Caso Clínico Protração maxilar associada à disjunção maxilar ortopédica Luis Roberto Lima Rodrigues*, Fauze Ramez Baddredine*, Mario Cappellette Jr.**, Ney Macedo França* Resumo Este estudo tem como meta obter um apanhado dos diferentes modos de se realizar o tratamento da má oclusão de Classe III de Angle decorrente da deficiência de crescimento ântero-posterior maxilar, acompanhada ou não de excesso de crescimento mandibular, relatados por diversos autores que se utilizaram da terapia da protração maxilar associada à disjunção maxilar ortopédica. Verificou-se ser esta terapia eficiente e estável, apresentando pouca chance de recidiva, quando utilizada em fases precoces do crescimento e desenvolvimento do paciente, tais como: nos períodos da dentadura decídua, dentadura mista precoce e dentadura mista tardia. Este estudo procura ainda balizar os valores médios sugeridos de quantidade de ativações realizadas na disjunção maxilar ortopédica, o tipo de disjuntor maxilar mais utilizado, a melhor maneira de se associar este com o uso da máscara de protração maxilar, qual a máscara de protração maxilar mais recomendada, bem como também a força e o tempo de uso mais comumente utilizados. Palavras-chave: Correção ortopédica da má oclusão de Classe III. Expansão palatal. Protração maxilar. * Especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial pela ABO/SP. Professor dos Cursos de Especialização em Ortodontia e Ortopedia Facial da ABO-SP, ABO-Campinas e FAMOSP. ** Especialista em Radiologia pela USF. Mestre em Ortodontia e Ortopedia Facial pela UNICASTELO. Doutor em Ciências pela Escola Paulista de Medicina - UNIFESP e Coordenador dos Cursos de Especialização em Ortodontia e Ortopedia Facial da ABO-SP, ABO-Campinas e FAMOSP. 48 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 6, n. 3 - jun./jul. 2007 Luis Roberto Lima Rodrigues, Fauze Ramez Baddredine, Mario Cappellette Jr., Ney Macedo França IntRodução Este artigo visa mostrar o panorama dos últimos 35 anos quanto ao tratamento não cirúrgico das más oclusões de pacientes Classe III de Angle, merecendo maior atenção e interesse, principalmente, para aquelas com deficiência de crescimento maxilar (melhor prognóstico), embora seja também utilizada nos casos de excesso mandibular (pior prognóstico). PRoPosIção Avaliação dos diferentes modos, relatados por diversos autores, de se realizar o tratamento não cirúrgico de pacientes com má oclusão de Classe III de Angle, utilizando a terapia da máscara de protração maxilar associada à disjunção maxilar ortopédica. ReVIsão de LIteRAtuRA Os processos alveolares movem-se juntamente com o maxilar superior, ocorrendo uma expansão do arco dentário e um aumento da capacidade intranasal. As mudanças da maxila causam na mandíbula um redirecionamento para baixo, bem como sua rotação horária, acarretando um aumento na dimensão vertical e um decréscimo no comprimento efetivo da mandíbula, o que vem a melhorar a Classe III de Angle, porém com risco de ocasionar ou agravar uma abertura da mordida11. A disjunção maxilar ortopédica seria mais ideal se conseguida antes ou por volta do surto de crescimento puberal (quanto mais próximo do término do crescimento do paciente pior o prognóstico). Esqueleticamente, a maxila se move para frente, enquanto a mandíbula teria uma rotação negativa. Ântero-posteriormente, a abertura da sutura palatina é clinicamente paralela12. Deve-se começar a terapia o mais precocemente possível, aos 4 anos de idade, sendo a mesma dividida em 2 etapas: a primeira com duração aproximada de 8 a 12 meses e a segunda etapa na época da esfoliação dos segundos molares decíduos8. O uso do elástico de Classe III foi preconizado com reserva e cautela, devido aos seguintes efeitos colaterais: a) extrusão dos dentes posteriores superiores, com favorecimento da mordida aberta, b) aumento da dimensão vertical e c) extrusão dos dentes anteriores inferiores8. A extração e posterior retração no arco inferior foi contra-indicada, pois lingualizaria ainda mais os dentes anteriores inferiores que, geralmente, já se encontram em uma posição compensatória