemas de relacionamento dificultam a troca de informações e a reafirmação de valores, bem como a interferência (quando necessário) na realização das atividades no trabalho. Os resultados desta pesquisa apontam para a necessidade de se resgatar valores imprescindíveis para o ser humano que trabalha em equipe, como o fortalecimento das relações interpessoais, a confiança e o respeito ao outro. Nas 58 situações em que se verifica a falta de suporte social, uma das sugestões apontadas por Soratto e Ramos (1999) como proposta de intervenção é a de viabilizar o suporte social entre os membros da organização. Neste sentido, sugerem-se estudos posteriores com amostras maiores, e com outros profissionais e uma ampliação nas questões relativas à dimensão despersonalização no MBI, que abordem também aspectos e/ou situações entre os colegas de trabalho e na organização e não somente aos clientes. A adequação dos termos utilizados nas questões específicas à nossa cultura também se torna fundamental para que o instrumento possa, de fato, cumprir com o seu objetivo diagnóstico. Finalizo as considerações agradecendo aos colaboradores que participaram desta pesquisa e que se dispuseram a dividir suas experiências individuais em benefício da ciência e visando melhores condições de vida e de trabalho. 59 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BENEVIDES-PEREIRA, A. M. T. (org.). Burnout : quando o trabalho ameaça o bemestar do trabalhador. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002. p.21-30. CARLOTTO, M. S.; CÂMARA, S. G. Análise Fatorial do Maslach Burnout (MBI) em uma amostra de professores de instituições particulares. Psicologia em Estudo, v.9, n.3, 2004. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo. php>. Acesso em: 15 agosto 2008. CARLOTTO, M. S. Síndrome de burnout e satisfação no trabalho: um estudo com professores universitários. In: BENEVIDES-PEREIRA, A. M. T. (org.). Burnout: quando o trabalho ameaça o bem-estar do trabalhador. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002. cap.07. CARLOTTO, M. S.; CÂMARA, S. G. Propriedades psicométricas do Maslach Burnout Inventory em uma amostra multifuncional. Estudos de Psicologia, v. 24, n.3, Set. 2007. p. 325-332. Disponível em: <http://pepsic.bvspsi.org.br/scielo. php>. Acesso em: 02 setembro 2008. CARTWRIGHT, D. P. Análise do material qualitativo. In: FESTINGER, L. e KATZ, D. A pesquisa na psicologia social. 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Atualizações sobre a síndrome de burnout. In: GUIMARÃES, L. A. M. (Org.). Série Saúde Mental e Trabalho, v. 3, São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004, p. 43-62. GUIMARÃES, L. A. M; FREIRE, H. B. G. Sobre o estresse ocupacional e suas repercussões na saúde. In: GUIMARAES, L. A. M; GRUBTIS, S. Série Saúde Mental e Trabalho, v. 2, São Paulo. Casa do Psicólogo, 2004. p. 29-54. HAHNMARY, K; CARLOTTO, S. Síndrome de burnout em monitores de uma fundação de proteção especial. Revista Diversitas – perspectivas en Psicologia, vol.04, n.01, 2008, p.53-62. Disponível em: <http://www.usta.edu.co/diversitas/doc_pdf/:>. Acesso em: 18 agosto 2008. LEGAL, E. J.; THIEME, A. L.; PAPP, H. Adaptação para o português do Maslach Burnout Inventory - General Survey (Inventário Maslach de Burnout - População Geral). In: XXXVII Reunião anual de psicologia, 2007, Florianópolis. CD de Resumos de Comunicação Científica da XXXVII Reunião Anual de Psicologia, 2007. MASLACH, C.; LEITER, M. P. 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Acesso em: 29/09/2008. 62 7 ANEXOS 7.1 ANEXO 01 – MBI-HSS Prezado(a) Sr.(a), A presente pesquisa tem finalidade acadêmica e seu objetivo é conhecer como os trabalhadores percebem o seu trabalho e as pessoas com quem eles trabalham proximamente. Na página seguinte você encontrará 22 afirmações relacionadas com sentimentos pelo trabalho. Por favor, leia cada afirmação cuidadosamente e decida se você se sente desta forma com respeito ao seu trabalho. Se você acha que nunca teve este sentimento marque 1 (um) no espaço antes da afirmação. Se você tem esse sentimento marque o número (de 2 a 5) que melhor descreva com que freqüência você se sente desta maneira. Um exemplo é apresentado a seguir. FREQÜÊNCIA 1 Nunca 2 Raramente 3 Algumas Vezes 4 5 Freqüentemente Sempre FREQÜÊNCIA 1–5 Afirmação: ____ Eu me sinto deprimido no meu trabalho. Se você nunca se sente deprimido no trabalho você poderia escrever o número 1 (um) embaixo do título “FREQÜÊNCIA”. Se você poucas vezes se sente deprimido no trabalho (Raramente), você poderia escrever o número “2”. Se os seus sentimentos de depressão aparecem Algumas Vezes você poderia escrever o número “3”. Se os seus sentimentos de depressão aparecem muitas vezes (Freqüentemente) você poderia escrever o número “4”. Se você sempre se sente deprimido no trabalho marque o número “5”. ATENÇÃO! Responda a todas as frases que compõem este questionário, não precisa escrever seu nome em nenhum lugar para que suas respostas fiquem totalmente anônimas. Os dados desta pesquisa serão analisados em conjunto e de forma confidencial. Pedimos apenas que nos informe sobre alguns dados complementares no final. Sinta-se inteiramente à vontade para dar suas opiniões, lembrando-se que suas respostas serão ANÔNIMAS e mantidas em SIGILO. Não existem repostas certas nem erradas o que importa é sua opinião sincera. FREQÜÊNCIA 1 Nunca 2 Raramente 3 Algumas Vezes 4 Freqüentemente 5 Sempre 63 QUESTÃO FREQÊNCIA AFIRMAÇÕES 1 _________ Eu me sinto emocionalmente exausto pelo meu trabalho. 