Quem Somos Nós?
Apropriações e Representações Sobre a(s) Identidade(s) Brasileira(s)
em Livros Didáticos de História (1971-2011)
Jean Moreno
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M8154 Moreno, Jean Carlos
Quem Somos Nós? Apropriações e Representações Sobre a(s)
Identidade(s) Brasileira(s) em Livros Didáticos de História (1971-2011)/
Jean Moreno. Jundiaí, Paco Editorial: 2014.
448 p. Inclui bibliografia.
ISBN: 978-85-8148-519-5
1. Livro didático 2. Identidade 3. Formação nacional 4. História do Brasil.
I. Moreno, Jean Carlos.
CDD: 370
Índices para catálogo sistemático:
História do Brasil
Métodos de ensino
Livro didático
IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
Foi feito Depósito Legal
981
371
371.32
AGRADECIMENTOS
meus amigos
quando me dão a mão
sempre deixam
outra coisa
presença
olhar
lembrança
calor
meus amigos
quando me dão
deixam na minha
a sua mão
Paulo Leminski
Há a presença de muitos amigos neste trabalho. Gostaria de estender
meu muito obrigado público a alguns deles.
Ao professor Milton Carlos Costa, agradeço pela competência intelectual e profissional e também pela liberdade que me deu na condução do
projeto, não tolhendo minhas iniciativas, ainda que estas, num primeiro
momento, nem sempre estivessem claras em suas intencionalidades.
Aos professores Circe Bittencourt e Luis Fernando Cerri cujas contribuições na qualificação foram essenciais na definição dos rumos e na
melhoria qualitativa do trabalho.
Aos demais participantes da banca de defesa, professores Tania de
Luca, Karina Anhezini de Araujo e Maurício de Aquino cujas arguições
significaram, para mim, uma experiência de grande aprendizado, inclusive
a respeito de minha própria trajetória profissional.
Aos membros do Grupo de Pesquisa Ensino de História (GPEH) da
UENP que leram e discutiram a primeira versão do trabalho em suas reuniões de 2012, especialmente aos professores: Érica da Silva Xavier, Flávio
Massami Martins Ruckstadter, Luciana de Fátima Marinho Evangelista,
Luis Ernesto Barnabé e Marisa Noda.
Aos professores Amália Cristina Tibúrcio, Rosangela Brambilla, Edinéia Cristina de Melo Gomes, Erica Xavier, Fumie Inouye Barbuio, Miriam Rossane Orlandini, Luis Barnabé e Odete Baccon que me emprestaram livros didáticos recentes, e ainda em uso nas escolas, para compor a
análise do meu último capítulo. Igualmente agradeço aos funcionários da
biblioteca e equipe administrativa das Escolas Estaduais José Pavan e Luis
Setti de Jacarezinho (PR). Na mesma intenção agradeço ainda aos Projetos
LIVRES e LEMAD da USP pelo acervo montado e a disponibilização de
informações através da internet.
Ciente que seria impossível esgotar os agradecimentos, estendo-os a todos
que conosco conviveram durante os quatro anos em que esta pesquisa foi
realizada e, direta ou indiretamente, contribuíram para o amadurecimento do
trabalho que agora se apresenta.
Guardo, contudo, o agradecimento mais profundo e especial para minha esposa e companheira Izabel e meus filhos Ticiane e Caetano que
me deram apoio incondicional e trabalharam efetivamente em “infinitos”
registros de anotações de livros, artigos e fontes consultados. Para eles,
dedico este livro.
O passado é uma referência
de realidade, sem a qual o
presente é pura irreflexão.
José Carlos Reis
Sumário
Prefácio.............................................................................................................11
Introdução.........................................................................................................15
1. A questão das identidades...........................................................................19
2. Permanências, reiterações e rupturas nas representações da(s)
identidade(s) brasileira(s).................................................................................23
3. Organização do trabalho.............................................................................27
Capítulo I. Livros didáticos, ensino de história, identidades:
delimitações e intersecções..............................................................................31
1. Livros didáticos: seus limites e possibilidades.........................................31
2. A nação como projeto identitário e os dilemas da identidade
nacional no Brasil.............................................................................................58
3. O código disciplinar e a produção didática da história.........................91
Capítulo II. Produção didática de história e representações
identitárias sob o estado autoritário.............................................................115
1. Sociedade e educação na década de 1970...............................................115
2. A produção didática de história na década de 1970 e a questão
das identidades................................................................................................130
Considerações parciais...................................................................................230
Capítulo III. O avistar de um campo aberto: a produção didática
de história na retomada da democracia política.........................................235
1. A abertura política, os movimentos sociais e a educação....................237
2. Em torno do ensino de história...............................................................239
3. Mercado editorial na década de 1980......................................................246
4. Livros didáticos e representações sobre as identidades dos
brasileiros em circulação na década de 1980..............................................248
Considerações parciais...................................................................................307
Capítulo IV. Identidades e livros didáticos de história após 20 anos de
democracia política........................................................................................311
1. Educação e sociedade nos anos 1990.....................................................312
2. O centro da polêmica: a obra Nova História Crítica e a questão
das identidades...............................................................................................324
3. Livros didáticos de história e a questão das identidades
no pnld 2011...............................................................................................334
Considerações parciais...................................................................................372
Considerações finais.......................................................................................377
Fontes...............................................................................................................387
Referências.......................................................................................................395
PREFÁCIO
É com muita alegria e entusiasmo intelectual que saudamos o aparecimento em livro da tese de doutorado de Jean Carlos Moreno Quem somos
nós? Apropriações e representações sobre a(s) identidade(s) brasileira(s) em livros didáticos de História (1971-2011).