mais lingualizada8. Tanto a tração paralela quanto aquela 20º abaixo do plano oclusal causaram constrição da porção anterior da maxila. A tração paralela causou um movimento de rotação no sentido horário (abertura) do molar e do plano palatino. A força no vetor 20º abaixo do plano oclusal diminuiu este efeito8. Estudos demonstram um elevado índice de casuística no Japão de pacientes portadores de Classe III de Angle com componente esquelético (4 a 13% da população) especialmente por deficiência maxilar. Nestes casos podemos considerar que: (a) a maxila se desloca mais anteriormente e rotaciona mais para cima e para frente, quando a protração é feita pelos molares permanentes e, se a protração for feita mais anteriormente a estes, ou seja, nos pré-molares, então a maxila se move para frente de uma maneira mais paralela. (b) se a discrepância entre os maxilares for extrema, deve-se optar pela protração maxilar por intermédio dos molares permanentes, e se a tendência de mordida aberta for suspeita deve-se optar pelos pré-molares. (c) o local da protração deve ser selecionado considerando as dimensões verticais das estruturas esqueléticas e dentárias e a quantidade de deslocamento anterior da maxila requerida no tratamento para cada paciente14. Citando estudos de Guyer et al.; Ellis e McNamara (apud TURLEy36, 1988), onde estes autores, avaliando pacientes entre 13 e 15 anos de idade, encontraram a seguinte casuística das más oclusões Classe III de Angle: 19% com mandíbula protruída e maxila normal, 34% com retrusão maxilar e protrusão mandibular, 23% com retrusão maxilar e mandíbula normal e 63% com retrusão maxilar36. Como vantagens da disjunção maxilar ortopédica destacam-se: a) desarticula a maxila e inicia as respostas celulares das suturas, permitindo uma maior reação positiva das forças de protração, b) correção das mordidas cruzadas posteriores, devida à deficiência do crescimento transversal da maxila que, freqüentemente, acompanham as más oclusões de Classe III de Angle, c) o disjuntor funciona como splint durante a protração maxilar, permitindo que as forças sejam transmitidas dos dentes para a maxila, limitando movimentações indesejáveis dos dentes36. As chances de sucesso dependem de 4 fatores: a dimensão vertical, a relação entre a maxila e a mandíbula, a relação dos maxilares com o crânio e a idade do paciente. Outros estudos relatam ainda que, aproximadamente, 60% dos casos de Classe III são devidos a uma maxila curta, acompanhada ou não de mandíbula longa, e que se deve dar especial atenção tanto para a respiração nasal quanto para a postura da língua13. Há menos resistência em ocorrer um movimento anterior da maxila do que o movimento posterior, entretanto devido a motivos estéticos os pacientes usam pouco a máscara de protração, sendo necessário incrementar a força dos elásticos e/ou a quantidade de horas de 16h para 24h32. O nariz e o lábio superior se movem para frente, enquanto o tecido mole do mento se mantém praticamente imóvel ou se move para baixo32. Encontramos relatos de melhora significante no perfil dentofacial após 6 meses de protração maxilar. O perfil facial mole e es- Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 6, n. 3 - jun./jul. 2007 49 Protração maxilar associada à disjunção maxilar ortopédica quelético se tornou mais reto e a postura do lábio melhorou. A relação de trespasse horizontal normal que foi conseguida teve um impacto significante no tecido mole. Na maxila, o movimento para frente foi acompanhado por um movimento correspondente do perfil mole de 50% a 79%. Na mandíbula, o movimento para baixo e para trás do tecido duro é acompanhado por 71% a 81% do tecido mole37. Pacientes Classe III de Angle com deficiência maxilar, com a mandíbula bem posicionada ou retruída e com a altura facial anterior diminuída, apresentam os melhores prognósticos de tratamento. É muito importante, porém, ressaltar que isto não significa que não se deva atuar nas Classes III de Angle com deficiência maxilar e ligeiro prognatismo mandibular9. Após, aproximadamente, 6 meses da terapia de protração maxilar