2 _________ Eu me sinto esgotado ao final de um dia de trabalho. 3 _________ Eu me sinto cansado quando me levanto de manhã e tenho que encarar outro dia de trabalho. 4 _________ Eu posso entender facilmente o que sentem os meus alunos acerca das coisas que acontecem no dia a dia. 5 _________ Eu sinto que eu trato alguns de meus alunos com se eles fossem objetos. 6 _________ Trabalhar com pessoas o dia inteiro é realmente um grande esforço para mim. 7 _________ Eu trato de forma adequada os problemas de meus alunos. 8 _________ Eu me sinto esgotado com meu trabalho. 9 _________ Eu sinto que estou influenciando positivamente a vida de outras pessoas através de meu trabalho. 10 _________ Eu sinto que me tornei mais insensível com as pessoas desde que comecei este trabalho. 11 _________ Eu sinto que este trabalho está me endurecendo emocionalmente. 12 _________ Eu me sinto muito cheio de energia. 13 _________ Eu me sinto frustrado com meu trabalho. 14 _________ Eu sinto que estou trabalhando demais no meu emprego. 15 _________ Eu não me importo realmente com o que acontece com alguns de meus alunos. 16 _________ Trabalhar diretamente com pessoas me deixa estressado. 17 _________ Eu posso criar facilmente um ambiente tranqüilo com os meus alunos. 18 _________ Eu me sinto estimulado depois de trabalhar lado a lado com os meus alunos. 19 _________ Eu tenho realizado muitas coisas importantes neste trabalho. 20 _________ No meu trabalho, eu me sinto com se estivesse no final do meu limite. 21 _________ No meu trabalho, eu lido com os problemas emocionais com calma. 22 _________ Eu sinto que os pacientes me culpam por alguns dos seus problemas. 64 8 APÊNDICES 8.1 APÊNDICE 1: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Nome:____________________________________________________________, idade:_________ anos, sexo:_______________________, foi esclarecido sobre o trabalho intitulado: “Despersonalização: a confiabilidade de sua mensuração no instrumento MBI.”, da autoria de Márcia Regina Franco Franzoni e sob a orientação do professor Eduardo José Legal, ambos do curso de Psicologia da UNIVALI, Itajaí. Estou ciente que para participar deste estudo terei de responder a um questionário sobre a Síndrome de Burnout (MBI) e a uma entrevista na qual serei questionado(a) sobre as fontes de estresse no meu trabalho e de como lido com elas. Esta entrevista será gravada em áudio. Fui esclarecido(a) também que a qualquer momento em que eu precisar de maiores informações sobre esta pesquisa poderei obtê-las entrando em contato com a pesquisadora ou seu orientador. Também estou ciente de que poderei, a qualquer momento durante a realização deste trabalho, retirar meu consentimento sem qualquer prejuízo para minha pessoa. Por ser este estudo de caráter puramente científico meus dados pessoais serão mantidos em anonimato e os dados só serão utilizados para os propósitos deste estudo. Sendo minha participação totalmente voluntária, estou ciente de que não terei direito a remuneração. Itajaí, ____ de ______________ de 2009. Assinatura (de acordo): ____________________________ Responsáveis: Pesquisador responsável: Profº. Dr. Eduardo José Legal ____________________________ E-mail: [email protected] Telefone: (47)3341-7542 Acadêmica: Márcia Regina Franco Franzoni __________________ E-mail: [email protected] Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí – CCS R: Uruguai, 448 – bloco 25b – Sala 401. 65 8.2 APÊNDICE 02 DADOS COMPLEMENTARES Idade:_________ anos Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino Estado civil: ( ) Solteiro Tem filhos? ( ) Sim Escolaridade: ( ( ( ) Não ) Especialização ( ) Casado ( ) Separado ( ) Viúvo Número de filhos: _____________________ ) Mestrado ( ) Doutorado Área da formação universitária específica: ______________________________________ Ocupação 1: ______________ Tempo de serviço: ___________________________ Ocupação 2:______________ Tempo de serviço:__________________________ Curso(s) em que ministra aulas: _____________________________________________ ___________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Tempo na instituição: ___________________________________________________ Tempo em outra instituição/organização: ____________________________________ Número de horas na UNIVALI: ____________ Em outra instituição/organização: _______ Número de horas em sala:____________ Em campo/laboratório/hospital: __________ 66 8.3 APÊNDICE 03 ENTREVISTA SEMI-ABERTA (Roteiro) 1-Dentre os problemas que você enfrenta no cotidiano de seu trabalho, quais são aqueles em que sente mais dificuldade? 2-Com relação às pessoas que você precisa se relacionar em função de seu trabalho (alunos, pacientes e colegas de trabalho)... Como você se sente em relação à elas? Você sente o relacionamento como imposição da profissão? 3-Se isto acontece... Com que freqüência? O que tem feito para lidar com a situação? (como enfrenta a situação?). Descreva em que situação é mais fácil e também qual a mais difícil?(estágio, aula). Por quê? 5-Você percebe que esse tipo de relação (desconfortável), tem alguma influência sobre o tipo de atividade que está exercendo? Como? 6-Há momentos em que é cansativo manter essa relação? Por quê? 67