O historiador já trabalhara com o tema em sua dissertação de mestrado,
defendida em 2003, intitulada Inventando a Escola, inventando a nação: discursos
e práticas em torno da escolarização paranaense.
Persistindo nesta temática, ampliando a análise do seu objeto para a
dimensão nacional, aprofundando sua pesquisa documental e sofisticando
seu universo teórico e metodológico, o autor conseguiu produzir um estudo que certamente marcará época na historiografia da educação brasileira
e em particular naquela referente à didática da História.
O prof. Jean Carlos define deste modo o objetivo do seu estudo: “o
presente trabalho analisa as relações entre a produção didática e a circulação de modelos identitários, entendendo o manual didático como meio de
comunicação e o autor (ou a autoria) como mediador cultural.”
O historiador desenvolve suas análises e argumentos em quatro capítulos, marcados por um rigor notável no seu equilíbrio entre trabalho
documental e argúcia interpretativa.
O capítulo primeiro tem por título: “Livros didáticos, ensino de história, identidades: Delimitações e intersecções”. Ele está subdividido em
três itens: “Livros didáticos, seus limites e possibilidades”; “A nação como
projeto identitário e os dilemas da identidade nacional no Brasil”; “O código disciplinar e a produção didática da história”.
Este capítulo tem como proposta a delimitação e entrelaçamento dos
objetos tratados na investigação: livros didáticos, a história que se ensina
e as identidades.
O segundo capítulo intitula-se:”Produção didática da História e representações identitárias sob o Estado autoritário”, e cobre o período de 19711979. Nesta época a disciplina Estudos Sociais foi implantada em substituição às de História e Geografia.
Nos livros da disciplina Estudos Sociais pouco foi alterado no que
respeita às representações de identidade nacionais. Privilegiou-se a visão
do país sob a ótica da integração nacional e da coesão social. Propaganda
do governo, civismo, ufanismo também marcaram esta produção didática.
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Jean Carlos Moreno
Jean Carlos Moreno
Mas se resistiu ao conteúdo da disciplina Estudos Sociais e à história de
tipo patriótico, sendo que alguns livros destacaram o caráter conflituoso
da história brasileira e a violência que permeava as relações sociais.
O terceiro capítulo tem por nome: “O avistar de um campo aberto:
A produção didática de história na retomada da democracia política” e
abarca o período entre 1985 e 1992. Esta época foi marcada no Brasil politicamente pela efervescência.
Construiu-se uma comunidade de tipo acadêmico na área pedagógica
da História. A literatura didática histórica passou a ver as classes populares
com empatia. Buscou-se apresentar uma história de caráter mais transformador e conflituoso. Aparece a ideia de uma “visão dos vencidos” e da relação dicotômica entre os dominantes e dominados. O conceito de sistema
colonial foi introduzido. Denunciou-se a desigualdade social ocorrida no
passado e que persistia no presente como herança da colônia.
Procurou-se operar a desconstrução da imagem de uma sociedade brasileira baseada numa democracia racial, marcada por harmonia e indivisibilidade.
Nos manuais publicados em fins dos anos 80 o “sentido da colonização” é visto negativamente assim como a atuação dos colonizadores.
Em contraposição ao ocorrido nos anos 70, a escravidão dos africanos
aparece em destaque nos livros didáticos. Assim como houve o intento de
eliminação do racismo brasileiro.
Enfim, pode-se afirmar que as identidades relativas ao Brasil conheceram no final dos anos 80, um processo de ressignificação.
O quarto e último capítulo intitula-se “Identidades e livros didáticos
de História após 20 anos de democracia política” e abrange o período de
2005-2011.