houve, em média, 75% de avanço esquelético da maxila e 25% de remodelação local30. Avaliou-se o nível de dor muscular mastigatória e a atividade eletromiográfica nos pacientes tratados com máscara de protração maxilar. Da força ortopédica usada para a protração da maxila, 75% é transmitida para a articulação temporomandibular via mandíbula. Os resultados não mostraram diferenças estatisticamente significantes para as atividades dos músculos mastigatórios antes, durante e após o tratamento23. A terapia induziu tanto alterações dentárias quanto esqueléticas. As alterações esqueléticas consistiram de deslocamento anterior da maxila e rotação para baixo e para trás da mandíbula, melhorando o perfil facial. As alterações dentárias consistiram de uma tendência de compensação dos mesmos, representada por vestíbulo-versão dos incisivos superiores e línguo-versão dos incisivos inferiores31. Em, aproximadamente, 62% dos casos de má oclusão de Classe III de Angle os pacientes apresentavam um envolvimento maxilar16. As maiores mudanças foram observadas quando os pacientes foram tratados nas fases de dentadura decídua e dentadura mista (pacientes mais jovens mostraram resultados mais rápidos e melhores em menor tempo). Os autores recomendaram então que, após o diagnóstico ser feito, o tratamento deve ser iniciado o mais cedo possível, se houver cooperação do paciente29. Juntamente com a protrusão maxilar conseguida com a máscara de protração ocorre uma ação também em várias suturas, tais como: zigomático-maxilar, zigomático-frontal, fronto-maxilar, zigomático-temporal e sutura palatina33. A disjunção maxilar ortopédica antes da protração, além de atuar sobre uma possível discrepância transversal, tão comum em casos de má oclusão de Classe III de Angle, possui o benefício adicional de iniciar a movimentação inferior e, talvez, anterior da maxila e, ainda, como uma característica marcante, a disjunção maxilar é iniciadora da resposta celular nas suturas, incrementando 50 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 6, n. 3 - jun./jul. 2007 assim uma reação mais positiva às forças de protração maxilar28. Um trespasse horizontal positivo é conseguido por meio do movimento anterior da maxila, da rotação para trás e para baixo da mandíbula, da protrusão dos incisivos superiores e da retrusão dos incisivos inferiores22. A linha de ação da força aplicada deve ter como referência o centro de resistência da maxila (acima, abaixo ou passando por ele), respeitando as proporções verticais dentárias e esqueléticas do paciente25. DISCUSSÃO Discute-se aqui a efetividade do tratamento das más oclusões de Classe III de Angle com componente esquelético, realizado com uma terapia ortopédica que associa a disjunção maxilar com a máscara de protração maxilar. Com o intuito de melhor conduzir esta discussão, bem como orientar as posteriores conclusões, ordenamos a mesma em 15 itens, expostos a seguir: - A idade ideal dos pacientes para o início do tratamento: o tratamento deve ser iniciado o mais precocemente possível29 e, embora a dentadura mista precoce, assim como a tardia, seja um período ótimo de tratamento ortopédico da desarmonia maxilar e se obtenha sucesso em ambas3, se feito no início da dentadura mista tem-se melhores resultados do que quando iniciado na dentadura mista tardia2. - Cronologia entre máscara de protração maxilar e disjuntor maxilar ortopédico: uma expressiva maioria dos autores preconiza primeiramente o uso apenas do disjuntor para, imediatamente após o término das ativações deste, instalar a máscara de protração maxilar1,3,6,9,12,13,16,17,18,19,20,21,22,25,28,30,31,32,36,37 (Fig. 1). Figura 1 - Imediatamente após o término das ativações do disjuntor, instalar a máscara de protração maxilar. Luis Roberto Lima Rodrigues, Fauze Ramez Baddredine, Mario Cappellette Jr., Ney Macedo França - Disjuntor maxilar de preferência: o aparelho do tipo dento-muco-suportado de Haas teve a preferência da maioria dos autores5,9,11,12,16,18,19,31, enquanto o disjuntor dento-suportado de Hyrax obteve o segundo lugar na preferência dos autores13,28,30,37, seguido de perto, na casuística observada, pelo disjuntor de McNamara, que ficou em 3º lugar1,2,3 (Fig. 2). - Ativação do disjuntor maxilar: sendo uma ativação igual a um quarto de volta, a maioria dos autores preferiu ativar o disjuntor maxilar ortopédico 2 vezes ao dia1,5,9,17,18,21,30,37, enquanto uma minoria optou por ativar apenas 1 vez ao dia3,6,28 ou, ainda, outros preferiram ativar 3 vezes por semana10,29. Sendo preconizada a abertura inicial do parafuso expansor até que se verifique o rompimento da sutura palatina mediana18 (Fig. 3). - Preferência dentre as máscaras de protração maxilar: a máscara de protração maxilar tipo Delaire tem a preferência mais significativa entre todas as outras8,9,18,31,34, ficando a máscara de protração maxilar tipo Petit em 2º lugar3,6 (Fig. 4). - Magnitude da força ortopédica da máscara de protração maxilar: embora os maiores valores encontrados neste estudo tenham sido de 750g a 1000g de cada lado1,10,13,23, a maioria dos autores mantém como rotina a magnitude de força ortopédica entre 300g e 600g de cada lado6,8,9,17,18,19,25,27,29,30,31,32,37. - Horas de uso da máscara de protração maxilar: enquanto alguns autores adotam um período mínimo de uso (abrangendo todo o período noturno) da máscara de protração maxilar igual a 12 horas19,25,30,37, outros adotam um uso máximo equivalente a 24 horas, por entenderem que o mesmo não será obedecido integralmente pelo paciente, que diminuirá seu uso3,9,18,20,28,32,36,37. Figura 2 - Diferentes tipos de disjuntores: Haas, Hyrax e McNamara. Figura 3 - Ativador de disjuntor preso por fio dental. Figura 4 - Exemplos de máscara de protração. Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 6, n. 3 - jun./jul. 2007 51 Protração maxilar associada à disjunção maxilar ortopédica - Direção da força ortopédica da máscara de protração maxilar: a maioria dos autores preconiza uma direção combinada para frente e para baixo3,7,13,16,17,30,33,37, que expressa ângulos mantidos, normalmente, em um intervalo entre 15º e 45º abaixo do plano oclusal, sendo a predominância em torno de 30º (Fig. 5). - O movimento maxilar após a terapia associada: o movimento da maxila para frente e para baixo, ou seja, com uma rotação anti-horária, é o mais comum4,9,10,21,36,37, devendo ser ressaltado que nesta rotação anti-horária encontramos a maxila posterior mais baixa do que a anterior10. Há também uma incidência considerável de movimento anterior sem rotação6,12,14,18,20,30,31,33,34,37 e nestes casos a anteriorização é proporcionalmente maior quanto mais precoce se iniciar a terapia, devido à liberação da sutura pterigomaxilar3. O movimento anterior e rotação para baixo e para Figura 5 - Direção da força em torno de 30º. Figura 6 - Os diferentes tipos de movimento maxilar após a terapia associada. 52 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 6, n. 3 - jun./jul. 2007 trás, ou seja, rotação horária, também é encontrado1,17 (Fig. 6). - O movimento dentoalveolar superior após a terapia associada: o conjunto dentoalveolar superior move-se com o maxilar superior11 e sofre uma translação anterior, com os molares sendo mesializados e os anteriores superiores sendo vestibularizados6,17 ,19,20,21,22,27,31,37 , o que pode ser minimizado se os dentes superiores forem estabilizados, para se conseguir uma maximização do efeito ortopédico e minimização do efeito ortodôntico32 (Fig. 7). - O movimento mandibular após a terapia associada: geralmente representado por uma rotação horária1,4,6,7,9,10,11,12,14,17,22,31,36,37, que expressa uma inibição do crescimento horizontal da mandíbula34 auxiliada, também, pelo crescimento ântero-superior do côndilo, o qual acarreta uma diminuição do comprimento mandibular total2,3,21 (Fig. 8). - O movimento dentoalveolar inferior após a terapia associada: ocorre geralmente uma retrusão ou lingualização dos anteriores inferiores7,8,9,10,17,22,31, podendo ocorrer também o movimento para trás e para baixo4, ou ainda se manterem estáveis6 (Fig. 9). - A necessidade ou não de sobrecorreção: a sobrecorreção do trespasse horizontal36 nos casos de Classe III de Angle com