Nesta época o debate relativo a como se compunha o povo brasileiro e
às desigualdades da história nacional alcança a área das instituições. A produção acadêmica de história acusou um crescimento quantitativo e qualitativo, submetendo a realidade do país a olhares historiográficos novos.
O livro Nova História Crítica gerou polemica intensa e representou uma
continuação dos conteúdos didáticos dos anos 80. Seu discurso era marcado por emotividade e afetividade e insistia na oposição entre dominadores
e dominados. Nele aparecia superada a visão de uma sociedade harmônica
no Brasil. Livros como o referido desapareceram do mercado de livros
didáticos no ano de 2011.
O PNLD 2011 apresenta livros com interpretações de caráter divergente em convivência tensa.
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Quem Somos Nós?
Houve em geral uma insistência positiva na mestiçagem e nos intercâmbios culturais. Reagiu-se à idealização de negros e índios. Marcou-se a
presença de conflitos e desigualdades na sociedade nacional. Os livros em
sua maioria mostram o europeu colonizador em posição dominante, mas
buscou-se igualmente equilibrar as tensões históricas existentes. Surgem
representações em imagens de conteúdo positivo. Houve “uma prevalência do tempo presente”.
Como afirma o autor “a presença da História da África em todas as coleções indica uma tendência maior de mudança nas representações identitárias”.
A história brasileira e a elaboração da nação: Eis os objetivos transmitidos nos livros didáticos. Como diz o historiador “o espaço nacional cumpre o papel de ordenador do caos no redemoinho da modernidade, como
espaço privilegiado da luta política”.
Por esta breve síntese do conteúdo da tese de Jean Carlos Moreno podemos vislumbrar a imensa riqueza documental de sua pesquisa em fontes
escritas e iconográficas, seu domínio amplo da bibliografia do seu tema
bem como a alta qualidade dos seus recursos teóricos e metodológicos.
Mas o mais importante, o decisivo, é que todos estes materiais foram
submetidos ao crivo de uma proposta de trabalho precisa, enriquecida por
hipóteses diversas que foram sucessivamente colocadas à prova e comprovadas por um historiador que domina seu ofício e que produziu, com seu
trabalho uma contribuição acurada do universo da literatura didática de
história, o que foi uma maneira perspicaz de perscrutar quarenta anos de
história da nossa contemporaneidade.
Milton Carlos Costa
Prof. livre docente / Unesp – Assis
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INTRODUÇÃO
A escolha dos objetos de pesquisa e sua abordagem revela uma trajetória, fruto de opções e contingências pessoais e profissionais. Mais do que
isso, as temáticas mais gerais mostram os dilemas enfrentados pela própria
sociedade que investe na formação de um profissional e financia todo
um complexo que envolve a atividade de pesquisa, na expectativa de um
retorno, no caso das ciências humanas, que possibilite um melhor conhecimento de si mesma, podendo fundamentar, inclusive, futuras tomadas,
coletivas, de decisões.
No caso do presente trabalho, perspectivas da trajetória pessoal e profissional, nem tão separadas, mas bastante nítidas, entrecruzam-se. A face,
talvez mais evidente, é a da própria caminhada incipiente de pesquisador
que se inicia no período de graduação em História, mas cujo último trabalho, de maior envergadura, foi a realização da dissertação de mestrado na
área da História da Escolarização. Com essa experiência, pudemos precisar
melhor esta instituição – a escola ou o sistema escolar – que ocupa papel
central nas sociedades contemporâneas, deixando de lado interpretações
simplistas que viam a educação escolar como mero reflexo de debates e
aspirações que lhes seriam exteriores. Por outro lado, percebemos e começamos a lidar com esta autonomia relativa que os discursos emitidos pelos
diversos agentes envolvidos com a escolarização mantêm na sua relação
de troca e tangência com outros campos (político, intelectual, religioso,
etc) que compõem um todo social. Nesse sentido, entendemos que as práticas – inclusive discursivas – em torno da escolarização não poderiam ser
dissociadas de projetos formadores e anseios maiores da sociedade como
a própria construção da nação, a civilidade, a racionalização, a produtividade, o controle social e os ideais de emancipação humana. É nesta via de
mão dupla que a escolarização se apropria e, consequentemente, também
produz representações culturais.
Essa experiência se insere numa perspectiva maior da própria escolha
profissional ligada ao ensino de História. Estivemos envolvidos, desde o início da trajetória profissional, com os dilemas da ação docente e os desafios
que envolvem o compartilhar da aprendizagem da História nas escolas de
educação básica. A caminhada resultou na função de professor de Didática
do Ensino de História na educação superior pública, em que, por questão de
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