componente esquelético é sempre bem-vinda, servindo na tentativa de prevenir a retração maxilar e compensar o crescimento mandibular13. Além de ser importante para a manutenção do sucesso da correção7, é reconhecidamente necessária por diversos autores17,22,25. Consegue-se a sobrecorreção utilizando-se 10h de máscara de protração maxilar31 e a duração do tempo de sobrecorreção gira em torno de 3 a 5 meses9,18,37, podendo resultar em um trespasse horizontal positivo de 4 a 5mm28,37 caracterizando, assim, a prática da sobrecorreção, aconselhável para compensar o crescimento deficiente da maxila17. - A média de duração do tratamento: o tempo do tratamento para se conseguir resultados positivos varia muito, de acordo com Luis Roberto Lima Rodrigues, Fauze Ramez Baddredine, Mario Cappellette Jr., Ney Macedo França as características da força empregada, tais como magnitude, direção e horas de uso, e as chances de sucesso dependem também de 4 fatores: a relação entre a maxila e a mandíbula, a relação dos maxilares com o crânio, a dimensão vertical e a idade do paciente13. Vários autores relataram sucesso em um período de tratamento de até 6 meses1,8,9,19,30,36,37, enquanto outros conseguiram êxito em um período médio de tratamento compreendido entre 6 meses e 1 ano7,17,21,22,31,34,37, e ainda outros conseguiram resultados positivos apenas em períodos de tratamento mais prolongados, de 1 a 2 anos6,14,26 (Fig. 10). - Estabilidade e recidiva: o prognóstico para o tratamento de uma Classe III de Angle com componente esquelético é melhor Figura 7 - O movimento dentoalveolar superior após a terapia associada. para aqueles pacientes tratados precocemente12 e que apresentam deficiência de crescimento maxilar, em vez de excesso de crescimento mandibular, sendo este prognóstico piorado na presença de um aumento da dimensão vertical9. Dentre os fatores que podem contribuir para a recidiva de uma Classe III esquelética está uma postura baixa da língua, que não tenha sido bem resolvida9, assim como igualmente importante para se evitar recidivas é a não remoção completa e imediata das forças após a sobrecorreção, o que deve ser feito pela suspensão progressiva das horas de uso da máscara de protração37. O tratamento é considerado eficiente e estável frente aos resultados de sucesso obtidos5,17,31, devendo ser monitorado36, por meio de avaliações trimestrais16 (Fig. 11, 12). Figura 8 - O movimento mandibular após a terapia associada. Figura 9 - O movimento dentoalveolar inferior após a terapia associada. Figura 10 - Comparação entre o início do tratamento e o término da mordida cruzada anterior. Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 6, n. 3 - jun./jul. 2007 53 Protração maxilar associada à disjunção maxilar ortopédica Figura 11 - Desenvolvimento de um paciente tratado com a terapia. Figura 12 -Traçado cefalométrico e telerradiografia iniciais do paciente da figura 11. CONCLUSÃO A idade ideal dos pacientes para o início do tratamento: quanto mais precoce for a idade do paciente melhor é o prognóstico, porém encontra-se uma maior colaboração se este estiver ao menos no início da dentadura mista precoce, entre 6 e 9 anos de idade. Cronologia entre máscara de protração maxilar e disjuntor maxilar ortopédico: deve-se começar a terapia com a disjunção maxilar ortopédica e, ao término das ativações, assim que for estabilizado seu parafuso disjuntor, iniciar imediatamente o uso da máscara de protração maxilar. Disjuntor maxilar de preferência: o disjuntor maxilar ortopédi- 54 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 6, n. 3 - jun./jul. 2007 co do tipo Haas teve a preferência da maioria dos autores. Ativação do disjuntor maxilar: cada ativação equivale a ¼ de volta no parafuso do disjuntor maxilar e o paciente deve receber 2 ativações de manhã e 2 ativações à noite, até descruzar a mordida cruzada posterior ou, na ausência desta, até romper a sutura palatina mediana. Preferência dentre as máscaras de protração maxilar: dentre todas, a máscara de protração maxilar de Delaire foi a escolhida pela maioria dos autores. Magnitude da força ortopédica da máscara de protração maxilar: deve-se utilizar uma força inferior a 300g de cada lado por Luis Roberto Lima Rodrigues, Fauze Ramez Baddredine, Mario Cappellette Jr., Ney Macedo França uma ou duas semanas e, a partir daí, elevar a magnitude para um intervalo entre 400 e 600g de cada lado para os pacientes colaboradores e para aqueles não colaboradores um intervalo de 600 a 800g de cada lado. Horas de uso da máscara de protração maxilar: deve ser recomendado o uso máximo, ou seja, 24h diárias, pois os pacientes acabam por minimizar este uso para, aproximadamente, 17h por dia, devendo sempre abranger o período noturno. Direção da força ortopédica da máscara de protração maxilar: na maioria dos casos a direção deve ser para frente e para baixo do plano oclusal em torno de 20º a 30º. O movimento maxilar após a terapia associada: o movimento maxilar após a terapia associada pode ser para frente (movimento anterior), para frente e para baixo (rotação anti-horária da maxila) ou para frente e para cima (rotação horária da maxila) dependendo do ponto de aplicação da força e das características esqueléticas e dentárias do paciente. O movimento dentolveolar superior após a terapia associada: o movimento dentoalveolar superior após a terapia associada acompanha o maxilar superior, ocorrendo também mesialização dos posteriores superiores e vestibularização dos anteriores su- periores. O movimento mandibular após a terapia associada: na maioria das vezes ocorre na mandíbula uma rotação horária. O movimento dentoalveolar inferior após a terapia associada: o movimento dentoalveolar inferior, após a terapia associada, é para posterior e, normalmente, acompanhado por uma lingualização dos anteriores inferiores. A necessidade ou não de sobrecorreção: toda sobrecorreção é necessária nos casos de má oclusão de Classe III de Angle com componente esquelético e deve ser feita até se conseguir um trespasse horizontal positivo de aproximadamente 4mm, precavendo-se tanto de uma deficiência de crescimento maxilar quanto de um excesso de crescimento mandibular. A média de duração do tratamento: geralmente consegue-se resultados positivos em um período de tratamento variando de 6 meses a 1 ano. Estabilidade e recidiva: a terapia costuma ser eficiente e estável, porém, é aconselhável um monitoramento trimestral, como forma de proservação, até o término do crescimento, sendo recomendado, como forma de contenção, o uso de mentoneira no período de proservação ou parte dele. Maxillary protraction associated with rapid maxillary expansion Abstract The purpose of this review was to study the different treatment ways on Class III malocclusions, due to a maxillary forward growth deficiency, associated to a mandibular overgrowth or not, as related by several authors that used a maxillary protraction with orthopedic maxillary expansion. Maxillary protraction with rapid maxillary expansion seems to be an efficient and stable therapy, presenting minimal relapse during children evolution, such as the deciduous dentition and early and late mixed dentition periods. This review also aims to achieve and suggest an average amount of maxillary appliance activations, proper and effective appliance to be used and its best association with maxillary protraction as well. Proper force applied and effective treatment duration is also studied. Keywords: Orthopedic correction of Class III malocclusion. Palatal expansion. Maxillary protraction. Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 6, n. 3 - jun./jul. 2007 55 Protração maxilar associada à disjunção maxilar ortopédica REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. ALCAN, T.; KELES, A.; ERVERDI, N. The effects of a modified protraction headgear on maxilla. Am. J. Orthod. Dentofacial Orthop., St. Louis, v. 117, p. 27-38, 2000. BACCETTI, T.; FRANCHI, L.; McNAMARA JR., J. A. Treatment and posttreatment craniofacial changes after rapid maxillary expansion and facemask therapy. Am. J. Orthod. Dentofacial Orthop., St. Louis, v. 118, no. 4, p. 404-413, Oct. 2000. 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